Vol. 3, n.
2, Agosto/2019
RESÍDUOS DA
CONSTRUÇÃO CIVIL: Estudo comparativo de duas empresas de Rondonópolis-MT
Jucilene Aparecida Souza
https://orcid.org/0000-0001-9453-6735
Universidade Federal
de Mato Grosso
Fernanda Pereira Silva
http://orcid.org/0000-0003-2224-2943
Universidade Federal
de Mato Grosso
Dércio Braga Santos
https://orcid.org/0000-0003-0213-358X
Universidade Federal
de Rondonópolis
Neide Santos Silva
https://orcid.org/0000-0002-7671-6991
Universidade Federal
de Rondonópolis
RESUMO
A pesquisa visa saber quais os processos de transformações e
reaproveitamentos de resíduos sólidos de duas empresas da construção civil da
cidade de Rondonópolis-MT? Assim, o objetivo trata de analisar os processos de
transformações e reaproveitamentos dos resíduos sólidos de duas empresas da
Construção Civil (RCC) na cidade de Rondonópolis-MT, sendo (E1) usina de
reciclagem e (E2), empreiteira a luz das ferramentas de gestão de
sustentabilidade 7R´s e a performance comportamental (CARROLL, 1979). O método baseou-se
no estudo exploratório e descritivo, com o uso de estudo de caso
quanti-qualitativo e comparativo por questionários aos dois gestores, com
análises a partir das ferramentas 7R´s e a performance comportamental (CARROLL,
1979), cruzados pela triangulação de dados. Na E1, baseou-se na classe A, em
reutilizar, reaproveitar, reciclar, recuperar com performance proativa; nos
resíduos de classe B, adequou-se em reutilizar e reciclar, com performance
acomodativa; os resíduos de classe C e D, cruzou-se em Repensar e Recusar, com
performance reativa. Na E2, resultou-se nos resíduos de classe A em reutilizar
e reaproveitar, a partir da performance proativa; nos resíduos de classe B,
sedimentou-se em reutilizar e reciclar, com performance acomodativa; os resíduos
de classe C e D, enquadrou-se em repensar e recusar com performance reativa.
Palavras-chave: Resíduos Sólidos; Resíduos Sólidos da
Construção Civil; Gestão Ambiental.
CIVIL CONSTRUCTION
WASTE: Comparative study of two companies in Rondonopolis-MT
ABSTRACT
This research aims to know the processes of
transformation and reuse of solid waste of two construction companies in the
city of Rondonópolis-MT. Thus, the objective is to analyze the processes of
transformation and reuse of solid waste of two construction companies (RCC) in
the city of Rondonópolis-MT, being (E1) and (E2), in the light of the tools of
7R's - sustainability of management - and the behavioral performance (CARROLL,
1979). The method was based on the exploratory and descriptive study using
quantitative and qualitative case study by questionnaires to the two managers,
with analyzes using the 7R's tools and behavioral performance, crossed by data
triangulation. For E1, class A solid wast was treated to reuse, reuse, recycle,
recover with proactive performance; in class B waste, it was suitable for reuse
and recycling, with accommodative performance; Class C and D residues were
intersected in Rethink and Refuse, with reactive performance. At E2, it
resulted in Class A waste to be reused from proactive performance; in class B
waste, it settled down to reuse and recycle, with accommodative performance;
Class C and D residues fit into rethinking and refusing with reactive
performance.
Keywords: Solid
Waste; Solid Waste from Construction; Environmental management.
Datas Editoriais:
Submetido: 24/06/2019
Aceito: 05/08/2019
Publicado: 31/08/2019
Introdução
A partir da década de 1990, com surgimento
da sustentabilidade, os gestores têm buscado ações de responsabilidade social
corporativa, uma vez que a construção civil é responsável por grande quantidade
de resíduos sólidos existentes nos aterros sanitários. Neste sentido, gestores
buscam melhorias com ações de responsabilidade social corporativas a partir do
uso de ferramentas para minimizarem os impactos negativos ambientais, visando
melhoria contínua a fim obter um bom relacionamento com o meio ambiente.
