PARA ALÉM DE UMA ANÁLISE LITERÁRIA DOS ASPECTOS ROMÂNTICOS
AOS PRÉ-REALISTAS EM LUCÍOLA, DE JOSÉ DE ALENCAR
AS ASAS DE UM ANJO
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Beyond a literary analysis of the romantic aspects of preachers in Lucíola, José de
Alencar: "the wings of an angel"
Francisco Jeimes de Oliveira PAIVA
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RESUMO: O presente artigo objetivou a analisar a estética alencariana em
Lucíola (1962), demarcando os aspectos literários referentes ao Romantismo e ao
Realismo na construção da representação da mulher oitocentista a partir da
dualidade entre a cortesã Lúcia e a angelical Maria da Glória (OLIVEIRA, 2014).
Neste romance, entendemos que a construção da personagem Lucíola sintetiza
toda a questão de uma sociedade que transforma amor, casamento e relações
humanas em mercadoria: o assunto do romance, a prostituição, mostra-nos a
degradação a que o dinheiro pode conduzir o ser humano. Baseamo-nos em
estudos de: Lacan (1993, 1998); Leite (1979); Longo (2006); Moraes (2012);
Pommier (1987); Proença (1966); Ribeiro (1996), entre outros.
PALAVRAS-CHAVE: Lucíola. José de Alencar. Estética/Crítica Literária.
ABSTRACT: This article aims to analyze the alencarian aesthetics in Lucíola
(1962), demarcating the literary aspects referring to Romanticism and Realism in
the construction of the representation of nineteenth - century women from the
duality between the courtesan Lúcia and the angelical Maria da Glória (OLIVEIRA,
2014). In this novel, we understand that the construction of the character Lucíola
sums up the whole question of a society that transforms love, marriage and human
relations into merchandise: the subject of romance, prostitution, shows us the
degradation to which money can lead the human being. We are based on studies
of: Lacan (1993, 1998); Leite (1979); Longo (2006); Moraes (2012); Pommier
(1987); Proença (1966); Ribeiro (1996), among others.
KEYWORDS: Lucíola. José de Alencar. Aesthetics/Literary Criticism.
1
Alusão a uma peça que segundo Moraes (2012, p. 30), em 1858, José de Alencar escreveu: As
asas de um anjo que correspondeu a uma espécie de um “prelúdio de Lucíola”, visto que a
protagonista Carolina era uma cortesã assim como Lúcia e o autor tencionava incluir em seus
textos representações do feminino que já era comum na tradição europeia e cujo público estava
acostumado a encontrar personagens assim.
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Aluno do Mestrado Interdisciplinar em História e Letras, da Faculdade de Educação, Ciências e
Letras do Sertão Central, campus da Universidade Estadual do Ceará. Especialista em Ensino de
Língua Portuguesa e Literaturas. Especialista em Gestão Escolar e Práticas Pedagógicas.
Licenciado em Letras pela Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos, campus da Universidade
Estadual do Ceará. Aluno da Graduação da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia
Afro-Brasileira/Unilab (UaB/Capes). ORCID ID - https://orcid.org/0000-0003-0073-5632
geimesraulino@yahoo.com.br
1. INTRODUÇÃO
A presente pesquisa objetiva analisar a estética alencariana em Lucíola
(1862), demarcando os aspectos literários referentes ao Romantismo e ao
Realismo. A priori, entendemos que a personagem Lucíola sintetiza toda a
questão de uma sociedade que transforma amor, casamento e relações humanas
em mercadoria: o assunto do romance, a prostituição, mostra-nos a degradação a
que o dinheiro pode conduzir o ser humano.
Na obra, a noção de beleza romântica está personificada em Lucíola, com
sua virgindade de alma tão pura e absoluta, que não lhe tiraram os pecados do
corpo. Por isso, mesmo nas horas em que mais lhe esplende a glória de cortesã,
o romancista a veste simbolicamente de branco. De símbolos, aliás, estão cheios
os seus romances, e nem sempre Alencar se lembra de colocá-las junto à chave
desveladora, que chega a parecer que nem ele mesmo percebeu a realidade sob
a imagem. A virgindade é um talismã. Todavia, “[...] as virgens, inclusive viúvas e
esposas virgens, concedem entrevistas noturnas aos que as amam e aqueles a
quem amam, sem medo e sem risco [...]” (PROENÇA, 1966, p. 89).
