v.
8, n. 1, Janeiro-Abril/2024 This work is licensed
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Attribution
4.0 International License
RELAÇÃO ENTRE A HEURÍSTICA DO
EXCESSO DE CONFIANÇA E O PERFIL DE INVESTIDOR.
Renata Oliveira Pires de Souza
renata.opiresdesouza@gmail.com
http://lattes.cnpq.br/0511395801341362
Esalq/USP
Piracicaba/SP
RESUMO
O
presente estudo tem como foco a análise do fenômeno conhecido como
"Excesso de Confiança" em estudantes matriculados em cursos técnicos
do campo de Gestão em uma cidade no interior de São Paulo. O objetivo central é
investigar se diferentes tipos de investidores (conservadores, moderados e
agressivos), exibem variações no nível desse excesso de confiança. Para
alcançar essa meta, um questionário foi aplicado a 162 participantes, os quais
foram agrupados conforme os seus perfis de investimento. A abordagem
metodológica empregada envolveu a utilização dos procedimentos propostos por
Gigerenzer e Kleinbölting (1991) e Baratella (2007), além da aplicação do teste
de Wilcoxon. O intuito por trás da seleção desses métodos foi comprovar a
presença ou ausência do fenômeno do excesso de confiança nos perfis dos
investidores. Além disso, para um exame mais aprofundado das diferenças entre
os três tipos de perfis, também foi empregado o teste de Kruskal-Wallis. Esse
teste estatístico tem a finalidade de avaliar se existem discrepâncias
significativas nas distribuições do excesso de confiança entre os diferentes
grupos de investidores. Os resultados da análise e avaliação estatística
conduziram à conclusão de que não há evidências suficientes para afirmar que os
três perfis de investidores possuam disparidades significativas em termos de
distribuição do excesso de confiança.
PALAVRAS-CHAVE: Excesso de
confiança; Finanças comportamentais; perfil do investidor.
RELATIONSHIP
BETWEEN THE OVERCONFIDENCE HEURISTIC AND INVESTOR PROFILE
ABSTRACT
The present study focuses on
analyzing the phenomenon known as "Overconfidence" in students
enrolled in technical courses in the field of Management in a city in the
interior of São Paulo. The central objective is to investigate whether different
types of investors (conservative, moderate, and aggressive) exhibit variations
in the level of this overconfidence. To achieve this goal, a questionnaire was
administered to 162 participants, who were grouped according to their
investment profiles. The methodological approach employed involved the use of
procedures proposed by Gigerenzer e Kleinbölting (1991) and Baratella (2007),
in addition to the application of the Wilcoxon test. The purpose behind the
selection of these methods was to confirm the presence or absence of the
overconfidence phenomenon in investors' profiles. Furthermore, for a more
in-depth examination of differences between the three types of profiles, the
Kruskal-Wallis test was also employed. This statistical test aims to assess
whether there are significant discrepancies in the distributions of
overconfidence among the different groups of investors. The results of the
analysis and statistical evaluation led to the conclusion that there is not
enough evidence to assert that the three investor profiles have significant
disparities in terms of the distribution of overconfidence.
KEYWORDS: Overconfidence; Behavioral finance; Investor profile.
Submetido:
14/12/2023
Recomendações
requeridas: 29/03/2024
Aceito: 02/04/2024
Publicado:
30/04/2024
O modelo
moderno de finanças que prega o homem racional, ou seja, aquele indivíduo que
toma decisão baseada em todas as informações disponíveis após a análise e
ponderação de cada alternativa, sofre de certas anomalias que não podem ser explicadas
por suas teorias. Diante deste cenário surgiu as Finanças Comportamentais (FC)
que aplica a psicologia comportamental na tomada de decisão financeira. A FC
apresenta argumentos já validados por autores e atualmente é uma teoria que se
encontra em expansão (ACKERT; DEAVES, 2010).
Os
investidores do mercado financeiro podem ser classificados conforme seu perfil.
Para tanto deve-se levar em conta questões como o conhecimento do investidor.
Tempo disponível para o investimento ficar sem liquidez, tolerância ao risco e
experiência do indivíduo, desta forma o investidor pode ser classificado
(ANBIMA, 2021).
Os
investidores podem ser classificados em três tipos. Primeiramente como
conservadores, aqueles que procuram ao máximo evitar os riscos; moderados,
equilibram a rentabilidade com o risco e por fim os agressivos que não se
preocupam com o risco, mas sim com a rentabilidade (CORRÊA, 2001).
Segundo a
Teoria das Necessidades de Maslow, o aspecto financeiro de um indivíduo aparece
na categoria da Segurança, ou seja, o segundo nível da hierarquia, deste modo a
tomada de decisão referente ao dinheiro é algo importante e sensível
(SCHIFFMAN; KANUK, 2000).
