v.
7, n. 2, Maio-Agosto/2023 This work is licensed
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4.0 International License
ADMINISTRAÇÃO
FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA NO ENSINO MÉDIO COMO FERRAMENTA DE COMBATE AO
ENDIVIDAMENTO JUVENIL
Eduardo Miato Cardoso
eduardomiato9@gmail.com
https://orcid.org/0009-0005-2565-9295
http://lattes.cnpq.br/2847289354812164
Centro Universitário Serra
dos Órgãos
São José do Vale do Rio
Preto - RJ
RESUMO
O cenário global encontra-se em uma
fase econômica acelerada e como resultado, no cenário econômico nacional não é
diferente. Nos últimos anos, uma situação pode ser observada no Brasil: o
aumento significativo de participação dos jovens na economia, por meio do
aumento do poder de compra após a conclusão da última etapa da educação básica.
Porém, este fator tem provocado um efeito colateral nos jovens: o endividamento
financeiro. Tal situação pode ser justificada pela falta de conhecimento mínimo
sobre educação financeira. O objetivo deste estudo é analisar qual é o efeito
da falta de educação financeira e orçamentária no ensino médio e na
vulnerabilidade financeira que leva ao endividamento dos jovens. Esta pesquisa
apresenta conceitos de economia, endividamento e a legislação vigente para
contextualizar e fundamentar o estudo e, por conseguinte, a realização de uma
análise dos mapas de endividamneto do Serasa dos anos de 2021 a 2023 que mostra
como resultado um alerta: os jovens estão em rota de colisão. A Geração Z, não
consegue administrar a si mesma, e suas principais esperanças estão em uma
grade escolar ainda inexistente. Portanto, há uma necessidade imediata da
inserção da educação financeira como matéria obrigatória na grade comum
curricular das escolas para mudança deste cenário de inadimplência.
PALAVRAS-CHAVE: Administração;
Educação Financeira; Inadimplência; Endividamento.
FINANCIAL AND BUDGETARY ADMINISTRATION AS A TOOL IN
HIGH SCHOOL TO COMBAT YOUTH DEBT
ABSTRACT
The global scenario is in an accelerated economic
phase and, as a result, the national economic scenario is no different. In
recent years, a situation can be observed in Brazil: the significant increase
in the participation of young people in the economy, through the increase in
purchasing power after completing the last stage of basic education. However,
this factor has had a side effect on young people: financial indebtedness. This
situation can be justified by the lack of minimal knowledge about financial
education. The objective of this study is to analyze the effect of the lack of
financial and budget education in high school and the financial vulnerability
that leads to youth indebtedness. This research presents concepts of economy,
indebtedness and current legislation to contextualize and support the study
and, therefore, to carry out an analysis of Serasa's indebtedness maps from
2021 to 2023, which shows an alert as a result: young people are on a collision
course. Generation Z, cannot manage itself, and its main hopes are in a still
non-existent school grid. Therefore, there is an immediate need to include
financial education as a mandatory subject in the common curriculum of schools
to change this default scenario.
KEYWORDS: Administration;
Financial Education; Non-payment; indebtedness.
LA
ADMINISTRACIÓN FINANCIERA Y PRESUPUESTARIA EN ESCUELAS SECUNDARIAS COMO
HERRAMIENTA PARA COMBATIR EL ENDEUDAMIENTO JUVENIL
RESUMEN
El escenario mundial se encuentra en
una fase económica acelerada y, en consecuencia, el escenario económico
nacional no es diferente. En los últimos años, se puede observar una situación
en Brasil: el aumento significativo de la participación de los jóvenes en la
economía, a través del aumento del poder adquisitivo después de completar la
última etapa de la educación básica. Sin embargo, este factor ha tenido un
efecto secundario en los jóvenes: el endeudamiento económico. Esta situación se
puede justificar por la falta de conocimientos mínimos sobre educación
financiera. El objetivo de este estudio es analizar el efecto de la falta de
educación financiera y presupuestaria en la escuela secundaria y la
vulnerabilidad financiera que conduce al endeudamiento de los jóvenes. Esta
investigación presenta conceptos de economía, endeudamiento y legislación
vigente para contextualizar y sustentar el estudio y, por lo tanto, realizar un
análisis de los mapas de endeudamiento de Serasa de 2021 a 2023, que arroja
como resultado una alerta: los jóvenes van en rumbo de colisión . La Generación
Z, no puede valerse por sí misma, y sus principales esperanzas están en una
grilla escolar aún inexistente. Por lo tanto, existe una necesidad inmediata de
incluir la educación financiera como materia obligatoria en el currículo común
de las escuelas para cambiar este escenario predeterminado.
