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O DIALOGISMO BAKHTINIANO E AS RELAÇÕES DISCURSIVAS DO
SUJEITO NA CIDADE
Bakhtinian dialogism and discursive relationships of the subject in the city
FELIPE CASADO DE LUCENA
1
RESUMO: Este artigo verifica os
discursos do sujeito no espaço urbano e
os seus sentidos à luz da compreensão
bakhtiniana de linguagem. Esta
abordagem leva em consideração os
pressupostos teóricos de Bakhtin a
respeito da produção da linguagem como
fenômeno socioideológico, construído
dialogicamente no decorrer da história.
Partindo da ideia de heterogeneidade da
linguagem em sua dimensão social
concreta, este artigo utiliza também
estudos organizados por Eni Orlandi a
respeito dos sentidos sociais públicos
urbanos. Como resultado deste trabalho,
observou-se que o sujeito apreende a
realidade urbana, da qual faz parte, a
partir de uma perspectiva imposta pelo
Estado regulamentador. Essa visão é
construída especialmente na escola
através do imaginário de sujeito e de
cidade homogêneos, o que exclui os
outros sujeitos e espaços que não fazem
parte dessa norma completa e
estabilizada.
PALAVRAS-CHAVE: Dialogismo.
Heterogeneidade. Discurso. Sujeito
urbano.
ABSTRACT: This article verifies the
subjects' discourses in urban space and
their senses in the light of Bakhtinian
comprehension of language. This
approach considers Bakhtin's studies on
the production of language as a socio-
ideological phenomenon, constructed
dialogically throughout history. Starting
from the idea of language heterogeneity
in its concrete social dimension, this study
also uses researches organized by Eni
Orlandi regarding the urban public social
meanings. As a result of this work, it was
observed that the subject perceives the
urban reality, of which he is part, from a
perspective imposed by the regulatory
state. This view is built especially in
school through the homogeneous subject
and city imaginary, which excludes other
subjects and spaces that are not part of
this complete and stabilized norm.
KEYWORDS: Dialogism. Heterogeneity.
Speech. Urban subject.
LUCENA, F. C. de. O dialogismo bakhtiniano e as relações discursivas do sujeito
na cidade. In. Revista Diálogos, v. 7, n. 3, out.-dez., 2019.
1
Professor do Curso de Letras da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e Professor de
Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (EBTT)do Instituto Federal de
Pernambuco (IFPE). Doutorando em Ciências da Linguagem (Unicap), possui mestrado em
Linguística (UFPE), especialização em Linguística aplicada à Língua Portuguesa
(Fafire), graduação em Letras Português /Inglês (Unicap) e Jornalismo (Unicap). Atua também
como consultor linguístico e revisor de textos.
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INTRODUÇÃO
De acordo com Brait (2005), em busca da compreensão das formas de
produção do sentido, da significação e do funcionamento discursivo, Bakhtin
contribuiu com uma nova perspectiva a respeito da linguagem humana a partir de
estudos que envolviam a sistematicidade do discurso cotidiano. Seu conceito de
linguagem está relacionado a uma visão de mundo que perpassa pela abordagem
linguístico-discursiva, pela teoria da literatura, pela filosofia, pela teologia, por uma
semiótica da cultura e por uma série de dimensões interligadas.
O pensamento bakhtiniano está voltado para as formas e os graus de
representação da heterogeneidade constitutiva da linguagem. Segundo Brait
(2005), Bakhtin preocupa-se com a dimensão histórico-ideológica e a
consequente constituição sígnica das ideologias; a natureza interdiscursiva, social
e interativa da palavra; a reflexão sobre os gêneros discursivos; e a
interdiscursividade como fator indispensável à linguagem.
O estudo sobre as condições de produção da linguagem e as suas
relações sociais não pode excluir a análise do espaço em que estão inseridos os
falantes, a cidade, onde há uma variedade de modos de falar e de linguagens, o
que reflete a diversidade da experiência social. A língua se constitui como um
produto inacabado, uma realidade em formação, já que:
Os indivíduos não recebem a língua pronta para ser usada, eles
penetram na corrente da comunicação verbal, ou melhor, somente
quando mergulham nessa corrente é que sua consciência
desperta e começa a operar. É apenas no processo de aquisição
de uma língua estrangeira que a consciência já constituída
graças à língua materna se confronta com uma língua toda
pronta, que lhe resta assimilar. Os sujeitos não adquirem a
língua materna; é nela e por meio dela que ocorre o primeiro
despertar da consciência. (BAKHTIN, 1992, p.108)
Partindo dessa ideia de língua como “corrente da comunicação verbal”,
repleta de constantes mudanças, este trabalho procura refletir sobre as relações
de causa e efeito entre o falante, a língua e a cidade construídas dialogicamente
em seus aspectos histórico, social e político.
