O LIVRO DIDÁTICO DE ESPANHOL E SUA ANÁLISE SOB O VIÉS DA
LINGUÍSTICA APLICADA CONTEMPORÂNEA
The cooursebook of spanish and their analisis in line the applied linguístic
contemporary
Jaqueline da Silva BARROS
1
RESUMO: O objetivo deste artigo é traçar um quadro crítico sobre o conteúdo do livro
didático de língua espanhola como ngua estrangeira. Baseada nos princípios de uma
metapesquisa, por meio da leitura de cinco dissertações brasileiras desenvolvidas por
professores sobre o livro didático de espanhol língua estrangeira. Assim, o
mencionado artigo busca responder a questões como: que concepções de língua,
ensino e livro didático têm os professores de espanhol língua estrangeira? A tríade
língua, ensino e livro didático compõe a agenda a Linguística Aplicada Contemporânea
(MOITA LOPES, 2006), área multidisciplinar a qual por meio da Linguística Sistêmico
Funcional admite a linguagem como um sistema sociossemiótico (HASAN, 1989) que
se materializa em “contextos de situação” e em ‘contextos de cultura” pelo qual
analisamos: modo, campo e relação em que se realizam as funções da linguagem
(HALLIDAY, 1989; HASAN, 1996), a saber: ideacional, interpessoal e textual nos
trabalhos selecionados no que concerne ao livro didático de espanhol língua
estrangeira.
PALAVRAS-CHAVE: Livro didático. Linguística aplicada contemporânea. Linguística
Sistêmico-funcional.
ABSTRACT: The aim of this paper is design a match of some research developed by
teachers about coursebook by learning Spanish language foreign. It is a meta-research
with answer questions as :what is language, what is teaching and what is coursebook
for theses researches. The triad language, teaching and coursebook makes up the
schedule of Contemporary applied Linguistic (MOITA LOPES, 2006), field
multidisciplinary which through Systemic Functional Linguistics admit system semiotic
social which is materialized in “situational contexts” and in "cultural contexts” through
which analyze: mode, field and relation in which the functions of language (HALLIDAY,
1989; HASAN, 1996) are realized, namely: ideational, interpersonal and in the selected
papers..
KEYWORDS: Coursebook; Contemporary Applied Linguistic; Sistemic-Functional
Linguistic
1
Doutoranda do Programa Interdisciplinar de Linguística Aplicada da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ) e Mestre em Linguística Aplicada pela Universidade de Brasília (UnB).
E-mail: 28.jaqueline@gmail.com
1. O LIVRO DIDÁTICO COMO ÁREA DE INTERESSE DA LINGUÍSTICA
APLICADA CONTEMPORÂNEA
No Brasil e no mundo, o livro didático sempre teve um papel importante
para o ensino de línguas, sendo utilizado tanto em instituições públicas quanto
em instituições particulares.
Entretando, acredita-se que devido à dificuldade de adequação do
mercado editorial às necessidades reais do alunato, as instituições
educacionais quando não promovem a produção do próprio material didático,
optam pela adoção de livros didáticos importados (FERREIRA, 2014).
Os livros didáticos importados, muitas vezes, não contemplam a
realidade do alunato da escola pública porque simplesmente ecoam vozes da
desigualdade hegemonicamente constituída, que incluem a língua estrangeira
a ser aprendida de forma violenta como um sistema de regras cujo
funcionamento deve ser aprendido a base de um duro treinamento.
Em livros como esses, muitas vezes, os atores sócias participantes das
interações promovidas pelas práticas sociais não representam os alunos. Por
isso, não se reconhecem como participantes do mundo do qual a nova língua
“fala”. Dessa forma, por não se identificarem com a língua como adicional,
aquela que o ajuda a construir sentidos, passam a tratá-la como estrangeira,
distante, abusiva, bloqueante.
