v.
9, n. 1, Janeiro-Abril/2025 This work is licensed
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4.0 International License
Indicadores Econômico-Financeiros:
Análise Comparativa Entre Empresas Farmacêuticas Varejistas na B3
Bruna Souza
brunaalves.contabilidade@gmail.com
https://orcid.org/0009-0004-2649-7374
Pós-Graduada em
Finanças e Controladoria pela Universidade de São Paulo/ESALQ
Porto Alegre/RS
Rodolfo Nunes
rodolfovieiran@gmail.com
http://lattes.cnpq.br/9934738411808250
http://orcid.org/0000-0003-3075-2177
Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF
Governador Valadares/MG
Matheus Torquato
torquatomatheus@hotmail.com
http://lattes.cnpq.br/0627317173910335
https://orcid.org/0000-0002-5868-2919
Doutor em
Administração pela Universidade de São Paulo - USP
Curitiba/PR
RESUMO
Considerando a
importância do comércio varejista do setor farmacêutico para o desenvolvimento
da economia no Brasil ao longo dos últimos anos, este estudo tem por objetivo
geral analisar as demonstrações contábeis das Companhias por meio de
indicadores financeiros. Os objetivos específicos deste estudo são: mensurar o
desempenho das empresas analisadas; identificar os fatores que influenciaram
nestes índices e realizar a comparação organizacional entre as entidades. Para
tanto, foi realizada a análise comparativa dos indicadores
econômico-financeiros, no período de 2018 a 2022, das empresas Raia Drogasil,
Pague Menos, Dimed (Panvel) e D1000 Varejo Farma, considerando os dados das
demonstrações financeiras. No que diz respeito a abordagem metodologia,
realizou-se uma pesquisa descritiva, seguida de uma pesquisa documental no
âmbito dos procedimentos. A partir da coleta dos dados, utilizou-se a
ferramenta Microsoft Excel® para análise dos indicadores: composição do
endividamento, liquidez corrente, rentabilidade sobre ativo, retorno sobre o
patrimônio líquido, margem bruta e margem líquida. Como conclusão, através da
análise das demonstrações financeiras, constatou-se que a empresa Raia Drogasil
apresentou em linhas gerais melhores indicadores econômicos e financeiros ao
longo do período analisado, em contrapartida, a empresa Dimed também ter
apresentou índices satisfatórios, mas menos expressivos.
PALAVRAS-CHAVE:
Farmacêuticas; Varejo; Lucratividade; Rentabilidade; Endividamento.
Economic-Financial
Indicators: Comparative Analysis Among Retail Pharmaceutical Companies on B3
ABSTRACT
Considering
the importance of the retail pharmaceutical sector for the development of the
economy in Brazil over the past years, this study aims to analyze the
companies' financial statements through financial indicators. The specific
objectives of this study are to measure the performance of the analyzed
companies, identify the factors that influenced these indices, and conduct an
organizational comparison between the entities. For this, a comparative
analysis of the economic-financial indicators was conducted for the period from
2018 to 2022 of the companies Raia Drogasil, Pague Menos, dimed (Group Panvel),
and D1000 Varejo Farma, considering the data from the financial statements.
Regarding the methodological approach, a descriptive search and then a
documentary search within the scope of procedures were conducted. From the data
collection, the Microsoft Excel® tool was used to analyze the indicators: debt
composition, current liquidity, profitability on assets, return on equity,
gross margin, and net margin. In conclusion, through the analysis of the
financial statements, it was found that the company Raia Drogasil presented
better economic and financial indicators over the analyzed period; on the other
hand, the company Dimed also showed satisfactory indices, but they were less
expressive.
KEYWORDS: Pharma; Retail; Profitability; Return on Investment;
Indebtedness.
Submetido: 04/09/2024
Recomendações requeridas: 01/02/2025
Aceito: 09/04/2025
Publicado: 30/04/2025
1 INTRODUÇÃO
O setor farmacêutico desempenha um papel crucial na
promoção da saúde global, focando na produção de medicamentos essenciais para
bilhões de pessoas (DUARTE; RESENDE;
MURAHOVSCHI; VASCONCELOS, 2015). O relatório do Sindicato da Indústria de
Produtos Farmacêuticos (2023) revela que, em 2022, o mercado brasileiro de
medicamentos era composto por 341 empresas, sendo 246 de capital nacional. Além
disso, no período de janeiro a outubro de 2023, o setor alcançou um faturamento
expressivo de R$154,80 bilhões de reais, evidenciando a robustez e importância
dessa indústria no cenário econômico brasileiro (SINDUSFARMA, 2023).
Análises recentes da IQVIA apontam perspectivas promissoras
para o mercado farmacêutico brasileiro no período de 2023 a 2026, com uma
projeção média de crescimento de 9,5% nas vendas em reais (IQVIA BRASIL, 2023).
O setor farmacêutico, conforme destacado por XP Investimentos (2023), emerge
como um segmento robusto e promissor a curto prazo, sendo reconhecido por sua
notável rentabilidade, destacando-se a resiliência do setor.
Entre os principais atores desse mercado, destacam-se D1000
Varejo Farma Participações, Dimed Distribuidora de Medicamentos, Raia Drogasil
e Pague Menos, identificados como elementos-chave que impulsionam o dinamismo e
o potencial lucrativo do setor farmacêutico. Na análise das empresas
apresentadas na Bolsa, Balcão e Brasil (B3), no setor de Serviços Médicos e
Hospitalares e Medicamentos, identificamos essas quatro empresas como as
principais marcas do comércio varejista. Desta forma, o presente trabalho se
concentrará na análise das quatro empresas em questão.
Em primeiro lugar, destaca-se a Companhia Raia Drogasil,
líder no varejo farmacêutico brasileiro, resultante da fusão ocorrida em 2011,
das renomadas empresas Droga Raia e Drogasil. Atualmente, alcançou a marca de
2,8 mil farmácias distribuídas por todo o país (RAIA DROGASIL, 2024). A
Companhia Pague Menos, uma das maiores redes de farmácias do Brasil,
recentemente ampliou sua presença ao adquirir a rede Extrafarma, em setembro de
2023, contabilizava 1.648 lojas ativas (PAGUE MENOS, 2024). A Companhia Dimed,
que abriga a rede de farmácias Panvel, fundada em 1967 como a pioneira no país,
apresentava um total de 585 lojas até setembro de 2023 (GRUPO PANVEL, 2024).
Por fim, a empresa D1000 Varejo Farma refere-se à rede de drogarias que engloba
as marcas Drogasmil, Farmalife, Drogarias Tamoio e Drogaria Rosário. Com mais
de 200 lojas distribuídas nos estados brasileiros e 40 anos de atuação (D1000,
2024).
Diante do exposto, torna-se evidente a relevância de
realizar análises e avaliações do desempenho econômico-financeiro destas
empresas. Conforme Vieira e Borges dos Santos (2020), por
meio desta avaliação, é possível monitorar a evolução em relação aos
concorrentes, além de avaliar o desempenho dos indicadores dentro do mercado ao
qual estão inseridas. Segundo Iudícibus (2017), para
uma análise mais eficiente, é fundamental não apenas atentar para a fidelidade
dos dados obtidos, mas também compará-los historicamente, tanto com as
demonstrações financeiras da própria empresa em períodos anteriores quanto com
empresas do mesmo setor de atuação.
Um dos propósitos da análise financeira é fornecer suporte
aos usuários na otimização de suas decisões em relação à empresa. Para esta
abordagem é necessário envolver a combinação de diversos indicadores, tais como
liquidez, endividamento, rentabilidade e lucratividade, obtidos a partir das
demonstrações contábeis (MARTINS; MIRANDA; DINIZ, 2014; ASSAF NETO, 2015).
Portanto, o problema de pesquisa concentra-se na seguinte
questão: Qual empresa do setor varejista farmacêutico, através da análise dos
indicadores econômico-financeiros no período de 2018 a 2022, apresentou
resultado favorável para investimentos dos acionistas? Para tanto, o objetivo
geral desta pesquisa é analisar as demonstrações contábeis das Companhias por
meio de indicadores financeiros. Os objetivos específicos deste estudo são: i)
mensurar o desempenho das empresas analisadas; ii) identificar os fatores que
influenciaram nestes índices; iii) realizar a comparação organizacional entre
as entidades.
