A BANALIDADE DA MORTE E O CIBERSUICÍDIO: UMA ANÁLISE DE CASOS DE SUICÍDIOS ONLINE

Antonio Edson Oliveira Honorato1; Maria Cristina Rocha Barreto2.
1 - Mestre em Ciências Sociais e Humanas pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), especialista em Gestão Estratégica de Serviços e graduado em Administração pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA). Professor substituto da UFERSA. E-mail: antonio.oliveira@ufersa.edu.br
2 - Doutora em Sociologia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Mestre em Ciências Sociais pela UFPB. Professora Adjunta da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). E-mail: cristinabarreto@uern.br


Resumo

O suicídio tem se tornado um importante problema para a saúde pública mundial, chama atenção em diversos estudos o crescimento de casos de cibersuicídio — suicídio que acontece através da influência da internet no ambiente virtual — executados principalmente entre jovens e adolescentes. Trazendo este problema para discussão, o objetivo deste artigo foi o de analisar casos de suicídios que aconteceram na internet e foram amplamente difundidos, tendo como finalidade ampliar os estudos sobre o tema. Para isso, utilizou-se como metodologia a pesquisa bibliográfica e o estudo de caso que ocorreu por meio de artigos, livros e websites. Como resultado, verifica-se que o cibersuicídio ocorre com o incentivo de membros de comunidades virtuais que encorajam o indivíduo que o comete. No ato do cibersuicídio há uma certa banalização da morte, no sentindo de que muitas pessoas assistem e estimulam a morte do outro. Como conclusão, tem-se que o cibersuicídio pode ser considerado um ato de banalização e espetacularização da morte em que a vida e a morte do outro são tornadas sem valor.

Palavras-chave: Cibersuicídio; Banalidade da Morte; Suicídio online.


BANALITY OF DEATH AND CYBERSUICIDE: CASE STUDIES


Abstract

Suicide has become an important problem for public health worldwide, the growth of cases of cyber suicide — suicide that occurs through the influence of the internet in the virtual environment — carried out mainly among young people and adolescents draws attention in several studies. Bringing this problem to discussion, the objective of this article was to analyze cases of suicides that happened on the internet and were widely disseminated, with the purpose of expanding studies on the topic. For this, bibliographic research and the case study that occurred through articles, books and websites were used as methodology. As a result, it appears that cyber-suicide occurs with the encouragement of members of virtual communities who encourage the individual who commits it. In the act of cyber-suicide there is a certain trivialization of death, in the sense that many people assist and encourage the death of the other. As a conclusion, it is clear that cyber-suicide can be considered an act of trivialization and spectacularization of death in which the life and death of the other are rendered worthless.

Keywords: Cybersuicide; Banality of Death; Suicide online.


1. INTRODUÇÃO

O suicídio é um importante problema de saúde pública global que demanda uma atenção especial, no que se refere a sua prevenção. Pesquisas recentes apontam que a prevenção do suicídio, quando possível, envolve várias ações que visam a identificação prematura de desordens mentais e seu efetivo tratamento, de forma a controlar os fatores de risco. Quantitativamente, estima-se que mais de 800 mil pessoas morrem ao ano por suicídio, apesar desse considerável número, apenas 28 países reportaram ter uma estratégia nacional para possibilitar a sua prevenção (WHO, 2017).

Nos últimos anos, tem chamado atenção o aumento dessas taxas advindas dos casos de suicídios decorrentes das interações humanas em mídias sociais, os chamados cibersuicídios (cybersuicide). Os mecanismos de buscas de websites como Google e AOL conseguem demostrar o grande aumento das pesquisas por termos relacionados ao suicídio. Wong et al. (2013), encontraram resultados que mostraram que entre as mais de 21 milhões de pesquisas feitas por assinantes da AOL, em um período de um mês, um total de 5526 eram referentes a suicídio; sendo os termos mais pesquisados, “suicídio” (9,79%), “garotas suicidas” (5,34%) e “como cometer suicídio” (2,17%).

Fekete (2002), analisou cartas enviadas para websites de comunidades virtuais formadas por usuários com intenções suicidas, e constatou que as pessoas que escreviam para esses grupos de discussão eram, geralmente, adolescentes e jovens adultos. O conteúdo das cartas enviadas, mostravam que a maioria dos autores eram bastante familiares com a ideia do suicídio; e alguns deles já havia tentando suicídio antes.

Neste sentido, o objetivo desta pesquisa é então, apresentar casos de suicídios online e que foram disseminados na internet para que se possa haver uma contribuição à literatura de que trata sobre o tema. Para isso, será feito uso da pesquisa bibliográfica, onde será tratada a teoria basilar sobre o suicídio e sobre as relações sociais contemporâneas; em seguida, por meio do estudo exploratório realizado em mídias sociais, serão apresentados e analisados casos de suicídios que ganharam notoriedade por terem sido executados na rede virtual.

A relevância de trabalhos desta natureza se dar pelo fato de que é importante tornar cientificamente público, especificamente, o problema do suicídio que mata milhares de pessoas anualmente. Sendo esta prática, muitas vezes, negligenciadas e/ou banalizadas pelos órgãos públicos, bem como pela sociedade. É preciso um trabalho conjunto do poder público e da sociedade como um todo, para ajudar pessoas que devido à visão de perda do sentido da vida, tornam-se propensas ao suicídio.


2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 A visão sociológica do suicídio

O suicídio, segundo Durkheim (2000, p. 14), é “todo caso de morte que resulta direta ou indiretamente de um ato, positivo ou negativo, realizado pela própria vítima e que ela sabia que produziria esse resultado”. Ou seja, o suicídio acontece quando a vítima, ao cometer o ato que o levará à morte, sabe de certeza o que normalmente irá resultar dele (DURKHEIM, 2000).

