vol. 3, n.
3, Setembro-Dezembro/2019
DOI: https://doi.org/10.30781/repad.v3i3.9315
GESTÃO DE PESSOAS NA EDUCAÇÃO: A importância do
trabalho coletivo na consecução de resultados educacionais
Nilson Robson
Guedes Silva
Faculdade de
Conchas, Conchas, São Paulo, Brasil
nguedes29@gmail.com
https://orcid.org/0000-0003-0321-8112
Resumo
O trabalho apresentado é resultado de uma pesquisa baseada
em estudos exploratórios, de natureza bibliográfica e abordagem qualitativa,
que teve como objetivo geral analisar a importância do trabalho coletivo nas
instituições de ensino, para atingir seus objetivos. Após discutir as questões
que envolvem Gestão Educacional, Gestão Empresarial, Gestão de Pessoas, a
dimensão humana em Gestão de Pessoas e Qualidade de Vida no Trabalho, foi
demonstrado que a administração escolar poderá ter um desempenho melhor se
houver uma participação da comunidade escolar por meio de trabalho coletivo. A
gestão democrática, incluindo uma maior participação da comunidade nas decisões
de interesse coletivo, deve ser permanentemente perseguida e planejada por
todos, considerando sua importância na consecução dos objetivos estabelecidos
pelas instituições de ensino.
Palavras-chave: Gestão de Pessoas; Administração Educacional; Trabalho
Coletivo.
GESTIÓN DE PERSONAS EN LA EDUCACIÓN: La importancia del trabajo colectivo para alcanzar los resultados educativos
Resumen
El trabajo
presentado es el resultado de una investigación basada en estudios
exploratorios, naturaleza bibliográfica y enfoque cualitativo, que tuvo como
objetivo general analizar la importancia del trabajo colectivo en las
instituciones educativas, para lograr sus objetivos. Después de discutir los
temas relacionados con la gestión educativa, la gestión empresarial, la gestión
de personas, la dimensión humana en la gestión de personas y la calidad de vida
en el trabajo, se demostró que la administración de la escuela podrá
desempeñarse mejor, actuando en un Los resultados educativos se logran si la
comunidad escolar participa a través del trabajo colectivo. La gestión
democrática, en la que se incluye una mayor participación de la comunidad en
las decisiones de interés colectivo, debe ser perseguida y planificada
permanentemente por todos, considerando su importancia para lograr los
objetivos establecidos por las instituciones educativas.
Palabras clave: Gestión de personas; Administración educativa; Trabajo colectivo.
PEOPLE MANAGEMENT IN EDUCATION: The importance of
collective work in achieving educational outcomes
Abstract
The work presented
is the result of a research based on exploratory studies, with bibliographical
nature and qualitative approach, which had as its general objective to analyze
the importance of collective work in educational institutions, to achieve their
goals. After discussing the issues involving Educational Management, Business
Management, People Management, the human dimension in People Management and
Quality of Life at Work, it has been shown that school administration will be
able to perform better if there is a participation of the school community
through collective work. Democratic management, including greater community
participation in decisions of collective interest, must be permanently pursued
and planned by all, considering its importance in achieving the goals set by
educational institutions.
keywords: People management; Educational administration; Collective work.
Submetido: 30/10/2019
Aceito: 16/12/2019
Publicado: 31/12/2019
INTRODUÇÃO
A presente pesquisa, situada no campo da ‘Gestão de Pessoas’,
pretendeu analisar a importância do trabalho coletivo em instituições
educacionais, para que os objetivos previstos sejam alcançados. Muitas
instituições podem não alcançar as suas metas pela existência de uma gestão que
não aproveita todas as potencialidades de seus funcionários, e não organiza as
suas atividades para que os seus colaboradores atuem coletivamente. No caso de
escolas, os seus diretores, ao não valorizarem esse aspecto da gestão (gestão
de pessoas), contribuem para que muitas instituições educacionais apresentem
resultados insatisfatórios.
Para identificação da importância de um trabalho coletivo em
escolas, e sua relação com os resultados alcançados, foram definidas as
seguintes questões norteadoras: Qual a relação entre gestão empresarial e
gestão educacional? Qual a especificidade da gestão educacional? Em que se
constitui e qual a abrangência de uma gestão de pessoas, em uma organização?
Qual a importância da dimensão humana na gestão? Qual a especificidade da
gestão de pessoas em escolas? De que forma o gestor pode atuar para a
construção de um trabalho coletivo? Qual a importância do coletivo para que os
resultados sejam alcançados?
