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Como citar este artigo:
GARCIA, B. L. Atitude e avaliação linguística: os bonfinenses e os moradores de
condomínio. Revista Diálogos, v. 7, n. 1, 2019
A autora:
Mestra em Linguística e Língua Portuguesa pela UNESP/Araraquara e membro do Núcleo
de Pesquisa em Sociolinguística de Araraquara.
ATITUDE E AVALIAÇÃO
LINGUÍSTICA: OS BONFINENSES E
OS MORADORES DE CONDOMÍNIO
Bruna Loria Garcia
(SoLAr)
brunaloria@gmail.com
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Resumo: Bonfim Paulista, distrito de Ribeirão Preto, desde a década de 1990, experimenta
a construção de diversos condomínios fechados na comunidade. Essa alteração de estilo
acaba refletindo-se tanto na dinâmica social quanto nos hábitos linguísticos da região.
Percebendo a relevância da mudança social ocorrida, por meio do estudo de um fenômeno
variável superavaliado socialmente a concordância verbal de terceira pessoa do plural ,
foram analisadas as atitudes e avaliações linguísticas associadas aos usos do fenômeno na
fala dos moradores do distrito e dos condomínios. A hipótese principal do estudo que
partia do princípio que diferentes identidades e valores sociais influenciam diretamente nas
atitudes, avaliações e usos linguísticos, ainda que os grupos dividam espaço numa mesma
localidade foi comprovada.
Palavras-chave: Atitude linguística. Identidade social. Concordância verbal.
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1 Introdução
Os moradores de Bonfim Paulista, distrito do município de Ribeirão Preto, interior do estado de São Paulo,
antiga área rural de estilo de vida pacato, vivenciaram a construção de 28 condomínios fechados na região que
trouxeram consigo um novo estilo de vida, novos interesses e novos valores sociais para o distrito. Antes
cercados por fazendas, os bonfinenses estão, agora, cercados por empreendimentos de grande valorização
imobiliária. Essa mudança social ocorrida no distrito em pouco mais de 20 anos tem mudado a comunidade em
diversos âmbitos. Percebendo, portanto, a relevância da mudança social ocorrida no distrito, se faz importante
verificar as atitudes e as avaliações linguísticas dos dois grupos da comunidade, os bonfinenses (moradores de
Bonfim) e os moradores de condomínio (que localizam-se nas adjacências da cidade de Bonfim), contrapondo-
os com vistas a revelar as reações subjetivas em relação ao uso da concordância verbal de terceira pessoa do
plural na região.
Por entendermos o fenômeno linguístico da concordância como superavaliado socialmente no português
brasileiro e conhecer que este é um fenômeno que foi e tem sido incansavelmente estudado de forma detalhada,
não é o objetivo principal do trabalho descrever a fundo o funcionamento desta variação linguisticamente, mas,
apoiados pelos resultados linguísticos esperados, diferenciar os dois grupos existentes na localidade de Bonfim
Paulista, associando seus valores e avaliações sociais, suas atitudes linguísticas e suas identidades ao uso que
fazem da língua. Por meio das informações coletadas em entrevistas sociolinguísticas, no trabalho de campo e
nos testes de atitude, procuramos respostas quanto à força das atitudes linguísticas, da identidade dos falantes e
dos valores sociais das variantes em questão dentro da comunidade, manifestando se reação linguística da
comunidade local em relação às mudanças sociodemográficas que ocorreram a partir dos anos de 1990.
A pesquisa segue os pressupostos teórico-metodológicos da Sociolinguística Variacionista (WEINREICH;
LABOV; HERZOG, 2006[1968]; LABOV, 2008[1972], 1994, 2001, 2010). Como corpus são utilizadas as
transcrições das falas dos informantes entrevistados, selecionados a partir de variáveis extralinguísticas. Levando
em conta o exposto até aqui, definimos como objetivo geral do estudo analisar as atitudes e avaliações
linguísticas, associando as identidades sociais encontradas com os usos linguísticos da concordância verbal de
terceira pessoa do plural em dois grupos da comunidade: os moradores do distrito que ali residem desde seu
nascimento e se autodenominam bonfinenses, e os moradores dos condomínios adjacentes a Bonfim Paulista
que para ali se deslocaram nos últimos anos.
É hipótese principal do estudo a premissa de que as diferentes identidades e os diferentes valores sociais são
fatores que influenciam diretamente nas atitudes, avaliações e usos linguísticos, ainda que os grupos que se
identificam de maneira distinta dividam espaço numa mesma localidade. A hipótese é que os moradores de
condomínio sejam mais associados às normas linguísticas prestigiadas, ao estilo de vida mais urbano e aos valores
sociais mais associados à escolarização, enquanto que os bonfinenses sejam mais associados aos valores sociais
rurais, ao estilo de vida mais pacato e à pouca escolarização. Também é hipótese do trabalho que a mesma
distância espacial seja vista por diferentes grupos de maneira discrepante: a hipótese é que os bonfinenses se
refiram a Bonfim como localidade que não faz parte do município de Ribeirão Preto, os moradores de
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condomínio se refiram ao distrito como parte de Ribeirão e os ribeirão-pretanos se refiram a Bonfim como local
distante do município.