Conforme as informações mencionadas nos tópicos acima, as
informações desta pesquisa justificam-se principalmente pela representatividade
do setor varejista na economia nacional, o que possibilita ampliar o
conhecimento acadêmico sobre o processo de avaliação de desempenho
econômico-financeiro dessas empresas.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Importância do setor farmacêutico
varejista na economia
Conforme
estimativas divulgadas pela consultoria Statista (2023), o setor de varejo no
mercado global registrou vendas de aproximadamente US$ 27,34 trilhões em 2022,
o que corresponde a um avanço de 5,0% em comparação com o desempenho no ano
anterior. Especificamente, as vendas geradas por lojas físicas foram estimadas
em US$ 20 trilhões (LAFIS, 2023). No contexto brasileiro foi ressaltada a
importância de determinados segmentos no crescimento do comércio varejista
(IBGE, 2023). Dentre estes, destacou-se o ramo de artigos farmacêuticos. O
setor farmacêutico é caracterizado como a área da economia que engloba as
diversas atividades relacionadas à produção, comercialização e transporte de
medicamentos, bem como as substâncias que desempenham papel como componentes
ativos em preparações farmacêuticas. Até junho de 2023, este segmento foi
responsável por uma contribuição de 13,20% na taxa acumulada global de receitas
do varejo. Ressalta-se também que foi uma das quatro atividades que registraram
alta no primeiro semestre de 2023 (IPEA, 2023).
Conforme
apontado por Duarte et al. (2015), o objetivo primordial deste setor
consiste na fabricação de medicamentos, desempenhando um papel fundamental na
preservação da saúde de bilhões de indivíduos ao redor do mundo. Diante desse
contexto, torna-se necessário que as empresas farmacêuticas distribuam seus
produtos por meio do comércio varejista, especialmente em farmácias. Segundo
informações extraídas de relatórios da indústria farmacêutica, é visto que em
2022, o mercado brasileiro de medicamentos contava com a participação de mais de
300 empresas. Adicionalmente, observa-se que nos primeiros dez meses de 2023, o
faturamento total proveniente das vendas
de medicamentos superou a marca de R$150 bilhões de reais (SINDUSFARMA,
2023).
Para o período
de 2023 a 2026, conforme análises recentes da IQVIA, projeta-se um crescimento
médio de 9,5% nas vendas em reais no mercado farmacêutico total. Dentre os
principais impulsionadores desse crescimento, destacam-se o envelhecimento
populacional, a recuperação gradual dos níveis de renda devido à retomada
econômica, o aumento dos gastos com genéricos e similares, a adoção de novas
tecnologias para populações específicas, entre outros fatores (SINDUSFARMA,
2023).
2.2 Players do mercado varejista
farmacêutico
Diante da
rentabilidade do segmento, instituições financeiras renomadas identificam como
um setor que deva ser considerado para possíveis investimentos, o qual possui
perspectivas positivas a curto prazo. No ano de 2023, a XP Investimentos (2023)
destacou quatro principais atores desse mercado: D1000 Varejo Farma
Participações, Dimed Distribuidora de Medicamentos, Raia Drogasil S.A e Pague
Menos, simultaneamente, é possível confirmar que estas empresas correspondem as
principais marcas de varejo farmacêutico registradas no segmento de serviços
médicos e medicamentos na B3.
Em primeiro
lugar, destaca-se a Companhia Raia Drogasil, líder no varejo farmacêutico
brasileiro, resultante da fusão ocorrida em 2011, das renomadas empresas Droga
Raia e Drogasil. Atualmente, alcançou a marca de 2,8 mil farmácias distribuídas
por todo o país. A Pharmacia Raia teve sua origem em 1905, na cidade de
Araraquara, São Paulo, quando o farmacêutico João Baptista, um italiano que
chegou ao Brasil em 1895, formou-se em farmácia e decidiu empreender. A segunda
loja surgiu em 1931, em Araçatuba, e, em 1937, a rede se consolidou ao se
expandir pelo interior do estado, que culminou com sua chegada à capital em
1951. Ao longo dos anos, a Droga Raia aumentou e, em 1990, já contava com 34
estabelecimentos espalhados por todo o estado de São Paulo. No ano 2000, marcou
um marco significativo ao abrir sua primeira loja fora do estado e iniciar um
projeto de expansão nacional. Em 2010, a empresa realizou sua abertura de
capital na bolsa de São Paulo, possibilitando um aumento significativo nos
investimentos em tecnologia e a expansão de novas lojas (RAIA DROGASIL, 2024).
O ano de 2011
marcou um novo capítulo com a fusão com a Drogasil, a fusão teve como objetivo
dominar o mercado nacional, unindo públicos, localizações, rentabilidade e
tecnologia. Os investimentos em tecnologia e o fortalecimento da marca ao longo
do tempo resultaram em um crescimento exponencial da empresa, com a receita
anual expandindo-se cerca de 20 vezes na década subsequente à fusão. A empresa
possui um portfólio diversificado de negócios, incluindo a RD (Droga Raia,
Drogasil e Onofre), RD Serviços e RD Marcas, todos voltados para a saúde e
bem-estar. Sua atuação é fundamentada em cinco valores fundamentais: ética,
eficiência, inovação, relações de confiança e visão de longo prazo. Com uma
estrutura logística descentralizada composta por onze centros de distribuição
em oito estados, a empresa atende às diversas demandas dos consumidores na
aquisição de medicamentos e produtos de higiene e beleza (RAIA DROGASIL, 2024).
A Companhia
Pague Menos, uma das maiores redes de farmácias do Brasil, recentemente ampliou
sua presença ao adquirir a rede Extrafarma. Em setembro de 2023, contabilizava
1.648 lojas ativas. Seu modelo de negócios é centrado na comercialização de
produtos e serviços relacionados à saúde e bem-estar, com ênfase em
medicamentos de referência, genéricos sujeitos à prescrição médica, produtos
polivitamínicos e itens de perfumaria, abrangendo artigos de higiene e beleza.
Adicionalmente, a Pague Menos disponibiliza a venda de medicamentos formulados
por meio de seis farmácias de manipulação (PAGUE MENOS, 2024).
A primeira
Farmácia Pague Menos foi inaugurada em maio de 1981, em Fortaleza, Ceará,
conquistando rapidamente o mercado local. Em 2009, tornou-se a única varejista
farmacêutica presente em todos os Estados brasileiros e no Distrito Federal,
com mais de 1.100 lojas, 820 unidades do Clinic Farma e mais de 20 mil
colaboradores atuando em 327 municípios. A empresa tem como missão promover a
saudabilidade através de atitudes inovadoras e cidadãs, buscando encantar as
pessoas. Com a visão de ser a maior e melhor empresa do varejo farmacêutico do
Brasil, a Pague Menos mantém o Nordeste como sua região com o maior número de
lojas, destacando-se por sua eficiência, inovação, conveniência e compromisso
com a cidadania. Os valores da empresa são fundamentados no tripé Conveniência,
Inovação e Cidadania, e ela adota uma abordagem multicanal, permitindo que os
clientes realizem compras por diferentes canais, incluindo o modelo Clinic
Farma (PAGUE MENOS, 2024).
A Companhia
Dimed, que abriga a rede de farmácias Panvel, fundada em 1967 como a pioneira
no país, apresentava um total de 585 lojas até setembro de 2023. A história da
Dimed teve início em 21 de setembro de 1967, quando as duas principais redes de
farmácias do Rio Grande do Sul, Panitz e Velgos, se uniram em uma Joint
Venture. Juntas, fundaram uma central de compras e logística destinada a
abastecer ambas as redes, além de atender outros clientes na região. A Dimed
integra o Grupo Panvel, que inclui também a rede de farmácias Panvel, o
laboratório e distribuidora Lifar e a empresa de gestão imobiliária Dimesul
(GRUPO PANVEL, 2024).
