vol.
4, n. 1, Janeiro-Abril/2020
DOI: https://doi.org/10.30781/repad.v4i1.9436
LIMITAÇÕES
E DESAFIOS NAS ATIVIDADES GRUPAIS DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA E CIÊNCIAS DA
NATUREZA: Um estudo em escolas estaduais de Tangará da Serra – MT
Felipe Guedes Moreira
Vieira
felipeguedesvieira@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-3193-7045
Instituto Federal de
Mato Grosso
Tangará da Serra,
Mato Grosso, Brasil
Katia Valeria Alves
de Lima
https://orcid.org/0000-0002-3568-9181
Instituto Federal de
Mato Grosso
Tangará da Serra,
Mato Grosso, Brasil
Andre Luis Scudeler
https://orcid.org/0000-0002-1286-053X
Instituto Federal de
Mato Grosso
Tangará da Serra, Mato Grosso, Brasil
Nicolas da Silva de
Lima
https://orcid.org/0000-0003-3918-9974
Instituto Federal de
Mato Grosso
Tangará da Serra,
Mato Grosso, Brasil
Thaynára Orrana
Pereira Pareci
https://orcid.org/0000-0003-4554-5904
Instituto Federal de
Mato Grosso
Tangará da Serra,
Mato Grosso, Brasil
RESUMO
A denominação de satisfação no trabalho
constitui um conjunto de atitudes refletidas no meio organizacional, as quais
mostram a perspectiva do trabalhador acerca de seu emprego. Sendo assim, a
satisfação no trabalho é um aspecto fundamental a ser tratado dentro das
organizações, já que a mesma lida diretamente com o comportamento e bem estar
dos colaboradores. Especificamente em ambiente escolar, reforça-se a
importância da satisfação dos docentes, sendo eles o pilar principal para o bom
funcionamento do sistema educacional brasileiro. Nesta pesquisa foi proposta
uma abordagem delimitada relacionada à satisfação no trabalho, com o objetivo
de analisar a atuação dos professores das áreas de matemática e ciências da
natureza nas escolas estaduais de ensino médio da zona urbana de Tangará da
Serra-MT. Para isso, foram realizados estudos bibliográficos além de pesquisa
qualitativa dirigida aos entrevistados, a qual obteve resultados ligeiramente
positivos na avaliação de satisfação ante as limitações e desafios no
desempenho de trabalho coletivo pelos docentes.
Palavras-chave:
Satisfação de Professores, Ambiente de Trabalho, Matemática, Ciências da
Natureza.
LIMITATIONS
AND CHALLENGES IN GROUP ACTIVITIES OF MATHEMATICS AND SCIENCE TEACHERS: A study
in Tangará da Serra-MT state schools
ABSTRACT
The denomination of job satisfaction is a set of attitudes reflected in the organizational environment, which show the perspective of the worker about his job. Thus, job satisfaction is a key aspect to be addressed within organizations, as it deals directly with the behavior and well-being of employees. Specifically in the school environment, the importance of teacher satisfaction is reinforced, as they are the main pillar for the proper functioning of the Brazilian educational system. This research proposes a delimited approach related to job satisfaction, aiming to analyze the performance of teachers of mathematics and nature sciences in the state high schools of the urban area of Tangará da Serra-MT. To this end, bibliographic studies were carried out, as well as qualitative research directed to the interviewees, which obtained slightly positive results in the satisfaction assessment before the limitations and challenges in the collective work performance by the teachers.
Keywords: Teacher Satisfaction, Work Environment, Mathematics,
Natural Sciences.
Submetido: 29/11/2019
Aceito: 30/01/2020
Publicado: 31/01/2020
INTRODUÇÃO
Dentro do
ambiente de trabalho há diversos fatores que interferem no desenvolvimento das
atividades individuais, fatores estes como ruídos, falta de comunicação e
estrutura, escassez de materiais, dentre outras variáveis. Nessa ótica, tais
aspectos podem influenciar nas atitudes e principalmente na satisfação do
colaborador. Nesse contexto, as tarefas desempenhadas pelo funcionário
comprometem a qualidade dos serviços e consequentemente as demais rotinas
organizacionais.
