Vol. 3, n. 2, Agosto/2019

 
 

 


Capa

 

A PESQUISA CIENTÍFICA NA FORMAÇÃO DOS DISCENTES DA ÁREA DE NEGÓCIOS

Macário Neri Ferreira Neto

http://orcid.org/0000-0002-9697-4066

Universidade de Fortaleza

 

RESUMO

A formação acadêmica deve contemplar durante seu período letivo, o incentivo aos alunos para participarem de projetos sobre iniciação científica, bem como promover conhecimento e pensamento crítico por intermédio da produção científica. A pesquisa cientifica contribui para o desenvolvimento do aluno, preparando-o, de forma qualificada, para o mercado de trabalho. Neste sentido o objetivo da pesquisa foi verificar a percepção dos discentes quanto a relevância da produção científica na sua formação acadêmica e profissional. Como objetivos específicos, o trabalho se propôs a investigar o entendimento dos alunos sobre iniciação e produção científica, bem como aferir se a produção científica contribui para a formação profissional do aluno. A pesquisa se classifica como quantitativa, descritiva e bibliográfica. Utilizou-se da técnica de levantamento de campo ou survey, constando da aplicação de um questionário, com questões fechadas, para os alunos da área de gestão de uma instituição de ensino superior. A amostra contou com 40 discentes que representaram 65% dos alunos matriculados. Fez-se uso da técnica estatística descritiva para análise dos dados. Concluiu-se que os respondentes não demonstraram compreensão sobre o programa iniciação científica, entretanto, afirmaram conhecimento sobre a produção científica, bem como de sua relevância para a formação acadêmica e profissional dos discentes.

 

Palavras-chave: Iniciação cientifica. Pesquisa Científica. Produção Acadêmica. Alunos de Graduação.

 

SCIENTIFIC RESEARCH AT STUDENT'S FORMATION IN BUSINESS AREA

 

ABSTRACT

The academic formation should contemplate during its entire period, the incentive for the students to participate in projects about scientific initiation, as well as to promote knowledge and critical thinking through the scientific production. Scientific research contributes to the student's development, preparing him / her in a qualified way for the job market. In this sense, the objective of this research was to verify the students' perception regarding the relevance of scientific production in their academic and professional education. As specific objectives, the work aimed to investigate the students' understanding of initiation and scientific production, as well as to assess whether scientific production contributes to the professional formation of the student. The research is classified as quantitative, descriptive and bibliographic. It was used the technique of field survey or survey, consisting of the application of a questionnaire, with closed questions, for students in the management area of a higher education institution. The sample had 40 students who represented 65% of the enrolled students. Descriptive statistical technique was used for data analysis. It was concluded that the respondents did not show understanding about the undergraduate program, however, they affirmed knowledge about the scientific production, as well as its relevance to the academic and professional formation.

 

Keywords: Scientific initiation. Scientific research. Academic Production. Graduation student.

 

Datas Editoriais:

Submetido: 30/06/2019

Aceito: 26/07/2019

Publicado: 31/08/2019

 

INTRODUÇÃO

 

Para Paulo Freire (2014, p. 30), “não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino”. Nesse caso a iniciação científica é uma porta de entrada para que os discentes conheçam a atividade de pesquisa, que intenciona complementar a formação do aluno, proporcionando a aprendizagem de técnicas e modelos de pesquisa, desenvolvendo um pensar crítico e criativo.

Sendo que, a formação acadêmica não deve se limitar ao tempo na sala de aula. A pesquisa cientifica também deve fazer parte da atividade discente. Neste mesmo raciocínio, Pinto, Fernandes e Silva (2016, p. 301) apontam que “a iniciação científica na graduação pode ser considerada uma oportunidade para os estudantes desenvolverem habilidades acadêmicas e interpessoais, bem como encontrarem direcionamento profissional”.

Nos diferentes artigos que tiveram como motivo de estudo a pesquisa na graduação, como os produzidos por Bertero, Caldas e Wood Junior (1999), Laffin (2000), Mascarenhas, Zambaldi e Moraes (2011), e Oliveira e Fernandes (2018) perceberam exatamente a função esclarecedora da pesquisa como uma grande vantagem que favorece o estudante que se envolve na geração da produção do conhecimento científico na sua área de aprendizado.