Ademais, há, também, a hipótese de que a postura de aceitação dos novos valores e costumes pode levar a
uma atitude de tentar adequar-se à variedade linguística “estrangeira”, enquanto que uma postura de não
aceitação aos costumes e valores que chegaram recentemente carreguem uma atitude de conservar um traço
linguístico próprio como forma de conservação da identidade de um povo na sua relação com um outro,
forasteiro relação observada na ilha de Martha’s Vineyard (LABOV, 2008[1972]), e que é uma hipótese a ser
averiguada. A pressuposição de que relação entre essas hipóteses na localidade de Bonfim é sugerida por
Carlucci (2015) na tese “Paradigmas de intervenção sobre o distrito de Bonfim Paulista”, em que há o relato de
que a comunidade se dividiria entre atitudes favoráveis ou não às mudanças sociais, o que indica um terreno
fértil para a investigação de usos linguísticos ligados à identidade:
[...] a população residente na vila parece desconsiderar os condomínios como uma vizinhança
relevante, ainda que alguns deles acalentem o sonho de ali morarem, como um desejo de viver
melhor, com mais conforto e status. Mas, ao que parece, num e noutro caso, nada nos permite
antever que Bonfim se “enfeita” ou busca abrir mão de seu sotaque caipira para parecer menos
matuta aos condomínios. (CARLUCCI, 2015, p.131)
Para averiguar as hipóteses mencionadas, metodologicamente, o estudo se compõe de uma revisão
científica dos conceitos abordados, do trabalho de campo em que foram realizados os contatos com os falantes
e dos testes de atitude, associados às análises de entrevistas sociolinguísticas feitas aos moradores.
2 Fundamentação teórica
Muitos fenômenos variáveis carregam significados sociais. Utilizar uma variante estigmatizada, por
exemplo, significa fazer parte de uma parcela da população que sofre com estigmas sociais. Ao fazer uso do r
retroflexo, o falante indícios de sua origem “caipira”, vista como “atrasada” em relação à capital, por exemplo.
O falante que utilizou a variante estigmatizada passa a ser visto como possuidor dos estigmas sociais que foram
associados àquele fenômeno linguístico. O mesmo acontece com a ausência de marcação de terceira pessoa do
plural no português brasileiro variante estigmatizada, que carrega valores sociais negativos.
Quando um indivíduo compreende os valores associados a uma forma linguística usada por ele, há um
maior controle e ele pode querer ser percebido em associação àqueles valores ou desassociado deles. Quando
percebe que sua variedade não carrega prestígio, o indivíduo pode querer ser percebido como alguém com maior
prestígio, monitorando sua fala e, consequentemente, a percepção que os outros terão de si. Dessa forma, a
avaliação e as identidades sociais podem levar à retração no emprego de formas desprestigiadas e até a seu
desaparecimento ou à manutenção e expansão desses padrões (LABOV, 2008[1972]).
Este estudo contempla a problemática dos princípios empíricos para a Teoria da Variação e Mudança
Linguísticas de Weinreich, Labov e Herzog (2006[1968]), sobretudo no que diz respeito ao problema da
avaliação das variáveis linguísticas. Esse problema está intimamente relacionado a variáveis que carregam valores
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sociais importantes para a comunidade, ou seja, as avaliações são reações dos ouvintes quando expostos a traços
linguísticos. Quando esse traço é superavaliado, os autores dizem que “o nível de consciência social é tão elevado
que se tornam tópicos salientes em qualquer discussão sobre a fala” (WEINREICH; LABOV; HERZOG,
2006[1968], p. 72).
A variável dependente escolhida neste estudo, a concordância verbal de terceira pessoa do plural, é um
fenômeno superavaliado socialmente no Brasil os falantes atribuem valores sociais a cada variante,
estigmatizando uma e prestigiando outra , o que pode influenciar no uso dessa variável. Essa reação subjetiva
de ajuizar o outro através de sua fala é chamada avaliação linguística. A avaliação e a atitude linguísticas são
formas de expressar como os indivíduos reagem frente ao outro, revelando os valores sociais por trás das
variantes linguísticas, como reflete Cyranka (2007, p. 33) imediatamente a seguir.
Conforme observa Amaral (1979, p. 25-26), em geral, os estudos de atitudes linguísticas
revelam que o falante, utilizando uma língua ou variedade linguística de prestígio, é
percebido favoravelmente pelos ouvintes em relação à inteligência, competência,
ambição, segurança, sucesso educacional e ocupacional. Daí é derivada a consideração
de que a variedade padrão é associada à dimensão de poder, “status” e controle social.
Em outras palavras, é a variedade que cumpre funções sociais privilegiadas pelo poder.
É de extrema importância esclarecer, ainda, que os conceitos de avaliação, crenças, percepção e atitudes
linguísticas não são conceitos fechados ainda não há consenso entre autores e alguns acabam por amalgamar
uns e não outros, enquanto há autores que diferenciam cada um desses termos. Não há conceitos completos, o
que são discussões quanto ao tratamento deles. Optamos, portanto, por abordar esses conceitos como
distintos.