Alencar neste romance urbano retrata os costumes e os preconceitos da
sociedade na Corte, Rio de Janeiro. Ressalta-se o lado negativo dessa sociedade
viciosa, subjugada ao poder, ao status e ao dinheiro. Um pequeno universo de
futilidades e mundanismos nas vias públicas, nos teatros, nos salões e nas festas.
Revelação do passado se dá apenas ao final do romance.
2. TECENDO UMA ANÁLISE CRÍTICA DE LUCÍOLA SOB O OLHAR DA
CRÍTICA LITERÁRIA
Sob a égide da crítica literária encontramos argumentos que denotam a
caracterização da personagem Lúcia ao longo do romance: “Por mais cortesã que
fosse, havia nela um lado cristão e puro. E, ao final e antes que comece a
narrativa, transforma-se em musa cristã, vestida de virtude, onde não faltam
sequer os símbolos do pudor [...]” (RIBEIRO, 1996, p. 88). Por isso, mesmo nas
horas em que mais lhe esplende a glória de cortesã, o romancista a veste
simbolicamente de branco.
Alencar preocupa-se firmemente em manter os padrões morais da época,
reforçando-os, mas tenta denunciar a falsa moral vigente. Explicando melhor: ele
não defende a sociedade de seu tempo como ela se apresenta, e sim defende a
sociedade como ela poderia e deveria ser.
Ele usa a metáfora das borboletas, que parece contradizer tal
necessidade, o instinto da castidade as levaria a evitar as flores venenosas. E é
exatamente para elas que ele escreve e volta suas atenções, tentando mostrar-
lhes a que leva a uma conduta, como a de Lúcia, que se afasta dos padrões da
moralidade aceita da época:
A minha história é imoral; portanto não admite reticências; mas
tenho um desvanecimento, pouco modesto, confesso. Caso a
senhora cometesse a indiscrição de ler estas páginas a alguma
menina inocente, talvez chegasse ao fim sem uma única pergunta.
A borboleta esvoaça sem pousar entre as flores venenosas, por
mais brilhantes que sejam; e procura o pólen no cálice da violeta e
de outras plantas humildes e rasteiras. O espírito da moça é a
borboleta; o seu instinto a castidade (ALENCAR, 1978, p. 24).
José de Alencar escreveu sobre um tema escabroso, tentando santificar
um assunto que nada tem de santo.
A personagem central se compõe de dois nomes: Lúcia e Maria da Glória.
Lúcia é a cortesã e Maria da Glória, a moça recatada e pura. Paulo - narrador
sempre com os olhos do coração, o anjo de pureza que nela habita, apesar de
tudo. Lúcia é para ele “[...] um desses rostos suaves, puros e diáfanos [...] laivos
de tão ingênua castidade [...]” (ALENCAR, 1978, p. 5). Nesse sentido, Ribeiro
(1996) afirma que:
Alencar descreve a sociedade, a corrupção, os costumes da
burguesia e a alta sociedade da época em suas obras. Os
romances sempre giram em torno das diferenças econômicas, da
situação familiar e social da mulher diante do casamento,
geralmente imposto pelos pais. As heroínas de Alencar contestam
e vão contra a estrutura patriarcal, não aceitando o casamento por
conveniência ao defenderem o direito ao amor e à liberdade,
sendo que tudo acaba bem em suas narrativas. Os romances de
José de Alencar transformam as condutas de caráter e, na maioria
das histórias, as diferenças sociais vencem as barreiras entre
classes (RIBEIRO, 1996, p. 165).
Segundo Ribeiro (1996, p. 102), “Lúcia não pode amar e está apaixonada,
não pode ser mãe e está grávida, tem o corpo impuro e carrega a pureza de um
novo corpo [...]”. Até porque a estrutura social da época estava fundamentada em
valores e normativas de civilidade idealizados de uma família ideal em que a
mulher assumia as funções matrimoniais, domésticas e materna nesse processo
de relações sociais, enquanto o homem era o provedor do lar e condutor dos
anseios da família.
