v.
9, n. 1, Janeiro-Abril/2025 This work is licensed
under a Creative
Commons
Attribution
4.0 International License
Uberização e controle algoritmo: uma
revisão sistemática da literatura
Jéssica Moliterno Genú
jessi.genu22@hotmail.com
http://lattes.cnpq.br/7883718762724839
https://orcid.org/0000-0001-6207-5815
Universidade Federal de
Pernambuco
Recife/PE
Leandro de Sousa
Floriano
leandroflosf@gmail.com
http://lattes.cnpq.br/7630829275998096
https://orcid.org/0009-0000-2334-8681
Universidade Federal Rural de Pernambuco
Recife/PE
RESUMO
Este
artigo realizou uma revisão sistemática da literatura acerca da uberização e
das suas formas de controle algoritmo. Para isso foram consideradas publicações
realizadas a partir de 2018 que versam sobre a temática e seus termos
equivalentes, buscando responder o seguinte questionamento: Como são retratadas
as formas de controle utilizadas por plataformas digitais em um cenário de
uberização do trabalho? A seleção inicial considerou 293 estudos em um universo
de 362 encontrados em bancos de dados reconhecidos disponibilizados pelas bases
do Web of Science, Spell, Scopus e
Scielo. Um resultado relevante refere-se à incipiência do tema em pesquisas
empíricas direcionadas a contextos periféricos, se caminha a passos lentos em
direção a maior adequação à realidade dessas regiões. Conclui-se também a
polissemia conceitual inerente a plataformização do trabalho e das suas
diversas modalidades que apresentam influência no contexto relacional e nas
percepções acerca das reações comportamentais dos trabalhadores.
PALAVRAS-CHAVE:
Uberização;
Controle Algoritmo; Economia Gig.
Uberization and algorithm control: a systematic literature review
ABSTRACT
This article conducted a systematic review of
the literature on uberization and its forms of algorithmic control. For this
purpose, publications published since 2018 that address the topic and its
equivalent terms were considered, seeking to answer the following question: How
are the forms of control used by digital platforms portrayed in a scenario of
uberization of work? The initial selection considered 293 studies out of a
universe of 362 found in recognized databases made available by the Web of Science,
Spell, Scopus and Scielo databases. A relevant result refers to the incipience
of the topic in empirical research directed at peripheral contexts, if it moves
slowly towards greater adaptation to the reality of these regions. It is also
concluded that the conceptual polysemy inherent to the platformization of work
and its various modalities influence the relational context and perceptions
about the behavioral reactions of workers.
KEYWORDS: Uberization; Algorithm Control; Gig
Economy.
Submetido: 27/06/2024
Recomendações requeridas: 17/12/2024
Aceito: 01/02/2025
Publicado: 30/04/2025
1 INTRODUÇÃO
A uberização é uma temática recente no campo das
ciências sociais que demanda maior atenção e contribuições para aprimoramento,
pois abrange questões inéditas no contexto da gestão. Esse fenômeno tem gerado
impactos significativos nas formas de controle do trabalho, exigindo análises
mais profundas. Nesse sentido, estudos fundamentados em revisões sistemáticas
tornam-se essenciais para compreender suas implicações e propor soluções que
atendam aos desafios apresentados (SHANAHAN; STEWART; SMITH, 2020; MCDONALDS;
WILLIAMS; MAYES, 2021).
Ratificando a importância da elaboração de revisões sistemáticas, Silva
Junior, Fagundes e Figueiredo (2021) afirmam que há a geração de um alto valor
acadêmico por requerer uma série de etapas e rigores metodológicos que revisões
literárias convencionais não possuem. Compreendendo tal importância, esse
estudo busca realizar um levantamento a partir das principais pesquisas
disponibilizadas nas bases de dados Web of Cience, Scopus, Scielo e Spell.org sobre a temática da
uberização. Para isso foi realizada uma
revisão sistemática da literatura embasada nas orientações de Jesson, Matheson
e Lacey (2011) entendendo a importância do rigor científico metodológico
para o fomento de pesquisas desse tipo, a fim de permitir uma análise mais
fidedigna do direcionamento tomado pelas comunidades acadêmicas no
desenvolvimento das pesquisas e no tratamento do fenômeno da uberização e do
seu hiato de controle dos indivíduos.
A temática da uberização foi selecionada pela compreensão do atual
contexto do capitalismo de vigilância, conforme a psicóloga social, Shoshana
Zuboff (2019) esclarece em sua obra “A Era do Capitalismo de Vigilância”. Esse
capitalismo tem como base o paradigma tecnológico, sendo identificado como uma
nova lógica econômica, a autora elucida que os dados ocupam um papel
fundamental no estabelecimento da experiência humana como matéria-prima, pois
por meio deles, foi possível a vigilância de comportamentos e a emergência de
um novo poder “instrumentário”. Esse poder permite a naturalização do uso
desses dados e da vigilância contínua pautada em uma lógica de acumulação, cuja
orientação econômica é o mestre, enquanto a tecnologia é a marionete.
Parece evidente que a partir dessa naturalização, os modos de trabalho
também sofreram modificações. Entre essas modificações permeadas por aparatos
tecnológicos, surge o que se conhece por uberização do trabalho (NUNES, 2021;
CRUZ, PENTEADO; ELIAS, 2022) ou “economia gig” (WOOD et al., 2019; HUANG,
2022).
A uberização, cujo termo descende da empresa Uber, indica uma nova forma
de trabalho intermediado por plataformas digitais que exime a empresa de
encargos trabalhistas por meio do discurso de flexibilização (FIGUEIREDO, 2019;
GROHMANN, 2019). Apesar de o termo fazer alusão à empresa que foi pioneira na
prestação de serviços deste tipo, é importante salientar que engloba um
fenômeno global de novo formato de trabalho e desnudo de direitos trabalhistas.