Palabras clave: Administración; Educación financiera; Por
defecto; endeudamiento.
Submetido:
14/03/2023
Revisões
Requeridas: 31/07/2023
Aceito:
16/08/2023
Publicado:
31/08/2023
A
Educação Financeira (EF) é um tema relativamente novo no Brasil. Hill (2009) o
define como a habilidade que os indivíduos apresentam de fazer escolhas
adequadas ao administrar suas finanças pessoais durante o ciclo de vida.
Segundo Cordeiro, Costa e Silva (2018), diariamente as pessoas são confrontadas
com situações que de alguma forma exigem conhecimentos financeiros. Dessa
forma, tal ensinamento de gestão de finanças é visto como o processo pelo qual
os indivíduos melhoram a compreensão dos conceitos a respeito dos produtos
financeiros, de modo que com informação e orientação, adquirem as competências
necessárias para se tornarem conscientes das oportunidades e dos riscos
envolvidos ao fazer escolhas (OECD, 2005).
A prática
de educação financeira deveria ter origem na família e seu ensinamento ter
início em casa desde os primeiros anos de vida da criança, até o seu
crescimento, através da mesada e do dinheiro para o lanche, pois os
ensinamentos familiares são ordenados em estruturas que perduram ao longo de
muito tempo, mesmo ainda que sofra oscilações de influência. Porém, exigir tal
responsabilidade de ensino da família causa uma vulnerabilidade econômica onde
se identifica uma urgência social, tendo vista possuírem necessidades urgentes
como alimentação, saneamento básico e vestuário, que ocupam o primeiro lugar,
fazendo com que não encontrem meios e nem se sintam seguras de entrarem em um
sistema financeiro formal e não é devido a isso que não precisam de tais conhecimentos,
ao contrário, devem ser priorizadas de modo a converter sua realidade econômica
(BADER E SAVÓIA, 2013).
Para
Barros (2010), “a tensão entre o desejo de ascensão social e profissional a
partir do aumento de grau de escolaridade e a manutenção de padrões
socioculturais [...] se apresenta como uma entre as múltiplas e diferenciadas
experiências de transição para a vida adulta”. Conforme elucidado pelo autor, a
solução para ter uma mudança de cenário da falta de conhecimentos no que tange
ao mundo financeiro, de modo que os jovens possam promover mudanças na
estrutura de sua família presente e constituição de uma nova família futura em
questões financeiras, é ser lhes proporcionado uma base educacional sólida.
Ora, esse ensinamento não tem sido repassado pelas instituições de ensino
brasileira?
Embora a
grande necessidade da inclusão do ensino de educação financeira como disciplina
obrigatória, principalmente no ensino médio, última fase da educação básica, de
modo a preparar tais jovens para o mercado financeiro, nota-se que esse ensino
tem sido ausente. Somente em 22 de dezembro de 2010 foi instituída por decreto
presidencial n.º 7.397 a Estratégia Nacional de Educação Financeira (Enef), que
tem como objetivos: promover a educação financeira e previdenciária e aumentar
a capacidade do cidadão para realizar escolhas conscientes sobre a
administração dos seus recursos, contudo, tal projeto não trouxe a inserção do
assunto na grade curricular das escolas, mantendo os jovens em deficit de
inclusão do tema.(BRASIL, 2010).
Até
então, as políticas públicas e diretrizes do Ministério da Educação - MEC não
incluem a educação financeira como requisito necessário para o desenvolvimento
da população na sua vida adulta e isso causa um grande prejuízo na vida dos
jovens, pressupondo que a base multidisciplinar adquirida durante a vida
escolar seja suficiente para que todos tenham conhecimento e habilidade para
administrar seus rendimentos e despesas, se tornando contraditório, ao observar
o crescente número de endividamentos no Brasil (SAVÓIA; SAITO; SANTANA, 2007).
Uma
pesquisa realizada pelo SERASA, mostrou o cenário de endividamento no país e
revelou que dentre os altos números de inadimplentes, uma parcela de 12,4% é
corresponde a tão popular Geração Z, classificada por jovens de 18 a 25 anos.
Vale ressaltar que 9% dos entrevistados pelo órgão de Centralização de Serviços
dos Bancos alegam estar em tal situação de dívida por não ter conhecimento
financeiro (SERASA, 2023).
