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Como citar este artigo:
BRANDÃO, S. M. Variável faixa etária índice de pressão social e/ou mudança em curso?.
Revista Diálogos, v. 7, n. 1, 2018
Agradecimentos:
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001
A autora:
Doutoranda em Linguística e Língua Portuguesa pela UNESP/Araraquara. É bolsistas CAPES
e Membro do Núcleo de Pesquisa em Sociolinguística de Araraquara.
VARIÁVEL FAIXA ETÁRIA ÍNDICE
DE PRESSÃO SOCIAL E/OU
MUDANÇA EM CURSO?
Silvia Maria Brandão
(UNESP/SoLAr/CAPES)
silviafclar@gmail.com
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Resumo: Entre as variáveis sociais largamente estudadas pelos sociolinguistas está faixa etária,
que inclui, em sua complexidade, a possibilidade de caracterização de uma variação estável e/ou
uma mudança em curso incipiente ou mesmo completa de determinado fenômeno. Em uma
análise de tempo aparente (LABOV, 1994), em que avaliamos a alternância de formas verbais
em orações condicionais do Português Paulista (BRANDÃO, 2015, 2018), faixa etária mostrou-
se uma variável significativa tanto nas consideradas potenciais (p = 0.01) quanto nas irreais (p
= 0.01) (GIVÓN, 1995). Contudo, seu efeito se deu de forma distinta em cada um dos dois
contextos de condicionais, algo que pode ser explicado pelo status das variantes em cada
contexto. Nas potenciais, não encontramos uso de futuro sintético (“comprará”); já nas irreais,
seu uso (“compraria”). A hipótese é a de que estamos diante de estágios distintos de um
processo de mudança linguística.
Palavras-chave: Faixa etária. Mudança em tempo aparente. Condicionais.
x
.
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1 Introdução
A busca por padrões de uso linguístico sempre foi uma constante dentro (e não somente) dos estudos
variacionistas (LABOV, 2008[1972]), consolidando a heterogeneidade ordenada como premissa básica para
aqueles que buscam descrever o fato linguístico. Além disso, partindo do pressuposto de que língua e sociedade
são realidades indissociáveis, é sabido que estudar um determinado fenômeno linguístico exigirá não somente
um olhar atento para as estruturas internas do fenômeno, mas também uma preocupação com as estruturas
sociais que o permeiam.
Sabemos que as discussões sobre os papéis que categorias macrossociais desempenham sobre a escolha
do falante pela variante de determinada variável remontam a Labov (2008[1972], 1994, 2001), que postula, para
a observação de fenômenos variáveis e, mais precisamente, para a compreensão de processos de mudança
linguística, dois tipos de análise: (i) a análise em tempo real (via diacronia) e (ii) a análise em tempo aparente (via
sincronia) (LABOV, 2008[1972]).
As pesquisas do tipo (ii), sobre as quais nos deteremos neste texto, refletem distintos estágios de
desenvolvimento de um fenômeno na língua a depender da geração da qual cada informante faz parte. É também
possível identificarmos, ao invés de uma mudança em progresso via gradação etária, uma variação estável, em
que falantes de determinadas idades optam pelo uso de uma variante que é característica do grupo e do contexto
do qual fazem parte. Nessa linha, o uso de formas de maior prestígio surge como um capital linguístico
(BOURDIEU; BOLTANSKI, 1975), pois essas “precisam” estar inseridas dentro da competência de um falante,
dadas as exigências de determinados contextos, grupos ou até mesmo de determinados estágios pelos quais
passamos na vida, como o período em que nos encontramos em atividade no mercado de trabalho.
Pensar nos estágios da vida ao longo da cronologia pressupõe o trabalho com a idade ou com a faixa
etária dos falantes. É isso que nos propomos fazer. No interior do espectro estrutura linguística, trabalharemos
com o fenômeno da alternância verbal em estruturas condicionais potenciais, em orações como “Se eu
tiver/tenho dinheiro, compro/vou comprar
*
uma ilha”; e irreais, em orações do tipo “Se eu tivesse dinheiro,
compraria/comprava/ia comprar uma ilha”. Em trabalho anterior (BRANDÃO, 2015, 2018), as variáveis
utilizadas para a compreensão do fenômeno foram âncora temporal (CÂMARA Jr., 1956), definitude do sujeito
prótase-apódose, grau de hipoteticidade, saliência fônica (POPLACK; LEALEIS; DION, 2013), ambiente
sintático, identidade lexical, tipologia textual, faixa etária, escolaridade e sexo do informante. Porém, o foco deste
texto recai sobre uma variável social em específico, pois privilegiaremos a descrição e a interpretação da variável
faixa etária, visto que, entre as sociais avaliadas (escolaridade, idade e sexo), foi a que se mostrou mais
significativa (p = 0.01).
Vale, de antemão, ressaltar que, ainda que estejamos partindo da noção de alternância verbal
,
reconhecemos a existência de um grande envelope de variação, cujas variantes são as diferentes combinações
*
A primeira observação a fazermos refere-se ao fato de não encontrarmos formas sintéticas de futuro do presente no interior das
condicionais potenciais (comprarei).
O termo alternância não será usado como sinônimo de variação, porque, embora toda variação pressuponha duas ou mais formas
alternantes, nem sempre uma alternância constitui um caso de variação (pois uma forma pode significar X e a outra Y), de modo que,
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modo-temporais que ocorrem no universo das condicionais. À medida que a análise avançava, fomos lapidando
esse envelope, pois, não raro, havia nuances semânticas em muitas das combinações quando comparadas umas
às outras. A diferenciação e a inserção das orações nos três contextos distintos de condicionais (reais, irreais e
potenciais), largamente avaliados na literatura (NEVES, 1999, 2000; GRYNER, 2008, 1990), mostraram-se,
assim, o primeiro passo para operacionalizarmos a análise. Partimos do pressuposto de que, dentro de um
conjunto de condicionais em que formas verbais se alternam, há formas em variação que podem ser delimitadas
por meio de paráfrases (GRYNER, 2008, 1990; NEVES, 1999) a fim de se testar se o pressuposto se mantém
inalterado (STALNAKER, 1978; 2002).
Além disso, vale lembrar que, sendo este um estudo variacionista, testes estatísticos são feitos a fim de
que se compreenda a variação, quando reconhecida. Há, desse modo, uma quantidade mínima de dados para a
análise quantitativa 30 dados (GUY, 1980), o que justificará o foco da nossa análise sobre as variantes aqui
apresentadas. Por detrás dessa convenção numérica, há uma teoria: não basta que uma forma seja gramatical; é
preciso que ela seja também viável, apropriada e, de fato, realizada, ou seja, empregada pelo falante (HYMES,
1972), sendo os 30 dados o limite estipulado por Guy (1980) e por aqui considerado para incluirmos a variante
na análise estatística e no rol de empregabilidade, proposto por Hymes (1972).