Por fim, a
empresa D1000 Varejo Farma refere-se à rede de drogarias que engloba as marcas
Drogasmil, Farmalife, Drogarias Tamoio e Drogaria Rosário. Fundada em 2010,
integra o Grupo Profarma, e concentra-se na venda de medicamentos, genéricos,
produtos de higiene pessoal, dermocosméticos e itens de conveniência.
Atualmente, conta com mais de 200 lojas distribuídas nos estados brasileiros e
40 anos de atuação (D1000, 2024). Para maior contextualização das empresas
presentes no estudo, é exposta a Tabela 1:
Tabela 1 -
Caracterização das empresas
|
Empresa |
Raia Drogasil |
Pague Menos |
Panvel |
D1000 |
|
Fundação |
2011 |
1981 |
1973 |
2013 |
|
Funcionários
em 2022 |
53.443 |
25.701 |
9.300 |
3.600 |
|
Lojas em 2022 |
2.697 |
1.646 |
556 |
218 |
|
Faturamento
Líquido em 2022 (bilhões) |
R$29.067 |
R$9.189 |
R$3.990 |
R$1.483 |
|
Ticker B3 |
RADL3 |
PGMN3 |
PNVL3 |
DMVF3 |
|
Valor da ação
em 29/12/2022 |
22,58 |
4,03 |
9,91 |
4,09 |
Fonte: Elaboração pelos autores (2024).
2.3 Desempenho
econômico-financeiro
Na visão de Iudícibus
(2017), a análise de balanços tem como objetivo narrar, com base nas
informações contábeis fornecidas pelas empresas, a situação
econômico-financeira presente, as razões que influenciam a evolução demonstrada
e as tendências que se desenham para o futuro. Ao analisar as demonstrações
financeiras, é possível comparar dados de uma ou mais empresas com padrões
semelhantes, bem como de uma empresa ao longo de diferentes períodos. Dada a
natureza da análise como uma ferramenta para converter dados administrativos e
contábeis em informações significativas, capazes de influenciar a formação de
opinião sobre itens de interesse, são diversos os usuários que se beneficiam do
resultado dessa análise.
Ribeiro (2018),
também comenta que, os indicadores financeiros são a ferramenta utilizada para
avaliar o desempenho econômico-financeiro de uma entidade, sendo seus dados
extraídos diretamente dos balanços. A partir desses dados, os analistas podem
empregar uma variedade de índices ou quocientes, conforme necessário, para
atender aos objetivos da análise.
No entendimento
de Perez e Begalli (2009) e Martins, Miranda e Diniz (2014), a utilização de
indicadores econômico-financeiros representa uma das abordagens mais comuns na
análise de demonstrações financeiras. Este método possibilita que tanto
gestores internos quanto analistas externos avaliem o desempenho de uma empresa
ao longo de um período específico. Ao examinar dados passados, é possível
mensurar o impacto de eventos e decisões sobre a empresa, realizando
diagnósticos e obtendo conclusões relevantes. Ademais, tais indicadores também
fornecem uma base sólida para a realização de previsões sobre o desempenho
futuro da companhia.
Acerca dos
indicadores utilizados para avaliar o desempenho destas instituições, foram
selecionados os índices que são comumente analisados pelo setor de relação com
investidores das maiores empresas deste segmento, descritos conforme Tabela 2:
Tabela 2 - Indicadores econômico-financeiros
|
Variável |
Fórmula |
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|
|
Fonte: Elaborado
pelos autores, (2024).
Conforme Assaf
Neto (2015), os índices de liquidez são ferramentas utilizadas para avaliar a
saúde financeira de uma organização diante dos compromissos que ela contraiu. A
liquidez corrente, por exemplo, indica a proporção de ativos circulantes
disponíveis para cada R$1 de dívida de curto prazo, fornecendo uma visão sobre
a capacidade da empresa em honrar seus compromissos imediatos.
Os índices de
estrutura patrimonial estabelecem conexões entre as fontes de financiamento
relacionadas à aquisição e aplicação de recursos. Eles revelam a composição do
capital da empresa, demonstrando a distribuição e indicando o grau de
dependência da entidade em relação ao capital próprio e a terceiros. Nesse
contexto, a composição do endividamento especifica a proporção de obrigações de
curto prazo em relação ao total de obrigações, oferecendo uma visão sobre a
natureza e a distribuição das responsabilidades financeiras (PEREZ; BEGALLI, 2009).
Os indicadores
de rentabilidade demonstram o retorno obtido pela empresa a partir de seus
investimentos e são categorizados como giro do ativo, margem bruta, margem
líquida, retorno sobre o ativo e retorno do patrimônio líquido (MARTINS;
MIRANDA; DINIZ, 2014). Ainda segundo os autores, o índice de margem bruta
reflete o retorno gerado pela empresa em relação às vendas, desconsiderando os
custos associados à comercialização de mercadorias ou prestação de serviços.
Esse indicador destaca a relação entre o resultado bruto da empresa e sua receita
líquida de vendas, revelando a parcela que permanece após o pagamento dos
custos diretos e indiretos de produção necessários para criar seus produtos.
Por sua vez, a margem líquida é um indicador que demonstra o lucro líquido
obtido pela empresa para cada um real de venda realizada.
Conforme
Ribeiro (2018), os índices de rentabilidade constituem métricas de desempenho
que avaliam a habilidade da empresa em gerar retorno financeiro a partir de
seus investimentos. O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE), de acordo com
essa perspectiva, indica a taxa de lucratividade obtida a partir do capital
próprio investido na empresa, revelando o montante de lucro líquido gerado para
cada R$ 1 de capital próprio investido. Já o retorno sobre o ativo (ROA),
destaca o potencial da empresa em gerar lucros, mostrando o montante de lucro
líquido obtido para cada real de investimentos totais.
2.4 Estudos
anteriores
Com base em um estudo conduzido por Correia (2022), que
analisou o desempenho das empresas Raia Drogasil e Pague Menos durante a
pandemia de Covid-19, observou-se uma evolução geral ao longo dos anos. Ambas
as empresas demonstraram boa solvência em seus índices de liquidez, embora
tenham enfrentado pouca variação no primeiro ano da pandemia em comparação com
o ano anterior. No entanto, os índices de rentabilidade não foram
significativos durante o período de crise, especialmente para a Pague Menos,
que teve margens líquidas, o retorno do patrimônio líquido e retorno do ativo
abaixo de 1% em 2019, ligeiramente superiores em 2020 e regressivas em 2021. A
Raia Drogasil apresentou um padrão semelhante, com uma queda nos indicadores em
2020. Esses resultados refletem a drástica diminuição nas vendas causada pela
chegada da pandemia. No entanto, no ano seguinte, após adaptações e decisões
estratégicas para impulsionar as vendas, ambas as empresas mostraram um aumento
na margem líquida e recuperação dos demais índices.
Segundo a análise de Costa (2019) sobre os indicadores de
liquidez, atividade, endividamento e rentabilidade da Raia Drogasil, no período
de 2016 a 2018 estiveram em conformidade com o mercado. Destacando-se como a 6ª
maior empresa do segmento em relação ao seu tamanho patrimonial e resultado,
evidenciando um crescimento significativo, especialmente após a fusão em 2011.
Os indicadores, em sua maioria, são satisfatórios, mostrando um crescimento ao
longo dos anos. Contudo, os índices de liquidez indicam que, excluindo o
estoque, a empresa poderia enfrentar desafios para honrar suas dívidas na mesma
proporção. Os indicadores de endividamento revelam um aumento na dependência de
terceiros, enquanto os de atividade apontam para prazos favoráveis com
compradores, embora a posição global ainda precise melhorar. O estudo sugere
que a empresa está em constante evolução, com potencial para aprimorar sua
posição financeira nos anos seguintes.
