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APRESENTAÇÃO
É com alegria que apresentamos aos leitores da Revista Diálogos o
Dossiê Surdez e aquisição de línguas. Aqui, estão reunidos catorze artigos,
de diversas instituições do país, para discutir questões relevantes acerca de
aquisição/aprendizagem de primeira, segunda e/ou terceira língua por surdos e
da aprendizagem da Libras como segunda língua por ouvintes.
De modo especial, interessa-nos estimular discussões sobre o processo
de ensino-aprendizagem de línguas para surdos nos mais diversos contextos,
seus desafios e, principalmente, possibilidades.
Acreditamos, assim como Grosjean, dentro de uma perspectiva
bilinguista, que, conhecendo e usando a língua de sinais e uma (ou mais)
língua(s) oral(is), o surdo alcançará um completo desenvolvimento das suas
capacidades cognitivas, linguísticas e sociais. A língua de sinais facilitará, e
poderá motivar, a aquisição da língua oral da sociedade em que se vive, seja
na modalidade escrita ou na modalidade falada. Acreditamos, também, que
esse contexto facilitará e estimulará a aquisição de uma terceira língua, a
estrangeira, maximizando e otimizando oportunidades em um mundo
globalizado.
Nesse sentido, foram selecionados, para compor este Dossiê Temático,
os artigos que passamos a descrever.
Em Implicações sobre a aquisição da língua portuguesa por surdos:
algumas reflexões sobre o ensino e aprendizagem da escrita, Sandra
Maria de Lima Alves e Wanilda Maria Alves Cavalcanti analisam, a partir de
uma pesquisa bibliográfica, algumas implicações identificadas durante a
aquisição da escrita de língua portuguesa por surdos a partir da perspectiva do
bilinguismo preconizado pelas Políticas Públicas brasileiras. Em seu texto, as
pesquisadoras destacam que o tema continua sendo alvo de preocupação dos
pesquisadores da área, devido ao lento avanço no encaminhamento de novas
alternativas para superar dificuldades desse processo.
Em Experiências de leitura em língua portuguesa com surdos
sinalizantes do Ensino Fundamental, Izabelly Correia dos Santos Brayner
“Surdez e aquisição de línguas” v. 7, n. 2, maio-ago., 2019.
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chama atenção para o fato de que o panorama educacional dos surdos
evidencia diferentes insucessos, e nos convida a refletir sobre como
poderíamos modificar essa realidade. A pesquisadora identifica estratégias que
podem auxiliar a leitura na língua portuguesa, promovendo a compreensão
textual e ampliando o capital linguístico dos surdos.
Em A inevitabilidade de arcabouço linguísticos intrínseco no
processo de ensino de L1, L2 e L3, Isabel Cristina Almeida Fogaça discute a
necessidade de a criança surda ter consolidado seu primeiro idioma, a Língua
de Sinais Brasileira, para, em seguida, aprender um segundo idioma com
menos entraves. Para a pesquisadora, a Língua Portuguesa, em sua
modalidade escrita, auxilia o processo de ensino e aprendizagem, permitindo a
assimilação de um terceiro idioma que igualmente será na modalidade escrita.
Em Por que escrever em línguas de sinais?, Guilherme Gonçalves
Freitas, Francisco José Quaresma de Figueiredo e Mariângela Estelita Barros
buscam mostrar a importância da escrita de sinais (ELiS) como ferramenta
semiótica acessível para o processo de ensino-aprendizagem de línguas de
sinais a partir de uma pesquisa bibliográfica que tem por objetivo enfatizar a
importância da escrita como meio de comunicação, bem como sua importância
no campo de pesquisas que envolvam ensino e transcrição de dados em
línguas de sinais. Os resultados de sua pesquisa sugerem que a escrita é uma
importante ferramenta para o processo de apropriação de línguas.
Em Estudo preliminar da troca de dominância em Libras, Lorianny
de Andrade Gabardo e André Nogueira Xavier, a partir da análise de duas
contações da “História da pera” por duas sinalizantes surdas do estado de São
Paulo, registram que, apesar da simetria anatômica, a lateralidade cerebral
resulta em uso assimétrico das mãos também na sinalização. Segundos os
pesquisadores, sinalizantes com dominância lateral à direita, preferem sua mão
direita para a realização de sinais. Observam, entretanto, que, em algumas
situações, há troca de dominância.
Em Sinalário de química em Língua Brasileira de Sinais (Libras):
criação lexical sobre a tabela periódica, Joicy Valeska Oliveira Gonçalves,
Bruna Gomes Delanhese e Letícia Jovelina Storto apresentam treze sinais
criados em língua brasileira de sinais para o ensino da Química. Mais
“Surdez e aquisição de línguas” v. 7, n. 2, maio-ago., 2019.
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especialmente, apresentam sinais relativos à tabela periódica, colaborando
para o avanço na divulgação de conhecimentos que podem contribuir para a
inclusão escolar do sujeito surdo.