Deste modo, há o aumento em pesquisas sobre a temática considerando o
seu impacto econômico e social. Considerando as
múltiplas vertentes pelas quais o controle no contexto da uberização e suas
consequências no âmbito do trabalho podem ser analisadas, esta pesquisa propõe
um processo crítico-reflexivo. O objetivo é compreender os impactos desse
fenômeno, especialmente diante de uma nova dinâmica laboral que se apresenta
sob o discurso de flexibilidade. A questão primária norteadora foi: Como são
retratadas as formas de controle utilizadas por plataformas digitais em um
cenário de uberização do trabalho? Para isso, o artigo está estruturado nas
seguintes seções: Revisão da Literatura, Metodologia de Pesquisa, Resultados e
Conclusões, sendo finalizado com as referências utilizadas.
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Metamorfoses do
trabalho
“O mundo dos seus pais e avós era de certa forma
protegido dos rigores da competição”, foi assim que Sennett (2015, p. 45)
apresentou as mudanças estruturais do trabalho ao longo do tempo que foi
perdendo o sentido de estabilidade que garantia uma carreira fidelizada de
longo prazo, por um “labirinto de empregos fragmentados”. O sociólogo Richard
Sennett conduz a discussão sobre trabalho e sua dinâmica com as dimensões do
capitalismo flexível configurado pela desconstrução das rotinas e da burocracia
em prol da flexibilidade que, para ele, contribui
para a corrosão do caráter do ser humano.
Dentre as lógicas predominantes, Marx (2014)
elucida uma trajetória que vai desde uma configuração simples de trabalho,
caracterizada pelo agrupamento de trabalhadores qualificados em um mesmo local,
até uma maquinofatura. Esta última envolve a automação por meio de um
maquinário integrado ao trabalhador qualificado, que realiza intervenções
pontuais, independentemente do ritmo valorizado pela manufatura, onde o
processo de trabalho era definido pelo parcelamento de tarefas complexas em
etapas simples. No taylorismo e no fordismo,
observa-se uma derivação da lógica da manufatura, marcada pelo parcelamento das
atividades com o objetivo de aumentar a produtividade. No entanto, essa
abordagem apresenta limitações no uso da automação, dependendo do tipo de indústria
ou modelo de produção. Essa lógica foi significativamente transformada com a
introdução das vertentes da Indústria 4.0, conforme
Quadro 1.
Quadro 1 –
Características do trabalho
|
Corrente Teórica |
Taylorismo |
Comportamental |
Escola Japonesa |
Indústria 4.0 |
|
Características |
Hierarquia
rígida Verticalização Controle
explícito |
Hierarquia Verticalização Controle
explícito Consideração
nas relações sociais |
Hierarquia Horizontalização Controle
explícito |
Menos
hierarquia Estrutura
em redes Controle
sutil |
Fonte: Elaboração própria, 2024.
Considerando o trabalho como um componente de
construção social na visão do Sennett (2009), há um reflexo do desaparecimento
das relações de longo prazo no trabalho que estaria se reproduzindo na vida
social, dificultando o estabelecimento de relações permanentes com os amigos e
a comunidade. Assim, há uma apologia à flexibilidade, sendo vendida no meio
corporativo como algo positivo, associada à ideia de liberdade, e por outro
lado, exigindo cada vez mais dos trabalhadores qualificação, tempo ilimitado e
permanente desenvolvimento de competências inatingíveis. Na verdade, a despeito
dessa visão de uma vida estimulante, novos controles que fazem uso da sutileza
encontram terreno fértil para desenvolver sua potência na condução de
comportamentos garantindo uma falsa liberdade.
O trabalho permanece, mas
o emprego diminui por meio da flexibilização e da aniquilação dos direitos
conquistados pelos trabalhadores (FONTES,
2017). Começa-se a enxergar consequências preocupantes, evidentemente atreladas
a um novo discurso pautado na flexibilidade e empreendedorismo. A
flexibilização é exemplificada por Kon (2020) como tendência casada com a
imprevisibilidade das profissões, evolução da tecnologia, reformulação do
trabalho e da legislação trabalhista, que irão interferir diretamente nas formas
de exercer as atividades laborais por meio do estabelecimento de redes de
trabalho, contratos de curto prazo e por demanda determinada e qualificação
diferenciada e contínua.
Antunes (2018) quando apresenta uma
nova morfologia do trabalho talvez aponte que uma das mudanças mais importantes
gira em torno da inclusão dos novos proletários de serviços,
que estão localizados em uma classe “que vive do trabalho”. Assim o “trabalhar
para viver e o viver para trabalhar” se sobrepõem em uma dinâmica altamente
sutil com novas ideias e formatos de exploração baseado na dicotomia presente
entre os laços de homogeneização e de heterogeneidade; de competição e
colaboração; de flexibilidade e disponibilidade, possibilitada pelos adventos
da uberização do trabalho.
2.2 Implicações da uberização
Para haver a uberização do trabalho o
que se conhece por Inteligência Artificial (IA) desponta com naturalidade no
âmbito do trabalho munida de um discurso criativo em prol da lucratividade e
flexibilidade (DYER-WHITEFORD,
2021). Um exemplo dos impactos da IA no contexto de trabalho é transmitido por
trabalhadores da Amazon, indicando a
precarização do processo, a inserção de novos vocabulários no campo de atuação
profissional, a falta de apoio às demandas
profissionais, como também a nova forma de remuneração, que segundo a autora,
tinha como base a aceitação de propostas, desconsiderando as negativas para
fins de retribuição financeira (RIBEIRO, 2022).
A vista aqui é que o protagonista ainda
é o trabalho humano, pois, é o responsável pela
tecnologia inerente a IA, que faz uso da tecnologia para a manutenção das suas
ações. Fonseca (2020) reflexiona sobre a criticidade dos usuários no manuseio
da tecnologia, sendo necessária a compreensão sobre os impactos da indústria
4.0 sobre as novas formas de controle e na uberização.
Esse controle se decompõe por meio de
métricas de produtividade que em tempo real coadunam para que os funcionários
estejam disponíveis por mais horas, conforme salientado por Mcdonalds, Williams
e Mayes (2021) ao avaliar os meios de controle em plataforma digitais na
Austrália por meio da teoria do processo de trabalho foram identificados tipos
de controle vinculados à transferência de risco e custos, além das disposições
contratuais e acompanhamento de desempenho de qualidade. Muito além do jardim
de perspectivas do controle tecnológico em empresas que operam de modo
tradicional, se tem os controles exercidos pelas plataformas digitais embasados
na agilidade e na ideia de autonomia e flexibilidade para o trabalhador (Franco
& Ferraz, 2019).
