discursos. No entanto, ao trazer a palavra do outro para a minha palavra, há uma
reformulação desse dizer, uma vez que tal palavra é valorada de acordo com o
contexto, com as nossas posições sociais e ideológicas. Todos estes aspectos
influenciam na formulação do dizer e imprimem ao discurso um certo grau de
novidade. Portanto, para analisar um enunciado é preciso atentar para o discurso
do outro que exige do ouvinte uma atitude responsiva. Sobre essa questão,
Bakhtin (2011) ressalta que:
Por palavra do outro (enunciado, produção de discurso) eu
entendo qualquer palavra de qualquer outra pessoa, dita ou
escrita na minha própria língua ou em qualquer outra língua, ou
seja, é qualquer outra palavra não minha. Nesse sentido, todas as
palavras (enunciados, produções de discurso e literárias), além
das minhas próprias, são palavras do outro. Eu vivo em um
mundo de palavras do outro (...). A palavra do outro coloca diante
do indivíduo a tarefa especial de compreendê-la (essa tarefa não
existe em relação à minha própria palavra ou existe em seu
sentido outro). (BAKHTIN, 2011, p. 379, grifos do autor)
Portanto, o sujeito é sempre levado a fazer uma avaliação, quer seja para
concordar, discordar, emitir um julgamento, uma crítica. Mesmo que não haja uma
compreensão, há sempre uma resposta. Ao assumir esta postura valorativa,
imprimimos os nossos valores e assumimos uma posição diante do objeto.
Corroborando com esta ideia, Volochínov (2013, p. 168) afirma que “[...] todo
discurso é dialógico, dirigido a outra pessoa, à sua comprensão e à sua efetiva
resposta potencial”. Desse modo, os sujeitos, ao buscar comprender um
enunciado, imprimem uma avaliação. Assim sendo, ao produzir um enunciado
deve-se considerar o destinatário, quem será o ouvinte e que valores sociais
podem ser atribuídos, pois “ao construir o meu enunciado, procuro defini-lo de
maneira ativa; por outro lado, procuro antecipá-lo e essa resposta antecipável
exerce por sua vez uma ativa influência sobre o meu enunciado”(BAKHTIN, 2016,
p. 63). Logo, não há como produzir um enunciado sem levar em consideração o
endereçamento. É este aspecto que definirá o estilo do enunciado, as estratégias
discursivas e o gênero a ser produzido.
Volochínov (2013) também destaca que para a enunciação realizar-se é
sempre preciso a presença do falante e de um ouvinte, isso que dizer que o nosso