Os resultados da pesquisa podem contribuir com o trabalho
dos gestores escolares, ao se considerar que a literatura existente aborda, com
maior abrangência, a gestão de pessoas em empresas, que estão organizadas de
forma diferente. Ao abordar a organização do trabalho coletivo em escolas, com
o enriquecimento da literatura que discute o mesmo tema em empresas, denota-se
a importância da pesquisa para os diretores de escola, que poderão refletir
sobre o trabalho que desenvolvem e sobre a importância da gestão de pessoas em
uma atividade que busca o alcance de objetivos essencialmente pedagógicos.
O objetivo geral foi analisar a importância do coletivo para
o alcance dos resultados educacionais. Quanto aos objetivos específicos, foram
os seguintes: apontar a relação existente entre gestão empresarial e
educacional; identificar a especificidade da gestão escolar e da gestão de
pessoas na escola; conhecer a abrangência da gestão de pessoas na organização,
e a importância da dimensão humana nas relações entre os colaboradores;
descrever a forma pela qual o gestor pode atuar para a construção de um
trabalho coletivo; e relatar a importância do trabalho coletivo para que os
resultados educacionais sejam alcançados.
O trabalho, resultado de uma pesquisa bibliográfica,
desenvolvido a partir da análise de obras de autores que discutem a temática,
tem o seu início marcado pela apresentação de um breve histórico sobre a
administração educacional no Brasil, sendo apontada a relação entre a gestão
educacional e a empresarial, e a influência desta última na área da educação.
Na sequência, é apresentada uma conceituação sobre gestão de pessoas e,
posteriormente, é discutida a dimensão humana na gestão de pessoas e a
qualidade de vida no trabalho. A gestão de pessoas em instituições
educacionais, e as especificidades encontradas na área da educação, são objetos
de análise na sequência, introduzindo a discussão que envolve o trabalho
coletivo em instituições educacionais, e a sua importância para o alcance dos
resultados educacionais.
ENSAIO TEÓRICO
O presente trabalho, baseado em
estudos exploratórios, foi desenvolvido através de uma pesquisa bibliográfica,
de abordagem qualitativa, sendo adotadas as fases descritas por Marconi e
Lakatos (2017, p. 44): “a) escolha do tema; b) elaboração do plano de trabalho;
c) identificação; d) localização; e) compilação; f) fichamento; g) análise e
interpretação; e h) redação”. Essa modalidade de pesquisa é valorizada enquanto
um procedimento metodológico de importância para a produção do conhecimento
científico “[...] capaz de gerar, especialmente em temas pouco explorados, a
postulação de hipóteses ou interpretações que servirão de ponto de partida para
outras pesquisas” (LIMA; MIOTO, 2007, p. 40).
Gil (2017) aponta como objetivo do
estudo exploratório possibilitar uma maior proximidade com o problema da pesquisa, de forma que ele se
torne mais explícito, possibilitando que ideias sejam aprimoradas e intuições
descobertas.
A pesquisa
bibliográfica, que tem como base para o seu desenvolvimento materiais já
elaborados, possui um grande número de fontes a serem consultadas. Gil (2017,
p. 64), reconhecendo a existência de “[...] pesquisas em que os dados obtidos a
partir de fontes bibliográficas são utilizados de maneira exclusiva”, indica
como fontes os livros, publicações periódicas e impressos diversos. O desenvolvimento de uma pesquisa bibliográfica exige, do
pesquisador, após a apreensão dos objetivos que se pretende alcançar, leitura
de uma ampla bibliografia, questionamentos e “[...] interlocução crítica com o
material bibliográfico que permite, por sua vez, um leque de possibilidades na
apreensão das múltiplas questões que envolvem o objeto de estudo” (LIMA; MIOTO,
2007, p. 40). Foram buscadas referências para cada um dos temas discutidos no
trabalho, sendo, posteriormente, estabelecidas relações entre eles, de forma
que houvesse uma coerência entre as diferentes partes da pesquisa, e
possibilitasse o alcance dos objetivos pretendidos.
1. GESTÃO
EDUCACIONAL E GESTÃO EMPRESARIAL: CAMPO DE TENSÕES
Nem sempre o tema ‘administração
educacional’ recebeu atenção na produção bibliográfica brasileira, sendo
devidamente estruturada na academia há menos de 100 anos. Drabach e Mousquer
(2009) relatam que, no Brasil, os primeiros escritos teóricos sobre
administração educacional são de 1930, o que, para os autores, não significa
afirmar que inexistia prática de administração escolar no Brasil até esta data.
Para os autores, a ausência de produção de um corpo teórico sobre administração
educacional decorre do descaso dos governantes, que não construíram para a
população um sistema de ensino.