Considerando o cenário descrito, esta pesquisa tem a seguinte questão: há um reconhecimento por parte dos discentes da área de negócios da instituição de ensino sobre a importância da produção científica na sua formação acadêmica e profissional?

Como objetivo principal, busca-se verificar a percepção dos discentes quanto à relevância da produção científica na sua formação acadêmica e profissional, além disso, o trabalho se propõe a investigar o entendimento dos alunos sobre iniciação e produção científica, bem como aferir se a produção científica contribui para a formação profissional do aluno.

O estudo se justifica pela importância da pesquisa científica como instrumento de formação do conhecimento e de desenvolvimento acadêmico dos alunos, despertando a capacidade de leitura crítica e agregando conhecimento para o aluno. Ademais, a atividade científica é relevante para a formação universitária dos estudantes, permitindo o aprofundamento e a complementação da sua graduação (PADILHA; CARVALHO, 1993; MENNA, 2017; OLIVEIRA; FERNANDES, 2018).

Este artigo está desenvolvido em mais quatro seções: o referencial teórico, onde debateremos sobre iniciação científica e produção científica na graduação; logo após, a seção métodos que foram adotados na construção deste artigo. Depois temos a análise dos dados, os quais confrontaremos com a literatura existente e finalmente, as considerações finais do estudo.

 

REFERENCIAL TEÓRICO

 

Iniciação científica

 

A iniciação científica (IC) é um projeto voltado aos discentes da graduação, que permite ao aluno principiar na pesquisa acadêmica em diversas áreas do conhecimento, orientado por professores capacitados e experientes vinculados a sua instituição de ensino. No conceito de Massi e Queiroz (2010, p. 174), a iniciação científica é compreendida “como um processo no qual é fornecido o conjunto de conhecimentos indispensáveis para iniciar o jovem nos ritos, técnicas e tradições da ciência”.

Os primeiros programas brasileiros de IC são da primeira metade do século XX, oficialmente surgem apenas em 1951, com a criação do Conselho Nacional de Pesquisa - CNPQ (MASSI; QUEIROZ, 2010). Com isso, o governo brasileiro, por intermédio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, oferece o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) criado para apoiar a política de concessão de bolsas para estudantes universitários dedicados à iniciação científica. Entre seus objetivos estão: a) despertar vocação científica e incentivar novos talentos entre estudantes de graduação; b) contribuir para a formação científica de recursos humanos que se dedicarão a qualquer atividade profissional; e c) ampliar o acesso e a integração do estudante à cultura científica, dentre outros (CNPQ, 2019).

Existem outros projetos de iniciação cientifica, como exemplo temos o Estado do Ceará, com a FUNCAP, que, com seu programa Bolsa de Iniciação Científica e Tecnológica(BICT), “tem por objetivo principal despertar vocação científica e incentivar talentos potenciais entre estudantes de graduação universitária, mediante participação em projeto de pesquisa, orientados por pesquisador qualificado” (FUNCAP, 2019).

Sendo assim, a “iniciação científica é tida como importante oportunidade para estudantes desenvolverem suas habilidades acadêmicas e interpessoais, bem como encontrarem direcionamento e apoio profissional” (PINTO; FERNANDES; SILVA, 2016, p. 302). Além disso, uma “outra vantagem alcançada pelos estudantes quando vivenciam a iniciação científica é a de perder o medo, não ter pânico do novo” (FAVA-DE-MORAES; FAVA, 2000, p. 75).

Todavia, deve-se considerar que “para o estudante, o processo de construção de uma identidade acadêmica se apresenta como algo mais complexo, pois se trata de adquirir familiaridade com discursos próprios do ambiente” (BEZERRA, 2015, p. 74). Ou seja, o ambiente acadêmico e a produção científica precisa ser absorvido pelo discente para que ele ganhe essa nova identificação com a academia.