Este artigo se divide do seguinte modo: em 2.1, falaremos sobre o papel da faixa etária nos estudos
sociolinguísticos. Na subseção 2.2, faremos uma breve retomada de estudos sobre condicionais e em 2.3
falaremos sobre o estudo da alternância verbal no interior desse tipo de arranjo. Posteriormente a isso, traremos
os procedimentos metodológicos empregados (seção 3). Em seguida, seguiremos para a análise dos dados (seção
4). Nossas considerações finais (seção 5) culminam na discussão que está subjacente ao título deste texto: a
variável faixa etária, no interior do estudo da alternância verbal em orações condicionais, nos mostra índices de
pressão social e/ou mudança em curso?
2 Fundamentação teórica
2.1 O estudo da faixa etária em estudos sociolinguísticos breves considerações
Ao observar se determinado fenômeno em variação constitui uma mudança linguística em processo,
visto que esta pressupõe um estágio anterior daquela, a pesquisa sociolinguística pode estudar o fenômeno em
duas perspectivas: (i) perspectiva diacrônica análise em tempo real; (ii) perspectiva sincrônica análise em
tempo aparente (LABOV, 1972). No que se refere à análise em tempo aparente, essa compara o comportamento
de falantes segundo, entre outras variáveis, a faixa etária à qual pertencem. Com um estudo sincrônico que leve
em conta a idade dos informantes, percebemos uma mudança em curso
ou um caso de variação em que formas
quando usarmos o termo variação ao longo do texto, estaremos assumindo o fenômeno como variável (LABOV, 1972;
LAVANDERA, 1984).
Embora um estudo em tempo aparente possa sugerir uma mudança em curso, apenas um estudo em tempo real (de longa ou curta
duração) pode efetivamente chegar a essa conclusão.
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são utilizadas diferentemente de acordo com a idade, porque é característico de tais faixas etárias que isso ocorra,
em qualquer geração.
Quando se trata da atuação de fatores sociais sobre fenômenos em variação, sabe-se a priori que estamos
lidando com variáveis não totalmente independentes. A avaliação de como interagem aspectos como classe
social, idade, sexo/gênero, escolaridade se torna parte essencial da análise. Oliveira e Silva e Paiva (1996, p. 371)
defendem que: “a variável mercado ocupacional (...) é, juntamente com o nível de escolarização, um dos
componentes do mercado linguístico”. Ao retomarem trabalhos já realizados em torno das variedades de maior
ou menor prestígio e suas correlações com a idade, escolaridade, e outros aspectos sociais, as autoras nos
mostram que uma correlação direta entre as formas prestigiadas e o mercado linguístico: o emprego das
formas padrões é mais frequente entre aqueles falantes com idade de maior inserção no mercado de trabalho. O
efeito desse fator mostra-se especialmente significativo entre os falantes “acima de 45 anos” (OLIVEIRA E
SILVA; PAIVA 1996, p.372). Segundo Oliveira e Silva e Paiva (1996, p. 350), “o estudo da correlação entre
idade e variação linguística aponta para duas direções básicas: a relação de estabilidade entre variantes linguísticas
um fenômeno varia, mas não muda ou a existência de mudanças na língua”. É por isso que a comparação
da produção linguística de pessoas de diferentes idades deve revelar muito acerca do nosso fenômeno linguístico
(CHAMBERS, 2003).
2.2 O universo de estudo as orações condicionais
Chamamos de oração condicional, condicionante, antecedente ou prótase a oração de cujo conteúdo
proposicional depende semanticamente o conteúdo proposicional da outra oração: a condicionada, a
consequente ou a apódose, também denominada pela tradição gramatical por ‘principal’ (MATEUS et al., 2003).
Para Ilari e Basso (2008, p. 313), “a função do período hipotético é indicar que a verdade de um certo conteúdo
proposicional é garantia de verdade do outro, ou, equivalentemente, que nós estamos condicionando a verdade
de um conteúdo à verdade de outro”. Há, portanto, nesse universo hipotético onde se inserem as condicionais,
a chance de fazermos remissão para “um mundo possível, criado linguisticamente pelo enunciado,
epistemicamente não acessível no intervalo de tempo da enunciação” (MATEUS et al, 2003, p. 707), estando a
realização do conteúdo proposicional da oração consequente (apódose) dependendo da antecedente, da garantia
de verdade do conteúdo desta.
Vem, por conseguinte, merecendo destaque, nos estudos sobre as condicionais, os diferentes graus de
hipoteticidade manifestados por cada construção, ou seja, a “possibilidade de realização do conteúdo da
apódose, dada a realização ou verdade da condição expressa na prótase” (NEVES, 1999, p. 497-498). Nem
sempre há consenso sobre os critérios para se classificar o grau de certeza epistêmica de um enunciado, pois ora
a hipoteticidade é assumida como ligada à asserção do falante em relação ao enunciado (GIVÓN, 1995;
AKATSUKA, 1986; DANCYNGIER, 2004) e ora como intervalo de tempo entre as duas orações (a
subordinada e a principal) (COMRIE, 1986; NEVES, 1999; 2000, GRYNER, 1990, 2008). No primeiro caso,
quanto mais forte é a asserção do falante em um enunciado, menos hipotético e, portanto, mais real seria. Assim,
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o falante comunicaria uma verdade na prótase e uma consequência dessa verdade da apódose. Uma oração
menos assertiva seria mais hipotética, dada a baixa possibilidade de a condição se concretizar. Isso se daria via
comunicação de uma falsidade segura comunicada na prótase (irreais); as com asserção mediana seriam aquelas
cuja prótase repousa sobre a eventualidade, de maneira que o enunciado da apódose seria somente aceito como
certo desde que, eventualmente, satisfeita a condição da prótase (potenciais). Nas irreais, Neves (1999) nos
apresenta o seguinte exemplo:
(1) A imagem que eu fazia era a seguinte se o Japão fosse uma Birmânia, por exemplo que é um dos países atrasados, as
economias industriais que ganharam a Segunda Guerra não teriam ajudado o Japão, quer dizer de outra maneira, se o Japão
fosse a Birmânia né?