Em uma leitura historiográfica desse contexto do XIX, é preciso
compreender que para a igreja, o casamento visa(va) uma família produtiva. Se
não pode haver filhos, o matrimônio perde sua função ética e social. Na ficção,
em Alencar, não existem mulheres e sim imagens delas, mulheres idealizadas.
As heroínas de Alencar se encontram num plano de idealização. Não se
trata aqui, de mulheres reais, cheias de imperfeições e de vida. Mas sim de
arquétipos que apontam toda sua carga significativa para a estabilidade da família
e a consolidação da identidade da Pátria. Na pesquisa de Moraes (2012) temos
uma ideia de como a mulher oitocentista fluminense era vista como
[...] disposta à transgressão, à desordem, ao demônio. A menor
enfermidade, qualquer crise, qualquer tipo de comportamento tido
como incomum para os padrões da época, quando diagnosticados
na mulher, eram considerados sinais de possessão demoníaca,
ou manifestações de uma força divina que buscava expurgar a
essência diabólica supostamente presente na mulher (MORAES,
2012, p. 18).
Nessa perspectiva a narrativa em Lucíola na escrita alencarina nos traz
esses elementos reportados a construção do comportamento e das relações
sociais orquestradas nessa época, quando a personagem Lúcia/Lucíola dialoga
com sua própria consciência, dizendo: Como trata-se de nomes, eu também
proponho uma mudança, bocejou Rochinha. Em lugar de cia diga-se Lúcifer.
Quem não sabe que eu sou anjo de luz, que desci do céu ao inferno?”
(ALENCAR,1998, p. 38). Em outro momento de clímax a personagem é
demarcada conforme a visão preconceituosa da sociedade da época, sendo que
Lúcia ergueu a cabeça com orgulho satânico, e levantando-se de
um salto, agarrou uma garrafa de champanha, quase cheia.
Quando a pousou sobre a mesa, todo o vinho tinha-lhe passado
pelos lábios, onde a espuma fervilhava ainda. Ouvi o rugido de
seda; diante de meus olhos deslumbrados passou a divina
aparição que admirara na véspera (ALENCAR, 1959, p. 350).
Analisando esse excerto, Hernandes (2015) evidencia que essa atitude da
moça, aos olhares do narrador, é “satânica”, e encarna toda a experiência
transgressora no cerne da sala ao representar com êxtase dionisíaco a série de
quadros. Ademais, fazendo uma leitura crítica da obra, percebe-se, pois, que
Lúcia/Lucíola corporifica outros adereços, tentando burlar o amor que se avizinha
(ou quem sabe apenas escondê-lo, pois ele já estava lá), promovendo uma dança
mítica, de tessitura anímica de sedução. Em um dado momento da obra, a
personagem inebriada com o vinho expõe sua sensualidade, próxima das
bacantes dionisíacas, numa irrupção de frenesi e delírio. Observemos a descrição
das atitudes e das ações de Lúcia/Lucíola ao longo da narrativa:
Lúcia saltava sobre a mesa. Arrancando uma palma em um dos
jarros de flores, trançou-as no cabelo, coroando-se de verbena,
com as virgens gregas. Depois, agitando as longas tranças
negras, que se enroscaram quais serpes vivas, retraiu os rins num
requebro sensual, arqueou os braços e começou a imitar uma a
uma as lascivas pinturas mas a imitar com a posição, com o
gesto, com a sensação do gozo voluptuoso que lhe estremecia o
corpo, com a voz que expirava no flébil suspiro e no beijo
soluçante, com a palavra trêmula que borbulhava dos lábios no
delíquio do êxtase amoroso (ALENCAR, 1998, p. 46).
