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Os principais requisitos para a participação na pesquisa eram que as pessoas entrevistadas tivessem
nascido e que morassem na cidade em questão. Partindo dessas condições, foram gravadas 30 pessoas: 5 homens
entre 10-15 anos, 5 mulheres de 10-15 anos, 5 homens de 30-45 anos, 5 mulheres de 30-45 anos, 5 homens com
70 anos ou mais e 5 mulheres com 70 anos ou mais. A divisão em três faixas etárias distintas nos permitiu fazer
uma comparação entre o modo de falar de cada geração, com o objetivo de identificar possíveis mudanças
linguísticas. Além das mudanças linguísticas também buscamos observar se as percepções sobre o “caipira” e
seu modo de ser variavam de acordo com a idade.
Analisar a fala de homens e mulheres também é muito importante, pois o gênero pode ser um fator
relevante para as questões de variação, devido não às questões biológicas, mas, sim, às sociais. Para Labov (2001)
as mulheres possuem uma maior tendência ao padrão. Entretanto, estudos mais recentes como o de Freitag
(2015) indicam que as mudanças sociais pelas quais as mulheres têm passado como, por exemplo, a inserção no
mercado de trabalho, maior participação política e social, acarretaram mudanças no papel que estas
desempenham na sociedade e no modo como falam: a fala da mulher nem sempre está relacionada ao emprego
das formas de padrão.
O recrutamento das pessoas para participação foi feito por meio de indicação de inserção na rede de
contatos do presente autor, na qual os amigos da pesquisadora indicavam possíveis participantes e estes, quando
gravados, indicavam outras pessoas. A pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética e os menores de 18 anos só
participaram mediante autorização dos pais ou responsáveis. O total de horas gravadas foi de 19 horas 11
minutos e 10 segundos (PICINATO, 2018). A pesquisa de campo compreendeu quatro partes: ficha social,
conversa com o participante, questões de vocabulário e questionário sobre identidade. Neste artigo, nos
ateremos apenas à explicação da segunda e última partes, pois as outras não dizem respeito aos objetivos aqui
propostos.
Na conversa com os entrevistados, fizemos 14 perguntas para os participantes. O objetivo era observar,
analisar e descrever o modo como o participante fala. As perguntas realizadas abordavam os seguintes temas: se
o entrevistado possuía alguma religião ou não, se frequentava cultos, missas, em quais grupos sociais estava
inserido, o que ele fazia nos finais de semana, como havia sido a infância, como era a rotina, pedia para contar
algum acontecimento marcante; enfim, eram questões que permitiam que o participante se envolvesse
emocionalmente e tornasse a entrevista uma conversa, pois, dessa forma, o entrevistado ficaria menos
preocupado com o modo como estava falando e teríamos uma fala mais informal, dentro de uma situação de
gravação, que, por si só, já possui certa formalidade.
Na parte sobre identidade, as perguntas se detinham na identidade “caipira” e na percepção do falante
em relação ao modo como fala e à imagem que tem de si. Nessa parte, as questões foram: i) “O que você acha
das expressões ‘nóis vai’, ‘pra mode’ e ‘porta verde’ (pronunciada com o “r” como retroflexo)?”; ii) “As pessoas
que convivem com você falam desse jeito?”; iii) “Você fala desse jeito?”; iv) “O que você acha do modo de falar
“caipira”?”; v) “Você usa a palavra caipira em qual situação?”; vi) “O que é ser caipira para você?”; e vii) “Você
se considera caipira? Por quê?” (PICINATO, 2018). As respostas dadas a essas questões permitiram
compreender qual imagem o entrevistado tem do “caipira”, se ele se considera “caipira” e o motivo que leva à