Tendo uma
base sobre os problemas decorrentes no trabalho, este artigo partiu do
interesse de investigar se os docentes se encontram satisfeitos para o bom
exercício de suas atividades, tendo em vista as limitações e desafios
existentes. Em um contexto geral, objetivou-se analisar as limitações e
desafios dos professores das áreas de exatas e ciências da natureza nas escolas
estaduais de ensino médio de Tangará da Serra-MT. Já os objetivos específicos
se dedicaram a analisar a satisfação dos professores das áreas pelo aspecto
institucional, além de compreender a inter-relação destes profissionais
inseridos na instituição de ensino. Justifica-se a importância da satisfação no
trabalho de professores do ensino médio como essencial para o bom resultado do
processo de ensino-aprendizagem de jovens e adolescentes das escolas públicas,
mostrando-se ainda necessária para evitar um prejuízo ao bem-estar do
profissional em situações de excessiva carga de trabalho.
O tema
satisfação é um assunto que vem ganhando muito espaço dentro das discussões
organizacionais. Vários autores se dedicaram ao estudo, a saber: Siqueira
(2008), Zanelli, Borges-andrade e Bastos
(2004), Spector (2003), Siqueira
e Padovam (2008), Alves, Azevedo e
Gonçalves (2014), Bogler e Nir (2012), Ferreira (2011), Robbins (2010),
entre outros. Foram realizados estudos bibliográficos com base na literatura da
área, além de uma pesquisa qualitativa com o objetivo de obter dados a respeito
da satisfação de docentes. Essas informações foram posteriormente tabuladas a
fim de auxiliar no desenvolvimento e apresentação desse artigo, obtendo-se ao
final resultados relativamente equilibrados entre a satisfação e insatisfação,
porém, com tendência positiva.
Com base
nos estudos realizados, percebe-se que a satisfação no trabalho é a base para
que as atividades organizativas obtenham êxito. Em vista disso, faz-se
necessária a intervenção do gestor no meio organizacional, destinando-se à
coordenação no ambiente escolar o papel de identificar e encontrar soluções
para os problemas que geram insatisfação, sejam decorrentes da estrutura física
ou aspectos comportamentais que comprometam o bom funcionamento das rotinas de
trabalho.
A seguir,
conceitua-se a satisfação no trabalho, com base em estudos já desenvolvidos,
que darão respaldo teórico a esta pesquisa. Posteriormente, são apresentados os
métodos que subsidiaram a pesquisa e, na sequência, são discutidos os
resultados encontrados com base nas suas possíveis causas. As considerações
finais possibilitam a construção de um panorama geral com vistas à realidade
observada durante a execução desta pesquisa.
A SATISFAÇÃO NO TRABALHO
Já nas
primeiras décadas do século XX a satisfação em âmbito empresarial recebia suas
primeiras pesquisas, mas sempre relacionada com a motivação, no sentido de
elevar o ânimo dos indivíduos para o trabalho, aumentando a produtividade e
diminuindo índices de absenteísmo. Na década de 1970 as pesquisas começaram a
tratar da satisfação como componente da atitude, porém mantendo a relação com a
produtividade, fato que exigiu das empresas um maior grau de responsabilidade
para com a satisfação dos funcionários (SIQUEIRA, 2008). A partir de 1990 as
pesquisas incluíram as emoções e passou-se a observar a relação da satisfação
com o afeto, tanto positivo quanto negativo (ZANELLI;
BORGES-ANDRADE; BASTOS, 2004).
No início
do século XXI a satisfação recebia inúmeros conceitos, relacionados com a
afetividade presente no ambiente de trabalho. Nesse momento começou a ser
entendida também como consequência do ambiente da empresa. Siqueira (2008, p.
266) afirma que satisfação “é apontada como um dos três componentes psicossociais
do conceito de bem-estar no trabalho, ao lado de envolvimento com o trabalho e
comprometimento organizacional afetivo”. Com isso, a satisfação no trabalho
passa a ser considerada como um fator de extrema importância para a criação de
um ambiente de trabalho agradável, que não cause muito desgaste físico e
psicológico aos colaboradores (SIQUEIRA; PADOVAM, 2008).
Robbins (2010, p. 73) conceitua
amplamente a satisfação com o trabalho como “um sentimento positivo resultante
de uma avaliação de suas características”. Portanto, a partir do ponto que há a
presença da satisfação no trabalho, o colaborador estará mais propenso a
manifestar sentimentos positivos, ou, na ausência dessa, poderá ter sentimentos
negativos.
De acordo
com Zanelli, Borges-andrade e Bastos
(2004) e Spector (2003), a satisfação no trabalho é um representativo de
atitude variável, que mostra como os indivíduos se sentem no local de trabalho,
seja considerando o ambiente como todo ou apenas relacionando-a a alguns de
seus aspectos (ZANELLI; BORGES-ANDRADE; BASTOS,
2004; SPECTOR, 2003).