A visão de Durkheim, enquanto sociólogo, é de que o suicídio não advém do indivíduo em si e, portanto, não se pode explicá-lo por motivações pessoais, do que o levou a comete-lo. A unidade de análise, na visão da sociologia, não é o indivíduo, mas a sociedade. Assim também ressalta Hillman (1993, p. 35), quando explica o entendimento da sociologia sobre o suicídio e relata que o sociólogo busca os dados sociais para entendê-lo:

Essas cifras são tão fidedignas que o suicídio é um fenômeno sociológico estabelecido, um fato que tem validade independente, entra ano, sai ano, grupo por grupo, região por região. É um dos fatos sociais básicos e (por isso, para a sociologia) não pode ser explicado estudando-se os indivíduos que, neste ano ou no próximo, venham formar o quociente esperado. O suicídio é uma tendência coletiva do organismo social, como existência própria, manifestando-se através da cobrança de um certo tributo anual.

Então, preenchidas algumas condições, o indivíduo torna-se suicida. Dessa forma, qualquer um pode se tornar um suicida, desde que esteja inserido em condições sociais específicas que formam uma variável estável dentro de cada sociedade (HILLMAN, 1993). Como diz Durkheim (2000), o que os dados estatísticos efetivamente expressam são as tendências ao suicídio pela qual cada sociedade é afligida de forma coletiva.

Sendo assim, o número anual dos suicídios, aquele que muitas vezes é tido como uma média normal e que varia em determinados períodos, deve, na verdade, ser considerado como um sintoma da organização deficiente da sociedade em que se vive (MARX, 2006). Pode até ser que a miséria seja o principal motivo pelo qual alguém comete suicídio, mas há de se perceber que ele está presente em todas as classes, tanto entre os ricos ociosos como entre os artistas e os políticos. “A diversidade das suas causas parece escapar à censura uniforme e insensível dos moralistas” (MARX, 2006, p. 24).

De acordo com Hillman (1993), o livro de Durkheim “O Suicídio” pode ser considerado como o primeiro estudo completo sobre o tema, e afirma que não é possível encontrar, em qualquer outra obra, uma visão tão clara do sociólogo sobre o suicídio quanto esse. Durkheim, apresenta nesse livro três tipos de suicídios, quais sejam: o suicídio egoísta, o suicídio altruísta e o suicídio anômico. As definições sobre cada tipo podem ser vistas no Quadro 1.

Quadro 1 – Os três tipos de suicídios, segundo Durkheim.

Tipo de Suicídio Definição
SUICÍDIO EGOÍSTA Neste tipo, o suicídio seria motivado pelo isolamento exagerado do indivíduo com relação à sociedade. Ele se transforma em um “solitário”, marginalizado, e não possui laços sólidos de solidariedade com o grupo social (CARDIM, 2000). Quando o indivíduo não se sente mais parte da sociedade, perde-se o fundamento objetivo, a vida passa a ser, não mais, que uma combinação de imagens ilusórias, uma fantasia que com apenas um pouco de reflexão as faz desaparecer. O homem social é o homem civilizado inteiro; é ele quem determina o valor da existência. “Disso resulta nos faltarem as razões de viver; pois a única vida que podemos ter já não responde a nada na realidade, e a única ainda fundada no real já não responde a nossas necessidades.” A sociedade se desagrega do indivíduo e o deixa escapar. (DURKHEIM, 2000, p. 264).
SUICÍDIO ALTRUÍSTA Ao contrário do egoísta, este tipo, está demasiadamente ligado a sociedade (CARDIM, 2000). Neste tipo, há um excesso de individuação, enquanto o anterior, tem como causa uma individuação demasiado rudimentar. A sociedade deixa o indivíduo estritamente sob sua dependência. A palavra altruísmo expressa um sentido contrário ao egoísmo, “aquele em que o eu não se pertence, em que se confunde com outra coisa que não ele, em que o pólo de sua conduta está situado fora dele, ou seja, em um dos grupos de que faz parte” (DURKHEIM, 2000, p. 275).
SUICÍDIO ANÔMICO Neste, o conceito vem da noção de anomia, que significa a ausência de normas. O suicida por anomia é aquele que não aceita os limites morais impostos pela sociedade; ele inspira a mais do que pode, ou seja, tem demandas muito acima de suas possibilidades reais, e por isso, cai no desespero (CARDIM, 2000). Neste contexto, as próprias exigências do indivíduo se tornam impossíveis de satisfazer. Suas ambições, superestimadas, vão sempre além dos resultados obtidos. “O esforço, portanto, é mais considerável no momento em que se torna mais improdutivo. Nessas condições, como poderia a vontade de viver não enfraquecer?” (DURKHEIM, 2000, p. 322).

Fonte: Adaptado de Durkheim (2000).

O objetivo principal da sociologia, na tentativa de prevenir o suicídio, é levar de volta o indivíduo ao grupo do qual se afastou, já que é o movimento em direção ao isolamento e a individuação que provoca a tendência suicida. Sendo assim, a prevenção do suicídio, para a sociologia, significa oferecer o reforço grupal, corroborando assim, a metáfora básica da própria sociologia. Torna-se evidente então, que a tendência fundamental a ser evitada não seria o suicídio, mas sim a influência desintegradora da individualidade (HILLMAN, 1993).

Esse distanciamento do grupo social, em direção ao isolamento e a individualidade, é visto por Bauman como uma característica das relações líquidas, mantidas em uma sociedade líquido-moderna, e que constitui uma vida líquida para o indivíduo; por isso, esses conceitos serão apresentados com mais detalhes no próximo tópico.


2.2 A liquidez da vida em Zygmunt Bauman

Ao apresentar os conceitos de “vida líquida” e de “modernidade líquida”, Bauman (2007b) diz que ambas estão intimamente ligadas. A “vida líquida”, é segundo ele, uma forma da vida ser levada numa sociedade líquido-moderna. “Líquido-moderna” é uma sociedade em que as condições, pelas quais seus membros agem, mudam num tempo muito mais curto, antes mesmo que se consolidem, em hábitos e rotinas ou em formas de agir. Neste conceito, nem a vida líquida, nem a sociedade líquido-moderna, podem manter a forma ou permanecer em seu curso por muito tempo.

A globalização há de ter um papel deveras importante neste quadro em que se desenvolve a vida líquida. Como disse Giddens (1997), a vida local é totalmente influenciada pela vida global. Hoje, as ações cotidianas de um indivíduo, de fato, podem produzir consequências globais; e pode afetar a sobrevivência de alguém que vive do outro lado do mundo, por exemplo. E é, justamente, por essa acelerada relação entre as decisões tomadas no dia a dia e os resultados produzidos em nível global, juntamente com seu reverso, ou seja, a influência das ordens globais sobre a vida individual, que se compõe a nova agenda das ciências sociais (GIDDENS, 1997).

