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Agradecimentos:
O presente trabalho foi realizado com apoio da FAPESP 2018/05122-0.
Como citar este artigo:
ALMEIDA, M. A; BERLINCK, R. A. “Por onde anda você?” Sobre a norma e o uso de
onde na fala paulista. Revista Diálogos, v. 7, n. 1, 2019.
As autoras:
¹ Graduanda em Letras pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. É
membro do Núcleo de Pesquisas em Sociolinguística de Araraquara (SoLAr) e bolsista
FAPESP.
² É professora assistente doutora da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
(UNESP). Líder do Núcleo de Pesquisas em Sociolinguística de Araraquara (SoLAr).
“POR ONDE ANDA VOCÊ” – SOBRE A
NORMA E O USO DE
ONDE
NA FALA
PAULISTA
Milena Aparecida de Almeida¹ Rosane de Andrade Berlinck²
(UNESP/SoLAr/FAPESP) (UNESP/SoLAr/CNPq)
milenaa.ap@gmail.com berlinck.rosane@gmail.com
x
Resumo: Analisamos os usos, prescritos ou não, de onde em uma variedade da fala paulista.
Também discutimos se os usos “desviantes” se inserem em um processo de gramaticalização.
Nossa base teórico-metodológica inclui teorias de gramaticalização (HEINE et al, 1991;
HOPPER, TRAUGOTT,1993; LEHMANN, 2001, 2011), a Sociolinguística variacionista
(WLH, 1968; LABOV, 1972, 1994, 2001, 2003), e o conceito de norma(s) (COSERIU, 1980;
REY, 2001; FARACO, 2008; FARACO, ZILLES, 2017). Os dados (do banco IBORUNA-
Projeto ALIP (Gonçalves, s.d)), foram analisados segundo fatores extralinguísticos
(sexo/gênero; idade, escolaridade) e linguísticos (tipo textual e tipo de construção) e
quantificados por meio da linguagem de programação R (CORE TEAM, 2018).
Palavras-chave: Onde. Gramaticalização. Norma Linguística. Português Paulista
x
.
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1 Introdução
Dentre os fenômenos no âmbito da sintaxe do português brasileiro (PB) que têm despertado interesse
de muitos linguistas, o emprego dos pronomes relativos e as estratégias de relativização ocupam um lugar de
destaque. Processos como a generalização do uso do pronome que, a emergência e expansão de estratégias
‘alternativas’, como as relativas ‘copiadora’ e a relativa ‘cortadora’ encontram-se entre os primeiros que foram
investigados quando do renascimento dos estudos em Linguística Histórica no Brasil, a partir dos anos 1980
(MOLLICA, 1977; TARALLO, 1983, 1985; CAMACHO, 2013, 2017; RIBEIRO, 2009; BISPO, FURTADO
DA CUNHA, 2019).
Mollica (1977) e Tarallo (1983,1985) trouxeram à luz o processo variável envolvendo as estratégias de
relativização, mostrando como a estratégia padrão (pied-piping) (1)
*
foi perdendo terreno na história do PB para
as estratégias denominadas “copiadora” e “cortadora”. Na “copiadora” temos a presença de um pronome
pessoal, preposicionado ou não, devido à despronominalização” do pronome relativo, como no exemplo (2).
a “cortadora” faz referência à sentença em que se apaga o pronome pessoal, e a preposição, no caso de
complementos preposicionados, como no exemplo (3).
(1) Os painéis solares geram a energia com que sempre sonhamos.
(2) Os painéis solares geram a energia que sempre sonhamos com ela.
(3) Os painéis solares geram a energia que sempre sonhamos.
Apesar dos intensos trabalhos para descrição de tais construções, ainda existem lacunas quanto aos
pronomes relativos. Se nos detemos na tradição gramatical sobre o pronome onde, por exemplo, encontramos a
descrição/prescrição de seu uso restrito a o lugar em que(BECHARA, 2009; CUNHA, CINTRA; 1985). Em
contraste com essa tradição, vem se formando uma bibliografia (sócio)linguística quanto à variação da
categoria semântica à qual onde se refere. Podemos elencar dessa literatura: trabalhos que investigam o uso do
pronome onde especificamente em textos escritos (LIMA, 2007; MARINHO, 1999; ZILLES,KERSCH, 2015),
na fala (SOUZA, 2003; CAMBRAIA, ARAÚJO, 2004), nas duas modalidades (BRAGA, MANFILI, 2004). Um
aspecto frequentemente explorado nesses estudos é o processo de gramaticalização das construções com esse
pronome, foco principal dos trabalhos de Coelho (2001), Silva (2008), Lima e Coroa (2014).
Muitos desses estudos têm sido motivados pela constatação de que o emprego de referências não-
locativas associadas ao pronome relativo onde parece estar se tornando cada vez mais recorrente em textos de
escrita monitorada (LIMA, 2007). Ao analisar a escrita monitorada de universitários de Letras e professores do
Ensino Fundamental e Médio do Distrito Federal e de Goiás, rede pública e privada, que ministram a disciplina
de língua portuguesa, Lima (2007) identifica o caráter multifuncional do pronome e chega à conclusão de que
Os materiais de padronização, em vez de proporem uma aproximação da norma-padrão ao uso
efetivo que as camadas mais letradas da população fazem da língua portuguesa no Brasil,
*
Os exemplos (1-3) foram emprestados de Castilho (2014, p. 367).
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preferem seguir a orientação da padronização do português de Portugal, cujo vernáculo é
seguramente diferente do nosso. (LIMA, 2007, p. 132).
Marinho (1999), por sua vez, observa o uso de onde em textos acadêmicos produzidos por alunos da
Faculdade de Letras da UFMG. Após sua análise, a autora conclui que considerar como erro os usos de onde
que fogem à norma prescrita “é uma abordagem normativa, reducionista, que focaliza o produto, o enunciado,
e não o processo de sua produção” (MARINHO, 1999, p. 168).