Os
fatores motivadores deste estudo justificam-se dada à relevância da temática
que envolve a educação financeira na educação básica, uma vez que os jovens têm
as suas vidas afetadas pela falta de conhecimento que esperam conseguir nas
escolas e colégios e também por tratar-se de um tema atual nos meios
governamentais e acadêmicos. Logo, o estudo sustenta-se sobre a seguinte
questão: qual é o efeito da falta de educação financeira no ensino médio e na
vulnerabilidade financeira que leva ao endividamento dos jovens?
A
presente pesquisa não almeja esgotar todas as implicações que envolvem, mas
contribuir para o fomento de estudos acerca das teorias citadas, principalmente
ao demonstrar a relação da educação financeira na propensão ao endividamento e
seus antecedentes. Ademais, com os resultados encontrados poderão ser
desenvolvidas ações visando a construção de técnicas que auxiliem os jovens no
controle eficaz de seus recursos financeiros até que a solução definitiva seja
tomada por parte do governo na inserção do estudo nas escolas.
O texto
fica, portanto, apresentado na seguinte estrutura: 1) esta Introdução ao tema,
aqui exposta, onde se ressalta a importância e a relevância do estudo; 2)
apresentação do Referencial Teórico; 3) descrição dos métodos utilizados para
compor o estudo; 4) Discussão dos resultados, onde os mesmos são mostrados e
analisados; 5) Considerações Finais, onde foi feito observações adicionais
sobre percepções da pesquisa, além da indicação de possíveis caminhos a
percorrer e; referências, com a apresentação dos textos e dos autores
pesquisados neste estudo.
2 FUNDAMENTAÇÃO
TEÓRICA
O referencial teórico tem como base de
análise e fundamentação para a elaboração de resultado dois pilares. São eles:
a) Importância da educação financeira, que abordará a sua relevância no ensino;
e, b) Como a educação financeira é realizada no Brasil, que apresentará a forma
que este estudo está sendo inseridos nas escolas e colégios.
2.1 IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA
O tema educação financeira ganha um
cenário de destaque ao longo dos anos e despertado a atenção dos governos,
instituições financeiras, organizações não governamentais e acadêmica. Por
definição de educação financeira, Hill (2009, p. 25) afirma que é:
a habilidade que os indivíduos apresentam de fazer escolhas adequadas ao
administrar suas finanças pessoais durante o ciclo de vida, por isso, é
compreendida como as competências adquiridas pelos indivíduos para compreender
os conceitos financeiros básicos e para saber como e onde encontrar as
informações apropriadas, e como usá-las.
Uma boa administração financeira tem origem na
família e se inicia o seu ensinamento em casa desde os primeiros anos de vida,
porque “é importante que elas saibam o valor do dinheiro em relação ao trabalho
e o consumo deve vir após as necessidades básicas” (D'Aquino & Cerbasi,
2008, p. 16). O ideal seria que fosse desenvolvido nos lares começando na
infância, desde a mesada dos pais, o presente de natal em dinheiro do avô, e
até mesmo compra do lanche na cantina da escola, pois nossas relações com as
finanças pessoais estão muito ligadas à nossa estrutura familiar.
Neste panorama, é necessário esclarecer com
maior precisão como essas gerações se interagem e comunicam. Segundo Scott
(2010, p. 253), “gerações históricas são percebidas pelas perspetivas de tempos
em transformação; e gerações de parentesco e de família são ordenadas em
estruturas que perduram, mesmo se sujeitas a oscilações”. O exemplo em casa
para a estabilidade financeira pessoal mostra-se como um grande aliado na
construção de indivíduos com racionalidade de gastos e filosofia de poupança.
Contudo, os cenários ficam desiguais
educacionalmente quando se trata de pessoas e famílias que vivem em situação de
miséria ou de muita dificuldade financeira, sendo praticamente impossível esse
ensino, devido as suas limitações de recursos. Tal fator não pode ser um
limitador a fazer com que uma classe social esteja fadada à ausência do meio
educacional, ao contrário, deve ser priorizada de modo a converter sua
realidade econômica.
Tais fatos se confirmam no pensamento
de Bader e Savóia (2013, p. 21):
pessoas e famílias que vivem em situação de miséria acabam apresentando
tamanhas necessidades urgentes – tais como alimentação, saneamento básico,
habitação, mínimo de infraestrutura – que as suas necessidades de inclusão
financeira ficam em segundo plano. Nesse caso, é possível, até mesmo, que haja
receio e sensação de insegurança em entrar no sistema financeiro formal, por
falta de conhecimento e de confiança em um sistema no qual, muitas vezes, não
há contato físico com o dinheiro. Neste cenário, educação financeira é
absolutamente indispensável.