§
Segundo Neves (1999, p. 524), primeiro enuncia-se como o-existente um estado de coisas: o Japão
não é uma Birmânia (prótase); “a partir daí, enuncia-se como consequentemente não-existente outro estado
de coisas que dele dependia: as economias industriais que ganharam a Segunda Guerra ajudaram o Japão”
(grifos da autora). Ou seja, vemos a negação da negação: “não teriam ajudado” implica que, de fato, ajudaram.
Por conseguinte, nas irreais, verifica-se, no intervalo de tempo, a falsidade do consequente. Tanto na
apódose quanto na prótase das orações ditas potenciais (ou eventuais nos termos de Neves (1999)) e irreais (ou
contrafactuais (NEVES, 1999)), uma noção de forte consequência na apódose; nas reais (ou factuais
(NEVES, 1999)), a noção mais saliente é a de conclusão e, portanto, de concomitância. As potenciais, contudo,
guardam a eventualidade dos eventos, enquanto as irreais demonstram a falsidade.
No exemplo utilizado por Neves (1999), uma perífrase de mais-que-perfeito do indicativo (teriam
ajudado), que mostra um aspecto concluso. Porém, outros tempos verbais na apódose também devem mostrar
a falsidade do enunciado. Isso porque, como explicam Tapazdi e Salvi (1998, n.p.), os períodos hipotéticos, em
especial os contrafactuais, não são controlados rigidamente e somente por concordâncias de modos e tempos
verbais, mas sim por um “efeito semântico complexo que deriva da interação da morfossintaxe com o conteúdo
proposicional da prótase e da apódose e com o contexto linguístico e extralinguístico”.
(2) Se a Paula fosse russa, não teria que aprender russo.
(3) Se vocês lessem os jornais, saberiam o que se está a passar.
**
Tanto em (2) como em (3), a falsidade da apódose é assegurada, não pela concordância entre os verbos
necessariamente, mas pelos pressupostos extralinguísticos recuperados. Fica claro, portanto, que Paula não é
russa e que as pessoas não leem os jornais, de modo que Paula tem que aprender russo e que as pessoas não
sabem o que está se passando.
§
Exemplo extraído de Neves, 1999, p. 524.
**
Exemplos extraídos de Tapazdi e Salvi (1998, n.p.).
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2.3 O objeto de estudo a alternância verbal
Neves (1999), apoiando-se em Renzi (1991), assume valores para as formas verbais: o uso do indicativo
na prótase assinala a possível verdade dos conteúdos, enquanto o uso do subjuntivo assinala a possível falsidade.
Em orações como “Eu acho que se sair antes das seis horas da manhã sai melhor”, o uso de “sair” na prótase
assinala a potencialidade do enunciado. Porém, sendo essas as potenciais consideradas as hipotéticas
prototípicas, porque nelas é que está a dúvida (NEVES, 1999), perguntamo-nos se não seria a modalização
expressa especialmente pelo verbo “achar” que confere dúvida ao enunciado. Mantendo a mesma estrutura, mas
alterando a forma verbal de subjuntivo para indicativo, o caráter eventual se manteria (leia-se: “Eu acho que se
sai antes das seis horas da manhã sai melhor”.
Por conseguinte, vemos que a “questão da motivação semântica subjacente à escolha do modo verbal
fundamenta a discussão sobre o emprego do subjuntivo na tradição gramatical, e é retomada (e muitas vezes
mantida) em estudos descritivos” (BERLINCK, 2017). Assumir que diferentes formas verbais são empregadas
em um mesmo contexto para imprimir distintos significados seria não reconhecer que um processo de
variação motivando os usos. Poplack et al. (2013) referem-se a esse discurso de que cada forma possui uma
função em níveis mais altos de análise como uma “doutrina de simetria forma-função” (doctrine of form-function
symmetry), doutrina essa que necessita ser ultrapassada
††
.
Obviamente, não podemos excluir a possibilidade de haver distintos valores semânticos atrelados a uma
ou outra forma verbal, pelo menos em certos contextos. Todavia, essa tem sido a interpretação exclusiva dada
à alternância verbal em condicionais quando reconhecida especialmente pela tradição, de modo que a variação
dificilmente é mencionada nesses casos. É o que está por trás do que Rocha Lima (1998) diz: reconhecendo “se”
como a conjunção condicional prototípica, este enfatiza que o período hipotético inserido por ela requer o verbo
no subjuntivo (seja pretérito imperfeito, mais-que-perfeito ou futuro), mas que “é lícito trazê-lo no indicativo,
quando denota fato real, ou admitido como real” (LIMA, 1998, p. 263).
Destacamos que o discurso da motivação semântica subjacente às escolhas das formas verbais não se
refere exclusivamente ao contexto da prótase, e nem focaliza apenas a alternância entre modos. Encontramos o
mesmo discurso sobre formas na apódose (o imperfeito do indicativo pelo futuro do pretérito, por exemplo):
Não considerando a influência da norma culta que em certos casos recomenda o uso do futuro
do pretérito, pode-se dizer que a escolha do falante, ao organizar seu discurso, será controlada
pelo seguinte: se ele o fato como certo, mas afastado da realidade usará o pretérito imperfeito
do indicativo; mas se ele vir o fato como apenas hipotético, provável, possível (portanto outra
modalidade) usará o futuro do pretérito. (TRAVAGLIA, 1987, p. 71)
Por outro lado, estudos descritivos que comprovaram a possibilidade de formas verbais estarem
em variação no Português Brasileiro (doravante PB) (DOMINGOS, 2004; CALLOU; ALMEIDA, 2009;
PIMPÃO, 1999, BERLINCK, 2017, entre outros). Um exemplo pode ser visto em Pimpão (1999), que avaliou
††
Conferir também a polêmica Labov-Lavandera (CAMACHO, 2010).
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formas verbais do presente do subjuntivo com o presente do indicativo no PB. Segundo a autora, para que haja
variação, é preciso haver neutralização do significado subjetivo do falante. O grau de incerteza veiculado pela
construção analisada, segundo Pimpão (1999), pode ser identificado mediante diferentes recursos linguísticos
(como os verbos “esperar”, “querer” ou expressões linguísticas como “até que”, “pode até” etc.). Como veremos
no exemplo a seguir, retirado de Pimpão (1999, p. 15), a materialização de uma forma do presente do
indicativo, usada como forma variante do subjuntivo.