A proposta dos novos moldes de controle
torna-se então promissora aos olhos da uberização por permitir maior
abrangência e intensidade de modo fluido. Sendo assim, os controles que tem
como base a tecnologia devem apresentar sua aplicabilidade embasada nos
quesitos de agilidade e leveza, para que o trabalhador assuma posturas próprias
de autocontrole. O autocontrole, tão incentivado nas organizações, possui
singularidades por se tratar de uma forma mais efetiva e simultaneamente sutil de manipulação e moldagem individual do ser por meio da
invasão das esferas pessoais e privadas, que transpassam os limites de espaço e
tempo (FRANCO; FERRAZ, 2019; FILHO; 2021).
O controle por
algoritmos surge como uma ferramenta poderosa de exploração do trabalhador,
permitindo maior velocidade nos processos e eliminando a necessidade de
controle por confinamento físico. Esse modelo, fundamentado na gestão
algorítmica, reflete a crescente centralidade dos algoritmos na sociedade
contemporânea (VALENTINE, 2020). Segundo Valentine (2020), a automação se torna
viável ao direcionar trabalhadores em diferentes graus, o que reforça a
modelagem comportamental e intensifica a precarização do trabalho. Essa
precarização é evidenciada pelo aumento do exército de reserva de mão de obra e
pela disseminação de um discurso enganoso de empreendedorismo.
É com essa ideia de privilégio que as plataformas
digitais utilizam o ideal do empreendedorismo associado à flexibilidade,
transferindo aos trabalhadores a responsabilidade por seus próprios custos e
despesas inerentes às atividades laborais. Isso garante uma nova forma de
assalariamento disfarçado, sustentada pela desregulamentação das garantias ao
trabalhador, eliminando preocupações com direitos trabalhistas e promovendo o
que Bourdieu (1998) denomina como “flexploração”, que, vinculada à precariedade
do trabalho, favorece a exclusão social por meio de ideias de autonomia que
fragmentam as camadas profissionais de maneira competitiva e desigual.
3 METODOLOGIA DE PESQUISA
Obedecendo aos nortes de pesquisa de revisão
sistemática foram estabelecidos critérios de análise para identificação de
estudos potenciais. Buscando atingir este fim o processo foi segmentado em 3
etapas principais: a primeira integrou a identificação das necessidades da
revisão, bem como a análise dos critérios de apoio na seleção dos materiais; a
segunda etapa compreendeu os critérios de qualidade considerados para extração
dos dados para posterior classificação da relevância das pesquisas; por fim na
terceira etapa realizou-se a síntese dos resultados e o tratamento dos dados.
As etapas metodológicas da pesquisa compreenderam:
definição das bases de dados, mapeamento das pesquisas, pesquisa abrangente com
base na string (definição dos
critérios de inclusão e exclusão), definição dos critérios de qualidade,
extração e análise dos dados, síntese e análise de resultados. Os critérios de
qualidade foram definidos a posteriori
da pesquisa abrangente.
O desenho do estudo apresenta uma análise dos principais trabalhos que
versam sobre a uberização utilizando bases reconhecidas e fazendo uso da
ferramenta State of the Art through
Systematic Review (Start 2.3.4) para o tratamento auxiliador. O horizonte
temporal estabelecido foi de seis anos de publicações de artigos
teórico-empíricos, ou seja, a partir 2018, considerando os seguintes
pressupostos: a) as transformações tecnológicas ocorridas a nível global como
geradora de reflexos no fenômeno e na percepção literária acerca da nova
dinâmica do trabalho; b) o fenômeno investigado ainda é recente carecendo de
mais pesquisas com diferentes olhares; c) a polissemia conceitual acerca da
uberização.
Foi desenvolvido um protocolo de pesquisa
detalhando os procedimentos efetuados em cada fase buscando a confiabilidade e
transparência nos dados. As questões secundárias foram elaboradas visando
detalhar os aspectos da questão primária: Q1 - Quais os mecanismos de controle
usados em plataformas digitais? Q2 - Quais os comportamentos adotados pelos
trabalhadores em plataformas digitais? Para atingir
os fins da pesquisa foram estabelecidos critérios básicos de análise conforme
Quadro 2.
Quadro 2 - Critérios de Inclusão e Exclusão
|
Critérios de
Inclusão |
Critérios de
Exclusão |
|
Artigos completos publicados em periódicos. |
Literaturas informais, resenhas, resumos, casos
de ensino, editorial, teses, ensaios, dissertações e estudos secundários. |
|
Publicações entre os anos de 2018 e 2022. |
Trabalhos que não foram publicados no período estabelecido. |
|
Artigos em inglês ou português. |
Artigos em idiomas que não sejam inglês ou
português. |
|
Estudo que versam sobre o tema proposto. |
Publicações duplicadas, revisões literárias e
estudos que não versam sobre o tema proposto. |
|
Avaliação de pares realizada. |
Sem revisão de pares e rigor metodológico. |
Fonte: Elaboração própria, 2024.
A elegibilidade se deu a partir da observância de artigos em inglês por
ser uma das línguas mais exigidas em publicações e português por entender a
necessidade de captar estudos em contextos condizentes com o cenário
periférico. Ademais, os materiais deveriam estar completos, revisados por pares
e versar sobre a temática proposta. Para a seleção do
material foi necessária a presença de todos os
critérios de inclusão, e para que houvesse a exclusão do material da análise
apenas a presença de um critério já era suficiente para remoção da base de
dados.
A partir do estabelecimento dos critérios foi
realizada uma pesquisa exploratória perfunctória inicial no portal de
periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) vinculada ao Ministério da Educação do Brasil, por meio do acesso à
Comunidade Acadêmica Federada (CAFe). A partir dessa consulta foram
visualizadas algumas das principais bases de publicações acerca de achados
provenientes das ciências sociais.