Por fim, Zilles e Kersch (2015) se comprometem a destrinchar as definições que a palavra onde recebe
pela prescrição gramatical, assim como observar uma proscrição crescente para seu uso não prescrito. Também
é do interesse das autoras descrever os usos que os falantes têm produzido para essa palavra. Além disso, Zilles
e Kersch (2015) articulam possibilidades de um ensino que abranja as variações linguísticas e, no caso específico
focalizado por elas, modos como os professores podem realizar seus planos de ensino incluindo a
multifuncionalidade da palavra onde.
Para ilustrar a divergência apresentada entre a norma padrão propagada pelas gramáticas normativas e a
realização do falante, indo ao encontro da literatura que busca descrever o fenômeno, apresentamos dois
enunciados recolhidos do banco de dados do Projeto ALIP Amostra Linguística do Interior Paulista
(Gonçalves, s.d):
(4) “Inf.: [no começo]... no/ não no/ fo/ durante um tempo eu gostava depois as mágoa foram tantas... [Doc.:
que acabô(u)?] que se suportava num gostava mais... nos últimos cinco anos foi terrível [Doc.: foi difícil]...
terríveis... terrível os:: últimos dois anos
onde
eu passei a desconfiá(r) que ele tinha... caso com uma
colega de trabalho(AC-101; L. 58-61)
(5) Doc.: ou vergonha dos colegas também ? Inf.: também::... mas eu acho que daí acho que professor
também... ele pode contorná(r) isso porque o professor SAbe dando a matéria
onde
que o aluno vai tê(r)
dúvida... lógico que nem todo alunos... vão tê(r) a mesma dúvida mas:: ele pode dá(r) ênfase numa coisa...
num determinado assunto né? (AC-81; L.239-243)
Em (4) o pronome relativo onde é usado na construção para uma referência ao sintagma os últimos dois
anos, ou seja, a referência por ele efetuada é temporal, e não estritamente espacial. Em (5) o pronome adquire
ainda um valor diferente: ele retoma uma situação que não pode ser classificada como tempo ou espaço: não se
trata de um lugar ou período específico, mas a ideia de que o professor sabe em que tópico o aluno terá sua
dúvida.
O estudo de Braga e Manfili (2004) exemplifica o processo que afeta esse item, servindo-nos de
referência básica sobre o fenômeno. A partir de um corpus constituído de amostras escritas de jornais de grande
circulação no Rio de Janeiro e amostras de fala provenientes do acervo do PEUL - Projeto de Estudos do Uso
da Língua, as autoras buscam os empregos do pronome relativo onde em referências a entidades não-locativas.
As variantes - a construção com o pronome onde e a construção com o sintagma preposicionado (SPrep) - são
analisadas em função de categorias cognitivas a que fazem referência e da posição sintática que ocupam na
sentença. A análise de dados leva as autoras à seguinte conclusão:
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a dispersão de usos de onde, no que diz respeito às categorias não-espaciais, aliada à não
realização da preposição subcategorizadora do Sprep encabeçador de orações relativas,
pode estar favorecendo a generalização dos contextos sintáticos nos quais onde pode
ocorrer, numa mútua interdependência entre semântica, pragmática e sintaxe. (BRAGA,
MANFILI, 2004, p. 241).
Embora haja um conjunto relevante, ainda que modesto, de estudos sobre os usos “desviantes” do
pronome onde, vemos que grande parte deles focalizou produções escritas. Estudos sobre dados de fala
abordaram poucas variedades, como a soteropolitana, a belorizontina e a carioca. Não se tem notícia de
pesquisas sobre o tema que tenham investigado dados de fala paulista. Para avaliar a pertinência e extensão do
processo de generalização de onde, hipotetizado por Braga e Manfili, faz-se necessário também investigar uma
amplitude maior de variedades e explorar o fenômeno na modalidade falada.
Partindo desse cenário, o presente estudo tem por objetivo mapear e caracterizar os usos que o pronome
relativo onde tem assumido na fala paulista
. Buscamos responder as seguintes questões de pesquisa: (i) é
possível identificar usos não locativos de onde em produções orais de paulistas?; (ii) se onde também remete a
categorias não espaciais nos dados paulistas, que fatores (linguísticos e/ou extralinguísticos) se correlacionam a
tais usos?; (iii) em que medida os chamados usos “desviantes” de onde se inserem em um processo de
gramaticalização? Em suma, visamos contribuir para estabelecer qual é a norma do uso (práxis), em contraponto
ao uso da norma (prescrição) para o fenômeno em estudo.
2 Fundamentação teórica
Nosso estudo se funda em uma visão funcionalista da linguagem, da língua em uso. Dentro desse campo
mais amplo, nos interessa particularmente verificar como se a associação de “operações e conceitos cognitivos
e comunicativos com expressões perceptíveis(LEHMANN, 2011, p. 2) e, sobretudo, em que medida formas
linguísticas entram ou não em competição para expressar tais conteúdos. Lehmann (2002) lembra que essas
relações podem ser avaliadas segundo duas perspectivas: onomasiológica ou semasiológica. No primeiro caso, parte-
se do conceito (ou função) e se busca descrever como ele é expresso na língua em estudo; no segundo, o ponto
de partida é uma forma (uma palavra, uma expressão, uma construção), cujos sentidos (funções) serão mapeados.
O presente estudo se alinha à segunda perspectiva, assumindo como uma de suas hipóteses que os vários
sentidos expressos por onde compõem um caminho de gramaticalização no português.
Entendemos aqui gramaticalização como processo que, de modo amplo, descreve o percurso de alterações
que sofre um item linguístico no sentido de se tornar mais gramatical. Esse caminho pode levar um item lexical
a adquirir propriedades gramaticais ou um item que integra categorias gramaticais a se tornar-se mais
gramatical (GONÇALVES, LIMA-HERNANDES, CASSEB-GALVÃO, 2007). É o segundo caso que pode se
aplicar ao estudo de onde: seu estatuto como pronome relativo indicativo de lugar está atestado na fase arcaica
O estudo investiga uma amostra de fala do interior paulista, representativa da variedade em uso na microrregião de São José do Rio
Preto (noroeste do estado) (Projeto ALIP, Gonçalves, s.d).
