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6, n. 2, Maio-Agosto/2022 This work is licensed
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4.0 International License
INFLUÊNCIA DA PROPAGANDA
TELEVISIVA DE ALIMENTOS NO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR INFANTIL
Danilo Moraes de Oliveira
http://lattes.cnpq.br/4729765425785555
https://orcid.org/0000-0001-9918-9277
Instituto Federal de Mato Grosso do Sul - IFMS
Campo Grande/MS
Wilson Ravelli Elizeu Maciel
http://lattes.cnpq.br/8868052729993288
https://orcid.org/0000-0001-7165-3592
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS
Corumbá/MS
Arthur Caldeira Sanches
http://lattes.cnpq.br/6626640798707862
https://orcid.org/0000-0003-0859-5574
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS
Três Lagoas/MS
Yasmin Gomes Casagranda
http://lattes.cnpq.br/4888412515903604
https://orcid.org/0000-0001-9363-9716
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS
Naviraí/MS
Resumo
O tipo de mídia mais
comum usado para atingir o público infantil é a televisão, e é por este meio
que as empresas procuram conquistar mais consumidores infantis e conservá-los
fiéis à marca, principalmente no que diz respeito a alimentos, sendo este o
campo de estudo da presente pesquisa, a qual teve por objetivo identificar os
fatores determinantes da influência da propaganda televisiva de alimentos no
comportamento do consumidor infantil. Para tanto, foi conduzida uma pesquisa
empírica, de caráter quantitativo-descritivo, com 283 crianças, de ambos os
sexos, com idade entre 7 e 11 anos, devidamente autorizadas a responder um
questionário estruturado adaptado para crianças. Para a análise dos dados foi
utilizada Estatística descritiva, Teste Qui-quadrado e Regressão Logística
Binária. Através destes, foi possível a criação de um modelo estatístico, que
que revela que, quanto mais as crianças concordam que a propaganda na televisão
tem intenção de persuadir, mais elas podem ser influenciadas por esse tipo de
mídia; também, quanto mais as crianças concordam que a propaganda na televisão
tem intenção de entreter, mais a propaganda as influencia e; quanto maior o
desejo evidente de compra após assistir à propaganda, mais a criança pode ser
influenciada.
Palavras-chave: Propaganda televisiva de alimentos; Influência
da propaganda; Consumidor infantil.
INFLUENCE
OF FOOD TV ADVERTISING ON CHILD CONSUMER BEHAVIOR
Abstract
The
most common type of media used to reach children is television, and it is
through this that companies seek to win more children's consumers and keep them
loyal to the brand, especially with regard to food, which is the field of study
of the present research, which aimed to identify the determining factors of the
influence of television food advertising on child consumer behavior. For this
purpose, an empirical research of a quantitative-descriptive nature was
conducted with 283 children, of both sexes, aged between 7 and 11 years, duly
authorized to answer a structured questionnaire adapted for children. For data
analysis, descriptive statistics, chi-square test and binary logistic
regression were used. Through these, it was possible to create a statistical
model, which reveals that the more children agree that television advertising
is intended to persuade, the more they can be influenced by this type of media;
also, the more children agree that television advertising is intended to be
entertaining, the more advertising influences them and; the greater the evident
desire to buy after watching the advertisement, the more the child can be
influenced.
Keywords:
Food TV advertisement; Advertising
influence; Child consumer.
Submetido: 04/02/2022
Revisões Requeridas:
30/04/2022
Aceito: 31/05/2022
Publicado: 31/08/2022
1.
INTRODUÇÃO
Conforme McNeal (1999),
o marketing percebe a influência da criança nas compras da família, entretanto,
além de influenciar estas, as crianças formam um novo mercado, que está além
dos gastos dos pais com as crianças, abrangendo também o grupo composto por
crianças que compram bens e serviços para seu próprio uso e satisfação. No
Brasil, o mercado infantil é constituído por crianças desde as recém-nascidas
até as que têm 12 anos incompletos, a partir de quando passam a ser
consideradas como adolescentes (BRASIL, 1990).
Porém, o mercado
infantil não foi sempre levado em consideração. A participação da criança como
consumidora desenvolveu-se ao longo de anos na história da sociedade. Segundo
Karsaklian (2004), na Idade Média, as crianças eram consideradas homens e
mulheres menores, e eram tratadas não com muito mais cuidado do que os animais
domésticos, além de se afastavam dos pais muito cedo. Entre os séculos XV e
XVI, pais e filhos passaram a ter um relacionamento afetivo mais próximo, e a
criança foi reconhecida como diferente do adulto. No século XVII, esse
reconhecimento ficou mais acentuado, mas somente no século XIX a criança ganhou
espaço no centro das atenções dos pais e conquistou atenção específica das
empresas.
Conforme apontam Veloso,
Hildebrand e Campomar (2012), o surgimento e desenvolvimento da televisão na
segunda metade do século XX fizeram com que valores como imediatismo,
egocentrismo e autogratificação ganhassem força na sociedade, assim, tirando
proveito da disseminação de valores basicamente hedônicos, os profissionais de
marketing e as empresas buscaram criar e desenvolver produtos para o mercado
infantil, fazendo dessa segunda metade do século diferente da primeira, quando
os produtos eram geralmente apenas adaptados do mundo adulto para as crianças, e
não elaborados especialmente para elas.