Para
Damodaran (2010) o risco em termos financeiros é a probabilidade de receber um
retorno de um investimento diferente daquele esperado ao fazê-lo. Gitman (2011,
p.131) define risco como “possibilidade de perda”.
Atualmente
no Mercado Financeiro, brasileiro, os investidores normalmente são
classificados em três modalidades distintas de tolerância ao risco:
conservador, moderado e agressivo. Porém cocada instituição financeira define
como escolher, então podem existir diversas variações quanto esta
classificação.
Como
investidor, estes indivíduos estão sujeitos aos aspectos das finanças
comportamentais e, portanto, este trabalho tem como objetivo: identificar a
existência de relação entre o perfil do investidor e o viés de excesso de
confiança.
2.1 FINANÇAS PESSOAIS
Segundo
as palavras de Gitman (2011), o âmbito das finanças pode ser definido como uma
conjugação entre arte e ciência na administração do dinheiro, ou seja, trata-se
de como tanto as entidades jurídicas quanto as pessoas físicas angariam,
despendem e investem seus recursos monetários. Essas práticas empresariais, de modo
simplificado, também encontram aplicabilidade nos âmbitos individuais. Nesse
cenário, a educação financeira abraça as decisões relacionadas à gestão das
finanças pessoais, conferindo um meio para o aprimoramento da competência
financeira individual. A educação financeira, conforme delineado por Grifoni e
Messy (2012) e Saito (2007), emerge como um processo por meio do qual os
indivíduos enriquecem sua compreensão sobre o tema através de informações,
orientações e aconselhamentos, com o objetivo de desenvolver habilidades,
confiança e entendimento sobre os riscos e oportunidades no panorama econômico.
A educação financeira desempenha um
papel vital no auxílio aos consumidores, particularmente quando se trata do
planejamento financeiro e da gestão de suas entradas monetárias. Esse
conhecimento tem o poder de estimular práticas eficientes de economia e investimento,
atuando como um escudo contra fraudes que possam prejudicar indivíduos que
possuem recursos (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico -
OCDE, 2005). A perspectiva de Wisniewski (2011) alinha-se a essa visão,
ressaltando que a educação financeira configura-se como uma ferramenta
primordial para uma gestão sólida das finanças pessoais, incentivando a
formação de poupança e o acesso a modalidades de investimento mais
sofisticadas.
A educação financeira é concebida
como um processo pelo qual os consumidores e investidores aprimoram sua
compreensão sobre produtos, conceitos e riscos financeiros. Ao adquirirem
informações, orientações e/ou conselhos objetivos sobre o tema, as pessoas
desenvolvem habilidades e confiança que as tornam mais conscientes das
oportunidades e riscos financeiros, permitindo-lhes tomar decisões
bem-informadas, saber onde buscar auxílio e implementar medidas eficazes para
aprimorar seu bem-estar financeiro (OCDE, 2005). O planejamento financeiro
pessoal materializa-se como uma ferramenta que reduz a incerteza inerente ao
processo de tomada de decisão e, por conseguinte, amplia o controle sustentável
sobre as finanças pessoais (POTRICH et al., 2014). A educação financeira atua
como uma rota de acesso a tais ferramentas, estimulando o desenvolvimento de
conhecimentos, habilidades e aptidões financeiras, preparando, assim, o
indivíduo para a gestão prudente de seu próprio patrimônio (DREXLER et al
2014).
No contexto brasileiro, o tema
também tem sido tratado como de extrema relevância, o que culminou na
instauração da Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF), mediante o
Decreto Federal nº 7.397/2010. Esse marco estabeleceu uma política de Estado
permanente com o propósito de promover e apoiar ações que capacitem a população
brasileira a realizar escolhas financeiras conscientes. Posteriormente, a
regulamentação foi renovada pelo Decreto nº 10.393, de 2020, que instituiu a
nova Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF) e o Fórum Brasileiro de
Educação Financeira (FBEF). Esse comprometimento com a educação financeira
ilustra um passo significativo na busca por uma sociedade financeiramente
alfabetizada e preparada para tomar decisões informadas e embasadas no contexto
econômico e financeiro contemporâneo (BRASIL, 2010; BRASIL, 2020).
2.2 PERFIL DO INVESTIDOR
Dentro do contexto das finanças
pessoais, a compreensão aprofundada do perfil de risco do investidor emerge
como um elemento de importância crucial. No âmbito financeiro, o conceito de
risco é intrinsecamente associado à incerteza que envolve eventos futuros, à
volatilidade dos resultados e à variabilidade imprevista (JORION, 2010; MATIAS,
2007; DAMODARAN, 2007; KANNASHASAN, 2006).