Como também já havia apontado Hall (2006), a principal distinção entre as sociedades tradicionais e as modernas reside, justamente, na rapidez das mudanças. As sociedades modernas são por definição, sociedades de mudança constante, rápida e permanente. Esse caráter vem da globalização, que impacta diretamente a identidade cultural do indivíduo. A sociedade não é, portanto, como muitas vezes pensaram os sociólogos, um todo unificado e bem delimitado, ao contrário, ela está constantemente sendo descentrada ou deslocada por forças fora de si (HALL, 2006).

Hall (2006), define o sujeito pós-moderno como fragmentado, se antes o indivíduo era visto como tendo uma identidade unificada e estável, essa identidade agora se fragmenta; torna-se composta não de uma, mas de várias identidades, algumas vezes contraditórias ou não resolvidas. Assim também pensa Bauman (2007a, p. 88), se antes o problema da identidade moderna era o de saber como construir uma identidade, mantendo-a sólida e estável, o problema da pós-moderna “é em primeiro lugar o de como evitar a fixação e manter as opções em aberto”.

Quanto as relações humanas, nas sociedades pós-modernas, que Bauman prefere chamar de líquido-moderna, tornaram-se frouxas, frágeis, que não exigem esforços prolongados. Os relacionamentos, os quais ele compara com os negócios, são vistos como investimentos e, como todo investimento, se espera algo em troca, um retorno, que pode ser a segurança de não se sentir sozinho, solitário e ter o apoio de alguém para enfrentar as dificuldades da vida (BAUMAN, 2004).

O que Bauman (2004) pretende mostrar é que, nesta vida líquida de uma sociedade líquido-moderna, os laços humanos são também líquidos. Há, segundo ele, uma certa dificuldade de amar o próximo simplesmente por ele ser um “próximo”. Se o indivíduo ama alguém, é porque este alguém deve de alguma forma ter merecido, pois, caso contrário, que benefício esse amor traria? Aquele ditado que diz “ame o próximo como ama a si mesmo” coloca o amor-próprio como algo que sempre esteve ali, intrínseco ao ser humano, como se fosse um dado indiscutível (BAUMAN, 2004).

Sobre isso, Bauman (2004) não acredita que o amor-próprio seja, de fato, parte da natureza humana, algo que sempre esteve lá. Segundo ele, para que o amor-próprio se desenvolva, é antes necessário ser amado pelo outro. Pois, o amor-próprio seria construído a medida em que se recebe o amor, ou seja, para si amar, tem-se que primeiro ser amado. Este pensamento constitui-se importante ao tratar das relações líquidas, tendo em vista que, na sociedade líquido-moderna, o indivíduo tende a ser muito mais volátil, inconstante e desprendido dos relacionamentos.

No próximo tópico será tratado a questão dos relacionamentos virtuais, uma nova forma de se relacionar e manter relações sociais por meio da rede de computadores, sendo essa uma possibilidade advinda do desenvolvimento tecnológico e da globalização. Prática usual, nos tempos modernos, mas que está no cerne da questão do que se refere aos relacionamentos líquidos definidos por Bauman.


2.3 A vida em rede: relações virtuais e sociabilidade

No fim dos anos 2000, o cenário da vida humana sofreu grandes transformações, sobretudo, devido a uma revolução tecnológica que concentrada nas tecnologias da informação começou a remodelar, em nível acelerado, a base material da sociedade. Sendo que essas tecnologias estão integrando o mundo em redes globais de instrumentalidade. E nesse processo, várias comunidades virtuais são criadas por meio da Comunicação Mediada por Computadores – CMC (CASTELLS, 2005).

Essas comunidades virtuais fazem parte de uma cultura comunitária virtual, que “acrescenta uma dimensão social ao compartilhamento tecnológico, fazendo da Internet um meio de interação social seletiva e de integração simbólica” (CASTELLS, 2003, p. 35). Segundo Castells (2003), não existe uma cultura comunitária unificada da internet; nesse sentido, pode-se dizer que o mundo social da internet, assim como a própria sociedade, apresenta diversidades e contradições.

Apesar disso, essas comunidades trabalham com base em duas características fundamentais comuns. A primeira é o valor da comunicação livre, horizontal. […]. O segundo valor compartilhado que surge das comunidades virtuais é o que eu chamaria formação autônoma de redes. Isto é, a possibilidade dada a qualquer pessoa de encontrar sua própria destinação na Net, e, não a encontrando, de criar e divulgar sua própria informação, induzindo assim a formação de uma rede. […]. Assim, embora extremamente diversa em seu conteúdo, a fonte comunitária da Internet a caracteriza de fato como um meio tecnológico para a comunicação horizontal e uma nova forma de livre expressão. Assenta também as bases para formação autônoma de redes como um instrumento de organização, ação coletiva e construção de significado (CASTELLS, 2003, pp. 48-49).

Essas comunidades virtuais, também chamadas de cibercomunidades, são criadas em uma nova noção de espaço, definido como ciberespaço. De acordo com Fernback (1997), o ciberespaço é uma espécie de repositório de memória cultural coletiva pois, nele, encontra-se cultura popular, narrativas criadas pelos seus habitantes que lembram quem eles são; é então, vida, vivida e reproduzida por meio de telas e textos virtuais.

Por essas características, o ciberespaço tem se tornado uma nova arena para participação na vida pública. Os usuários da internet podem então, usar esse espaço para serem espectadores da vida pública de outras pessoas, bem como para serem autores, políticos, comentaristas, disseminando sua opinião na rede. Isso quer dizer que o ciberespaço é um espaço público; mas, ao mesmo tempo, é um espaço privado, onde, por e-mail ou mensagem privada, dois usuários podem discutir sobre política ou manterem um relacionamento amoroso; ou ainda, vários usuários em um grupo privado podem criar estratégias para uma reunião ou discutir os pontos principais de uma aula (FERNBACK, 1997).