Disso temos a importância da escolha do livro didático a ser utilizado
em sala de aula. Tal escolha obedece a alguns critérios que são variáveis de
instituição para instituição.
Em algumas instituições a escolha é realizada por uma equipe de
professores e deveria se a partir da concepção destes sobre o papel que o
livro didático exerce sobre o ensino que cada professor pretende realizar.
A respeito disso, Silva e Sarmento (2015) argumentam que a seleção do
livro didático de língua estrangeira requer da equipe que o realiza, um
compromisso didático-pedagógico, o qual deve considerar as circunstâncias
histórico-sociais do grupo como o qual os professores trabalham, exigindo
cuidado nas discussões quanto ao uso da língua em contextos condizentes
com a realidade do aluno e, principalmente, tratando-a como sistema
heterogêneo e complexo.
De acordo ainda com essas pesquisadoras a análise que
comprovadamente tem dominado a eleição de um livro didático para uso em
sala de aula contempla apenas a versão impressionista (CUNNINGSWORTH,
19995), pela qual são vistos apenas os aspectos visuais e gramaticais, como,
por exemplo: gravuras, cores, aspectos gramaticais; conteúdos de
compreensão oral e exercícios de produção oral.
Segundo ainda as autoras Silva e Sarmento (2015), os livros didáticos
considerados pelos professores como livros bem elaborados, no caso da língua
espanhola, por exemplo, são “avaliados” como: bonitos, coloridos e
interessantes. Esses livros, geralmente apresentam uma variedade de textos
escritos por autores hispano-americanos e contêm, muito da cultura hispano-
americana também. Algumas vezes, imagina-se que se está em uma “ilha”, na
qual os habitantes são todos falantes de espanhol, as roupas as quais se tem
acesso são de marca espanhola, os práticos tipos são de origem espanhola,
ainda que saibamos que as culturas se misturam, se redescobrem e que a
cultura hispano-americana é multipla.
Pensando em amenizar a questões como as apresentadas
anteriormente, foi criado 2012 o Programa Nacional do Livro Didático com
vistas ao preparo do aluno para o exercício da cidadania e seu qualificação
para o trabalho e além de outras garantias, a oportunidade de igualdade de
condições para o acesso e a permanência dos alunos na escola. Junto ao
livros didáticos distribuídos para alunos Guia de livros didáticos distribuído
para professor com o intuito de o auxiliar na escolha do material que será por
ele utilizado em sala de aula de línguas.
Para o edital de lançamento do Programa, os livros didáticos
devem ser responsáveis pela veiculação de informações
adequadas, atualizadas e corretas no sentido de contribuir para
o desenvolvimento das habilidades linguísticas dos estudantes,
além de contribuir, efetivamente para a construção de
conceitos e posicionamentos frente ao mundo e à realidade,
trazendo representações da comunidade local e global,
promovendo o protagonismo social por meio debates
relacionados a superação de todas as formas de violência e
voltadas para a valorização da diversidade. (FNDE/PNLD
2018).
Nesse sentido é mister analisar o livro didático de forma a observar o
contexto em que é utilizado e como ele ecoa as vozes dos participantes do
processo de ensino aprendizagem em sala de aula de línguas via discurso em
textos e atividades.
A exemplo disso, Souza (1999), classifica o livro didático como: voz de
autoridade, pela carga ideológica que o discurso do livro carrega,
determinando verdades sobre quem são os sujeitos da aprendizagem.
Tílio (2006; 2012) conceitua o livro didático como um “andaime” que
media a construção de conhecimento, como regulador do trabalho docente e
como “programa de ensino.
Os estudos realizados por Tilio (idem) dizem ainda sobre como o livro
didático constrói visões de mundo, identidades dos falantes de línguas e
concepções de ensino.
Ferreira (2014) também considera que ,na maioria das vezes, o livro
didático representa a materialidade do currículo, além de promover o
letramento do aprendiz de línguas, sendo um veiculador de ideologias.