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do português, ainda que guardando o sentido de proveniência (‘de onde’) herdado do latim (MATTOS e SILVA,
1993, p. 112); assim os empregos não locativos desse item são entendidos como desenvolvimentos que se dão
dentro do componente gramatical da língua. Cabe, ainda, destacar que esta investigação aborda os usos de onde
em uma perspectiva sincrônica: descrevendo dados de uma amostra de fala representativa de uma variedade do
português paulista, objetivamos identificar “(...) os graus de gramaticalidade que uma forma linguística
desenvolve a partir dos deslizamentos funcionais a ela conferidos pelos padrões fluidos de uso da língua, sob
um enfoque discursivo-pragmático” (GONÇALVES; LIMA-HERNANDES; CASSEB-GALVÃO, 2007,
p.16).
Um dos principais mecanismos atuantes em tais deslizamentos funcionais é aquele da metáfora (HEINE
et al, 1991; HOPPER, TRAUGOTT, 1993; LEHMANN, 2002). Ainda que variem em alguns aspectos, as
definições de metáfora presentes na literatura convergem quanto à ideia de que se trata de “compreender e
experienciar um certo tipo de coisa em termos de outro e [quanto à] direcionalidade de transferência de um
significado básico, geralmente concreto, para um mais abstrato” (HOPPER, TRAUGOTT, 1993, p.77). Esse
processo de abstração (HEINE et al, 1991) se configura na forma de continua ou clines de categorias cognitivo-
semânticas. Um cline geral é aquele de espaço > tempo > texto (TRAUGOTT, HEINE, 1991). O estudo de
Braga e Manfili (2004), aqui mencionado, que trata especificamente do emprego de onde em amostras do
português carioca, explora um conjunto mais detalhado de categorias: lugar, atividade, tempo, objeto,
situação/estado, noção, instituição e produção discursiva (BRAGA, MANFILI, 2004, p.238). Essas
propostas nos orientaram na análise dos dados de onde da variedade do português paulista em estudo, de modo
a caracterizar seus usos.
Paralelamente ao percurso semântico e discursivo-pragmático, o item percorre um caminho sintático,
marcado por uma mudança categorial. Se continua funcionando como pronome (mantendo sua natureza
anafórica) nos usos prototípicos locativos, caminha no sentido de se tornar um “mero” conector, quando
contribui para ligar porções do texto segundo relações como causa, conformidade, explicação. Tarallo (1983,
1985) e Camacho (2017) propõem esse percurso para as construções de relativização com que no PB. Esse último
autor afirma que o “pronome relativo passa a exercer a função de marcador de relativização, ou conjunção. Em
outros termos: um operador gramatical, com a perda dessa possibilidade de recuperar traços do antecedente”
(CAMACHO, 2017, p. 153). Assumimos como hipótese que o mesmo está se dando com onde.
Não menos importante no conjunto de fundamentos que sustentam o trabalho é o aporte da Teoria da
Variação e Mudança Linguísticas (TVM) (WEINREICH, LABOV, HERZOG, 1968; LABOV,1972,1994,
2001,2003). Tomamos esse modelo em seus princípios gerais, (i) quanto à concepção de língua (como sistema
de expressão e comunicação empregado por uma determinada comunidade de fala em que “desvios do sistema
homogêneo o são erros ou extravagâncias a serem atribuídas ao desempenho (ou performance), mas estão
codificadas e são parte de uma descrição realista da competência da comunidade de fala” (WEINREICH et al.,
1968, p.121), e (ii) quanto à naturalidade dos fatos de variação linguística (resultado inevitável da interação
linguística e condição para que a língua seja funcional no contexto em que é utilizada (WEINREICH et al.,
[1968], 2006)). Também adotamos o instrumental metodológico da TVM: o objeto deste estudo não constitui
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um fenômeno variável, no sentido estrito definido dentro dessa abordagem, mas nos valemos da metodologia
da TVM como recurso heurístico, que nos permite caracterizar os contextos de uso de onde nos dados paulistas.
Voltaremos a esse aspecto na seção dedicada à Metodologia.
O estudo se pauta, assim, pela articulação entre as abordagens da gramaticalização e da Sociolinguística
variacionista. Poplack (2011) explicita seus aspectos convergentes e ilustra sua tese com um estudo variacionista
de gramaticalização: a trajetória da expressão de futuro no Português Brasileiro. Segundo a autora, são
fundamentos de ambas as teorias “a primazia do uso da língua, a ubiquidade da variabilidade e a gradualidade
da mudança” (POPLACK, 2011, p. 210)
e , para ambas, “a premissa central é a de que o objeto fundamental
do estudo é a língua em uso, ao contrário de alguma idealização de como a língua deveria ser usada.” (POPLACK,
2011, p. 210)
§
. Gorski e Tavares (2013) identificam o conceito de gramaticalização como um dos pontos de contato
entre o Funcionalismo Linguístico e a Sociolinguística Variacionista. As autoras discutem os pressupostos
teórico-metodológicos dos dois modelos, em suas convergências e divergências, para demonstrar a pertinência
de uma orientação de pesquisa construída na sua interface o Sociofuncionalismo. A proposta deste estudo se
vincula, em boa medida, a essa abordagem.
Por fim, considerando a avaliação que pesa sobre usos não locativos de onde, como destacamos na
Introdução deste estudo, torna-se essencial levarmos em conta o conceito de norma(s) linguística(s). Refere-se
a “(...) fato tradicional, comum e constante” (COSERIU, 1980, p.122). Esse sentido de norma normal, objetiva
se contrapõe àquele que a concebe como sistema de valores normativa, prescritiva (REY, 2001; ALÉONG,
2001; LAGARES, BAGNO, 2011, entre outros). Esse embate está no centro de nossa discussão. Como expõe
Aléong (2001),
A observação do comportamento linguístico estabelece a existência de uma distância maior ou
menor entre o sistema socialmente dominante das prescrições linguísticas e a realidade dos
desempenhos diários. Isso significa que, de um lado, um conjunto de julgamento de valores
amplamente difundidos uma ideologia linguística preconiza o emprego de certas formas
com a exclusão de outras em nome da correção linguística, ao passo que, de outro lado, as
realizações concretas se apresentem sob o aspecto de uma notável diversidade de formas.
