OLDONI, C.; FREITAS, C. E. Em preto e branco: saudade e nostalgia nos gêneros
multimodais. Revista Diálogos (RevDia), “Edição comemorativa pelo Qualis B2”, v. 6,
n. 2, mai.-ago., 2018.
EM PRETO E BRANCO
Saudade e nostalgia nos gêneros multimodais
En blanco y negro: anhelo y nostalgia en los géneros multimodales
Cristiano Oldoni (UFFS)
1
Ernani César de Freitas (UPF)
2
1
Docente da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS); Doutorando em Letras
pela Universidade de Passo Fundo (UPF). cristianooldoni@gmail.com
2
Doutor em Letras (PUCRS), com pós-doutorado em Linguística Aplicada e Estudos da
Linguagem (PUCSP/LAEL); professor permanente do PPGL/UPF. ecesar@upf.br
RESUMO: A construção dos sentidos projetados pelos textos de gêneros multimodais
está intimamente relacionada com o reconhecimento dos sofisticados recursos e
associações intersemióticas mobilizadas na construção do texto. Nesses gêneros, a
compreensão da discursivização de elementos da memória humana a exemplo da
saudade e da nostalgia requer o resgate de projeções pontuais por meio de
procedimentos metodológicos específicos, como propomos neste breve estudo. Para
alcançar o objetivo de identificar a forma de semantização de tais elementos em
ocorrências discursivas intersemióticas, tendo o preto e branco como forma cromática
fundante da construção textual, temos como inspiração as contribuições de Lemke
(2010), Cope e Kalantzis (2000), Jankélévitch (1974) e Lourenço (1999), na base
teórica. A análise aponta para as decisivas colaborações que as intersemioses e a
forma cromática específica analisada dão para a concretude de determinados aspectos
da memória.
PALAVRAS-CHAVE: Gêneros multimodais; Preto e branco; Saudade; Nostalgia;
Sentido.
RESUMEN: La construcción de los sentidos diseñados por los textos de géneros
multimodales está estrechamente relacionada con el reconocimiento de los
sofisticados recursos y asociaciones intersemióticas utilizadas en la construcción del
texto. En eses géneros, la comprensión de la forma como se discursivizan los
elementos de la memoria humana a ejemplo del anhelo, de la nostalgia requiere el
rescate de proyecciones puntuales por medio de procedimientos específicos, como
proponemos en ese estudio. Para alcanzar el objetivo de identificar la forma de
semantización de los elementos citados en ocurrencias discursivas intersemióticas,
considerando el blanco y negro como forma cromática fundamental de la construcción
textual, tenemos como inspiración las contribuciones de Lemke (2010), Cope y
Kalantzis (2000), Jankélévitch (1974) y Lourenço (1999), en el basamento teórico. El
análisis apunta para las decisivas colaboraciones que las intersemioses y la forma
cromática específica analizada dan a la concreción de determinados aspectos de la
memoria.
PALABRAS CLAVE: Géneros multimodales; Blanco y negro; Anhelo; Nostalgia;
Sentido.
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O homem sentiu sempre e os poetas frequentemente cantaram o
poder fundador da palavra, que instaura uma realidade imaginária,
anima as coisas inerentes, faz ver o que ainda não existe, traz de volta
o que desapareceu. É por isso que tantas mitologias, tendo de explicar
que no início dos tempos alguma coisa pôde nascer do nada,
propuseram como princípio criador do mundo essa essência imaterial e
soberana, a Palavra. Não existe realmente poder mais alto, e todos os
poderes do homem, sem exceção, decorrem desse. (BENVENISTE, 1991)
É atraente a ideia de que, por meio do poder essencial da
linguagem, podemos instituir ou renovar a realidade, e, em especial,
fazer ressurgir tudo aquilo que houve, transcorreu, marcou a
trajetória de um povo ou mesmo possivelmente com o mesmo valor
algumas vivências particulares, de teor amplamente subjetivo.
Entretanto, se Benveniste (1991), na epígrafe deste texto, atribui à
palavra o absoluto poder de criação do mundo, as contemporâneas
técnicas e tecnologias que permitem a renovação e remodelagem dos
gêneros discursivos permitem-nos a inferência de que esse prestígio é
extensivo a outras mídias, como representações sígnicas imagéticas e
sonoras, difundidas e perpetuadas pelas intersemioses e pela
incontestável cibercultura.
Parece-nos, assim, incontestável a ideia de que a comunicação
contemporânea encontra sólidos recursos de semantização na
harmonização de planos de sentidos variados. Princípio constante dos
gêneros hipermodernos, essa multiplicidade mostra-se em elementos
como autorreferência, abundância de fontes nas construções
discursivas, alteridade de centros referenciais, além de mecanismos
absolutamente pontuais, como é o caso do emprego de formas
cromáticas na concretização da linguagem intersemiótica.
