discurso, como teoria histórica dos processos semânticos. Essas
três regiões, ainda de acordo com Pêcheux, são atravessadas e
articuladas por uma teoria da subjetividade de natureza
psicanalítica. (MARIANI, 1996, p. 22-23)
É a partir dessa proposta teórica que se busca romper com tradições, por
exemplo, como a da Análise de Conteúdo, que pressupõe haver um sentido
inequívoco a partir do conteúdo do texto. Acreditava-se, portanto, na
transparência da linguagem, isto é: pelos pressupostos dessa teoria que vigorava
dentre as ciências humanas e sociais era possível crer no atravessamento de um
texto para se chegar ao seu sentido, desconsiderando-se em grande parte o
funcionamento da ideologia e a inserção de um sujeito em suas relações com a
língua, com a própria ideologia e com o inconsciente.
A respeito dessa e de outras tradições contra as quais a Análise do
Discurso se posiciona, Pêcheux (2014 [1969]), em tom de crítica, afirma que
[…] estudar uma língua era, na maior parte das vezes, estudar
textos, e colocar a seu respeito questões de natureza variada
provenientes, ao mesmo tempo, da prática escolar que ainda é
chamada de compreensão de texto, e da atividade do gramático
sob modalidades normativas ou descritivas. (PÊCHEUX, 2014
[1969], p. 59)
Observando, dessa forma, a língua em sua relação com a exterioridade, a
Análise do Discurso trabalha (n)as tensões que se estabelecem entre – e nas
intersecções – (d)as disciplinas sobre cujos aparatos se assenta. Desse modo,
podemo-nos remeter às formulações de Orlandi (2013), afirmando o seguinte:
Em uma proposta em que o político e o simbólico se confrontam,
essa nova forma de conhecimento coloca questões para a
Linguística, interpelando-a pela historicidade que ela apaga, do
mesmo modo que coloca questões para as Ciências Sociais,
interrogando a transparência da linguagem sobre a qual elas se
assentam. Dessa maneira, os estudos discursivos visam pensar o
sentido dimensionado no tempo e no espaço das praticas do
homem, descentrando a noção de sujeito e relativizando a
autonomia do objeto da Linguística. (ORLANDI, 2013, p. 16)
Assim, nos é cara a observação das formas como a ideologia se insere
materialmente enquanto discurso. Este último sendo definido como “efeitos de
sentidos (e não transmissão de informação) entre os interlocutores” (PÊCHEUX,