A string de pesquisa foi “Algorithmic Control” or “platformization”
or "Uberization" and “Gig Economy” or “Gig work”. Os termos foram selecionados com base em uma pesquisa flutuante na base
do Google Scholar acerca das
principais palavras-chave visualizadas nas pesquisas que versam sobre a
temática. Foi realizado um levantamento inicial que obteve 363 publicações. A
escolha das bases de dados eletrônicas obedeceu aos requisitos de relevância
das publicações e revisão de pares. A partir da exclusão das publicações
duplicadas obteve-se um total de 327 artigos, posteriormente foi realizada a
aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, resultou em 293, seguida da
leitura do título e do resumo que resultou em 45 artigos potenciais.
O banco de dados da SciVerse Scopus, considerado um dos maiores bancos de dados
revisados por pares, apresentou o maior número de publicações com 33 (trinta e
três) resultados de pesquisa; já na Scientific
Electronic Library Online (SCIELO), também reconhecida pela confiabilidade
dos artigos, emergiram 5 (cinco) resultados; enquanto na Web of Science (WOS) o quantitativo atingiu 6 (seis) resultados.
Por fim, foi feita a leitura da introdução e da conclusão de cada publicação
verificando a sua adequação ao objetivo da revisão que possibilitou o resultado
de 19 artigos. Nos quais 15 (quinze) foram provenientes da SciVerse Scopus, 1 (um) da Scientific
Electronic Library Online (SCIELO) e 3 (três) da Web of Science (WOS). A Figura 1 abaixo
mostra como ocorreu o processo de extração dos principais artigos desse estudo.
Figura 1 -
Descrição das ações em cada fase.
·
Busca nas bases ·
Aplicação de critérios de escolha ·
Leitura do título e resumo Total de 45 resultados Primeira Seleção ·
Leitura da introdução e da conclusão. ·
Total de 19 resultados. Segunda Seleção ·
Aplicação de critérios de qualidade ·
Leitura integral dos materiais ·
Síntese do conteúdo Extração dos Artigos
Fonte: Elaboração
própria, 2024.
A partir do uso de mecanismo de
comparações e fichamentos foi possível o entendimento ao estruturar a síntese e
análise de resultados. A Figura 1 demonstra as ações desenvolvidas em cada
fase. Assim, foram identificadas
as características dos modelos básicos do processo de uma revisão sistemática:
População: artigos
científicos com rigor metodológico a avaliação de pares que foram publicados
nos periódicos indicados, detectados como potenciais disseminadores de
conhecimento da temática a partir da análise exploratória considerada para os
fins do estudo.
Intervenção: natureza
dos dados usados no material, bem como a apresentação do controle destacado
pelos autores e a percepção da atuação no atual contexto.
Resultado: consideração sobre as características dos elementos e
critérios pré-estabelecidos, por meio de ferramentas auxiliares de análise como
o Prisma, utilizado para garantir maior rigor metodológico.
Contexto: artigos
publicados em periódicos especializados na divulgação de temáticas vinculadas
ao campo das ciências sociais e revisados por pares.
Os critérios de qualidade foram estabelecidos com base em uma pontuação
de 0 a 1. Foram considerados de
qualidade mediana os que atingiram a pontuação entre 0,5 e 1; já os estudos com
pontuação inferior a 0,5 foram considerados de baixa qualidade. A soma dos
critérios estabelecidos soma um total de 5 pontos, considerando os aspectos a
seguir:
Q1: Clareza na problemática da pesquisa e sua adequação do objetivo
proposto.
Q2: Adequação da fundamentação teórica à temática proposta de forma
consistente.
Q3: Adequação da metodologia aos objetivos propostos e exposição clara.
Q4: Os resultados e relevância da pesquisa são claramente expostos e
identificados.
Q5: Quantidade de citações.
Após a definição desses critérios
foi possível minimizar o viés de pesquisa do pesquisador na escolha e
julgamento dos manuscritos, como também facilitar uma leitura padronizada com
vertentes delimitadas para análise dos escritos. Na sequência foram identificadas
citações de cada documento e sumarizadas em uma planilha no Excel por meio de
um agrupamento de códigos em campos-chave no documento analisado possibilitando
a identificação de dimensões de pesquisa.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os dezenove documentos selecionados para essa
revisão foram publicados em 15 (quinze) revistas e jornais científicos
diferentes, dentre eles os que mais se sobressaíram nas publicações foram New Media & Society, New Technology, Work & Employment, Socius
e Organization (Tabela 1).
Tabela 1 - Características dos documentos.