Nesse cenário específico, a construção de sentidos ultrapassa uma
percepção estética e vincula-se intimamente com uma ideia global de
integração em que são valorizados e enobrecidos fragmentos da
memória em sentido estrito de reminiscência, lembrança,
rememoração postos lado a lado com o presente vivido em inéditas e
incessantes construções perceptíveis a cada nova ação comunicativa. É
considerando essa perspectiva que, no presente artigo, temos como
questão norteadora o princípio de que por meio das associações de
planos variados, os mais plurais sentidos são construídos em gêneros
multimodais, inclusive na discursivização de elementos da memória,
como a saudade e a nostalgia. A partir dessas demarcações referenciais,
objetivamos identificar a forma de semantização de tais elementos em
ocorrências discursivas intersemióticas, tendo o preto e branco como
forma cromática fundante dessa construção.
O estudo aqui apresentado envolve pesquisa qualitativa com
abordagem bibliográfica na análise de corpora, composto por um
videoclipe musical, uma postagem em rede social e uma capa de revista
e aponta para as decisivas colaborações que as intersemioses e a forma
cromática específica que nos dispomos a analisar dão concretude a
determinados aspectos da memória. Por isso, o base de nossa
discussão as contribuições de Jankélévitch (1974) e Lourenço (1999)
acerca da saudade e da nostalgia; também representam forte inspiração
as considerações de Lemke (2010) e de Cope e Kalantzis (2000) sobre
multimodalidade.
Para dar forma à nossa proposta, estruturamos nosso estudo em
três seções. No primeiro bloco de discussão teórica, procuramos
caracterizar as práticas discursivas da alta modernidade por meio de
gêneros multimodais; na sequência, aludimos especificamente à
discursivização das sensações de saudade e nostalgia; na terceira
seção, colocamos em interface as considerações apontadas
anteriormente, demonstrando a construção de sentido das noções a que
a segunda seção alude em ocorrências intersemióticas, por meio de
análise do corpora.
2. GÊNEROS MULTIMODAIS: O DIZER DA ALTA MODERNIDADE
Cada vez mais, percebemos a pertinência e a relevância das
contribuições de Bakhtin (2011) para a apreensão dos processos
comunicativos contemporâneos. Se essa premissa valida a teoria dos
gêneros discursivos através das décadas, também avaliza o tratamento
das ocorrências de linguagem da alta modernidade por meio das
intersemioses como legítimos gêneros do discurso.
A riqueza e a diversidade dos gêneros do discurso são
infinitas porque são inesgotáveis as possibilidades da
multiforme atividade humana e porque em cada campo
dessa atividade é integral o repertório de gêneros do
discurso, que cresce e se diferencia à medida que se
desenvolve e se complexifica um determinado campo.
(BAKHTIN, 2011, p. 262).
A complexificação dos processos discursivos contemporâneos
em que texto verbal, sons e imagens (estáticas ou em movimento)
convivem em harmonia na projeção de sentidos trouxe consigo, em
caráter de exigência, uma comunicação que somente se torna eficaz nos
engendramentos de planos de sentido diversificados: as intersemioses
dão o tom do dizer, estimulam as possibilidades marginalizadas de
expressão e promovem a veiculação da multiplicidade cultural.
Vivemos uma época em que a comunicação face a face convive e
divide espaço com interação virtuais também reais, não deixemos
espaço outra interpretação e, desse modo, todas as representações
sígnicas da realidade, todas as semióticas e letramentos tornaram-se
multimidiáticos porque possuem em si, para produzir significados, uma
definida integração de códigos variados. O elo entre o sujeito e o mundo
são dinâmicas colaborativas que, agora, requerem o emprego e o
domínio de recursos de linguagem multimodais: estamos tratando dos
multiletramentos, capacidades de integração às práticas sociais por
meio da escrita, leitura e, especialmente, interação com (e por meio) de
linguagens híbridas e mestiças.
Sobre essas habilidades potenciais, Lemke (2010, p. 457)
enfatiza:
Um letramento é sempre um letramento em algum gênero
e deve ser definido com respeito aos sistemas sígnicos
empregados, às tecnologias materiais usadas e aos
contextos sociais de produção, circulação e uso de um
gênero particular. Podemos ser letrados em um gênero de
relato de pesquisa científica ou em um gênero de
apresentação de negócios. Em cada caso, as habilidades
de letramento específicas e as comunidades de
comunicação relevantes são muito diferentes.
Como práticas sociocomunicativas em esferas específicas de
atividade, os letramentos são, então, específicos em gêneros postos em
movimento a partir das necessidades de linguagem e interação. O que
não se pode, em hipótese alguma, é ignorar a premissa de que
multiletramentos estão relacionados com a multimodalidade semiótica,
cultural e com o atendimento às exigências do processamento
comunicativo da esfera a que se vincula.
As práticas de linguagem envolvem, então, a mobilização de
recursos semióticos pontuais de acordo com as necessidades
comunicativas do sujeitos em cada situação (COPE; KALANTZIS, 2008).