Corroborando essa premissa, Scheyerl (2012) nos diz que analisar as
práticas pedagógicas presentes nos livros didáticos requer acompanhar os
registros escritos da história mundial no que diz respeito ao colonialismo com
genocídios, discriminações e exclusão social. Por isso, novamente admite-se a
necessidade de analisá-los, adaptá-los, reeditá-los.
Nesse sentido, de acordo com Nicolaides e Tílio (2011), se elaborado
com base nos pressupostos do letramento crítico
2
, o livro didático pode
promover um aprendizado autônomo, dando ao aprendiz a oportunidade para
que ele se torne uma pessoa com maior capacidade de escolha e preparado
para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo.
Portanto, apresentar um quadro com algumas análises realizadas no
período compreendido entre 2008 a 2016 referentes ao livro didático de
espanhol pode trazer as concepções de língua, ensino, de material de didático
são trazidas por alguns/algumas professores/professoras pesquisadores/as no
sentido de mostrar aos demais profissionais a importância de escolher um
2
Trata-se, segundo Clarck; Ivanic (1997) de empoderar os aprendizes no sentido de promover
reflexões sobre experiências e práticas por meio do uso da linguagem em instituições das
quais fazem parte e na sociedade como um todo.
material que contemple em seu conteúdo temas, textos e atividades coerentes
com o mundo real de seus alunos.
2. A LINGUÍSTICA APLICADA CONTEMPORÂNEA
Ao admitirmos a Linguística Aplicada como área de estudos participante
da virada linguística passa a tomar novos rumos envolvendo-se em contínua
reflexão acerca de sua própria constituição como área de investigação
(PENNYCOOK, 2001), observa-se que ela passa a não se restringir apenas a
problemas relativos a manutenção do depósito de paradigmas linguísticos em
sala de aula (MOITA LOPES,1996), “passando a escapar de visões
preestabelecidas para trazer à tona o que é marginal” (SIGNORINI, 1998a),
“enfocando por isso, questões de uso da linguagem dentro ou fora de sala de
aula” (CAVALCANTI, 1985), tornando-se, por isso, indisciplinar.
Ao assumir uma postura indisciplinar a Linguística Aplicada como área
de investigação da linguagem construída sócio discursivamente posiciona-se
politicamente de forma a empoderar o sujeito social desprovido de uma
racionalidade absoluta, dotado de uma mutabilidade atemporal.
Nesse sentido ela passa a contribuir para a desconstrução de projetos
hegemônicos de dominação vinculados por relações injustas de poder,
trazendo para o centro das discussões linguísticas os atravessamentos
identitários de classe social, raça, etnia com vistas a redescrever a vida social e
as formas de conhecê-la (MOITA LOPES, 2006).
Essa nova tendência da LA adiciona a área um outro adjetivo. Sendo
assim, ela passa a ser chamada também de Linguística Aplicada
Contemporânea, uma vez que ao questionar a agenda do mundo globalizado e
a maneira como ele é constituído, abre-se para discussões relativas a pós-
modernidade (JAMESON, 1991), ao pós-colonialismo (SAID, 1996), ao pós-
estruturalismo (LOURO, 1997; BUTLER, 1997, BOURDIEU, 2011 ) e a
questões antirracistas (FANON, 2008; FERREIRA, 2012), entre outras.
Constrói-se então uma Linguística Aplicada que busca diálogo como
outras áreas das Ciências Humanas trazendo para a sua epistemologia a
perspectiva pós-estruturalista, a qual se diferencia da perspectiva pós-
modernista no sentido de questionar a origem de verdade institucional e, por
isso, estrutural que constitui os discursos identitários sociais, isto é, a
representação desses discursos e o poder que os constitui, considerando que
tal poder não é fixo, mas móvel e fluido e está em toda parte (FOUCAULT,2001
[1979]), diferentemente da concepção considerada pelo pós-modernismo pela
qual o discurso do sujeito humano é tido como uno, centrado e invariável.