(ALÉONG, 2001, p. 145)
Alinhados com esse pensamento, Faraco (2004, 2008) e Faraco e Zilles (2017) discutem o conceito de
norma linguística e seus desdobramentos, com um olhar particular para a realidade linguística brasileira. No
cenário de normas que caracteriza esse contexto, para o presente estudo cabe destacar dois conceitos a norma
culta e a norma padrão.
Norma culta “designa tecnicamente o conjunto das características linguísticas do grupo de falantes que
se consideram cultos”. É, então, a “norma normal” de um grupo social “tipicamente urbano com elevado nível
de escolaridade e que faz amplo uso dos bens da cultura escrita” (FARACO, ZILLES, 2017, p.19). Tal norma
Tradução nossa: “The primacy of language use, the ubiquity of variability, and the gradualness of change” (POPLACK, 2011, p. 210)
§
Tradução nossa: “The central assumption is that the fundamental object of study is language use, as opposed to some idealization of
how language should be used” (POPLACK, 2011, p. 210)
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apresenta legitimidade histórica por se referir a grupos que operam maior poder social e compreende “fatos de
língua” que podem ser descritos como um uso adequado “em situações formais de fala e na escrita” (FARACO,
2004, p. 39). Diferindo da norma culta, norma padrão “designa a “norma normativa”, isto é, o conjunto de
preceitos estipulados no esforço homogeneizador do uso em determinados contextos” (FARACO, ZILLES,
2017, p.19). Trata-se, então de “um modelo idealizado”, “um construto que busca controlar o fluxo espontâneo
do funcionamento social da língua” (FARACO, ZILLES, 2017, p.19) Sobre o processo que gerou (e gera) a
norma padrão, Faraco (2004) afirma que:
A cultura escrita, associada ao poder social, desencadeou também, ao longo da história, um
processo fortemente unificador (que vai alcançar basicamente as atividades verbais escritas),
que visou e visa uma relativa estabilidade linguística, buscando neutralizar a variação e controlar
a mudança. Ao resultado desse processo, a esta norma estabilizada, costumamos dar o nome
de norma-padrão ou língua-padrão. (FARACO, 2004, p. 40 [grifos do autor])
Ao analisar dados reais de uso da língua, em contextos de entrevista sociolinguística, objetivamos
identificar uma “norma normal”, a norma culta, no que se refere ao emprego de onde, em contraponto ao que
prescreve a “norma normativa” – a dita norma padrão.
Após expor brevemente a fundamentação teórica do estudo, nos dedicamos a apresentar o seu modus
operandi, ou seja, explicitar as decisões e procedimentos metodológicos adotados.
3 Metodologia
Como referido, assumimos a metodologia da Teoria da Variação e Mudança Linguística como recurso
heurístico para nos levar à caracterização dos contextos de uso dos vários sentidos expressos pelas construções
com onde
**
. O corpus de análise é composto a partir das amostras de fala do banco de dados IBORUNA do
projeto ALIP (Gonçalves, s.d), que reúne um total de 152 entrevistas sociolinguísticas, estratificadas segundo a
faixa etária, a escolaridade, o sexo/gênero e a renda do entrevistado. Além dessas características, o projeto ALIP
tem uma particularidade que consideramos ser de relevância para nossa análise: as entrevistas foram estruturadas
em cinco modalidades textuais (Narrativa de Experiência, Narrativa Recontada, Descrição de Espaço, Relato de
Procedimento, Relato de Opinião).
Levando em conta duas de nossas questões de pesquisa se ocorrem usos não locativos de onde e, em
caso afirmativo, como se caracterizam os contextos de tais usos os dados coletados foram inicialmente
caracterizados segundo a categoria semântica a que onde remete na oração, estabelecendo uma distinção
binária: (i) onde que expressa “valor locativo” e (ii) onde que expressa “valor não locativo”. Posteriormente,
foi feito um refinamento da categoria “não locativo”, permitindo assim verificar em que medida as distinções e
**
O presente estudo se insere em uma proposta mais ampla de investigação das construções com o pronome onde, que incluirá em
etapas posteriores a análise de outras formas e construções alternativas para a expressão das funções desempenhadas por esse pronome,
contemplando situações de variação strictu sensu.
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os continua propostos na literatura se manifestam na amostra analisada, na busca de respostas para nossa terceira
questão o quanto os usos ‘desviantes’ de onde integram um processo de gramaticalização.
Um segundo aspecto de natureza linguística analisado diz respeito à natureza da oração em que onde
ocorre. Foram identificados três tipos de oração na amostra investigada: oração adjetiva/relativa com
núcleo/antecedente (relativa com núcleo) (6 a-b), oração adjetiva/relativa sem antecedente (relativa livre) (7
a-b) e oração não adjetiva/não relativa (8 a-b).
(6a) “do lado direito fica o corredor e dá acesso à sala
onde
eu trabalho...” (AC-085; DE: L. 179-180).
(6b) “no Nordeste por exemplo nós temos... ainda o coronelismo...
onde
aqueles... VElhos
coronéis ainda imperam a política...” (AC-113; NO: L. 210-211)
(7a) “mais um pouquinho o carro... capotava mas ela ficô (u)… super MAL assim ficô(u) meio ton-ta… ela num
sabia muito bem
onde
ela tava... sabe? por causa do CHOque… (AC-012; NR: L. 99-101)
(7b) NÃo me casei mas eu tenho um namorado vô(u) casá(r) porque nunca é tarde pra sê(r) feliz... e é o que eu
tenho que comentá(r) pessoal da minha vida é isso que... às vezes...
onde
você a barre(i)ra se você
soubé(r) enfrentá(r) em frente aí que você vê... o lado bom da coisa... (AC-142; NE: L. 13-16)
(8a) ali ele vai ferven(d)o ele vai cozinhan(d)o tal tal aí quando eu vejo que tá quase pronto assim que eu vejo que
a água ta quase secan(d)o... eu desligo o fogo coloco a tampa de(i)xo que ali ele cozinha sozinho... é
onde
[ele fica bom] Doc: [ah]... sério? Inf: é onde ele fica bom e aonde ele num fica papa tam(b)ém e/ ele
num fica DUro ele fica assim BOM sabe? ele não fica duro nem papa (AC-074; RP: L. 328-333)
(8b) “às vez a mãe bebe demais o pai bebe demais e vai querê(r) í(r) falá(r) po filho – “num pode” ?...