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1. O DIALOGISMO BAKHTINIANO
O dialogismo é algo sempre presente na reflexão bakhtiniana. O termo
dialógico é categoria de análise tanto num texto verbal quanto num texto escrito.
A palavra do outro está sempre lá, podendo ser mais ou menos assimilada ou
escondida. As vozes são múltiplas num texto, e também são múltiplos os
momentos e as formas em que elas se fazem ouvir (CAMERINI, 2003).
Pode-se dizer que o dialogismo bakhtiniano é uma teoria da dialogização
interna do discurso, pois não significa o face a face conversacional do diálogo. No
princípio dialógico, não é a presença real e física de dois locutores e dois
enunciados que o compõem, mas sim a existência de duas ou mais vozes no
interior de um mesmo enunciado de um mesmo locutor. Essa relação dialógica
está presente até mesmo nas produções verbais profundamente monológicas.
Na realidade, não o palavras o que pronunciamos ou
escutamos, mas verdades ou mentiras, coisas boas ou más,
importantes ou triviais, agradáveis ou desagradáveis, etc. A
palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido
ideológico ou vivencial. (BAKHTIN, 1992, p. 95)
Segundo Barros (2005), duas noções de dialogismo de Bakhtin são
separadas para que se compreendam os estudos do discurso e do texto. A
primeira delas diz respeito ao diálogo entre interlocutores, que se relaciona
atualmente aos estudos sobre interação verbal e intersubjetividade. Consideram-
se alguns aspectos dessa concepção dialógica entre os interlocutores: a interação
é o princípio fundador da linguagem; o sentido do texto e a significação da palavra
dependem da relação entre sujeitos; e a intersubjetividade precede a
subjetividade. Além disso, para Bakhtin, dois tipos de sociabilidade: a relação
entre sujeitos e a dos sujeitos com a sociedade.
Ao considerar esses aspectos do dialogismo interacional, pode-se verificar
as contribuições de Bakhtin aos estudos da comunicação e da interação verbal.
Esta é estabelecida no centro das relações sociais. Segundo Bakhtin (apud
DAHLET, 2005, p.55), “toda a parte verbal de nosso comportamento (quer se trate
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de linguagem exterior ou interior) não pode, em nenhum caso, ser atribuída a um
sujeito individual considerado isoladamente”.
De acordo com Barros (2005), Bakhtin insiste na questão da variação
linguística, funcional, discursiva, facetas da heterologia ou pluridiscursividade, que
para ele são características do discurso. Ele se preocupa com a diversidade de
vozes, das línguas e dos tipos discursivos.
O termo heterologia, embora em princípio se aplique à diversidade
de tipos discursivos, é empregado, muitas vezes, nos escritos de
Bakhtin, para a diversidade em geral dos diferentes elementos
que caracterizam o discurso: de gênero (tipos discursivos), de
profissão, de camada social, de idade e de região (dialetos).
Todos esses elementos de variação devem ser considerados
quando se pensa em comunicação verbal entre seres humanos.
(BARROS, 2005, p.30/31)
Os estudos a respeito da interação verbal estão relacionados a uma
proposta mais “humanizante” da comunicação. Na perspectiva de Bakhtin, o
termo mais indicado seria “sociologizante”. É a partir dessa visão que se
fundamenta a segunda concepção de Bakhtin a respeito do dialogismo: o diálogo
entre discursos. Para ele, o discurso não é individual porque é construído pelo
menos por dois interlocutores, inseridos num âmbito social. É construído como um
diálogo entre discursos, já que mantém relações com outros discursos.
Três pontos devem ser esclarecidos: em primeiro lugar é preciso
observar que as relações do discurso com a enunciação, com o
contexto sócio-histórico ou com o “outro” são, para Bakhtin,
relações entre discursos-enunciados; o segundo esclarecimento é
o de que o dialogismo tal como foi concebido define o texto como
um “tecido de muitas vozes” ou de muitos textos ou discursos, que
se entrecruzam, se completam, respondem umas às outras ou
polemizam entre si no interior do texto; a terceira e última
observação é sobre o caráter ideológico dos discursos assim
definidos. (BARROS, 2005, p.33)
O dialogismo é uma interação constante entre os diversos discursos que
fazem parte de uma sociedade, uma comunidade, uma cultura. Na linguagem,
dialógica e complexa, as relações dialógicas dos discursos são expressas
historicamente através do seu uso. A palavra é sempre atravessada pela palavra
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do outro. O enunciador, quando constitui seu discurso, considera o discurso de
outrem, que está sempre presente no seu.