Posto que a realidade discursiva pressupõe, hoje, a harmonização de
planos de sentido diferentes na materialidade comunicativa,
automaticamente o foco que residia na linguagem verbal passa a ser
ampliado e volta-se para as intersemioses. Assim, mais que
complementação ou sobreposição, os sentidos veiculados pelos gêneros
multimodais em situações específicas de comunicação multiplicam-se
por meio das integrações e engendramentos dos variados planos
semióticos disponíveis e pertinentes: tais planos podem ser percebidos
como recursos culturais de geração de sentido.
Torna-se evidente, a partir disso, que a noção de texto também
entra em reconfiguração, uma vez que está longe de ser representada
apenas pela linguagem verbal escrita que, em si, possui arquitetura e
padrões específicos. Entretanto, essa constatação é tão evidente quanto
inquietante: discutir a insuficiência da linguagem verbal para a
apreensão global de sentidos dos textos de gêneros multimodais implica
a necessidade do reconhecimento das especificidades dos demais modos
semióticos mobilizados na materialização dos gêneros e, assim, os
desafios às competências discursivas dos sujeitos imersos nas práticas
comunicativas contemporâneas tornam-se ainda mais intensos. É o caso
do apreensão dos sentidos específicos projetados pelas formas
cromáticas, o preto e branco como conjunto, pontualmente na alusão à
saudade e à nostalgia, em especial do plano imagético da construção do
texto, mote da seção que apresentamos na sequência.
3. SAUDADE E NOSTALGIA: A REPETIÇÃO E A ATUALIZAÇÃO DO
DIZER
Tratar de percepções, sensações e sentimentos imprimindo ao
olhar um cunho científico é tarefa que exige de qualquer proposta trato
cuidadoso e rigor metodológico, para que não se especule no campo do
empirismo puro; ainda que essa linha possa parecer tênue e movediça,
a produção científica de novos conhecimentos exige o estabelecimento
de parâmetros e a fixação de algumas noções. Nesse sentido, dedicamos
espaço em nossa escrita a breves considerações que podem auxiliar na
construção conceitual de algumas noções situadas no campo recém-
descrito: aludir à ideia de “saudade” e “nostalgia” implica não somente
a apreensão de valores e significados, mas o entendimento da forma
como a discursivização de tais conceitos pode remeter a uma
elaboração mais sólida de visões do passado, atualizações do presente e
expectativas em relação às possibilidades de reviver experiências.
Em primeira instância, é interessante a reflexão que coloca
saudade e identidade em íntima relação. A vivência do sentimento é um
processo identitário: a um tempo sente-se e constrói-se uma história e
uma identidade, acordo entre a lembrança e sua própria atualização em
memória. Eduardo Lourenço, filósofo e ensaísta português, auxilia na
empreitada que é a semantização da saudade. Segundo ele, “a saudade
(que mais podia ser?) é apenas isto: a consciência da temporalidade
essencial de nossa existência. Consciência carnal, por assim dizer, e
não abstrata, acompanhada do sentimento sutil de sua irrealidade”.
(LOURENÇO, 1999a, p. 33). A racionalização da própria existência
humana, mensurando sua temporalidade e vinculando-a a uma
compreensão física, carnal, leva, consequentemente, à percepção do
processo de construção da identidade, subjetiva ou coletiva, na busca
da reconstrução da história e das influências geradas pela sua própria
atualização.
Entretanto, é o próprio estudioso que alerta: trazer o passado à
memória “[...] não é nunca um ato neutro, mas essa regressão
constitutiva da memória pode ser vivida apenas como simples alusão,
mero sinal endereçado aos acontecimentos ou aos sentimentos que
salpicam [...]”. (LOURENÇO, 1999b, p.13). As lembranças, as memórias
e a rememoração do que foi passam, assim, por um filtro
absolutamente permeado de individualidade, que não permite uma
alusão, de fato, ao que transcorreu, mas, de certa forma, às impressões
e sensações relacionadas aos acontecimentos. É esse lugar de quem vê e
reinterpreta a história que se torna uma espécie de marco para o
entendimento da ideia de nostalgia.
Quando a imaginação de centralidade e a referência das próprias
vivências atuais são transportadas para aquilo que se viveu como
forma de reverência, o que se percebe é a degradação do próprio
presente em relação à memória, à nostalgia que se cultiva em relação
ao passado. É dessa dinâmica que resulta a saudade, resultado de crises
contemporâneas de aceitação do atual. Em renomados estudos acerca
dos dilemas relacionados ao modo de ser do povo de Portugal, Eduardo
Lourenço expõe, dicotomicamente, grandeza e pequenez construídas a
partir do imaginário dos portugueses, dando espaço à sua insistência
em uma identidade irreal; a partir desse panorama, justificam-se os
mitos pesarosos em torno de uma suposta realidade de honra, glória e
coragem que, na verdade, o passa de ficção. Esse cenário permite e
elucida, a priori, a constatação de que a literatura foi, com o decorrer
dos séculos, o grande arquivo da necessidade de imaginação e nutrição
dos mitos. A palavra ficcional, artisticamente trabalhada, hoje, divide
espaço com renovadas mídias e modalidades de projeção de sentidos
que compartilham a tarefa de guardar e perpetuar o vivido talvez na
expectativa de que esse atual torne-se, no futuro, objeto sensível de
lembrança, rememoração e saudade.