Neste trabalho, chamamos avaliação linguística a forma com que um ouvinte/falante mensura os valores
que carrega consigo e como associa esses valores à produção linguística de si ou de outros. Essa é atividade
metalinguística e seguramente sofre influências das crenças que os falantes carregam. Crenças são, portanto,
parte essencial da avaliação linguística. É o que os sujeitos acreditam, o que pensam a respeito de algo. A
exteriorização da avaliação linguística (que carrega certas crenças individuais ou coletivas) é o que chamamos
atitude linguística.
A atitude linguística é uma atividade, uma reação, uma exteriorização do que se pensa, do que se
avaliou enquanto se pensava. É, de acordo com Lambert (1966), assim conceituada:
Uma atitude é uma maneira organizada e coerente de pensar, sentir e reagir em relação a
pessoas, grupos, questões sociais ou, mais genericamente, a qualquer acontecimento
ocorrido com nosso meio circundante. Seus componentes essenciais são os pensamentos
e as crenças, os sentimentos (ou emoções) e as tendências para reagir. Dizemos que uma
atitude está formada quando esses componentes se encontram de tal modo inter-
relacionados que os sentimentos e tendências reativas específicas ficam coerentemente
associados com uma maneira particular de pensar em certas pessoas ou acontecimentos.
(LAMBERT, 1966, p. 77-78)
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Ao ter a atitude de estigmatizar uma variante A e valorizar uma variante B nos diferenciamos dos demais,
traçamos nossas identidades, demonstramos nossas avaliações e, consequentemente, as crenças por trás desse
pensamento. Em outras palavras, as atitudes servem-nos de armas para demarcar espaços e identidades culturais.
O presente estudo, como forma de medir as avaliações e atitudes linguísticas dos indivíduos de diferentes grupos
da comunidade (principalmente dos bonfinenses e dos moradores de condomínios), utiliza um teste de atitude
inspirado na técnica matched-guise, em que a fala de Bonfim deverá ser analisada e associada a algum dos graus
dispostos entre adjetivos opostos.
3 Metodologia
O universo de investigação da presente pesquisa é a localidade do distrito de Ribeirão Preto/SP, Bonfim
Paulista. Apesar de que o distrito é considerado uma única localidade mais ampla (Bonfim Paulista), ele pode
ser subdividido entre dois diferentes grupos que ali se inserem: o dos bonfinenses (moradores da região) e o dos
moradores de condomínio (moradores que se mudaram recentemente para o distrito). É importante dizer que
seguramente esses o são os dois únicos grupos desta comunidade, no entanto, o território era, até pouco
tempo atrás, majoritariamente habitado pelo grupo dos bonfinenses, quando uma forte onda de investimento
imobiliário alcançou o distrito, levando milhares de ribeirão-pretanos (que não se consideram, obviamente,
bonfinenses) a habitarem o distrito, causando reações adversas nos indivíduos que ali já estavam.
Como forma de medir as avaliações, os valores sociais e as atitudes linguísticas dos bonfinenses e dos
moradores de condomínios, foram elaborados testes de atitude linguística. Nesta etapa, foi elaborado um
primeiro teste de atitude, que serviu como teste piloto. Depois de elaborá-lo, o teste foi aplicado a moradores
de condomínio e moradores do distrito de Bonfim Paulista e consistia na ação de reagir a trechos de áudios de
fala espontânea com marcação ou não de concordância verbal. A partir dessa escuta, o ouvinte deveria preencher
o teste, atrelando àquela fala os valores sociais que acreditava estarem associados.
Em seguida, após analisar quais alterações deveriam ser feitas para que o teste fosse bem compreendido
por todos, elaboramos o teste de atitude online. Optamos por um teste online para que o alcance e,
consequentemente, o número de respondentes ao teste fossem maiores, o que nos daria informações precisas
sobre as avaliações e atitudes linguísticas presentes na região. Assim, o teste foi elaborado contendo três
diferentes partes: na primeira, o respondente dava informações pessoais sua idade, escolaridade, sexo e tipo e
local de moradia. Além dessas informações, o respondente deveria se posicionar quanto a sua identidade, assim,
escolhendo entre bonfinense, ribeirão-pretano ou outro. Dessa forma, foi possível comparar a identidade social
dos informantes às suas respostas quanto ao local e tipo de moradia.
Num segundo momento do teste, associou-se os valores sociais a Bonfim Paulista, aos bonfinenses e
aos moradores de condomínio, como em um teste de percepção. Nesta parte, portanto, com foco nos valores
sociais atribuídos a diferentes adjetivos relacionados a esses três tópicos, verificou-se avaliações de diferentes
valores sociais, associados ou não aos bonfinenses e aos moradores de condomínio, por exemplo. Já na terceira
etapa do teste, os informantes eram expostos a quatro áudios, tendo que associar o falante a Bonfim, aos
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condomínios ou a outro espaço; assim, foi possível associar as identidades (referentes à primeira etapa do teste)
e as avaliações (referentes à segunda etapa do teste) à fala, colhendo, enfim, as atitudes linguísticas a
materialidade das avaliações linguísticas; foram colhidas 80 respostas.
As respostas foram separadas e analisadas de acordo com a identidade do respondente ao teste
(bonfinense, ribeirão-pretano ou outro), sendo possível, portanto, analisar diferentes visões dos grupos sociais
que convivem na comunidade (os bonfinenses, os moradores de condomínios e, ainda, os ribeirão-pretanos).