Por conseguinte, consoante o elucidado
pelos autores, a partir do momento em que uma criança conseguir receber uma educação
financeira que não é possível receber em seu lar, ela estará apta a quebrar o
paradigma de sua casa, influenciando-a com seus aprendizados adquiridos e essa
nova forma de visão financeira passará a mudar a futura família que constituir,
criando uma geração com maior controle financeiro de seus ganhos e despesas.
Dessa forma, a solução para mudar essa situação de falta de conhecimentos no
que tange ao mundo financeiro, os jovens precisam ter uma base educacional
sólida para que a estrutura de sua família presente e constituição de uma nova
família futura mude.
Entretanto, no Brasil ainda não se verifica
uma forma de educação relacionada a controle pessoal financeiro que esteja
integrada aos currículos escolares. Porém, observam-se avanços, como, por
exemplo, a Estratégia Nacional de Educação Financeira, instituída pelo decreto
nº. 7.397/2010, na qual se identifica uma política pública que visa promover a
educação financeira e previdenciária, aumentar a capacidade do cidadão para
realizar escolhas conscientes sobre a administração dos seus recursos e
contribuir para a eficiência e a solidez do mercado financeiro, de capitais, de
seguros, de previdência e de capitalização, fazendo com que ao término do ciclo
básico de educação, esses jovens estejam preparados para serem inseridos no
mercado financeiro e terem maior controle de decisões que tomarem (BRASIL,
2010).
Tal medida foi criada como resposta ao
crescente número de inadimplência no Brasil. E o cenário atual não difere,
jovens com enormes dificuldades em administrar seu orçamento, suas dívidas e
adquirir bens, além dos fatores estruturais, macro e microeconômicos que
contribui para a inadimplência e endividamento (MACEDO JR., 2007) e isso, está
vinculado ao acesso facilitado da oferta de crédito, da evolução e da
complexidade dos produtos e serviços financeiros (AUGUSTINIS, COSTA, &
BARROS, 2012). Diante dessas limitações, as evidências são de que os indivíduos
com maior nível de conhecimento tendem a ter um comportamento financeiro mais
responsável, ao demostrarem uma maior capacidade de realizar orçamento pessoal,
poupar e planejar seus gastos. Evitando que ao entrar no mercado financeiro se
percam em seus gastos e acabem entrando no cadastro de inadimplentes. (LUSARDI
& MITCHELL, 2010; AUGUSTINIS, COSTA, & BARROS, 2012).
Alguns dos principais benefícios que a
educação de administração financeira pode proporcionar, serão:
Figura 1 – Benefícios educação financeira e orçamentária
Fonte: Autoria (2023).
2.2 COMO A EDUCAÇÃO FINANCEIRA É REALIZADA NO BRASIL
A preocupação com a educação financeira
vem crescendo em todo o mundo, abrindo-se espaços crescentes para estudos sobre
o tema. Não existe uma unanimidade que essas ações tenham um alto grau de
aceitação e penetração em todas as classes e fatias da sociedade, porém, é
indiscutível que o assunto não pode ser abandonado ou negligenciado no
planejamento público e privado para a sociedade (SAVÓIA; SAITO; SANTANA, 2007).
Por meio da análise da grade escolar da
educação básica (ensino fundamental, ensino médio e técnico), nota-se a
ausência de qualquer tema ou matéria relacionado à educação financeira pessoal.
Até agora, as políticas públicas e diretrizes do MEC não incluem a educação
financeira como requisito necessário para o desenvolvimento da população na sua
vida adulta e isso causa um grande prejuízo na vida dos jovens, pressupondo que
a base multidisciplinar adquirida durante a vida escolar seja suficiente para
que todos tenham conhecimento e habilidade para administrar seus rendimentos e
despesas (SAVÓIA; SAITO; SANTANA, 2007).
Segundo Banco Central do Brasil (2013),
o Governo Federal Brasileiro instituiu por meio do decreto nº 7.397, de 22 de
dezembro de 2010, a ENEF, cuja finalidade é promover a educação financeira,
securitária, previdenciária e fiscal no País. Tal iniciativa foi renovada pelo Decreto Federal nº 10.393, de 9
de junho de 2020,cuja motivação é contribuir para o fortalecimento da cidadania
ao fornecer e apoiar ações que auxiliem a população a tomar decisões
financeiras mais autônomas e conscientes. A nova ENEF reúne representantes de 8
órgãos e entidades governamentais, que juntos integram o Fórum Brasileiro de
Educação Financeira – FBEF.