Parece claro que o surgimento da nostalgia é movido pela
disjunção temporal entre o que se vive e o já vivido, rememorado com a
dor da distância e com a ânsia do reviver as mesmas experiências. A
nostalgia alimenta a ideia de possibilidade de retorno ao passado para
revivê-lo, por isso, mais que conservador, o nostálgico é a um
reacionário: reage à irreversibilidade do tempo. Parece pertinente,
então, observarmos que
[...] a nostalgia, sendo forma de fuga (escape) e corte do
real, embeleza e suaviza o passado, pura e simplesmente.
[...] Tudo o que passou é irremediavelmente belo: a velha
canção, o relógio clássico, os brinquedos de antigamente,
o velho álbum de família, o retrato da mãe ainda moça
com roupa de domingo... Esse tempo aparentemente
reencontrado é na verdade manipulado para que se
esqueça o presente. (HOSOKAWA, 1994, p. 96).
Entretanto, a dor e o pesar desse sentimento não aludem apenas
ao encobrimento da realidade por uma mistificação do passado,
mascarando suas crises e conflitos. Existem, indubitavelmente, âncoras
para sua recorrência: a nostalgia é provida de motivos e pontualmente
determinada. Não apenas o distanciamento, no tempo e no espaço,
daquilo que é dolorosamente lembrado justifica o sentimento, a
sensação, mas também, e principalmente, a consciência humana sobre a
própria finitude. Nossa humanidade envolve nossa própria condenação,
a de um permanente estar aqui, em um interminável agora. De acordo
com Jankélévitch (1974, p. 346), essa nostalgia
[...] é uma melancolia humana tornada possível pela
consciência, que é a consciência de alguma outra coisa,
consciência de um outro lugar, consciência de um
contraste entre passado e presente, entre presente e
futuro. [...] A nostalgia é ao mesmo tempo aqui e lá, nem
aqui nem lá, presente e ausente.
E essa mesma consciência, relacionada à dor do regresso
impossível ao passado mas de justificado desejo , desvela a
impossibilidade do retorno e produz, como consequência, a melancolia,
processo em que a aceitação da perda e o desligamento não se efetivam,
movimento potencialmente infinito que pressupõe a ideia de
encerramento de ações no passado. Se admitimos que esse mesmo
passado somente pode ser referido, lembrado, rememorado a partir de
seu próprio acabamento, aceitamos também que, a partir do arremate,
do encerramento do que já ocorreu, a vida e as pessoas em sua
própria prática existencial mudam invariavelmente e o retorno é,
então, impossível. Qualquer tentativa de regresso converte-se em nova
partida, nova empreitada, nova experiência.
Saudade e nostalgia pressupõem a reconfiguração e a reinvenção
do já vivido, são agência, são obra sem acabamento definitivo, em que a
ilusão sempre persiste. No entanto, alguns traços permitem uma sutil
diferenciação entre esses conceitos: como melancolia inquietantemente
feliz, a saudade não reporta e o remete à dificuldade de completar o
processo da perda e à necessidade do retorno ao que passou,
peculiaridades da nostalgia que, em geral, demonstra-se como
experiência em geral fracassada de recuperação do passado.
Assim, nessa relação do sujeito com a memória em que o passado
sempre está em cena, as possibilidades de seu reuso são reiteradas e
delineamentos nostálgicos fazem-se presentes. A nostalgia tem reflexo,
nesse exercício de recuperação do vivido, em traços semióticos
variados que remetem a um discurso de permanente reiteração, de
constante atualização do dizer ou mesmo de tentativa de repetição,
ainda que frustrada. É justamente essa a dinâmica que resgatamos na
seção que segue, quando procedemos com o resgate das manifestações
de saudade e nostalgia em gêneros multimodais contemporâneos.
4. EM PRETO E BRANCO, A REVERÊNCIA À SAUDADE E À
NOSTALGIA
Para exploração analítica do cenário exposto anteriormente,
adotamos como metodologia deste estudo a identificação de seus
tópicos semantizadores
3
(OLDONI, 2015) na reconstrução exploratória
do sentido dos textos de gênero multimodal que nos servem de corpora,
a saber, videoclipe musical, foto legendada em rede social e capa de
revista. Elementos indispensáveis à leitura da multimodalidade e à
construção real de sentidos dos mais variados gêneros, os tópicos
semantizadores funcionam como roteirizadores da semantização, em
que alguns itens tornam-se pontos aglutinadores de sentidos a serem
resgatados. A partir de tal procedimento, no âmbito da análise das
intersemioses e da manifestação da saudade e da nostalgia, procedemos
com o levantamento de fatores nodais do resgate de sentido na
materialidade em questão. Os princípios e elementos levantados com a
análise permitirão nossas conclusões a respeito das alusões à saudade e
à nostalgia em gêneros multimodais contemporâneos. Tais
características serão retomadas e aglutinadas ao final da análise.
