Revista Diálogo – RevDia
Dossiê Temático – Avaliações, Identidades e Norma(s) Sociolinguísticas - v. 7, n. 1, 2019
Os estudos que trazemos aqui são retratos dessas possíveis convergências e conflitos. Estão
organizados em três eixos – da Identidade, da Avaliação e da Norma, em função do aspecto
destacado pelo estudo, ainda que os três, de algum modo, estejam quase sempre presentes,
entretecidos na construção dos significados sociais e linguísticos.
No eixo Identidade, há dois trabalhos que investigam identidades locais de cidades do interior
do estado de São Paulo. O primeiro deles é intitulado Relação entre língua e identidade: a fala
denuncia quem somos, de autoria de Pricila Balan Picinato. Nele, a autora avalia como o falante
constitui sua identidade e como isso se reflete no comportamento linguístico que apresenta.
O que está em jogo nesse trabalho, principalmente, é a relação que esses falantes estabelecem
entre sua produção linguística e a ideia de “ falar caipira”. O segundo trabalho no interior
desse eixo - Atitude e avaliação linguística: os bonfinenses e os moradores de condomínio -, de Bruna
Loria Garcia, parte de um fenômeno específico – a concordância verbal de terceira pessoa
do plural – para analisar possíveis diferenças que se estabelecem entre o modo como falam
e como percebem essa fala tanto moradores de condomínios quanto os chamados
bonfinenses. Aos condôminos estão associadas as normas linguísticas prestigiadas (com
índices mais altos de concordância verbal), o estilo de vida urbano e um grau maior de
escolarização, enquanto os bonfinenses se associam mais aos valores sociais rurais, ao estilo
de vida mais pacato e a um menor grau de escolarização.
No eixo Avaliação, temos dois trabalhos centrados em “um espaço em que se constroem
crenças e se moldam atitudes” – a escola, com o objetivo de investigar atitudes de professores
frente a fenômenos da língua. No primeiro deles, intitulado Avaliações subjetivas de professores do
interior de São Paulo em relação aos desvios ortográficos, Marcus Garcia de Sene analisa o modo
como professores avaliam desvios ortográficos de naturezas distintas (fonética e de
convenção de escrita) produzidos por seus alunos. No segundo trabalho desse eixo,
intitulado A avaliação de professores da rede pública de Uberaba-MG e o fenômeno variável da concordância
verbal: uma reflexão sociolinguística, Larissa Campoi Pelucco e Rafaela Regina Ghessi partem
de um fenômeno de natureza morfossintática, analisando o modo como professores avaliam
produções escritas de seus alunos, sobretudo no que se refere ao peso que a concordância
verbal não-redundante acaba tendo nessa etapa do processo de ensino-aprendizagem.
Ambos os trabalhos, emprestando aqui as palavras de Sene, chegam “a resultados que
apontam para certo distanciamento entre o ensino de língua portuguesa e uma atitude
predominantemente reflexiva sobre a língua”.
Por fim, sob o eixo Norma estão reunidos cinco estudos. Em “Por onde anda você?” – sobre a
norma e o uso de onde na fala paulista, Milena Aparecida de Almeida e Rosane de Andrade
Berlinck investigam o uso do pronome onde em uma amostra de variedade da fala paulista.
Contrapondo-se à visão tradicional sobre o emprego do item como pronome relativo
indicador de ‘lugar em que’, as autoras identificam usos “desviantes”, não locativos,
caracterizando-os segundo seus contextos sintáticos, os espaços textuais em ocorrem e o
perfil dos falantes que os empregam. Também discutem em que medida tais usos fazem parte
de um processo de gramaticalização de onde. Em A influência da escolaridade e do sexo/gênero no
uso variável da concordância verbal de terceira pessoa do plural, Alexandre Monte avalia o efeito das
variáveis escolaridade e sexo/gênero sobre o uso da concordância verbal de terceira pessoa
do plural em dados de São Carlos, SP. Ambas as variáveis mostraram-se, como esperado,