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são utilizadas diferentemente de acordo com a idade, porque é característico de tais faixas etárias que isso ocorra,
em qualquer geração.
Quando se trata da atuação de fatores sociais sobre fenômenos em variação, sabe-se a priori que estamos
lidando com variáveis não totalmente independentes. A avaliação de como interagem aspectos como classe
social, idade, sexo/gênero, escolaridade se torna parte essencial da análise. Oliveira e Silva e Paiva (1996, p. 371)
defendem que: “a variável mercado ocupacional (...) é, juntamente com o nível de escolarização, um dos
componentes do mercado linguístico”. Ao retomarem trabalhos já realizados em torno das variedades de maior
ou menor prestígio e suas correlações com a idade, escolaridade, e outros aspectos sociais, as autoras nos
mostram que há uma correlação direta entre as formas prestigiadas e o mercado linguístico: o emprego das
formas padrões é mais frequente entre aqueles falantes com idade de maior inserção no mercado de trabalho. O
efeito desse fator mostra-se especialmente significativo entre os falantes “acima de 45 anos” (OLIVEIRA E
SILVA; PAIVA 1996, p.372). Segundo Oliveira e Silva e Paiva (1996, p. 350), “o estudo da correlação entre
idade e variação linguística aponta para duas direções básicas: a relação de estabilidade entre variantes linguísticas
– um fenômeno varia, mas não muda – ou a existência de mudanças na língua”. É por isso que a comparação
da produção linguística de pessoas de diferentes idades deve revelar muito acerca do nosso fenômeno linguístico
(CHAMBERS, 2003).
2.2 O universo de estudo – as orações condicionais
Chamamos de oração condicional, condicionante, antecedente ou prótase a oração de cujo conteúdo
proposicional depende semanticamente o conteúdo proposicional da outra oração: a condicionada, a
consequente ou a apódose, também denominada pela tradição gramatical por ‘principal’ (MATEUS et al., 2003).
Para Ilari e Basso (2008, p. 313), “a função do período hipotético é indicar que a verdade de um certo conteúdo
proposicional é garantia de verdade do outro, ou, equivalentemente, que nós estamos condicionando a verdade
de um conteúdo à verdade de outro”. Há, portanto, nesse universo hipotético onde se inserem as condicionais,
a chance de fazermos remissão para “um mundo possível, criado linguisticamente pelo enunciado,
epistemicamente não acessível no intervalo de tempo da enunciação” (MATEUS et al, 2003, p. 707), estando a
realização do conteúdo proposicional da oração consequente (apódose) dependendo da antecedente, da garantia
de verdade do conteúdo desta.
Vem, por conseguinte, merecendo destaque, nos estudos sobre as condicionais, os diferentes graus de
hipoteticidade manifestados por cada construção, ou seja, a “possibilidade de realização do conteúdo da
apódose, dada a realização ou verdade da condição expressa na prótase” (NEVES, 1999, p. 497-498). Nem
sempre há consenso sobre os critérios para se classificar o grau de certeza epistêmica de um enunciado, pois ora
a hipoteticidade é assumida como ligada à asserção do falante em relação ao enunciado (GIVÓN, 1995;
AKATSUKA, 1986; DANCYNGIER, 2004) e ora como intervalo de tempo entre as duas orações (a
subordinada e a principal) (COMRIE, 1986; NEVES, 1999; 2000, GRYNER, 1990, 2008). No primeiro caso,
quanto mais forte é a asserção do falante em um enunciado, menos hipotético e, portanto, mais real seria. Assim,