 

A pesquisa científica na graduação

 

Pesquisa é um processo de averiguação que possui o interesse em descobrir as relações existentes entre as questões que cercam os fatos, fenômenos, situações ou coisas. Em sentido amplo, pesquisa designa o grupamento de práticas como finalidade de descobrir novos conhecimentos. Gil (2014, p. 26) define “pesquisa como processo formal e sistemático de desenvolvimento do método científico”. Além disso, a investigação ou a busca de novos saberes é próprio do indivíduo, o homem é um ser que estar sempre na procura pelo entendimento. Nesse cenário, a atitude do pesquisador deve ser sempre questionar, não se deter a verdade absoluta, se não deixaremos de criticar e de pesquisar (MENNA, 2017). Ademais, “o ensino, o objeto de estudo é o conhecimento consagrado. Na pesquisa, parte-se desse conhecimento existente para coletar novos dados, elaborar novas interpretações e, de preferência, preencher lacunas presentes na literatura e na experiência profissional” (PATRUS; LIMA, 2014, p. 13).

Importante ressaltar a cientificidade da pesquisa, o texto produzido segue regras próprias, claras e aceitas pela comunidade científica, que o distingue dos demais textos, com uma elaboração conceitual diligente e a observância aos princípios específicos do método científico (PADILHA; CARVALHO, 1993; BERTERO; CALDAS; WOOD JUNIOR, 1999; MASCARENHAS; ZAMBALDI; MORAES, 2011; GIL, 2014; KOLLER; COUTO; VON HOHENDORFF, 2014).

Ademais, conforme Mascarenhas, Zambaldi e Moraes (2011, p. 266) o rigor de um texto científico é uma qualidade cujo reconhecimento está submetido a convenções acordadas nas comunidades científicas”. Por outro lado, a compreensão da relação entre teoria e prática é um problema persistente e difícil para os estudiosos que trabalham nas escolas profissionais, tais como negócios, administração pública, jornalismo e direito. (VAN DE VEN; JOHNSON; 2006).

Considerando o que foi exposto, a pesquisa científica gera conhecimento, fórmula teorias, para testar conceitos e princípios. Em decorrência disto, Padilha e Carvalho (1993, p. 282) acreditam “na importância de incentivar o ensino de pesquisa desde a graduação, a fim de formar um profissional com maior senso crítico, criativo e sensibilizado pelo uso do método científico incorporando-o na prática em seu dia a dia [...]”.

O ensino superior deve ter seu foco na pesquisa científica, pois é através da investigação que instigamos os discentes a pensar e se preparar para seu futuro profissional (SILVA; BIANCHI, 2015). Neste contexto, podemos afirmar que a pesquisa científica concerne na capacidade de gerar conhecimento associado ao entendimento da realidade ou fenômeno. Para Medeiros (2014, p. 30) “a pesquisa cientifica objetiva fundamentalmente contribuir para a evolução do conhecimento humano em todos os setores”. Vale ressaltar que a pesquisa é uma ação, ou seja, a pesquisa busca a verdade, sem se apossar da verdade (MENNA, 2017).

Em vista disso, “a prática da pesquisa estimula a criatividade e a pró-atividade do estudante, que tem a oportunidade de conhecer melhor as áreas de atuação profissional de seu interesse (PINTO; FERNANDES; SILVA, 2016, p. 309). Podemos dizer que “a atividade mais significativa realizada no período da graduação está relacionada à pesquisa, o que se justifica pela relevância dessa atividade nas demais áreas da formação acadêmica” (OLIVEIRA; FERNANDES, 2018, p. 81).

Por conseguinte, a pesquisa científica pode ser considerada como um agente responsável pela construção do conhecimento, fonte de aprendizagem e desenvolvimento acadêmico. Por outro lado, de acordo com Massi e Queiroz (2010), na graduação há excessiva resistência em vincular ensino a pesquisa pelo motivo de alguns professores determinarem diferenças entre aula e pesquisa, ou seja, a graduação ainda é lugar de reprodução do conhecimento, e não da sua produção. Acrescente-se ainda, a dificuldade de ver a lacuna entre teoria e prática, como um problema de transferência de conhecimento. É a suposição de que o conhecimento prático deriva do conhecimento de pesquisa (VAN DE VEN; JOHNSON, 2006).

