Todo e qualquer acabamento de um texto é sempre provisório. E,
coerentemente com o modelo teórico utilizado nesta análise, temos que
acreditar que esse acabamento, do ponto de vista do autor do texto também é
ilusório, já que o acabamento é privilégio do Outro. É o Outro que me completa,
que pode me ver no único lugar que posso ocupar no mundo.
Em nome da representação que esse autor construiu sobre os possíveis
outros que serão os leitores desse capítulo (preferencialmente professores,
mas também alunos e cidadãos formados em outras áreas do conhecimento),
foi deixado fechamento dessa reflexão uma contraparte do conceito de
exotopia, de Bakhtin: o conceito de excedente de visão:
Quando contemplo um homem situado fora de mim e à minha
frente, nossos horizontes concretos, tais como são
efetivamente vividos por nós dois, não coincidem. Por mais
perto de mim que possa estar esse outro, sempre verei e
saberei algo que ele próprio, na posição que ocupa, e que o
situa fora de mim e à minha frente, não pode ver: as partes de
seu corpo inacessíveis ao seu próprio olhar — a cabeça, o
rosto, a expressão do rosto —, o mundo ao qual ele dá as
costas, toda uma série de objetos e de relações que, em
função da respectiva relação em que podemos situar-nos, são
acessíveis a mim e inacessíveis a ele. Quando estamos nos
olhando, dois mundos diferentes se refletem na pupila dos
nossos olhos. Graças a posições apropriadas, é possível
reduzir ao mínimo essa diferença dos horizontes, mas para
eliminá-la totalmente, seria preciso fundir-se em um, tornar-se
um único homem. Esse excedente constante de minha visão e
de meu conhecimento a respeito do outro, é condicionado pelo
lugar que sou o único a ocupar no mundo: neste lugar, neste
instante preciso, num conjunto de dadas circunstâncias —
todos os outros se situam fora de mim. (BAKHTIN, 2000, pp.
43-44)
Do lugar que cada um ocupa no mundo, há um jogo de invisibilidades.
Cada um de nós é incapaz de enxergar partes importantes do próprio corpo.
Do ponto de vista do que nossos olhos físicos enxergam, jamais saberíamos
como é nossa própria face ou como são nossas costas. É somente do ponto de
vista o Outro (e o espelho é a representação física da direção desse lugar) que
podemos no ver, nos representar e (re)construirmos constantemente nossa
identidade.
Embora esse seja um fenômeno de caráter geral para nossa condição
humana, o interesse deste texto foi colocar a questão da formação do professor