conferiu artisticidade a esses elementos sígnicos, os quais significam no jogo
imagético. Importa mencionar que a categoria arquitetônica, mobilizada por Bakhtin
(2010 [1930-1934]), advinda de Kant, em seus estudos sobre estética e literatura,
“está vinculada à completude integrante de um ser, ou se um objeto. Averiguar
um objeto em sua densidade arquitetônica é poder visualiza-lo como um todo,
tanto sua exterioridade quanto seus elementos internos” (SANTANA, 2018, p. 36).
Em relação ao célebre objeto pictural, de numeração 23, Aquellos polvos,
o pintor Francisco Goya expõe indignação e reprovação para com a ganância dos
inquisidores do seguinte modo: pinta um prisioneiro com as mãos atadas, e
cabeça baixa, como se estivesse em plena reverência a excelência católica, ou
como se este fosse um ato de autoculpa, na densidade do ter que revelar, ainda
que não haja nada a ser dito. Sentado em uma plataforma, de frente para o líder
religioso, além de estar perante a população (com algemas e amarraduras,
estando sua cabeça afundada no peito em símbolo de vergonha), o homem é
obrigado a ouvir a leitura de sua declaração/sentença.
Do púlpito para a presença de uma grande camada eclesiástica se
constrói um sentimento de pavor e tensão, na espera do que provavelmente
aconteceria: o castigo de declaração de morte, ao réu. Aquellos polvos (os pós),
traz semanticamente a ideia de que ele, o acusado, trouxe essa lama, ou seja,
trouxe o pó/lama – a sujeira de outra cultura, ou de outra prática que não fosse a
clerical.
Todos os signos representativos desta tela, Aquellos Polvos, são criados
e marcados pela função ideológica, e os sentidos se dão na multiplicidade
dialógica dos signos, os quais se tornam inseparáveis, na criação pictórica, em
resposta ao sistema social estabelecido pela inquisição. Todos os elementos,
como chapéu, maneira de estar sentado, o cenário, são pertencentes exatamente
a esta crítica, e não podem se separar do todo.
Embora existam signos ideológicos que jamais possam ser substituídos por
palavras, como uma sonata, cada um deles possui a palavra como apoio, como
se cada uma das palavras pudesse o acompanhar, e complementá-lo, ou até
mesmo traduzi-lo. Não há signo que, quando esteja compreendido e dotado de
sentido, permaneça isolado – separado dos demais. Ele torna-se parte de um