tipo uma que ele vai falá(r) “por que que você pode e eu não posso?” – aí vai começá(r) a fazê(r)
escondido... e é
onde
o mundo tá do jeito que TÁ...” (AC-024; RO: L. 418-420)
Dessa forma, assumimos que “os principais tipos de sentenças relativas são formalmente estabelecidos
de acordo com a presença ou ausência de um nome, chamado de núcleo, externo a eles. Na presença do nome
[...] a sentença relativa aparece adjacente a ele e é chamada de relativa com núcleo” (BRAGA, KATO, MIOTO,
2015, p. 188). Quando não um núcleo ou antecedente expresso, temos o que se convencionou chamar de
“relativa livre (ou sem cabeça)”. Assim como no caso da “relativa com núcleo”, a “relativa livre” é um
constituinte da oração matriz, nela desempenhando funções diversas (MATEUS et al, 2003). Em (7a) atua como
adjunto adverbial de lugar; em (7b) a oração pode ser analisada como uma completiva. Uma característica
distintiva das “relativas livres” é que elas não têm um constituinte relativizado, e, assim, “o constituinte-Q deve
estar apenas para a sentença encaixada” (BRAGA, KATO, MIOTO, 2015, p.194).
Já as não relativas com onde são orações que estabelecem conexões com a oração ou orações
precedentes, em construções que se aproximam das hipotáticas pela expressão de relações lógico-semânticas
como tempo, causa, consequência (NEVES, BRAGA, 2016). É o que vemos em (8a) e (8b).
O terceiro grupo de fatores analisado não se caracteriza como um aspecto estrutural, em sentido estrito,
que é do nível do texto: contempla as cinco modalidades textuais segundo as quais estão organizadas as
entrevistas do projeto ALIP. Partimos da hipótese que pode haver correlação entre essa tipologia e a presença
menor ou maior do tipo de onde (locativo/ não locativo).
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Os grupos de fatores extralinguísticos, que definirão o perfil do falante que utiliza o pronome relativo
onde em referência a diferentes categorias semânticas, incluem: (i) sexo/gênero; (ii) escolaridade; (iii) idade.
Os dados foram coletados com o auxílio do programa AntConc (Tang, 2011) e a quantificação de dados
foi efetuada por meio da linguagem de programação R (CORE TEAM, 2018).
4 Análise dos dados o lugar de
onde
‘não locativo’
O levantamento de dados no corpus resultou um total de 649 orações com o pronome onde, das quais
em 574 (88,5 %) onde remete a uma leitura locativa strictu sensu e em 74 (11,5 %) se associa a uma categoria
semântica não espacial. Considerando, então, nossa primeira questão de pesquisa, a resposta dos dados paulistas
analisados é positiva: é possível identificar usos não locativos na fala do interior de São Paulo. Essa distribuição
não corresponde, naturalmente, a uma situação de variação propriamente dita, que estamos tratando de
sentidos diferentes para as construções. Elas não “dizem a mesma coisa”. Mas o tratamento variacionista nos
permite caracterizar os diferentes usos, traçar um perfil de quem e em que contexto um ou outro ocorre. É essa
caracterização que estamos buscando, como um caminho para investigar uma possível ampliação dos usos não
normativos de onde.
Quando avaliamos as possíveis correlações entre os usos, fatores linguísticos e o perfil dos falantes ,
valendo-nos de uma análise univariada, verificamos que três grupos de fatores podem contribuir para a
caracterização das construções: o próprio tipo de construção (com ou sem antecedente, relativa ou não), o
tipo de texto em que o dado foi produzido e a faixa etária do falante
††
. Nas tabelas 1 e 2 temos os índices de
emprego de onde “não locativo” para o primeiro e o segundo desses grupos de fatores.
Tabela 1 Frequência e proporção de uso de onde “não locativo” segundo o tipo de construção
Tipo de construção
% de uso “não locativo”
N de “não locativo”
Total
Com antecedente
6%
20
355
Sem antecedente
11%%
30
269
Não relativa
100%
24
24
Total
11,5%
74
648
Tabela 2 Frequência e proporção de uso de onde “não locativo” segundo o tipo textual
Tipo textual
% de uso “não locativo”
N de “não locativo”
Total
Descrição de espaço
2%
6
320
Narrativa recontada
7%
5
74
Narrativa de experiência
18%
21
117
Relato de procedimento
25%
17
67
Relato de opinião
36%
25
70
Total
11,5%
74
648
††
Os demais grupos de fatores considerados apresentaram os seguintes índices de uso do onde “não locativo”: Sexo fem (13%;
42/315), masc (10%; 32/333); Escolaridade - primeiro fundamental (7%; 6/89); segundo fundamental (10%; 14/147); ensino médio
(17%; 31/182); ensino superior (10%; 23/230). A análise estatística não apontou correlações significativas entre esses grupos de fatores
e os usos de onde.
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A distribuição dos usos de onde “não locativo” nos revela que ele está associado a construções não
relativas e que é encontrado sobretudo em relatos de opinião, relatos de procedimento e narrativa de
experiência, nessa ordem. A representação na Figura 1, gerada a partir de um cálculo de regressão logística,
mostra como esses grupos de fatores estão hierarquizados: uma escala de subdivisões das categorias de análise
em função das interações que mantêm umas com as outras. Na base da hierarquia (na ponta dos galhos da
árvore”) temos o resultado da combinação dos fatores, representando a proporção de usos locativos e não
locativos em cada caso por meio das barras verticais.