Para formar pessoas capazes de produzir cientificamente, tornando-as profissionais mais preparado para o mercado, considerando que após sua formação, “o discente, ao ingressar no mercado de trabalho encontra um ambiente cada vez mais exigente, onde o administrador se depara com as reais perspectivas a respeito do que a organização requer dele” (DUMER et al., 2018, p. 64). Além do mais, segundo Santos (2017, p. 219), “o estudo da gestão, embora sendo um campo das ciências sociais, limitou- se à produção de um conhecimento positivista e funcionalista [...] não poderiam os estudos da gestão e das organizações ficar presos a uma única realidade social (eurocentrismo/estadunidense) e/ou a uma única forma de produção do conhecimento (positivismo/funcionalismo)”.

Por conseguinte, surge a necessidade de produzir textos científicos de boa qualidade e com uma boa teoria, que voltados para área de negócios, ainda mais, Oliveira e Fernandes (2018, p. 78) afirmam que “a função da universidade, como instituição social, consiste em formar o estudante universitário, de maneira sistemática, como profissionais, técnicos, intelectuais e cientistas aptos a desenvolverem atividades profissionais qualificadas”. Para Van de Ven (1989), precisa-se projetar a pesquisa para que ela forneça uma compreensão íntima dos problemas práticos que a profissão enfrenta. No entanto, “os atributos de independência, autonomia e capacidade de reflexão, então adquiridos, fornecerão ao aluno melhores condições de inserção no mercado de trabalho e participação ativa em atividades de grupo” (LAFFIN, 2000, p. 104).

Assim sendo, para Silva e Bianchi (2015, p. 109) “o conhecimento adquirido e a construção de novos saberes estão associados ao desenvolvimento da pesquisa, e nesse sentido, verifica-se a importância da produção científica nas instituições de ensino superior”. Portanto, a pesquisa científica, além de trazer conhecimentos para os discentes, prepara-o para o mercado de trabalho já que tem por objetivo de habilitar os estudantes para atuar na gestão dos negócios. Desta maneira, a relação entre o ensino nos cursos da área de negócios e a pesquisa cientifica tem sido discutida nos últimos anos por diversos autores e em diferentes contextos. No Quadro 1, apresentam-se os estudos relacionados desenvolvidos a partir da temática deste estudo.

 

Quadro 1 - Resumo dos estudos relacionados

Autores

Objetivo

Principais resultados

Padilha e Carvalho (1993)

Verificar a percepção do aluno de graduação sobre os benefícios e o uso do método científico.

Demonstram que os alunos têm conhecimento relativo a pesquisa científica, acham o método científico importante para seu desenvolvimento.

Bertero, Caldas e Wood Junior (1999)

Contribuir para a discussão desta questão abordando o tema da construção da teoria em administração.

Mostram como nossa pesquisa em administração é periférica, sem originalidade e pratica, em larga escala, mimetismo mal informado.

Fava-de-Moraes e Fava (2000)

Demonstrar a importância do programa de iniciação científica para o estudante do curso superior.

Estimulando a iniciação científica tem-se uma boa probabilidade de identificar uma juventude bastante criativa e, com isso, conquistarmos um melhor desenvolvimento social e econômico.

Laffin (2000)

Refletir sobre a pesquisa como uma alternativa metodológica nos cursos de Ciências Contábeis.

Mostram que é necessário evidenciar, por intermédio de ações, que da pesquisa resulta a construção de conhecimentos e que estes, socializados e redimensionados, interferem na construção da cidadania.

Silva e Bianchi (2015)

Analisar a inserção dos graduandos em Ciências Contábeis das universidades federais do sul do Brasil na prática.

Os resultados mostram que apesar dos discentes se mostrarem interessados e reconhecerem a importância da pesquisa científica, os mesmos devem ser mais incentivados a produzir e a disseminar o conhecimento adquirido na academia.

Dumer et al. (2018)

Identificar como os alunos de graduação em administração percebem a importância da pesquisa científica em sua formação.

