A Linguística Sistêmico-Funcional direciona atenção para o uso efetivo da
linguagem verbal via texto em relação à atividade social em jogo, levando em
conta, para tanto, a ação dos interlocutores envolvidos no processo de interação.
Nessa perspectiva, a língua não se constitui de regras como defendem as teorias
formalistas, constitui-se de recursos à disposição do enunciador para construir
significados realizados léxico-gramaticalmente e expresso fônica ou graficamente.
Assim, ao direcionar seu foco para a para a funcionalidade da linguagem
verbal, o que possibilita a explicação e a interpretação de textos em seus
contextos de uso, a teoria sistêmico-funcional coloca à disposição do analista um
poderoso instrumental analítico para a descrição da língua (EGGINS, 2004;
HALLIDAY, 1994; THOMPSON, 1995), que só é poderoso porque a teoria que o
informa aborda a língua a partir de um ponto de vista sociossemiótico, pelo qual
ela é compreendida como um entre os diversos sistemas de criação de
significados presentes na cultura ou sociedade. Nesse sentido, entende-se que
os membros de uma comunidade, como partes de uma cultura/sociedade, trocam
significados uns com os outros para agir nas atividades reconhecidas como
próprias dessa cultura/sociedade (HALLIDAY; HASAN, 1989). Nesse
pressuposto, a língua(gem) se movimenta de forma dinâmica e fluida, na tessitura
social dentro de um espectro conotativo e denotativo, centrado nas personagens,
nas relações (a)simétricas e nas (inter)ações sociais em múltiplos contextos de
situação e de cultura.
Ao chamar a atenção para um dos problemas que podem advir da
língua(gem) em uso na sociedade, nesta relação entre indivíduos e a coletividade,
o principal mentor da LSF alerta:
(…) o aumento do lixo, a contaminação do ar e água, incluindo os
processos mais letais da contaminação física parecem ser mais
fáceis de tratar do que a contaminação do meio social causada
pelos preconceitos e animosidade de raça, cultura e classe
(HALLIDAY, 1982, p. 18).
Concordo com a declaração de Halliday, ainda que bastante impactante,
pois assumo a dor dos imigrantes bolivianos em São Paulo vitimados pelo que se
denuncia acima. E, antecipando-me, trato aqui não apenas da dor dos bolivianos,
mas de todos os imigrantes que saem de sua terra natal, deixando atrás suas