A relevância desse tópico tem se
ampliado consideravelmente, como evidenciado pelo crescente volume de debates e
estudos que o cercam (GRABLE, 2016). Uma motivação adicional para o interesse
nesse tema é a exigência cada vez mais premente do perfil de investidor, também
conhecido como suitability. Tal exigência impõe que as instituições financeiras
identifiquem e avaliem o perfil de risco de seus investidores, permitindo que
estes aloquem seus recursos de forma apropriada entre os diferentes ativos disponíveis.
No contexto brasileiro, a obrigatoriedade dessa análise é estabelecida pela
Instrução 539 da Comissão de Valores Mobiliários (DONADIO, 2018).
A introdução desse requisito
regulatório visa não apenas a proteção dos investidores, mas também a promoção
de um ambiente de investimento mais informado e compatível com as
características individuais de cada investidor. A compreensão do perfil de
risco não somente auxilia os investidores a tomarem decisões alinhadas com suas
tolerâncias e objetivos, mas também contribui para uma alocação mais eficiente
dos recursos e a gestão mais criteriosa dos portfólios. Portanto, a análise do
perfil de risco do investidor e sua adaptação na tomada de decisões financeiras
não apenas refletem a evolução das práticas no setor financeiro, mas também
visam a proporcionar uma experiência mais segura e eficaz para os investidores
individuais, harmonizando suas características pessoais com as complexidades do
mercado financeiro (DONADIO, 2018).
Os investidores apresentam variações
significativas em relação a seus objetivos, situação financeira, perfil de
risco e conhecimento. Tal diversidade de metas e características é de
relevância substancial e requer consideração no contexto do processo decisório
de investimentos. Isso se deve ao fato de que um produto, serviço ou estratégia
específica pode não ser necessariamente a opção mais adequada para todos os
investidores, essa indicação dependerá de sua situação particular (CVM, 2022).
Segundo as considerações de Donadio
(2018), a análise dos perfis de investidores nas suitabilitys está
intrinsecamente vinculada à sua tolerância ao risco. O perfil classificado como
Conservador, por exemplo, exibe uma baixa disposição para enfrentar riscos,
demonstrando uma preferência marcante por investimentos de renda fixa. Essa
escolha é motivada pela busca de estabilidade, uma vez que os investimentos de
renda fixa geralmente apresentam uma volatilidade reduzida. Ainda que essa
abordagem possa resultar em um crescimento de capital mais modesto, ela se
alinha à aversão a riscos desse tipo de investidor.
De acordo com as observações de
Campelo (2023), o investidor de perfil conservador tem uma abordagem ainda mais
cautelosa em relação à volatilidade e à imprevisibilidade. Isso se reflete em
sua preferência por manter uma carteira de investimentos com baixa exposição a
oscilações e flutuações bruscas. Essa postura leva a uma inclinação em direção
a investimentos que possam preservar o patrimônio ao longo do tempo, em
detrimento de ganhos mais arriscados. Um dos critérios orientadores desse
perfil é a busca por produtos de investimento que ofereçam liquidez,
possibilitando uma maior flexibilidade para tomar decisões diante de mudanças
no cenário econômico ou nas circunstâncias pessoais (CVM, 2022).
O perfil moderado, conforme abordado
por Campelo (2023), estabelece como meta o crescimento do patrimônio, contudo,
adota uma abordagem equilibrada em relação aos riscos. Esse tipo de investidor,
muitas vezes, constrói carteiras de investimentos diversificadas, buscando um
equilíbrio entre ativos de renda fixa e renda variável. A motivação subjacente
é a busca pela preservação do capital a longo prazo, refletindo um desejo de
crescimento sustentável e uma aceitação moderada dos riscos inerentes aos investimentos
(CVM, 2022).
Já o investidor de perfil agressivo,
conforme apontado por Pak e Mahmond (2015), demonstra uma notável tolerância ao
risco e tende a optar por investimentos mais audaciosos, como os associados à
renda variável. Esse tipo de abordagem é caracterizado pela disposição de
aceitar potenciais perdas financeiras em troca da perspectiva de retornos
substancialmente acima da média. Essa busca por ganhos mais elevados está
enraizada na aceitação consciente do risco inerente a investimentos de maior
volatilidade, visando maximizar o potencial de crescimento (CAMPELO, 2023).
2.3 FINANÇAS COMPORTAMENTAIS
A complexa interligação entre a
tolerância ao risco e o processo de tomada de decisão constitui um tópico de
extrema relevância no campo das finanças. Conforme destacado por Ackert e
Deaves (2010), a Teoria Moderna de Finanças repousa sobre o princípio fundamental
do desejo de indivíduos e empresas de maximizarem os recursos dentro das
limitações impostas. Essa teoria pressupõe o conceito de Homo Economicus, uma
representação em que os indivíduos agem de forma racional, guiados pelo próprio
interesse, buscando maximizar a utilidade e tomando decisões com base em
informações disponíveis (ACKERT; DEAVES, 2010; THALER, 2016).