Para início de nossas considerações pontuais, reproduzimos, por
meio da Figura 1 e como forma de elucidação, uma captura de tela
representativa de um quadro do videoclipe Cheap Thrills, da cantora
australiana Sia.
Figura 1. Alusão ao videoclipe musical Cheap Thrills
3
A noção de “tópico semantizador” foi por nós proposta e explorada em trabalho
anterior, intitulado “Textos e imagens em cena: o sentido nos gêneros multimodais”, e
demonstra-se, conforme entendemos, suficientemente produtiva para a análise aqui
empreendida. Além disso, essa noção é ponto nevrálgico para nossa Tese de
Doutoramento, da qual este artigo é parte preliminar e integrante.
Fonte: YouTube (2017)
A dinâmica de resgate de sentidos projetados por um texto
multimodal é possível por meio da leitura da globalidade dos signos
que o compõem. A partir dessa premissa, aceitamos que, além de
sentidos, compreendidos, analisados e percebidos, palavras, imagens e
sons podem também ser lidos. E essa leitura implica, necessariamente,
interação. Conforme é perceptível, cada vez mais a ideia de
multiplicidade mostra-se atual e pertinente. Além de estar presente
quando nos referimos a fontes, fragmentos, culturas e plataformas,
também está relacionada com a pluralidade do universo de signos que
dão sua parcela de contribuição à linguagem multimodal. Assim, a
partir dos pressupostos metodológicos que propusemos no início desta
seção, é conveniente que abordemos, para a exploração do videoclipe
aqui enfocado, sua esfera de comunicação específica. O videoclipe
musical Cheap Thrills está disponibilizado ao público no site de
compartilhamento de vídeos YouTube e alcançou impressionantes 1
bilhão de visualizações
4
. Dessa maneira, os assinantes do site e
espectadores do vídeo leitores desse texto configuram-se como um
público específico, possivelmente interessados em tal leitura
4
Número de visualizações do videoclipe até o momento da escrita deste artigo. Essa
abrangência justifica, inclusive, sua escolha para constituição do corpora do estudo.
relacionada ao domínio do entretenimento, como esfera específica de
comunicação.
Em íntima relação com tal esfera de comunicação, veiculam-se e
colocam-se em movimento discursivo determinados aspectos
axiológicos construídos com a leitura. Nessa atribuição de valores do
discurso por meio do gênero em análise, consideramos plausível que o
resgate de seus tópicos aconteça em comunhão com a exploração dos
recursos de /Engendramento semiótico/ que promovem a
multimodalidade e revelam interessantes elementos referentes ao mote
sobre o qual nos dispusemos a refletir, saudade e nostalgia.
As /Harmonizações de planos de sentido variados/ envolvendo
texto verbal, sons e imagens estáticas e em movimento são
constituintes naturais e elementos centrais da textualidade em questão
e não concebemos seu isolamento para análise, embora algumas
significações possam ser resgatadas especificamente, conforme
veremos ainda nesta seção.
Preliminarmente, é necessário que atentemos para a premissa de
que, no resgate do sentido global do gênero em análise, alguns aspectos
oferecem atrativos bastante pontuais: é o caso do /Deslocamento
temporal/
5
para o balizamento da enunciação interna do filme na
década de 1960, em que existe a /Reconstrução/ de um típico concurso
de dança televisionado da época. Tal tipicidade é amplamente marcada
por detalhes que estimulam a /Ambientação/ do centro discursivo em
outro tempo, em outra época, em que, por exemplo, a focalização das
próprias imagens é apresentada como a de televisores antigos, com
arredondamento nos cantos, e o som apresenta ruídos característicos.
Outros pontos também chamam a atenção do leitor-espectador na
/Reutilização/ do programa de televisão retrô: reprodução de figurino,
penteados, ambiente de estúdio, presença de câmeras para suposta
5
Entre barras, destacamos os tópicos semantizadores”, pontos centrais da
construção de sentidos.
transmissão do concurso como réplicas da TV dos anos 1960,
microfones, apresentador, auditório, disco de vinil, legendas ao da
tela, entre tantos outros. É relevante também a entrevista com uma
participante da plateia, o que antecede o início da canção: nesse
momento, expectativa, apreensão, nervosismo e deslumbramento das
pessoas presentes o retratados e são verbalizados plenos elogios à
canção que será apresentada na sequência do concurso. A partir daí,
extensos e silenciosos sete segundos de aguardo entre o anúncio do
apresentador e o início da música ajudam na /Recomposição/ de uma
cena de menor rigor no controle do tempo de televisionamento do
espetáculo, hoje tão fugaz e dinâmico.