Assim, a criança como
consumidora adquiriu importância e tornou-se alvo de estratégias das empresas
que procuravam vender seus produtos. Conforme McNeal (1999), alguns fatores
contribuíram para esse aumento da importância do consumidor infantil, entre
eles: a participação da mulher no mercado de trabalho, o que fez aumentar o
número de provedores com renda por família; a redução no número de filhos por
família, o que eleva as possibilidades de gastos por criança; a presença dos
avós nos cuidados com as crianças, isso como consequência da participação de
ambos os pais no mercado de trabalho possibilitando que os avós também utilizem
sua renda na criação da criança; e o fator culpa, que pode ser explicado pelos
pais estarem menos presentes na criação dos filhos e fazem maiores esforços
financeiros quando juntos da criança.
Desta forma, através do
desenvolvimento da psicologia infantil e a segmentação de nichos cada vez mais
específicos pelo mercado, criou-se um ambiente oportuno ao estudo do
comportamento do consumidor infantil (COOK, 2003), além de trazer relevantes
contribuições ao marketing, o que possibilita o estabelecimento de estratégias
direcionadas a este nicho, o que traz um significante desafio para os profissionais
e pesquisadores da área (CHAUDHARY; GUPTA, 2012).
Neste sentido, a
propaganda na televisão, que é a forma mais usada na comunicação de alimentos e
bebidas no mundo, é muito utilizada com o foco no consumidor infantil e, em
função das consequências que pode ter sobre os mesmos, é a mídia mais discutida
e regulamentada (HAWKES, 2006) a medida que este público tem alto poder de
influência no processo de decisão (XIAN et al., 2020), responde,
majoritariamente a estímulos hedônicos, não considerando as características
nutricionais do produto (ROCHA, 2005), sendo que a maior parte dos alimentos
anunciados a este nicho possuem alto teor de açúcar e sódio (CARPENTIER et al.,
2020) e, os comportamentos de compra relacionados a anúncios de alimento na TV
são positivamente associados ao sobrepeso/obesidade das crianças (XIAN et al.,
2020).
Muitos estudos sobre o
consumidor infantil foram feitos, contudo, de origem principalmente nos Estados
Unidos e alguns países da Europa e Ásia, sendo pouco difundidos nos demais
países. Além disso, a abordagem do consumidor infantil no âmbito dos alimentos
ainda é pouco explorada (XIAN et al., 2020).
Diante desse contexto,
levantou-se o seguinte problema de pesquisa: quais são as principais variáveis
que explicam a influência da propaganda de alimentos na televisão no
comportamento do consumidor infantil? E assim foi definido o objetivo de
identificar os fatores determinantes da influência da propaganda televisiva de
televisão no comportamento do consumidor infantil.
Para tanto, foi
conduzido um estudo quantitativo-descritivo, utilizando-se como ferramenta para
coleta de dados um questionário estruturado. Para a coleta de dados utilizou-se
do método Survey junto a seis escolas localizadas no perímetro urbano do
município de Campo Grande-MS, selecionadas de forma não probabilística (por
conveniência). Os dados foram analisados utilizando estatística descritiva e
Regressão Logística Binária
2.
REVISÃO TEÓRICA
Segundo Gross (2010), no
início do século XX diversas transformações colaboraram para que a relevância
social da criança se desenvolvesse e iniciou-se a ideia de infância, na qual a
criança precisaria ser tratada com mais cuidados e proteção. Como exemplo
dessas transformações houve a redução da mortalidade infantil, o menor tamanho
das famílias e a melhor fluidez econômica.
Apesar desse aumento da
importância da criança dentro do ambiente familiar, ela somente passou a ser
vista como consumidora depois da Segunda Guerra Mundial, período em que o
mercado infantil passou a ser visto de fato como um mercado, pois apresentou
tamanho, poder de compra e necessidades próprias (McNEAL, 1999).
Segundo Heyer (1997),
até o século XVIII a criança era vista apenas como um adulto pequeno e imaturo
que quase não possuía necessidades em sua vida, sendo esta totalmente decidida
por sua família e pela sociedade na qual nasceu. Ainda segundo o autor, no
início do século XIX foi publicado por médicos, pedagogos e filósofos, o
primeiro aconselhamento moral e educacional tratando do bem-estar infantil.
Assim, através das melhorias na educação e assistência às crianças, houve uma
crescente influência e ganho de importância destas na sociedade.
São as diferentes
funções exercidas na decisão de compra pela criança, que conforme McNeal
(1992), possibilitam a divisão do mercado formado pelo público infantil em:
primário, de influência e futuro. O mercado primário corresponde ao que é
comprado diretamente pelas crianças. O mercado futuro refere-se ao resultado de
intensas estratégias de branding, mais precisamente relacionadas às variáveis
do valor de marca, que as crianças estarão expostas desde cedo, para que
estabeleçam uma relação com determinada marca e tornem-se adultos fiéis à
mesma. E por fim, o mercado de influência. É nesse segmento que se torna possível
observar a argumentação infantil diante dos pais, a capacidade de influenciar,
e ainda, como as crianças escolhem determinadas marcas. É apontado ainda,
quanto a seleção, que cerca de 90% dos pedidos aos pais são feitos pelo nome da
marca, ou seja, mais do que pedir por algo as crianças pedem por esse ou
aquele. O que ainda propicia este senário é o fato de que a utilização de
informações fornecidas pela mídia pelas crianças em suas tentativas de
influenciar as decisões familiares é percebida positivamente pelos pais, pois
tal comportamento influencia na percepção de cumprimento dos deveres parentais
(BERTOL et al., 2017).