Figura 1 “Árvore de inferência condicional” (c-tree) referente
aos usos locativos e não locativos do onde nos dados do ALIP
‡‡
Fonte: própria
Vemos que o tipo de construção estabelece a primeira grande distinção quanto aos dois usos, indicando que
o contexto das não relativas abriga sempre onde “não locativo” (nó 7). Para os casos de relativas (com ou
sem antecedente), a distribuição dos usos de onde depende do tipo textual: relatos de opinião e de
procedimento concentram proporcionalmente mais casos de onde “não locativo”, quer haja ou não
antecedente (nó 3). Já entre os dados que ocorrem na descrição de espaço, e nas narrativas recontadas e de
‡‡
O método de regressão que gera árvores de inferência condicional (LEVSHINA, 2015) opera um cálculo que resulta em uma
‘classificação’ dos grupos de fatores e fatores envolvidos na análise de um fenômeno, segundo uma partição binária recursiva. Segundo
Levshina (2015, p. 291) “o algoritmo testa se quaisquer variáveis independentes estão associadas com a variável dependente (resposta)
e escolhe a variável que tem a associação mais forte com a [variável] resposta”. A partir disso “o algoritmo opera uma divisão binária
nessa variável, dividindo o conjunto de dados em dois subconjuntos”. O processo se repete “até que não haja variáveis associadas ao
resultado no nível pré-definido de significância estatística”. O resultado é projetado na forma de uma árvore como a que vemos na
figura 1. Não estamos tratando de um fenômeno variável, mas julgamos que o emprego desse recurso de análise contribui para o
mapeamento dos usos de onde.
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experiência, mostra-se relevante considerar a presença ou ausência de antecedente (nós 5 e 6), ainda que a
frequência de casos de onde “não locativo” seja bastante baixa em ambos os contextos
§§
.
Consideramos que o predomínio da referência espacial nesses três últimos tipos de texto se deve à
temática, no caso da descrição, e ao fato de o espaço ser um componente essencial da narrativa. Os exemplos
(6a) e (7a) ilustram essa associação. Quanto às correlações de onde ‘não locativo com relatos de opinião e de
procedimento, a interpretação passa por um refinamento da categoria “não locativo”, que abriga noções como
lugar abstrato, tempo, situação/estado, instituição, atividade, noção, produção discursiva (COELHO,
2001; BRAGA, MANFILLI, 2004; SILVA, 2008; LIMA, COROA,2013). Embora o número de ocorrências de
onde “não locativo” não seja grande, é significativo que tenhamos encontrado na amostra dados para todas
essas categorias semântico-cognitivas; isso vem corroborar o caráter multifuncional do item e apoiar a hipótese
de seu caminho de gramaticalização.
Se, por um lado, a avaliação plena da hipótese de gramaticalização demandaria um estudo diacrônico,
que não é nosso foco aqui, por outro, o leque de noções expressas e a natureza das construções identificadas
são suficientes para afirmar que onde cumpre um espaço bem mais amplo na construção do texto do que
usualmente lhe é atribuído na tradição gramatical. Algumas correlações mais específicas merecem comentário.
Os casos de onde “locativo” ocorrem de forma quase equitativa com (58%) ou sem (42%) antecedente; quando
observamos os casos de lugar abstrato” ((7b), aqui reproduzido novamente), porém, 89% deles aparecem sem
antecedente. Já os casos que podem ser classificados como de produção discursiva ocorrem em construções em
que o onde estabelece uma conexão lógico-semântica entre a oração e sua precedente (não funciona como
relativa), como temos em (7b) e (9):
(7b) NÃo me casei mas eu tenho um namorado vô(u) casá(r) porque nunca é tarde pra sê(r) feliz... e é o que eu
tenho que comentá(r) pessoal da minha vida é isso que... às vezes...
onde
você a barre(i)ra se você
soubé(r) enfrentá(r) em frente aí que você vê... o lado bom da coisa... (AC-142; NE: L. 13-16)
(9) a reação dela me bateu... ela gritava... ela ficô(u) transtornada não aceitava de forma alguma às vezes... se eu
tivesse morrido ela preferia do que passá(r) por isso... e...
onde
que esse filho veio sê(r) a alegria da vida
dela depois mas uhm... (latido de cachorro ao fundo) na hora da notícia foi a... um problema pra ela... mas isso
com medo de contá(r) para meu pai que meu pai era muito severo (AC-142; NE:L. 42-47)
Podemos, então, pensar em uma gradação, que corrobora resultados de estudos anteriores (LIMA,
COROA, 2013; LIMA, 2007; SOUZA, 2003): (i) o uso semântico prototípico (locativo concreto) se associa com
o papel anafórico do onde, mais visível nas construções com antecedente, mas ainda identificado em
construções sem antecedente, (ii) esse papel anafórico/pronominal também é identificado na expressão de
categorias semânticas relativamente mais abstratas (lugar abstrato, atividade, noção, p.ex), em construções com
ou sem antecedente, ainda que as segundas sejam mais frequentes, (iii) onde assume um papel de conector entre
§§
Ainda que não seja perceptível na figura (por limitações técnicas), há uma pequena proporção de casos de onde “não locativo” em
construções “com antecedente” nos textos “descrição”, “narrativa de experiência” e “narrativa recontada” (nó 5): 4 casos em 299
(1,3%).
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orações, expressando nexos lógico-semânticos em relações hipotáticas. Particularmente no que se refere a (iii),
o que se observa é que onde atua na tessitura de estratégias argumentativas. Os exemplos em (9) e (10) ilustram
esse papel.
(10) e o ciano bem próximo de um azul bem claro... então conforme você mistura essas cores... é
onde
sai a...
tonalidade que você qué(r)... (AC-053; RP: L. 312-313)
O exemplo (11) representa um arranjo frequente nos usos não locativos de onde. Vemos nele descritas
duas situações ordenadas temporalmente e numa relação de causa/condição-consequência: situação 1 “você
mistura essas cores”; situação 2 “sai a tonalidade que você quer”. Onde remete a esse momento/condição em
que a situação 2 ocorre. A presença do verbo ser realça, como um focalizador, esse momento. Do ponto de
vista das categorias semânticas expressas pelo item, temos uma certa ambiguidade, ou a combinação de valores,
que parece servir bem ao efeito de encadeamento discursivo buscado.
Para além dos aspectos linguísticos, destacou-se na análise uma correlação tão interessante quanto
intrigante entre os usos de onde e a faixa etária dos falantes. O controle desse aspecto é relevante, na medida
em que pode trazer subsídios para a avaliação da hipótese de gramaticalização. A Figura 2 apresenta o resultado
desse grupo de fatores.