Na década de 1930, tinha-se um
contexto educacional acadêmico inserido nos ideais de uma educação
progressista, com a influência do movimento Escola Nova, que se voltava contra
a educação tradicional, considerada desfavorável aos ideais do desenvolvimento
do país, e, assim, contrária ao avanço da industrialização. Os educadores brasileiros que integravam o
movimento da Escola Nova defendiam que o campo educacional deveria se pautar
por uma maior cientificidade, e que teriam que ser oferecidas mais vagas para a
população. Esses educadores afirmavam que os problemas da administração
educacional deveriam ser resolvidos com a utilização de um maior espírito
filosófico e científico, e que essa carência era a responsável principal pela
desorganização escolar. (DRABACH; MOUSQUER, 2009). A partir desse movimento,
foi iniciada a produção teórica no campo da administração educacional, tendo
como alguns de seus representantes os seguintes autores: Leão (1945); Teixeira
(1961; 1964; 1997); Lourenço Filho (1970) e Ribeiro (1986). Nas décadas
iniciais do século XX, momento em que o espírito de cientificização estava
latente, a administração esteve fortemente influenciada pela administração
geral, fruto das elaborações científicas, que era considerada a alternativa
mais adequada, uma vez que obtinha sucesso no âmbito empresarial. Na década de
1980, momento em que houve um forte questionamento da racionalidade do
capitalismo no campo da educação, o modelo da administração científica
empresarial foi fortemente questionado, caminhando para que a centralidade
técnica-administrativa fosse retirada do campo da educação (DRABACH; MOUSQUER,
2009).
Com a Constituição de 1988, que
estabeleceu o princípio da gestão democrática na educação pública, houve novos
debates e olhares sobre a gestão educacional, surgindo um intenso debate sobre
a influência da administração empresarial na educação, o que era criticado por
muitos educadores. Para Russo (2013), uma administração escolar comprometida
com a transformação social torna-se totalmente diferente da administração
empresarial (capitalista), considerando que a escola deverá atuar para que os
trabalhadores dominem o saber[1], de forma que desenvolvam
uma consciência crítica da realidade (educação libertadora) e se libertem da
dominação a que estão sujeitos e das desigualdades sociais.
Abordando, também, sobre a
necessária especificidade da Administração Educacional, Paro (2018) inicia as
suas considerações sobre o tema afirmando que, de forma geral, a administração
pode ser entendida como a administração de recursos de forma racional, para que
se realizem determinados fins, através do esforço humano de uma determinada
coletividade. O autor considera que, em uma administração capitalista, a
relação ocorrida entre as pessoas é pautada pela dominação, e as relações que
ocorrem entre trabalho e capital é de exploração. Paro propõe que se pense a
racionalidade das ações da humanidade, avaliando ser necessária a busca de
objetivos que atendam aos interesses de todos os integrantes da sociedade, e
não apenas de determinados grupos sociais. Para essa mudança de paradigma, o
autor considera ser necessário que ocorra uma verdadeira transformação na forma
de organização social. E para essa transformação, torna-se necessário uma
escola transformadora, que necessita de uma administração comprometida com esse
mesmo objetivo. Portanto, não há como transferir automaticamente para a escola
o princípio da administração empresarial, uma vez que seus objetivos não são os
mesmos.
Russo (2013), ao analisar o processo
de produção que ocorre na escola (processo de produção pedagógico) e o processo
produtivo de uma empresa (produção de bens materiais), vê diferenças
significativas entre as duas instituições. Para o autor, as diferenças se
situam tanto nas peculiaridades do processo em si, quanto, também, nos
objetivos que as instituições buscam alcançar. Se na sociedade capitalista a
produção tem como objetivo exclusivo a produção de mercadorias, a instituição
educacional deve buscar a formação e a emancipação do homem, para que ele goze de autonomia e
de igualdade. Outra diferença apontada pelo autor é que, diferentemente de uma
empresa, o processo pedagógico desenvolvido na escola não é material, e o
produto da escola não se separa na produção. Explica o autor que, na escola, a
presença do aluno no processo produtivo é de fundamental importância.
2. GESTÃO DE
PESSOAS – BREVE CONCEITUAÇÃO CONTEMPORÂNEA
Um princípio básico para quem quer
trabalhar com o ser humano, é gostar de pessoas, é se sentir bem no meio de
pessoas. Essa exigência é maior ainda para quem atua na coordenação de uma
equipe. Para Boog (2010, p. 104), quem quer ser líder tem que se sentir bem com
as pessoas, tem que “[...] gostar de gente, de lidar com a intrincada alma das
pessoas. Existem pessoas que adoram a parte técnica, mas se sentem
incompetentes para lidar com pessoas, com a diversidade e a imprevisibilidade
de comportamentos que os humanos apresentam” (BOOG, p. 104). Ressaltando de
forma enfática essa qualidade, diz ainda que pessoas sempre devem ser tratadas
como pessoas, e nunca como ‘recursos humanos’.