Este é um trabalho de base etnográfica, pois a pesquisadora está inserida na comunidade de Bonfim
Paulista como moradora desde a última década, conhecendo, portanto, os grupos, as práticas e os valores da
comunidade. Consequentemente, a escolha da localidade como tema central do trabalho não advém apenas de
um olhar de cima, de um pesquisador de fora que analisa a comunidade de acordo com suas crenças, o que nem
sempre é similar à visão do morador desta comunidade em questão; ao contrário, Bonfim Paulista foi,
primeiramente, espaço de observação participante. As categorias sociais contrapostas para a elaboração do corpus
e para a estratificação dos falantes foram destacadas de acordo com as categorias sociais que emergiam da própria
comunidade, como a diferenciação entre moradores do distrito e moradores dos condomínios localizados no
distrito. Essa diferenciação é feita pelos próprios moradores, tanto de Bonfim quanto dos condomínios, e já foi
exposta, também, em outros trabalhos não linguísticos que tiveram Bonfim Paulista como objeto de estudo (cf.
BOCCHI, 2007; CACERES, 2001; CAMARGO, 2009; CARVALHO, 2009; FERREIRA, 2005; FIUZA, 2010;
NOGUEIRA, 2005).
4 Análise dos dados
As atitudes linguísticas são atividades mentais ou reativas por meio das quais acreditamos que as
avaliações e crenças linguísticas são exteriorizadas, “são as armas usadas pelos residentes para demarcar seu
espaço, sua identidade cultural, seu perfil de comunidade, de grupo social separado” (TARALLO, 1985, p.14).
Assim, é através dessa atividade de demarcar um espaço como sendo seu (e não de outro), ou um grupo social
diferente dos demais, que as avaliações linguísticas vêm à tona. Dessa forma, foi possível conseguir informações
sobre a identidade dos grupos da comunidade não por seus usos linguísticos, mas pelos apontamentos que
fazem de si e dos outros tanto com os resultados dos testes de atitude e avaliação online quanto através dos
comentários e das falas dos informantes na entrevista sociolinguística.
No teste de atitude, antes que os valores sociais fossem associados ao falar dos bonfinenses e dos
moradores de condomínio em Bonfim Paulista, uma seção anterior foi feita para colher informações pessoais
dos respondentes, conforme destacado na metodologia. O teste foi divulgado através das redes sociais da
pesquisadora e em grupos nas redes sociais de pessoas que moram em Bonfim Paulista. Assim, foi divulgado
para moradores de condomínios, para bonfinenses e para moradores de Ribeirão Preto como um todo, a fim de
perceber como são vistos os diferentes grupos da comunidade em questão.
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O teste online recebeu 80 respostas das quais 12 são respostas de pessoas que residem, hoje, em Bonfim
Paulista. A questão aberta “você se considera...” foi representada por 82,7% dos dados de ribeirão-pretanos e
6,2% dos dados de bonfinenses.
Já para a questão aberta “você reside na área de...” foram obtidas 79% das respostas de indivíduos que
residem em Ribeirão Preto e 14,8% de respostas de indivíduos que residem na área de Bonfim Paulista. Dos 12
respondentes que residem na área de Bonfim Paulista, 5 se consideram bonfinenses (em azul na tabela 1) e 7 se
consideram ribeirão-pretanos (em cinza na tabela 1). Todos os informantes que se consideram bonfinenses
residem em casas em Bonfim, enquanto que 5 dos informantes que se consideram ribeirão-pretanos são
moradores de condomínio em Bonfim Paulista. Apenas dois informantes se consideram ribeirão-pretanos e
moram na área central de Bonfim Paulista (em verde na tabela 1).
A identificação dos moradores do centro de Bonfim com a identidade bonfinense fica evidente frente a
esse resultado que demonstra que, dos 7 moradores da área central de Bonfim, 5 não se consideram ribeirão-
pretanos, mas bonfinenses. A identidade como bonfinense é deixada de lado por dois dos sete indivíduos.
Além disso, conforme esperado, todos os respondentes que residem em condomínios fechados em Bonfim não
se consideram bonfinenses, associando-se muito mais ao município de Ribeirão Preto.
Tabela 1: Bonfinenses e moradores de condomínio perfil dos respondentes
Idade
Escolaridade
Sexo
Identidade
Tipo de
moradia
de 15 a 25 anos
Ensino
superior
incompleto
Feminino
Ribeirão-
pretano(a)
Condomínio
fechado
de 26 a 35 anos
Pós-graduação
Masculino
Ribeirão-
pretano(a)
Condomínio
fechado
de 26 a 35 anos
Pós-graduação
Feminino
Ribeirão-
pretano(a)
Condomínio
fechado
de 46 a 55 anos
Ensino
superior
completo
Feminino
Ribeirão-
pretano(a)
Condomínio
fechado
mais de 55 anos
Pós-graduação
Masculino
Ribeirão-
pretano(a)
Condomínio
fechado
de 15 a 25 anos
Ensino
superior
incompleto
Feminino
Bonfinense
Casa
de 15 a 25 anos
Ensino
superior
incompleto
Feminino
Bonfinense
Casa
de 15 a 25 anos
Ensino médio
completo
Feminino
Bonfinense
Casa
de 26 a 35 anos
Pós-graduação
Masculino
Bonfinense
Casa
mais de 55 anos
Ensino médio
incompleto
Masculino
Bonfinense
Casa
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de 26 a 35 anos
Pós-graduação
Masculino
Ribeirão-
pretano(a)
Apartamento
de 46 a 55 anos
Ensino
superior
incompleto
Feminino
Ribeirão-
pretano(a)
Casa
Fonte: própria
Aos respondentes do teste de atitude foi solicitado que caracterizassem os moradores de condomínios
fechados e os bonfinenses. As perguntas-guia para as caracterizações dos dois grupos foram: “No geral, para
você, quem mora em condomínio fechado em Bonfim é...?” e “No geral, para você, o bonfinense é...?”. As
respostas, fechadas, foram dadas de acordo com diferentes conceitos colocados quantitativamente em oposição.