Demonstram que os alunos reconhecem a utilização da pesquisa como fonte de acesso a conhecimento especifica das disciplinas do curso, assim como para sua vida profissional e social.

Oliveira e Fernandes (2018)

Investigar as implicações e as repercussões da produtividade acadêmica na formação dos discentes universitários

Concluem que os estudantes, que desenvolvem a iniciação cientifica, tendem a prosseguir a carreira acadêmica.

Fonte: O autor (2019)

 

O Quadro 1 apresenta os resultados encontrados pelos autores, que corroboram com a importância da pesquisa científica e a necessidade da promoção, por parte das instituições de ensino superior, da iniciação científica dos seus alunos. Percebe-se que a pesquisa e produção científica contribui para o desenvolvimento profissional (PADILHA; CARVALHO, 1993; DUMER et al., 2018. OLIVEIRA; FERNANDES, 2018), entretanto, há necessidade que os discentes sejam estimulados pelas instituições à produção acadêmica (FAVA-DE-MORAES; FAVA, 2000; LAFFIN, 2000; SILVA; BIANCHI, 2015).

Van de Ven (1989) argumenta que a missão central de estudiosos de uma disciplina e educadores em escolas profissionais de gestão, é conduzir pesquisas que contribuam com conhecimento científico, por um lado, e aplicar esse conhecimento para a prática da gestão como profissão, por outro.

Neste contexto entende-se que a produção cientifica de artigos teóricos e empíricos, ensaios, dentre outros, só vem a contribuir para o desenvolvimento do pensamento crítico do aluno.

 

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

 

No que se refere a abordagem do problema, a pesquisa se classifica quanto a natureza como quantitativa, pois intenciona medir comportamento, conhecimento, atitudes, por meio do uso de estatísticas (COOPER; SCHINDLER, 2016). Quanto aos objetivos, a pesquisa é descritiva, como finalidade descrever as características de determinada população, e com delineamento bibliográfico, fazendo uso de materiais como artigos e livros (GIL, 2014).

Quanto a técnica utilizada foi o levantamento de campo ou survey, com aplicação de um questionário submetido aos pesquisados, com a finalidade de descrever as características do grupo e para obter informações necessárias ao desenvolvimento do trabalho. O questionário era composto por 24 questões fechadas, ou seja, que apresentava alternativas preestabelecidas como respostas (RICHARDSON, 2014), e foi dividido em quatro partes. A primeira buscou verificar o perfil dos respondentes, a segunda tratou sobre a iniciação científica, a terceira sobre a produção científica e, a quarta, sobre a importância da pesquisa na formação do discente. As questões seguiram o fluxo representado pela Figura 1, com algumas travas, por exemplo: as questões sobre a iniciação científica, foram respondidas apenas pelos que afirmaram conhecer o programa, uma forma de não influenciar as respostas com imprecisão dos dados.

A pesquisa teve como foco os discentes de uma instituição de ensino superior de Mossoró, matriculados nos cursos da área de gestão que totalizavam 62 alunos. Deste total, 40 alunos responderam ao questionário, representando uma amostra com 65% do total dos discentes matriculados. A aplicação do questionário ocorreu em sala de aula, de forma voluntária e anônima, contando com a presença do pesquisador.

Este trabalho intenciona a confirmação ou negação das hipóteses de pesquisa, formuladas com base no referencial teórico. Entende-se por hipótese uma proposta que está sujeita a verificação de sua validade, é uma provável resposta ao problema investigado (GIL, 2014). Assim, tem-se as seguintes hipóteses a se observar:

 

H1 = Os discentes demonstram positivamente conhecimento sobre a iniciação científica.

H2 = Os discentes demonstram positivamente conhecimento sobre produção científica.

H3 = No entendimento dos alunos, a produção científica agrega positivamente conhecimentos acadêmicos e profissionais.

 

Para responder as hipóteses, fez-se uso do software SPSS® Statistics da IBM®, versão 24, onde os dados coletados foram examinados por técnica de análise classificada como estatística descritiva (BRUNI, 2012). A pesquisa tem a intenção de responder a problemática, através dos objetivos propostos, mantendo-se a confidencialidade dos respondentes.

