e superdestinatário. O destinatário é participante ativo de toda
enunciação, sua força varia de acordo com a composição e o estilo do
enunciado (BAKHTIN, 2015). A situação da enunciação e a identificação
dos interlocutores a quem ela se dirige determinam as dimensões e as
formas de cada enunciação. Conforme Bakhtin/Volochínov (2014, p.
129), “a situação e o auditório obrigam o discurso interior a realizar-se
em uma expressão exterior definida, que se insere diretamente no
contexto não verbalizado da vida corrente, e nele se amplia pela ação,
pelo gesto ou pela resposta verbal dos outros participantes na situação
de enunciação”. Isto é, a enunciação depende de uma série de fatores
que são determinantes na forma e no sentido das palavras e,
consequentemente, na enunciação.
Nas palavras de Bakhtin (2015, p. 333), “todo enunciado tem
sempre um destinatário (de índole variada, graus variados de
proximidade, de concretude, de compreensibilidade, etc)”, e um
superdestinatário. Sobre essa noção, Morson e Emerson (2008, p. 151)
explicam que
[...] o superdestinatário pode ser e tem sido personificado
em “várias expressões ideológicas (Deus, verdade
absoluta, o tribunal da consciência humana imparcial, as
pessoas, o tribunal da história, a ciência, etc). Mas
embora essas expressões ideológicas sejam projetadas,
importa não confundi-las com o próprio
superdestinatário, que é, estritamente falando, um fato
constitutivo, não ideológico, mas metalinguístico, de
todos os enunciados. Culturas, subculturas e indivíduos
podem mudar a sua imagem do ouvinte idealmente
responsivo, ou podem não ter nenhuma imagem concreta
e geralmente partilhada, mas seus enunciados ainda
presumem essa “terceira parte”. Deus pode estar morto,
mas de certa forma o superdestinatário está sempre
conosco.
É importante considerar que o superdestinatário, o “grande
Outro” integra o discurso tanto quanto o destinatário. Nas palavras de
Bakhtin (2015, p. 333), “em diferentes épocas e sob diferentes
concepções de mundo, esse superdestinatário e sua compreensão