Conforme a pesquisa conduzida por Silva, Dias e Lima
(2015), a análise dos indicadores financeiros entre a Raia Drogasil e Pague
Menos nos anos de 2010 e 2011 revelou que a Raia Drogasil apresentou índices de
liquidez superiores à concorrente. No que diz respeito ao endividamento, a
Pague Menos demonstrou uma maior dependência de recursos de terceiros para
financiamento em comparação com a Raia Drogasil. Além disso, a composição do
endividamento favoreceu a Raia Drogasil, pois sua liquidez equilibrada permitiu
honrar compromissos de curto prazo de maneira mais eficaz em relação à Pague
Menos. Em resumo, os indicadores destacam que a Raia Drogasil apresentou uma
estrutura financeira superior à Pague Menos no período analisado.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para realizar
este estudo, foi utilizada a metodologia de pesquisa descritiva quanto aos
objetivos, visto que buscou-se descrever o comportamento de uma população
determinada. A pesquisa descritiva tem como objetivo a descrição das
características de uma população ou evento específico (GIL, 2017). No
que tange aos procedimentos, foi realizada uma pesquisa documental. Esta classificação é decorrente da análise do
comportamento de indicadores econômico-financeiros, a partir das demonstrações
financeiras das empresas de capital aberto listados na B3 – Brasil, Bolsa,
Balcão das Companhias selecionadas para o estudo. Por ser um estudo aplicado em
quatro empresas, classifica-o como sendo de múltiplos casos. Para Gil (2017),
estudos de múltiplos casos respaldam uma pesquisa de maior qualidade.
A presente
pesquisa foi realizada através da análise quatro empresas de capital aberto do
setor varejista no segmento farmacêutico no Brasil, a saber: Raia Drogasil,
Pague Menos, Dimed, e D1000 Varejo Farma. A população alvo do estudo são os
quatro principais players deste segmento do mercado.
Os fatores que
influenciaram na decisão foram: i) a grande relevância destas empresas para a
economia, principalmente no segmento em que atuam; ii) estas empresas tiveram
impactos menores em seus balanços decorrentes da pandemia Covid-19 devido ao
fato de que vendem produtos essenciais e medicamentos, ou seja, seus índices
não foram distorcidos significativamente por nenhum fator externo nos últimos
anos, além da própria operação; iii) critério de disponibilidade de dados
publicados por serem companhias de capital aberto em bolsa de valores.
A coleta de
dados ocorreu do período de 2018 a 2022. O instrumento de coleta de dados foram
os dados públicos anuais divulgados, nos quais foram padronizados em planilhas.
Efetuou-se a análise documental das demonstrações contábeis publicadas por
essas empresas em seus respectivos sites de Relação com Investidores, e
disponibilizadas no site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Para tanto,
foi utilizado o último balanço publicado de cada uma das empresas no período
selecionado. A partir da coleta dos dados, utilizou-se planilhas eletrônicas do
Microsoft Excel® para cálculo dos indicadores (composição do endividamento,
liquidez corrente, retorno sobre o ativo, retorno sobre o patrimônio líquido,
margem bruta e margem líquida) e apresentação dos resultados em gráfico e
tabelas.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 Indicadores
de Endividamento
Conduziu-se uma
análise contábil-financeira de quatro empresas do setor farmacêutico varejista
com base em dados disponibilizados pelo site da Comissão de Valores Mobiliários
(CVM), incluindo Balanço Patrimonial e Demonstração do Resultado do Exercício. Os
índices relevantes foram calculados conforme material e métodos, proporcionando
uma visão abrangente da evolução dessas organizações ao longo de cinco anos.
Além disso, foi possível realizar uma comparação entre as empresas
selecionadas: Raia Drogasil, Pague Menos, Dimed e D100 Varejo Farma. O Gráfico
1 apresenta o indicador de composição do endividamento, sobre a gestão
financeira dessas entidades.
Gráfico 1 - Composição
do Endividamento
Fonte: Elaborado pelos autores (2024).
Os dados
fornecidos destacam a estrutura do endividamento das quatro empresas ao longo
dos anos de 2018 a 2022. No geral, os indicadores de endividamento apresentam o
capital da entidade comprometido com terceiros. O percentual indicado avalia a
predominância do endividamento da empresa no curto ou longo prazo. Em geral,
uma empresa com proporções menores de endividamento no curto prazo tende a
apresentar menor risco, pois quanto menos uma entidade depende do financiamento
de capital de terceiros, maior será sua solvência.
O indicador de
composição de endividamento revela uma redução em todos os casos, indicando
que, de 2018 para 2022, as empresas experimentaram uma diminuição no índice.
Entretanto, observa-se que, no ano de 2022, todas as empresas possuíam mais de
45% de suas dívidas no curto prazo, predominantemente relacionadas a saldos com
fornecedores. Esta estabilidade no índice é considerada positiva.
O endividamento
de curto prazo da Raia Drogasil diminuiu de 76,32% em 2018 para 54,04% em 2022,
após atingir seu ponto mais baixo em 49,91% em 2019. Embora tenha ocorrido uma
redução no período, a empresa mostrou uma tendência de crescimento nos anos seguintes
após a adoção da norma IFRS 16. A Pague Menos também viu uma diminuição em seu
endividamento, passando de 78,48% em 2018 para 44,77% em 2019, mantendo-se
abaixo de 50% nos anos subsequentes. A estabilidade relativa no endividamento
da Pague Menos sugere uma gestão eficaz das obrigações financeiras.
A Dimed viu seu
endividamento de curto prazo cair de 87,65% para 53,55% de 2018 para 2019, mas,
a partir desse ponto, experimentou um aumento constante nos anos seguintes. O
nível de endividamento da Dimed é o mais alto entre as quatro empresas
analisadas. Quanto à D1000, inicialmente houve uma redução de 64,95% em 2018
para 53,09% em 2019. Entretanto, observou-se um leve aumento em 2021 e 2022,
sugerindo uma possível reversão na trajetória de redução. A D1000 manteve seu
endividamento abaixo de 60% ao longo do período, com notáveis flutuações.
Através da
observação dos dados desta pesquisa, identificou-se um ponto em comum entre as
quatro empresas, caracterizado por uma redução no índice no ano de 2019. Esta
alteração decorreu da adesão das empresas à norma CPC 06 (IFRS 16) neste mesmo
ano. Este fato exigiu que as empresas reconhecessem um valor significativo no
passivo não circulante em razão dos contratos de arrendamento ativos, o que
influenciou diretamente o indicador em questão, principalmente no varejo devido
a quantidade de lojas e espaços alugados. Ao analisar os indicadores de maneira
geral, verificou-se que, no ano de 2018, a empresa D100 apresentava o menor
índice de endividamento entre as empresas avaliadas. No entanto, nos anos
subsequentes, de 2019 a 2022, a empresa Pague Menos exibiu os melhores índices
de endividamento, mantendo-se abaixo de 50% em todo o período avaliado, o que
indica uma estrutura de capital mais conservadora, com menor dependência de
dívidas. Este fator pode reduzir o risco financeiro da empresa, pois ela possui
menor propensão a obrigações de pagamentos de juros e principal.
No estudo
realizado por Miranda (2021) avaliou-se os índices comparativos entre Raia
Drogasil e Pague Menos. Foi demonstrado que a Raia Drogasil manteve uma alta
porcentagem de composição de endividamento durante os anos, com um índice de
80% em 2016, seguido de 78% e 76% em 2017 e 2018 respectivamente, alcançando
melhor solvência a partir de 2019, com 50%, o menor índice do período
examinado. A Pague Menos trilhou um caminho semelhante, começando com um índice
elevado de 86% em 2016, que caiu para 72% no próximo ano, mas subiu para 78% em
2018. Tal como a Raia Drogasil, o melhor ano de solvência para a Pague Menos
foi 2019, com um índice de 45%. Em linha com a
atual pesquisa, em ambos os estudos, de forma geral, as empresas
demonstraram tendências similares no período estudado, com a diminuição mais
substancial do endividamento a curto prazo a partir de 2019 e mantendo-se em
2020.
4.2 Indicadores
de Liquidez
Os índices de
Liquidez Corrente foram apresentados no Grafico 2 para as empresas Raia
Drogasil, Pague Menos, Dimed e D1000 nos anos de 2018 a 2022. O índice de
liquidez corrente é uma medida da capacidade de uma empresa em quitar suas
obrigações de curto prazo com seus ativos circulantes. A seguir demonstra-se os
resultados:
Gráfico 2 - Liquidez
Corrente
Fonte: Elaborado pelos autores (2024).