De acordo com Santos (2010), citado por
Junior e Olave (2014), foi por causa dos vários impactos ambientais causados
pelas organizações, que os processos de gestão se tornaram mais eficazes, e a
relação de desenvolvimento econômico e meio ambiente foi aperfeiçoado. Assim,
permitiu-se o surgimento da política de gestão ambiental, instituída como
Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), preconizada pela lei Federal
12.305/2010.
A redução na geração
de resíduos sólidos a partir das práticas de hábitos de consumo sustentável
aliada ao aumento da reciclagem, da reutilização dos resíduos sólidos e da
destinação ambientalmente adequada dos rejeitos. Nela, consta que o descarte e
reciclagem de resíduos sólidos são de responsabilidade da organização e do fabricante
(DOU, 2010, p. 3).
Com base no exposto, Machado (2015) salienta
que cabe aos gestores aprimorarem as estratégias de gestão para reduzir e
reutilizar os resíduos sólidos para minimização dos impactos, bem como
implementação de estratégias com novos coprodutos, para maximização de lucros,
“determinando responsabilidade e estipulando a segregação dos resíduos em
diferentes Classes (CONAMA 307/2002)”. Nota-se que uma boa gestão acompanhada
de um bom planejamento colabora para aumentar a qualidade de vida da comunidade
e a qualidade no saneamento urbano.
Os Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) são
resultantes da atividade doméstica e comercial dos centros urbanos com efeitos
acumulativos, pois são descartados em lixos e lixões, reduzindo a vida útil dos
aterros sanitários. Esses resíduos poderiam ser reaproveitados, reciclados ou
até transformados em coprodutos e agregados, ou seja, cada cidadão tem a
responsabilidade de exigir coletas seletivas a fim de que haja melhor manejo
desses materiais sólidos, evitando, desse modo, sérios problemas ambientais.
Sendo um dos procedimentos importantes, consiste no manejo correto da
classificação e organização dos RSU.
Segundo Mascarenhas (2001), um instrumento
básico de gestão traz soluções técnicas e econômicas para o tratamento e
destinação final dos resíduos. Além disso, os RSU´s são descartados de acordo
com sua composição biológica (orgânico ou não), físico (pedra, vidro, ferro) ou
químico (toxico ou não), para que seja feito o manejo de coleta e a
classificação corretamente, não ocasionando riscos à saúde.
Quanto ao aproveitamento destes resíduos, a
reciclagem é um processo fundamental no reaproveitamento, com redução na
poluição e aproveitamento de materiais descartados, transformando-os em
produtos para reaproveitamento nas indústrias e em geradores de energia,
economizando água com a redução e reutilização do lixo. Os resíduos
industriais, tais como rejeitos industriais, lixos domésticos e hospitalares,
definem-se: materiais que vêm agregando valores e gerando lucratividade para as
corporações com programas e certificações que exigem padrões de qualidade tanto
pela fiscalização e pelo consumidor, quanto ao mercado competitivo (SISINNO;
MOREIRA, 2005).
Tendo em vista,
os Resíduos de Construções Civis (RCC), para Ângulo et al. (2013), possui grande
variedade de materiais em sua composição e são derivados das inúmeras
atividades construtivas que ocorrem, concomitantemente, no desenvolvimento de
uma obra. Contudo, de forma geral, os volumes gerados de RCC são compostos,
basicamente, por resíduos que podem ser reutilizados em obras ou recicláveis
como agregados, tais como: cimentícios, solo, alvenaria, em como
comercializados com cooperativas e usinas de reciclagem de entulho.
Mais
especificamente, surgem os Resíduos de Construção e Demolição (RCD), mais conhecidos como restos de
materiais descartados da construção, reformas ou demolições, são resíduos de
seguimento da indústria que, ocasionalmente, têm atividade geradora de impacto
ambiental, com intenso consumo de recursos naturais. Os resíduos de Construção
Civil (RCC), de acordo com a Resolução do CONAMA em seu art. 2°, §1,
caracterizam-se como provenientes de construções, reformas, reparos e
demolições de obras de construção civil, e os resultantes da preparação e da
escavação de terrenos. Os impactos positivos no gerenciamento do RCC, está no
benefício de reciclagem destes resíduos.