Porém, tais iniciativas não fazem com
que os alunos, inclusive do ensino médio, que estão perto de iniciar sua
jornada em direção à vida adulta, tenham em sua grade curricular uma matéria
exclusiva e obrigatória que ensine as noções e conceitos de educação
financeira. Tendo apenas os programas transversais que incluem o assunto em
outras matérias, que o resultado é o baixo aproveitamento e eficácia do
assunto.
Em consonância com o supracitado,
Saito, Savoia e Petroni (2006, p. 7) afirmam que o currículo escolar não prevê
a:
[...] obrigatoriedade da Educação Financeira no sistema de ensino, o
Ministério da Educação (MEC) elenca um conjunto de parâmetros e de orientações,
focados na contextualização do ensino, de forma que os alunos sejam submetidos
a um processo de aprendizagem apoiado no desenvolvimento de competências para
sua inserção na vida adulta, mediante a multidisciplinaridade, e o incentivo do
raciocínio e da capacidade de aprender. Dentre estas recomendações e
parâmetros, podem ser destacados os aspectos relacionados ao ensino de
matemática que deveria oferecer, segundo o MEC (2000 a.2000b): -Capacidade de
leitura e interpretação de textos com informações, apresentadas em linguagem
matemática, de artigos com conteúdo econômico; -Habilidade de analisar e julgar
os cálculos envolvidos nos juros das vendas a prazo, e nas probabilidades de
sorteios ou de loterias; -Compreensão de que a matemática se relaciona com
demais campos de conhecimento, como a Economia, além de utilizá-la para
promover ações de defesa de seus direitos como consumidor. Estas orientações
acima são consequências da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(9.384/96), mas não demonstram explicitamente a preocupação do MEC com a
inserção da Educação Financeira no ensino.
.
Tendo em vista tal demanda, em 17 de
outubro de 2021, o MEC, em parceria com a Comissão de Valores Mobiliários
(CVM), lançou o Programa Educação Financeira nas Escolas. A iniciativa visa
capacitar professores das redes pública e privada de todo o Brasil, oferecendo
formação gratuita sobre educação financeira para que a mesma seja inclusa em
sala de aula, porém a iniciativa de ter professores especializados em
disciplinas independente e obrigatórias continua longe de acontecer (BRASIL,
2022).
Grando e Schneider (2011), insistem no
importante papel das escolas na preparação dos alunos para a vida financeira
adulta. A valorização desse tema nos currículos escolares certamente podem
evitar a inserção de mais pessoas na lista do endividamento, além de tornar os
cidadãos economicamente responsáveis. E para mudar a situação, o ideal seria
começar com a inserção do conhecimento no ensino médio, para preparar os jovens
que já estão finalizando o seu ciclo básico de educação, de modo que tenham uma
noção mínima para iniciar a correção educacional e reversão do quadro de
endividamento, até que o estudo seja inserido na educação fundamental das
crianças e o ensino comece na base.
À luz do incentivo educacional, Savoia,
Saito e Santana (2007) propuseram uma série de ações para inserção da EF no
Brasil, dentre elas: inserir a educação financeira nos programas de todos os
níveis de ensino; incentivar a cultura de poupança na população; e desenvolver
os conceitos de crédito, investimento e consumo por meio de escolas,
universidades, mídia e outros setores.
Neste panorama, a educação financeira
se torna indispensável, pois dentro desse ambiente, escolhas ruins podem gerar
altos gastos com juros e taxas em relação aos ganhos que navegam em patamares
muito mais baixos. A introdução desse conhecimento deve ser feita com a maior
brevidade possível, seja no interior das escolas ou no interior das residências
de famílias brasileiras. Somente com uma população atuante no mercado
financeiro e atento aos movimentos da economia nacional os ventos que movem a
economia nacional se manterão favoráveis.
3
METODOLOGIA
O presente estudo se trata de uma
revisão integrativa, definida como aquela que condensa pesquisas anteriores,
trazendo conclusões globais de um corpo de literatura específica, permitindo a
construção de análise ampla e contribui para discussões sobre métodos e
resultados de pesquisa. Optou-se por
esse método por permitir uma análise de estudos com delineamento metodológico
diversos, com grande potencial em desempenhar um importante papel, na prática
de pesquisa (POLIT & BECK, 2006).
Para atingir o objetivo estabelecido, a
pesquisa realizada tem como caráter predominante, a pesquisa exploratória de
caráter qualitativo, de acordo com Farias Filho e Arruda Filho (2013) a
pesquisa qualitativa, provem de uma visão entre o mundo real e o pesquisador,
interpresar os fenômenos e atribuir significados a eles são os principais
pontos nesse tipo de pesquisa, pois proporcionará mais informações sobre o
assunto a ser tratado, possibilitando maior definição e delineamento.