Com atraente sonoridade tropical, em cena, casais dançam
aleatoriamente até o momento em que surge no palco um casal com
perucas metade brancas e metade pretas característica de referência
à artista australiana Sia , trazendo um tom divertido ao concurso, uma
vez que os passos de dança desse casal são atípicos para a época de
ambientação, mais irreverentes e arrojados. Tal aclimatação está em
íntima harmonização e cabal engendramento com o texto verbal da
canção, que alude à preparação para a diversão proporcionada pelo
momento da dança, pelo sentimento da música e pela completude
trazida por essas sensações, independentemente de outros obstáculos e
dificuldades impostos pela própria realidade.
A espécie de brincadeira com a mecanização que, hoje,
percebemos na dança dos anos 1960 propõe uma dupla interpretação:
por um lado, vê-se a /Dicotomia entre passado e presente/, em que os
dois momentos colocam-se como absolutamente diferenciáveis; por
outro lado, a /Interface de temporalidades diferentes/ ressalta a
universalidade da música especialmente a da artista Sia e sua
capacidade de envolver as pessoas. Definitivamente, como afirma
Jankélévitch (1974, p. 346) que, aliás, citamos neste estudo , a
nostalgia caracteriza-se por ser, “[...] ao mesmo tempo aqui e lá, nem
aqui nem lá, presente e ausente”.
Ainda que a presença de elementos do presente, como os
dançarinos com perucas brancas e pretas, em outra temporalidade
represente que a canção seja capaz de romper a /Linearidade do
tempo/, o /Reuso/ desse passado enfatiza a /Presença constante da
saudade/ no imaginário popular, especialmente se considerarmos que
Cheap Thrills não é somente o título atribuído à canção de Sia, mas
também, e primeiramente, o segundo álbum da banda Big Brother and
the Holding Company, lançado em 1968, último álbum de Janis
Joplin como vocalista dessa banda. O videoclipe torna-se, então, uma
/Saudação/, uma /Reverência/ a uma época marcante, a qual
literalmente, por meio do filme, tenta-se /Vivenciar novamente/.
Em última instância, damos destaque, no plano imagético, à
utilização do /Preto e branco/ como forma cromática da saudade e da
nostalgia: na situação comunicativa específica em que é veiculado o
videoclipe, essa é uma forma que converge decisivamente para a
eficácia do processo comunicativo (COPE; KALANTZIS, 2008). O
emprego da cromatização em preto e branco (ou escala de cinza)
também merece destaque em várias postagens em redes sociais,
atualmente, como referência ao passado. Selecionamos, para compor
nosso corpora, aleatoriamente, uma dessas postagens, representada por
meio da Figura 2, reproduzida a seguir.
Figura 2. Captura de tela Aplicativo de Rede Social Instagram para smartphone
6
6
Propositalmente, omitimos, na captura de tela, o nome do usuário da rede social. A
imagem que nos serve para análise foi localizada e selecionada para o presente estudo
utilizando, no campo “Busca” da rede social Instagram, a hashtag “nostalgia”
(#nostalgia). Hashtags são palavras, ou um conjunto delas, antecedidas do sinal
cerquilha (#) que, em redes sociais, transformam-se em links dentro da web,
facilitando a busca de tópicos de discussão e agrupando informações. Clicando em
alguma hashtag, o usuário tem acesso a toda discussão gerada e informações reunidas
com o mesmo assunto, indexadas no momento da postagem.
Fonte: Instagram (2017)
Como gênero recorrente e altamente presente na alta
modernidade, as postagens em redes sociais representam,
indiscutivelmente, novas formas de dizer, de mobilizar discursos e
promover a comunicação. Nessas situações específicas de uso da
linguagem, conteúdo, construção composicional e estilo o aspectos
característicos que dão forma aos enunciados e permitem a interação
(BAKHTIN, 2011) e a multiplicidade semiótica (LEMKE, 2010)
corrobora de maneira decisiva para sua materialização textual. A esfera
pontual de atividade também permite-se flexibilizar para a
manifestação de variados sentimentos, inclusive saudade e nostalgia,
que ora nos dispusemos a analisar.
Ainda que a utilização da hashtag “nostalgia” (#nostalgia) tenha
permitido a localização, leitura e encontro com o texto em questão, não
somente esse recurso verbal (pelo menos não isoladamente) permite a
relação da postagem com as ideias centrais que analisamos. É a
associação do índice de texto verbal com os demais elementos da
postagem que permitem a /Mobilização do vivido/ pelo viés da
saudade.