De acordo com CONAMA, n° 307 de 05 de julho de 2002, em seu art. 1°, é
preciso estabelecer diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos
resíduos da construção civil, disciplinando as ações necessárias de forma a
minimizar os impactos ambientais. Ainda, é necessário que, após serem
devidamente coletados, através da coleta seletiva, sejam transformados em
coprodutos, podendo ser reaproveitados, destinados e reutilizados para mesma
atividade.
Nesse sentido, pretende-se saber quais os
processos de transformações e reaproveitamentos de resíduos sólidos de duas
empresas da construção civil da cidade de Rondonópolis-MT? Assim, o objetivo
trata-se de analisar os processos de transformações e reaproveitamentos dos
resíduos sólidos de duas empresas da Construção Civil (RCC) na cidade de
Rondonópolis-MT, sendo (E1) usina de reciclagem e (E2), empreiteira a luz das
ferramentas de gestão de sustentabilidade 7R´s e a performance comportamental
(CARROLL, 1979).
O trabalho de pesquisa se consolida como
processo de construção da ciência de forma inédita pelo uso de três ferramentas
de gestão, sendo: 7R´s, performance comportamental de Carroll (1999) cruzados
por meio da triangulação dos dados primários. Ademais, a pesquisa sedimenta uma
visão inovadora a partir da análise e melhoria do (RCC´s) na construção civil,
uma vez que não se identificou nenhum trabalho no âmbito da construção civil.
A contribuição com uso da ferramenta de 7R´s
permite a minimização e/ou mitigação dos impactos ambientais ocasionados pelos
(RCC´s), que reduzem os resíduos sólidos remetidos ao meio ambiente pelo fato
de tratamento e reuso dos materiais (RCD). O processo de qualidade do (RDC)
quando de forma consciente pelos profissionais da construção civil trata de
classificar, destinar e coletar os resíduos. Ainda, a implantação (RCC)
propicia a implementação do processo de inovação com o surgimento de diversos
subprodutos/materiais primas à serem utilizados na construção civil.
Ademais, na existência de políticas públicas
de (RCC) permite armazenar, destinar, classificar e reutilizar as
matérias-primas em locais corretos, bem como o reaproveitamento destes
materiais ou surgimento de novos coprodutos na construção civil. Isso provada
redução dos custos de materiais com a utilização dos materiais reciclados e
proporciona a redução da matéria-prima extraída da natureza, minimização ou
mitigação dos impactos ambientais negativos ao meio ambiente.
Os pontos negativos frequentes são os
impactos ambientais negativos causados pelos RCC´s, devido a ausência de
políticas públicas municipais, a falta de pesquisas sobre o uso, destinação e
reutilização dos materiais de RCC´s, a ausência de conscientização população e
dos profissionais da construção civil, que muitas vezes, não reaproveitam a
matéria-prima por causa da má destinação/separação destes materiais.
Por fim, o trabalho está concentrado na
fundamentação teórica, os processos metodológicos, as discussões de resultados,
as considerações finais e as referências.
Fundamentação Teórica
As bases conceituais estão
concentradas nas ferramentas de gestão utilizadas para minimização dos resíduos
sólidos e as políticas de resíduos Sólidos e os Resíduos de Construção Civil
(RCC) e suas classificações.
Ferramentas
de gestão utilizadas para minimização dos resíduos sólidos
As ferramentas de gestão têm
proporcionado a mitigação dos impactos ambientais ocasionados pelas empresas de
construção civil. Neste sentido, Dias, Cassar e Zavaglia (2008) expressam os
conceitos de 3R´s, na gestão empresarial de forma à orientar para evitar
possíveis problemas para o meio ambiente. Uma vez que a ferramenta se trata de
minimizar os efeitos ambientais para não ultrapassar a capacidade de carga do
meio onde se encontra a organização, atingindo assim, o desenvolvimento
sustentável. Na visão de Gouveia (2012) a 3R´s minimiza a quantidade de
resíduos que necessitam de destinação adequada, seguindo a lógica dos três R:
redução, reutilização e reciclagem.