Essa interação acontece em um espaço virtual, mas que por ser real, poderia se dizer que seja uma extensão do mundo off-line, ou seja, do mundo fora da rede. Pode-se inferir então, que as comunidades virtuais desmaterializam as relações sociais convencionais, […] “na medida em que potenciam a criação de construção social partilhada que se concretiza em identidades colectivas, que simulam a presença através da interface e contextualizam a criação de laços sociais que efectivam sentimentos de pertença aos grupos” (AMARAL, 2016, p. 97).

Neste sentido, Lash (2001, p. 107, tradução nossa) classifica essa extensão do mundo off-line para o mundo online, em rede, como uma forma de vida tecnológica. Nessa forma de vida o indivíduo sente-se como se não mais pudesse viver sem a intervenção tecnológica. É como se dissessem a si próprios: “Eu simplesmente não consigo funcionar sem o meu celular 3G. Eu não consigo viver sem o meu computador, sem a minha filmadora digital, máquina de fax, automóvel. Eu não funciono sem o Ryanair, Amazon.com e meus canais interativos a cabo.”

O que parece é que o indivíduo se tornou uma interface homem-máquina, que necessita navegar pelas formas tecnológicas de vida social e que está inserido em uma cultura tecnológica, sendo essa, uma cultura à distância. E por isso, as formas de vida se tornam em vida à distância, em que as pessoas possuem formas de vida social à distância, e que, de fato, não podem navegar por elas, pois são virtualmente distantes (LASH, 2001).

As ciberculturas, que se formam por meio dessa forma de vida social tecnológica, é o que Simmel (1983) classificaria como sociação, ou seja, forma pela qual os indivíduos se agrupam para terem seus interesses satisfeitos. Esses interesses, não importando quais sejam, formam a base das sociedades humanas, pois os indivíduos que os possuem se agrupam em uma só unidade, sendo essa, definida como sociedade. As motivações (impulsos, interesses, propósitos, etc.) são classificadas como matéria da sociação. Essas matérias que preenchem a vida não são sociais.

Estritamente falando, nem fome, nem amor, nem trabalho, nem religiosidade, nem tecnologia, nem as funções e resultados da inteligência são sociais. São fatores de sociação apenas quando transformam o mero agregado de indivíduos isolados em formas específicas de ser com e para um outro – formas que estão agrupadas sob o conceito geral de interação (SIMMEL, 1983, p. 166).

Assim também acredita Lévy (1999), quando afirma que as comunidades virtuais se apoiam na interconexão. Segundo ele, essas comunidades são formadas sobre as afinidades de interesses, de conhecimentos, sobre projetos mútuos, isso acontece em um processo de cooperação ou de troca, independentemente das proximidades geográficas e das filiações institucionais de seus participantes.

Para Lash (2001), as formas tecnológicas da vida, contudo, não são lineares, e isso envolve três coisas: compressão, aceleração e o alongamento. O que quer dizer que as formas lineares de significado, como narrativa e discurso, são comprimidas na era tecnológica, tornando-se abreviadas. Antes, o sentido do mundo era construído, principalmente, por meio de narrativas e discurso; hoje, esse sentido é feito com base em formas abreviadas de informação.

No que diz respeito ao tempo, a ruptura com a linearidade envolve aceleração. As formas tecnológicas de vida são aceleradas. Nas formas de vida simples têm-se as narrativas e as meta-narrativas que demandam um certo ritmo de movimento do tempo para reflexão. Já as formas tecnológicas de vida são rápidas demais para reflexão e para serem lineares (LASH, 2001).

Por fim, as formas tecnológicas de vida são esticadas, alongadas. Elas estão tão esticadas que se rasgam com facilidade. Há uma ligação espacial com quebra de vínculo social. A cultura tecnológica é uma sociedade em rede. Os links das redes são tão finos que quase não ocupam espaço algum. Estas formas de vida estão conectadas não por vínculo social, mas sim por vínculos sociotécnicos. São, então, unidas por links que são tão técnicos quanto sociais (LASH, 2001).

Em resumo, pode-se dizer que a vida na rede é construída com base nas estruturas formativas da vida off-line. A vida tecnológica ou em rede, acontece em um ciberespaço e cria suas próprias ciberculturas, por meio de comunidades virtuais ou também chamadas de cibercomunidades. No próximo tópico será tratado um problema que chama atenção pelo seu acontecimento cada vez mais frequente no ciberespaço, o cibersuicídio, serão apresentadas as definições gerais e como ele acontece na rede virtual.


2.4 Cibersuicídio: definições gerais

Para Baume, Cantor e Rolfe (1997), a internet chegou como uma nova forma de compartilhamento de informações, e logo chamou atenção de jovens vulneráveis. Nessa pesquisa, os autores apresentaram diversos outros estudos que mostravam uma conexão existente entre a veiculação de notícias sobre suicídio pela mídia e os subsequentes casos de suicídios. O que esses estudos sustentavam era que havia uma relação significativa entre as notícias de suicídios e os subsequentes casos de suicídio. Alguns dos dados encontrados sugeriam que poderia ocorrer uma espécie de imitação, seguindo a cobertura midiática ou o contato pessoal com o evento suicida. Ou seja, pessoas vulneráveis poderiam se tornar encorajadas a cometer suicídio por meio de notícias veiculadas ou pelo contato direto com casos de suicídios (BAUME; CANTOR; ROLFE, 1997).

O cibersuicídio é então um termo usado para fazer referência ao suicídio e suas ideações na internet. Ele está associado a websites que atraem membros vulneráveis da sociedade e os tornam capacitados por meio do aprendizado de diversos métodos e abordagens para deliberar sobre a autoagressão. O cibersuicídio é um importante problema presente em todo o mundo, especialmente entre os jovens e adolescentes, sendo um grande desafio para o futuro, principalmente, no que se refere a sua prevenção e controle (BIRBAL et al., 2009).