A imagem postada é uma maneira de citar diretamente o passado:
em 1990, o filme “Esqueceram de mim” foi sucesso de bilheteria,
alcançando enorme público e conferindo ao então menino Macaulay
Culkin, protagonista da produção cinematográfica, fama mundial. A
relação entre a imagem da personagem e o enredo é praticamente
automática para a audiência que teve contato com o filme. Para
retomar esse enredo, de maneira absolutamente breve: trata-se de um
menino de oito anos que é esquecido em casa pela família durante as
férias, no Natal; Kevin McCallister (personagem de Macaulay Culkin)
-se obrigado a tornar-se, de uma hora para outra, o responsável pela
casa. Desajeitado e tímido, ele procura resolver todos os problemas que
surgem, enfrentado, inclusive, os ladrões que entram em sua casa. A
comédia leve e envolvente marcou de forma tão profunda a época e o
público que, passados vinte e sete anos, ainda é referência. O usuário
do Instagram, por meio de sua postagem, exprime seus desejos de final
de ano à moda do personagem do filme: “Feliz Natal, animal imundo”
(em tradução nossa), fala cômica, irônica e, hoje, icônica da
personagem principal dirigida a um dos ladrões que invadem seu lar.
Tal /Remissão/ coloca em total sintonia os planos verbal e imagético (o
personagem e sua fala) na harmonização semiótica para construção do
gênero postagem em rede social.
O interessante, aqui, é observarmos como o signo complexo
representado na Figura 2 remete ao passado, nostalgicamente. O agora,
como centro discursivo, tem o /Passado como referência substitutiva do
dizer/. O /Resgate/, no presente, daquilo que marcou o vivido e ainda
faz parte de sensações e vivências é uma concreta /Recorrência à
memória/ e a postagem converte-se em um renascer, uma tentativa de
reviver, /Dizer de novo/ tudo que significou, agora com outros
valores, carregados de marcas deixadas pela própria história. Mesmo
encerrado, o passado ainda é reportado como parâmetro de menção.
Assim como na Figura 1, o preto e branco na construção do gênero
multimodal postagem em rede social (Figura 2) torna-se elemento
fundante do /Reaproveitamento/ de experiências de outra época. Essa
mesma dinâmica é perceptível na capa de revista apresentada na Figura
3.
Figura 3. Capa da Revista Veja, Edição 2554, de 1º de novembro de 2017
Fonte: Veja (2017)
Comunicar especificamente por meio de uma capa de revista
exige a mobilização de sofisticados recursos o apenas
intersemióticos, mas também de alusão a um prisma da realidade que
pode ser atrativo ao público pretendido, ao leitor em potencial. A
Revista Veja, talvez até mesmo por sua periodicidade semanal, chama a
atenção de seus leitores, em suas chamadas de capa, para tópicos
temáticos atuais e de destaque dos dias anteriores à publicação de cada
edição (física ou digital). O recurso de que se lança mão na Edição
2554, de de novembro de 2017, surpreende (por isso sua escolha
para análise) e, dentro dos balizamentos recém-citados, traz uma
imagem em preto e branco, explicitamente em /Reaproveitamento/ de
publicação de tempos passados; a própria legenda da imagem de capa,
no desenvolvimento da reportagem, esclarece que se trata de um
anúncio de uma companhia elétrica da década de 1960, vislumbrando a
chegada do carro autônomo. Não se trata, entretanto, apenas de uma
inocente reutilização: o que se reaproveita é o dizer, a promessa de
esperança do passado, que, depois de meio século, ainda o teve
efetivação.
Nesse sentido, a /Renovação do passado/ torna-se clara e
pertinente possibilidade do dizer atualizado em campo determinado de
comunicação. Se, na capa de revista em análise, a ambientação com
carros típicos dos anos 60, as feições, os penteados, as vestimentas, a
postura e ações das pessoas retratadas remetem a um balizamento
referencial de realidade hoje absolutamente incompatível com novas
vivências, a /Revalidação para um novo real/ consolida-se com
legitimidade e autenticidade, uma vez que os elementos listados estão a
serviço de um discurso que somente significa em correferência com o
próprio passado.
Inaugura-se, desse modo, uma inédita categoria de /Consumo da
memória/, em que, além de mobilizar-se o presente, coloca-se em cena
passado e futuro. Assim, a /Consciência da finitude/, como alertaria
Lourenço (1999a), a um tempo, viabiliza e estimula a /Reaplicação/ do
visto, a /Reinvenção/ do sentido, e a /Revalorização/ do
experimentado.
Independentemente do gênero que materialidade ao dizer, seja
ele um videoclipe musical, uma postagem em rede social ou uma capa
de revista, é inevitável e nem desejar-se-ia o contrário a
mobilização das sensações em espaço aberto pela memória.
Estamos cientes de que as considerações aqui expostas
representam apenas uma dentre as produtivas possibilidades de
construção de sentidos da multimodalidade discursiva: resgatar os
pontos principais da semantização de gêneros requer a observação
atenta e a leitura colaborativa, em uma efetiva dinâmica de troca e
interação. Assim, como forma de sistematização, apresentamos o
Quadro 1, que aglutina os pontos nevrálgicos do resgate de sentidos do
corpora e permite sua apreensão global.