Com o passar da idade, a
medida em que a criança passa a ter mais conhecimento sobre os produtos
mostrados a ela, especialmente pela televisão, passa a influenciar diretamente
os pais. Neste sentido, a criança assiste às propagandas e começa a conhecer as
marcas e categorias de produtos, assim, é nesse momento que pedem na maioria
brinquedos, salgadinhos, fast-food e
bebidas lácteas. (VELOSO; HILDEBRAND; DARÉ, 2008).
Segundo Neto e Melo
(2013), o comportamento de compra do consumidor infantil é influenciado por
diversas variáveis. Tais variáveis emanam de cinco dimensões que foram
propostas pelos autores (ver Quadro 1).
Quadro 1 - Variáveis que
influenciam o comportamento do consumidor infantil
Dimensão |
Variáveis |
Propaganda |
Propaganda televisiva, na internet
e em revistas e jornais; Patrocínio de evento; Promoção do produto; Embalagem
do produto; Propaganda no ponto de venda. |
Social |
Aspectos Culturais;
Classe social; Grupo Social; Família; Religião; Histórico de compra. |
Financeira |
Renda; Preço do
produto. |
Biogênica |
Gênero; Idade; Estado
de saúde; Gosto pessoal; Estado emocional. |
Geofísica |
Clima; Localização do
ponto de venda; Ambiente. |
Fonte: Neto e Melo (2013).
Segundo Virvata (2009),
a constatação de que as crianças e os adolescentes constituem um mercado
altamente rentável tem resultado no desenvolvimento do marketing infantil e em
estudos sobre a propaganda dirigida para este segmento de consumidores.
Na pós-moderna realidade
social, a criança possui um novo papel, o de consumidor ativo, onde seu status
é o de cliente que opina, exige e escolhe. Dessa forma, passam a ser, cada vez
mais, alvo da publicidade de diferentes empresas. As mudanças significativas na
vivência da infância e da adolescência, por exemplo, quanto a novas formas de
acesso à informação, foram percebidas e estão traduzidas no contexto midiático.
Alterações na quantidade de possibilidades, referente à multiplicação das
oportunidades de comunicação potencializadas pela internet através do
computador e o celular, bem como na qualidade, referente à nova natureza dos
processos de comunicação associados às mídias eletrônicas (VIRVATA, 2009).
O ritmo do consumismo é
acompanhado pelas crianças e adolescentes, os quais incorporaram a cultura do
consumo em sociedades ricas (VIRVATA, 2009). Neste sentido, a expansão da
cultura do consumo é garantida pela propaganda, que transcendeu o propósito da
informação e persuasão, manipulando a imagem de seu produto, fazendo com que
este passe a conter legendas e valores subjetivos. Assim, o que ocorre é um
processo semiótico, no qual o consumidor é motivado e retroalimentada de
necessidades (BAUDRILLARD, 2007).
Todos esses símbolos são
levados até o consumidor infantil, através de contextos midiáticos, e, dentre
os meios utilizados para a persuasão do público infantil, as propagandas
televisivas têm recebido uma maior atenção dos pesquisadores (MOURA, 2015).
Sabe-se que a televisão
desempenha sua influência socializadora. Muitas crianças iniciam seus papéis de
telespectadores ainda bebês. A partir dos dois anos de idade, grande parte das
crianças permanece em torno de três a quatro horas por dia em frente a um
aparelho de televisão, representando uma exposição de 24 horas semanais, às
propagandas televisivas, aproximadamente. Quando não alfabetizadas, as crianças
respondem mais aos sons e imagens e muito menos às palavras. Esse fato as torna
mais vulneráveis a tal tipo de persuasão (CARPENTIER et al., 2020).
Os critérios das crianças
para julgar o que consideram bom alimento são alterados e influenciados pelo
conteúdo dos comerciais televisivos. As crianças parecem formar seus conceitos
a partir dos atributos do produto, como a aparência, a doçura, a textura, a
diversão, as figuras de heróis e brindes, ficando de fora nesse processo de
observação as informações nutricionais e de saúde do alimento. O que permite
que os produtos com alto teor de açúcar sejam os mais prevalentes entre os
anúncios (CARPENTIER et al., 2020), sendo o hedonismo, principalmente para as
crianças, a principal função do consumo, garantindo a condição de estado de
felicidade (ROCHA, 2005).
Neste sentido, o público
infantil atribui um alto grau de credibilidade aos produtos que utilizam
personagens animados e figuras de autoridade e celebridades em sua comunicação.
Desta forma, nas propagandas alimentícias veiculadas na televisão existe a
frequente utilização de personagens, mascotes, que representam um símbolo da
marca para com o público infantil (ROCHA, 2005).
Através deste processo,
os valores da marca são transmitidos às crianças e simultaneamente se
estabelece uma relação entre as partes a um nível cognitivo (aprendizado,
memorização e reconhecimento da marca) e afetivo (simpatia e afeição pela
marca). O papel desse símbolo é desenvolver uma mediação entre a realidade
física da marca em questão e a realidade psíquica das crianças (HIGGS;
MEDEIROS; PEREIRA, 2008).
As crianças procuram
ligações entre o personagem e o produto, buscando sentido nos elementos concretos
apresentados, como as cores e as formas, além das informações mais subjetivas,
como os valores, a energia, a força e a vitalidade. Assim, a função efetiva das personagens está
no processo de identificação, no qual a criança procura se parecer com elas.
