O mesmo caráter dinâmico – fortalecido [...] pelo olhar
sociocognitivo sobre o texto – acaba por determinar o
direcionamento das investigações dos fenômenos. Os gêneros
textuais e as estratégias textual-discursivas [...] são estudados
com base no pressuposto de que a interação é a instância de
concretização das relações sociocognitivas, e por isso mesmo
deve ser a unidade analítica por excelência. Os usos linguísticos,
portanto, são a chave para se desvelarem os fenômenos.
(CAVALCANTE; FILHO, 2010, p. 61).
Cavalcante e Filho (2010) problematizam, na sequência do estudo, o
estatuto de texto como eminentemente verbal e advogam sobre a necessidade de
se levarem em consideração outros recursos semióticos, tendo em vista a
natureza multimodal (mais de um tipo de código, segundo Kress e Leeuwen) dos
textos que circulam socialmente. Assim sendo, cores, traços, objetos em cena e
até mesmo o movimento da câmera (no caso de textos cinematográficos)
constituem recursos/estratégias que, ao serem mobilizados em textos
publicitários, por exemplo, produzem sentido, regulados por uma forte
intencionalidade: nesse caso, a venda do produto. Corrobora a esse ponto de
vista Romualdo (2014), para quem a análise de elementos não verbais em análise
linguística é fruto do desenvolvimento natural de um campo teórico cujo objeto é
aquilo que os homens usam para interagir (o texto) em confluência com o
desenvolvimento tecnológico, que multiplicou suas formas e o seu modo de
circulação.
O texto é, portanto, um objeto dinâmico, multifacetado, resultante de uma
atividade sociocognitiva de linguagem, atravessada por valores histórico-sociais e
determinados pelo Outro. É também um objeto profundamente heterogêneo, já
que, longe de ser um bloco homogêneo, fechado em si, é atravessado por
múltiplas vozes e por múltiplos outros textos com os quais mantém uma relação
de referência, deslocamento, ruptura, etc..
A base para essa compreensão da “heterogeneidade” deriva do termo
“polifonia” (incialmente, do campo da música), adotado por Bakhtin para
caracterizar um aspecto fundamental da obra literária de Dostoievski: a
pluralidade de vozes numa relação de equidade (BEZERRA, 2005). O conceito foi
incorporado pela semântica de Ducrot (1987) que, opondo-se à tese da unidade