Após os aprofundamentos dos
estudos, seguiu a ferramenta conceitual 5R’s adicionando outros contornos,
aprimorando as ações de práticas para a construção de um mundo melhor, a partir
dosas terminologias “reciclar e recusar”, norteados pela minimização do consumo
sustentável, que depende da participação de todos. Gouveia (2012) salienta que
o reciclar para reaproveitar e redução dos desperdícios e a minimização dos
impactos causados ... com ações educativas que visem a atitudes de consumo mais
consciente para a população”.
Por fim, a ferramenta 7R’s
surgiu com uma nova roupagem conceitual com terminologias de “repensar e
recuperar” com aplicações práticas para o desenvolvimento sustentável. Assim,
na visão de Gouveia (2012) a reutilização de resíduos sólidos como insumo nos
processos produtivos gera benefícios diretos, tanto na redução da poluição
ambiental causada pelos aterros e depósitos de lixo como em benefícios
indiretos relacionados à conservação de energia. Uma vez que, Lima e Lima
(2009), aponta que se faz necessário, analisar o uso do RCC, sobre o uso de
determinado produto e se necessário, descartar no meio ambiente, como se
destaca no Quadro 1.
Quadro 1. Os R’s da Sustentabilidade
Fonte: Adaptado
pelos autores a partir de Lima e Lima (2009)
No Quadro 1, representado por
Lima e Lima (2009), apresenta as terminologias de crescimento dos R’s, que na
visão de Alves (2009) consiste em ideias para um mundo mais sustentável, uma
vez que “melhoria do meio ambiente tem reflexos diretos na melhoria de
qualidade de vida da população”.
Observa-se a evolução do surgimento da
ferramenta 3 R´s e a partir de vários estudos foram surgindo novas
terminologias para adequação desta ferramenta, denominada de 5 R´s, que, por
conseguinte, surgiu a ferramenta 7 R´s, que intuito de atender a necessidade
das empresas e do mercado globalizado.
Sendo assim, a constituição
destes conceitos permite o desenvolvimento do complemento “reinventar”,
apontado como uma nova maneira de viver, consumir, produzir, armazenar; um
mundo ecologicamente mais correto e altamente sustentável. São ações práticas
que estabelecem uma relação mais harmônica entre consumidor e meio ambiente
(JAVNARAMA, 2004).
As
políticas de resíduos Sólidos e os Resíduos de Construção Civil (RCC) e suas
classificações
A política estadual de resíduos
sólidos do estado de Mato Grosso é pioneira na aplicação da Lei de Resíduos
Sólidos nº 7.862, de 19 de dezembro de 2002 e vem avançando cada vez mais nas
“diretrizes e normas de prevenção da poluição, proteção e recuperação da
qualidade do meio ambiente e da saúde pública, assegurando o uso adequado dos
recursos ambientais no Estado de Mato Grosso”.
Desta maneira, os resíduos sólidos, caracterizam partir dos tipos de
resíduos sólidos e das destinações para tratamento destes resíduos, assim
descritos pelas resoluções da CONAMA: no tratamento dos resíduos,
compreendem-se, de acordo com a Resolução CONAMA n° 431, de 02 de maio de 2011
que altera a Resolução CONAMA 307/2002, em seu art. 3°. Por essa razão,
classificam-se os resíduos de construção civil, a partir de quatro classes:
·
Resíduos
reutilizáveis ou recicláveis como agregados, ou encaminhados às áreas de
aterros de resíduos de construção civil: cerâmica, argamassa e concreto.
·
Resíduos
recicláveis, sendo dispostos em áreas de armazenamento temporário ou
reutilização e reciclagem: papel,
papelão, metais, madeira, plásticos, vidros e Gesso.
·
Resíduos
para qual não foi desenvolvida tecnologia ou aplicação economicamente viável
para reciclagem ou recuperação.
·
Resíduos
perigosos oriundos da construção deverão ser armazenados e destinados, em
conformidade as normas técnicas: amianto, tintas, solventes, óleo e dentre
outros.