Tal identificação corresponde à satisfação de necessidades materiais (aquisição
do objeto) e desejos hedônicos (sensação de prazer) (MONTIGNEUX, 2003; HIGGS;
MEDEIROS; PEREIRA, 2008).
A compreensão da
propaganda muda conforme a faixa etária. Fatores variados, como o
desenvolvimento cognitivo, o nível de interação com os meios de comunicação e a
influência da escola são relevantes para que as crianças reconheçam e percebam
a diferença entre as mensagens e os programas ofertados, discernindo sobre o
que é propaganda do que não é (McNEAL, 1992). Neste sentido, para as crianças
expostas a anúncios televisivos de alimentos, a idade (inversamente
proporcional) e o tempo de exibição (diretamente proporcional) têm efeitos
significativos sobre os apegos de marcas de alimentos e bebidas, sendo este, um
caminho intermediário por meio do qual o marketing opera nos resultados
comportamentais (KELLY et al., 2019).
McNeal (1992) apresenta
um modelo multiestágio que trata da propaganda voltada ao público infantil.
Partindo da premissa que a propaganda tenha conseguido uma linguagem compatível
com o entendimento da criança, os estágios dos efeitos da propaganda para as
crianças, podem ser visualizados conforme apresentado na Figura 1.
Figura 1 - Efeitos da propaganda
para as crianças
Fonte: Adaptado de
McNeal (1992, p.145).
* Evoked set: Grupo de marcas relevantes a que
um potencial consumidor é favoravelmente familiarizado quando estão com
pretensão de realizar uma compra (McNeaL, 1992).
O modelo sugere que a
propaganda leva a atitudes e comportamentos dentre as crianças. O comportamento
pode assumir três formas: comportamento em relação ao produto – busca pelo
produto, comparação com outros e compra; comportamento em relação aos pais –
tentativas de influenciar os pais para que comprem o produto anunciado ou que
disponibilizem os recursos necessários; influência dos amigos/colegas.
O modelo apresentado é
dividido em três estágios. No primeiro estágio a propaganda influencia a
criança a comprar determinado produto e/ou solicitar aos pais que façam a
compra. No segundo, os pais levam em consideração e analisam o produto que o
filho recomendou. E o terceiro estágio trata das atitudes dos pais e filhos
induzidos pela publicidade e comportamentos de compra, determinando seu futuro
comportamento a respeito de produtos anunciados (McNEAL, 1992).
Conforme McNeal (1992),
tentar influenciar os pais pode ter quatro possíveis resultados (compra,
disponibilização de recursos para compra, negociações com os filhos ou a
recusa) os quais, por sua vez, formam atitudes (em relação ao produto, marca,
fabricante, vendedor, propaganda e anúncio) com base nesses possíveis
comportamentos. As atitudes resultantes dos filhos e dos pais se relacionam
para conceber um produto, marca, vendedor, propaganda que agradam ou que
desagradam, o que determinará o comportamento dos pais e filhos em relação ao
objeto em questão. O que agrada e o que desagrada que resultam sempre se
referem a preferências e lealdade. E o que agrada se torna parte do evoked set
dos filhos e pais, em outras palavras, se os filhos e/ou os pais não tiverem
uma marca em mente, ela não será considerada na hora da compra.
3.
METODOLOGIA
O presente estudo
trata-se de uma pesquisa Quantitativo-descritiva (MALHOTRA, 2019) abrangendo
crianças de 07 (sete) a 12 (doze) anos incompletos. Para a determinação da
faixa etária em questão (07 a 12 anos incompletos) foi levado em conta que a partir dos 07 anos (até
os 11), segundo John (1999), a criança se encontra no estágio “Estágio
Analítico” de socialização do consumo, no qual é condensada a maior parte de
sua evolução cognitiva e social, havendo um aumento na capacidade de
processamento das informações, permitindo as crianças entenderem conceitos
envolvendo marcas e propagandas sob uma perspectiva transcendente à seus
próprios sentimentos. Para a definição da idade final na faixa etária da
amostra, foi considerado o artigo 2ª da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990
(Estatuto da Criança e do Adolescente), na qual é considerada criança, “[...] a
pessoa até doze anos de idade incompletos” (BRASIL, 1990).
Para o cálculo do
tamanho da amostra, considerou-se uma população finita de 1350 alunos,
correspondente ao total de alunos de cada turma, dentro da faixa etária
pretendida, nas seis escolas analisadas, sendo estipulado nível de confiança de
95% e erro padrão de 6% [Z= 1,96; p= 0,5; q= 0,5; E= 0,06; N = 1350],
obtendo-se um número de 266,77 (amostra população infinita). Após a aplicação
do fator de correção, para populações finitas, o tamanho da amostra estipulada
foi de 222,88 indivíduos a serem entrevistados (ANDERSON; SWEENEY; WILLIANS,
2007). Todavia, para maior segurança, aplicou-se 300 questionários, no entanto,
foram validados 283, fazendo com que o erro padrão fosse 5,8%.
Como ferramenta de
coleta de dados utilizou-se de um questionário estruturado (MALHOTRA, 2019)
composto por composto por questões sobre o comportamento da criança em relação
à mídia televisiva e à propaganda de alimentos na televisão. O Quadro 2 apresenta as variáveis comportamentais
analisadas, juntamente com sua escala.