No cerne dessa perspectiva,
encontra-se a Hipótese do Mercado Eficiente (HME), concebida por Fama em 1970
(SEWELL, 2011). De acordo com Fama (1970), o mercado assume três formas
distintas: a forma forte, na qual os preços dos ativos refletem tanto as informações
públicas quanto as privadas no mercado; a forma semiforte, em que o preço de um
ativo incorpora todas as informações publicamente disponíveis; e a forma fraca,
em que os preços são reflexos das informações contidas nos históricos de
retornos dos ativos.
No entanto, esse paradigma
financeiro começou a enfrentar questionamentos à medida que se tornaram
evidentes os comportamentos não racionais dos investidores, contrapondo a
concepção do homo economicus. Essa contraposição ganhou força em diversos
estudos, inclusive nos anos 70, quando surgiram indícios de anomalias na
Hipótese dos Mercados Eficientes (SIMON, 1972; KAHNEMAN; TVERSKY, 1979;
SHILLER, 2003).
É nesse contexto que emerge a
disciplina das finanças comportamentais, um campo que amalgama princípios da
psicologia com o comportamento financeiro dos indivíduos, visando a uma
compreensão mais profunda do comportamento humano nos mercados financeiros (BRABAZON,
2000; SHEFRIN, 2000). Pioneiros nesse movimento, Kahneman, Slovic e Tversky
(1974) se destacaram ao propor essa nova abordagem. Em seus estudos, eles
identificaram que as pessoas frequentemente recorrem a atalhos mentais, também
conhecidos como heurísticas, como mecanismos para embasar suas decisões. No
entanto, essas heurísticas podem levar a erros cognitivos ou vieses cognitivos,
influenciando substancialmente o processo de tomada de decisão em contextos
financeiros.
2.4 EXCESSO DE CONFIANÇA
Este estudo dedica-se à minuciosa
análise de um viés cognitivo amplamente reconhecido e denominado excesso de
confiança, que se revela como uma manifestação das heurísticas comportamentais.
O entendimento desse viés é fundamental para compreender como as percepções
humanas e os processos decisórios podem ser influenciados por distorções
cognitivas. Oliveira (2011) descreve que o excesso de confiança está
frequentemente associado à heurística de representatividade, a qual se
caracteriza pela tendência de associar eventos específicos com outros
semelhantes. Isso se diferencia das heurísticas de ancoragem, que envolvem
ajustes com base em referências prévias, e de disponibilidade, relacionada à
facilidade de recordar ou imaginar eventos passados (TVERSKY; KAHNEMAN, 1974).
A heurística do excesso de confiança
se refere à propensão das pessoas em superestimar suas próprias habilidades,
conhecimentos e a precisão das informações que possuem. Essa inclinação se
traduz em um otimismo excessivo em relação ao futuro e em uma crença exagerada
na capacidade de controle sobre as circunstâncias (Ackert & Deaves, 2010).
De Bondt e Thaler (1995, p. 389) enfatizam que a "descoberta mais robusta
da psicologia do julgamento talvez seja que as pessoas são excessivamente
confiantes". Nesse sentido, Ferreira e Yu (2003) ressaltam que o excesso
de confiança é frequentemente originado a partir de erros cognitivos cometidos
durante o processo de tomada de decisão.
Bogea e Barreira De Campos Barros
(2008) destacam que diversos estudos têm revelado que a maioria das pessoas
tende a se avaliar acima da média em termos de habilidades pessoais, como
direção, senso de humor, relacionamentos interpessoais e liderança. Quando se
trata de investidores, essa tendência se manifesta na crença de que sua
habilidade de superar o mercado é superior à média. Pompian (2006) define o
excesso de confiança como a crença injustificada na intuição individual, o que
resulta em uma percepção de si mesmo como mais habilidoso do que os outros.
Oliveira (2011) acrescenta que o
excesso de confiança se traduz também na crença de que as informações são mais
precisas do que realmente são. No entanto, essa distorção cognitiva pode ter
impactos negativos no processo de tomada de decisão, frequentemente levando a
resultados indesejados. Sampaio et al. (2012) defendem a incorporação desses
fatores psicológicos nos processos decisórios, reconhecendo os vieses
cognitivos como parte integrante das decisões, com o excesso de confiança
emergindo como um dos mais influentes. Essa tendência é particularmente notável
entre homens e em atividades frequentemente associadas ao gênero masculino,
assim como em situações em que o feedback é demorado ou inconclusivo (BARBER;
ODEAN, 1999; BARBER; ODEAN, 2001).