Dutra (2016) procura classificar as
etapas do processo evolutivo da gestão de pessoas, tendo como parâmetro as
funções desempenhadas pelos indivíduos nas instituições. Ao se verificar a
abordagem funcionalista, por exemplo, podem ser identificadas 03 fases no
processo histórico. A primeira fase, identificada de fase operacional, ocorreu
até a década de 1960, e se caracterizava pela preocupação da gestão de pessoas
em colocar em prática a captação, o treinamento, a remuneração e as
informações. Já na segunda fase, denominada de fase gerencial, ocorrida no
período de 1960 ao início de 1980, a gestão de pessoas começa a promover uma
interferência nos processos da organização, e passa a ser solicitada a
participar dos processos de desenvolvimento da organização. A partir dos anos
80 é iniciada a terceira fase, nomeada como fase estratégica, onde a gestão de
pessoas passa a assumir um papel estratégico para que as pessoas internalizem
novos conceitos, novas formas de pensamento, gerando valores para a organização
(DUTRA, 2016). Dutra (2016) considera que os conceitos modernos de gestão, bem
como as suas práticas, são mais eficientes para a obtenção de um maior
comprometimento do colaborador com a organização. Havendo maior
comprometimento, é possível que a empresa obtenha mais dedicação e maior produtividade
e empenho do profissional, sem a necessidade de lhe oferecer uma vantajosa
contrapartida. O autor afirma ainda que o desenvolvimento de pessoas se
constitui na “habilidade do líder em estruturar, motivar e preparar sua equipe
para as demandas de médio e longo prazo do negócio. Envolve a capacidade de
promover um clima interno favorável à participação e oferecer oportunidades
concretas de desenvolvimento” (DUTRA 2016, p. 30).
Uma organização que procura se
preparar para o futuro terá que investir em dois aspectos: um investimento em
seu sistema de gestão de pessoas, visando a sua modernização, e o outro no
estímulo e no suporte para que as pessoas busquem, de forma autônoma, o seu
próprio desenvolvimento. Modernizar a gestão de pessoas significa dar condições
para que a organização e os colaboradores possam vislumbrar o seu
desenvolvimento, e, também, para que a instituição possa verificar de que forma
todos os seus colaboradores poderão contribuir com o negócio, de maneira que
empresa e colaborador conciliem, dinamicamente, as suas expectativas. Sem
estímulo e apoio, as pessoas não refletem sobre o seu desenvolvimento, que é o
detalhe para que o profissional tenha competitividade. Dutra considera que
“[...] a questão do desenvolvimento é a pedra de toque para a competitividade
profissional da pessoa e organizacional da empresa, a estimulação mútua nesse
sentido será o alicerce para uma relação que pode suportar as adversidades do
futuro”. (DUTRA, 2016, p. 209).
3. A
DIMENSÃO HUMANA NA GESTÃO DE PESSOAS E A QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO
Uma relação de conflito entre a
organização e os seus colaboradores pode prejudicar a todos. Ozaki considera
que relações de conflito entre a organização “[...] e todas as pessoas
envolvidas precisam ser resolvidas para se criar condições melhores de trabalho
e de relacionamento social, melhorando os aspectos psicossociais do trabalho,
pois contribuirão para os resultados e o sucesso da organização” (OZAKI, 2009,
p. 29). Alguns autores defendem a necessidade de uma Qualidade de Vida no
Trabalho - QVT, o que poderá influenciar os resultados que se pretende
alcançar. Davis define QVT como uma “[...] preocupação com o bem-estar geral e
a saúde dos trabalhadores no desempenho de suas tarefas” (DAVIS apud
CHIAVENATO, 2009, p. 448). Limongi-França considera QVT como “o conjunto das
escolhas de bem-estar único e individualizado que proporciona autoestima
positiva, percepção de equilíbrio, hábitos saudáveis e prontidão para o
desempenho no trabalho saudável” (LIMONGI-FRANÇA, 2009, p. 275 apud OZAKI, 2009,
pp. 32-33).