Quadro 2 – Variáveis
comportamentais da pesquisa
Fonte: Elaborado pelos
autores
As variáveis
socioeconômicas foram obtidas por meio de um questionário entregue aos
respectivos pais ou responsáveis pelas crianças. A classe econômica foi
identificada pelo critério da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa -
ABEP (2015).
Para a coleta de dados,
que ocorreu entre os meses de os meses de maio e junho do ano de 2019,
utilizou-se do método Survey, caracterizado por envolver coleta e análise de
dados numéricos e submetê-los a testes estatísticos, sendo necessária uma
coleta de dados estruturada (MALHOTRA, 2019), realizada junto a seis escolas
localizadas no perímetro urbano do município de Campo Grande-MS, sendo duas
destas públicas e quadro particulares. As escolas foram selecionadas por
critério de conveniência (MALHOTRA, 2019). Após a autorização dos coordenadores
das instituições para prosseguimento da pesquisa nas mesmas, foi entregue às
crianças o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e o questionário
destinado aos pais ou responsáveis, para que encaminhassem para estes
preencherem, caso permitisse seu filho(a) participar da pesquisa. Obtendo-se a
permissão e o questionário destinado aos pais ou responsáveis preenchidos, a
estas crianças era entregue o Termo de Assentimento com o Questionário: para a
criança declarar por vontade própria que aceita participar da pesquisa e então
responder o questionário.
Os dados foram
analisados utilizando estatística descritiva e Regressão Logística Binária.
Esta última, utilizada a fim de estabelecer uma relação entre uma variável
dicotômica e uma ou mais variáveis explicativas (FARHAT, 2003), sendo a
variável dicotômica: Você compra ou pede para alguém comprar os alimentos
porque você viu na televisão?
De modo mais amplo, a
regressão logística atribui à variável resposta um resultado compreendido entre
zero e um, o qual pode ser interpretado como a probabilidade de ocorrência de
um referido evento, neste caso, do consumidor infantil ser influenciado pela
propaganda televisiva. Baseando-se na regra de decisão, resultados maiores do
que 0,5 são assumidos como possível sucesso e inferiores, como possível
fracasso (DIAS FILHO; CORRAR, 2007).
Para o tratamento dos dados foi utilizado o software Minitab (MINITAB,
2010) versão 12.1.
4.
ANÁLISE E
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Faz-se necessário,
primeiramente, conhecer a amostra da pesquisa, através da estatística
descritiva das variáveis socioeconômicas abordadas, apresentadas na Tabela 1.
Tabela 1 - Perfil
socioeconômico da amostra
Sexo
da criança |
Idade
da criança |
Classe
econômica |
|||
Masculino |
49,1% |
7 anos |
7,1% |
Classe A |
18,7% |
8 anos |
24,0% |
Classe B |
51,9% |
||
Feminino |
50,9% |
9 anos |
27,2% |
Classe C |
20,5% |
10 anos |
25,4% |
Classe D/E |
8,8% |
||
11 anos |
16,3% |
|
|
||
Tem
TV por assinatura |
Estrutura
familiar |
Escolaridade
do responsável |
|||
Sim |
73,5% |
Monopaternal ou outra |
20,8% |
Até ens. fundamental |
23,3% |
Até ens. médio |
36,7% |
||||
Não |
26,5% |
Tradicional |
79,2% |
Ensino superior ou pós-graduação |
39,9% |
Fonte: Dados da pesquisa
Um ponto interessante de
ser destacado é o percentual de crianças que tem televisão por assinatura,
pois, apesar de 73,5% da amostra ter acesso a esse serviço na própria
residência, esse tipo de serviço ainda é restrito às classes mais altas da
população no Brasil, assim, o elevado percentual de crianças da amostra que
possuem televisão por assinatura pode estar associado ao fato de que quase 70%
da amostra pertence às Classes A e B.
Para a elaboração modelo
de regressão logística binária, primeiramente, analisou-se quais variáveis
apresentam correlação significativa com a variável dicotômica dependente
principal (Você compra ou pede para alguém comprar os alimentos porque você viu
na televisão?). Estas foram submetidas à regressão logística binária por meio do
Minitab, como pode ser visto na Tabela 2.