2. A LÍNGUA, O SUJEITO E A CIDADE
Ao se trabalhar a concepção dialógica da linguagem proposta por Bakhtin,
torna-se possível a compreensão acerca da construção de sentidos sociais
públicos urbanos. São diversas vozes em concorrência e sentidos em conflito.
Sendo assim, podem ser observadas as variadas formas de discursos presentes
nos centros urbanos e as relações de sentido que se estabelecem a partir deles.
Quanto ao espaço urbano, ele não é apenas físico, mas também
discursivo. Segundo Pfeiffer (2001, p.32), “é como um lugar atravessado pela
memória, atravessado por um conjunto de gestos de interpretação, é onde o
sujeito se inscreve historicamente, tomando sentidos”. Para Orlandi (2001), a
cidade é um espaço que significa e é significado, o que permite um
aprofundamento sobre a espacialização da linguagem e a simbolização do
urbano.
Porque vive na cidade, o sujeito tem certa memória, está filiado a alguns de
seus sentidos. Implicitamente tem sua significação urbana e assim age dentro
desse espaço significante, investido de sentidos de sujeitos que o produzidos
em uma memória. A linguagem, de acordo com Orlandi (2004), permite
compreender o funcionamento do urbano no espaço simbólico que é a cidade,
pois ela é repleta de discursos anteriores, carregados de sentidos sociais e
políticos. Enxergar o habitante da cidade como um sujeito significativo possibilita
verificar que através do sujeito o mundo faz sentido e que, dessa forma, a
linguagem se realiza como discurso.
Parte-se do princípio, então, que a cidade faz sentido no sujeito e, de
algum modo, afeta os sentidos de cidadania. Esse sentido de cidadania é
constituído dialogicamente, através do discurso, pelo cruzamento da história e a
forma como o social se significa nos sujeitos nos diversos sentidos da cidade. No
entanto, verifica-se a sobreposição de um discurso normatizador na cidade. Tal
discurso tenta silenciar outras formas de discursos.
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A materialidade simbólica da cidade é contida na / pela
urbanização. Há, assim, uma redução significativa da cidade e do
social ao urbanizado. A imagem que o sujeito-citadino tem da
cidade é atravessada pela discursividade urbanista que não deixa
trabalharem muitos dos sentidos que materializam política e
simbolicamente a cidade. (ORLANDI, 2004, p.64)
A imposição excessiva do discurso urbano, tal qual ele é pensado, abafa o
espaço real de significação da cidade, contribuindo com a sua segmentação.
Atualmente, nas grandes cidades, é possível identificar claramente a segregação
urbana. São territórios diferenciados, caracterizados por estruturas físicas e
sociais que compõem a sua história e refletem um conteúdo político, de luta pelo
espaço urbano. Para Rolnik (1995), a cidade é como um imenso quebra-cabeças,
constituído de peças diferenciadas, onde cada uma delas conhece seu lugar e se
sente estrangeira nos demais. É como se essas segmentações da cidade fossem
marcadas por fronteiras imaginárias, definindo, assim, o lugar de cada um.
Para Lagazzi-Rodrigues e Brito (2001), o sujeito pouco escolarizado que se
encontra na periferia está no limite entre o fora e o dentro. Ele encontra-se
distante não dos centros urbanos, mas também do centro de poder e decisão
políticos. As periferias sem nenhum tipo de saneamento básico são evidências
concretas da política discriminatória do poder público, grande responsável pela
segregação social.
Dentro de todo esse processo aparece a escola, como instituição, fazendo
parte da ordem de significação. Além de lugar de estabelecimento e
administração de sentidos para a cidade enquanto instituição, ela significa porque
faz parte da cidade e está carregada de sentidos de urbanidade. Segundo Orlandi
(2004), é um dos lugares em que a forma sujeito-histórica se configura como
forma sujeito urbana: o adulto letrado, cristão, é urbano como projeto.
Segundo Pfeiffer (2001), o processo de escolarização e o de urbanização
atuam como instrumentos, do Estado, de normatização, estabilização,
regulamentação dos sentidos do sujeito e dos sentidos para o sujeito ocupar a
cidade. A escola é um dos principais lugares onde se constrói a capacidade de
sociabilidade. Ela é responsável por criar uma unidade cívica através de uma
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diversidade cultural. A língua nacional é a língua cívica e as outras são da cultura,
que passa a ocupar um espaço de bipolaridade com civilidade.
Com o ensino da língua materna, uma tentativa do Estado de
homogeneizar sentidos, em prol do consenso. No entanto, essa atitude anula a
pluralidade de sentidos, produzindo na escrita a unidade consensual. Em virtude
disso, o sujeito brasileiro urbanizado se torna visível somente através da presença
ou da falta da escrita.