|
Id |
Title |
Authors |
Year |
Periodic |
|
A1 |
Algorithmic control & gig workers: a legitimacy perspective of
uberdrivers |
Wiener, Martin & Cram, W. & Benlian, Alex |
2021 |
European Journal of Information Systems |
|
A2 |
Uber-alienated: powerless & alone in the gig economy |
Glavin, Paul & Bierman, Alex & Schieman, Scott |
2021 |
Work
and Occupations |
|
A3 |
Algorithmic management in food-delivery platform economy in china |
Huang,
Hui |
2022 |
New Technology Work and Employment |
|
A4 |
Platform ideologies: ideological production in digital
intermediationplatforms & structural effectivity in the "sharing
economy" |
Karatzogianni,
Athina & Matthews, Jacob |
2020 |
Television
and New Media |
|
A5 |
Flexibilization & precarization of working conditions &
labor relations in the perspective of app-based drivers |
Silva
Júnior, J.T., Carneiro, J.S., Lessa, P.W.B., Vieira, C.L.S. |
2022 |
Revista
de Gestão |
|
A6 |
Platform scams: brazilian workers' experiences of dishonest &
uncertain algorithmic management |
Grohmann,
R. & Pereira, G. & Guerra, A. & Abilio, L.C. & Moreschi, B.
& Jurno, A. |
2022 |
New
Media & Society |
|
A7 |
Algorithmic integration & precarious (dis)obedience: on the
co-constitution of migration regime & workplace regime in digitalised
manufacturing & logistics |
Schaupp,
S. |
2022 |
Work,
Employment & Society |
|
A8 |
Dependency & hardship in the gig economy: the mental health
consequences of platform work |
Glavin,
P. & Schieman, S. |
2022 |
Socius |
|
A9 |
The role of algorithmic management as a support for management control
systems in the sharing economy: a study about the drivers’ perceptions of
brazilian ridesharing companies |
Avelar,
E.A. &Jordão, R.V.D. & Ferreira, G.M.C. & Da Silva, B.N.E.R. |
2022 |
Revista
de Contabilidade e Organizacões |
|
A10 |
Delivery workers & the interplay of digital & mobility
(in)justice |
Vecchio,
G. & Tiznado-Aitken, I. & Albornoz, C. & Tironi, M. |
2022 |
Digital
Geography & Society |
|
A11 |
Happy riders are all alike? Ambivalent subjective experience &
mental well-being of food-delivery platform workers in china |
Wu,
P.F. & Zheng, R. & Zhao, Y. & Li, Y. |
2022 |
New
Technology, Work & Employment |
|
A12 |
Young workers on digital labor platforms: uncovering the double
autonomy paradox |
Laursen, C.S. & Nielsen, M.L. & Dyreborg, J. |
2021 |
Nordic Journal Of Working Life Studies |
|
A13 |
Professionals, purpose-seekers, & passers-through: how
microworkers reconcile alienation & platform commitment through identity
work |
Bucher,
E. & Fieseler, C. & Lutz, C. & Buhmann, A. |
2021 |
New
Media & Society |
|
A14 |
‘You can’t pick up a phone & talk to someone’: how algorithms
function as biopower in the gig economy |
Walker, M. & Fleming, P. & Berti, M. |
2021 |
Organization |
|
A15 |
Pacifying the algorithm – anticipatory compliance in the face of
algorithmic management in the gig economy |
Bucher, E.L. & Schou, P.K. & Waldkirch, M. |
2021 |
Organization |
|
A16 |
Dependence & precarity in the platform economy |
Schor, J.B. & Attwood-Charles, W. & Cansoy, M. &
Ladegaard, I. & Wengronowitz, R. |
2020 |
Theory
& Society |
|
A17 |
Individualism & collectivism at work in an era of
deindustrialization: work narratives of food delivery couriers in the
platform economy |
Shanahan,
Stewart & Smith |
2020 |
Frontiers
in Sociology |
|
A18 |
Algorithmic control in platform food delivery work |
Griesbach, K. & Reich, A. & Elliott-Negri, L. & Milkman,
R. |
2019 |
Socius |
|
A19 |
Uberização
e juventude periférica: desigualdades, autogerenciamento e novas formas de
controle do trabalho |
Abílio,
Ludmila Costhek |
2020 |
Novos
Estudos Cebrap |
Fonte:
Elaboração própria, 2024.
Relativo aos
anos de publicação 2019 emerge com apenas 1 publicação, 2020 com 4 publicações,
2021 contabilizou 6 publicações e 2022 se destacou com 8 publicações, sendo
assim, o resultado apresenta coerência com o levantamento inicial realizado na
primeira etapa que verificou um crescimento entre os anos de 2018 (4 artigos) e
2022 (113 artigos) representando um crescimento de aproximadamente 96,5%. A
quantidade de citações por artigo também foi considerada para fins de
pontuação, juntamente com o nível de impacto do periódico que serviu como
condicionante complementar de informação (Tabela 2).
Tabela 2 -
Pontuação de Qualidade, citações e impacto do periódico
|
|
Q1 |
Q2 |
Q3 |
Q4 |
Q5 |
Qualidade |
Citações |
I m p a c t o |
Id |
Q1 |
Q2 |
Q3 |
Q4 |
Q5 |
Qualidade |
Ci tações |
I m p a c t o |
|
A1 |
1 |
1 |
1 |
1 |
1 |
5 |
25 |
9.011 |
A11 |
1 |
1 |
1 |
1 |
1 |
4,5 |
1 |
4.182 |
|
A2 |
1 |
1 |
1 |
1 |
1 |
5 |
8 |
2410 |
A12 |
1 |
1 |
1 |
1 |
1 |
5 |
5 |
0 |
|
A3 |
1 |
1 |
1 |
1 |
0,5 |
4,5 |
3 |
2,011 |
A13 |
0,5 |
1 |
1 |
1 |
1 |
4,5 |
1 |
5,31 |
|
A4 |
1 |
1 |
1 |
1 |
1 |
5 |
21 |
3,252 |
A14 |
1 |
1 |
1 |
1 |
1 |
5 |
26 |
3,301 |
|
A5 |
1 |
1 |
1 |
1 |
0 |
4 |
0 |
0 |
A15 |
1 |
1 |
1 |
1 |
1 |
5 |
69 |
3,301 |
|
A6 |
1 |
1 |
1 |
1 |
1 |
5 |
5 |
5,31 |
A16 |
1 |
1 |
1 |
1 |
1 |
5 |
173 |
3,226 |
|
A7 |
1 |
1 |
1 |
1 |
0,5 |
4,5 |
2 |
4,249 |
A17 |
1 |
1 |
1 |
1 |
1 |
5 |
14 |
0 |
|
A8 |
1 |
1 |
1 |
1 |
0,5 |
4,5 |
2 |
0 |
A18 |
1 |
1 |
1 |
1 |
1 |
5 |
169 |
0 |
|
A9 |
1 |
1 |
1 |
1 |
0,5 |
4,5 |
0 |
0 |
A19 |
1 |
1 |
1 |
1 |
1 |
5 |
26 |
0 |
|
A10 |
1 |
1 |
1 |
1 |
0,5 |
4,5 |
1 |
0 |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Fonte:
Elaboração própria (2022).
Um fator
condicionante em relação à pontuação refere-se às citações, apesar do horizonte
temporal estabelecido não envolver um longo período é notório que algumas
produções como A15 e A16 se sobressaem em relação às demais. Também cabe
destacar que o fator de impacto não desponta como determinante de qualidade dos
documentos para essa revisão e não está diretamente relacionado ao aumento de
citações, sendo assim, não representa um componente determinístico para maior
quantidade de citações, a exemplo temos A8, A10, A12, A17e A19, conforme Figura
2.
Fonte: Elaboração própria (2022).