Tabela 2: Regressão
Logística Binária Inicial
Regressão
Logística Binária |
|||||||||
Função
de Ligação: Logit |
95%
de confiabilidade |
||||||||
Variável preditora |
Coef |
Des-padrão |
Teste
Z |
P-valor |
Razão
de chances |
Mínimo |
Máximo |
|
|
Constante |
-5,923 |
1,396 |
-4,24 |
0 |
|
||||
Propagandas de alimentos na televisão oferecem coisas gostosas
que fazem bem para o nosso corpo. |
0,1087 |
0,2147 |
0,51 |
0,613 |
1,11 |
0,73 |
1,7 |
|
|
As propagandas na televisão dão a você as melhores dicas sobre
quais alimentos você deveria comer e beber. |
-0,0204 |
0,1736 |
-0,12 |
0,907 |
0,98 |
0,7 |
1,38 |
|
|
Comer tudo que passa nas propagandas de comidas e bebidas na
televisão vai fazer você ficar gordinho(a). |
0,0727 |
0,1771 |
0,41 |
0,681 |
1,08 |
0,76 |
1,52 |
|
|
Para comer alimentos saudáveis, você não deveria comer as coisas
que passam nas propagandas da televisão. |
0,0526 |
0,1854 |
0,28 |
0,777 |
1,05 |
0,73 |
1,52 |
|
|
As propagandas na televisão convencem as pessoas a comprar
alimentos que não deveriam comer ou beber. |
0,353 |
0,1813 |
1,95 |
0,052 |
1,42 |
1 |
2,03 |
|
|
Propagandas de comidas e bebidas na televisão são divertidas e
fazem você rir. |
0,4041 |
0,1624 |
2,49 |
0,013 |
1,5 |
1,09 |
2,06 |
|
|
Sem as propagandas de comidas e bebidas, a televisão seria muito
mais chata. |
0,1815 |
0,1621 |
1,12 |
0,263 |
1,2 |
0,87 |
1,65 |
|
|
Depois que as propagandas terminam de passar, você fica mais
feliz porque pode continuar assistindo o que estava passando. |
0,5057 |
0,3281 |
1,54 |
0,123 |
1,66 |
0,87 |
3,15 |
|
|
Você assiste aos canais com programas ou desenhos para crianças
na TV por assinatura ou a cabo? |
-0,0329 |
0,2449 |
-0,13 |
0,893 |
0,97 |
0,6 |
1,56 |
|
|
Assistir à televisão é sua atividade favorita? |
-0,0039 |
0,3759 |
-0,01 |
0,992 |
1 |
0,48 |
2,08 |
|
|
Você ganha algum dinheiro dos seus pais ou de outras pessoas? |
-0,0768 |
0,1958 |
-0,39 |
0,695 |
0,93 |
0,63 |
1,36 |
|
|
Você compra ou pede pra alguém comprar os alimentos que você vê
na televisão? |
0,432 |
0,2055 |
2,1 |
0,036 |
1,54 |
1,03 |
2,3 |
|
|
Você se lembra de algum produto qualquer que você tenha comprado
depois de ter visto na televisão? |
1,6361 |
0,3119 |
5,25 |
0,000 |
5,13 |
2,79 |
9,46 |
|
|
Você fica com muita vontade de comprar um produto depois
que vê na televisão? |
0,4888 |
0,5689 |
0,86 |
0,390 |
1,63 |
0,53 |
4,97 |
|
|
Log verossimilhança =
-114,287 |
|||||||||
Testa se todos os coeficientes são zero: G = 75,536; DF = 14;
P-Value = 0,000 |
|||||||||
Fonte: Dados da
pesquisa.
Optou-se por ajustar o
modelo através da retirada, uma a uma, das variáveis que não mostraram
significância (p-valor superior a 0,05). A Tabela 3 mostra as variáveis e os
coeficientes da análise de regressão logística binária com os valores de testes
de significância.
Tabela 3 - Regressão
Logística Binária Final
Regressão
Logística Binária |
||||||||
Função
de Ligação: Logit |
95%
de confiabilidade |
|||||||
Variável
preditora |
Coef |
Des-padrão |
Teste
Z |
P-valor |
Razão
de chances |
Mínimo |
Máximo |
|
Constante |
-2,6519 |
0,4876 |
-5,44 |
0 |
||||
As
propagandas na televisão convencem as pessoas a comprar alimentos que não
deveriam comer ou beber |
0,3854 |
0,1616 |
2,38 |
0,017 |
1,47 |
1,07 |
2,02 |
|
Propagandas
de comidas e bebidas na televisão são divertidas e fazem você rir |
0,4517 |
0,1351 |
3,34 |
0,001 |
1,57 |
1,21 |
2,05 |
|
Você fica
com muita vontade de comprar um produto depois que vê na televisão? |
0,5929 |
0,1734 |
3,42 |
0,001 |
1,81 |
1,29 |
2,54 |
|
Log verossimilhança = -138,117 |
||||||||
Testa se
todos os coeficientes são zero: G = 33,666; DF = 3; P-Value = 0,000 |
||||||||
Fonte: Dados da
pesquisa.
Os coeficientes das
variáveis devem ser analisados baseando-se em seu sinal, assim, os coeficientes
positivos indicam uma relação direta da variável preditora com a variável
dependente, e coeficientes negativos indicam uma relação indireta. No modelo
desta pesquisa todos os coeficientes, com exceção da constante, foram
positivos. Isso quer dizer que quanto mais a criança concordar que as
propagandas na televisão convencem as pessoas a comprar alimentos que não
deveriam comer ou beber, quanto mais a criança concordar que as propagandas de
alimentos na televisão são divertidas e fazem rir, e quanto mais a criança
tiver o interesse de comprar um alimento depois de ter visto na televisão,
maior é a probabilidade de que ela seja influenciada pela propaganda, o que
corrobora com Sivathanu (2017), à medida que esses fatores tem um impacto
significativo nas escolhas alimentares das crianças e adolescentes, os tornando
um consumidor vulnerável.
A razão de chances pode
ser entendida como o aumento ou diminuição da chance do evento ocorrer
considerando um aumento ou diminuição no nível das alternativas de respostas de
cada variável preditora. O grau desse aumento ou diminuição da chance é o
percentual resultado da diferença do valor da razão de chances e 1 (um). Assim,
no modelo da pesquisa para cada nível de concordância a mais da variável X1, há
um aumento de 47% de chance do evento ocorrer, e para cada nível de
concordância a mais da variável X2, há um aumento de 57% de chance de o evento
ocorrer; e para cada nível de interesse de compra a mais da variável X3, há um
aumento de 81% de chance do evento ocorrer.