A concepção pós-estruturalista pela qual o sujeito se constitui discursiva
e socialmente a partir da diferença, busca o adiamento das certezas sobre a
constituição dos significados dos signos que nos classificam, principalmente no
que concerne as relações de poder que envolvem os binarismos, como por
exemplo: masculino/feminino, branco/negro, rico/pobre, que as instituições
também são discursivamente constituídas.(DERRIDA, 2006 )
No que concerne aos Estudos Culturais, cuja origem data de 1964,na
Inglaterra se subdividem em um sem-número de variadas perspectivas
teóricas. Algumas delas o afiliadas ao marxismo, mas outras, às versões
pós-estruturalistas. Entretanto, o objetivo principal dessa abordagem está em
desnaturalizar os artefatos sociais que organizam as construções culturais. Há,
por esse motivo, um envolvimento político com as questões nas quais estão
imbricadas relações de poder que estabelecem e naturalizam desigualdades e
estereótipos.
Essas posições desiguais de poder que naturalizam estereótipos,
apagamentos e subalternidade são veiculadas, muitas vezes, pelo discurso do
livro didático, conforme veremos no quadro construídos a partir das análises
realizadas pelos professores de espanhol a livros didáticos utilizados em sala
de aula.
No entanto, antes de mostrarmos o quadro que consideramos
representativo do discurso vinculado pelos livros didáticos, falaremos um pouco
da abordagem teórico-metodológica que originou a construção deste.
3. A LINGUAGEM COMO FENÔMENO SISTÊMICO E MULTIFUNCIONAL
A Linguística Sistêmico Funcional, doravante LSF, foi elaborada por
Halliday (1989) com base no pressuposto de que a linguagem é um sistema de
construção de significados. Tal produção/construção de significados se nas
interações sociais que objetivam a comunicação entre usuários reais da língua.
Como um sistema que possibilita a comunicação durante as interações
sociais, podemos dizer que tal sistema constitui-se às escolhas feitas pelos
usuários da língua em contextos socioculturais. Tais escolhas são negociadas
em contextos específicos e representam o conhecimento de mundo
Linguística Sistêmico Funcional compreende a linguagem a partir de
quatro pontos teóricos: o funcional, o semântico, o contextual e o semtico.
Segundo Eggins (2004).
A partir do contexto sociocultural e das intenções do interlocutor, sejam
elas conscientes ou não, o mesmo faz escolhas linguísticas em meio ao leque
de possibilidades que o sistema oferece. Tais escolhas são mediadas pelo
conhecimento de mundo que os participantes carregam, bem como pelas
crenças que eles tem as quais são responsáveis pela construção de seus
posicionamentos (identidades).
Quando dissemos que a linguagem em ação, via interações
socioculturais dos usuários da língua, estamos nos referindo a sua perspectiva
sociossemiótica (HALLIDAY e HASAN, 1989).
Assim, para entendermos o uso da linguagem como realização da vida
social cotidiana via interações dos usuários da língua é fundamental observar e
analisar as relações sociais e os significados por elas produzidos em um
determinado contexto social. (EGGINS, 2004).
Admitindo que a linguagem é um sistema de escolhas que cria
significados a partir de seu uso em contextos específicos, a LSF sua divisão
em dois estratos: o extralinguístico e o linguístico.
O nível extralinguístico é composto por contexto da cultura e pelo
contexto da situação. o linguístico abarca os planos de conteúdo (semântico
e lexicogramtical) e de expressão (fonológico, grafológico e gestual). Casa
estrato é “realizado” em seu subsequente.
No nível extralinguístico são encontrados o contexto de cultura e o
contexto de situação cujo objetivo é fornecer uma descrição completa e
adequada do contexto em que se desenvolvem as interações . O contexto de
cultura é amplo e envolve todos os possíveis sentidos de uma dada cultura . O
contexto de situação é particular, pois abrange a realização da linguagem em
determinado contexto.