Os índices de
liquidez proporcionam uma visão clara da saúde financeira da empresa, avaliando
sua capacidade de cumprir obrigações de curto prazo, considerando todos os
itens componentes do ativo circulante (ASSAF NETO, 2015). Ao analisar a
liquidez corrente, observa-se que, em 2022, as empresas Raia Drogasil e Dimed
têm recursos no ativo circulante suficientes para quitar suas dívidas de curto
prazo, permitindo uma folga de aproximadamente 50%. Para a Pague Menos, essa
margem é de 41%, enquanto para a D1000 é de 20%. A redução evidenciada nas
empresas Pague Menos e Dimed de 2021 para 2022 é atribuída ao aumento
expressivo do passivo circulante em comparação ao crescimento do ativo
circulante.
O índice de
liquidez corrente da Raia Drogasil teve uma trajetória descendente de 2018 para
2021 (de 1,55 para 1,31), indicando uma redução na capacidade de pagamento de
obrigações de curto prazo. Contudo, em 2022, houve um aumento para 1,50,
sugerindo uma recuperação na liquidez corrente. Já a Dimed registrou um
crescimento consistente em seu índice de liquidez corrente de 2018 a 2020,
atingindo o auge de 2,03. No estudo elaborado por Rodniski, Todescado e Feltrin
(2016), ficou demonstrado que, durante o período de 2012 a 2014, a empresa
Dimed ostentava índices de liquidez correntes que superavam 1, o que é
considerado satisfatório. Adicionalmente, na pesquisa conduzida por Costa
(2019) foram comparados os resultados dos índices de liquidez corrente entre as
empresas Dimed e Raia Drogasil, durante os anos de 2016 a 2018. No decorrer
desses três anos, a média geral foi de 1,63 para a Dimed e 1,57 para a Raia
Drogasil. Estes dados corroboram os valores identificados no presente estudo.
A Pague Menos
mostrou variações ao longo dos anos, atingindo o pico em 2020 (1,67) e, desde
então, declinando para 1,41 em 2022. Apesar das flutuações, a empresa manteve
um índice indicativo de uma capacidade razoável de pagamento de obrigações de
curto prazo. De forma concomitante, a D1000 teve uma notável melhoria em seu
índice de liquidez corrente de 2018 para 2020 (de 0,77 para 1,52), indicando
uma capacidade crescente de pagar obrigações de curto prazo. Contudo, houve uma
queda em 2021 (1,10) e um aumento novamente em 2022 (1,20), revelando alguma
volatilidade no desempenho da liquidez corrente.
A análise da
liquidez corrente oferece argumentos sobre a capacidade das empresas em lidar
com suas obrigações de curto prazo e gerenciar sua posição financeira. Cada
empresa apresenta uma dinâmica única em seu índice de liquidez corrente ao
longo dos anos. Verifica-se de forma geral, exceto para a empresa D1000 no anos
de 2018 e 2019, todas as empresas do estudo no período de 2018 a 2022,
apresentaram índices de liquidez corrente satisfatórios, pois em todos os
períodos com a exceção citada, o indicador manteve-se acima de 1. A empresa
Dimed destaca-se por manter índices consistentemente altos, indicando uma
posição robusta para lidar com obrigações de curto prazo.
4.3 Indicadores
de Rentabilidade
O índice de
retorno sobre ativo, auxílio na medição da eficiência global da empresa na
geração de lucros com a média dos seus investimentos totais, considerando as
variações nos saldos de ativo total (ASSAF NETO, 2015). De forma geral, o
retorno sobre o ativo demonstra o lucro auferido para cada real investido em
ativo. O Gráfico 3 apresenta os índices de retorno sobre o ativo para as
empresas Raia Drogasil, Pague Menos, Dimed e D1000 nos anos de 2018 a 2022.
Gráfico 3 - Retorno
sobre o Ativo
Fonte: Elaborado pelos autores (2024).
Este indicador
fornece embasamento sobre a eficiência das empresas em gerar lucro em relação
aos seus ativos totais, sendo essencial para compreender a performance
financeira e estratégica de cada uma (ASSAF NETO, 2015). Observa-se que o
retorno sobre o ativo da Raia Drogasil teve variações ao longo do período,
começando em 6,9 em 2018, atingindo o ponto mais baixo em 2020 (3,6) e se
recuperando para 5,9 em 2022. Estes dados indicam uma dinâmica na eficiência da
empresa em usar seus ativos para gerar lucro. A Pague Menos apresentou
rentabilidade positiva todos os anos, exceto em 2019 com variação negativa de
-0,1 devido a apresentação de um prejuízo líquido no exercício, indicando um
período desafiador, mas se recuperou atingindo a marca de 3,1 em 2022.
A pesquisa
realizada por Miranda (2021), que analisou a performance financeira das
empresas varejistas Raia Drogasil e Pague Menos durante a pandemia de Covid-19,
revelou que a Raia Drogasil teve um retorno sobre o ativo superior a 6% entre
2016 a 2019, atingindo o pico de rentabilidade operacional em 2016 com 7,97%.
Contudo, este índice sofreu uma queda considerável nos anos subsequentes,
atingindo a mínima histórica de 3,58% em 2020, o que indica um baixo retorno
sobre o ativo.
Por outro lado,
a empresa Pague Menos apresentou um desempenho inferior comparado à Raia
Drogasil, o que implica uma gestão menos eficiente da sua rentabilidade
operacional naquele período. Em 2016, a empresa registrou retorno sobre ativo
de 1,5%, que aumentou para 2,8% em 2017. No entanto, a partir de 2018, esse
índice começou a decair novamente, chegando a -0,14% em 2019, o menor valor no
período. Apesar deste fato, em 2020 a empresa mostrou sinais de recuperação,
com retorno sobre o ativo de 1,6%. No geral, os dados demonstram que ambas as
empresas presenciaram reduções nos seus índices de retorno durante a pandemia,
ocasionando decréscimos na geração de lucros a partir de seus ativos e,
consequentemente, prejudicando suas performances naquele ano (MIRANDA, 2021).
No estudo
atual, compreende-se que a Dimed manteve uma rentabilidade positiva ao longo
dos anos, começando em 7,5 em 2018 e mostrando uma tendência de queda suave até
2022 (3,1). Apesar da redução, a empresa conseguiu manter uma rentabilidade
positiva em todos os anos. A D1000 teve uma rentabilidade muito baixa em 2018
(0,2) e um período negativo em 2019 (-0,7), ano em que também apresentou
prejuízo no exercício. No entanto, apresentou uma melhoria significativa,
atingindo 0,8 em 2022, com um aumento satisfatório do resultado líquido do
exercício.
Considerado que
este índice, apresenta a capacidade de gerar lucros a partir do investimento em
ativos em cada período, compreende-se que a empresa Raia Drogasil apresentou os
melhores resultados para este indicador, visto que a empresa obteve uma rentabilidade
operacional acima de 6% nos anos de 2018 e 2019, e acima de 5% nos anos de 2021
e 2022. Seguido da empresa Raia Drogasil, a Dimed apresenta os segundos
melhores resultados, conseguindo gerar uma remuneração aos investimentos
realizados no negócio de aproximadamente 7% em 2018, 5% no período de 2019, e
percentuais acima de 3% nos anos de 2021 e 2022. É visto que no ano de 2020,
com o evento da Pandemia Covid-19, ambas as empresas apresentaram uma queda
neste indicador para este período, onde o resultado bruto das entidades foi
afetada devido a diminuição da atividade econômica marcada por eventos de lockdown
e diversas outras medidas restritivas ao comércio varejista.
Em linha com as
análises de rentabilidade, o índice de retorno sobre o patrimônio líquido
demonstra a capacidade da entidade em gerar valor a ela própria, utilizando os
seus próprios recursos, ou seja, para cada unidade do patrimônio líquido
(recursos próprios) investidos na empresa, calcula-se quanto de lucro é
auferido aos acionistas. O Gráfico 4 apresenta os índices de ROE para as
empresas Raia Drogasil, Pague Menos, Dimed e D1000 nos anos de 2018 a 2022.
