que um condutor da narrativa por um narrador em primeira pessoa implica
obrigatoriamente sua categorização como uma personagem envolvida com os fatos que
estão sendo narrados:
A condução da narrativa por um narrador em primeira pessoa implica,
necessariamente, a sua condição de personagem envolvida com os
acontecimentos que estão sendo narrados. Por esse processo, os recursos
selecionados pelo escritor para descrever, definir, construir os seres
fictícios que dão a impressão de vida chegam diretamente ao leitor
através de uma personagem (BRAIT, 2017, p. 83).
A partir das explicações da crítica, percebe-se que o narrador em primeira pessoa é
aquele que vive as ações ocorridas no texto e, ao mesmo tempo, cumpre o papel de contar
o que viveu nessa história. Por sua vez, o narrador em terceira pessoa é visto por Brait
(2017) como uma câmera privilegidada, a qual “ simula um registro contínuo, focalizando
a personagem nos momentos precisos que interessam ao andamento da história e à
materialização dos seres que a vivem” (BRAIT, 2017, p. 77). Assim, para a estudiosa, o
narrador em terceira pessoa é aquele que não vivencia a história, mas sim um elemento
que, do lado de fora dos acontecimentos, observa tudo o que acontece e narra os fatos
como se estivesse distante das personagens. Enfim, apenas observa e narra os fatos como
ações, tempo e espaço.
A personagem de teleficção, por sua vez, apresenta uma forma característica de
análise que a difere do romance ou do conto. Prado (2014), ao analisar a personagem de
teatro, aponta relações de aproximação entre a peça e o romance: “ambas, em suas formas
habituais, narram uma história, contam alguma coisa que supostamente aconteceu em
algum lugar, em algum tempo, a um certo número de pessoas” (PRADO, 2014, p. 83). Ao
comparar as personagens dos dois gêneros, o autor assevera que no teatro, a personagem
constitui a totalidade da obra, uma vez que nada existe, a não ser por intermédio delas.
Para Cristina Costa (2000, p.158), são bastante perceptíveis as relações estruturais
que ocorrem entre a telenovela e o teatro. A estrutura narrativa é essencialmente
dramatúrgica – a divisão dos capítulos em blocos, em cenas, a narrativa tendo por base
cenários internos ou sets, a ênfase no desenvolvimento psicológico das personagens como
base da interpretação evidenciam nítida influência das artes cênicas (COSTA, 2001, p.
159). Por esse motivo, é perfeitamente possível aproximar a categorização da personagem
de teatro proposta por Prado ao gênero telenovela.