De acordo com dados do Centers for Disease Control and Prevention (CDC, 2010), o suicídio é a terceira causa de morte mais frequente entre jovens de 10 a 14 anos e de 15 a 24 anos; e a segunda causa no grupo de idades entre 25 e 34 anos, nos Estados Unidos. Segundo Mitchell et al. (2014), em 2011 nos Estados Unidos, 16% de alunos do ensino médio tiveram sérios pensamentos sobre cometer suicídio, 8% tentaram o suicídio, e 2% disseram que a tentativa de suicídio resultou na necessidade de cuidados médicos. Embora as meninas estejam mais propensas a considerar e tentar suicídio, os meninos têm uma taxa maior de sucesso na tentativa e consequente morte por suicídio, nos Estados Unidos (MITCHELL et al., 2014).

Na maioria dos países, enfatizam Becker e Schmidt (2005) e Radhakrishnan e Andrade (2012), o suicídio é a segunda ou terceira principal causa de mortalidade entre os adolescentes. As evidências apontam que há ligações entre os casos de suicídio apresentados na mídia (televisão, internet, jornal, etc.) e as subsequentes tentativas de suicídio entre os jovens.

Segundo Birbal et al. (2009), a facilidade de acesso à internet e a velocidade com que a informação é dispersa têm uma grande contribuição para a disseminação de atos suicidas, o que é particularmente atraente para os jovens. Ainda nesse sentindo, Becker e Schmidt (2005, p. 229) complementam que a “Informação sobre suicídio é acessada facilmente na internet, como também as salas de bate-papo especiais para discussões com pessoas que tem pensamentos semelhantes”. As salas de bate-papo são frequentemente utilizadas por adolescentes e jovens adultos, sendo esse grupo considerado de alto risco para comportamento suicida por imitação, ou seja, casos em que o pensamento suicida vem posterior ao conhecimento de algum caso de suicídio (BECKER; SCHMIDT, 2005).

O motivo deste número tão alto, do pensamento suicida entre jovens, pode está no fato de que este grupo tem uma maior facilidade de obter informações por diversos meios. Os jovens conseguem obter informações mais facilmente do que as gerações passadas, sobretudo, devido a possibilidade trazida pela internet por meio da informação disponibilizada em websites, que pode ser acessada de forma fácil e rápida (MITCHELL et al., 2014).

Em muitos desses sites, que disseminam formas de como cometer suicídio e que incentivam a prática do ato, há uma verdadeira torcida para que o suicídio seja cometido e para que seja bem-sucedido, por parte dos outros membros. “Em outras palavras, assume-se que, neste caso, a passagem de um suicídio em potência para um suicídio em ato se dá fundamentalmente por conta das conversões empreendidas no ciberespaço” (TUCHERMAN; SAINT CLAIR, 2009, p. 45).

Westerlund (2011), corrobora que os websites pro-suicídio, aqueles que incentivam a prática, estão no topo das listas de busca das páginas de pesquisa online, aumentando assim, os medos sobre essa influência prejudicial da internet no comportamento e nas atitudes que estão relacionadas ao suicídio. Da mesma forma entendem Alao et al. (2006), quando afirmam que em primeiro lugar a internet é um meio de comunicação e que este meio pode influenciar o comportamento suicida através de representações das formas que o suicídio pode ser cometido. Em segundo lugar, alguns websites podem desencorajar pessoas com doenças mentais a procurarem ajuda psiquiátrica e estimular o afastamento daqueles que possam intervir na execução do ato suicida (ALAO et al., 2006).


3. METODOLOGIA

Em relação à classificação metodológica da pesquisa, trata-se de um estudo exploratório, de natureza bibliográfica, baseada em fontes secundárias de informação, com análise qualitativa de dados, através do estudo de caso. O estudo exploratório foi utilizado como forma de esclarecer e delinear os conceitos e ideias referentes a problemática de pesquisa (GIL, 2008); seguiu como forma de levantamento bibliográfico e de estudo de caso (GIL, 2002); e foi realizado em websites de notícias, a fim de encontrar casos de suicídio que tivessem ganhado notoriedade por terem sido propagados pela internet.

Por meio da pesquisa bibliográfica, buscou-se trabalhar a revisão de literatura explorando artigos, livros, dissertações e teses (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2006), este método tem como vantagem proporcionar uma ampla cobertura dos fenômenos a serem pesquisados, cobertura essa, muito maior do que aquela que se poderia pesquisar diretamente (GIL, 2008). A pesquisa bibliográfica foi necessária para apresentar os conceitos sociológicos sobre o suicídio e descrever as relações humanas na contemporaneidade.

O levantamento bibliográfico foi realizado entre o período de julho a agosto de 2018, por meio eletrônico nas principais bases de pesquisa de artigos e periódicos nacionais e internacionais, bem como em livros, relatórios técnicos e websites informacionais, governamentais e institucionais. Os resultados da pesquisa foram apresentados em forma de estudo de caso, abordando casos de suicídios online. Conforme Cervo, Bervian e Silva (2007) e Prodanov e Freitas (2013), o estudo de caso consiste na coleta e análise de informações sobre um indivíduo, família, grupo ou comunidade específica, com finalidade de estudar os variados aspectos da vida, de acordo com o tema da pesquisa.


4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste tópico serão apresentados casos de suicídios que ocorreram com ampla divulgação na internet. Serão apresentados três casos, sendo cada um relacionado com um dos três tipos de suicídios apresentados por Durkheim: suicídio egoísta, altruísta e anômico. Em seguida, serão formadas análises com base nos acontecimentos que se efetivam por meio do cibersuicídio.


4.1 O caso Kevin Whitrick

Kevin Whitrick, um engenheiro elétrico de 42 anos, cometeu suicídio em 21 de março de 2007, sendo este caso considerado o primeiro cibersuicídio da Inglaterra (DIFUNDIR, 2016). Kevin, utilizou um cabo elétrico amarrado ao teto para a execução do seu próprio enforcamento. O que fez com que este episódio se tornasse notório, foi o fato de que dezenas de pessoas acompanhavam tal ato em tempo real, encorajando para que o suicídio ocorresse, através de uma sala de bate-papo, do website PalTalk, intitulada “Kel’s Friendly Insult Chat for Everyone”, em tradução livre “O Chat de Insulto Amigável do Kel para Todos” (STOKES, 2007).

