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Quando perguntados se esse falante poderia ser um bonfinense, 74,1% dos respondentes afirmaram que
sim. Outros 25,9% deles, no entanto, afirmaram que o falante não seria um bonfinense. Para essa mesma
pergunta, é interessante relembrar que apenas 2,5% dos respondentes afirmaram que esse falante provavelmente
residia em condomínio.
A associação, portanto, da falta de estudo e de riqueza aos bonfinenses é significativa, demonstrando
que, de acordo com os respondentes, o bonfinense possui a característica de não concordar o verbo com o
sujeito plural da terceira pessoa. Assim, os valores sociais anteriormente associados aos moradores de
condomínio como “ricos” e “estudados” e aos bonfinenses como “pouco ricos” e “pouco estudados”
corroboram essa mesma ideia associada ao falar da região, em que a falta de estudo e riqueza aparece
representada através da estigmatizada ausência de plural no verbo não concordante ao sujeito. Da mesma
maneira, a falta de concordância é associada apenas ao bonfinense e, consequentemente, os valores sociais
associados a esse uso linguístico também.
As informações reportadas revelam a identidade social dos bonfinenses e dos moradores de condomínio
como distintas, marcadas por diferentes estereótipos relacionados aos valores sociais da comunidade em
questão. O bonfinense, por exemplo, é mais associado à ruralidade; os moradores de condomínio à riqueza.
Quanto ao segundo áudio do teste de atitude, em que havia a fala “eles é mais junto”, foi possível
perceber, mais uma vez, a ausência de concordância relacionada à falta de escolarização. Quando perguntados
sobre a escala que media quão estudado era o falante, 40,7% dos respondentes que residem em Bonfim Paulista,
ou seja, bonfinenses e moradores de condomínio, assinalaram a opção “pouco estudado”. Apesar disso, outros
34,6% dos informantes marcaram a opção “estudado” para o falante – o que vai no sentido oposto da hipótese
linguística ligada ao grau de saliência fônica.
O pouco estudo vem, mais uma vez, relacionado à falta de concordância verbal. Entretanto, neste caso,
a escolarização não parece ser fator tão determinante quanto pareceu ser nas impressões da fala anterior – a
avaliação e o estigma social parecem não exercer tanta força nesse uso linguístico, ainda que ele seja considerado
mais estigmatizado que o outro por possuir, neste caso, um verbo de maior saliência fônica entre a oposição do
singular e plural.
No que diz respeito à escala de riqueza, o falante da frase “eles é mais junto” foi considerado como rico
por 43,2% dos informantes; e por 40,7% deles, como “pouco rico”. O resultado da escala de riqueza, assim
como o de escolarização, foi surpreendente por entendermos que a fala em questão seria mais estigmatizada que
a primeira, em que o falante foi considerado “pouco estudado” e “pouco rico”.
Quanto à associação deste falante a um local de residência temos que, dos 81 respondentes, 80,2%
acreditaram que o falante da frase em questão não é morador de condomínio, desassociando a ausência de
concordância verbal com os moradores de condomínio, enquanto que 70,4% dos respondentes afirmaram que
o falante poderia ser de Bonfim Paulista, associando, uma vez mais, a ausência de CV aos bonfinenses.
Já na frase seguinte, “tem pais que não conhecem”, em que há a marcação formal de concordância verbal
de terceira pessoa do plural acontecendo da maneira prescrita pelos gramáticos, foi possível verificar que 51,9%
dos respondentes acreditaram que este falante seja “bastante estudado”. Nenhum dos respondentes marcou a