Foram percorridas fases para a
elaboração deste estudo como a elaboração da pergunta norteadora, busca na
literatura, coleta de dados, análise dos achados. Foi usado para análise os
dados estatísticos de todos os mapas de endividamento das Pesquisa Endividamento
realizadas e publicadas pela Serasa que teve inicio em maio de 2021 até junho
de 2023, período de termino das análises deste estudo e, consecutivamente
feito, discussão dos resultados e apresentação da vigente pesquisa.
4 ANÁLISE
E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
4.1 O IMPACTO EDUCACIONAL ATRAVÉS
DE PESQUISAS DO SERASA
Em maio de 2021, o SERASA, mostrou uma
pesquisa do cenário de endividamento no país e revelou que parcela dos
entrevistados inadimplentes foram jovens de até 25 anos, representando uma
parcela de 12,4%. A pesquisa ainda revelou que das pessoas que conseguiram
negociar suas dívidas, somente 20% são representados por jovens de 18 a 25 anos
(SERASA, 2023).
Concomitante a isto, uma pesquisa mais
preocupante realizada também pelo SERASA, em parceria com a OPINION BOX,
divulgou no ano de 2021 seu levantamento anual sobre o perfil do brasileiro
endividado. A pesquisa analisou o endividamento nos últimos 12 meses e contou
com a participação de 6.646 pessoas entrevistadas no período de 04/10/2021 a
14/10/2021. Tratando as informações para a finalidade da vigente pesquisa, 25%
das pessoas entrevistadas foram jovens de 18 a 30 anos (SERASA, 2023).
A pesquisa
revelou que 9% dos entrevistados afirmam que o motivo de estarem endividadas é
por não terem controle de seus gastos. Ademais, foi analisado o motivo dos
endividamentos, tendo por principais, gastos em cartão de crédito e lojas.
Abaixo será mostrado mediante as imagens o percentual da participação dos
jovens de até 30 anos em cada motivo (SERASA, 2023).
Figura 2 – 1º lugar em gastos - SERASA
Fonte: Autoria (2023).
Figura 3 – 2º lugar em gastos - SERASA
Fonte: Autoria (2023).
É notório, a relevância do crescente
percentual de jovens no índice de endividados, mostrando ainda motivos com
percentual considerável que se deve à falta de controle de seus gastos. Vale
ressaltar que independente dos outros motivos, tal motivo expresso é a base
para que a maioria dos outros se desenvolvam, pois quando é ensinado aos jovens
noções básicas de educação financeira na construção da sua base educacional,
isso faz com que aprendam aonde devem destinar seus gastos e, além disso, ter
conhecimento de diversos fatores atrelados aos seus gastos, como juros,
inflação e valor do dinheiro ao longo do tempo, principalmente para jovens com
baixas condições financeiras.
Vale ressaltar que as ausências de tais
conhecimentos estão diretamente ligadas aos principais meios de gastos que são:
cartão de crédito e lojas. Apesar de ser usado para diversas emergências, o uso
do cartão de crédito e a compra em loja, quando se trata de jovens, os mesmos
estão diretamente ligados em sua maioria a gastos banais relacionados ao
consumismo e ignorância educacional. Além disso, segundo a pesquisa “Vivendo 80
semanas na vida do jovem brasileiro” da Agência B2 (2014), 24% dos jovens brasileiros
tem o perfil compulsivo de consumo. Outro dado da mesma pesquisa é que apenas
60% tem a preferência por pagar suas compras à vista, o restante tem por opção
outras diversas maneiras de crédito na hora de praticar o consumo (CABRAL BRAZ,
2019).
Todavia, um jovem com uma base sólida,
sendo educado e preparado com conhecimentos de conceitos e práticas de educação
financeira aderidos à base curricular da etapa final da educação básica, tende
a mudar todo esse cenário de endividamento na juventude e futuramente na classe
adulta, até mesmo porque jovens educados e disciplinados hoje, serão os adultos
de sucesso financeiro no futuro.
Por conseguinte, esse efeito cascata da
falta de conhecimento financeiro voltou como esperado no ano de 2022, contudo,
em proporções ainda maiores. O levantamento de agosto de 2022 da Serasa
Experian mostra que inadimplência atinge recorde de 68 milhões de pessoas. Em
relação à faixa etária, a geração Z, formada por jovens de até 25 anos,
representa 22% do total e, por conseguinte, consumidores de 30 a 40 anos
lideraram com 30% (JANONE; ARAÚJO, 2022).