Davis e Newstrom (1996), também
referidos por Ozaki (2009), compreendem que a proposta principal da Qualidade
de Vida no Trabalho é a de desenvolver ambientes de trabalho que sejam bons,
tanto para as pessoas como para a condição econômica da organização. Nesse
entendimento, a proposta da Qualidade de Vida no Trabalho seria a de conhecer
todos os pontos que podem ser favoráveis e desfavoráveis a um ambiente de
trabalho mais humanizado, sendo buscado um equilíbrio entre as necessidades da
organização e as dos colaboradores. “Nesse sentido, a tentativa da QVT é
conhecer os pontos favoráveis e desfavoráveis do ambiente de trabalho, para
torná-lo mais humanizado, equilibrando as necessidades tanto da organização
como dos trabalhadores” (OZAKI, 2009, p. 32).
Chiavenato (2009) ressalta os
seguintes aspectos da Qualidade de Vida no Trabalho: a incorporação de dois
interesses antagônicos, onde se tem, de um lado, os interesses dos
trabalhadores pela satisfação no trabalho e o bem-estar e o interesse das
instituições sobre os impactos positivos que influenciam na produtividade e na
qualidade; o respeito da organização pelos seus colaboradores; a motivação e a
satisfação dos trabalhadores; e investimento no cliente interno, sendo
considerado de igual valor ao investimento no cliente externo - assim, a
satisfação do colaborador influencia na satisfação do cliente externo.
Para Limongi-França, citados por Ozaki (2009), é de fundamental importância que as
organizações estimulem os trabalhadores, de forma que eles tenham o trabalho
como fonte de prazer, o que os levará ao bem-estar e satisfação. Para o autor,
toda pessoa possui potencialidades biológicas, sociais e psicológicas,
tornando-a um complexo biopsicossocial. Assim, as organizações devem organizar
as suas ações de forma que as pessoas se mantenham saudáveis. As organizações
também devem proporcionar aos seus colaboradores o bem-estar, no sentido
biopsicossocial, nos aspectos de proteção, de recuperação e de promoção da saúde.
Quando se fala em práticas de proteção da saúde, significa a adoção de
procedimentos que tenham como objetivo a prevenção das pessoas aos agentes
nocivos (uso de equipamentos de proteção) e a prevenção de doenças. As práticas
de recuperação e de promoção à saúde se referem ao desenvolvimento de práticas
para recuperar as pessoas que já estão doentes.
Para o autor, o bem-estar deve estar
relacionado à manutenção, de forma íntegra, do indivíduo como pessoa,
profissional e cidadão. “O desafio para as organizações é ‘reconstruir, com
bem-estar, o ambiente competitivo, altamente tecnológico, de alta produtividade
do trabalho, e garantir ritmos e situações ecologicamente corretas”
(LIMONGI-FRANÇA, 2008, p. 45). Assim, preocupar-se com a Qualidade de Vida no
Trabalho, controlando-a, “[...] é gerir riscos, mantendo a salubridade, isto é,
um ambiente que propicie e privilegie a saúde no sentido biopsicossocial” (OZAKI,
2009, p. 38). Segundo a autora,
Vale ressaltar a conceituação abrangente de saúde, que
inclui componentes físicos, mentais, sociais e psicológicos do bem-estar, que
foi proposta por Ryff e Singer e é composta por quatro elementos centrais: “1)
viver uma vida com propósito; 2) ligações de qualidade com outras pessoas; 3)
autoestima positiva e autodomínio; 4) percepção de acontecimentos negativos
como caminhos para o sentido e o propósito” (RYFF; SINGER, 1998 apud
MACIK-FREY, 2009, p. 97). Esses elementos são comuns entre as diversas
culturas. Além dos riscos a que estão sujeitas as pessoas, há outros riscos aos
quais estão sujeitas as organizações: 1) contaminação de produto; 2) danos a
terceiros; 3) morte de colaboradores; 4) danos ao meio ambiente; 5) explosões;
6) incêndios; e 7) roubos e fraudes. As principais consequências podem
envolver: 1) riscos à vida; 2) perda de clientes; 3) perda da credibilidade; 4)
queda nas vendas; 5) prejuízos à imagem organizacional; 6) paralisação das
atividades; 7) prejuízos financeiros e 8) demissões (RIBEIRO, 2005 apud OZAKI,
2009, pp. 37-38)
Dessa forma, fica nítido que uma
relação saudável entre os colaboradores e a organização traz benefícios tanto
para as pessoas quanto para a instituição, o que justificativa o empenho de
todos na busca desse objetivo.
4. A
ESPECIFIDADE DA GESTÃO DE PESSOAS EM INSTITUIÇÕES EDUCACIONAIS
Independentemente da área de
conhecimento, o ser humano sempre se faz presente, o que não é diferente quando
se trata da área de educação. Como parte de uma organização, o ser humano sofre
a influência de vários fatores, dentre eles da comunicação, da motivação, da
reciprocidade, da criatividade e do trabalho em equipe (PEDRO; OLIVIERI, 2008).