Os investigadores deste caso, descobriram que vários usuários, dos 40 a 60 que acompanhavam, instigaram Kevin a cometer suicídio, pois acharam que ele estava brincando quando disse que iria se matar, mas apenas um dos usuários alertou à polícia, contudo, tardiamente. O que passou a ser discutido, depois do ocorrido, foi a forma como sites que incentivam insultos entre membros, a autoagressão e até o suicídio de seus usuários, têm se propagando pela internet. São websites onde as pessoas parecem gostar de ser agredidas verbalmente e ter coisas degradantes ditas de si (STOKES, 2007).

De acordo com seus familiares e amigos, Kevin era uma pessoa vívida, animada e bem-quista (BBC NEWS, 2007), e muito atencioso e gentil (THE EVENING STANDARD, 2007). Kevin, morava sozinho em um apartamento, depois de ter se separado de sua esposa há dois anos. Em julho de 2006, ele havia sofrido um acidente de carro, não tendo nunca se recuperado totalmente. De acordo com sua madrasta, ele era muito animado e cheio de alegria, e que apesar de morar sozinho, sempre que o via ele estava alegre (THE EVENING STANDARD, 2007).

Na sala de bate-papo seu nome de usuário era “Shyboy-17-1” (garoto tímido-17-1). Quando ele inicia seu plano, em frente à sua webcam, alguns usuários tentavam o convencer de parar, enquanto ele amarrava um cabo elétrico no teto e o colocava no seu pescoço. Contudo, outros usuários o incentivava a continuar; dizendo coisas como “vai, faça logo, dê um laço no pescoço”, “parece que nem isso consegue fazer direito”. Quando Kevin salta da cadeira todos na sala parecem perceber que não era uma brincadeira, logo em seguida os moderadores desligam a câmera de Kevin (THE EVENING STANDARD, 2007).

Ao traçar o perfil de Kevin pode-se perceber que, apesar de demostrar ser feliz e animado no contato com amigos, ele era uma pessoa solitária. Em complemento, pode-se observar que ele utilizou como nome de usuário, na sala de bate-papo, a expressão shyboy (garoto tímido), o que pode ser entendida como uma autoavaliação de sua personalidade. Trazendo os tipos de suicídio, apresentados por Durkheim (2000), indica-se que por esses aspectos estaria classificado em “Suicídio Egoísta”.

Como explica Durkheim (2000), este tipo de suicídio está relacionado há um desprendimento do sujeito com a sociedade. Os grupos os quais o indivíduo pertence se tornam enfraquecidos e quanto mais fraco, menos depende deles e mais depende apenas de si mesmo, passa a reconhecer somente as regras de conduta de seus interesses privados. Por isso nomeia-se egoísta, pois é um tipo de suicídio que resulta de uma individuação descomedida. Quando o indivíduo se afasta da sociedade, ela já não pode mais impedir que ele faça o que quiser, livremente. Falta-lhes razões para, com paciência, suportar as misérias da existência. “Pois, quando são solidários de um grupo de que gostam, para não faltar para com interesses diante dos quais são habituados a fazer inclinar os seus, empenham maior obstinação em viver” (DURKHEIM, 2000, p. 259).


4.2 O caso Bruna Borges

Bruna Andressa Borges, estudante universitária, 19 anos, cometeu suicídio em 26 de julho de 2017, depois de anunciar, na rede social Facebook, que se sentia deprimida. Bruna morava com seus pais na cidade de Rio Branco-AC, e estava no terceiro período do curso de Ciências Sociais. No Facebook, momentos antes de sua morte, a jovem escreveu que “a maior arma que o mundo criou foi o próprio ser humano”, e “lamento profundamente ter existido”. Aos amigos ela pedia desculpa e disse “eu quero viver, mas quero ser livre e feliz, porém, parece que não dá pra ser feliz tendo que agradar a todos e a si mesmo. Peço desculpas aos poucos que me restaram e que tanto me aconselharam, mas simplesmente não consigo” (CANALTECH, 2017).

Em sua última postagem no Facebook Bruna escreveu “Já viram alguém morrer ao vivo?”, e então ela iniciou uma transmissão ao vivo em sua página no Instagram, o vídeo estava sendo acompanhado por cerca de trezentas pessoas. Bruna então, prossegue com o suicídio por meio de enforcamento, as imagens foram em seguida compartilhadas, deliberadamente, por toda rede de computadores (BLASTINGNEWS, 2017).

Dois dias após o ocorrido, em 28 de julho de 2017, os pais de Bruna são encontrados mortos dentro de casa. Os investigadores encontraram cartas deixadas pelo casal, na mensagem assinada pelo pai de Bruna ele dizia: “Hoje estarei junto de minha amada filha, não é fraqueza minha, mas sim, uma vontade enorme de encontrá-la…”. Já a carta deixada pela mãe dizia: “Peço mil perdões, mas não conseguirei viver sem minha filha… Não se preocupem, vou estar com minha filha e feliz”. As cartas também especificavam com quem ficaria seus bens, fazendo uma distribuição entre os familiares e amigos (NEWSRONDONIA, 2017). A polícia, contundo, não conseguiu concluir quem havia cometido o suicídio primeiro (G1, 2017).

Em suas mensagens, momentos antes ao suicídio, Bruna afirmou que se sentia machucada e traída por uma pessoa a quem ela entregou seu carinho e dedicação, mas que a desprezou e a humilhou, taxando-a de ridícula (BLASTINGNEWS, 2017). Traçando um perfil geral, pode-se dizer que Bruna Borges teve alguns desapontamentos o que a tornou desacreditada com as pessoas. Ela diz que queria continuar vivendo, contundo, sentia grande pressão para tentar agradar os outros, e relata ter se decepcionado, não indica uma pessoa na mensagem, mas o que parece teria sido uma decepção amorosa. Com estes aspectos, e avaliando as definições dos tipos de suicídios trazidos por Durkheim (2000), indica-se que neste caso ocorreu o “Suicídio Altruísta”.

Segundo Durkheim (2000), em um suicídio, a sociedade pesa sobre o indivíduo. Ela também interfere no suicídio egoísta; mas, não ocorre da mesma maneira nos dois casos. No tipo egoísta ela se limita a falar ao homem uma linguagem que o desliga de sua existência; no tipo altruísta, ela traz uma prescrição formal para que o indivíduo abandone sua existência. “Lá, ela sugere ou no máximo aconselha; aqui, obriga e determina as condições e as circunstâncias que tornam essa obrigação exigível” (DURKHEIM, 2000, p. 273).