Os dados apontam também que a faixa
etária mais jovem (18 a 25 anos) foi a que mais cresceu em inadimplência na
comparação entre maio de 2021 e maio de 2022. A alta foi de 10,75%, passando de
7,73 milhões para 8,56 milhões de negativados como demonstra a Figura 4, com os
dados extraidos das pesquisas do Serasa do período supracitado, demostrando o
crescimento da participação juvenil neste cenário de crise (SERASA, 2023).
Figura 4 – Endividamento de jovens de 18 a 25 anos - 2021 a 2022
Fonte: Autoria (2023).
Tendo em vista o cenário de aumento do
cenário exposto e do recorde de agosto/2022, Luiz Rabi, economista da Serasa
Experian, afirma que a alta de negativados não surpreende, “é um cenário
esperado, uma vez que a situação econômica do país ainda é de muita
instabilidade, com a inflação, taxa de juros e os níveis de desemprego em
alta”, afirma o especialista (CORSINI; ARAÚJO, 2022).
O que contradiz os dados do Novo
Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) que demostra um
crescente número de novos empregos no Brasil em agosto de 2022, quando o
levantamento do Serasa foi realizado, como expõe a Tabela 1, com os dados do
Governo Federal através do Programa de Disseminação das Estatísticas do
Trabalho (PDET) (BRASIL, 2023).
Tabela 1: Acumulado do ano de 2022 até o mês de
agosto
ADMISSÕES |
15.653.839 |
DESLIGAMENTOS |
13.800.541 |
NOVAS POSTOS DE TRABALHO |
1.853.298 |
VARIAÇÃO % |
4,56 |
Fonte: Autoria (2023).
Ademais, até o final do ano em questão as novas
oportunidades de emprego continuaram a crescer como mostra a Tabela 2, com os
dados do Governo Federal através do PDET. (BRASIL, 2023)
Tabela 2: Acumulado do ano de 2022 até dezembro
ADMISSÕES |
22.648.395 |
DESLIGAMENTOS |
20.610.413 |
NOVAS POSTOS DE TRABALHO |
2.037.982 |
VARIAÇÃO % |
5,01 |
Fonte: Autoria (2023).
Por conseguinte, análise do mapa de
inadimplência no Brasil divulgada em dezembro do mesmo ano, 2022, os números
continuaram crescendo, com uma alta de mais de 1,5%, atingindo o valor de 69,43
milhões de pessoas que não conseguiram honrar com suas dívidas. O que
diferencia da pesquisa analisada de agosto do mesmo ano é que na pesquisa de
dezembro o número de jovens de até 25 anos diminui para 12,5% do total de
pessoas. Tal queda pode ser justificada a baixa inserção de novos jovens no
cadastro de devedores, uma vez que houve a queda de renegociação de dívidas, o
que não justiça tal cenário. Em agosto, o número era de 21,52% e, em dezembro
caiu para 16,12% os jovens que optaram pela renegociação de dívidas. (SERASA,
2023)
Ressalta-se que as dívidas que mais
representam as pessoas estarem nesse cenário são as dívidas de cartão de
crédito que passaram a representar 28,70%, seguido das utilidades básicas que
representa 22,25% (SERASA, 2023). O que cabe trazer o pensamento de Pedro Lima,
economista, que diz a respeito do consumo descontrolado e irresponsável por
parte dos jovens ao afirmar que:
a relação entre essa falta de
conhecimento sobre questões financeiras e o alto índice de inadimplência no
público jovem não é mera coincidência. Muitas vezes acompanhada de maus
exemplos na infância, do acesso ao crédito facilitado e da novidade de
administrar o próprio orçamento, a dificuldade de organizar as finanças acaba
levando os jovens a serem mais vulneráveis ao endividamento (MEU ACERTO, 2023).
Por fim, a última análise de dados
deste estudo é referente a sintese dos levantamentos de dados realizado também
pelo Serasa ao longo de janeiro a junho de 2023. Em primeiro plano vale
ressaltar, que o nível de endividamento bateu novo recorde em maio, atingindo
71,90 milhões de pessoas, uma variação de 3,56% a mais que o mês de dezembro do
ano de 2022. A maioria alegam não terem conhecimento algum de controle de seus
gastos.