Os autores consideram o conhecimento como um tesouro, no entanto, ressaltam de
forma enfática que a prática é a chave para o acesso a esse conhecimento.
Na educação, a gestão de pessoas
também é de fundamental importância. Para Meyer, Jr. e Sermann (2004), citados
por Pedro e Olivieri (2008), a gestão é negligenciada em instituições de
ensino, colaborando para a existência de fatores que contribuem com a situação
de precariedade das unidades escolares. O primeiro é relacionado ao fato de se
atribuir uma dimensão operacional e secundária à gestão da escola. O segundo
fator é a inexistência de modelos de gestão específicos para a escola. O
terceiro fator é a predominância de uma prática amadora de gestão, sendo
identificado que as pessoas que assumem a gestão de escolas não foram
preparadas de forma adequada. Pedro e Olivieri (2008) consideram que o trabalho
com pessoas exige o entendimento de comportamento humano e o conhecimento de
variadas práticas e sistemas já existentes, o que poderá auxiliar para a
construção de uma gestão motivada e qualificada. Na educação, se fala muito da
relação professor-aluno, no entanto, a relação escola-professor também é
importante, e é nesta tríade complexa (aluno-professor-escola) que a gestão
poderá mostrar os seus diferenciais. Se na escola não houver a gestão de
pessoas de forma adequada, há dificuldades para que o professor utilize todo o
seu potencial, a sua inovação e criatividade. Assim, percebe-se a necessidade
de se qualificar os gestores que atuam nas escolas, sendo relevante identificar
o nível de conhecimento que o gestor possui de sua área de atuação (PEDRO;
OLIVIEIRI, 2008).
5. GESTÃO DE
PESSOAS E TRABALHO COLETIVO EM INSTITUIÇÕES EDUCACIONAIS
Nem sempre um conjunto de pessoas
que trabalham em um mesmo local constitui uma equipe. Para que se tenha uma
equipe, é necessária a existência de um elemento de identidade, que unirá as
pessoas. Essa identidade, que poderá unir as pessoas, se revela nas normas
instituídas, nos objetivos, na causa, enfim, no processo (VERGARA, 2016).
Na organização atual do Sistema
Educacional Brasileiro, o dirigente escolar ocupa um papel importante no
processo de construção de uma gestão democrática, ou seja, em uma gestão que
valoriza a participação das pessoas nas decisões. Leite e Di Giorgi (2004)
afirmam que a figura do dirigente educacional vem imediatamente em nosso
pensamento quando falamos em gestão de uma unidade educacional. Os autores
ainda afirmam que diretor cumpre um papel essencial na administração ou gestão
escolar. Quando se pensa em uma gestão que pressupõe a participação das
pessoas, é fundamental que a comunidade da instituição educacional tenha a
oportunidade de compartilhar os seus desejos, as suas aspirações e, também, o
projeto de trabalho da unidade educacional, buscando de forma intensiva a
melhoria do ensino. Vitor Henrique Paro (2018) também reconhece como de
importância fundamental, no processo que visa à instalação de uma gestão com a
participação das pessoas, que a coordenação dos esforços, seja dos
funcionários, dos professores, do pessoal técnico-administrativo, dos pais e
dos alunos, tenha como fundamento a participação coletiva.
As principais legislações educacionais
do país enfatizam a importância da gestão democrática, no entanto, muitos
gestores são apontados como obstáculos para uma gestão que valorize a
participação das pessoas, que busque um trabalho coletivo. Esses diretores se
dedicam, em boa parte do tempo de trabalho, ao controle do trabalho dos seus
‘subordinados’ (SILVA, 2006). Se for adotada, na gestão educacional, uma
concepção de administração técnico-científica, onde a visão tecnicista e
burocrática prevalece, o gestor é considerado a figura principal da instituição
educacional, restando às demais pessoas que compõem esse espaço o cumprimento
de suas decisões (LIBÂNEO, OLIVEIRA; TOSHI, 2018).
Paro (2003), constatou em pesquisa desenvolvida, que um dos embaraços
para o trabalho coletivo era o papel desempenhado pelo diretor escolar, visto
como a autoridade máxima da unidade. Em uma gestão educacional que se quer
participativa, ou seja, que conte com a participação das pessoas, deverá
ocorrer a construção de um coletivo, composto pelos profissionais da educação,
pais e alunos, com toque e feição democrática, de forma que a instituição seja
transformada em local de aprendizagem para todos (MANSANO, 2010 apud, SILVEIRA
JUNIOR; RIBEIRO, 2013). Uma gestão que valoriza o trabalho coletivo se opõe à
existência de um diretor que faça valer a sua autoridade. Silveira Junior e
Ribeiro (2013) consideram que organizar-se de forma a valorizar o trabalho
coletivo pressupõe que a instituição adote uma opção política de se organizar
de forma diferente, onde se estimule o maior envolvimento das pessoas e onde há
uma meta coletiva com foco no aluno.