Deste
modo, a satisfação pode ser avaliada na medida em que há o sentimento positivo
na realização do trabalho. Com isso é fundamental que a organização entenda a
satisfação do empregado como os valores, atitudes e objetivos pessoais que
precisam ser reconhecidos e estimulados, para que esses se sintam motivados a
exercer o cargo dentro da empresa (SPECTOR, 2003).
Pode-se
dizer que a satisfação está ligada a vários aspectos da organização, ou seja,
um impacto na empresa pode estar relacionado com a satisfação e o desempenho no
ambiente organizacional. Spector (2003, p. 241) apresenta dois aspectos que
mostram diferentes características, onde a primeira caracteriza o desempenho
como meio para alcançar satisfação e a última expõe a satisfação como forma de
obter melhor desenvolvimento e, consequentemente, realizar as atividades com
maior efetividade.
ATIVIDADES
GRUPAIS E SATISFAÇÃO DOS DOCENTES
Partindo
para a satisfação dos trabalhadores de escolas, mais especificamente os
professores, pode-se dizer que estudos relacionados à atuação dos mesmos já
estavam sendo realizados na década de 1960, quando havia uma boa base de
pesquisas envolvendo docentes, tanto relacionadas aos motivos de escolha de
profissão, como voltadas para expectativas em alcançar satisfação na profissão
(ALVES; AZEVEDO; GONÇALVES, 2014).
A
satisfação do professor já era admitida como importante, por afetar diretamente
na maneira com que realizam suas tarefas, haja vista que possibilita maior
entusiasmo e determinação na docência, impactando diretamente no aprendizado e,
consequentemente, um maior comprometimento por parte do docente para se dedicar
ao seu crescimento profissional (BOGLER; NIR, 2012). Apesar de já haver
inúmeras pesquisas voltadas ao tema, Klassen,
Usher e Bong (2010) apontam a necessidade de serem realizados mais
estudos para um melhor entendimento do sistema de ensino.
A
percepção de realização profissional é dada, de modo geral, por inúmeras
influências e acontecimentos decorrentes do cotidiano no trabalho, envolvendo o
convívio no ambiente de trabalho tanto com a estrutura física de qualidade
quanto com a interação social, sendo necessário a presença de emoções positivas
relacionadas à área de atuação e estabilidade psicológica (FERREIRA, 2011).
Com base
nessas considerações, o ambiente físico e a infraestrutura apresentam impacto
para a satisfação no trabalho (PEREIRA; ENGELMANN, 1993). Assim, pode-se
perceber que, se o local estiver proporcionando um ambiente agradável, mesmo
com muitas horas no trabalho, os indivíduos estarão motivados e com maior
envolvimento para atender aos objetivos propostos pela instituição (PIZZOLI,
2005).
Não só o ambiente físico, mas também as
relações sociais são fatores que alteram o nível de satisfação, principalmente,
no que se refere ao intuito da profissão, isto é, transmitir conhecimento a um
grupo. Desse modo, os comportamentos grupais, relacionando-os a um ideal de
eficácia do coletivo, apresentam a capacidade de induzir indiretamente a
satisfação no trabalho dos indivíduos, interferindo no todo, quando mensurada a
partir de quatro diretrizes, sendo elas: satisfação com a vida, progresso de
objetivos, afeto positivo no ambiente de trabalho e apoio em alcançar metas
(RAMOS et al., 2016). Portanto, o desenvolvimento grupal atinge a satisfação
dos docentes variavelmente conforme a sua condição, podendo ser uma
inter-relação boa ou ruim, consequentemente ser um benefício ou uma limitação
para a execução de suas atividades, dependendo da forma que está sendo
trabalhada na instituição de ensino.
Para Rebolo e Bueno (2014), na edificação do
bem-estar dos profissionais da educação, o bom relacionamento grupal é um dos
principais propulsores para se atingir o ideal do bom convívio. Por
conseguinte, quando há a presença de relações interpessoais conflituosas no
exercício de suas atividades, a interação será uma fonte de mal-estar, que resultará
no isolamento individual e na dificuldade de solucionar conflitos. Nesse
contexto, entra, principalmente, o papel dos coordenadores das instituições em
dialogar com os demais funcionários, tendo em vista que, se o docente não
receber o apoio institucional adequado, sua motivação será afetada diretamente
no envolvimento com as várias exigências e responsabilidades demandadas pelo
cargo (GARCIA; OLIVEIRA; BARROS, 2008).