Além disso, de acordo com a
Resolução do CONAMA 469/2015 alterou as diretrizes dos RCC´s no parágrafo 2º da Classe B, da seguinte forma:
“são os resíduos
recicláveis para outras destinações, tais como: plásticos, papel, papelão,
metais, vidros, madeiras, embalagens vazias de tintas imobiliárias e gesso”,
que em seu § 1º consideram-se “embalagens vazias de tintas imobiliárias os
recipientes apresenta apenas filme seco de tinta em seu revestimento interno,
sem acúmulo de resíduo de tinta líquida e ainda, “as embalagens de tintas dos RC serão submetidas a sistema
de logística reversa, conforme requisitos da Lei nº 12.305/2010, que contemple
a destinação ambientalmente adequados dos resíduos de tintas presentes nas
embalagens”.
No que se refere a destinação
dos resíduos sólidos, a Resolução do CONAMA n° 448 de 18 de janeiro de 2012, em
seu art. 4°, § 1°, trata que os resíduos da construção civil não podem serem
dispostos em aterros de resíduos sólidos urbanos, em áreas de “bota fora”, em
encostas, corpos d’água, lotes vagos e em áreas protegidas por Lei. Deste modo,
a destinação destes resíduos está relacionada com base em suas classes, como
descreve a resolução supracitada, em seu art. 10. Estes resíduos, após triagem,
são destinados, a seguir:
·
Classe A: são resíduos reutilizados ou
reciclados na forma de agregados, ou encaminhados à as áreas de aterro de
resíduos da construção civil, sendo dispostos de modo a permitir a sua
utilização ou reciclagem futura;
·
Classe B: são os resíduos reutilizados,
reciclados ou encaminhados às áreas de armazenamento temporário, dispostos de
modo a permitir a sua utilização ou reciclagem futura;
·
Classe C: são os resíduos armazenados,
transportados e destinados, em conformidade com as normas técnicas
específicas;
·
Classe D: resíduos armazenados,
transportados, reutilizados e destinados em conformidade com as normas técnicas
específicas.
Por fim, o prazo de disposição, segundo a resolução
supracitada, em seu artigo 13, o prazo máximo é de dezoito meses para os
municípios e o Distrito Federal cessarem a disposição dos resíduos de
construção civil em aterros e resíduos domiciliares e em áreas de “bota fora”.
Acerca disto, disposição e controle dos RCC´s, segundo
Paschoalin Filho e Graudenz (2012), “quando dispostos irregularmente poluem o
solo, degradam paisagens e constituem em grave ameaça à saúde coletiva” Os
autores destacam que o acúmulo dos RCC´s torna-se nicho ecológico de diversas
espécies de agentes patogênicos, sendo: roedores, baratas, moscas, vermes,
pernilongos, fungos, vírus, animais entre outros e ainda como vetores
biológicos ocasionam transmissão de doenças respiratórias, epidérmicas,
viroses, intestinais etc.
Procedimentos Metodológicos
O trabalho baseou-se por meio da
abordagem quantiqualitativa, a partir do método descritivo e exploratório. A
abordagem quanti-qualitativa (CRESWELL, 2007), trata-se do uso dos métodos mistos de pesquisa,
relaciona-se com o planejamento de procedimentos, transmitindo a intenção da
pesquisa em termos de métodos mistos e suas aplicações nas ciências sociais e
humanas, envolvendo a identificação do tipo de estratégia de investigação de
métodos mistos, das abordagens de coleta e análise de dados, além do papel do
pesquisador e de uma visão da estrutura geral da pesquisa.
Além disso, na
abordagem qualitativa, Godoy (1995) aponta diferentes caminhos. Junior e Costa
(2014) destacam que o uso da quantificação dos resultados com base na escala de
Likert, trata de medir a concordância
das pessoas a determinadas afirmações relacionadas aos construtos de interesse.