De acordo com Freitas (2006), o
excesso de confiança é causado principalmente por duas razões. Primeiramente,
as estimativas quantitativas muitas vezes são apresentadas com intervalos
excessivamente estreitos, como evidenciado no caso dos preços das ações da
Petrobras em um mês. Em segundo lugar, os investidores frequentemente
demonstram calibragem inadequada ao estimar probabilidades. Essa tendência tem
implicações significativas nas decisões tomadas por esses agentes.
Barber e Odean (1999) observam que o
excesso de confiança estimula um aumento no número de transações no mercado,
uma vez que os investidores têm a tendência de superestimar suas próprias
opiniões enquanto minimizam as dos outros, resultando em uma sobrevalorização
das informações disponíveis.
No que diz respeito às implicações
mais substanciais do excesso de confiança, Barber e Odean (2001) indicam que
investidores excessivamente confiantes tendem a superestimar sua capacidade de
avaliar investimentos, negligenciando informações que possam sinalizar riscos
ou a necessidade de vender ativos para evitar perdas. Além disso, investidores
com excesso de confiança podem se envolver em negociações excessivas,
presumindo que possuem informações privilegiadas em relação aos outros
investidores. Esses comportamentos podem resultar em retornos insatisfatórios a
longo prazo e potencialmente prejudicar seus resultados financeiros.
3
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O
presente trabalho é caracterizado como uma pesquisa aplicada pois visa gerar o
conhecimento para atingir o objetivo do estudo. É uma pesquisa descritiva que
busca responder ao problema da pesquisa de forma a apresentar se existe uma
relação entre o excesso de confiança e o perfil de investimento.
A presente pesquisa se caracteriza
como quantitativa pois busca testar hipóteses através de dados, pretendendo
prever ou confirmar fenômenos e procurar relações entre elementos (SAMPIERI et
al., 2014).
Segundo Marconi e Lakatos (2003), a
coleta de dados é a etapa da pesquisa onde necessita-se de um instrumento ou
técnica para efetivamente ser possível coletar os dados. O instrumento usado
neste estudo foi o questionário que segundo Gil (2008) é uma técnica em que se
ordena questões referentes a uma ou mais variáveis que serão medidas, as
questões devem estar de acordo com as hipóteses e o problema de pesquisa. O
questionário tem como objetivo buscar informações sobre um conhecimento,
crença, sentimento ou comportamento e as respostas são os dados necessários que
após as análises permitirá que o pesquisador entenda a população pesquisada.
O questionário desta pesquisa contou
com 18 questões onde buscou-se compreender os aspectos demográficos dos
respondentes, seu perfil de investidor e detectar a presença do excesso de
confiança.
As perguntas referentes ao perfil de
investidor foram baseadas em Grable e Joo (1999) que construíram uma escala de
tolerância ao risco e no teste de educação financeira adaptado de Van Rooji et
al (2011) por Donadio (2018).
As questões sobre o excesso de
confiança seguiram o modelo de Gigerenzer e Kleinbölting (1991) e de Baratella
(2007) porém, as perguntas foram alteradas para conhecimentos gerais
condizentes com a população estudada. Os indivíduos em cada questões deveriam
escolher entre 2 resposta para uma pergunta, existindo apenas uma correta, após
deveria indicar seu nível de confiança na sua resposta, nível este que consta
com sete intervalos ([50%], [51%-59%], [60%-69%], [70%-79%], [80%-89%],
[90%-99%], [100%]).
Os dados foram coletados em agosto
de 2023, sendo a amostra composta por alunos do ensino técnico do eixo de
gestão de uma escola no interior de São Paulo. A amostra foi inicialmente de
257 alunos, dos quais apenas 162 realizavam algum tipo de investimento, sendo,
portanto, esses os selecionados. A seguir tem-se a descrição da idade da
amostra.
Quadro 01: Idade dos respondentes da
amostra
Idade |
18 |
19 |
20 |
21 |
22 |
23 |
24 |
25 |
26 |
27 |
28 |
29 |
30 |
31 |
35 + |
Total |
Número de respondentes |
25 |
21 |
12 |
18 |
8 |
11 |
12 |
7 |
7 |
12 |
10 |
5 |
6 |
2 |
6 |
162 |
Fonte: elaborado pela autora
4
ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DOS
DADOS
Os resultados do excesso de
confiança foram analisados por perfil de investidor, a saber: conservador,
moderado e agressivo. A seguir tem-se os resultados por grupo.