Portanto, reforça-se que, para que as
atividades de ensino tenham eficácia, é fundamental que os docentes assumam uma
postura diferenciada de trabalho coletivo e colaborativo. A esse respeito, os
autores Fullan e Hargreaves (2001 apud BOY;
DUARTE, 2014, p. 86) dizem que são necessários ao envolvimento grupal na função
desses docentes o “[...] engajamento e a responsabilização coletiva entre os
professores, trabalho de discussão coletiva, de experimentação em sala de aula
e avaliação posterior coletiva, além da preocupação em garantir tempos e
espaços de trabalho coletivo”.
Nessa perspectiva de trabalho grupal, os
docentes precisam encontrar significado nas ações conjuntas (BORGES, 2006 apud BOY; DUARTE, 2014). Desse modo, a
satisfação é influenciada pelo sentido que os indivíduos percebem nos trabalhos
em equipe.
METODOLOGIA
A
pesquisa foi realizada durante o mês de março de 2019, buscando avaliar a
satisfação de docentes do ensino médio regular das áreas de matemática e
ciências da natureza quanto ao ambiente de trabalho e atividades grupais.
Possui natureza bibliográfica, conforme explica Gil (2007, p. 44), pois “é
desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de
livros e artigos científicos”. É classificada como exploratória, ao passo que
“tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas
a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses” (GIL, 2007, p. 41).
Configura-se ainda como pesquisa qualitativa.
Para a
coleta de dados, foram aplicados questionários aos docentes contendo oito
perguntas fechadas, e uma pergunta aberta, esta com o objetivo de obter
informações extras, caso julgasse importante. A amostra abordada foi de 40
docentes que se dispuseram a participar de um total de 55 profissionais,
correspondendo a aproximadamente de 73% dos professores das cinco escolas
estaduais de ensino médio da zona urbana do município de Tangará da Serra-MT,
sendo esses lotados nas áreas de matemática, física, química e biologia.
Inicialmente,
consultado o número de docentes presentes nas escolas, foram elaborados os
questionários para a coleta dos dados, sendo eles entregues a todos os
professores das referentes áreas de ensino que se disponibilizaram a participar
da pesquisa, juntamente com um ofício que descrevia os objetivos da mesa. Após
a coleta de dados, os mesmos foram tabulados e apresentados por meio de
tabelas, e, então, analisados quanto às possíveis causas relacionando os dados
com a teoria.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A
pesquisa de campo realizada em escolas estaduais da zona urbana do município de
Tangará da Serra-MT resultou no total de 40 formulários preenchidos a respeito
da satisfação de professores do ensino médio das disciplinas de matemática,
física, química e biologia. Os dados tabulados revelam uma amostra das
percepções de satisfação do referente público questionado. As oito perguntas
fechadas, foram pensadas para identificar se os aspectos físicos e de
infraestrutura das escolas em que esses docentes exercem sua profissão
interferem de algum modo em sua satisfação. E ainda, caso o professor quisesse
acrescentar informações relevantes à pesquisa, tinha a opção da pergunta
aberta.
A
primeira pergunta elaborada questionava se há suporte das coordenações para
atender às demandas dos professores, baseando-se no que os autores Lima e
Santos (2007) mencionaram sobre a importância da relação docente e coordenação,
a qual necessita garantir o máximo de suporte para que juntos possam realizar
as tarefas com o mínimo de desgaste possível, e assegurar o equilíbrio
emocional desses.
Conforme
Tabela 1, foi relatado que 85% dos docentes consideram o auxílio das
coordenações escolares bastante ou totalmente aplicável, 15% razoavelmente
aplicável, e não houve nenhuma resposta relacionada à pouca ou ausência de
suporte. Estes resultados em termos educacionais são de extrema importância,
visto a importância do papel da coordenação no intermédio das necessidades dos
professores ao realizarem suas tarefas (LIMA; SANTOS, 2007). Logo, trata-se de
um fator que está contribuindo para a satisfação dos professores de exatas e
ciências da natureza no exercício de sua profissão.
Tabela
1. Há suporte das coordenações para o acompanhamento da
demanda escolar?
Alternativas |
Porcentagem de respostas |
Não se aplica de nenhum modo. Pouco se aplica. Aplica-se razoavelmente. Aplica-se bastante. Aplica-se totalmente. |
0% 0% 15% 55% 30% |
Fonte.