O método de pesquisa idealizado consiste no exploratório e descritivo
que no primeiro, trata da análise conceitual e o segundo relaciona as práticas
no ambiente pesquisado. Nesta condição a pesquisa, exploratória e descritiva
(SILVA; MENEZES, 2001, p. 2), sendo que na pesquisa exploratória que “envolve
levantamento bibliográfico; entrevistas com pessoas que tiveram experiências
práticas com o problema pesquisado”. A pesquisa descritiva, exige do
investigador uma série de informações sobre o que deseja pesquisar e descreve
os fatos e fenômenos de determinada realidade (TRIVIÑOS, 1987).
O universo da pesquisa analisou
duas empresas identificadas como E1 - Usina de reciclagem de resíduos da
construção civil, cuja amostra é um gestor (G1) e E2 - construtora voltada à
construção civil, sendo a amostra corresponde a um gestor (G2), representando
assim, duas amostras, onde ambas as empresas, situam-se em Rondonópolis, no
estado de Mato Grosso. Assim, na visão de Minayo (2002), as amostras de
pesquisa propiciam a abrangência da totalidade do problema investigado em suas
múltiplas questões. Para isso, estruturou-se dois questionários (com perguntas
objetivas e subjetivas) e entrevistas aplicadas aos gestores das duas empresas.
O tipo de pesquisa, aplicou-se,
segundo Yin (2010), dois casos de pesquisa, que relacionam replicação direta e
conclusões analíticas independentes ou contrastantes, fortalecendo os achados
de pesquisa. Com isto, as análises das práticas de gestão das duas empresas
permitiram a aplicação da triangulação de dados, relacionados aos dados
primários extraídos das empresas pesquisadas; após isso, utilizou-se as
inferências dos pesquisadores que permitiram analisar o espaço estudado, apor
meio do método de triangulação de dados que permite a validação dos resultados
dessa pesquisa (COX; HASSARD, 2005).
Sendo assim, as estratégias de
coletas dos dados são caracterizadas com base nos dados primários, dados secundários
e a inferência dos pesquisadores. Na visão de Denzin (1978) e Azevedo (2013),
citados por Silva (2015), a triangulação metodológica trata a triangulação
entre métodos, que se utiliza de diversas técnicas dentro de um determinado
método para coletar e interpretar dados. Outro tipo de triangulação é a de
dados (KELLE, 2001) em que se reforça o funcionamento das matrizes,
determinando o grau de convergência e o indicador da validade dos resultados e
da investigação.
No tratamento dos dados para análise
das práticas das corporações E1 e E2, tratadas, inicialmente, pelas variáveis
de acordo com as tipologias de R´s da Sustentabilidade, conforme Lima e Lima
(2009) e, em seguida, em consonância com os resultados de performances, segundo
Carroll (1979) e adaptado por Silva (2015), conforme o Quadro 2.
Quadro 2. Estratégia de tratamento de dados das
práticas de destinação dos RCC
Fonte:
Adaptado pelos autores a partir de Lima e Lima (2009)
Após a adequação da Tipologia
dos R´s da sustentabilidade, conforme Lima e Lima (2009), a seguir, será
aplicado a partir dos resultados encontrados o tipo de performance encontrada,
compreendendo a parte 2 da interpretação de resultados.
Quadro 3. Análise das performances dos
comportamentos
Fonte: Carroll (1979) adaptado por Silva
(2015)
Discussão de Resultados
Os dados foram capturados das
duas empresas denominadas de E1 e E2, com a participação de seus gestores, G1 e
G2, que atuam em diferentes da construção civil.
Na Empresa E1, verificou-se que
100% dos resíduos pertencem às empresas privadas das empresas privadas:
Concresul, TMI, ADM e Supermix. Os resíduos domésticos denominados de resíduos
de construção civil das construções e reformas e, quando perguntado ao gestor
sobre a destinação dos resíduos das empresas públicas, o G1 salientou que não
houve interesse por parte do munícipio em 2016. Quando não são descartados em
caçambas, os resíduos da construção cível (RCC) são dispensados em ambientes em
lixões, aterros sanitários e terrenos baldios, transformando-os em grandes
geradores de impactos ambientais e alterando a paisagem urbana. Para Mazzarotto
e Berté (2013), a gestão correta desses resíduos infere diretamente na
qualidade de vida da população. Dessa forma, o descarte através de caçambas é a
melhor opção, pois a empresa de transporte é responsável pela correta
destinação final dos resíduos.