(4) E porque a gente ja falou, ne? se for mulher eu escolho, se for homem ele escolhe. Espero que ele escolhe um nome
bonito, né? pra depois o filho não reclamar quando crescer. (FLP 06, L1635)
É visível que a tradição gramatical define contextos em que verbos como “esperar” e “querer” são
considerados os regentes prototípicos do subjuntivo. O uso desse modo representaria, então, um certo efeito
de concordância semântica entre os verbos da principal e da encaixada, algo que muito se assemelha ao processo
de concordância de número no PB. Isto é, a ausência de marca de concordância redundante (no determinante e
no determinado Ex.: “os menino”) não implica em perda de noção de plural. Processo análogo pode estar
acontecendo no interior das condicionais: o uso, por exemplo, do subjuntivo nas condicionais, em certa medida,
representaria uma redundância de marcação de “dúvida”
‡‡
.
3 Metodologia
A partir de uma abordagem variacionista, o estudo empírico do fenômeno toma como instrumento de
análise a metodologia da Sociolinguística Laboviana (LABOV, 2008[1972]; MILROY; GORDON, 2003;
TAGLIAMONTE; 2006). Analisamos as formas verbais presentes em condicionais encabeçadas pela conjunção
condicional prototípica do PB “se” e que se encontram no Iboruna banco de dados de registro oral do
projeto Amostra Linguística do Interior Paulista (ALIP) (GONÇALVES, s.d). Nossa coleta foi feita no interior
da Amostra Censo, a qual foi construída segundo rigorosos critérios sociolinguísticos, reunindo 152 entrevistas
sociolinguísticas que atendem aos seguintes critérios: 5 grupos etários (7-15 anos; 16-25 anos; 26-35 anos; 36-55
anos e mais de 55); 4 níveis de escolaridade (Ensino Fundamental I, Ensino Fundamental II, Ensino Médio,
Ensino Superior); sexo/gênero (feminino, masculino) e renda (até 5 saláriosnimos (SM), de 6 a 10 SM, de 11
a 24 SM e mais de 25 SM).
Para chegarmos ao envelope “final” de variação, observamos os tipos de condicionais (real, irreal ou
potencial) com base no teste via paráfrase de substituição da conjunção “se” por outras (que para as reais, se
por acaso ou sempre que para as potenciais e irreais) (NEVES, 1999; GRYNER, 2008), operando com a noção de
pressuposição (STALNAKER, 1978, 2002). O pressuposto, segundo Stalnaker (2002), refere-se a um fundo
comum, ou seja, às ferramentas utilizadas pelos locutores para resgatar os referentes comuns entre os
interlocutores. Para Grice (1982), o fundo comum pelo qual as pessoas falam uma com as outras é, naturalmente,
‡‡
Câmara Jr. (1979) classificou o subjuntivo como mais uma “servidão gramatical” de que dispõe o PB.
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variado e complexo. Contudo, é possível assumir que há algumas atividades comuns na prática conversacional,
em que pessoas dizem “coisas” para que outras pessoas saibam “coisas” que o sabiam antes e adquiram certas
informações específicas.
Em níveis práticos, uma construção como “Se José tem dinheiro, por que ele não compra uma ilha?”
tem um pressuposto distinto de “Se José tem dinheiro, ele compra uma ilha”. Embora estejam
descontextualizadas, o que inferimos, a priori, é que, na primeira, o pressuposto é de que José tem dinheiro. Tal
construção poderia ser parafraseada por “[já que] José tem dinheiro, por que ele não compra uma ilha?”. na
segunda, o pressuposto é diferente: embora, para essa construção, a descontextualização prejudique ainda mais
a interpretação, a possibilidade de haver dois pressupostos. O primeiro é de que José não tem dinheiro no
momento em que essa construção foi hipoteticamente produzida; tal arranjo poderia ser parafraseado por “[se
por acaso] José tem dinheiro, ele compra uma ilha”. O segundo pressuposto é de que sempre que José tem
dinheiro, ele compra uma ilha, dada a noção genérica e iterativa que ao presente do indicativo se associa, nesse
caso. Contudo, esse segundo pressuposto não parece ser facilmente aceitável fora do contexto, sem sabermos
quem é José, o que faz e onde vive, pois, socialmente, e imaginando-se a realidade brasileira, não se imagina que
pessoas comprem ilhas a todo momento. Trocar o complemento ilha por balas na venda parece fazer com que
esse segundo pressuposto seja facilmente aceito: “Se José tem dinheiro, ele compra balas na venda” / “[sempre
que] José tem dinheiro, ele compra balas na venda”.
Percebemos, portanto, que a noção de pressuposto (STALNAKER, 1978, 2002) é extremamente
importante para captarmos as nuances de cada arranjo condicional. Tais construções, embora
descontextualizadas, corroboram o fato de que não apenas a combinação modo-temporal seja responsável por
valores tradicionalmente associados a elas, mas todo o conjunto do arranjo produzido pelo falante. Um arranjo
‘presente-indicativo’/’presente-indicativo’ é prototípico de uma condicional real, mas, considerando os demais
elementos presentes na sentença (até mesmo a escolha lexical, pelo que ela implica em termos de conhecimento
de mundo), em termos de composicionalidade, é possível que ela seja potencial. A seguir, ilustraremos com
exemplos e com paráfrases o que consideramos como oração potencial, real e irreal:
[REAIS]
(5) Inf.: e eu pra te falá(r) a verdade... se você aqui você num à toa... tá... se eu hoje tô falan(d)o de Jesus pra você...
é porque você tá ten(d)o a oportunidade... de conheCÊ(r) o nome do Senhor porque eu já ouvi falá(r) pra mim...
PARÁFRASE: [JÁ QUE] você aqui você num à toa...
[POTENCIAIS]
(6) Inf.: Se num fizê(r) um negócio muito bem feito… vai ficá(r) pior ainda. (AC-119, L.46)
PARÁFRASE: Se [POR ACASO] num fizê(r) um negócio muito bem feito… vai ficá(r) pior ainda.
[IRREAIS]
(7) Inf.: Ex.: Inf.: lógico... se fosse comigo tam(b)ém eu:: já entrava em pânico... (AC-054; NR: L.116-117)
PARÁFRASE: se [POR ACASO] fosse comigo tam(b)ém eu:: já entrava em pânico...
O primeiro fato para o qual chamamos a atenção é: tanto para as irreais quanto para as potenciais, a
paráfrase utilizada para diferenciar essas das reais é a mesma (por acaso); a diferença entre potenciais e irreais
reside na falsidade assegurada nas segundas, como já mencionado. Nas primeiras, o fato fica em suspensão, ou
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seja, na eventualidade, tal qual propõe Neves (1999). nas segundas, a falsidade na prótase e na apódose se
comprova (“se fosse comigo”, mas “não foi comigo”, como se vê em 7).