 

Figura 1 – Fluxograma das questões

Link

Fonte: O autor (2019)

 

ANÁLISE DOS RESULTADOS

 

Com referência ao questionário sócio demográfico aplicado, o Quadro 2 demonstra as predominâncias encontradas no grupo estudado.

 

Quadro 2 – Dados sociodemográficos – predominância

Variável

Predominância

Total

%

Qual o seu curso?

Ciências Contábeis

28

70,0

Qual o seu gênero?

Feminino

23

57,5

Qual a sua faixa etária?

De 21 a 25 anos

17

42,5

Qual o seu estado civil?

Solteiro

27

67,5

Você se auto declara de qual cor?

Parda

25

62,5

Você trabalha?

Sim, com carteira assinada

23

57,5

Fonte: Dados da pesquisa (2019)

 

Verifica-se que 70% dos alunos estão matriculados no curso de ciências contábeis. Que a maioria dos respondentes são do gênero feminino e da faixa etária de 21 a 25 anos. 62,5% se auto declaram da cor parda e 57,5% informaram que estão laborando com a carteira assinada.

A Tabela 1, refere-se ao construto iniciação científica, onde predomina fortemente o desconhecimento sobre o programa de iniciação científica, considerando que 72,5% dos discentes não conhecem ou não ouviram falar sobre o programa, neste caso a hipótese (H1) onde os alunos demonstram positivamente conhecimento sobre a iniciação científica não se confirma.

Esse desconhecimento incentiva os discentes a permanecerem longe da rotina acadêmica, deixando-o no tradicional modelo de receptor de informações, sendo testado nos dias de prova o seu “conhecimento”. É comum passar o curso inteiro somente assistindo aulas, em conduta de passividade, sem desenvolver um senso crítico e inovador que a pesquisa científica oferece (FAVA-DE-MORAES; FAVA, 2000).

A Tabela continua apresentando as respostas dos alunos que demonstraram conhecer sobre a iniciação científica, conforme previsto no fluxograma (FIGURA 1).

 

Tabela 1 –Iniciação Científica

 Variável

Predominância

Total

Frequência

%

Você tem conhecimento sobre o programa de iniciação científica?     

Não

40

29

72,5

Como você tomou conhecimento sobre a iniciação científica?

Internet, outros colegas

11

6

54,5

Sobre seu conhecimento da iniciação científica, podemos dizer que:     

Conheço um pouco

11

7

63,6

Você participa ou participou de algum programa de Iniciação Científica na sua faculdade?

Não

11

9

81,8

No caso de não participação, qual o motivo?

Falta de tempo

9

8

88,9

Se houvesse oportunidade de você participaria do programa de iniciação científica?

Não, por falta de tempo

9

6

66,7

Fonte: Dados da pesquisa (2019)

 

Referente à Tabela 1, perguntados sobre o programa de iniciação científica, apenas 11 alunos afirmaram possuir conhecimento sobre o tema, destes, 63,6% responderam que conhecem pouco e 81,8%, nunca participou do programa. Importante ressaltar que este programa é público com boa divulgação nos meios acadêmicos, ademais a “iniciação científica é tida como importante oportunidade para estudantes desenvolverem suas habilidades acadêmicas e interpessoais, bem como encontrarem direcionamento e apoio profissional” (PINTO; FERNANDES; SILVA, 2016, p. 302). Além do que, há pessoas com formação acadêmica que mal sabem consultar fontes de referência, porque não foram familiarizados a isso (FAVA-DE-MORAES; FAVA, 2000).

Em seguida, foram questionados sobre os motivos em não participar em algum programa de iniciação científica, 88,9% responderam que falta tempo, no mesmo sentido quando perguntado se houvesse uma oportunidade, participaria deste tipo de programa, 66,7% responderam que não, pela mesma falta de tempo. Essas respostas podem ser explicadas pelo motivo da maioria está inserida no mercado de trabalho e cursando a universidade no turno da noite, desta forma o programa não consegue atender suas finalidades, dentre elas, “despertar vocação científica e incentivar novos talentos entre estudantes de graduação” (CNPQ, 2019).