A escola produz uma ngua pronta para seus alunos assim
como uma cidade pronta. A escola se coloca na
responsabilidade de produzir a consciência da língua e da
cidadania no aluno que ainda se encontra como “cidadão e autor
em embrião”; entretanto, a escola trabalha no nível da
organização administrativa de um sujeito urbano escolarizado.
(PFEIFFER, 2001, p.31)
Ao trabalhar língua, sujeito e cidade de forma homogênea, outros sujeitos,
línguas e cidades que não se enquadram nas regras de determinação da língua e
do urbano permanecem invisíveis diante de suas formas. Os sentidos são
construídos a partir dessa visão uniforme da cidade, que silencia tudo aquilo que
não segue a norma.
Relações sociais são relações de sentido e estas estão, nessas
condições, já preenchidas pela sobredeterminação do urbano.
Não restam espaços vazios na cidade, sua realidade estando toda
ela preenchida pelo imaginário urbano. Os sentidos do “público” já
estão desde sempre suturados pelo urbano de tal modo que a
cidade é impedida de significar-se em seus não-sentidos, os que
estariam por vir, as novas formas de relações sociais, em nossos
termos, novas relações de sentidos. (ORLANDI, 2004, p.35)
A sociabilidade passa a ser policiada, controlada pelo urbano,
desconsiderando-se os sentidos próprios da cidade, que não fazem parte de um
plano projetado. Ainda segundo Orlandi (2004), a cidade tem variadas formas de
expressão, representadas através de corpos significativos como o rap, a poesia
urbana, a música, os grafitos, as pichações, as inscrições, os outdoors, os
painéis, as rodas de conversa, os vendedores de coisa-alguma. Todas essas
formas representam a forma material da cidade.
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diferentes textualizações do discurso urbano. O rap funciona
como flagrante, como lembrete. Tomado como instalação, ele é
uma modalidade narrativa urbana. Sítio de significação. Concreto.
Novo. Deslocamento da materialidade para o real concreto na
relação com o simbólico. (ORLANDI, 2001, p.11)
Ao analisar os sentidos da cidade, a pretensão é compreender o próprio
sujeito dentro de seu contexto social: o espaço urbano. A partir da relação entre
sujeitos e da relação dos sujeitos com a sociedade, compreende-se que a palavra
inconsciente, interior, é marcada pelo território social das ideologias.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da compreensão dos estudos de Bakhtin sobre a linguagem,
observa-se que o autor considera o dialogismo como o princípio constitutivo da
linguagem e como condição do sentido do discurso. Bakhtin considera, ainda, que
o discurso não é formado individualmente, pois ele é realizado ao menos por dois
interlocutores que sustentam relações com outros discursos. Sendo assim, a
linguagem é estritamente dialógica.
Quando se observa o discurso no âmbito da cidade, do espaço urbano,
deve-se considerar os princípios bakhtinianos de sociabilidade: a relação entre
sujeitos e a dos sujeitos com a sociedade. Dessa forma, o discurso da cidade é
caracterizado por relações de sentidos estabelecidas pelo processo de
significação do sujeito e do espaço urbano em seus aspectos sociais, históricos e
políticos.
Neste estudo, observou-se que o sujeito apreende a realidade urbana, da
qual faz parte, a partir de uma perspectiva imposta pelo Estado regulamentador.
Essa visão é construída especialmente na escola através do imaginário de sujeito
e de cidade homogêneos, o que exclui os outros sujeitos e espaços que não
fazem parte dessa norma completa e estabilizada.
Essas relações de sobreposição que envolvem língua e Estado, civilidade e
não civilidade, sujeito e espaço, escolarização e urbanização solidificam ainda
mais as segmentações sociais urbanas pois silenciam e interditam a visibilidade
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dos sujeitos menos escolarizados, que, avaliados no sentido espacial urbano,
estão à margem da sociedade, longe das decisões políticas do Estado.
Assim, para que a cidade signifique em seus não sentidos, devem ser
consideradas as variadas formas de espacialização da linguagem a fim de se
produzir outros tipos de relações com o espaço urbano, permitindo que o sujeito-
citadino alcance a imagem de uma cidade material.
Dessa maneira, compreender a diversidade de relações do sujeito com a
língua na cidade, as formas de representação e de transmissão do discurso, bem
como a condição social de suas variações, torna possível que a natureza do
fenômeno linguístico seja abordada em sua dimensão histórica, através de
questões específicas de interação, da compreensão e da significação,
trabalhadas discursivamente.
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