4. CAMPO, RELAÇÃO E MODO EM CINCO PESQUISAS SOBRE LIVRO
DIDÁTICO
Tendo em vista que o contexto de cultura pode ser pensado como o
cultura hispânica, prioriza-se a análise do contexto da situação, em cinco
pesquisas relacionadas a análise de livros didáticos, e levando-se em
consideração que todo texto ocorre nos dois contextos mencionados, os quais
se realizam semanticamente no discurso, através de três tipos de significado: o
ideacional, o interpessoal e o textual. O significado ideacional corresponde ao
uso que fazemos da linguagem para falar de nossas experiências sobre o
mundo, o interpessoal para estabelecer e manter relações social e o textual
para organizar as nossas mensagens. Os três significados, por sua vez,
também se realizam , conforme ilustra o quadro abaixo:
Tabela 1. Metafunções, tipos de significado e registro.
Metafunção (significado)
Tipo de significado
veiculado
Registro
(Organização
contextual)
Ideacional/experiencial
Representação de
atividades sociais
Campo (ação social)
Interpessoal/identificacional
Papéis sociais assumidos
pelos participantes
Relações (estrutura
de papeis)
Textual
Papel simbólico da
linguagem
Modo (organização
simbólica)
Fonte: Elaborada com base nos estudos de Eggins e Martin (1997)
No que concerne as pesquisas sobre livro didático, mencionadas : as
relações são estabelecidas pelos pesquisadores, e portanto, representadas
por seus nomes e tulos de suas dissertações, assim como pelos participantes
observados e/ou envolvidos na pesquisa. Campo refere-se a área de estudos à
qual cada dissertação está afiliada, e o objeto de pesquisa, o livro didático, e os
objetivos da pesquisa. refere-se à metodologia ,aos instrumentos de coleta
e à análise de dados e resultados apresentados, conforme expresso nos
quadros analíticos a seguir:
Campo, relação e modo em cinco pesquisas sobre livro didático
Quadro 01.
Nome do Pesquisador
Carla Aguiar Falcão
Título da Dissertação
Ensino de pronuncia no
curso de Espanhol do Núcleo
de Línguas da UECE:
diagnóstico e proposta
didática.
Fortaleza, 2009.
Participantes
três professores de espanhol
da instituição
Campo de Pesquisa
Linguística Aplicada (
Estudos da Linguagem)
Objetivos da Pesquisa
verificar o tratamento dado
ao ensino de pronuncia nas
aulas de espanhol do Núcelo
de Linguas da UECE e
apresenta uma proposta
para um ensino de pronuncia
que possibilite o
desenvolvimento das
habilidades orais dos alunos
Livro(s) analisado
Nuevo Ven 1 (CASTRO, F.;
MARÍN, F.; MORALES, R.;
ROSA, S., 2006, p.3)
Metodologia
A investigação foi conduzida
com a partir de um período
de observação , da apliação
de questionários e da análise
do livro didático
Resultados
Os professores não
reconhecem a importância
do ensino da pronúncia,
restringindo o tratamento
desse aspecto da língua a
correções pontuais de erros
dos alunos e a atividades de
audição e repetição de sons.
A análise do livro permite
verificar que o manual não
apresenta uma
sistematização dos
conteúdos de pronuncia,
restringindo-se a abordar os
elementos de pronuncia
através de atividades
repetitivas e monótonas.
Resultado há uma distância
entre a concepção de ensino
do professor sobre sua
própria prática e a realidade
observada em sala de aula,
bem como o descado com o
ensino de pronuncia.
Fonte: Dados da Pesquisa 1.
Quadro 2.
