a permanência da Língua Portuguesa como palavra autoritária, e, por vezes,
ininteligível. Diante das reflexões realizadas até agora, percebemos que a
estratificação no plano da oração reforça a necessidade de que “há sempre que
encontrar normas, fixar o movimento para garantir não se sabe bem o quê, mas
garantir a correção que somente tem existência pela construção de seu outro, o
erro” (GERALDI, 2015, p. 20).
Notamos a presença da força centrípeta que atua em prol da estabilidade
do sistema, da monologização que silencia as diversas vozes sociais, restando
ao surdo “dublar” a língua portuguesa, a palavra alheia, repleta de aspas.
Encontrando-se, dessa forma, tolhido e enclausurado na "ditadura" de uma
língua que, mesmo estando em todas as instâncias de sua vida, está repleta de
vazios. Outrossim, a leitura e a escrita estão ligadas a códigos que arrastam
uma verdade única: a língua desprovida do seu conteúdo ideológico e imediato.
Durante a produção textual, notamos o estranhamento dos alunos surdos e
ouvintes que, automaticamente, preocupavam-se com as normas gramaticais,
mas no decorrer do processo foram reconhecendo a alteridade como centro de
valor na construção do conhecimento.
Ao final da produção, cada aluno surdo, considerando suas experiências
anteriores com a língua portuguesa, conseguiu iniciar um movimento de
compreendê-la enquanto linguagem. Um deles, por exemplo, escreveu um texto
analisando a temática trabalhada; propondo soluções, relacionando com sua
visão de mundo e escolhendo as formas lexicais que, a seu ver, se alinhavam
com o gênero trabalhado. E, ainda, fez questão de socializar a experiência com
os demais alunos num evento organizado pelo curso de Letras: Libras/LP da
UFRN. No momento em que a palavra se tornou internamente persuasiva,
palavra sua, sentiu-se capaz de expressar o seu projeto de dizer em português
em situação pública. A força centrífuga fez-se presente ao subverter a lógica
autoritária e detentora da verdade do ouvintismo sobre o ensino da LP/L2S, pois
o surdo ocupou o lugar de protagonista, de sujeito concreto e axiológico,
possibilitando o atravessamento da índole dialógica, plena de novidades,
entremeando o mundo da vida ao mundo da cultura.