Para facilitar a leitura dos resultados, é importante compreender que havia uma escala com quatro pontos em
que era possível marcar uma dentre as 4 opções disponíveis do continuum:
1. “Muito [adjetivo]”
2. “[adjetivo]”
3. “Pouco [adjetivo]”
4. “Nada [adjetivo]”
Dessa forma, numa escala que medisse a alegria, 1 corresponderia à caracterização “muito alegre”, 2 à
caracterização “alegre”, 3 à “pouco alegre” e 4 à “nada alegre”. Os 81 respondentes do teste posicionaram-se a
respeito dos adjetivos “rico”, “caipira”, “playboy”, “humilde”, “metido”, “educado”, “simpático”, “apressado”,
“exigente”, “estudado”, “vaidoso” e “amigável” palavras escolhidas pela pesquisadora ao perceber quais
adjetivos eram utilizados nas entrevistas sociolinguísticas, demonstrando quais valores eram importantes para a
comunidade.
Do número total de respondentes do teste, como dito anteriormente, 12 são moradores diretos da área
do distrito, residindo ou em condomínios fechados dessa região, ou em bairros de Bonfim Paulista. Destes 12,
5 são moradores de condomínios e 7 de Bonfim. Para entender melhor a identidade social e os valores sociais
da comunidade, é necessário, então, analisar como cada grupo se avalia e avalia o outro.
Os moradores de condomínios, quando perguntados sobre como enxergavam a si mesmos e a seus
semelhantes, informaram os seguintes resultados: se consideram, em maioria: ricos, nada caipiras, pouco
playboys, pouco humildes, pouco metidos, educados/muito educados, simpáticos, apressados, muito exigentes,
estudados/muito estudados, vaidosos/muito vaidosos e amigáveis.
Já na visão da maioria dos bonfinenses, os moradores dos condomínios fechados de Bonfim são: ricos,
pouco/nada caipiras, pouco playboys, pouco humildes, pouco metidos, educados simpáticos, apressados/pouco
apressados, exigentes, estudados, vaidosos e pouco amigáveis.
Os moradores de condomínio, na mesma medida em que puderam se caracterizar através dos adjetivos
em questão, também puderam dar suas impressões no que diz respeito à imagem do bonfinense. A imagem que
o bonfinense passa ao morador de condomínio é, de acordo com os resultados aferidos, a imagem de alguém
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pouco rico, pouco caipira, playboy, pouco ou nada humilde, muito metido, nada educado, muito simpático,
pouco apressado, pouco exigente, pouco estudado, muito vaidoso e amigável.
Diferentemente da imagem que os moradores de condomínio possuem acerca dos bonfinenses, os
mesmos deram outra interpretação a sua identidade: para o bonfinense, ele pode ser considerado, de acordo
com a maioria das respostas, nada rico, caipira/pouco caipira, playboy, pouco humilde, metido/pouco metido,
pouco educado, simpático, pouco apressado, pouco exigente, estudado/pouco estudado, vaidoso e amigável
imagem bem distinta da que os moradores de condomínios têm sobre eles.
Na entrevista sociolinguística também houve a manifestação da atitude de um grupo em relação a outro.
Na fala de Renato, por exemplo, é possível perceber a consciência de que os bonfinenses passam a imagem de
pessoas tranquilas e amigáveis aos outros, mas que os moradores de condomínio provavelmente sintam alguma
indiferença por parte dos bonfinenses o “olhar torto” dos mais antigos bonfinenses aos condôminos é
relatado.
Eu acho que que eles veem como pessoas, assim, tranquilas... amigáveis, eu acho, porque
mesmo as pessoas tendo esse receio... eu acho que.... talvez... também, eu não sei... mas
eu acho que talvez eles sentem um pouco de uma indiferença assim, porque as pessoas
não conhecem, né... o pessoal mais velho olha torto e tal porque não sabe “o que essa
pessoa tá fazendo aqui?” então talvez eles sentem...sintam isso. (Renato, ensino superior,
bonfinense, 28 anos)
O que foi dito pelos moradores de condomínio sobre os bonfinenses, no entanto, é que uma recepção
acolhedora, pelo menos no que diz respeito ao comércio local. Os moradores de condomínio não parecem
perceber a indiferença nos comércios. A tranquilidade dos bonfinenses é que é ressaltada, vista como ponto de
diferenciação entre a identidade do morador de condomínio e do bonfinense:
De Bonfim são pessoas mais simples, são pessoas que mantém, tipo, conversar na
calçada de casa, num ritmo de vida diferente do da gente... [...] Tem uma recepção
diferente. Não é um trato profissional que nem em Ribeirão que o relacionamento é
meramente profissional. Aqui eu não sinto isso, aqui tem recepção mais acolhedora. [...]