Na empresa E2, pôde-se verificar
que os resíduos gerados nas obras são de classe A e classe B, descartados por
caçambas e caminhão aberto e posteriormente encaminhados para aterro sanitário
controlado do município. Os resíduos de classe D são 100% aproveitados na obra,
uma vez que o intuito da empresa, conforme relata G2: “é se livrar dos entulhos, mantendo as obras limpas e organizadas,
evitando acidentes e tornando a obra mais acessível ao cliente e com bom
aspecto para apresentação”. Assim, verificou-se que, na empresa E2, não há
barracões ou Área de Transbordo e Triagem (ATT’s) na obra para um melhor
descarte destes resíduos da construção civil. A empresa capta resíduos de três
municípios no estado de Mato Grosso (Rondonópolis, Pedra Preta e Alto Garças) e
são descartados, aproximadamente, 5𝑚3 de resíduos por obra, sendo um
descarte por semana, todos sem triagem.
Ainda, sobre o processo de
triagem, que é o primeiro passo para gestão dos resíduos descartados, antes de
serem encaminhados aos aterros, demonstra que os gestores têm conhecimento, mas
não desenvolvem na prática, deixando claro que o tema sobre a redução dos resíduos
“ainda se apresenta bastante vago, sendo necessário ser encarado desde os
primeiros passos até a formação superior [...] os profissionais vêm tratando a
questão ambiental com certo descaso” (FRIGO; SILVEIRA, 2012, p. 1940). Assim,
conforme disposto acima, o Gráfico 1 apresenta o percentual de resíduos
capturados pela empresa E1.
Gráfico 1. Resíduos
direcionados pela transportadora
Fonte: Dados da
Pesquisa
No Gráfico 1, os resíduos direcionados para
empresa E1, correspondem a 80% dos resíduos de classe A, sendo estes 100%
reciclados. Os resíduos da classe B compreendem a 19% direcionados para usinas
de reciclagem para o Estado de Campo Grande. Os resíduos das classes C e D são
transportados por empresas especializadas, ocorrem casos em que resíduos de
Classe D chegam para triagem, mas os mesmos são imediatamente recusados e
devolvidos.
Deste modo, a destinação, uso e reuso dos
resíduos sólidos da construção civil da Empresa E1 estão alocados de acordo com
os reaproveitamentos e o uso da ferramenta 7R´s de Lima e Lima (2009), conforme
Quadro 4.
Quadro 4. Classificação dos resíduos e
destinações finais
Fonte: Dados da Pesquisa
De acordo com Quadro 4, o processo de
reciclagem da empresa E1, inicia com a triagem dos resíduos selecionados,
separados e classificados de acordo com as classes A, B, C e D, e
posteriormente separados pelos tipos de resíduos (papel, vidro, plástico,
concreto). Depois disso, os resíduos que não podem ser reciclados pela usina
recebedora (plásticos, papel, vidro, madeira e gesso) são encaminhados para
usinas específicas localizadas em Campo Grande. Quanto aos resíduos de ferro
velho (latas de tintas, vergalhões, metais), passam pelo processo de
transformação em novos coprodutos, onde: o concreto é transformado em areia,
brita, pedrisco e rachão (pedrisco maior); os componentes cerâmicos e
argamassas transformados para serem utilizados como aterros. Estes coprodutos
são reaproveitados em novas empreendimentos e novas reformas de empreendimento,
que de acordo com o gestor “as obras têm custos de até 30% mais barato que os
resíduos naturais, mas por questão cultural, as construtoras não reaproveitam
os mesmos resíduos, sendo procurados apenas para obras domésticas”.
Na Empresa E2, os certificados adquiridos
são apenas para regulamentação municipal, não incluindo fiscalização ambiental,
sem se preocupar com a educação ambiental, como palestras, seminários e
minicursos acerca da conscientização do reaproveitamento dos resíduos na obra,
que se destaca menos de 50% dos resíduos gerados são reaproveitados nas obras.