Quadro 1. Tópicos semantizadores do corpora, gêneros multimodais baseados no
preto e branco como forma cromática alusiva à saudade e à nostalgia
Tópicos Semantizadores
/Engendramento
semiótico/;
/Harmonizações de
planos de sentido
variados/;
/Deslocamento
temporal/;
/Reconstrução/;
/Ambientação/;
/Reutilização/;
/Recomposição/;
/Dicotomia entre passado
e presente/;
/Interface de
temporalidades
diferentes/;
/Linearidade do tempo/;
/Reuso/;
/Presença constante da
saudade/;
/Saudação/;
/Reverência/;
/Vivenciar novamente/;
/Preto e branco/;
/Mobilização do já
vivido/;
/Remissão/;
/Passado como referência
substitutiva do dizer/;
/Resgate/;
/Recorrência à
memória/;
/Dizer de novo/;
/Reaproveitamento/;
/Renovação do passado/;
/Revalidação para um
novo real/;
/Consumo da memória/;
/Consciência da
finitude/;
/Reaplicação/;
/Reinvenção/;
/Revalorização/.
Fonte: Elaborado pelos autores
A competência discursiva que permite a mobilização de
suficientes recursos para resgate dos tópicos recém-citados perpassa,
obrigatoriamente, uma leitura global dos gêneros do corpora, e,
estamos convictos, de qualquer materialidade discursiva que envolva os
sofisticados engendramentos intersemióticos. A construção de sentidos
não depende exclusivamente de percepções subjetivas, mas de
sugestões e roteiros de leitura propostos pelas próprias circunstâncias
de viabilização do gênero em análise e das permissões de balizamento
referencial dadas pela concretude linguístico-discursiva. A um tempo, a
alta modernidade estimula e exige processos comunicacionais plurais,
no que tange às intersemioses e às harmonizações de planos de
sentidos. A vida, a realidade, a linguagem, os discursos são múltiplos, e,
acompanhando esse movimento, o leitor intensa e permanentemente
envolvido em processos discursivos também deve ser.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A mobilização de recursos da memória, pudemos perceber,
envolve processos não apenas complexos e sofisticados, mas
especialmente mecanismos de discursivização particularmente
sofisticados, como é o caso das formas cromáticas em preto e branco.
Dentre tais mecanismos, ganham destaque os engendramentos de
semioses, planos sígnicos diversificados e multiplicados na
harmonização de sentidos projetados.
Neste breve estudo, orientamo-nos pelo princípio de que as
associações de sentidos nos gêneros multimodais, a partir de variados
planos de sentido, promovem múltiplos sentidos, inclusive quando se
trata de motes melindrosos e pormenorizados, como no caso do
envolvimento da memória na construção das noções de saudade e de
nostalgia. Identificamos, a partir de nossa premissa, como esses
elementos permitem-se semantizar na concretude discursiva
intersemiótica tendo o preto e branco como forma cromática fundante
dessa construção.
A partir desses resultados, que consideramos satisfatórios para
um estudo dessa extensão, permitimo-nos lograr além das inspirações
para próximos empreendimentos de análise específicas três
inferências. A primeira delas está vinculada ao caminho que
percorremos neste estudo, abordando com ênfase um dos elementos da
discursivização da memória humana: essa trajetória demonstra que
aludir a sentimentos, sensações e percepções subjetivas é uma
dinâmica complexa que representa a real preservação do que já se
viveu e converte-se em referência vívida e decisiva para o presente,
merecendo revalorização, reemprego, rediscursivização.
Nossa segunda inferência surge da percepção de que é cada vez
mais evidente a necessidade de emprego de procedimentos
metodológicos eficazes na análise científica de corpus para a produção
de conhecimentos. Nesse sentido, os Tópicos Semantizadores que temos
utilizado como instrumento epistemológico demonstram, a cada nova
aplicação, sua efetiva produtividade no resgate de sentidos globais de
textos intersemióticos, viabilizando a semantização de gêneros de
natureza multimodal: os tópicos semantizadores são uma real
possibilidade para contemplação dos sentidos desses novos gêneros,
práticas e procedimentos discursivos.
E, por fim, nossa terceira inferência, que é uma decorrência
direta da anterior: ainda que a ênfase, neste artigo, tenha sido dada à
forma cromática na materialização do gênero em que o uso do preto e
braço demonstrou-se refinado e pertinente mecanismo sígnico de
atribuição de significado, sentido e valor ao texto , a apreensão da
multimodalidade discursiva somente se dá no reconhecimento do
sentido a partir das associações de planos de sentido e dos
engendramentos semióticos mobilizados no uso interativo da linguagem
em determinadas situações específicas de comunicação.
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