A Tabela 2 apresenta um quadro mais positivo, onde 95% dos alunos que responderam à pesquisa, detém algum tipo de conhecimento sobre produção científica. Assim se confirma a hipótese (H2), considerando que os discentes demonstram positivamente conhecimento sobre produção científica.

Na pergunta seguinte, quanto ao entendimento sobre a pesquisa, 42,1% referiu-se “a um estudo especifico de um assunto”. Para Medeiros (2014), a pesquisa objetiva contribuir com a evolução do conhecimento, para Gil (2014), descobrir respostas, ou seja, conceitos aderentes ao entendimento dos respondentes.

Quando questionados sobre o interesse na área de pesquisa, 57,9%% dos alunos afirmaram o interesse no assunto, indo de encontro ao achado do trabalho de Dumer et al. (2018) que demonstrou o interesse de 65% dos entrevistados. Ressalte-se a predominância do gênero masculino, com 73,4% demonstrando interesse contra 47,8% do gênero feminino.

 

Tabela 2 – Conhecimento sobre pesquisa científica

Variável

Predominância

Total

Frequência

%

Você conhece ou ouviu falar de pesquisa científica ou acadêmica?

Sim

40

38

95,0

Qual seu entendimento sobre pesquisa científica?

Refere-se a um estudo específico de um assunto

38

16

42,1

Qual seu nível de interesse pela área de pesquisa?

Tenho interesse/tenho muito interesse

38

22

57,9

Você participa ou já participou de congressos, fóruns ou outros eventos científicos?

Não

38

33

86,8

Você já elaborou (escreveu) algum artigo científico?     

Não

38

29

76,3

Você submeteu seu artigo para publicação/apresentação?

Não

9

7

77,8

Para qual meio você submeteu seu artigo?

Congressos

2

2

100,0

O seu artigo foi aceito?

Sim

2

2

100,0

Fonte: Dados da pesquisa (2019)

 

Conforme demonstrado na Tabela 2, a questão seguinte referiu-se a participação em algum encontro científico, 86,8% dos discentes afirmaram que nunca participaram deste tipo de evento, em contraditório ao interesse na pesquisa, porém deve-se considerar que baixa disponibilidades de eventos na área de negócios no município de Mossoró, contribuindo pelo alto índice de não participação. Entretanto, “uma das contribuições dos programas de iniciação científica é possibilitar que os estudantes apresentem seus trabalhos em eventos acadêmicos e divulguem os resultados, inclusive, em periódicos” (PINTO; FERNANDES; SILVA, 2016, p. 314).

A pergunta seguinte se refere à produção de artigos científicos, apenas nove alunos (22,5% do total) escreveu um artigo científico, apesar da importância dada pelos alunos. Quanto à publicação, apenas 2 alunos submeteram seus artigos, isso vai ao encontro do trabalho de Silva e Bianchi (2015) que apresentou resultado semelhante.

Na Tabela 3, foram feitas inferências com a finalidade de averiguar o interesse acadêmico/profissional após a conclusão do curso.

 

Tabela 3 – Formação acadêmica e profissional

Variável

Predominância

Total

Frequência

%

Você acredita que a produção de artigos científicos agrega conhecimento para sua formação acadêmica?

Concordo totalmente

9

7

77,8

Você acredita que a produção de artigos científicos agrega conhecimento para sua formação profissional?

Concordo totalmente

9

8

88,9

Após sua formação, seu principal interesse é?

Abrir/Consolidar negócio próprio

40

21

52,5

Após a conclusão da sua graduação, você quer continuar sua formação até que nível?

Especialização

40

16

40,0

Fonte: Dados da pesquisa (2019)

 

Dos alunos que escreveram algum artigo científico, 77,8% acredita que a produção acadêmica acrescenta conhecimento na sua formação universitária, e 88,9% concorda totalmente que a elaboração de artigos contribui para sua formação profissional. Esses achados vão ao encontro do trabalho de Dumer et al. (2018), onde seus resultados também demonstraram que os alunos reconhecem a utilização da pesquisa como fonte de acesso a conhecimento especifica das disciplinas do curso, assim como para sua vida profissional e social. Desta forma, a hipótese (H3), onde se afirma que a produção científica agrega conhecimentos acadêmicos e profissionais, foi confirmada.