Grande parte das produções também se concentrou no
entendimento do contexto do norte global, tal fato já é conhecido em diversas
produções literárias independentemente de serem direcionadas para o fenômeno
aqui proposto. Muitos dos estudos selecionam mais de um lócus de investigação,
sendo assim, no total de 22 lócus identificados, apenas 8 se direcionam ao sul
global, dentre esses últimos o Brasil desponta com um maior quantitativo. A predominância das publicações na língua inglesa e dos
periódicos reconhecidos no norte global se deve ao quantitativo ainda reduzido
de indexação de revistas latino-americanas em bases de dados reconhecidas, que
interfere na divulgação das publicações oriundas dessas regiões e no
reconhecimento dos achados (GEMELLI; FRAGA; PRESTES, 2019). Sendo assim, há o
reforço de novas pesquisas nesse sentido.
4.1 Retrato do
controle nas pesquisas
Desta revisão também se destaca como um
dos achados a identificação das reações comportamentais sofridas pelos
indivíduos no universo da uberização e do controle por algoritmos. Esses achados foram agrupados em dimensões embasadas na análise de
conteúdo, que segundo Bardin (2016) é relevante para pesquisas que buscam maior
aprofundamento podendo ser usada tanto para abordagens qualitativas, como para
abordagens quantitativas por garantir rigor metodológico e processo reflexivo.
Ademais, buscando diminuir o viés da pesquisa também foi solicitada a revisão
por pares dos dados que permitiram a
elaboração desse estudo. Em resposta à questão
de pesquisa e aos questionamentos Q1 e Q2 os achados foram agrupados em
categorias conforme Tabela 3.
Tabela 3.
Dimensões e categorias presentes.
|
Controle |
Comportamentos |
||||
|
Dimensões |
Categorias |
Artigos |
Dimensões |
Categoria |
Artigos |
|
Tempo |
Rendimento por disponibilidade, quantidade de atividades. |
A3, A4, A6, A8, A10 |
Autodisciplina |
Mecanicista, disponibilidade, alienação. |
A4, A6 A8, A10, A13, A16, A17, A18, A19 |
|
Desempenho |
Sistema de avaliações, identificação, gamificação. |
A1, A2, A3, A6, A9, A10, A11, A12, A15, A16, A19 |
Enfrentamento |
Pacificação, solidariedade e resistência |
A1, A4, A5, A6, A7, A9, A11, A14, A17 |
|
Espacial |
Localização em tempo real, permanência no local. |
A6, A8, A10, A16 |
Impotência |
Solidão, isolamento, fadiga, sobrecarga |
A2, A6, A8, A9, A10, A13, A14, A17, A18, A19 |
Fonte: Elaboração própria.
Foi possível observar
que grande parte dos artigos adentra no universo do controle no âmbito da
plataformização do trabalho a partir dos aplicativos de plataforma sob demanda.
Deste modo, ao se tratar das formas de controle o retrato se afinca em exemplos
diversificados nesse cenário, a exemplo a localização em tempo real e o
acompanhamento realizado pela plataforma, o sistema de entrada de novos
motoristas e a falta de transparência na permanência ou saída deles, o sentido
da gamificação atribuído a esse cenário de controle que incentiva a permanência
e autodisciplina, dentre outros.
Por outro lado, há
maior divergência em termos de reações comportamentais nesse controle por meio
de dois caminhos, o primeiro deles estabelece a possibilidade de reações de
enfrentamento por parte dos trabalhadores envolvidos, seja por organizações de
resistência coletiva ou meios de pacificar e burlar os mecanismos; o segundo
olhar percorre indica o caminhar do isolamento, alienação e autodisciplina,
destacando que por meio desses mecanismos de controle há o incentivo de
comportamentos mecanicistas que podem levar os trabalhadores a um processo de
alienação e solidão.
A partir da análise dos
termos, grande parte dos estudos buscou desenvolver a perspectiva do controle
por algoritmo e suas implicações a partir de condicionantes como a alienação,
ideologia, coletivismo, individualismo, pacificação, conformidade, engajamento
e isolamento. Deste modo, realizaram a identificação de teorias e fatores que
direcionam comportamentos trazendo levantamentos literários de estudos
primordiais sobre o controle, em alguns casos descrevendo inclusive as formas
de enfrentamento.
4.2 Controle
As formas de controle do trabalho
sempre estiveram presentes na história da humanidade se adequando às novas exigências de produtividade de acordo com o contexto. Ao
se tratar do controle por algoritmos destaca-se sua emergência a partir da
indústria 4.0 que marcou um novo período de velocidade e acessibilidade das
informações por meio da tecnologia (Valentine, 2020).
Nesse cenário, o controle do tempo é retratado como fundamental ao exigir disponibilidade
constante. Fazendo uma aproximação do sistema de pagamento por peça A3 infere
que nesse cenário há a dominação por meio de um sistema que converte a “peça
produzida” em tempo de trabalho, ou seja, quanto maior o tempo dedicado ao
trabalho maior à remuneração. Do mesmo modo, a partir desse sistema o
comportamento automático é incentivado a partir de uma maior competitividade
havendo a separação entre o trabalhador e o trabalho. Há, portanto, um
discurso ideológico, conforme exposto por A4, na
gestão por trás dos algoritmos e inclusive nas formas de organização do
trabalho.
Além dessas implicações no âmbito do
tempo, os artigos enfatizam a importância do entendimento dos discursos
embasados na ideia de autonomia (A6, A8) e a ausência de transparência no
processo (A6) que geram formas de resistência (A6). Nessa linha, os
controles de horário por meio da precificação
dinâmica é um dos exemplos que incentiva a manutenção constante do trabalho em
prol da remuneração, além do rendimento extra garantido pelo atingimento de
determinado quantitativo de viagens no caso da empresa Uber (A10).
Esses achados corroboram com Franco e
Ferraz (2018), Siqueira (2020) e Greggo et
al. (2022) ao tratarem do tempo dedicado nesse novo sistema como um aspecto
fundamental para o incentivo da disponibilidade por se tratar de um processo
produtivo de acordo com a demanda pretendida.
As formas de desempenho também fazem parte dos retratos do controle expostos nos
documentos. Há a elaboração de sistema de controle que vão desde o
cadastramento por meio da identificação dos trabalhadores que desejam atuar
junto à plataforma (o qual possui exigências bem delimitadas), conforme exposto
por A1, A12 e A19, até a sua manutenção e desligamento, que em sua grande
maioria não conta com processos transparentes e respeitosos (A1).