Nome do Pesquisador
Cleide Coelho Martins
Título da Dissertação
O ensino de conteúdos
culturais nos livros didáticos
de Espanhol escolhidos pelo
PNLD 2011
Participantes
-
Campo de Pesquisa
Letras e Linguística (Goiânia,
2012
Objetivos da Pesquisa
Analisar como os conteúdos
culturais aparecem nas duas
coleções de livros didáticos
escolhidos pelo PNLD 2011
(BRASIL, 2010)
Livro(s) analisado
Saludos (Martin, 2011),
Enterate (BRUNO, TONI;
ARRUDA, 2011)
Metodologia
Análise documental
Resultados
os textos propostos trazem
temas transversais que
levam à conscientização dos
alunos, como meio de
compreensão das propostas
que seguem basicamente os
modelos ascendente e
descendente de leitura, são
muitos os que enfocam a
sistematização gramatical e
são poucos os que seguem o
modelo interativo. Faltam
atividades que propiciem
uma reflexão crítica que
levem os alunos a se
posicionarem sobre os temas
discutidos e que os ajudem
no desenvolvimento da
competência intercultural.
Fonte: Dados da pesquisa 2.
Quadro 03.
Nome do Pesquisador
Jandira Francisca de
Bulzacchelli
Título da Dissertação
Conteúdos culturais em
um livro didático de
Espanhol como língua
estrangeira: uma
discussão em uma
perspectiva intercultural e
uma proposta didática
Participantes
-
Campo de Pesquisa
Programa de Pós-graduação
de Ensino na Educação
Básica do Centro de Ensino
na Educação básica do
Cetnro de Ensino e Pesquisa
Aplicadada a Educação-
CEPAE, UFG (Goiânia,
2010)
Objetivos da Pesquisa
averiguar se o LD cercania
contempla conteúdos
culturais da cultura com
maiúscula e com K,
conforme definição de Miguel
e Sans (1992), verificando
quais desses conteúdos
culturais favorecem mais o
processo de ensino -
aprendizagem intercultural ;
analisar se as atividades de
compreensão leitora (ACL)
promovem ou não o
processo de ensino -
aprendizado nesta
perspectiva de ensino eo
despertar de uma postura
intercultural, apresentar
sugestões de adaptações
e/ou complementação de
materiais didáticos (MD) que
possam enriquecer os
conteúdos culturais e
atividades de LD em análise,
favorecendo um processo de
ensino-aprendizagem
intercultural.
Livro(s) analisado
Cercania (COIMBRA, L;
CHAVES, L. S; ALBA, J.
M.;2012 )
Metodologia
Pesquisa de base
etnográfica
Resultados
autores cumprem, em parte,
com o que propõem na
apresentação e no manual
do professor, apresentando
uma concepção de ensino
multicultural . Verificamos
que os tipos de cultura não
são os fatores determinantes
para a promoção de um
processo de ensino-
aprendizagem intercultural,
mas sim a realização de ACL
comunicativas que
favorecem leituras criticas
dos aspectos culturais da
língua-alvo e da língua
materna do aprendiz de LE,
bem como a mediação do
professor
Fonte:Dados da Pesquisa 3.
Quadro 04.
Nome do Pesquisador
Edina Aparecida da Silva
Enevan
Título da Dissertação
Um olhar sobre as
representações de
Identidades sociais de raça:
analise de livros didáticos
para o ensino de
Espanhol/LE
Participantes
-
Campo de Pesquisa
Programa de Pós-graduação
Stricto Sensu -Mestrado em
Linguagem, Identidade e
Subjetividade (Ponta Grossa,
PR, 2016)
Objetivos da Pesquisa
Analisa representações das
identidades sociais de raça,
em especial negra,
presentes em duas coleções
para o Ensino Médio,
utilizada em escolas públicas
estaduais, no município de
Ponta Grossa (PR), entre os
anos de 2012 a 2014.