4.1 Perfil conservador
Para analisar o perfil em questão,
uma amostra de 102 respostas foi reunida. Dentro desse segmento, a incidência
do excesso de confiança foi avaliada em 16%. A fim de conferir validade
estatística a esses resultados, um teste de Wilcoxon foi aplicado utilizando a
plataforma SPSS. A análise desse teste revelou um valor de p significativamente
inferior a 0,05, o que aponta para uma diferença significativa entre a
autoavaliação (NC) e a avaliação independente (IA). Essa constatação corrobora
a manifestação do fenômeno do Excesso de Confiança neste perfil de investidor.
Quadro 02: Estatística descritiva do
índice de acerto e nível de confiança de acerto para o perfil conservador
|
N |
Média |
Desvio padrão |
Mínimo |
Máximo |
Percentis |
||
25% |
50 % (mediana) |
75% |
||||||
Índice de Acerto |
102 |
5,41 |
2,041 |
0 |
10 |
4 |
6 |
6 |
Nível de Confiança |
102 |
6,976 |
1,1398 |
5 |
9 |
6,4 |
7,2 |
7,8 |
Fonte: elaborado pela autora
Quadro 03: Classificação do índice de acerto e
nível de confiança de acerto para o perfil conservador
N |
Mean Rank |
Sum of Ranks |
||
Nível de Confiança -
Índice de Acerto |
Negative Ranks |
24a |
32,19 |
772,5 |
Positive Ranks |
78b |
57,44 |
4480,5 |
|
Ties |
0c |
|
|
|
Total |
102 |
|
|
|
a. Nivel de Confiança
< Índice de Acerto |
||||
b. Nivel de Confiança
> Índice de Acerto |
||||
c. Nivel de Confiança
= Índice de Acerto |
Fonte: elaborado pela autora
Quadro 04: Test Statistics do índice
de acerto e nível de confiança de acerto para o perfil conservador
|
Nível de Confiança - Índice de Acerto |
Z |
-6,193b |
Sig. Assint. (2 caudas) |
,000 |
a. Wilcoxon
Signed Ranks Test |
|
b. Com base em postos negativos. |
Fonte: elaborado pela autora
4.2 Perfil moderado
No
contexto do perfil moderado, uma análise igualmente a anterior foi conduzida
por meio do teste de Wilcoxon, o qual também revelou um valor de p
significativamente inferior a 0,05. Esses resultados apontam de maneira
consistente para a presença latente do viés do Excesso de Confiança nesse
grupo, evidenciando uma distinção significativa entre as avaliações de
autoconfiança (NC) e as avaliações independentes (IA). A composição dessa
investigação envolveu uma amostra de 51 respondentes, e o Excesso de confiança
foi de 23% para este grupo.
Quadro 05: Estatística descritiva do
índice de acerto e nível de confiança de acerto para o perfil moderado
|
N |
Média |
Desvio padrão |
Mínimo |
Máximo |
Índice de Acerto |
51 |
5,88 |
1,620 |
2 |
8 |
Nível de Confiança |
51 |
8,165 |
,8933 |
6,0 |
9,6 |
Fonte: elaborado pela autora
Quadro 06: Classificação do índice
de acerto e nível de confiança de acerto para o perfil moderado
N |
Mean Rank |
Sum of Ranks |
|
||||||
Nível de Confiança -
Índice de Acerto |
Negative Ranks |
6a |
7,25 |
43,5 |
|
||||
Positive Ranks |
42b |
26,96 |
1132,5 |
|
|||||
Ties |
3c |
|
|
|
|||||
Total |
51 |
|
|
|
|||||
a. Nível de Confiança
< Índice de Acerto |
|||||||||
b. Nível de Confiança
> Índice de Acerto |
|||||||||
c. Nível de Confiança
= Índice de Acerto |
|||||||||
Fonte: elaborado pela autora
Quadro 07: Test Statistics do índice
de acerto e nível de confiança de acerto para o perfil moderado
|
Nível de Confiança - Índice de Acerto |
Z |
-5,590b |
Sig. Assint. (2 caudas) |
,000 |
a. Wilcoxon
Signed Ranks Test |
|
b. Com base em postos negativos. |
Fonte: elaborado pela autora
4.3 Perfil Agressivo
Finalmente,
quando abordado o perfil Agressivo, vale ressaltar que a amostra que embasou
esta análise consistiu em um grupo composto por 9 respondentes. É de suma
importância enfatizar que, mais uma vez, os resultados obtidos através da
aplicação do teste de Wilcoxon permanecem consistentes em seu apontamento, com
um valor de p significativamente inferior a 0,05. Tal constatação reforça a
existência de uma distinção notável entre as avaliações de autoconfiança (NC) e
as avaliações independentes (IA), uma vez mais corrobora com a manifestação do
viés do Excesso de Confiança neste perfil de investidores. No que concerne ao
fenômeno do Excesso de Confiança, as conclusões obtidas para esse grupo merecem
uma análise cuidadosa. A identificação de um índice de 23% de Excesso de
Confiança entre os investidores classificados como Agressivos lança luz sobre
uma tendência que pode potencialmente influenciar de maneira significativa a
tomada de decisões de investimento.