Algumas formas de controle de desempenho expostas referem-se à
agilidade nas respostas às demandas impostas
pelas plataformas (A1, A3, A6, A9, A12), a gamificação do trabalho que faz uso
de técnicas de incentivo para o aumento do desempenho (A2, A10) quantidade de
trabalhos realizados (A1, A3, A6, A9, A12, A15, A16, A19), avaliações recebidas
(A1, A2), sistema de classificações (A3), penalidades (A3, A5, A6, A9, A12,
A15, A17, A19).
A precificação dinâmica também desponta
como métrica de desempenho e de incentivo a disponibilidade do tempo (A10),
tendo também relação direta com a técnica de gamificação que pressupõe o
estabelecimento de prêmios ou encorajamento para o alcance de ganhos e novas
classificações por meio de desafios e incentivos (A2, A10, A11). A
classificação dos trabalhadores em obediência a disponibilidade e aos feedbacks são determinantes nesse
cenário conforme reforçado por A12, tendo em vista a distância física de supervisores
o que não permite a observação da forma que o trabalho está se desenvolvendo,
outro ponto desse sistema indica que a classificação possibilita um
direcionamento de melhorias no desempenho, entretanto todo esse processo é
feito sem a transparência desejada e o suporte ou instruções dessas
organizações (A15). Deste modo, há uma variedade de controle por algoritmos
utilizados em plataformas (A16) que irão promover debates na literatura acerca
das suas implicações.
Mcdonalds, Williams e Mayes (2021)
reforçam essas implicações ao denotar os tipos de controle e a avaliação de
desempenho estabelecida. Para os autores há além de processos específicos de
avaliação a transferência de risco para o trabalhador no desempenho da
atividade.
Por fim, o controle espacial também foi identificado
vinculado à categoria de desempenho. Ora, nesse contexto indica-se esse tipo de
controle inerente às plataformas digitais on-demand,
não adentrando no universo do micro trabalho, pois sem
a identificação da localização não é possível a prestação do serviço.
O trajeto é crucial nessa perspectiva e
é definido por vezes pela própria plataforma que em parte dos casos pode
ocasionar o aumento de riscos de acidentes caso o indivíduo
não tenha conhecimento acerca do território (A10). As formas de burlar o
sistema nesse sentido emergem nos achados de A6 ao investigar as reações a
partir da incerteza desse controle.
De modo complementar, a vigilância do
rastreamento é exposta por A8 apontando para implicações na saúde mental do
trabalhador. Essa perspectiva coaduna com o cenário do capitalismo de
vigilância embasado no uso da tecnologia em prol do acompanhamento em tempo
real das ações, em que os dados ocupam o lugar da matéria-prima (FONSECA, 2020; ZUBOFF, 2018). Há
então o que A16 pontua como uma relação que envolve um poder intermediado por
vias tecnológicas variadas. Assim, tem-se o controle do trajeto, o tempo disponível
e o desempenho por meio de métricas estabelecidas de modo unilateral não
transparente que coadunam para o
condicionamento de comportamentos desejados.
4.3 Comportamentos
Grande parte dos achados demonstra
preocupações acerca das implicações dos controles estabelecidos no universo de
plataformas digitais. Dentre as implicações na dimensão comportamental se
encontra o condicionamento da autodisciplina
que abarca os aspectos da disponibilidade constante (A4, A6, A8, A10, A16,
A17, A18, A19) por meio de ações mecanicistas (A6, A10, A13, A16, A19) que
podem estar vinculadas a alienação do indivíduo (A13).
Entende-se que o fenômeno investigado incentiva o
autocontrole por meio de mecanismos efetivos e sutis que são naturalizados por
vias tecnológicas e por discursos ideológicos, que conforme explica A13 podem
direcionar a uma auto alienação que induz a permanência desses
indivíduos no trabalho. Naturalmente que os fatores externos relativos à
necessidade por renda também se posicionam como propulsores de autodisciplina
nesse processo, como bem pontua A19 a busca pelas bonificações e rendimentos
seguem como estratégias cotidianas do trabalhador.
Também nesse cenário o controle por meio da
gamificação possui relação direta com o comportamento mecanicista de
disponibilidade, afinal, quanto maior o tempo ativo no desempenho das funções
maior a retribuição e classificação obtida em alguns sistemas (A16). É o que
Zuboff (2019) aponta como novo instrumentalismo com base na moldagem do espaço
e tempo dos trabalhadores em prol da autodisciplina, influenciando segundo A10
nas atividades desempenhadas e no ritmo de trabalho.
Considerando que autodisciplina vem a partir de um
processo de induz o comportamento de impotência,
essa categoria contempla os aspectos de isolamento (A2, A13,
A18), sobrecarga (A2, A6, A8, A9, A10, A13, A14, A17, A19) e fadiga (A9, A10).
Mais uma vez a alienação desponta como resultado de
uma série de fatores, um deles se refere ao isolamento social que
esses trabalhadores estão submetidos e a impotência acerca das normas do
sistema, que conforme pontua brilhantemente A13 não significa dizer que não há
um grau de conhecimento acerca do controle imposto e acerca do manuseio das
plataformas. Entretanto, há o estabelecimento da solidão do trabalho, em alguns
mais do que em outros como indicado por A18 no âmbito de entregadores de
comida, que não interagem com clientes ou supervisores.
A natureza de precariedade então se revela à medida
que se tem um grau de isolamento severo e aspectos desumanos de busca por
rendimentos justos que para A8 retratam uma tensão financeira de instabilidade
salarial para os indivíduos que dependem dos proventos das plataformas,
promotoras de sentimentos de insegurança e dependência.
Por fim, grande parte dos estudos considera a
possibilidade do comportamento de enfrentamento
do controle por algoritmo, apresentando contribuições acerca da pacificação
(A15), solidariedade (A7, A14, A17) e resistência (A1, A4, A5, A6, A7, A9, A11,
A14, A17), ou seja, na possibilidade de comportamentos individuais e
organizações coletivas.
Nesse sentido, A4 já contribui apontando o caminhar
de organizações coletivas de enfrentamento focalizadas na possibilidade de
criação de plataformas que fogem da lógica tradicional. Por outro lado, A6
contribui indicando formas de respostas aos “golpes” das plataformas no âmbito
do indivíduo como, por exemplo, o uso de perfis falsos, grupos online com
outros trabalhadores (A11), ou ainda a organização de greves e manifestações
que conforme A5 tendem a ser cada vez mais comuns.