Uma das formas que o feminino utiliza para se fazer existir na cadeia dos
significantes, e na suposta tentativa do não-todo na situação fálica, diz respeito
aos seus atributos na “mascarada”, pois “é pelo que ela não é que ela pretende
ser desejada, ao mesmo tempo amada. Mas ela encontra o significante de seu
próprio desejo no corpo daquele a quem sua demanda de amor é endereçada”
(LACAN, l998, p. 701).
Lucíola é o quinto romance de Alencar e o primeiro da trilogia que ele
denominou de "perfis de mulheres" (Lucíola, Diva e Senhora). O romance está
situado no rol dos romances urbanos de José de Alencar, que narrou com
bastante ousadia a vida burguesa do século passado.
3. AVALIANDO A CONSTRUÇÃO DO ENREDO À CONSTITUIÇÃO DA
PERSONAGEM LUCÍOLA EM ALENCAR
É notório perceber que este é romance de amor bem ao estilo do
Romantismo, embora uma ou outra manifestação do estilo Realista pode ser
observada, sobretudo na construção da narratividade tracejada pelos discursos
enunciados pelas personagens tanto na visão do narrador/personagem Paulo,
quanto na atuação social e lutas de Lúcia diante do contexto sócio-histórico
daquele período. Vale destacar que o narrador da história, Paulo Silva voz ao
enredo da obra através de cartas dirigidas a uma senhora, G. M. (pseudônimo de
Alencar), que as publica em livro, intitulado de Lucíola.
Surge o Rio de Janeiro da época, com a sua fisionomia burguesa e
tradicional, com uma sociedade endinheirada que frequentava o Teatro Lírico,
passeava à tarde na Rua do Ouvidor e à noite no Passeio Público, morava no
Flamengo, em Botafogo ou Santa Teresa e era protagonista de dramas de amor
que iam do simples namoro à paixão desvairada.
No dia mesmo de sua chegada à corte (Rio de Janeiro), após o jantar, sai
em companhia de um amigo para conhecer a cidade. Na rua das Mangueiras
passar em um carro, uma jovem muito bela. Um imprevisto faz parar o carro,
dando a Paulo a oportunidade de repará-la melhor.
No outro dia, em companhia de outro amigo, o Dr. Sá, Paulo participa da
festa de N. Senhora da Glória, quando lhe aparece a linda moça. Informando-se
do amigo, fica sabendo tratar-se de Lúcia, a prostituta mais bela, requintada e
disputada da cidade. Mas ele se impressiona com a "expressão cândida do rosto
e a graciosa modéstia do gesto, ainda mesmo quando os lábios dessa mulher
revelam a cortesã franca e impudente."
Mais ou menos um mês após sua chegada, Paulo vai à procura de Lúcia,
levado, é claro pelo desejo de possuir aquela linda mulher. Após longa e
agradável conversa, acaba se surpreendendo com o "casto e ingênuo perfume
que respirava de toda a sua pessoa". A um mínimo lance de seus seios, "ela se
enrubesceu como uma menina e fechou o roupão" discretamente. E ele, que fora
quente de desejos, agora, na rua, se acha ridículo por não haver ousado mais.
Além do que, o Dr. lhe confirmara que "Lúcia é a mais alegre
companheira que pode haver para uma noite, ou mesmo alguns dias de
extravagância." Daí adiante, constrói-se toda a intriga do romance. A liberdade na
evolução da intriga e do tempo era novidade no romance brasileiro daquele
período, e só um autêntico romancista poderia realizar. José de Alencar era
metonímia dessa “autenticidade”.
Resgatando algumas técnicas de Honoré de Balzac e Walter Scott, é com
a obra de Alexandre Dumas Filho que Lucíola vai dialogar diretamente. Acusar o
escritor de plágio seria injusto, visto que, após a leitura e confronto das duas
obras, pode-se inferir que Alencar construiu uma cortesã de acordo com os
parâmetros daquele Brasil ainda em formação, importando a cortesã e a
construindo com mais sagacidade que o exemplar estrangeiro.