Figura 2 Usos locativos e não locativos do onde nos dados do ALIP segundo a faixa etária do falante
***
Fonte própria
***
Os índices de frequência e de proporção de uso do onde “não locativo” para cada um dos fatores são os seguintes: 55 anos ou +
: 20% (24/121); 36-55 anos: 11% (17/159); 26-35 anos: 5% (10/192); 16-25 anos: 21% (20/96); 7-15 anos: 4% (3/80).
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O que se vê é que a hipótese clássica relacionada à idade não se verifica: não há um gradual aumento do
uso de onde “não locativo” à medida que analisamos a fala de pessoas mais jovens, o que poderia ser esperado
em um cenário de expansão desses usos. Dois grupos etários apresentam índices significativamente mais altos
de uso não locativo de onde: os falantes entre 16 e 25 anos e aqueles com mais de 55 anos. Em contraponto,
os falantes mais jovens da amostra (de 7 a 15 anos), aqueles das faixas entre 26 a 35 anos e entre 36 e 55 anos
têm uma proporção bastante baixa de emprego de onde “não locativo”. Como interpretar essas correlações?
Parece necessário considerar possíveis motivações específicas a cada grupo etário e também as interações com
outros grupos de fatores. Lançamos algumas hipóteses explicativas que são apresentadas como possíveis
caminhos de investigação, pela impossibilidade de aprofundá-las no contexto deste estudo.
Uma possível linha de interpretação tem a ver com o tipo de construção em que encontramos,
predominantemente, onde “não locativo”: 53 (73%) dos 73 dados de onde “não locativo” ocorreram em
relativas sem antecedente ou em construções não relativas. Entendemos que o processamento da relação
estabelecida pelo onde nesses casos seria cognitivamente mais complexo do que nos casos em que o pronome
tem um antecedente explícito e próximo. Se ainda considerarmos os tipos de situação de produção textual mais
comuns entre os mais jovens e nos primeiros níveis de escolaridade (inclusive em termos de temática), não
teríamos nesse segmento com tanta frequência as condições de produção favoráveis ao emprego dessas
construções.
É interessante observar que o índice mais alto de onde “não locativo” ocorre entre os falantes entre 16
e 25 anos que se encontram diretamente mais afetados pelo ambiente escolar (ou estão cursando ou recém
concluíram algum dos níveis). Os dados desse grupo provêm majoritariamente de falantes com Ensino
Fundamental II, Ensino Médio e Ensino Superior. O contato com uma demanda de produção textual que
envolve temáticas mais abstratas poderia ser um motivador para o emprego das construções em estudo.
No caso dos grupos de 26 a 35 anos e de 36 a 55 anos, nossa hipótese é de que os índices pouco
expressivos de emprego de construções com onde “não locativo” podem estar associados ao seu valor não
normativo. Essas faixas etárias concentram a maior parte dos anos de inserção no mercado de trabalho.
Pressionados a fazer uso de estratégias de mais prestígio, mais adequadas do ponto de vista da norma padrão,
os falantes evitariam o emprego de onde “não locativo”, adotando para a expressão dessas categorias
semânticas outros arranjos sintáticos. O papel do mercado sobre o emprego de formas linguísticas
(BOURDIEU,1977) foi destacado em um conjunto de estudos sociolinguísticos (SANKOFF, KEMP,
CEDERGREN, 1980; OLIVEIRA e SILVA, PAIVA, 1996; BRANDÃO,2017), ainda que seja, a nosso ver,
uma correlação que pede um aperfeiçoamento de métodos para sua efetiva avaliação.
Estamos cientes de que, para verificar a validade dessas reflexões, seria necessário um aprofundamento
tanto dos aspectos cognitivos da produção das construções em foco, como da avaliação que recebem as
construções consideradas não prototípicas pela tradição gramatical. Esses empreendimentos passam pela análise
do tratamento dado às construções sintáticas complexas em currículos escolares e pela elaboração e aplicação
de instrumentos para medir a percepção e avaliação de falantes em relação a tais construções. Todos ultrapassam
o escopo do presente trabalho.
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5 Considerações finais
Ao encerrarmos essa análise, voltamos a nossos questionamentos iniciais. Primeiramente, nos
perguntamos até que ponto os dados paulistas ‘desafiam’ a tradição gramatical sobre o emprego de onde? Vimos
que os dados, assim como a análise, confirmam a presença de usos não locativos de onde na fala paulista e os
associam a certos contextos ligados à natureza da oração e à natureza do texto em que ele é empregado. É assim
que encontramos onde não locativo preferencialmente em (i) orações não relativas e (ii) em relatos de
procedimento e em relatos de opinião. Em orações relativas propriamente ditas, encontramos uma pequena
proporção de uso de onde não locativo em construções sem antecedente.
Na medida em que identificamos padrões de uso, a ideia de que estamos diante de usos ‘desviantes’ da
norma se questionada. Se ainda é necessário explorar o processo por meio de refinamento de categorias, as
constatações a que chegamos são suficientes para reforçar, a partir da descrição de um corpus paulista, as
observações já disponíveis na literatura sobre a multifuncionalidade de onde.
Esses resultados, bem sabemos, se contrapõem a uma postura arraigada de prescrição gramatical, que
incide particularmente sobre a produção escrita, mas também transborda para os usos falados. Vale lembrar a
definição que Aléong (2001) nos dá de norma explícita:
A norma explícita compreende esse conjunto de formas linguísticas que são objeto de uma
tradição de elaboração, de codificação e de prescrição. Ela se constitui segundo processos sócio
históricos [...] Codificada e consagrada num aparato de referência, essa norma é socialmente
dominante no sentido de se impor como o ideal a respeitar nas circunstâncias que pedem um
uso refletido ou monitorado da língua, isto é, nos usos oficiais, na imprensa escrita e audiovisual,
no sistema de ensino e na administração pública. (ALÉONG, 2001, p. 153)
O respeito a essa norma “codificada e consagrada”, a imposição desse ideal linguístico projeta um estigma
sobre formas legítimas resultantes de processos de variação e de mudança na língua viva das comunidades. A
escola é instituição normatizadora por excelência, espaço legitimador da norma explícita. É notório que existe
uma prática de controle e rejeição da variação em textos, principalmente escritos, produzidos por alunos em
ambiente escolar. Tal prática contribui sobremaneira para que a norma explícita (ou norma padrão) se distancie
cada vez mais da norma culta (o padrão real). Como nos diz Faraco (2004):
outro fator que contribui para distanciar as duas normas e reforçar o conservadorismo do
padrão é o controle consciente de fenômenos linguísticos que se faz com mais facilidade na
atividade escrita (por ser ela muito mais propícia ao controle reflexivo do que na fala).