Quadro 08: Estatística descritiva do
índice de acerto e nível de confiança de acerto para o perfil agressivo
|
N |
Média |
Desvio padrão |
Mínimo |
Máximo |
Índice de Acerto |
9 |
6,00 |
1,732 |
4 |
8 |
Nível de Confiança |
9 |
8,267 |
,1000 |
8,2 |
8,4 |
Fonte: elaborado pela autora
Quadro 09: Classificação do índice
de acerto e nível de confiança de acerto para o perfil agressivo
|
N |
Mean Rank |
Sum of Ranks |
|
Nível de Confiança - Índice de Acerto |
Negative Ranks |
0a |
,00 |
,00 |
Positive Ranks |
9b |
5,00 |
45,00 |
|
Ties |
0c |
|
|
|
Total |
9 |
|
|
|
a. Nível de Confiança < Índice de Acerto |
||||
b. Nível de Confiança > Índice de Acerto |
||||
c. Nível de Confiança = Índice de Acerto |
Fonte: elaborado pela autora
Quadro 10: Test Statistics do índice
de acerto e nível de confiança de acerto para o perfil agressivo
|
Índice de Confiança - Índice de Acerto |
Z |
-2,694b |
Sig. Assint. (2 caudas) |
,007 |
a. Wilcoxon
Signed Ranks Test |
|
b. Com base em postos negativos. |
Fonte: elaborado pela autora
A tabela 11, apresentada abaixo,
resume de forma concisa e informativa o viés do excesso de confiança que foi
observado em cada um dos perfis de investidores analisados ao longo deste
estudo.
Quadro 11: Excesso de confiança de acordo com cada perfil de
investidor
Perfil |
Excesso de Confiança |
Conservador |
16% |
Moderado |
23% |
Agressivo |
23% |
Fonte: Elaborado pela autora
Diante dos resultados, o perfil
agressivo e moderado apresentou o mesmo excesso de confiança de 23%. O perfil moderado apresentou um excesso de
confiança maior que o conservador, 23% para o moderado e 16% para o conservador.
O perfil conservador apresentou o menor excesso de confiança do que os demais,
16% para o conservador e 23% para o moderado e agressivo.
Foi realizado também um teste de
Kruskal-Wallis para amostras independentes pois a distribuição das amostras não
era normal. Comparou-se os perfis de investidores para verificar a existência
de diferença entre o Excesso de Confiança nos diferentes perfis.
Com base nos resultados obtidos,
constatou-se que tanto o perfil agressivo quanto o moderado manifestaram um
nível de excesso de confiança equivalente, alcançando um índice de 23%. Entre
esses perfis, não houve diferenciação significativa no tocante à prevalência
desse viés cognitivo.
Além disso, os resultados revelaram
que o perfil moderado exibiu um nível de excesso de confiança superior em
comparação ao perfil conservador, com um índice de 23% para o grupo moderado em
contraste com os 16% observados no perfil conservador. Por outro lado, o perfil
conservador se destacou por apresentar o menor grau de excesso de confiança
entre os perfis analisados, registrando uma incidência de 16%. Essa disparidade
de tendências entre os perfis ressalta a complexidade das atitudes de
investimento e o papel do excesso de confiança em moldar essas escolhas.
Em consonância com os procedimentos
estatísticos empregados neste estudo, foi conduzido um teste de Kruskal-Wallis
direcionado a amostras independentes. Essa abordagem se mostrou apropriada, uma
vez que a distribuição das amostras não atendia ao critério de normalidade. O
intuito desse teste foi examinar a presença de diferenças estatisticamente
significativas entre os perfis de investidores em relação ao fenômeno do
excesso de confiança. Por meio dessa análise estatística, buscou-se obter uma
compreensão mais profunda das nuances que podem ser subjacentes à manifestação
desse viés em diferentes contextos de investimento.
Figura 01: Resumo de testes de
Hipótese
Fonte: Elaborado pela autora
Os resultados ilustrados na Figura
01 evidenciam que a análise estatística culminou em um valor de p maior do que 0,05.
Essa constatação conduz à aceitação da hipótese nula, ressaltando que a
distribuição do Excesso de Confiança é comparável e consistente entre os perfis
distintos de investidores, a saber, conservador, moderado e agressivo.