lembro que em Bonfim não tinha nada. Isso mudou por causa de vinda, sim, de
condomínios. Quando nós mudamos pra tinham pouquíssimas casas. Eu acho que de
repente pra quem já morava aqui não deve ver com bons olhos essa chegada de tantos
condomínios porque tirou um pouco a privacidade. Depende também pra quem é de
comércio... mas pra quem sempre morou aqui, tem pessoas... eu acho que eles não devem
gostar muito não porque mudou o ritmo da cidade (Maurício, morador de condomínio,
39 anos, ensino médio)
Após associar diferentes valores sociais às identidades dos dois grupos da comunidade, bonfinenses e
moradores de condomínio, os respondentes do teste de atitude deram suas impressões e reagiram a quatro frases
faladas, ditas por quatro diferentes moradores da região do distrito de Bonfim Paulista, sem saber quem são eles.
Assim, conhecendo e participando do contexto socioeconômico e cultural local, o respondente deveria reagir e
demonstrar suas impressões sobre cada pessoa.
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Para cada frase o respondente deveria responder à seguinte questão: “De acordo com o que você ouviu
no áudio, qual é sua impressão sobre o falante?”. As alternativas para essa questão variavam dentro de um
continuum entre “Muito estudado”, representado pelo número 1, até “Nada estudado”, representado pelo número
5, e entre “Muito rico” até “Nada rico”:
1. “Muito [adjetivo]”
2. “Bastante [adjetivo]”
3. [adjetivo]
4. “Pouco [adjetivo]”
5. “Nada [adjetivo]”
Além dessas duas questões, o respondente deveria dar seu parecer quanto a outras duas alternativas
opostas quanto ao local de moradia dos falantes:
Reside em um condomínio Não reside em um condomínio
[ ] [ ]
Reside em Bonfim Paulista Não reside em Bonfim Paulista
[ ] [ ]
Ao fazer a escolha por um destes locais de moradia, o respondente estará, portanto, associando o falar
em questão aos valores sociais já mensurados pelos mesmos respondentes. Há a opção de não associar o falar a
nenhuma das opções, marcando, nas duas questões, as alternativas “não reside em condomínio” e “não reside
em Bonfim Paulista”.
As quatro frases escolhidas retratam diferentes graus de marcação de concordância verbal de terceira
pessoa do plural e são falas naturais, espontâneas, retiradas do falar que representa a região do distrito de Bonfim
Paulista.
Após escutarem o áudio que continha a frase “as mulher vinha tudo”, em que há ausência de
concordância verbal da terceira pessoa do plural com o sintagma nominal “as mulher”, em que não
paralelismo sintático da ausência das concordâncias verbal e nominal, 49,4% dos 81 respondentes marcaram a
opção 4, que corresponde ao adjetivo “pouco estudado”. Além disso, de maneira significativa, 40,7% dos
respondentes marcaram a opção “nada estudado” – o que desassocia completamente o falante da escolarização
regular. Em relação ao traço [+ rico] ou [- rico], os respondentes marcaram, em maioria (46,9%), a opção que
associa esse falar ao adjetivo “pouco rico”.
Associados aos valores de “pouco estudo” e “pouca riqueza” à falta de concordância verbal mais
estigmatizada, os respondentes se posicionaram quanto ao lugar de moradia. Dos informantes, 97,5% deles
afirmaram que o falante não reside em um condomínio mostrando a total desassociação do morador de
condomínio à falta de estudo ou à pobreza. Para eles, o morador de condomínio não se expressaria dessa
maneira.
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Quando perguntados se esse falante poderia ser um bonfinense, 74,1% dos respondentes afirmaram que
sim. Outros 25,9% deles, no entanto, afirmaram que o falante não seria um bonfinense. Para essa mesma
pergunta, é interessante relembrar que apenas 2,5% dos respondentes afirmaram que esse falante provavelmente
residia em condomínio.
A associação, portanto, da falta de estudo e de riqueza aos bonfinenses é significativa, demonstrando
que, de acordo com os respondentes, o bonfinense possui a característica de não concordar o verbo com o
sujeito plural da terceira pessoa. Assim, os valores sociais anteriormente associados aos moradores de
condomínio como “ricos” e “estudados” e aos bonfinenses como “pouco ricos” e “pouco estudados”
corroboram essa mesma ideia associada ao falar da região, em que a falta de estudo e riqueza aparece
representada através da estigmatizada ausência de plural no verbo o concordante ao sujeito. Da mesma
maneira, a falta de concordância é associada apenas ao bonfinense e, consequentemente, os valores sociais
associados a esse uso linguístico também.
As informações reportadas revelam a identidade social dos bonfinenses e dos moradores de condomínio
como distintas, marcadas por diferentes estereótipos relacionados aos valores sociais da comunidade em
questão. O bonfinense, por exemplo, é mais associado à ruralidade; os moradores de condomínio à riqueza.