O Log de verossimilhança
deve ser o mais baixo possível; no modelo da pesquisa foi de -138,1117. O Teste
G testa a hipótese nula de que todos os coeficientes são iguais a zero, assim,
como o p-valor desse teste foi significativo, pode-se rejeitar a hipótese nula
e garantir que pelo menos um dos coeficientes não é igual a zero.
A multicolinearidade das
variáveis independentes, utilizadas no modelo, foi verificada através de uma
matriz de correção, como apresentado na Tabela 4.
Tabela 4: Matriz de
correlação das variáveis independentes.
Correlação |
As propagandas na
televisão convencem as pessoas a comprar alimentos que não deveriam comer ou
beber. |
Propagandas de comidas
e bebidas na televisão são divertidas e fazem você rir. |
Propagandas de comidas
e bebidas na televisão são divertidas e fazem você rir. |
0,026 |
- |
P-Valor: 0,697 |
- |
|
Você fica com muita
vontade de comprar um produto depois que
vê na televisão? |
0,003 |
0,179 |
P-Valor: 0,967 |
P-Valor: 0,007 |
Fonte: Elaborado pelos
autores.
A multicolinearidade do modelo foi testada através de uma
análise de correlação entre as variáveis independentes do modelo final. Embora
a variável sobre vontade e a variável sobre diversão tenham apresentado uma
correlação significativa, esta não se mostrou forte a ponto de influenciar o
modelo. Como o modelo utilizou variáveis ordinais, não foram identificados
dados atípicos dentro das respostas analisadas.
Para a análise do grau
de adequabilidade modelo, foram utilizados três métodos, conforme fica
evidenciado no Tabela 5.
Tabela 5 - Testes de adequabilidade
de ajuste
Testes
de adequabilidade de ajuste |
|||
Método |
Qui-quadrado |
Graus
de liberdade |
P |
Pearson |
56,303 |
46 |
0,142 |
Deviance |
59,489 |
46 |
0,087 |
Hosmer-Lemeshow |
13,146 |
8 |
0,107 |
Fonte: Dados da pesquisa.
Os métodos de Pearson,
Deviance e Hosmer-Lemeshow testam o ajuste do modelo e devem ter valor P acima
de 0,05. Na pesquisa os três métodos indicaram que o modelo está adequado.
Assim, dado o modelo, a
probabilidade da variável resposta ser classificada como sucesso, ou seja, a
probabilidade de o evento ocorrer, dado o valor da variável explicativa igual a
X_i é expressa por:
Sendo:
X1 = Grau de concordância sobre persuasão da
propaganda
X2 = Grau de concordância sobre diversão da
propaganda
X3 = Nível de interesse de compra
Baseando-se na equação
ajustada, foi feita uma comparação das respostas reais dos questionários com as
respostas previstas pelo modelo (Tabela 6).
A regressão logística
atribui à variável resposta um intervalo entre zero e um, o qual pode ser
interpretado como a probabilidade do evento ocorrer. Com base na regra de
decisão, resultados acima de 0,5 são considerados como possível sucesso e
resultados abaixo de 0,5 são considerados como possível fracasso (DIAS FILHO;
CORRAR, 2007).
Tabela 6 -
Adequabilidade do modelo
Previsto |
Real |
Total |
|
Não
influencia |
Influencia |
||
Não
influencia |
51,07% |
19,31% |
70,39% |
Influencia |
10,73% |
18,88% |
29,61% |
Total |
61,80% |
38,20% |
100,00% |
Fonte: Dados da pesquisa
O modelo acertou 69,95%
das vezes (51,07% + 18,88%), mostrando que se for utilizada apenas o Grau de
concordância sobre persuasão da propaganda, Grau de concordância sobre diversão
da propaganda, e o Nível de interesse de compra, é possível alcançar um nível
de quase 70% de precisão, revelando a força que essas variáveis têm em relação
à influência da propaganda de alimentos na televisão no comportamento do
consumidor infantil e a importância do modelo gerado.
Para melhor compreender
o modelo em termos reais, foram selecionados três casos com as maiores
probabilidades do evento ocorrer (a propaganda influenciar no comportamento do
consumidor infantil) e três casos com as menores probabilidades do evento
ocorrer. Serão apresentados a seguir o quadro codificado (Tabela 7) e o quadro
com as descrições dos códigos, para melhor entendimento (Tabela 8).