A pesquisa buscou identificar as intenções dos discentes após a conclusão de seu curso universitário. Como resultados, tem-se que 52,5% intenciona ter seu próprio negócio e com relação à continuidade dos estudos, 40% demonstrou interesse em cursar uma especialização.

O mesmo percentual representa o interesse em continuar seus estudos até o nível de mestrado ou doutorado. Neste ponto, tem-se a iniciação científica como um preparatório para as seleções de mestrado, pois adquiriram uma maior facilidade de se expressar, participar em equipes e de se adaptar a atividades acadêmicas futuras (FAVA-DE-MORAES; FAVA, 2000).

 

CONCLUSÕES

 

Conforme os autores utilizados neste trabalho, não restam dúvidas que a pesquisa científica é importante na construção do conhecimento, respeitando-se os métodos adequados para que tenham credibilidade Pelos resultados, pode-se inferir que, a instituição de ensino pesquisada, neste caso do setor privado, não prioriza a pesquisa como forma dos discentes adquirirem conhecimentos e elevem sua capacidade crítica. Com relação ao perfil sociodemográfico, ficou evidenciado uma participação de 57,5% do gênero feminino, 67,5% de solteiros, 62,5% se declaram pardos e a maioria trabalha com carteira assinada. Quanto à iniciação científica, 72,5% dos respondentes indicou não conhecer o programa. Dos que demonstraram conhecimento, 54,5% foi por meio da internet ou de outros colegas. 63,6% dos respondentes afirmou ter pouco conhecimento do tema e 81,8% nunca participou do programa, sendo a alegação principal a falta de tempo. Portanto, a hipótese (H1) ao afirmar que discentes demonstram positivamente conhecimento sobre a iniciação científica, não se confirmou.

O assunto seguinte foi em relação à produção científica, onde 95% dos alunos afirmou ter algum tipo de conhecimento do tema, e para 42,1% a pesquisa científica se refere a estudar um assunto específico. Um dado importante é o nível de interesse pela pesquisa, com 57,9% dos respondentes afirmando ter simpatia pelo assunto. Aqui se confirma a hipótese (H2) que afirmava que discentes demonstram conhecimento sobre produção científica. Um dado negativo é a ausência da participação de 86,8% dos discentes em algum evento científico, contribuindo para baixa produção científica dos alunos, considerando que apenas nove alunos escreveram pelo menos um artigo cientifico.

No construto seguinte, 52,5% dos respondentes pretende ter seu próprio negócio quando terminar sua graduação, e 80% dos respondentes deseja continuar seus estudos chegando ao nível de especialização, mestrado ou doutorado.

Para validar a terceira hipótese (H3), em que a produção científica agrega positivamente conhecimentos acadêmicos e profissionais, 77,8% dos respondentes concorda que a produção acadêmica incorpora conhecimentos que contribuem para sua formação, e para 88,9%, agrega conhecimento para sua formação profissional, preparando os discentes para os desafios do mercado de trabalho. Assim, se confirma a hipótese terceira (H3). Quanto à problemática, ela foi respondida considerando que os alunos reconhecem a importância da produção cientifica na sua formação acadêmica e profissional. Com isso, o objetivo principal foi atendido.

Para novos trabalhos, recomenda-se que seja dada ênfase aos motivos do baixo conhecimento dos discentes em iniciação à pesquisa cientifica e, quanto os docentes podem contribuir para mudar este quadro.

Esta pesquisa demonstrou as fragilidades da produção cientifica, comprovando, como em estudos anteriores, que o país está perdendo grande oportunidade de formar pensadores críticos, que desenvolvam trabalhos criativos que contribuam com o desenvolvimento do país, concordando com Silva e Bianchi (2015), onde o ensino superior deve ter seu foco na pesquisa cientifica, pois é por meio da investigação que se instiga os discentes a pensarem e se prepararem para seu futuro profissional.

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REFERÊNCIAS

 

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