Os tipos de condicionais constituem universos distintos um dos outros, portanto é preciso encará-los
como contextos distintos de variação para que possamos observar quais combinações se encontram dentro de
cada um (nas irreais e potenciais). Obviamente, não se espera que apenas essa subdivisão seja suficiente para
dizer que determinada combinação modo-temporal esteja em variação com outra, seja dentro do universo real,
potencial ou irreal. Contudo, outras nuances semânticas nas combinações avaliadas estatisticamente são
encaradas como correlacionadas ao fenômeno, ou seja, avaliadas como variáveis independentes
§§
.
Como o objetivo deste texto é apresentar, essencialmente, os resultados a que chegamos quanto à faixa
etária dos falantes, visto que foi a variável social mais significativa nos testes estatísticos realizados, as etapas
pelas quais passamos para chegar aos dados variáveis ou às análises multivariadas ficam para outro momento
***
.
Cabe, contudo, salientar que tanto nas potenciais quanto nas irreais, contextos categóricos para o uso de uma
ou outra combinação, bem como contextos variáveis. São esses segundos que nos interessam e que são levados
em conta nas análises que se seguem, com especial enfoque para a já mencionada faixa etária.
Acerca das combinações modo-temporais que compõem nosso envelope de variação, apoiamo-nos na
noção de Competência Comunicativa (HYMES, 1972) e adotamos um método empírico, pois avaliamos as
combinações de fato mais empregadas. Sendo o componente gramatical um dos aspectos da competência, é
preciso, de acordo com Hymes (1972), transcender o limite estrutura-forma, integrando a teoria linguística a
uma teoria de comunicação e cultura. Isso posto, uma forma, além de (i) formalmente possível (gramatical), deve
ser também (ii) viável (adequada em contextos estruturais), (iii) apropriada (adequada em contextos sociais) e,
de fato, (iv) realizada (usual). Todos os quatro aspectos são dependentes entre si, de modo que uma forma pode
ser gramatical, viável, apropriada, mas não necessariamente utilizada por um falante. Diferentemente, se uma
forma é empregada amiúde, essa é também apropriada, viável e possível. Ou seja, os atributos são cumulativos
e estão dispostos numa escala implicacional: uma forma somente é viável se for possível, apropriada se for viável
e empregada se for apropriada. Nosso universo de estudo se definirá pelo subconjunto de “formas empregadas”,
que contém todos os demais atributos.
Por fim, embora falemos dos três contextos de variação, trabalharemos, com o auxílio da linguagem de
programação R (CORE TEAM, 2017), neste texto, apenas com as potenciais e irreais. Isso porque o total de
combinações nas reais mostra-se insuficiente para a análise estatística que nos propusemos aqui apresentar.
4 Análise dos dados
4.1 Visão geral dos resultados
§§
Para Paiva e Scherre (1999, p. 210), quando se trabalha além da descrição, outros tipos de significados, e mesmo nuances de
significado referencial, podem ser tomados como variáveis independentes.
***
Uma análise detalhada pode ser vista em Brandão (2018).
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Primeiramente, embora não estejamos lidando com um fenômeno propriamente estigmatizado, há formas
consideradas mais prestigiadas, geralmente associadas a discursos mais elaborados, como o emprego do
subjuntivo pelo indicativo, por exemplo, ou o futuro sintético pelo analítico. Assim, aos primeiros se atribui
maior status (LEÃO, 1961; GRYNER, 1990, 2008).
Por conseguinte, de um universo com 914 orações condicionais extraídas do ALIP, com 27 combinações
modo-temporais, após análises preliminares, chegamos a 160 dados de irreais e 509 de potenciais. Com isso,
falaremos acerca da variação das combinações modo-temporais no interior de cada um dos dois contextos
separadamente, com ênfase nos resultados obtidos com a variável faixa etária.
4.2 Variação no interior das condicionais irreais
Após análises preliminares, chegamos a um total de 3 combinações em 160 dados variáveis de condicionais
irreais, quais sejam:
Quadro 1 - Variável dependente nas condicionais irreais
Combinação
Exemplo
Frequência/Proporção
IMPERFEITO DO
SUBJUNTIVO +
IMPERFEITO DO
INDICATIVO
a turma tá pagan(d)o uma coisa que ele GOSta de vê(r)... se ele num
gostasse ele num fosse/ ele num num ia no campo num tinha
num tinha esses al/ alto salário que ta/ tá ten(d)o... então é::... tem
que aproveitá(r) agora (AC-131; L. 256-260)
63 39%
IMPERFEITO DO
SUBJUNTIVO +
IA+INFINITIVO
você acha que esse cara esse MÁximo de dezoito anos VAI
FICÁ(R) com a menina?... entendeu? num VAI ficá(r) num VA::I
porque...um cara de dezoito anos num qué(r) assumí(r) nada com
menininha... nem com ninguém entendeu? Porque se ele quisesse
assumí(r) alguma coisa ele num ia procurá(r) uma criança… (AC-
22; L.289-294)
45 28%
IMPERFEITO DO
SUBJUNTIVO +
FUTURO DO PRETÉRITO
DO INDICATIVO
e falei “eu num iria... se eu tivesse {com medo}”. (AC-63; L.
408)
52 33%
Fonte: Própria
A combinação mais utilizada pelos informantes foi imperfeito do subjuntivo + imperfeito do indicativo.
Ainda que haja um discurso de que o uso de uma forma por outra em contexto de condicionais irreais teria
motivações semânticas, como vimos nas palavras de Travaglia (1987), também nas palavras dele, vemos que a
tradição recomenda o uso do futuro do pretérito nas apódoses. É, portanto, inegável que ao futuro do pretérito
se atribua maior status que ao imperfeito do indicativo nesses contextos.
Não há, no quadro 1, outro modo verbal na prótase que não o subjuntivo, porém encontramos
construções com indicativo na prótase, tal como se vê: Inf.: então é uma área muito sacrificada... é uma área que
aliás nem nem todos gostam dessa área... a gente trabalha nisso porque a gente precisa me(s)mo... porque se a
gente num precisava a gente num trabalhava não. (AC-68; L.206-208). Essas, contudo, ficaram de lado pelo foco
deste texto e pela insuficiência de dados.
Página | 156
Dentre as variáveis correlacionadas ao fenômeno ordem das orações (Se p, q; q se p), ancoragem
temporal (CÂMARA Jr., 1956), saliência fônica das formas verbais (POPLACK; LEALEIS; DION, 2013), tipo
textual, faixa etária, sexo e escolaridade , as que se mostraram mais significativas foram ancoragem temporal,
ordem das orações, escolaridade e faixa etária
†††
. Como mencionado desde o início, trabalharemos, neste artigo,
com o fenômeno em conjunção principalmente com idade. Vemos que as condicionais, como um todo,
ocorreram em menor escala na fala de informantes que tinham entre 7 e 15 anos e em maior escala quando os
informantes tinham entre 36 e 55 anos. Na tabela 1, é possível conferir a frequência exata com que cada forma
verbal apareceu no corpus e sua proporção de uso dentro de cada faixa etária.