Assim, ainda que haja o isolamento, o coletivismo
também se estabelece afincado em estratégias relacionais que tem relação com a
produção da solidariedade a partir de novas formas de organização (A7). A 14
contribui expondo sobre o processo de fragmentação e isolamento enfrentado
nesse cenário que induz a impotência, esbarrando na delimitação do tempo de
trabalho e de não trabalho. Entretanto também admite que há o enfrentamento por
parte de alguns trabalhadores por meio do uso de redes sociais e plataformas
afins.
Assim, foi possível identificar
relações entre as dimensões e categorias propostas, bem como acerca dos
principais achados desenvolvidos nos documentos utilizados para esta revisão.
Observou-se que a alocação das categorias de espaço e tempo como inerentes à
categoria de desempenho pode ser viável ao ponto que também envolve métricas de
desempenho.
Também
foram notórios os vínculos entre as categorias “tempo” e “espacial” ao ponto
que ambas são verificadas em conjunto pelos controles algoritmos no âmbito da
plataformização do trabalho. Ademais, a categoria do tempo, tem impacto direto
ao estimular comportamentos de autodisciplina e de isolamento, induzindo ao
mecanicismo das ações e a fadiga.
Outro ponto que chamou a atenção é
que apesar desses mecanismos e do trabalho solitário, não há apenas formas de
resistências individuais, mas também ações de enfrentamento coletivo que também
fazem uso de mecanismo tecnológico para a sua formação, entretanto ainda
caminha a passos lentos em comparação a evolução dos meios de controle nesse
cenário.
CONCLUSÃO
Considerando a relevância da temática da uberização
nas diversas áreas de estudo, bem como a complexidade das suas implicações no
indivíduo e na sociedade, a presente pesquisa selecionou artigos
teórico-empíricos completos que passaram por revisão de pares publicados em
periódicos nos últimos seis anos, buscando compreender as tendências das
pesquisas. O levantamento possibilitou compreender como as publicações
contribuíram para o esclarecimento das questões estipuladas acerca do controle
por algoritmos e suas implicações.
Inicialmente a seleção contou com um total 363
publicações. A escolha das bases de dados eletrônicas obedeceu aos requisitos
de relevância das publicações e revisão de pares. A partir da exclusão das
publicações duplicadas obteve-se um total de 327 artigos, posteriormente foi
realizada a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, leitura flutuante
dos títulos e resumos, seguidas de leituras aprofundadas da introdução e da
conclusão resultando em apenas 19 artigos nas bases SciVerse Scopus, Scientific Electronic
Library Online (SCIELO) e Web of
Cience.
Por meio da leitura integral dos materiais
constatou-se que apesar de se tratar de um fenômeno recente de estudos, há um
aumento exponencial de pesquisas devido à necessidade da compreensão das
implicações e do cenário repleto de mudanças. Um achado importante revela que
apesar do aumento dos estudos acerca da uberização e do controle por
algoritmos, grande parte ainda se encontra focalizada por comunidades científicas do norte global, havendo a incipiência de aplicação
empírica em cenários periféricos do sul global a fim de compreender a realidade
presente nesses contextos. Tal fato pode ser identificado quando apenas 8
(oito) dos materiais apresentam o lócus
de pesquisas direcionado para as regiões do sul global, enquanto 14 (catorze)
são do norte global.
Assim, há
a relevância de novas contribuições para o entendimento das práticas usuais de
controle algoritmo de plataformas digitais e das implicações na dinâmica social
e pessoal. Há também a predominância das pesquisas com abordagem qualitativa
(total de onze produções), seguidas do método misto (total de cinco produções)
e da metodologia quantitativa (total de três produções). Tais achados expõe o
reflexo crescente da preocupação do entendimento aprofundado de um fenômeno
complexo que gera implicações que não podem ser avaliadas apenas no sentido
mais superficial e objetivista.
Por outro lado, a RSL possibilitou
identificar uma polissemia conceitual em muitos casos pela amplitude das
nomenclaturas adotadas nessa perspectiva, a exemplo: “uberização”, “economia gig”, “plataformização”, “micro trabalho”,
“crowdwork”, “trabalho sob demanda”, dentre outros. Sendo por vezes
colocados como termos equivalentes sem a devida atenção à sua adequação
conceitual, deste modo o estabelecimento adequado das nomenclaturas parece
promissor para maior disseminação do conhecimento e para a busca de melhorias
nesse sentido.
A RSL gera contribuições para a literatura considerando que o caminhar
das produções percorre um caminho tortuoso em termos de dinamicidade e
aplicabilidade em termos distintos. Bem como pode ter utilidade para que as
organizações que desenvolvem suas atividades pautadas em controles algoritmos e
no processo de uberização possam direcionar seus esforços a fim de garantir
menores implicações para os trabalhadores, nesse aspecto as organizações
públicas também podem moldar seu olhar para desenvolver melhorias nesse
sentido, considerando que o contexto carece de aparatos legislativos que
garantam a maior segurança desses no exercício das suas atividades.
A limitação deste estudo se estabelece pelo quantitativo dos artigos
analisados, não sendo possível a generalização dos resultados. Entretanto,
ainda foram encontradas lacunas vinculadas às implicações acerca da dinâmica
social do indivíduo e a interferência nos comportamentos adotados por esses
trabalhadores. Indica-se para pesquisas futuras um novo direcionamento
comparativo entre o crowdword e work on-demand, embasado nos aspectos de
possibilidade de segurança jurídica em relação ao trabalho mediado por plataformas
e suas variadas consequências.
Ademais, a proposição de um modelo teórico que inclua as principais
implicações dos controles algoritmos nesse cenário é relevante ao passo que
existem uma diversidade de achados nesse sentido. Outras strings de buscas como “work
on-demand”, “crowdwork” e “sharing
economy” também podem ser utilizadas de forma a verificar novas produções.
Por meio deste artigo espera-se catalisar novos conhecimentos indicando o
direcionamento e a necessidade de novas pesquisas a partir das lacunas teóricas
encontradas na grande área das ciências sociais.
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