Cada enunciado é pleno de ecos e ressonâncias de outros
enunciados com os quais está ligado pela identidade da esfera de
comunicação discursiva. Cada enunciado deve ser visto antes de
tudo como uma resposta aos enunciados precedentes de um
determinado campo (aqui concebemos a palavra “resposta” em
sentido amplo): ela os rejeita, confirma, completa, baseia-se neles,
subentende-os como conhecidos, de certo modo os leva em
conta. Porque o enunciado ocupa uma posição definida em uma
dada esfera da comunicação [...]. É impossível alguém definir sua
posição sem correlacioná-la com outras posições. Por isso, cada
enunciado é pleno de variadas atitudes responsivas a outros
enunciados de dada esfera da comunicação discursiva.
Assim, para compreender o enunciado como um elo é necessário
relembrar que “é impossível uma compreensão sem avaliação” (BAKHTIN, 2003,
p.378). O que significa dizer que a compreensão é uma resposta ativa e
responsável em relação ao meu outro e que sua compreensão não deve se limitar
ao tempo presente porque “tudo o que pertence apenas ao presente morre
juntamente com ele” (idem, p. 263). Por isso, para compreender os enunciados
concretos é necessário ir além do presente, e também não se limitar ao passado
ou futuro imediatos, é no grande tempo que Bakhtin vê a possibilidade de
compreender a historicidade dos sentidos que são discursivamente construídos,
materializados e compartilhados. A compreensão também requer distanciamento,
pois “a distância é a alavanca mais poderosa da compreensão” (BAKHTIN, 2003,
p. 366). Esse distanciamento permite confronto de sentidos e revela, mais uma
vez, a importância da exotopia, que significa também não calar a voz do sujeito
que compreende. Assim, compreender no ato de pesquisa
implica em uma tomada de posição do sujeito cognoscente sobre
o dizer do cognoscível, apontando para uma visão não ingênua do
que seja dialogar com os dados, no caso, os enunciados que vão
se tornar objeto de análise. (OLIVEIRA, 2012, p.278)
Quando essa interação entre o pesquisador e seu outro se realiza, com o
sujeito cognoscível dando-se a conhecer e sendo conhecido, cria-se um elo
mútuo de compromisso ético à medida que ele se sente responsável pela
construção da compreensão de seu outro, e o outro, por sua vez, se mostra para
o pesquisador e também o modifica com seu olhar. Nesse movimento,