Tabela 1 - Frequência e proporção das variantes de acordo com a faixa etária dos informantes
Pretérito imperfeito
IA+Infinitivo
Total
7-15 anos
10 - 59%
1 - 6%
17 - 11%
16-25 anos
9 - 23%
18 - 45%
40 - 25%
26-35 anos
17 - 50%
7 - 21%
34 - 21%
36-55 anos
12 - 33%
7 - 20%
36 - 23%
56 anos ou mais
16 - 52%
10 - 32%
31 - 20%
Total
64 - 41%
43 - 27%
158
‡‡‡
- 100%
Significância: p = 0,01
§§§
Fonte: Própria
Observamos que falantes entre 7 e 15 anos, entre 26 e 35 anos e com 56 anos ou mais usaram em maior
escala o imperfeito do indicativo. Falantes com idade entre 16 e 25 anos foram os que mais fizeram uso da
perífrase IA+Infinitivo. Já o futuro apareceu em maior escala na fala de informantes que tinham entre 36 e 55
anos. Tais resultados já vão ao encontro do que se propõe para a noção de mercado linguístico (BOURDIEU;
BOLTANSKI, 1975), principalmente quando olhamos para o uso da variante dita mais prestigiada a de futuro,
algo de que falaremos mais a diante.
A correlação entre uma variável independente e a dependente não é absoluta para o fenômeno em
questão e deve ser considerada em conjunto com outros fatores
****
. Para Freitag (2005, p.106), “por detrás dos
resultados da variável “faixa etária” estão relacionados outros aspectos sociais, tais como rede de relações sociais,
mercado de trabalho e escolarização”. Dados os objetivos deste trabalho, e após correlacionarmos outras
variáveis à faia etária, trazemos a seguir um gráfico com um cruzamento entre idade e escolaridade.
Apresentamos o comportamento da variante considerada mais prestigiada futuro do pretérito.
Gráfico 1 - Emprego das formas de FP segundo a Idade e a Escolaridade
†††
Testes de regressão logística podem ser conferidos com detalhes em Brandão (2018).
‡‡‡
Há dois dados a menos na contabilização da idade dos informantes, porque não encontramos a estratificação da idade desses no ALIP (um dado
era de FP e outro de IA+Infinitivo).
§§§
Esse valor foi gerado a partir de um teste de qui-quadrado no R. Convencionou-se que um número abaixo de 0,05 representa uma
diferença significativa.
****
Para as irreais, a correlação mostrou-se relevante. Contudo, para as potenciais, não.
Página | 157
Fonte: Própria
Alguns padrões revelados na figura merecem destaque: (i) a tendência crescente ao uso de futuro do
pretérito conforme a faixa etária, atingindo seu ápice entre os informantes de 36 a 55 anos, com uma queda
bastante significativa no grupo de 56 ou mais, independentemente do nível de escolaridade do informante e (ii)
o comportamento diferenciado dos informantes com Ciclo de EF
††††
, que o apresentam qualquer uso de
futuro entre 7 e 35 anos. Se conferirmos os números informados pelo IBGE entre os anos de 2003 e 2004
(mesma época da coleta dos dados do ALIP), a ideia de que estruturas linguísticas e sociais estão intimamente
imbricadas se confirma: basta compararmos o movimento dos dois gráficos.
Gráfico 2 - Pessoas Ocupadas em São Paulo entre 2003 e 2004 (por idade), com base no IBGE
Fonte: IBGE [s/d]
Como vimos, há um padrão curvilíneo de uso da forma mais prestigiada, de modo que pessoas que se
enquadram em uma faixa etária intermediária acabam apresentando maiores índices de uso de uma variante mais
prestigiada. Para alcançar o significado social desses padrões, recorremos, então, à noção de mercado linguístico,
que vem de Bourdieu e Boltanski (1975) como mencionado, para quem a ideia de mercado linguístico está
associada à competência linguística do falante que, por sua vez, é avaliada como um capital que possibilita um
††††
Leia-se EF = Ensino Fundamental e EM = Ensino Médio
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sistema de “trocas simbólicas” dentro da sociedade. De acordo com Cruz (1991), a competência dominante
funciona como capital linguístico assegurando um ganho de distinção na sua relação com as outras
competências, na medida em que os grupos que a detêm são capazes de se impor como únicos, os legítimos,
nos mercados linguísticos legítimos (mercado escolar, administrativo, social etc.).
Por conseguinte, trabalhamos com a hipótese de que o grupo etário entre 36 56 anos inclui pessoas que
estão totalmente inseridas no mercado de trabalho e, consequentemente, podem estar sofrendo mais pressões
normativas quanto aos usos linguísticos, optando pelo uso de uma variante mais privilegiada neste caso, o
futuro do pretérito. Esse é um fator que pode ter influenciado também no baixo índice de produção de futuro
na fala de informantes com 56 anos ou mais, tendo em vista que muitos deles podem não mais estar inseridos
no mercado de trabalho e, dessa forma, sofrem menos pressão normativa.
4.3 Variação no interior das condicionais potenciais
No que se refere às potenciais, após a lapidação do envelope, chegamos também a 3 combinações, agora
em 509 dados variáveis. O quadro 2 mostra as combinações, o exemplo e a frequência/proporção de uso no
interior desse universo.
