artísticas de forma a projetar a ilusão do quadro pictórico. Nessa
vertente e explorando a encenação do drama wagneriano, que desde o
século XIX já almejava a fusão das artes e via na ópera um elemento
insuficiente para unir música, poesia e dança, vislumbrava-se já a
orquestra como um artefato invisível para o público, num fosso. Tudo
isso, é claro, para ser mais “visível” a imagem cênica do drama, pois a
música parecia vir de “lugar nenhum” (HUBERT, 2013, p. 224). Nos
dias atuais, num entendimento de intermidialidade enquanto categoria
de análise de configurações midiáticas individuais, nos estudos
literários e na sua junção com os estudos fílmicos, de teatro, de música,
de quadrinhos e outras mídias é que, de certa maneira, pensa-se com
mais ênfase em uma obra com qualidades intermídias de fronteiras.
Estas, no caso, com artifícios que possam unir mundos distintos em
uma encenação com efeitos visuais e sonoros de modo a suscitar uma
ilusão, como uma encenação inteira ou como um quadro pictórico
emoldurado e em movimento (RAJEWSKY, 2012, p. 60). Ela diz:
Tal modo de empregar e encenar mídias em performances
de dança contrasta profundamente com uma sequência da
produção de dança-teatro de nome Bodies, de Sasha Waltz
(cf. RAJEWSKY, 2002; 2005). No início da sequência, uma
construção que imita uma moldura ergue-se no palco,
juntamente com uma fachada transparente e um painel
opaco na parte de trás. Posicionados entre a tela frontal
transparente e o painel posterior, e mantendo-se no ar
amparando o corpo nesses dois apoios, os dançarinos
movimentam-se vagarosamente, em todas as direções,
numa leveza que impressiona e livres da necessidade de
tocar o chão. Com o recurso a outros artifícios que
colaboram igualmente para o impacto da cena, tais como
a iluminação, o figurino que evoca tangas e os corpos que
se exibem talhados pelas bordas da moldura, essa
sequência vai trazer à mente do público uma pintura, vai
lembrá-lo talvez de uma pintura maneirista. (RAJEWSKY,
2012, p. 60-61)
Louvel (2006), no livro Poéticas do Visível: ensaios sobre a
escrita e a imagem, organizado por Márcia Arbex, irá nos fazer refletir