Quanto ao segundo áudio do teste de atitude, em que havia a fala “eles é mais junto”, foi possível
perceber, mais uma vez, a ausência de concordância relacionada à falta de escolarização. Quando perguntados
sobre a escala que media quão estudado era o falante, 40,7% dos respondentes que residem em Bonfim Paulista,
ou seja, bonfinenses e moradores de condomínio, assinalaram a opção “pouco estudado”. Apesar disso, outros
34,6% dos informantes marcaram a opção “estudado” para o falante – o que vai no sentido oposto da hipótese
linguística ligada ao grau de saliência fônica.
O pouco estudo vem, mais uma vez, relacionado à falta de concordância verbal. Entretanto, neste caso,
a escolarização não parece ser fator tão determinante quanto pareceu ser nas impressões da fala anterior a
avaliação e o estigma social parecem não exercer tanta força nesse uso linguístico, ainda que ele seja considerado
mais estigmatizado que o outro por possuir, neste caso, um verbo de maior saliência fônica entre a oposição do
singular e plural.
No que diz respeito à escala de riqueza, o falante da frase “eles é mais junto” foi considerado como rico
por 43,2% dos informantes; e por 40,7% deles, como “pouco rico”. O resultado da escala de riqueza, assim
como o de escolarização, foi surpreendente por entendermos que a fala em questão seria mais estigmatizada que
a primeira, em que o falante foi considerado “pouco estudado” e “pouco rico”.
Quanto à associação deste falante a um local de residência temos que, dos 81 respondentes, 80,2%
acreditaram que o falante da frase em questão não é morador de condomínio, desassociando a ausência de
concordância verbal com os moradores de condomínio, enquanto que 70,4% dos respondentes afirmaram que
o falante poderia ser de Bonfim Paulista, associando, uma vez mais, a ausência de CV aos bonfinenses.
na frase seguinte, “tem pais que não conhecem”, em que a marcação formal de concordância verbal
de terceira pessoa do plural acontecendo da maneira prescrita pelos gramáticos, foi possível verificar que 51,9%
dos respondentes acreditaram que este falante seja “bastante estudado”. Nenhum dos respondentes marcou a
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opção “nada estudado”, e, se somadas as respostas ligadas à característica de ser estudado (muito, bastante ou
apenas estudado), 94% dos respondentes, confirmando que a escolarização e a marcação de concordância
estão fortemente associadas.
Sobre a “riqueza”, os respondentes marcaram, em maioria (54,3% do total de 81), que o falante é “rico”.
Outros 30,9% dos respondentes acreditaram que o falante é, na verdade, “bastante rico”, o que demonstra a
associação entre a concordância verbal e valores sociais positivos ligados a status e prestígio.
De maneira contrária ao que foi visto anteriormente, ao reagir a esta frase, a maioria dos respondenes
(75,3%) acreditou que se trata de um morador de condomínio fechado em Bonfim. Apesar disso, os
respondentes não descartaram a possibilidade de que esse falante seja bonfinense pois 65% deles responderam
que se tratava de um morador de Bonfim Paulista.
Esses resultados demonstram que a ausência de concordância verbal de terceira pessoa está
intrinsecamente associada ao bonfinense, enquanto que a marcação formal de plural concordante ao sujeito
oracional pode ser associada tanto ao morador de condomínio quanto ao bonfinense. A identidade mais fixa,
estável, ao que parece, é a do morador de condomínio, sempre associado à riqueza e à escolarização alta.
Por último, na questão que abordava a frase “seus amigos também não tinha”, tivemos o seguinte
resultado quanto à questão que situava o falante em uma escala de escolarização: o falante de tal uso linguístico
é estudado, de acordo com 44,4% do corpus. Outros 35,8% dos respondentes, número significativo, responderam
que este falante, na verdade, é “bastante estudado”. A ausência da concordância verbal, neste caso, parece não
receber a mesma avaliação que as outras falas em que não havia a marcação formal de plural no verbo
concordante ao sujeito. Aqui, a ausência de concordância parece estar mais “camuflada”, devido ao material
interveniente entre o sujeito e o verbo que os distanciam, o que fez com que não fossem trazidos à tona todos
os julgamentos sociais atribuídos, geralmente, a quem não utiliza a concordância verbal canônica.
Sobre a riqueza, os resultados são similares: 63% dos respondentes acreditaram que este falante é “rico”
mostrando que o peso carregado pelos estigmas sociais associados à ausência de CV não está tão presente
nesta avaliação.
Comprovando o exposto anteriormente, a questão seguinte, sobre a localidade do informante, corrobora
as afirmações: 51,9% dos respondentes acreditaram que esse falante mora em um condomínio em Bonfim,
enquanto que 48,1% deles acreditaram que esse falante não mora em um condomínio resultados que
demonstram uma diferença não significativa, revelando que a avaliação negativa a esse tipo de ausência de
marcação de concordância não esteve presente como nos usos linguísticos anteriores.
Essa diferença é um pouco mais significativa quando observamos os resultados das respostas da
associação da fala com os bonfinenses: 64,2% dos informantes revelaram que esse é um falante bonfinense,
enquanto que apenas 35,8% deles responderam que esse não é um falante bonfinense.