Ao indivíduo, portanto faltam os meios para constituir para si um meio especial, a cujo abrigo ele possa desenvolver sua natureza e constituir-se uma fisionomia que seja só sua. Indistinto de seus companheiros, por assim dizer, ele é apenas uma parte aliquot do todo, sem valor por si mesmo (DURKHEIM, 2000, p. 275).

No suicídio altruísta, diferente do egoísta, há um excesso de individuação; nesse, o indivíduo está demasiadamente ligado a sociedade, que o mantém sob sua estrita dependência. O altruísmo quer dizer que o “eu” não se pertence, isto é, se confunde com outra coisa que não ele, a essência de sua conduta está localizada fora dele, ou seja, em algum dos grupos sociais de que faz parte (DURKHEIM, 2000).


4.3 O caso Abraham Biggs

Abraham Biggs, estudante universitário de 19 anos, cometeu suicídio em 19 de novembro de 2008, após uma overdose de medicamentos antidepressivos. Abraham utilizava o fórum do website BodyBuilding.com para escrever diversas mensagens, já havia postado pelo menos 2.300, sendo destas mais de uma sobre seus impulsos suicidas. Em um de seus posts, ele havia escrito que os fóruns online eram como uma família para ele. Ele dizia que apesar de parecer triste, ele escrevia sobre seus problemas e dúvidas, em fóruns online, porque não queria falar com ninguém sobre isso pessoalmente. (STELTER, 2008).

Enquanto escrevia sua intenção suicida, vários membros o encorajavam dizendo coisas como “vai em frente e faça” (COHEN, 2008, tradução nossa). Antes dele morrer, membros que o assistiam, além de o encorajar, também questionavam seu método para o suicídio e alguns tentaram o fazer parar. Não ficou claro, contudo, como tanta gente dentre os que assistiam no momento, apenas um notificou sobre o que estava acontecendo (CHICAGO TRIBUNE, 2008).

Neste sentido, os usuários não agiram como uma família, como Abraham acreditava que fosse, de acordo com uma imagem capturada no momento do incidente, pelo menos 181 pessoas estavam conectadas a câmera dele, mas nenhuma foi capaz de impedir o suicídio a tempo. As comunidades online são como a multidão que assiste a tentativa de suicídio de um homem no alto de um edifício, muitos vão gritar “pula, pula”, outros vão pedir para que ele desista. Eles podem permitir o suicídio ou tentar ajudar a preveni-lo (STELTER, 2008).

Alguns usuários do fórum relataram que Abraham já havia ameaçado se matar antes, talvez por isso alguns deles tenham pensado que fosse apenas brincadeira. A família de Abraham contou que ele sofria de transtorno bipolar e estava em tratamento para depressão (STELTER, 2008). Sua irmã o descreveu como uma pessoa amigável, sociável e extrovertida que fazia amizades com facilidade e gostava de levar suas sobrinhas para passear (CHICAGO TRIBUNE, 2008).

Um dos posts de Abraham, no fórum, dizia “Eu me odeio e odeio viver”, nesta publicação ele escreveu ainda que decepcionava a todos e sentia que nunca melhoraria ou mudaria. “Eu estou apaixonado por uma garota e sei que não sou bom suficiente para ela. Eu passei a acreditar que minha vida não tem sentido. Eu continuo tentando e continuo fracassando. Tenho pensando e tentado o suicídio muitas vezes no passado”, escrevera em seu texto (COHEN, 2008, tradução nossa). Este comentário mostra que Abraham se sentia decepcionado consigo mesmo, parecendo que não conseguia ser o que as pessoas esperavam dele, e por isso se sentia fracassado. Ele não se achava bom o suficiente e então acreditava que sua vida não tinha significado. Analisando esta descrição com base nos tipos de suicídio apresentados por Durkheim (2000), pode-se classificar, pelos aspectos de sentimentos apresentados, como “Suicídio Anômico”.

Segundo Durkheim (2000), as pessoas só podem ser felizes ou mesmo viver se as suas necessidades têm uma relação suficiente com seus meios. Caso contrário, quando elas exigem mais do que lhes é oferecido ou algo diferente, estarão de forma constante sob atrito e então não poderão funcionar sem dor. Quando uma pessoa persegue um objetivo que lhe é inacessível, condena-se a um perpétuo estado de descontentamento, pois nunca alcançará o que, de fato, pretende.

A anomia é um estado de desregramento, que é reforçado pelo fato de as paixões estarem menos disciplinadas, justamente no momento em que deveriam apresentar uma disciplina mais vigorosa. O indivíduo tem assim, a impossibilidade de satisfazer suas próprias exigências. “A anomia é portanto, em nossas sociedades modernas, um fator regular e específico de suicídios; é uma das fontes em que se alimenta o contingente anual.” Este tipo de suicídio não depende da maneira pela qual os indivíduos estão ligados à sociedade, mas sim da maneira pela qual ela os regulamenta (DURKHEIM, 2000, p. 328).


4.4 A liquidez da vida e da morte

Ao analisar casos de suicídios online, aqueles que se propagam no ambiente virtual, pode-se perceber uma certa banalização da vida humana; ou seja, a morte tem se tornado vulgar no sentindo de que ela tem sido, cada vez com mais frequência, motivo de apreciação por indivíduos que assistem e incentivam o suicídio de outrem. Com este pensamento, pode-se realizar uma ligação com o que foi apresentado por Hannah Arendt (1999), quando se referiu as atrocidades ocorridas no período nazista. No livro “Eichmann em Jerusalém”, a autora aborda a questão de como Adlof Eichmann, um dos principais organizadores do holocausto, agia por motivos tão baixos e plenamente consciente da natureza criminosa de seus feitos; para Arendt aquilo seria a “banalização do mal”.