Em O aprendizado de línguas estrangeiras pelo acadêmico visual
(surdo): o que os processos seletivos nos informam, Márcia de Moura
Gonçalves-Penna, Marta Maria Covezzi e Simone De Jesus Padilha
investigam, por meio da Análise Dialógica do Discurso, o posicionamento
discursivo de universidades públicas brasileiras, em editais de Processo
Seletivo para ingresso nos cursos Letras Libras, sobre avaliação em língua
estrangeira
(LE) de candidatos surdos. As pesquisadoras buscaram
compreender quais sentidos emergem no discurso sobre a aprendizagem de
LE no ensino básico.
Em A coarticulação no número de mãos na produção de sinais da
Libras, Thiago Alexandre Hubie e André Nogueira Xavier trazem dados
coletados a partir de uma pesquisa que testou se a variação no número de
mãos dos sinais PRECISAR, QUERER e JÁ da libras decorre da coarticulação
com o número de mãos dos sinais adjacentes e se é afetada pelo aumento na
taxa de sinalização e pela idade do sinalizante. Os pesquisadores observaram
que os resultados indicam sensibilidade ao contexto e à taxa apenas para o
sinal JÁ.
Em Os bastidores da escrita: análise cognitivo-funcional de
processos cognitivos operantes na aquisição de PBL2 por surdos
bilíngues, João Paulo da Silva Nascimento, Lia Abrantes Antunes Soares e
Roberto de Freitas Junior nos trazem um um estudo descritivo da produção
escrita de surdos universitários em Português e seus aspectos cognitivos
subjacentes, em uma etapa específica de aquisição. Utilizando textos
selecionados do Corpus NEIS-UFRJ para mapear as motivações cognitivas
que afetaram a proficiência escrita desses indivíduos em dois gêneros textuais
distintos, os pesquisadores encontraram, em seus resultados, evidências de
comportamentos dos processos cognitivos analógicos, atrelados à aquisição de
conhecimento linguístico-textual, que se manifestam em categorias prototípicas
de desvios.
“Surdez e aquisição de línguas” v. 7, n. 2, maio-ago., 2019.
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Em Libras nas licenciaturas e currículo, Gabriele Cristine Rech,
Fabiola Sucupira Ferreira Sell e Natália Schleder Rigo apresentam resultados
alcançados no projeto de pesquisa intitulado Libras e Ensino. As
pesquisadoras desenvolvem breve discussão sobre questões envolvendo
currículo, bem como relato das mudanças sugeridas em uma das
universidades envolvidas na pesquisa quanto às mudanças propostas pelas
professoras pesquisadoras à instituição, como reformulação da ementa, da
carga-horária e do semestre de oferta.
Em O desenvolvimento da identidade da comunidade surda em
Telêmaco Borba (PR), Francieli Lunelli Santos e Marcelo Rodrigues discutem
aspectos sobre a formação de uma comunidade surda na cidade de Telêmaco
Borba a partir da década de 1990. Em seu artigo, os pesquisadores discorrem
sobre o convívio entre as pessoas sinalizantes que compartilham suas
dificuldades e superações tornando a comunidade surda um ambiente de lutas
e conquistas, e sobre a construção e o fortalecimento da identidade da
comunidade surda no meio social em que estão inseridos.
Em Implicações do uso de jogos lúdicos no processo de ensino da
Libras como segunda língua para pessoas ouvintes, José Affonso Tavares
Silva, Alana Monteiro Ferreira Maia e Raquel Pereira de Lima analisam as
implicações do uso de jogos lúdicos no processo de ensino da Libras como
segunda língua para pessoas ouvintes em um curso de extensão da
Universidade Federal de Sergipe - UFS, evidenciando que o uso do lúdico é
uma das alternativas possíveis para favorecer um ensino mais convidativo e
menos monótono.
Em Verbos manuais em Libras: análise da produção em L2 e
contribuições à prática pedagógica, Lidia da Silva e Amanda Regina Silva
analisam a produção de verbos manuais na sinalização de cinco ouvintes
sinalizantes de Libras como L2 sob a perspectiva da teoria de análise de erros.
Os resultados alcançados pelas pesquisadoras apontam para uma produção
sem características visuais como a iconicidade, a gestualidade e a
representatividade, e indicam que tal produção se justifica no argumento de
erros intralinguais.
“Surdez e aquisição de línguas” v. 7, n. 2, maio-ago., 2019.
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Em O aprender e apreender do estudante surdo no processo de
aprendizagem de uma segunda língua, inúmeras possibilidades,
Sebastiana Almeida Souza traça reflexões acerca da leitura e do gênero
charge na compreensão dos sentidos através da produção textual de um
estudante surdo que participa do Laboratório de Aprendizagem Avançada na
Universidade Federal de Mato Grosso. A pesquisadora analisa a coerência e a
coesão do texto, compartilhando o sentido da palavra maturidade que se
encontrava na produção do estudante, devido aos questionamentos por outros
estudantes que desconheciam seu significado.
Desejamos a todos uma boa leitura!
ANTONIO HENRIQUE COUTELO DE MORAES
“Surdez e aquisição de línguas” v. 7, n. 2, maio-ago., 2019.