Gráfico 4 - Retorno
sobre o Patrimônio Líquido
Fonte: Elaborado pelos autores (2024).
Essa análise
destaca diferentes padrões entre as empresas ao longo dos anos, com estes dados
é possível entender a eficiência das empresas em gerar lucro em relação ao seu
patrimônio líquido, sendo crucial para avaliar sua performance financeira e
estratégica. Através da mensuração do ROE, podemos observar a rentabilidade dos
acionistas, onde no ano de 2018, a empresa Dimed destacou-se com o índice de
16,16, apresentando o melhor resultado entre as empresas neste ano. Porém,
compreende-se que nos anos subsequentes, de 2019 a 2022, a empresa Raia
Drogasil liderou o ranking com vantagem, apresentando os melhores índices
comparativos.
Em relação aos
índices da Raia Drogasil, destaca-se o ano de 2019, uma vez que a companhia
apresentou rentabilidade de 19,35, para este ano a entidade apresentou um
crescimento no lucro líquido comparativo ao ano anterior, levando bom retorno
sobre o capital investido. No ano de 2020, a empresa apresentou a maior queda
do período, alcançando a marca de 11,20, onde a performance geral da empresa
foi afetada pelo evento da pandemia Covid-19 conforme tópico comentado na
análise de retorno sobre o ativo. Porém, nos anos de 2021 e 2022 a Raia manteve
seus altos índices apresentando 16,20 e 18,80 de ROE, respectivamente.
Nos anos de
2019 e 2020, a Dimed foi a segunda empresa que apresentou os melhores
resultados neste indicador, sendo 14,64 em 2019, e 5,56 em 2020. Já nos anos de
2021 e 2022, a empresa Pague Menos apresentou índices superiores ao da Dimed,
com 7,87 (2021) e 11,26 (2022). A empresa D1000 apresentou os piores
indicadores no período estudado, começando com uma rentabilidade sobre o
patrimônio líquido baixa em 2018 (0,55) e passando por um período negativo em
2019 (-1,60). No entanto, a empresa mostrou uma melhoria progressiva nos anos
seguintes, atingindo 1,34 em 2022.
De acordo com o
estudo de Miranda (2021), a Raia Drogasil exibiu uma performance notável em
termos de rentabilidade para os acionistas, alcançando 19,35% em 2017. Este foi
um indicativo de um bom retorno sobre o investimento realizado. Por outro lado,
a Pague Menos teve uma rentabilidade menor, com seu pico em 2018 com 9,02%, mas
registrou o menor índice em 2019, com -0,68%, em função dos prejuízos que
sofreu. Considerando o retorno sobre o patrimônio líquido no período de 2016 a
2020, o melhor desempenho da Raia Drogasil foi em 2019, enquanto para a Pague
Menos, o destaque foi em 2020, com a reversão dos prejuízos do ano anterior. Em
suma, a Raia Drogasil teve um desempenho superior em relação à Pague Menos
durante este período, em grande parte devido à sua maior presença de mercado,
com mais lojas no varejo, mais alta receita bruta e maior valor de mercado em
2020. Os dados deste estudo encontram-se em linha com os resultados da pesquisa
atual.
4.4 Indicadores
de Lucratividade
A margem bruta
é um indicador crucial que reflete a eficiência na gestão de custos e na
geração de lucro a partir das vendas líquidas. Conforme resultados no Gráfico
5:
Gráfico 5 - Margem Bruta
Fonte: Elaborado pelos autores (2024).
Em pesquisas
anteriores, Silva, Dias e Lima (2015) fizeram uma comparação da margem bruta
das empresas Pague Menos e Raia Drogasil nos anos de 2010 e 2011. A análise
revelou que ambas as empresas tiveram margens similares, em torno de 23% a 26%.
Em um estudo subsequente, Serafim et al. (2016) avaliou a margem bruta
da empresa Raia Drogasil nos anos de 2014 e 2015. Foi constatado que a empresa
apresentou um crescimento de uma margem bruta de 2014 para 2015. Em 2015, a
empresa tinha um ganho bruto de R$ 0,31 por cada real vendido no período
analisado. As pesquisas destacaram evidenciaram a capacidade de manter uma
parcela significativa das vendas após cobrir custos diretos. Ainda, destaca-se
que os resultados são similares com os obtidos no atual estudo.
A análise da
margem bruta destaca perspectiva sobre a eficiência operacional das empresas,
com todas demonstrando capacidade de gerar lucro bruto em relação às vendas
líquidas. De forma geral, quanto aos índices de lucratividade, as empresas em
questão apresentaram margem bruta semelhante em todos os períodos, com pequenas
oscilações positivas e negativas, indicando uma gestão eficiente dos custos de
vendas e consistência na geração de lucro bruto em relação às vendas líquidas.
A empresa que apresentou a maior média de margem entre os períodos foi a Pague
Menos, com uma média de margem de 31,97% no período de 5 anos, seguida da
empresa D1000 que apresentou em média 31,41% de margem no mesmo período. A
margem bruta das empresas Raia Drogasil e Dimed também permaneceu estável,
apresentando 30% em 2018 e índices acima de 29% em todos os períodos de 2019 a
2022, apresentando eficiência de custos e na rentabilidade de vendas.
No contexto dos
indicadores de lucratividade, a margem líquida é um indicador fundamental que
reflete a eficiência na geração de lucro líquido em relação às vendas líquidas.
Em pesquisas prévias, Silva, Dias e Lima (2015) analisaram a margem líquida das
empresas Pague Menos e Raia Drogasil em 2010 e 2011, revelando margens
semelhantes por ambas as companhias, sendo a empresa Pague Menos com 3,37%
(2010), e 3,92% (2011), e a Raia com 4,43% (2010), e 2,32% (2011). Macedo
(2021) estudou os indicadores econômico-financeiros das empresas do setor de
saúde listadas na bolsa de valores antes e durante a pandemia de Covid-19. Ao
avaliar os índices de margem líquida, Biomm e Hypera se sobressaíram. A Biomm
registrou um resultado negativo, consequência de altas despesas operacionais
nos anos analisados. Por outro lado, Hypera apresentou uma alta margem líquida,
impulsionada por um bom lucro e receita operacional líquida com baixos valores
de despesas. A maioria das demais empresas do segmento tiveram resultados positivos,
com exceções da D1000 Farma, com uma margem de -0,66% em 2019, Pague Menos com
-0,11% em 2019, e Profarma com -0,23% em 2018, todas derivadas de prejuízos
registrados na DRE.
Para o presente
estudo, o Gráfico 6 apresenta os índices para as empresas Raia Drogasil, Pague
Menos, Dimed e D1000 nos anos de 2018 a 2022.
Gráfico 6 - Margem
Líquida
Fonte: Elaborado pelos autores (2024).
A Raia Drogasil
apresentou os melhores resultados neste indicador, mantendo-se próximo da
remuneração ideal do varejo de 4% sobre o total das vendas. A companhia em
questão demonstrou a melhor margem no ano de 2019 com 4,49%, mas manteve
constantemente sua margem acima de 3% nos anos de 2018, 2021 e 2022,
apresentando pequena queda em 2020, devido ao impacto da Pandemia Covid-19.
Isto indica consistência na capacidade de transformar vendas líquidas em lucro
líquido, embora com algumas pequenas variações entre os períodos. A Pague Menos
apresentou uma recuperação notável após um percentual negativo em 2019 (-0,11%)
devido ao prejuízo apresentado no exercício, posteriormente atingiu 2,87% em
2022, destacando uma melhoria ao longo do período. A margem líquida da Dimed
teve oscilações, variando de 3,44% em
2018 para 1,99% em 2020. A empresa manteve índices positivos, indicando
eficiência na geração de lucro líquido em relação às vendas líquidas, apesar
das pequenas flutuações. A D1000 registrou variações mais relevantes, iniciando
em 0,23% em 2018, passando por um ponto negativo em 2019 (-0,66%) e alcançando
0,77% em 2022, evidenciando uma capacidade de recuperação após desafios
iniciais.