Elaborado pelos autores, com base nos dados da pesquisa (2019)
O segundo
questionamento, dirigido aos docentes, repercute em suas demandas para uma
melhor atuação profissional. Assim, conforme Tabela 2, percebe-se que 52% dos
docentes estão se sentido bastante ou totalmente contemplados, ou seja, não há
motivos para terem insatisfação com falta de voz em reuniões pedagógicas, tendo
então livre capacidade de opinar, sugerir e requisitar melhorias para o ambiente
de trabalho. Tal resultado é importante e reforça o exposto por Coutinho (2002)
quando mostra que ser ouvido dentro de organizações eleva a satisfação pessoal.
Tabela
2. As áreas de exatas e ciências da natureza são
contempladas pelas reuniões pedagógicas?
Alternativas |
Porcentagem de respostas |
Não se aplica de nenhum modo. Pouco se aplica. Aplica-se razoavelmente. Aplica-se bastante. Aplica-se totalmente. |
2% 15% 30% 28% 25% |
Fonte:
Elaborado pelos autores, com base nos dados da pesquisa (2019)
Já 30%
considera que tal contemplação de necessidades não é nula, mas precisa ser
levada com maior importância, e 17% julgaram serem pouco ou de nenhum modo
contemplados pelas reuniões pedagógicas, logo, tal percentual considera que
suas participações em reuniões são inúteis, o que gera para esses certa
insatisfação.
A
terceira pergunta envolve os recursos didáticos ofertados pela instituição de
ensino, os quais foram considerados para o atendimento das necessidades
pedagógicas envolvendo o desenvolvimento de aulas. Nessa perspectiva, há
estudos que apontam sobre a importância da estrutura física para um maior
bem-estar ao trabalhar, conforme classificado por Herzberg (1976), o fator
higiênico do trabalho em suas pesquisas motivacionais, ou seja, a estrutura do
ambiente de trabalho é caracterizada como fundamental para a satisfação dos
funcionários, visto que, sendo essa estrutura precária, decorrerá em
insatisfação nos mesmos (ZANELLI;
BORGES-ANDRADE; BASTOS, 2004; SPECTOR, 2003).
Tabela
3. Os recursos didáticos da instituição são suficientes para
as atividades de ensino como livros, salas de estudos, recursos multimídias e
laboratórios?
Alternativas |
Porcentagem de respostas |
Não se aplica de nenhum modo. Pouco se aplica. Aplica-se razoavelmente. Aplica-se bastante. Aplica-se totalmente. |
0% 8% 42% 42% 8% |
Fonte.
Elaborado pelos autores, com base nos dados da pesquisa (2019)
Dentre os
questionados, conforme Tabela 3, 50% considera que os materiais como livros,
recursos multimídias, laboratórios e salas de estudos presentes em suas
respectivas escolas, atendem totalmente para que as aulas de matemática,
física, química ou biologia possam ser realizadas dentro do planejado.
Porém,
42% julga os recursos como razoáveis, sendo até certo ponto suficientes, mas
tendo muito a melhorar, já 8% classificam como pouco suficiente, tendo
materiais talvez no máximo para aulas básicas, e insuficientes para realizar
uma boa dinâmica em sala. A referente falta de estrutura afeta diretamente na
falta de motivação desses professores, que em situações mais favoráveis
conseguiriam desenvolver os conteúdos de maneira mais eficaz e produtiva, com
alunos aprendendo mais e, consequentemente, o professor consegue ter uma maior
satisfação a respeito de sua capacidade profissional.
É
importante ressaltar a situação financeira das escolas estaduais, que muitas
vezes apresenta certa precariedade de recursos, conforme declarado na pesquisa,
fato que é percebido pelos docentes como decorrente de vontades externas à
instituição, nem sempre por irresponsabilidade da coordenação. A Tabela 1 apresentada
anteriormente justifica a situação mostrando que, na maioria das vezes, há um
empenho dessas coordenações em ajudar aos professores.
Um fator
importante mencionado na pesquisa diz respeito à escassez de recursos
financeiros destinados à educação do estado, que se mostra como um empecilho
para uma melhor adequação física das escolas.
O quarto
questionamento, dirigido aos docentes, refere-se ao tempo disponível para
realizar o planejamento de aulas, ou a realização de atividades
extracurriculares, levado em consideração o tempo já trabalhado em sala de
aula. Para essa questão, conforme Tabela 4, 28% classificou o tempo como
totalmente suficiente, ou seja, não há a necessidade de levar trabalho para
casa, e é possível elaborar uma boa aula com o tempo disponível.
Tabela
4. O tempo disponível para planejamento e atividades de
ensino fora da sala de aula é suficiente em relação a atribuição de aulas?