Isto vai contra a necessidade de salientar a importância da disseminação do
conhecimento acerca da preservação ambiental entre os profissionais com foco na
reciclagem e destinação dos resíduos gerados pela construção civil (FRIGO;
SILVEIRA, 2012).
No Quadro 5, a empresa E2 não
possui ATT’s, desta forma, não é possível realizar o processo de triagem, sendo
o objetivo da empresa tratar os coprodutos com base no processo de reciclagem,
entre eles, os resíduos da classe D (reaproveitados 100%). Quanto aos produtos
das classes A e B, são descartados nos aterros sanitários municipais. Na
aplicação de ferramentas de gestão 7R’s da sustentabilidade, por mais que a
empresa E2 demonstre falhas socioambientais, aplicam-se as ferramentas. Para os
resíduos de classe A, apresentaram-se com sustentabilidades de Reutilizar,
Reaproveitar. Nos resíduos de classe B, corresponderam às sustentabilidades de
Reutilizar e Reciclar e, ainda, para os resíduos de classe C, enquadraram-se em
Repensar e Recusar. E, por fim, para os resíduos de classe D, classificaram em
Reaproveitar e Reciclar, vez que são ações desenvolvidas nas obras.
Quadro 5. Classificação dos resíduos e destinações
finais para empresa E2
Fonte: Dados da Pesquisa
Quanto ao enquadramento de
Performance dos resultados, a empresa E2 apresentou performance acomodativa
tanto nas classes A como nas classes B, por demonstrar comportamento adaptativo
aos interesses da empresa, mostrando falhas no tocante à gestão dos resíduos
gerados nas obras. Os resíduos de classe C foram classificados como resíduos
ameaçadores, denominados como reativos, uma vez que a empresa não faz uso
destes. Os resíduos de classe D
classificaram-se como ativo, já que eles são aproveitados nas obras o máximo possível
e descartadas apenas as embalagens. Destacou-se, ainda, o desconhecimento da
empresa da existência de uma usina de reciclagem de resíduos da classe A, no
município de Rondonópolis. O G2 disse que conhecia o processo de descarte dos
resíduos apenas para o aterro sanitário municipal. Isso mostra o desinteresse
de buscar usinas ou cooperativas de reciclagem para o descarte adequado dos
resíduos gerados nas suas obras.
CONCLUSÕES
Considerando o objetivo da
pesquisa, a prática da gestão dos resíduos sólidos da construção civil vem
gerando benefícios para a sociedade e aos empresários com a implementação dos
coprodutos por meio da utilização da reciclagem, obtendo, assim, maximização de
lucros e minimização dos entulhos. A análise das empresas, por meio do processo
de transformação dos coprodutos, levou aos principais resultados esperados,
utilizando as ferramentas 7 R’s e de Performance de Carroll (1979), uma vez que a E1
apresentou comportamentos de excelência à conquista dos objetivos corporativos,
utilizando todas as sete (7) ferramentas da gestão ambiental, além das
expectativas exigidas por lei com a prática da gestão socioambiental,
definindo-se um de seus comportamentos como adaptativo aos objetivos
corporativos, exigências legais e tecnológicas.
Já a empresa E2 demonstra
comportamento acomodativo aos interesses da empresa, mostrando falhas no
tocante à gestão dos resíduos gerados nas obras, fazendo uso apenas das
ferramentas de gestão ambiental “Reaproveitar” e “Reciclar”, uma vez que
apresenta desconhecimento da existência de uma usina de reciclagem de resíduos
da classe A, tendo conhecimento apenas de cooperativas para descarte adequado
dos resíduos gerados pelas obras.
Quanto às limitações do
trabalho, pode-se indicar a falta de cooperação com a pesquisa por parte dos
gestores das construtoras e empreiteiras, os mesmos não demonstraram interesse
em ampliar as discussões sobre as práticas o que poderia indicar outras descobertas
e possibilitar uma troca de experiências entre o que se apresenta nas teorias
de gestão de resíduos, as ferramentas para a adoção de práticas sustentáveis
que pudessem ser agentes na redução do descarte inapropriado dos resíduos da
construção civil nas empresas pesquisadas.
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