Com a análise
da margem líquida comentada acima destaca-se que as empresas Raia Drogasil e
Dimed mostraram uma capacidade mais estável de gerar lucro líquido em relação
às vendas líquidas, enquanto Pague Menos teve uma recuperação significativa ao
longo do período. A empresa D1000 apresentou as menores margens para este
indicador, mas teve uma evolução considerável, apontando uma melhoria na
rentabilidade líquida ao longo dos anos.
Em linha com os
dados analisados, o estudo de Correia (2022) focou na performance do setor
farmacêutico durante a pandemia, comparando a margem líquida da Raia Drogasil e
Pague Menos. Constatou-se que no ano de 2019, a Raia Drogasil registrou uma
margem líquida de 4%, que caiu para 2% em 2020 e 3% em 2021, indicando margens
baixas, as quais geraram apenas R$0,03 centavos de lucro para cada real
vendido. No mesmo período, Pague Menos apresentou uma margem líquida negativa
(-0,1% em 2019), com uma leve melhora nos anos seguintes, encerrando 2021 com
2%, ou seja, R$0,02 centavos de lucro para cada real em vendas. A queda
acentuada nas vendas pode ser atribuída à pandemia e às restrições de
isolamento, embora tenha ocorrido uma recuperação após a adaptação à nova
realidade e decisões voltadas para o aumento de vendas. Em suma, ambos os
estudos destacam a variabilidade e os desafios na margem líquida das empresas
durante os períodos analisados, principalmente devido ao impacto da pandemia
Covid-19, corroborando os resultados identificados.
4.5 Resumo de
performance por empresa e impacto de fatores determinantes
Como forma de
complementar a avaliação das empresas via as informações adquiridas com os
indicadores, inclui a Tabela 3 com o valor de mercado das empresas entre os
anos 2020 e 2023. O valor de mercado constitui um indicador fundamental para a
tomada de decisões de investimento e para a avaliação de empresas. Também
denominado capitalização de mercado, esse conceito desempenha um papel
essencial na mensuração do valor dos ativos e das ações empresariais, podendo
influenciar diversas decisões no âmbito financeiro.
Tabela 3 – Valor de
Mercado das empresas (bilhões R$)
|
Empresa |
Ano |
Preço da Ação |
Ação em Circulação |
Valor de Mercado |
|
2020 |
24,08 |
1.715,4 |
41,301 |
|
|
2021 |
23,37 |
1.713,0 |
40,026 |
|
|
2022 |
22,81 |
1.713,7 |
39,085 |
|
|
2023 |
29,40 |
1.714,4 |
50,403 |
|
|
Pague Menos |
2020 |
9,02 |
443,8 |
4,003 |
|
2021 |
9,35 |
443,8 |
4,149 |
|
|
2022 |
4,38 |
441,4 |
1,933 |
|
|
2023 |
3,96 |
540,4 |
2,14 |
|
|
Dimed |
2020 |
21,80 |
150,4 |
3,279 |
|
2021 |
13,32 |
149,8 |
1,995 |
|
|
2022 |
10,14 |
148,6 |
1,507 |
|
|
2023 |
13,36 |
148,9 |
1,989 |
|
|
D1000 Varejo
Farma |
2020 |
12,78 |
50,6 |
646,7 M |
|
2021 |
4,21 |
50,6 |
213 M |
|
|
2022 |
4,09 |
50,6 |
207 M |
|
|
2023 |
5,93 |
50,6 |
300,1 M |
Fonte: Investing Brasil (2024).
Para compilar
as análises descritas na sessão acima, e com o objetivo de auxiliar usuários da
informação na tomada de decisão, resume-se na Tabela 4 os resultados de melhor
performance por empresa em cada indicador avaliado no estudo.
Tabela 4 - Resultados
de Performance por indicador
|
Índice |
Indicador |
Melhor resultado |
|
Endividamento |
Composição do
endividamento (CE) |
Pague Menos |
|
Liquidez |
Liquidez
corrente (LC) |
Dimed |
|
Rentabilidade |
Retorno sobre
ativo (ROA) |
Raia Drogasil |
|
Rentabilidade |
Retorno sobre
o patrimônio líquido (ROE) |
Raia Drogasil |
|
Lucratividade |
Margem Bruta
(MB) |
Pague Menos |
|
Lucratividade |
Margem
Líquida (ML) |
Raia Drogasil |
Fonte: Resultados originais da pesquisa (2024).
A empresa Raia
Drogasil se sobressaiu nos indicadores de rentabilidade, particularmente
referente ao retorno sobre o ativo e o patrimônio líquido, além da
lucratividade de margem líquida. Posteriormente, vem a empresa Pague Menos, que
mostrou desempenho superior nos indicadores de endividamento e margem bruta.
Por último, a empresa Dimed se destacou nos resultados de liquidez corrente.
A seguir,
consolidou-se o desempenho individual de cada empresa com a relação de todos os
indicadores estudados, conforme ordem, Raia Drogasil na Tabela 5, Pague Menos
na Tabela 6, Dimed na Tabela 7, e D1000 na Tabela 8:
Tabela 5 - Raia
Drogasil
|
Indicador |
2018 |
2019 |
2020 |
2021 |
2022 |
|
CE |
76,32% |
49,91% |
51,06% |
58,63% |
54,04% |
|
LC |
1,55 |
1,41 |
1,46 |
1,31 |
1,50 |
|
ROA |
6,93 |
6,44 |
3,58 |
5,17 |
5,91 |
|
ROE |
14,41 |
19,35 |
11,20 |
16,19 |
18,79 |
|
Margem Bruta |
30,03% |
29,59% |
29,36% |
29,87% |
30,31% |
|
Margem
Líquida |
3,44% |
4,49% |
2,47% |
3,17% |
3,49% |
Fonte: Elaborado pelos autores (2024).
Com relação a Raia Drogasil,
apesar de manter um nível elevado de endividamento até 2018, a empresa
apresentou bons indicadores de rentabilidade e lucratividade, com destaque para
ROA (5,91% em 2022), ROE (18,79% em 2022) e margem líquida (3,49% em 2022).
Essa combinação de fatores manteve seu valor de mercado elevado, passando de R$
39,08 bilhões em 2022 para R$ 50,40 bilhões em 2023, indicando confiança do
mercado na sua capacidade de gerar valor aos acionistas.
Tabela 6 - Pague Menos
|
Indicador |
2018 |
2019 |
2020 |
2021 |
2022 |
|
CE |
78,48% |
44,77% |
49,55% |
48,88% |
46,94% |
|
LC |
1,19 |
1,30 |
1,67 |
1,60 |
1,41 |
|
ROA |
2,75 |
-0,14 |
1,67 |
2,50 |
3,07 |
|
ROE |
9,02 |
-0,68 |
4,95 |
7,87 |
11,25 |
|
Margem Bruta |
33,27% |
31,42% |
30,92% |
32,15% |
32,11% |
|
Margem
Líquida |
1,49% |
-0,11% |
1,40% |
2,18% |
2,87% |
Fonte: Elaborado pelos autores (2024).
No caso da
Pague Menos, vemos que a companhia obteve a melhor composição de endividamento,
indicando menor dependência de capital de terceiros. No entanto, sua margem
líquida foi negativa em 2019 (-0,11%), refletindo prejuízos. Seu valor de
mercado caiu drasticamente de R$ 4,14 bilhões em 2021 para R$ 1,93 bilhões em
2022, evidenciando a desconfiança dos investidores nesse período.
Tabela 7 - Dimed
|
Indicador |
2018 |
2019 |
2020 |
2021 |
2022 |
|
CE |
87,65% |
53,55% |
57,25% |
61,05% |
62,05% |
|
LC |
1,55 |
1,70 |
2,03 |
1,71 |
1,55 |
|
ROA |
7,50 |
5,26 |
2,56 |
3,34 |
3,16 |
|
ROE |
16,16 |
14,64 |
5,56 |
7,59 |
7,79 |
|
Margem Bruta |
29,44% |
29,69% |
29,22% |
30,65% |
31,14% |
|
Margem
Líquida |
3,08% |
2,82% |
1,99% |
2,46% |
2,16% |
Fonte: Elaborado pelos autores (2024).