Alternativas |
Porcentagem de respostas |
Não é suficiente. Razoavelmente suficiente. Totalmente suficiente. |
12% 60% 28% |
Fonte.
Elaborado pelos autores, com base nos dados da pesquisa (2019)
Porém 60%
classificou o tempo como razoavelmente suficiente, ou seja, em alguns momentos
talvez seja possível elaborar aulas ou participar de atividades
extracurriculares, contudo, tal disponibilidade de tempo se faz rotina, o que
não é ideal, já que o profissional pode se sentir incapaz de elaborar boas
aulas, influenciando
diretamente na qualidade do ensino e em sua
satisfação. E para 12% o tempo disponível é totalmente insuficiente, estando
então sobrecarregados de tarefas, causando os mesmos efeitos citados acima, e
acarretando também ou na ausência de um tempo livre para descanso ou na má
elaboração de aulas que prejudicam diretamente o ensino, devido à sobrecarga.
Analisando
o quinto questionamento, percebe-se na Tabela 5 que a quantidade de alunos por
sala de aula dificulta a realização de aulas dinâmicas, e impossibilita a
atenção individualizada, gerando o estresse dos professores, que em muitos
momentos precisam se desgastar para chamar atenção de alunos que não estão
interessados em conteúdo.
Tabela
5. É possível realizar uma aula produtiva levando em
consideração a quantidade de alunos por sala?
Alternativas |
Porcentagem de respostas |
Sim. Não. |
42% 58% |
Fonte.
Elaborado pelos autores, com base nos dados da pesquisa (2019)
Foram
tabulados que 58% dos professores se encontram do modo descrito acima, ou seja,
dar aulas muitas vezes se torna algo extremamente desgastante até mesmo
improdutivo. Porém, apesar do percentual negativo ser um dado preocupante, 42%
estão conseguindo ministrar aulas levando em consideração a quantidade de
alunos. Neste caso, é importante que as escolas apresentam estruturas capazes
de fazer a distribuição correta do número de alunos por sala de aula.
Por meio
da Tabela 6, percebe-se que a atuação dos docentes não está restrita somente à
área de formação. Apesar de
63% confirmar a atuação em sua área, 37% mencionou a atuação em disciplinas de
outras áreas, fato indesejado, apesar de serem áreas correlatas, pois é importante
que esse percentual seja baixo, tendo em vista que os professores não são
capacitados para ministrarem aulas fora de sua área específica de formação. Além
de haver prejuízo aos alunos, o próprio professor se sentirá insatisfeito.
Tabela
6. Sua atuação docente está restrita
à sua área de formação?
Alternativas |
Porcentagem de respostas |
Sim. Não. |
63% 37% |
Fonte.
Elaborado pelos autores, com base nos dados da pesquisa (2019)
A sétima
pergunta, cujas respostas estão na Tabela 7, refere-se a presença de estímulos
para que professores participem de projetos, sendo esses estímulos fundamentais
dado que já foi percebido a importância de desafiar trabalhadores e fazer com
que saiam um pouco da rotina de realizar o mesmo todos os dias (ANTUNES; PRAUN, 2015).
Tabela
7. Os professores são estimulados a participar de projetos?
Alternativas |
Porcentagem de respostas |
Não se aplica de nenhum modo. Pouco se aplica. Aplica-se razoavelmente. Aplica-se bastante. Aplica-se totalmente. |
0% 20% 30% 32% 18% |
Fonte.
Elaborado pelos autores, com base nos dados da pesquisa (2019)
Observando os resultados obtidos, 50% dos
docentes considera-se bastante ou totalmente estimulado a participar de
projetos, em contrapartida há um grupo de 50% que está razoavelmente ou pouco
estimulado a participar. Mesmo diante da declaração de 50% dos professores satisfeitos com
este quesito não deixa de ser um bom dado para a educação, já que além de
benefícios aos professores, também há benefícios à sociedade como um todo, por
meio de projetos e
pesquisas. Porém, 50% representa um outro percentual preocupante, uma vez que
há interesse de professores realizarem pesquisas, mas não conseguem
aproveitar essas oportunidades por falta de motivação por parte da direção das
escolas, pelos próprios
colegas professores ou até mesmo pelos próprios alunos.