Por fim, a análise do romance em questão reflete a argúcia do escritor em
trabalhar os aspectos da mulher, na ficção, com o traço fundante de sua
descrição social e histórica; uma possibilidade de ver no texto a presença
diacrônica, sempre associada à fala dinâmica, que se produz dentro de
“determinado espaço de tempo, no âmbito das sucessividades, análoga a uma
visão linear da história dos acontecimentos” (LONGO, 2006, p. 31).
Em suma, Hernandes (2015) avalia a obra em questão, situando os
leitores a compreenderem que a narrativa é construída a partir de
[...] um engano de Paulo que, quando Lúcia pela primeira vez,
enxerga nela uma moça de alma pura e, ao exclamar isso em voz
alta, faz com que a cortesã tome conhecimento de sua impressão.
Posteriormente, em um segundo encontro ocasional, na festa da
Glória, ao descobrir que ela é uma prostituta, a visão do narrador
se altera e ele passa a ver nela um tipo social pré-estabelecido. A
partir desse engano inicial, a história acentua as ambiguidades na
caracterização da moça, pois ela se mostra, ao mesmo tempo,
depravada e recatada. Essa descrição ambígua oscila na primeira
parte do livro e atinge seu ápice em uma orgia, que ocorre na
casa do melhor amigo de Paulo. A partir desse clímax, o narrador
começa a descobrir que a cortesã possui uma faceta oculta que
seria ingênua e “pura” (HERNANDES, 2015, p. 88).
Nessa ótica, o feminino traduz-se por este viés ambíguo, endereçado a
um Outro no sintoma corpóreo que é um signo, pois:
[o] corpo fica marcado pela estranheza do sintoma. A mulher é
assim esse sintoma do homem, esse corpo que se iguala ao
objeto vazio de seu gozo, obediente, antes mesmo de haver
compreendido sua ordem, à injunção do Outro impessoal que está
para além de si. Esse corpo é então inteiramente signo, símbolo
da extrema ignorância e um corpo que se confunde (POMMIER,
l987, p. 85, grifos nossos).
O laço que une um homem a uma mulher, pode e deve ser o encaixe do
amor. A protagonista/antagonista alencarina, sofre de tanto amar. Mesmo
sabendo que uma vida “dissoluta”, de devassidão, produz no íntimo da jovem a
necessidade de mudança de vértice, de atitude e, na proximidade com o objeto
desejado, ela abjura seu prazer para se tornar uma mulher de sentimentos
castiços, entregue unicamente a um amado, mesmo assim, ela se encontra
numa lógica não-toda do feminino (LACAN, 1973, p. 26).
4. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em suma, é notável que Alencar nesta obra incute aspectos partilhados
da estética realista, uma vez que a personagem vive um amor que ao final do
enredo não é consolidado devido aos preconceitos de classes, de gênero e social
em virtude de uma sociedade pressa a uma cultura patriarcal. Por isso, Lúcia é
usada pelo autor como canal de denúncia social em relação ao gênero feminino,
relatando a hipocrisia da sociedade elitista da época ao descriminar as práticas
sexuais ilícitas, proibindo, o relacionamento de Paulo e Maria da Glória.
Além do mais ao trazer à baila uma série de questões, sobretudo um
problema social como o da prostituição, vista de forma patológica pela sociedade
do século XIX no Rio de Janeiro, que preferia ignorar essa realidade imposta a
Lucíola e a muitas outras garotas aliciadas em detrimento das convenções sociais
ligadas aos comportamentos dos homens em acreditar serem detentores do
direito de ter uma vida paralela ao matrimônio.
Não resta dúvida que Alencar seja considerado um dos maiores
romancistas da literatura brasileira e o pioneiro em inovações do século XIX. Pois
contribuiu sobremaneira com as inovações estilísticas no fazer literário,
mergulhando nas subjetividades e no âmago da condição humana de modo
sagaz, dando ênfase a representação da vida: a família, os problemas sociais e
individuais, a solidão, os conflitos humanos, os dramas amorosos, entre outros.
Nesta obra, tais aspectos são encontrados na narrativa dos preconceitos sociais e
dos desafios enfrentados por Lucíola desde a sua mocidade até sair da vida que
levava para viver como dama da sociedade com Paulo, infelizmente não obteve
êxito.
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2
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