Essas afirmações corroboram a ideia inicial de que a avaliação negativa nesse uso da concordância verbal
não está presente como em outros usos. Ainda assim, a ausência de concordância está sempre mais associada ao
bonfinense que ao morador de condomínio.
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Fica claro, portanto, que os valores sociais influenciam a avaliação positiva ou negativa dos usos
linguísticos, associando, por meio das atitudes linguísticas, tais valores a diferentes grupos da comunidade, que
não se sentem parte de uma mesma identidade. O espaço dividido por moradores de condomínio e por
bonfinenses é espaço, também, de conflito de valores sociais, opiniões contrárias e usos linguísticos
característicos de cada falar. Ainda assim, Bonfim Paulista é lugar de acolhimento, de tranquilidade e de
preservação da cultura local, afinal, o bonfinense tem orgulho de se dizer bonfinense.
5 Considerações finais
Ao confrontar o falar dos indivíduos bonfinenses e dos indivíduos moradores de condomínio, foi
possível perceber que regularidades que caracterizam o falar dos dois diferentes grupos. Associados a essa
ideia, puderam ser descritos e analisados os valores sociais por trás das avaliações e atitudes linguísticas da
comunidade dividida por dois grupos que não se identificam nem são identificados como um todo unitário.
Ficou comprovado que a imagem atrelada a diferentes valores sociais associada a cada um dos grupos
foi motivadora para a associação dos usos linguísticos aos valores sociais da comunidade os bonfinenses foram
mais associados à ausência de concordância verbal e os moradores de condomínio à presença de plural no verbo
concordante ao sintagma nominal plural.
A variedade linguística avaliada de forma positiva foi associada ao falante morador de condomínio
indivíduo que carrega valores sociais atrelados à riqueza e à escolarização, valores sociais tidos como positivos.
a variedade linguística estigmatizada a ausência de concordância foi mais atrelada ao bonfinense
indivíduo que carrega valores sociais atrelados à vida rural.
Os indivíduos dos dois grupos puderam se posicionar, diferindo-se ou aproximando-se do outro ao fazer
avaliações, expor suas opiniões e reagir aos usos linguísticos, formando sua identidade na delimitação mental do
que ele considera ser característico seu e o que considera que o é seu, mas do outro. Apesar de conviverem
num mesmo espaço, bonfinenses e moradores de condomínio não se identificam como um coletivo único, mas
como diferentes dos membros do outro agrupamento posto em contraposição, o que ficou comprovado com
os testes e entrevistas.
Foi possível, portanto, apoiados pelos resultados linguísticos, diferenciar os dois grupos existentes na
localidade de Bonfim Paulista, associando seus valores, atitudes linguísticas e avaliações sociais ao uso que fazem
da língua e a suas identidades, através das informações coletadas nas entrevistas, no trabalho de campo e nos
testes de atitude, quando pudemos comprovar que uma reação dos bonfinenses em relação às mudanças
sociodemográficas que ocorreram a partir dos anos 1990 a ida de inúmeros moradores de condomínios para
o distrito.
A hipótese principal do estudo, que expunha que as diferentes identidades e os diferentes valores sociais são
fatores que influenciam diretamente nas atitudes, avaliações e usos linguísticos (ainda que os grupos que se
identificam de maneira distinta dividam espaço numa mesma localidade), foi comprovada por meio dos
resultados que demonstram que os moradores de condomínio estão mais associados às normas linguísticas
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prestigiadas, ao estilo de vida mais urbano e a um grau maior de escolarização, enquanto que os bonfinenses se
associam mais aos valores sociais rurais, ao estilo de vida mais pacato e a um menor grau de escolarização.
Com o teste de atitude, da mesma maneira, foi possível compreender mais os valores sociais atribuídos
a cada grupo da comunidade os bonfinenses, os moradores de condomínio e até os ribeirão-pretanos. Com o
posicionamento desses grupos em relação a eles mesmos e aos outros, foi possível delinear as avaliações feitas
e os valores sociais por trás dessas interações. Além disso, a segunda parte do teste, em que o respondente
deveria se posicionar diante de usos linguísticos de diferentes graus e marcação de concordância verbal, trouxe
respostas quanto à avaliação e atitude linguística na comunidade.
Saber que as características de cidade pequena interiorana, tranquila e rural ainda permanecem na
identidade dos bonfinenses ainda que Bonfim não seja uma cidade, não seja tão pequena e nem mais muito
rural é saber que seus costumes não deram lugar aos de outros e isso é um índice que nos permite perceber
como a vila é vista pelos moradores.
Referências
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ATTITUDE AND LINGUISTIC
EVALUATION: BONFINENS AND
CONDOMINIUM RESIDENTS
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Abstract:
Bonfim Paulista, Ribeirão Preto district, since the 1990s, experiences the construction of
several closed condominiums in the community. This change of style ends up reflecting
both the social dynamics and the linguistic habits of the region. Realizing the relevance of
social change, through the study of a socially overvalued variable phenomenon - third-
person verbal agreement of the plural -, the attitudes and linguistic evaluations associated
with the use of the phenomenon in the speech of the residents of the district and the
condominiums were analyzed . The main hypothesis of the study - which assumed that
different identities and social values directly influence attitudes, assessments and linguistic
uses, even if the groups share space in the same locality - has been proven.
Keywords: Language attitude. Social identities. Plural verbal agreement.
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