O oitavo
questionamento, dirigido aos docentes, relaciona-se com a satisfação de modo
geral no ambiente de trabalho, tanto em relações sociais quanto na estrutura
física
das
instituições. Pela Tabela 8, constata-se que 13% deste total está totalmente
satisfeito com o ambiente de trabalho, 55%, apresenta-se estar razoavelmente ou
bastante satisfeito com o local de sua profissão e 2% pouco satisfeito. Os
resultados apontam uma satisfação positiva, porém, os docentes ainda estão
longe de alcançarem um ideal em que seja possível sustentar uma organização de
forma positiva com ensino de qualidade, visto que apenas 13% não possui
problemas relacionados à satisfação no ambiente em que trabalha.
Tabela
8. Levando em consideração o seu ambiente de trabalho,
envolvendo relações sociais e estrutura física, você está?
Alternativas |
Porcentagem de respostas |
Totalmente insatisfeito. Pouco satisfeito. Razoavelmente satisfeito. Bastante satisfeito. Totalmente satisfeito. |
0% 2% 40% 45% 13% |
Fonte.
Elaborado pelos autores, com base nos dados da pesquisa (2019)
Analisando
a parte discursiva da questão aberta do questionário, sete docentes dos 40
participantes da pesquisa deixaram contribuições que julgaram ser necessárias,
dentre essas estão a falta de laboratórios e equipamentos para trabalhar as
matérias de ciências da natureza, a impossibilidade de realizar práticas mais
elaboradas, e também a questão da redução orçamentária que impactou o número de
contratos, dificultando assim o uso do laboratório de informática pela falta de
funcionários.
Outro
ponto abordado nas respostas foi a quantidade de alunos por sala de aula, que
dificulta o trabalho desses professores. Todos os fatores citados, refletem em
índices de insatisfação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base
nos dados apresentados anteriormente, é possível julgar a satisfação como uma
das principais vertentes para o bom desenvolvimento organizacional, uma vez que
ela é responsável pelas atitudes dos colaboradores no meio de trabalho, as
quais impactam diretamente no exercício de sua função, sendo responsáveis pela
estabilidade da instituição.
A principal
limitação encontrada na realização desta pesquisa consistiu em reunir uma
amostra, tendo em vista que muitos dos profissionais questionados alegavam não
ter tempo disponível devido ao cotidiano carregado de atividades. No entanto,
após explicar a importância do estudo, grande parte se disponibilizou a
responder. Diante de tal situação, pode-se perceber que são parcos os esforços
destinados às pesquisas acadêmicas dentro do contexto da educação no Município.
Partindo
para a ótica da pesquisa aplicada, nota-se, em visão geral, que apesar do
equilíbrio dos dados coletados, os resultados apontam uma leve predominância de
que os entrevistados estão satisfeitos com a execução de seu trabalho. Mesmo
diante de algumas discordâncias, como a falta de infraestrutura ou até o
desinteresse por parte dos discentes, é perceptível que os docentes se sentem
bem em seu local de trabalho.
Apesar
disso, é importante um olhar para os aspectos que precisam ser aprimorados para
que o trabalho de docência seja exercido com êxito. A maior aproximação e
interação com órgãos governamentais em relação à infraestrutura ou até mesmo na
gestão dessas instituições, por meio da mudança do corpo diretor, são medidas
que podem levar à renovação no clima organizacional podendo elevar a satisfação
dos professores com um sentimento positivo em relação ao trabalho.
Por meio
desse estudo, abre-se espaço para comparativos com futuras pesquisas no mesmo
campo de análise, podendo os dados serem reutilizados para a criação de índices
de satisfação dos docentes, de modo a apontar se o sistema educacional nesse
ponto apresentará melhorias ou não. Também, possibilitam-se novos estudos no
munícipio, já havendo, dessa forma, dados a respeito das escolas estaduais, que
poderão ser comparados com a satisfação de professores de escolas particulares
ou da rede federal na cidade. Outro ponto que também se mostra potencial a ser
considerado é a comparação das escolas estaduais entre municípios do estado de
Mato Grosso, criando-se assim um banco de dados com o intuito de facilitar a
identificação e resolução de problemas ao comparar com outras cidades.
O
resultado do trabalho foi satisfatório à medida que cumpriu com a proposta,
tendo alcançado os objetivos. Oportunizou o entendimento das limitações e
desafios enfrentados na função dos docentes da área estudada. Para os autores,
ampliou a visão, à medida que aplicou conhecimentos de gestão de recursos
humanos no contexto educacional.
REFERÊNCIAS
ALVES, M.
G.; AZEVEDO, N. R.; GONCALVES, T. N. R.. Satisfação e
situação profissional: um estudo com professores nos primeiros anos de
carreira. Educação e Pesquisa, São
Paulo, v. 40, n. 2, p. 365-382, jun. 2014.