6. A
IMPORTÂNCIA DO TRABALHO COLETIVO PARA O ALCANCE DOS RESULTADOS EDUCACIONAIS
Para entender a importância do
trabalho coletivo, visando o alcance dos resultados educacionais, buscamos o
auxílio de Sander (1995), que se baseia em uma construção teoricamente
denominada “Administração Relevante”[2]. A Administração
Relevante, na concepção de Sander (1995), “é uma derivação conceitual de
formulações interacionistas recentes e atuais no campo da teoria organizacional
e administrativa preocupadas com as características culturais e os valores
éticos que definem o desenvolvimento humano sustentável e a qualidade de vida
na educação e na sociedade” (p. 50). No entendimento de que a cultura
organizacional pode contribuir para a manutenção das relações de poder no
âmbito da organização, bem como para se contrapor a essas relações, essa corrente
foca o atendimento dos que sofrem o efeito das organizações, compreendendo as
necessidades humanas dessas pessoas.
Há um compromisso dessa
administração com a promoção da qualidade de vida e dos valores humanos, onde a
participação numa gestão permita que os diferentes interesses e significados
tornem-se relevantes. A partir da compreensão e da valorização das diferentes
culturas presentes no ambiente escolar, constrói-se uma gestão com a
participação da comunidade escolar, permitindo que os diferentes interesses e
significados tornem-se relevantes. Para Sander (1995, p. 50), “a relevância (do
verbo latino relevare, levantar, salientar, valorizar) é o critério cultural
que mede o desempenho administrativo em termos de importância, significação, pertinência
e valor”. O mesmo autor ainda afirma que:
Os protagonistas de uma construção de administração
relevante adotam uma orientação essencialmente cultural e pautam sua ação pela
pertinência e significância dos fatos administrativos para o desenvolvimento
humano e a qualidade de vida dos cidadãos que participam do sistema educacional
e da sociedade como um todo (SANDER, 1995, p. 52).
Consoante às dificuldades por que
passam os estabelecimentos de ensino e, na busca de um aprimoramento, algumas
unidades, sob a coordenação de seus diretores, têm se empenhado para que a
comunidade participe de forma mais ativa da administração escolar. Diversas
experiências nos mostram que, pelo fato de a comunidade participar da gestão
escolar, o trabalho da equipe de direção tem se tornado menos estafante,
possibilitando uma melhoria na organização e na qualidade das atividades
desenvolvidas. Tais experiências denotam a capacidade da comunidade em assumir
maiores compromissos na educação escolar, se comprometendo com todas as
atividades desenvolvidas e, consequentemente, atuando para que os resultados
educacionais sejam alcançados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A administração escolar conseguirá
cumprir de melhor forma com as suas funções, atuando para que os resultados
sejam alcançados, se contar com a participação dos segmentos escolares, ou
seja, através de um trabalho coletivo, de forma que todas as culturas
existentes na instituição sejam valorizadas. Mediar as culturas existentes
torna-se fundamental para que todos se sintam representados nas decisões
tomadas, sendo, portanto, uma capacidade imprescindível ao administrador
escolar.
A participação da comunidade na
escola pode ensejar, dentre outros elementos:
- o fortalecimento do Conselho Escolar, passando o colegiado
a deliberar sobre assuntos relevantes no contexto escolar, tais como: sobre as
prioridades para os recursos financeiros, tendo como princípio a função
primordial da escola; sobre as metas pedagógicas a serem atingidas pelo
coletivo, a partir de avaliação do trabalho desenvolvido; e sobre os critérios
para a atribuição de classes e/ou aulas, dentre outros temas relevantes;
- a realização de um planejamento escolar de forma coletiva,
e que contemple as necessidades da escola, buscando a melhoria do trabalho
desenvolvido, de forma a que os alunos tenham um ensino de qualidade, ou seja,
que dominem os conhecimentos socialmente construídos e estejam preparados para
o exercício da cidadania;
- a existência de conselho de classe e/ou ciclo com a
participação de todos os segmentos da escola, sendo um momento onde ocorra uma
avaliação efetiva do trabalho pedagógico desenvolvido, que passa pela atuação
da equipe de direção e dos docentes, enterrando de vez o corporativismo docente
visto nesses momentos, onde todos os professores, sendo solidários ao professor
responsável pela atribuição de determinado conceito, acompanham a sua decisão;
- a realização de reuniões pedagógicas enquanto momentos
para que professores e funcionários possam falar sobre o trabalho desenvolvido
e as dificuldades enfrentadas, buscando-se, através de análise de teorias,
compreender o que enfrentam e buscar coletivamente elementos que contribuam
para a superação dessas dificuldades.