5
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Os resultados da análise proporcionam insights valiosos sobre a presença
do excesso de confiança entre diferentes perfis de investidores. No perfil
conservador, o teste de Wilcoxon revelou uma diferença significativa entre a
autoavaliação (NC) e a avaliação independente (IA), com um valor de p inferior
a 0,05. A incidência de 16% de excesso de confiança nesse grupo sugere que
mesmo investidores conservadores podem apresentar viés de excesso de confiança.
A significância estatística indica que há uma diferença substancial entre como
esses investidores percebem suas habilidades (NC) e como são avaliados
objetivamente (IA).
No perfil moderado, semelhante ao conservador, a análise do teste de
Wilcoxon também revelou um valor de p significativamente inferior a 0,05. Esses
resultados apontam consistentemente para a presença latente do viés de excesso
de confiança nesse grupo, evidenciando uma distinção significativa entre as
avaliações de autoconfiança (NC) e as avaliações independentes (IA). A amostra
de 51 respondentes apresentou um índice de 23% de excesso de confiança.
No perfil agressivo, com uma amostra menor de 9 respondentes, os
resultados do teste de Wilcoxon também permaneceram consistentes, com um valor
de p significativamente inferior a 0,05. A constatação reforça a existência de
uma distinção notável entre as avaliações de autoconfiança (NC) e as avaliações
independentes (IA), corroborando novamente com a manifestação do viés de
excesso de confiança neste grupo de investidores. O índice de 23% de excesso de
confiança destaca uma tendência que pode influenciar significativamente as
decisões de investimento.
A análise geral, representada na Figura 01, ilustra que o valor de p foi
superior a 0,05, levando à aceitação da hipótese nula. Isso sugere que não há diferenças
estatisticamente significativas nas manifestações do excesso de confiança entre
os perfis conservador, moderado e agressivo. Esses achados reforçam a ideia de
que, independentemente do perfil de investidor adotado, o excesso de confiança
é um padrão observável. A presença generalizada do viés de excesso de confiança
destaca a importância de conscientização e educação financeira,
independentemente do apetite de risco do investidor.
6
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O
principal foco desta pesquisa foi a compreensão do fenômeno cognitivo conhecido
como "excesso de confiança", observado à luz dos diversos perfis de
investidores. O excesso de confiança, por sua vez, exerce um papel determinante
na tomada de decisões inadequadas no contexto dos investimentos, uma vez que
incita os indivíduos a superestimarem a extensão de seu próprio conhecimento.
Frequentemente,
o que inicialmente aparenta ser uma postura proativa em relação ao risco por
parte do indivíduo, na verdade, esconde uma insuficiente compreensão dos riscos
intrínsecos que estão sendo enfrentados. Os resultados obtidos pela pesquisa
sustentam que a prevalência do excesso de confiança se situa em 23% tanto para
o perfil moderado quanto para o perfil agressivo, enquanto para o perfil
conservador ela se encontra em 16%. Embora essa discrepância seja modesta,
merece destaque a constatação de que o excesso de confiança se manifesta de
forma diferenciada entre os perfis.
Todavia, é
notório que, ao submeter os dados ao teste estatístico de Kruskal-Wallis,
emergiu a percepção de que a presença do excesso de confiança pode ser
equiparada entre os três distintos perfis de investidores. Um elemento que pode
desempenhar um papel significativo nesse cenário é o contexto amostral, que
compreende estudantes do ensino técnico com foco em gestão. Nesse estágio
educacional, o entendimento em relação a investimentos e ao mercado é ainda
incipiente, o que pode refletir na similaridade na distribuição do excesso de
confiança entre os perfis.
Em última
análise, a confirmação da homogeneidade da distribuição do Excesso de Confiança
entre os perfis de investidores enfatiza a natureza persistente desse viés
cognitivo, independentemente das características individuais de tolerância ao
risco e propensão à ação de cada perfil. Esse resultado não apenas reitera a
relevância da educação financeira como um instrumento para conscientizar os
investidores sobre suas atitudes de avaliação e tomada de decisões, mas também
instiga a consideração de estratégias de mitigação do Excesso de Confiança que
abordem uma ampla gama de perfis de investidores.
Relativamente
às limitações intrínsecas deste estudo, merece destaque a consideração sobre o
número de respondentes. A despeito da obtenção de 162 respostas, quando essas
são distribuídas entre os diferentes perfis, a amostra em cada estrato acaba
por diminuir. Esse fator pode impactar na representatividade estatística e nas
generalizações.
Nesse
contexto, sugere-se que pesquisas futuras contemplem uma análise mais profunda
das variáveis demográficas dos respondentes e que se concentrem em investigar
investidores já ativos no mercado. Independentemente das limitações, as
conclusões aqui delineadas servem como um ponto de partida para a proposição de
pesquisas subsequentes, incitando uma investigação mais aprofundada no campo em
questão.
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