Já a Dimed
apresentou a melhor liquidez corrente (1,55 em 2022), indicando boa capacidade
de pagamento das obrigações de curto prazo. No entanto, seu retorno sobre
patrimônio líquido caiu de 16,16% em 2018 para 7,79% em 2022, o que pode ter
afetado sua atratividade para investidores. Seu valor de mercado caiu de R$
3,27 bilhões em 2020 para R$ 1,50 bilhões em 2022.
Tabela 8 - D1000
|
Indicador |
2018 |
2019 |
2020 |
2021 |
2022 |
|
CE |
64,95% |
53,09% |
51,34% |
56,49% |
55,16% |
|
LC |
0,77 |
0,74 |
1,52 |
1,10 |
1,20 |
|
ROA |
0,26 |
-0,68 |
0,01 |
0,13 |
0,77 |
|
ROE |
0,55 |
-1,61 |
0,01 |
0,24 |
1,34 |
|
Margem Bruta |
29,92% |
30,20% |
32,35% |
32,50% |
32,06% |
|
Margem
Líquida |
0,23% |
-0,66% |
0,01% |
0,17% |
0,77% |
Fonte: Elaborado pelos autores (2024).
Por fim, a
D1000 foi a empresa com os piores indicadores de rentabilidade e margem
líquida, chegando a valores negativos em 2019. Seu valor de mercado caiu de R$
646,7 milhões em 2020 para R$ 207 milhões em 2022, refletindo a baixa geração
de lucro.
Além dos
impactos causados pela pandemia da Covid-19, é possível identificar outros
fatores que contribuíram para as oscilações nos indicadores financeiros das
empresas analisadas no período de 2018 a 2022. Esses fatores incluem mudanças
regulatórias, estratégias corporativas e transformações no comportamento do
consumidor, cada um desempenhando um papel significativo na evolução dos
índices contábeis e financeiros das organizações.
Anteriormente, contratos de aluguel eram, em sua maioria,
classificados como despesas operacionais, o que não impactava diretamente os
indicadores de endividamento. Com a adoção da IFRS 16, os passivos de
arrendamento passaram a ser incorporados ao balanço, resultando em um aumento
expressivo do endividamento de longo prazo e, simultaneamente, na redução do
endividamento de curto prazo. Esse fenômeno explica, em grande parte, a
diminuição do índice de composição do endividamento observada no ano de 2019
para todas as empresas analisadas.
Outro fator
relevante que influenciou os resultados das empresas foi a adoção de
estratégias agressivas de expansão, tanto física quanto digital. Empresas como
Raia Drogasil e Pague Menos buscaram ampliar sua presença no mercado por meio
da abertura de novas unidades e do fortalecimento de seus canais digitais. Essa
estratégia, embora essencial para o crescimento da participação de mercado,
implicou um aumento nos investimentos em infraestrutura, marketing e capital
humano, afetando diretamente os custos operacionais e, consequentemente, as
margens de lucro no curto prazo.
A expansão do
número de lojas impacta a estrutura de endividamento, uma vez que exige
investimentos elevados, seja por meio de recursos próprios, seja por meio de
financiamentos. No caso das empresas analisadas, observou-se um aumento da
necessidade de capital para sustentar essa estratégia, o que influenciou
indicadores como o retorno sobre o ativo (ROA) e o retorno sobre o patrimônio
líquido (ROE).
Além disso, a
rápida expansão pode resultar em desafios operacionais, como a necessidade de
adaptação da logística e da cadeia de suprimentos para atender a um número
crescente de pontos de venda. Caso essa adaptação não ocorra de maneira
eficiente, pode haver pressões sobre os custos e dificuldades na manutenção da
lucratividade.
O avanço do
comércio eletrônico nos últimos anos foi outro fator determinante para as
oscilações nos indicadores financeiros do setor. Empresas que investiram mais
fortemente na digitalização de suas operações, como a Raia Drogasil,
conseguiram manter uma melhor rentabilidade e maior estabilidade no mercado,
mesmo diante dos desafios impostos pela pandemia e pelas transformações no
comportamento do consumidor.
A transição
para o e-commerce exigiu investimentos substanciais em tecnologia, logística e
atendimento ao cliente. Empresas que conseguiram estruturar plataformas
digitais eficientes e integrar canais de venda físicos e online apresentaram
vantagens competitivas, refletindo-se em melhores indicadores financeiros. Além
disso, a maior diversificação dos canais de venda contribuiu para a resiliência
das receitas em momentos de crise, minimizando os impactos da redução do fluxo
de clientes nas lojas físicas.
Contudo, o
crescimento do e-commerce também trouxe desafios, como o aumento da
concorrência no setor e a necessidade de estratégias de precificação mais
agressivas, o que pode ter pressionado as margens de lucro em alguns períodos.
Empresas que não conseguiram se adaptar rapidamente a essa nova realidade podem
ter enfrentado dificuldades em sustentar níveis elevados de rentabilidade.
Diante do
exposto, verifica-se que as oscilações nos indicadores financeiros das empresas
analisadas foram influenciadas por uma combinação de fatores estruturais,
estratégicos e conjunturais. A adoção da IFRS 16 alterou a estrutura de
endividamento e os cálculos contábeis, impactando a percepção da alavancagem
financeira das companhias. As estratégias de expansão, embora essenciais para o
crescimento, aumentaram a necessidade de capital e pressionaram a rentabilidade
no curto prazo. Por fim, a digitalização e a expansão do e-commerce
representaram um diferencial competitivo, mas também trouxeram desafios
operacionais e financeiros.
No contexto do
mercado de capitais, os investidores tendem a valorizar empresas que demonstram
maior capacidade de adaptação às mudanças do ambiente econômico e tecnológico,
mantendo níveis adequados de rentabilidade e liquidez. Dessa forma, a relação
entre os indicadores financeiros e o valor de mercado reflete não apenas o
desempenho operacional das empresas, mas também a confiança do mercado na
sustentabilidade de suas estratégias de longo prazo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para o presente estudo, o
objetivo geral de analisar as demonstrações contábeis das Companhias por meio
de indicadores financeiros, e os objetivos específicos de i) mensurar o
desempenho das empresas analisadas, ii) identificar os fatores que influenciaram
nestes índices e iii) realizar a comparação organizacional entre as entidades,
foram devidamente cumpridos, através da análise documental das demonstrações
contábeis efetuada para esta pesquisa descritiva. O estudo apresentou “insights” valiosos sobre o desempenho das principais
empresas listadas na bolsa de valores no setor farmacêutico varejista
brasileiro.
A investigação destes dados no
período de 2018 a 2022, sugere que, em geral, as companhias obtiveram
resultados satisfatórios relativos aos seus indicadores relacionados ao
endividamento, liquidez, rentabilidade e lucratividade. Particularmente, a
empresa Raia Drogasil se destacou como a empresa mais recomendada para
investimento, devido ao excelente desempenho de seus indicadores. Já a empresa
Pague Menos e a Dimed apareceram na sequência deste ranking. Contrariamente, a
empresa D1000 mostrou resultados menos encorajadores para investimentos. Os
resultados apresentados nesta pesquisa configuram um recurso importante para
tomada de decisão de investidores, os quais que poderão compreender melhor o
comportamento do setor farmacêutico nacional.
Entretanto, observa-se que o
estudo possui limitações inerentes, decorrentes da seleção das empresas
participantes. O fato de todas as entidades serem de capital aberto não implica
em uniformidade quanto ao tamanho, setor, estrutura de capital e localização
geográfica. Ainda que no estudo buscou-se selecionar empresas comparáveis,
distorções podem surgir na interpretação dos resultados. Para futuras
pesquisas, sugere-se um estudo comparativo focado no gerenciamento de
resultados das empresas deste setor, com o objetivo de analisar as diferentes
estratégias utilizadas para gestão dos resultados e avaliar os impactos
pertinentes.
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