Quadro 2 - Combinações encontradas nas Potenciais
Combinação
Exemplo
Frequência/Proporção
PRESENTE DO
INDICATIVO + PRESENTE
DO INDICATIVO
Inf.: Se eu peço truco e você aceita, você perde (AC-21, L.214)
90 18%
FUTURO DO SUBJUNTIVO
+ FUTURO DO
INDICATIVO
Inf.: Se der uma hemorragia a coisa vai ficar pior ainda (AC-130;
L.101)
120 23%
FUTURO DO SUBJUNTIVO
+ PRESENTE DO
INDICATIVO
Inf.: Se não tiver gente supervisionando o povo não trabalha
mesmo (AC-105; L.506)
299 59%
Fonte: Própria
A primeira questão a destacar é que o encontramos combinações modo-temporais com futuro do
presente sintético (Ex.: comprarei) nas apódoses. Contudo, diferentemente do que vimos nas irreais, encontramos
o presente do indicativo no lugar do subjuntivo na prótase, ainda que essa combinação seja a que menos tenha
aparecido nesse subgrupo (18%). Vale, nesse caso, fazer duas observações. A primeira refere-se ao status social
das variantes nas potenciais presentes: haveria uma combinação de maior prestígio no interior dessas? A segunda
diz respeito ao significado. Indicativo e subjuntivo são modos verbais que coexistem desde o Latim, porém o
uso do primeiro pelo segundo “trazia uma mudança na significação" (CAMARA Jr., 1979, p.134). Assim,
indicativo e subjuntivo se opunham nitidamente no Latim, sendo aquele o modo responsável por fatos certos e
este pela expressão da dúvida, da incerteza. Ou seja, embora houvesse a possibilidade de alternância entre modos,
Página | 159
assegurada pelo sistema linguístico, não estaríamos diante de um caso de variação (LABOV, 1972;
LAVANDERA, 1984).
No entanto, não é o que observamos atualmente. A troca de peço por pedir no exemplo do quadro não
parece alterar o pressuposto a potencialidade da oração se mantém, em detrimento de qualquer chance “real”.
Tanto essa variação é verdade que, no super token (TAGLIMONTE, 2006) a seguir, há o uso tanto do subjuntivo
quanto do indicativo, sem, contudo, que esse intercâmbio afete ou altere o enunciado. Segundo a mensagem do
enunciado, em nenhuma das situações hipotéticas a pessoa estaria “queimada”. Isto é, a mudança de uma forma
verbal por outra não afeta o grau de certeza epistêmica do enunciado.
(8) Inf.: assim pega a bola normal e taca se a pessoa pegá(r) ((ruído)) agarrá(r) e segurá(r) sem caí(r) no chão... ela num tá
queimada... se ela:: pega a bola es-CApa e a o(u)tra pega... e assim salva a bola pega não deixa pingá(r) no chão... NUM
TÁ queimada do mesmo jeito... (AC-102; L.500-503)
No que se refere às variáveis correlacionadas às potenciais quais sejam ancoragem temporal, modalidade
da construção, definitude do sujeito, tipo textual, faixa etária, escolaridade e sexo , ancoragem temporal,
definitude do sujeito e faixa etária foram as variáveis mais significativas nas análises multivariadas realizadas. No
que se refere à idade dos informantes, notamos uma discussão distinta da que fizemos com as irreais. A tabela
2 traz os resultados.
Tabela 2 - Distribuição das combinações de acordo com a idade dos informantes
‡‡‡‡
Idade do informante
FS+FI
§§§§
FS+PI
PI+PI
Total
1ª faixa (7 - 15 anos)
8 13%
32 52%
21 35%
61 dados
2ª faixa (16 - 25 anos)
21 23%
56 62%
13 15%
90 dados
3ª faixa (26 - 35 anos)
26 24%
58 54%
24 22%
108 dados
4ª faixa (36 - 55 anos)
43 25%
107 - 62%
23 13%
173 dados
5ª faixa (56 anos ou mais)
22 28%
46 60%
9 12%
77 dados
Significância: p = 0,01
Fonte: Própria
Como se vê, a combinação FS+PI apareceu em maior escala, em comparação com as demais
combinações, em todas as faixas etárias. No que se refere às outras duas combinações, destacamos que falantes
entre 26 e 35 anos usaram de forma semelhante tanto FS+FI quanto PI+PI, mas os que têm entre 16 e 25 anos
e entre 36 e 45 anos utilizaram mais FS+FI que PI+PI. Vemos que FS + FI apareceu pouco entre os falantes
de 7 a 5 anos (11%), enquanto as formas de PI+PI apareceram em 31% dos dados produzidos pelos informantes
da mesma faixa etária. Quando saltamos para a última faixa - 56 anos ou mais -, vemos o inverso acontecendo:
24% desses informantes utilizaram FS + FI, enquanto apenas 10% optaram pela combinação PI+PI.
‡‡‡‡
Não trouxemos os resultados de escolaridade porque essa não foi uma variável selecionada em testes de regressão logística
realizados com as potenciais.
§§§§
Leia-se FS+FI (futuro do subjuntivo + futuro do indicativo perifrástico); FS+PI (futuro do subjuntivo + presente do indicativo);
PI+PI (presente do indicativo + presente do indicativo)
Página | 160
TENDÊNCIA VISTA PELO RESULTADO GERAL:
Informantes com idades entre 7 e 15 anos: FS+PI > PI+PI > FS+FI
Informantes com 56 anos ou mais: FS+PI > FS+FI > PI+PI
Uma interpretação para esses resultados refere-se a um aparente processo de mudança em curso, em que
o presente passa a ser inserido, pouco a pouco, na fala de informantes mais jovens, enquanto os mais velhos
optam por uma forma com futuro, ainda que perifrástico. Diferentemente do que ocorre com as irreais, o
processo de mudança estaria mais avançado. De acordo com Weinreich, Labov e Herzog (2006[1968], p. 124-
125),
Uma vez que a mudança linguística está encaixada na estrutura linguística, ela é gradualmente
generalizada a outros elementos do sistema. [...] Por fim, a completação da mudança e da
passagem da variável para o status de uma constante se fazem acompanhar pela perda de
qualquer significação social que o traço possuía.
Embora apenas um estudo em tempo real comprove, de fato, nossa hipótese, é inegável que o contraste
estabelecido no interior das potenciais é distinto das irreais. Além disso, tanto esse avanço é verdade que já não
encontramos nas potenciais a forma de maior prestígio: o futuro sintético. No que se refere à combinação de
FS+PI, nossa hipótese é a de que essa combinação seria uma forma “menos marcada”, “curinga”, por isso seu
uso se dá em alta escala em todas as faixas etárias.
5 Considerações finais
[...] um sistema em que todos os termos são solidários e [que] o valor de um resulta tão somente da presença simultânea de
outros.” (SAUSSURE, 2006, p. 133)
Somente há contraste entre uma forma de maior prestígio e as demais quando aquela se realiza. Tal fato
se articula com a epígrafe que abre esta seção. A simultaneidade de formas é condição sine qua non para que
possamos estabelecer valor entre elas
*****
: nas irreais, encontramos uma forma de maior prestígio; nas potenciais,
não.
A partir dos resultados obtidos com as irreais e as potenciais, consideramos que a alternância verbal nos
dois contextos se encontra em momentos distintos de um possível processo de mudança. Porém, a direção da
mudança parece ser semelhante nos dois casos, de modo que um esquema de nossa hipótese, a qual, atualmente,
está em teste por um estudo diacrônico, pode ser visto a seguir:
Figura 1 - Projeção de mudança de formas verbais nas condicionais potenciais
*****
Vale lembrar que Saussure não se referia ao valor social das formas, tal como postula a Sociolinguística.