Livro(s) analisado
Sínteses (MARTIN, 2010)
Yo hablo,
escribo y leo en lengua
española ( COUTO;
JOVINO, 2012, 2014)
Metodologia
Análise documental
Resultados
Os resultados encontrados
na coleção Sínteses
comprovam que existem
avanços nas formas de
representar as identidades
sociais de negros e negras
nos livros didáticos do PNLD,
pois algumas pessoas
negras aparecem exercendo
profissões e atividades de
prestígio social, algumas tem
nome e são protagonistas.
Contudo, os espaços
conquistados pelas pessoas
negras, evidenciados nessa
coleção de livros didáticos,
ainda não atingem um nível
de igualdade de
representação em relação
aos espaços que as pessoas
brancas ocupam. Negros e
negras aparecem menos
vezes que pessoas brancas
e adina o representados
fixados nos estereótipos de
pobreza, preguiça e do
imigrante ilegal. A segunda
coleção, de corrente do
PIBID, representa todos as
identidades negras que
compõem os discursos dos
livros de maneira positiva,
rompendo com recorrentes e
excludentes formas de
representar identidades
sociais de raça. As
identidades negras são
representada em contextos
complexos, as
desigualdades da raça são
problematizadas, a beleza
negra é valorizadas . Isso
evidencia que materiais
didáticos construídos no
contexto de projetos
institucionais , como o PIBID,
podem funcionar enquanto
complemento essencial para
os livrod do PNLD nas aulas
de línguas estrangeiras
Fonte: Dados da Pesquisa 4.
Quadro 05.
Nome do Pesquisador
Flávia Braga Krauss de
Villena
Título da Dissertação
Sobre a homogeneização do
Espanhol nos livros didáticos
nacionais
Participantes
-
Campo de Pesquisa
Instituto de Linguagens Da
Universidade Federal de
Mato Grosso (UFMT-Cuiabá,
2008)
Objetivos da Pesquisa
Busca demonstrar os modos
pelos quais os livros
didáticos de produção
nacional para o ensino de
língua espanhola se pautam
em uma concepçõa de
língua uma e homogênea,
pois ainda que apresentem
as respectivas variantes da
língua espanhola, incorrem
na ideia da existência de
uma língua modelar da qual
as variantes seriam
deturpações do que
consideram a língua original
Livro(s) analisado
Mucho”: Español para
Brasileños (ALVES, Adda-
nari; MELLO, A.2002)
Metodologia
Análise documental
Resultados
Existem poucas mudanças
com relação a essa questão.
um discurso hegemônico
que desconsidera que os
sentidos são produzidos
sócio-historicamente,
tomando valor somente se
inseridos na memória
discursiva, conceito
operacional que demonstra
como o aspecto mais
palpável a ideialogia que
procuram silenciar na
produção de tais materiais
didáticos.
Fonte: dados das pesquisa 5.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tem-se aqui uma interpretação sobre o que fora tratado nessas
pesquisas que ora são afiliadas à área de Humanidades, oras à área de
Linguagens. As cincos pesquisas foram realizadas no período compreendido
entre 2008 a 2016. Algumas contemplam análises de livros do Programa
Nacional do Livro Didáticos.Outras vezes, contemplam livros importandos e
outras, livros produzidos pelos próprios professores (PIBIC). Todas as
pesquisas tem em comum a necessidade de complementação/adapatação de
temas e atividades trazidos pelo livro, por parte do professor.
As perguntas que nortearam este artigo dizem respeito a : Quais são as
concepções de língua, ensino e de livro didático subjacente a cada pesquisa
realizada.
Para responder a essas questões foi realizada uma leitura cuidadosa de
cada trabalho Assim, para a realizadora da pesquisa mencionada no primeiro
quadro, a língua é um sistema complexo, e assim, também o ensino de língua
estrangeira deve ser sistematizado de forma a priorizar a habilidade de
pronuncia, o que ao ver da pesquisadora não é contemplado pelo livro didático
devido ao fato de este instrumento tratar tal aspecto da língua como
secundário. A pesquisadora também constatou que os professores tem se
apoiado somente nos exercícios trazidos pelo livro, tido por ela como um
instrumento norteador, e que como tal, é insuficiente apesar de os professores
considerarem tal aspecto (a pronúncia) importante.
