como exemplo, explicita que a forma do romance deve ser um grande diálogo de
um movimento em turbilhão:
Dostoievski teve a capacidade de auscultar relações dialógicas
em toda parte, em todas as manifestações de vida humana,
consciente e racional, onde começa a consciência, começa o
diálogo para ele. Apenas as relações puramente mecânicas não
são dialógicas, e Dostoievski negava-lhes categoricamente
importância para a compreensão e interpretação da vida e dos
atos do homem (sua luta contra o materialismo mecanicista, o
fisiologismo em moda e Claud Bernard, contra a teoria do meio,
etc.). Por isso, todas as relações entre as partes externas e
internas e os elementos do romance tem nele caráter dialógico;
ele construiu o todo romanesco como um “grande diálogo”. No
interior desse “grande diálogo” ecoam, iluminando-o e
condensando-o, os diálogos composicionalmente expressos das
personagens; por último, o dialogo se adentra no interior, em cada
palavras do romance, tornando-o bivocal, penetrando em cada
gesto, em cada movimento mimico da face do herói, tornando-o
intermitente e convulso; isto já é o microdiálogo, que determina as
particularidades do estilo literário de Dostoievski. (BAKHTIN,
1981, p.34)
Em uma tentativa de organizar o raciocínio, podemos afirmar que
incialmente, Bakhtin concebe a linguagem a ser representada na narrativa como
um sistema vivo e dinâmico, que produz e é produzida pelo confronto de
consciência, abstraída de percepções ideológicas presente na realidade. A
linguagem literária não é, pois, um sistema uno, mas a reunião de outras
“linguagens” artisticamente ativas; assim, “ainda que a linguagem literária seja,
em seu núcleo inicial, socialmente homogênea, como principal linguagem falada e
escrita por um grupo social dominante, ela conserva, apesar disso, a
diferenciação social significativa que está sempre presente” (BAKHTIN, 2010,
p.97). Diante do que se menciona, Bakhtin explicita sobre o plurilinguismo da
linguagem literária, que é capaz de concentrar outros gêneros pela sua natureza
dissimulada das representações, já que deforma parodicamente alguns pontos da
linguagem cotidiana e comum. Elegendo o romance como o gênero hibrido,
estrutura compósita de todos os outros, essa forma consegue fazer com que os
demais gêneros tornem-se objeto de sua reflexão transformando-as em uma
relação estilística pluralizada: “todos esses gêneros que entram no romance
introduzem nele as suas linguagens e, portanto, estratificam a sua unidade