1. INTRODUÇÃO
No âmbito da linguística, Stokoe (1960) foi o primeiro estudioso a defender
que as línguas de sinais são línguas naturais, ao demonstrar que estas
compartilham com as línguas orais princípios estruturais. Segundo o autor, os
sinais, assim como as palavras, são formados de elementos menores, os
chamados parâmetros. Os parâmetros, tal como as unidades sonoras, são finitos,
recombinativos e distintivos (XAVIER; BARBOSA, 2017). Além disso, Stokoe
também reconheceu a ocorrência de variação na realização concreta dessas
unidades. Conforme apontam Xavier e Barbosa, esse fato reforça ainda mais o
estatuto de língua natural das línguas sinalizadas, uma vez que, como se sabe,
todas as línguas variam.
A variação na forma das palavras ou sinais pode ser livre ou motivada pelo
ambiente fonético-fonológico em que são produzidos. Xavier (2014) investigou
esses dois tipos de variação na libras, focando no parâmetro número de mãos.
Embora esse parâmetro distintivamente determine se um dado sinal é mono ou
bimanual, ou seja, canonicamente produzido com uma ou duas mãos,
respectivamente, ele pode variar em alguns sinais. Nos casos de variação livre,
por meio de um experimento, o autor observou que alguns sinais foram mais
frequentemente empregados em sua variante monomanual, enquanto outros em
sua variante bimanual. Embora ele tenha hipotetizado que tal fato se explique,
para alguns desses sinais, por razões exclusivamente articulatórias e perceptuais,
outros aspectos ainda precisam ser explorados como a variação idioletal,
situacional, socioletal, dialetal, etc (XAVIER; BARBOSA, 2017).
Já em relação aos casos de variação motivada pelo contexto, Xavier
observou, por meio de outro experimento, que a realização com uma ou duas
mãos de três sinais da libras, a saber, PRECISAR, QUERER e JÁ, é influenciada
em diferentes graus e de forma distinta entre os quatro sujeitos analisados pelo
contexto, ou seja, pelo número de mão de sinais adjacentes e, somado a isso,
pelo aumento na taxa de sinalização (número de sinais por segundo).
Consequentemente, o autor identificou comportamentos quase que exclusivos
para cada um dos quatro participantes, que tinham entre 28 e 29 anos à época de
sua participação no estudo.