Página | 161
Fonte: Própria
Como visto, não encontramos construções do “tipo” 1 (cf. figura 1) em nossos dados sincrônicos.
Contudo, sabe-se que elas ainda existem na língua, ainda que em contextos muito formais de fala e
principalmente de escrita. A hipótese é a de que, por um período de tempo, ao longo de alguns séculos, a
combinação prototípica para imprimir potencialidade à condicional seria formada a partir de subjuntivo na
prótase e futuro do indicativo sintético na apódose. Com o passar do tempo, no curso gradual e contínuo de
mudança linguística, outras formas surgiram, como as formas de futuro perifrástico e de presente futurizado na
apódose (cf. tipo 2, figura 1). À medida que a nuance semântica de potencialidade vai se estabilizando com outras
formas menos prototípicas em apódoses, como as de presente (“compra”, cf. tipo 3, figura 1), a prótase passa a
ter variação também. Assim, haveria uma preferência da forma “tem” a “tiver” (cf. tipo 4, figura 1) nas prótases.
Nesse caso, a preferência por uma forma de indicativo à de subjuntivo tem se mostrado uma tendência entre as
línguas românicas (POPLACK et al., 2018).
Nas irreais, a discussão é ainda anterior, por isso podemos estabelecer uma relação de seu uso com a alta
cotação de mercado ocupacional sobre os falantes. Nessas, por se encontrarem em um estágio ainda anterior de
mudança, o uso do futuro do pretérito ainda se encontra na fala e, pelo valor social que ao futuro sintético se
associa, o contraste entre esse e as demais formas é distinto. Porém, a projeção de direção de mudança, observada
na figura 2, segue na mesma direção do que se observa nas potenciais.
Figura 2 - Projeção de mudança de formas verbais nas condicionais irreais
Fonte: Própria
Página | 162
Tais generalizações mostram indícios de que há processos paralelos de variação e uma aparente mudança
ocorrendo tanto na apódose quanto na prótase das condicionais potenciais e irreais. No caso das irrealis, na
apódose, teríamos formas sintéticas de futuro concorrendo com formas perifrásticas de mesmo tempo-modo
(“Se José tivesse dinheiro, compraria/iria comprar uma ilha”). Em seguida, perífrases formadas a partir de
IA+Infinitivo (“ir” flexionado no pretérito imperfeito do indicativo “ia”) passam a concorrer com essas formas
verbais também, e, em sequência, com a de imperfeito do indicativo. Também na prótase teríamos formas no
imperfeito do indicativo (“tinha”) e não apenas no imperfeito do subjuntivo (“tivesse”), como se vê na figura 2,
acima, na passagem do tipo 3 para 4.
Gryner (2008), em estudo sobre as condicionais reais e potenciais, afirma que o observou o
comportamento verbal dentro das irreais porque essas se inseririam apenas com o imperfeito do subjuntivo na
prótase, de maneira que não seria possível uma variação propriamente dita, que o uso do subjuntivo é
categórico nesses casos, cedendo a essas condicionais um espaço reservado das demais. Entretanto, em trabalho
realizado anteriormente (BRANDÃO, 2015), o qual nos permitiu criar a hipótese acerca do processo de
mudança, encontramos condicionais com o imperfeito do indicativo na prótase, como no exemplo
reproduzido e aqui recuperado: “Inf.: então é uma área muito sacrificada... é uma área que/ aliás nem ne/ nem
todos gostam dessa área... a gente trabalha nisso porque a gente precisa me(s)mo... porque se a gente num
precisava a gente num trabalhava não.” (AC-68; L.206-208)
A noção de irrealidade (GIVÓN, 1995) se mantém na condicional, embora tenhamos uma forma de
imperfeito do indicativo na prótase. Sendo assim, uma substituição por “se a gente num precisasse, a gente num
trabalhava não” não parece alterar tal irrealidade. Vejamos que a noção que entrevê a sentença produzida pelo
informante e da sentença parafraseada é a da irrealidade, independentemente da alternância da forma verbal,
constituindo, portanto, um caso de variação linguística e possível mudança em curso, ainda que lenta e gradual,
tal como postulou Weinreich, Labov e Herzog (1968).
Por fim, os resultados obtidos reforçam a complexidade por detrás do estudo da variável faixa etária
que, mesmo avaliada em relação a um mesmo fenômeno, pode nos mostrar padrões distintos e, portanto,
interpretações distintas. Essa variável pode nos mostrar, portanto, principalmente quando correlacionada a
outras, tanto as pressões sociais que determinados grupos sofrem quando uso de uma variante considerada
de maior prestígio (como no caso das irreais) quanto uma aparente mudança mais avançada (potenciais), em que
as variantes não possuem, necessariamente, a marcação de maior status, visto que a forma consagrada pela norma
já se encontra quase em desuso na fala menos monitorada.
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AGE GROUP VARIABLE - SOCIAL
PRESSURE RATE AND/OR
LINGUISTIC CHANGE IN COURSE?
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Abstract:
The age group is among the social variables widely studied by sociolinguists, which
includes, in its complexity, the possibility of characterizing a stable variation, a change in
progress, incipient or even complete of a certain phenomenon. In an analysis of apparent
time (LABOV, 1994) in which we evaluated the alternation of verbal forms in conditional
sentences of Paulista Portuguese (BRANDÃO, 2017; 2018), age group showed a
significant variable in both (i) potentials (p = 0.01) and in (ii) unrealistic (p = 0.01)
(GIVÓN, 1995). However, its effect occurred differently in each of the two contexts of
conditionals, something that can be explained by the status of the variants in each context.
In potentials, we do not find use of synthetic futures (will buy); in case of unreal, there is
its use (would buy). The hypothesis is that we are faced with distinct stages of a process
of linguistic change. In these, verbal forms considered more innovative (go buy and buy)
would be more embedded (WEINREICH, LABOV, HERZOG, 1968) in the system than
the more innovative ones in the unrealistic (buy, buy). In these, because they include
synthetic forms, the discussion of age articulates with the notion of Language Market
(BOURDIEU; BOLTANSKI, 1975), in those, the age points to an advanced change,
although observed in apparent time. The results reinforce the complexity behind this
variable that, even when evaluated in relation to the same phenomenon, can show us
different patterns and, therefore, different interpretations.
Keywords: Age Group. Change in apparent time. Conditionals
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