De acordo com que fora expresso no segundo quadro, a pesquisa
realizada prioriza o ensino da habilidade de leitura por meio da promoção da
Competência Intercultural, criticando o modelo ascendente e descendente de
leitura o qual enfoca a sistematização gramatical dando pouco espaço para o
trabalho de inclusão e da diversidade, ainda que os textos trazidos pelo livro
escolhido para análise contemplem, de acordo com as Orientações
Curriculares para o Ensino Médio, temas transversais. A concepção de língua
é condizente com o conceito de polifonia pelo qual deve-se ouvir as várias
vozes que constiuem os discursos.
De acordo com o terceiro quadro de pesquisa, língua e cultura são
indissociáveis, e o ensino de uma língua deve promover a competência
intercultural ( o uso efetivo da línguas em situações reais de comunicação via
aspectos culturais como espaço de interação) por meio de leituras críticas as
quais contemplem aspectos culturais da língua-alvo e o livro didático, como voz
que representa o professor de línguas em sala de aula, deve servir-lhe como
um veículo mediador do conhecimento.
Quanto ao quadro número quatro, contempla-se o estudo da
representação de identidades de raça nos materiais analisados, o que propõem
a problematização de preconceitos trazendo para a agenda de ensino temas
como: raça -etnia, classe social, e gênero, assim como outros condizentes com
a realidade do alunato brasileiro. A concepção de língua trazida pelo trabalho é
a de que a língua não deve ser instrumento de opressão, antes de libertação
de opressões e que o ensino deve ser instrumento de luta, o que pode ser
proporcionado por meio dos textos e atividades dos livros didáticos
contemporâneos. No entanto, segundo a análise realizada pela pesquisa, os
livros contribuem para o desfazimento de preconceitos oriundos da criação de
estereótipos até certo ponto. Para a autora da pesquisa, poderia haver maior
empodaremento dos alunos se as identidades raça/etnia fossem representadas
de forma positiva nos dois materiais analisados.
O quinto quadro mostra que houve poucas mudanças em relação a
questão dos discursos hegemônicos discursivamente formulados e circulantes
por meios livros didáticos importados para uso nas salas de aula brasileiras . A
língua estrangeira deve ser aprendida levando em consideração suas
características heteroglóssica e polissêmica. Dessa forma , a concepção de
ensino é a de que ele deve ser pautado na promoção da inclusão e na
diversidadade por meio da reconstrução dos discursos circulantes presentes no
material didático. Assim a língua é instrumento de luta e o material didático é
veículo desse instrumento.
Tendo em vista o que forma mencionado sobre algumas pesquisas
sobre livros didáticos de língua estrangeira, e que pesquisas anteriormente
realizadas a essas ocasionaram mudanças discursivas sobre o que seja
língua(gem), ensino e material didático, e mister que mais pesquisas sejam
realizadas para que os objetivos, como por exemplo: uso efetivo da língua via
inclusão social, agenda da Linguística Aplicada Contemporanêa quanto so
ensino de línguas voltado para os problemas do mundo real do aluno, seja
alcançado.
REFERÊNCIAS
BRASIL, Ministério da Educação: Guia de Livros Didáticos. PNLD
2012: Língua Estrangeira Moderna. Brasília: Secretaria de Educação
Básica, 2011.
BULZACCHELLI, J. F. de Sá. Conteúdos culturais em um livro
didático de Espanhol como língua estrangeira: uma discussão em
uma perspectiva intercultural e uma proposta didática. Dissertação
(mestrado)-Goiânia, UFG, 2015.
CORACINI, Maria José (Org.). Interpretação, autoria e legitimação do
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