A coordenação desse trabalho, onde a
gestão de pessoas busque a participação, para que todos se sintam
representados, exige muito preparo da equipe de direção da escola, o que muitas
vezes não se obtém no momento da formação inicial de seus integrantes. É
preciso buscar esses conhecimentos, e não se acomodar na administração de rotinas.
Torna-se necessário, portanto, além
do domínio dos Fundamentos da Educação, de Contabilidade, e outras áreas do conhecimento, preparo do
gestor para coordenar o coletivo escolar, ou seja, para a gestão das pessoas, durante
todo o processo de planejamento - elemento fundamental para que a escola cumpra
a sua função social -, o que também exige conhecimentos técnicos apurados. É
necessário, ainda, o domínio de conhecimentos que possibilitem um
acompanhamento do trabalho desenvolvido, sem que se controle as ações em
andamento, ou seja, é necessário o despojamento do “poder decidir” que a equipe
pensa ter.
A busca de uma Administração Escolar
com a participação da comunidade, o fortalecimento do Conselho de Escola e a
elaboração do Projeto da escola de forma coletiva constituem-se em meios para
que a escola possa cumprir a sua função social, ou seja, transmitir ativamente
os conhecimentos construídos socialmente, conhecimentos consoantes aos
interesses e necessidades da classe social que a escola pública atende, e que
poderão possibilitar aos alunos dessa classe social o atendimento de seus
direitos.
Não se pode negar a existência de
vários elementos que emperram a organização de um coletivo, como dirigentes
escolares autoritários; membros da comunidade escolar desinteressados em
decisões cujos benefícios sejam de todos; dependência de que o diretor dê
abertura para que professores, pais, alunos e funcionários participem da gestão
da escola, ficando todos à mercê do temperamento desse ou daquele gestor. É
conveniente lembrar sobre a importância da gestão democrática que, para
Ferreira (2015), é indubitável “[...] como um recurso de participação humana e
de formação para a cidadania. É indubitável sua necessidade para a construção
de uma sociedade mais justa e igualitária. É indubitável sua importância como
fonte de humanização” (p. 305). A história educacional brasileira mostra que,
sem luta, sem ação dos interessados na melhoria da escola, nada se altera em
benefício dos representados. Se há o desejo de uma gestão democrática, de uma
comunidade participante, tendo como fim o ensino de qualidade, deve-se agir
coletivamente nesse sentido.
Os atuais (e poucos) espaços hoje
existentes de participação, sejam eles frutos da concessão dos governantes ou
da reivindicação de atores sociais, devem ser devidamente aproveitados,
ocupados. Demo (1999) acredita na participação enquanto processo, em seu
sentido legítimo. Para o autor, a participação não se completa, não se acaba,
mas deve ser constantemente construída. Uma gestão democrática, nela incluída
uma maior participação da comunidade nas decisões de interesse coletivo, deve
ser permanentemente buscada e planejadamente construída. Ela não acontecerá por
acaso, por mágica, por obra divina ou do destino, mas será resultado de um
esforço coletivo intencional. Se hoje, por exemplo, a população decide apenas
de que forma serão arrecadados recursos para a melhoria da biblioteca escolar,
poderá, amanhã, decidir que escola quer para seus filhos. Utopia? Talvez!
Entendida enquanto um sonho a ser perseguido.
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[1] A instituição escolar tem como função social transmitir aos
alunos (transmissão ativa) a herança cultural da humanidade, ou seja, a escola
deve sintetizar milhares de anos da história da humanidade para atualização
cultural do público que atende, de forma que o ser humano não precise “ viver
todos os estágios por que passaram as gerações que nos antecederam para repetir
as experiências que produziram a humanidade do homem. Em outras palavras, ele
não precisa ‘redescobrir a roda’”. (RUSSO, 2013, p. 2).
[2] Sander (1995) analisa as concepções de administração da
área da educação, apontando a existência de quatro construções teóricas
ocorridas em nosso período histórico, sendo elas: a) a Administração Eficiente;
b) a Administração Eficaz; c) a Administração Efetiva; e d) a Administração
Relevante.