(FARACO, 2004, p. 49).
Esse quadro não é diferente no que se refere aos usos não normativos de onde (ZILLES, KERSCH,
2015). Vemos que grande parte dos estudos desenvolvidos até o momento sobre onde focalizaram textos
produzidos em ambiente escolar ou a ele relacionados. Não é incomum encontrar a interpretação de que tais
usos resultam de um fracasso no ensino da norma legitimada.
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Preferimos adotar uma outra perspectiva, que consideramos necessária e urgente: a perspectiva da
dinâmica linguística. Recorrendo mais uma vez a Faraco (2004): “o movimento é inexorável, e fenômenos
frequentes na fala culta acabam por inevitavelmente se estabelecer na escrita” (FARACO, 2004, p.49). Tomando
esse ponto de vista, então, o que significam tais usos, senão o resultado da inesgotável plasticidade da linguagem,
que se transforma continuamente na voz de seus usuários, gerando novas formas, construções, arranjos,
significados? Aceito pelo grupo, o novo feito norma integra o sistema.
Uma segunda questão proposta, a partir de Braga e Manfili (2004), é avaliar em que medida os usos do
pronome relativo onde em contextos não locativos estariam em um processo de expansão. Essa é a ideia
defendida pelas autoras, como mencionamos na Introdução. Nosso estudo apontou para a ocorrência de usos
não locativos do pronome na fala paulista, mas a constatação da ocorrência seria indício de processo de
expansão? Entendemos que nossos dados, por si só, não nos permitem chegar a essa conclusão.
O fato de se identificar uma natureza multifuncional nos usos de onde, em contraste com o que vem
prescrito na tradição gramatical, pode sugerir esse movimento: se essa tradição retrata de algum modo o que a
língua foi e resiste a registrar o que a língua é, o distanciamento indicaria que houve mudança. Mas é preciso
considerar que o estabelecimento da norma gramatical (do padrão) se constrói a partir de uma seleção de uma
norma (entre tantas) (Haugen, 2001). Como então afirmar que os usos não locativos de onde hoje observados
fazem parte de um processo recente na língua? Como garantir que tais usos, presentes em períodos anteriores
da história da língua, simplesmente não foram contemplados na codificação do modelo de referência da língua?
Apenas o estudo histórico do fenômeno vai poder verificar se estamos de fato diante de uma ampliação
desses usos. O trabalho de Bonfim (1993), referida por Zilles e Kersch (2015), oferece uma perspectiva nesse
sentido. Nele se investiga a variação de ‘u’ e ‘onde’ no português arcaico, processo que resulta no
desaparecimento de ‘u’ e na incorporação de seu valor por ‘onde’. A discussão é especialmente interessante para
a análise da multifuncionalidade de onde. A situação de variação provém de um cenário que inclui um conjunto
mais amplo de formas para a expressão do valor locativo: as formas latinas ubi (‘lugar onde’), unde (‘lugar de
procedência’), quo (‘lugar para onde’) e quā (‘lugar por onde’). Zilles e Kersch (2015) argumentam que, por
expressar o sentido de proveniência, unde/onde também foram empregados com sentido de causa” no
português antigo (ZILLES, KERSCH, 2015, p.166). Bonfim constatou no século XIII o emprego de onde
que chama de ‘discursivo’ (que “estabelece uma ligação intra ou extrafrástica entre segmentos do texto, por
necessidade argumentativa” (Bonfim, 1993, p.99; apud Zilles e Kersch, 2015, p.167). O estudo de Kersch (1996)
confirma o uso de onde como articulador de orações para além da estrutura relativa desde o português arcaico.
Assim, está bem estabelecida a ideia de que a multifuncionalidade de onde lhe é constitutiva desde que
se consolidou como pronome relativo, no período arcaico. Como nos dizem Zilles e Kersch (2015), “usos
diferenciados desse relativo, com valores distintos do prescrito pela norma curta, podem ser encontrados já em
Camões, que é citado, quando convém, como exemplo de referência para um português ‘puro’” (ZILLES,
KERSCH, 2015, p.172). São as mesmas autoras que chamam a atenção para a necessidade de um estudo
histórico, em tempo real ou aparente, para que se possa, de fato, afirmar se os usos não prescritos estão ou não
em processo de expansão, esforço ainda a empreender para descobrir e trilhar os caminhos de onde.
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A. (Org.). Pedagogia da Variação Linguística: língua, diversidade e ensino. São Paulo: Parábola Editorial, 2015, p.
145-187.
“WHERE HAVE YOU BEEN?” –
ON PRESCRIPTION AND USE OF
“ONDE” AT PAULISTA SPEECH
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Abstract:
We analyze the uses, as grammatically prescribed or not, of onde in a variety of the paulista
speech. We also discuss if the "deviant" uses are embedded in a process of grammaticalization.
Our theoretical-methodological basis includes grammaticalization theories (HEINE et al., 1991;
HOPPER, TRAUGOT, 1993; LEHMANN, 2001,2011), Variationist Sociolinguistics
(WEINREICH, LABOV, HERZOG, 1968, LABOV, 1972, 1982, 1994, 2001 , 2010),
complemented by the concept of norm(s) (COSERIU, 1980, REY, 2001, ALÉONG, 2001,
FARACO, 2004, FARACO, ZILLES, 2017). Data from the IBORUNA database of the ALIP
project (Gonçalves, sd) were analyzed according to groups of extralinguistic factors (sex / gender,
age, schooling) and of linguistic factors (textual type and type of construction), and quantified by
means of programming language R (CORE TEAM, 2018).
Keywords: onde. Grammaticalization. Linguistic Norm. Paulista Portuguese
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