Ainda com relação aos seis primeiros
meses de 2023, os jovens da Geração Z representaram uma média de 29,17% do
total de inadimplentes das pesquisas, acarretando em um novo aumento
descontrolado que podia ser freado pela educação financeira, através da ´´difusão
e expansão de conhecimentos de Educação Financeira que certamente atuam
positivamente, facilitando processos de entendimento e pagamento de dívidas``,
como afirma Valéria Meirelles, Psicóloga do Dinheiro (SERASA, 2023).
Vale ressaltar que tal cenário mais uma
vez não está ligado ao indíce de desemprego, pois no primeiro semestre de 2023
o Brasil fechou com um saldo positivo de 1.023.540 milhão de empregos formais
criados, como mostra a Tabela 3, com os dados do Governo Federal através do
Programa de Disseminação das Estatísticas do Trabalho (PDET) (BRASIL,
2023).
Tabela 3: Acumulado do primeiro semestre de
2023
ADMISSÕES |
11.907.777 |
DESLIGAMENTOS |
10.885.237 |
NOVAS POSTOS DE TRABALHO |
1.023.540 |
VARIAÇÃO % |
2,41 |
Fonte: Autoria (2023).
Em suma, na figura 5 será demostrado de
modo simplificado os resultados das pesquisas expostas com relação à
representatividade de jovens no cenário de cadastro de devedores divulgados
pelo Serasa e suas respectivas renegociações no período de janeiro a junho de
2023.
Figura 5 – Endividamento de jovens de 18 a 25 anos - 2023
Fonte: Autoria (2023).
Conforme exposto, os índices de
endividamento juvenil pela falta de educação financeira na grade curricular
como matéria obrigatória ocasiona os crescentes índices de endividamento no
país ao longo dos anos, com recorde em agosto de 2022, onde os jovens ocuparão
22% do total de inadimplentes, seguido da queda de renegociações de dívidas,
onde o índice chegou a 12,5% em dezembro de 2022. Evidenciando, desta maneira,
que “adotar decisões de crédito, investimento, proteção, consumo e planejamento
que proporcionem uma vida financeira mais sustentável gera impactos não só na
vida de cada um, como também no futuro do nosso país”, reforçando a ideia de
que os funcionamentos do país dependem das opções individuais de cada cidadão,
inclusive dos jovens (BRASIL, 2023).
5
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Cabe trazer a conclusão a luz da
pergunta que objetivou o estudo: qual é o efeito da falta de educação
financeira no ensino médio e na vulnerabilidade financeira que leva ao
endividamento dos jovens? E, após a análise de mapas de endividamento do Brasil
apresentado pela Serasa, empresa privada que se consolidou como uma referência
em análises e informações para decisões de crédito, chegou se a conclusão de
que os jovens estão em uma rota de colisão, seguidos por um rastro de dívidas
que só cresce no país, acompanhado do crescimento em igual proporção de suas
respectivas participações neste cenário.
A única saída para mudança é a inserção
da disciplina de educação financeira na grade escolar obrigatória, inserida na
base comum curricular, coisa que ainda é inexistente. Psicólogos, economistas e
escritores alegam que a educação financeira é a única forma de mudança, uma vez
que a maioria das famílias não possui ferramentas para transmitir tal
conhecimento e a educação através dos jovens poderia inclusive mudar essa falta
de conhecimento familiar e consecutivamente mudanças na economia do país, uma vez
que o funcionamento do mercado e do país dependem das opções individuais.
Dessa forma, para haver a mudança de tal quadro, é essencial promover
educação financeira, garantindo os entendimentos sobre planejamento, consumo,
fluxo de caixa, juros compostos, carências, taxas e parcelamentos, coeficientes
de financiamento em todo espaço educacional, tendo um ganho significativo não
somente na estrutura da renda familiar, mas também no mercado que se tornará
competitivo com qualidade nos serviços e produtos, ou seja, um fortalecimento
ao ciclo produtivo do país. (JUNIOR; CLARO, 2013)
As atividades financeiras realizadas
hoje deveriam ser precedidas de uma boa Educação Financeira por parte do
cidadão, de forma que este não simplesmente conheça apenas o algebrismo de cada
operação, mas algo mais amplo como o manuseio e manutenção corretos do
dinheiro, ter consciência da importância de guardá-lo, gozar de uma caderneta
de poupança, dispor do hábito de fazer orçamento, entender minimamente de
investimento, dentre outras coisas. (CORDEIRO, COSTA E SILVA, 2018)
Mas enquanto isso não acontece, a
conclusão que se pode afirmar, caso não haja uma mudança em curto período, é que
a atual geração não consegue administrar a si mesma, e suas principais
esperanças estão em uma grade escolar ainda inexistente.
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