As cibercomunidades que se formam no ambiente virtual são como as multidões psicológicas. Segundo Le Bon (1980), uma multidão psicológica é constituída por uma orientação fixa das ideias e dos sentimentos nos indivíduos que a compõe. O inconsciente domina a multidão; há um desaparecimento da vida cerebral para a vida medular; diminuição da inteligência e transformação completa dos sentimentos. Esses sentimentos podem ser melhores ou piores do que aqueles sentidos individualmente por cada ser que compõe a multidão. A multidão pode-se tornar facilmente heroica, como também facilmente criminosa. Neste conceito, milhares de indivíduos separados podem, em algum momento, influenciados por emoções violentas, adquirir as características de uma multidão psicológica (LE BON, 1980).

Estas duas abordagens iniciais, a banalização do mal de Arendt (1999) e a multidão psicológica de Le Bon (1980), quando juntas conseguem fazer um delineamento do que seria a banalização da morte que ocorre em casos de suicídios online. Por exemplo nos casos de cibersuicídio, a morte é frequentemente incentivada por pessoas que de forma consciente tecem a expectativa de que o suicídio aconteça; estas pessoas, mesmo distantes, estão ligadas através da rede de computadores, e juntas formam uma multidão psicológica, apresentando um pensamento constituído sob o mesmo sentido, aquele de que o suicídio possa acontecer diante dos seus olhos.

De acordo com Bauman (2007b) vivemos em uma sociedade líquida, ou seja, uma sociedade em que a mudança ocorre muito rapidamente, as realizações individuais não se solidificam, as condições de ação e as estratégias de reação envelhecem rapidamente e antes mesmos de serem aprendidas se tornam obsoletas. É uma sociedade formada por ligações frouxas e compromissos revogáveis, isto é, fáceis de serem anulados; são ligações que se estabelecem de forma tão superficial, que podem ser desfeitas facilmente.

Essa fragilidade nos vínculos se estendem, inclusive, para os relacionamentos, que podem ser entendidos como relações de bolso. As relações de bolso são aquelas guardadas no bolso e que podem ser sacadas a qualquer momento, relações de curta duração, superficiais, em que o indivíduo não precisa sair do seu caminho, nem muito menos se desdobrar para mantê-la intacta por um tempo maior; a durabilidade não é o objetivo. Uma forma destas relações se formarem é através da internet; pessoas a distância se comunicam apenas quando querem ou quando acham necessário, é uma relação livre de compromisso e dos vínculos demasiadamente estreitos, ou seja, frouxos por natureza (BAUMAN, 2004).

Com base nestes conceitos, pode-se dizer que em uma sociedade líquida os vínculos desenvolvidos pelos seus membros são frouxos, e por esse motivo podem ser quebrados rapidamente. Há uma dificuldade de pensar no próximo, simplesmente por ser um próximo (BAUMAN, 2004). Essa liquidez da vida e dos relacionamentos, apresentada por Bauman (2004; 2007b), junto com o conceito de banalidade do mal, trazido por Arendt (1999), pode produzir um novo conceito, quando aplicado no contexto dos cibersuicídios, discutido anteriormente. Desenvolve-se então, diante do conceito de vida líquida, a ideia de banalidade da morte impregnada nas comunidades virtuais, que mostram indivíduos que banalizam a vida e a morte do outro, que torcem freneticamente para a execução do suicídio no ambiente virtual, e que não demostram qualquer sentimento de apreço e humanidade perante o seu par. Segundo Freud (2009), nesta época sente-se com desmedida intensidade a maldade e de modo algum pode ser comparado com o mal de outra época, em que não se viveu.


5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo traz uma realidade que tem assolado a saúde pública mundial, qual seja, o cibersuicídio. O crescimento dos casos de suicídio online, aqueles que são executados e disseminados pela internet, está construindo uma nova noção de banalidade do mal, sendo esta, a banalidade da morte. O que tem chamado atenção é o fato de que nos casos de cibersuicídio sempre existem pessoas que incentivam a ação e esperam ansiosos pelo seu desfecho. Nesses casos, a morte se tornou banal no sentindo de que ela é instigada a ser cometida por indivíduos que passam por problemas pessoais e/ou mentais e que no desespero buscam formas de suicídio e encontram apoio em comunidades virtuais.

Os resultados da pesquisa, com base nos tipos de suicídio apresentados por Durkheim (2000), apresentaram três casos de pessoas que cometeram o suicídio online, por meio da internet. Nestes casos, analisou-se o suicídio egoísta, que ocorre quando o indivíduo está demasiadamente distante da sociedade; o suicídio altruísta que, ao contrário do egoísta, o indivíduo está muito ligado a sociedade; e o anômico que ocorre quando o indivíduo tem desejos que superam suas possibilidades de alcançá-los. Em todos os casos analisados, percebeu-se que a maioria dos usuários que acompanhavam as execuções dos suicídios não foram aptos a chamar o socorro a tempo de evitar o incidente, e muitos estimulavam o ato proferindo mensagens de incentivo.

O objetivo de analisar estes casos foi o de contribuir com os estudos sobre um importante problema social contemporâneo que o suicídio. Neste sentido, foi apresentada a ideia de vida líquida tratada por Bauman e como ela se relaciona com a banalidade da morte. O que se pode perceber é que, conforme Bauman (2007b), a sociedade moderna é constituída por um maior distanciamento das pessoas e pela fragilidade dos vínculos que se formam entre elas. Este afrouxamento das relações pode trazer o sentido de que as pessoas são descartáveis e que não merecem ou não precisam ser tratadas com humanidade. Nos casos de cibersuicídio, a morte é líquida no sentido de que ela está se tornando banalizada, as pessoas incentivam a morte do outro, talvez, devido a sua incapacidade de construir empatia e respeito pelo próximo.

Como conclusão, verifica-se que há uma necessidade de websites que incentivam a prática do cibersuicídio de serem regulados. As pessoas que participam de cibercomunidades, que incentivam a morte de outras pessoas, devem ser penalizadas, pois se aproveitam de um momento de fragilidade na vida de outrem para satisfazer seus desejos mais nefastos. O incentivo ao suicídio não pode de forma alguma continuar ocorrendo; em seu lugar deve existir comunidades que estejam prontas para ajudar pessoas que, por diversos problemas, acreditam que suas vidas perderam o significado.


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