ANTUNES,
R.; PRAUN, L.. A sociedade dos adoecimentos no trabalho. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, n. 123, p. 407-427,
set. 2015.
BOY; DUARTE. A dimensão coletiva do trabalho docente: uma experiência
em duas escolas municipais de Belo Horizonte. Educação em Revista, Belo
Horizonte, v.30, n.04, p. 81-104, dez. 2014.
BOGLER,
R.; NIR, A. E.. The importance of teachers'
perceived organizational support to job satisfaction. Journal Of Educational Administration, [s.l.], v. 50, n. 3,
p.287-306, mai. 2012.
COUTINHO,
M. C.. Participação dos trabalhadores: um estudo sobre as práticas e as
representações em uma organização participativa. Psicologia em Estudo,
Maringá, v. 7, n. 2, p. 101-109, dez. 2002.
FERREIRA,
A. C. M.. Satisfação no Trabalho de
Docentes de Uma Instituição Pública de Ensino Superior: Reflexos na Qualidade
de Vida. 2011. 126 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Enfermagem,
Faculdade de Enfermagem, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2011.
GARCIA,
Á. L.; OLIVEIRA, E. R. A.; BARROS, E.. Qualidade de vida de professores do
ensino superior na área da saúde: discurso e prática cotidiana. Cogitare Enfermagem, [s.l.], v. 13, n.
1, p.18-24, 5 ago. 2008.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de
pesquisa. São Paulo: Atlas, 2007.
HERZBERG,
F.. One More Time: How Do You Motivate Employees?. Job Satisfaction — A Reader, [s.l.],
p.17-32, 1976. Palgrave Macmillan UK.
KLASSEN, R. M.; USHER, E. L.; BONG, M. Teachers’
Collective Efficacy, Job Satisfaction, and Job Stress in Cross-Cultural
Context. The Journal Of Experimental
Education, [s.l.], v. 78, n. 4, p.464-486, 24 jun. 2010. Informa UK Limited.
LIMA, P. G.; SANTOS, S. M. O
coordenador pedagógico na educação básica: desafios e perspectivas. Educere
Et Educare: Revista de Educação, Cascavel, v. 2, n. 4, p.77-90, jul.
2007.
MINAYO, M. C. S. (org.). Pesquisa Social.
Teoria, método e criatividade. 18 ed. Petrópolis: Vozes, 2001.
PEREIRA,
C.A.A.,ENGELMANN, A. Um estudo da qualidade de vida universitária no trabalho
entre docentes da UFRJ. Arquivos
brasileiros de psicologia, v. 45, n. 3, p.12-48, jul. 1993.
PIZZOLI,
L. M. L.. Qualidade de vida no trabalho: um estudo de caso das enfermeiras do
Hospital Heliópolis. Ciência & Saúde
Coletiva, Rio de Janeiro, v. 10, n.
4, p. 1055-1062, dez. 2005.
RAMOS,
M. F. H. et al. Satisfação no trabalho docente: Uma análise a partir do
modelo social cognitivo de satisfação no trabalho e da eficácia coletiva
docente. Estudos de Psicologia, [s.l.], v. 21, n. 2, p.179-191,
jun. 2016. GN1 Genesis Network.
REBOLO, F.; BUENO, B. O. O
bem-estar docente: limites e possibilidades para a felicidade do professor no
trabalho. Acta Scientiarum. Education, [s.l.], v. 36, n. 2,
p.427-435, 7 jul. 2014. Universidade Estadual de Maringá.
ROBBINS, S. P.; JUDGE, T. A.; SOBRAL, Filipe. Comportamento
Organizacional: teoria e
prática no contexto brasileiro. 14. ed. São Paulo: Person Education Brasil,
2010.
SIQUEIRA, M. M. M.. Medidas do
comportamento organizacional: ferramentas de diagnóstico e de gestão. Porto
Alegre: Artmed, 2008.
SIQUEIRA,
M. M. M.; PADOVAM, Valquiria Aparecida Rossi. Bases teóricas de bem-estar subjetivo,
bem-estar psicológico e bem-estar no trabalho. Psicologia: Teoria e Pesqquisa, Brasília ,
v. 24, n. 2, p. 201-209,
jun. 2008.
SPECTOR, P. E. Psicologia nas organizações. São Paulo: Saraiva, 2003.
ZANELLI,
J. C.; BORGES-ANDRADE, J. E.; BASTOS, A. V. B. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre:
Artmed, 2004.