Tabela 7 - Maiores e menores probabilidades de
percepção de influência aferidas pelo modelo (em códigos)
Influência |
Grau
de concordância sobre persuasão da propaganda |
Grau
de concordância sobre diversão da propaganda |
Nível
de interesse de compra |
X |
P(E) |
Previsão
do modelo |
Três
maiores probabilidades de percepção de influência aferidas pelo modelo |
||||||
1 |
3 |
3 |
3 |
5,145383989 |
0,837276238 |
1 |
0 |
2 |
3 |
3 |
3,499779617 |
0,777766894 |
1 |
1 |
3 |
3 |
2 |
2,84396726 |
0,739852103 |
1 |
Três
menores probabilidades de percepção de influência aferidas pelo modelo |
||||||
0 |
0 |
1 |
0 |
0,110781 |
0,09973253 |
0 |
0 |
1 |
0 |
0 |
0,103674406 |
0,09393568 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0,070517103 |
0,065872001 |
0 |
Fonte: Dados da pesquisa
Tabela 8 - Maiores e
menores probabilidades de percepção de influência aferidas pelo modelo
Influência |
Grau
de concordância sobre persuasão da propaganda |
Grau
de concordância sobre diversão da propaganda |
Nível
de interesse de compra |
X |
P(E) |
Previsão do modelo |
Três
maiores probabilidades de influência aferidas pelo modelo |
||||||
Influencia |
Concordo muito |
Concordo muito |
Compra com o próprio dinheiro |
5,145383989 |
0,837276238 |
Influencia |
Não
influencia |
Concordo um pouco |
Concordo muito |
Compra com o próprio dinheiro |
3,499779617 |
0,777766894 |
Influencia |
Influencia |
Concordo muito |
Concordo muito |
Mesmo quando não vai ao
supermercado pede para comprar |
2,84396726 |
0,739852103 |
Influencia |
Três
menores probabilidades de influência aferidas pelo modelo |
||||||
Não
influencia |
Discordo muito |
Discordo um pouco |
Nunca compra nem pede para comprar |
0,110781 |
0,09973253 |
Não influencia |
Não
influencia |
Discordo um pouco |
Discordo muito |
Nunca compra nem pede para comprar |
0,103674406 |
0,09393568 |
Não influencia |
Não
influencia |
Discordo muito |
Discordo muito |
Nunca compra nem pede para comprar |
0,070517103 |
0,065872001 |
Não influencia |
Fonte: Dados da pesquisa
A tabela 8 mostra que no caso de maior
probabilidade do evento ocorrer (83,72%), ou seja, no caso em que há mais
chances da propaganda influenciar a criança, o grau de concordância da criança
em relação à persuasão da propaganda e à diversão da propaganda foi elevado
(concordo muito), corroborando que este público considera principalmente os
fatores hedônicos apresentados em relação ao produto em detrimento dos
atributos, de fato, presentes no produto (ROCHA, 2005; XIAN et al., 2020). Além
disso, o interesse da criança pela compra também foi elevado, a ponto de ser
ela mercado primário de alimentos. No segundo caso de maior probabilidade do
evento ocorrer (77,77%), o grau de concordância da criança em relação à
persuasão da propaganda foi de concordo um pouco em relação à diversão foi de
concordo muito, e o interesse da criança pela compra foi elevado (compra com o
próprio dinheiro). No terceiro caso de maior probabilidade do evento ocorrer
(73,98%), o grau de concordância da criança em relação à persuasão da
propaganda e à diversão da propaganda foi elevado (concordo muito) e o
interesse da criança pela compra foi no nível de pedido de compra mesmo quando
não vai ao supermercado.
No primeiro caso de
menor probabilidade do evento ocorrer (9,97%) o grau de concordância da criança
em relação à persuasão da propaganda foi de discordo muito e à diversão da
propaganda foi de discordo um pouco, e o interesse da criança pela compra foi
de nunca compra nem pede pra comprar. No segundo caso de menor probabilidade do
evento ocorrer (9,39%) o grau de concordância da criança em relação à persuasão
da propaganda foi de discordo um pouco e à diversão da propaganda foi de
discordo muito, e o interesse da criança pela compra foi de nunca compra nem
pede pra comprar. No terceiro caso de menor probabilidade de o evento ocorrer
(6,58%) o grau de concordância da criança em relação à persuasão da propaganda
e à diversão da propaganda foi de discordo muito, e o interesse da criança pela
compra foi de nunca compra nem pede pra comprar.
A previsão do modelo
acertou em cinco dos seis casos selecionados, errando apenas no segundo caso de
maior probabilidade, quando o modelo fez uma previsão de que a propaganda
influencia enquanto na resposta obtida por meio do questionário indicou que a
propaganda não influencia. O Quadro 4 demonstra que quanto maior o grau de
concordância em relação à persuasão e à diversão da propaganda, e maior o
interesse de compra, mais a propaganda influencia o comportamento do consumidor
infantil.
Pontos estes que
corroboram com as práticas apontadas por Rocha (2005), Sivathanu (2017) e
Carpentier et al. (2020), no qual os anúncios direcionados às crianças fazem o
endosso de aspectos como a aparência, a diversão e as figuras associadas. Desta
forma, sendo o hedonismo a principal função do consumo para este público, por garantir
a condição de estado de felicidade ao mesmo (ROCHA, 2005). Fatos estes que
podem propiciar problemas de saúde pública em relação à faixa etária analisada
na pesquisa, à medida que a maior parte dos alimentos anunciados a estes
possuem alto teor de açúcar e sódio (CARPENTIER et al., 2020) e, os
comportamentos de compra relacionados a anúncios de alimento na TV são
positivamente associados ao sobrepeso/obesidade das crianças (XIAN et al.,
2020).
5.
CONCLUSÕES
O consumidor infantil
ganhou a atenção de pesquisadores e profissionais de marketing à medida
que se tornou um agente do mercado primário e um influenciador nas compras da
família, constituindo-se também no mercado consumidor futuro. Para atingir esse consumidor infantil são
utilizadas diversas mídias, dentre elas a televisão tem destaque, comunicando
produtos por meio de propagandas capazes de atrair a atenção da criança. Dos
produtos anunciados nos comerciais de televisão, há a categoria dos alimentos,
que fazem parte dos processos do comportamento de compra da criança desde os
primeiros anos de vida.
Foram identificadas as
variáveis determinantes para a influência da propaganda de alimentos na
televisão no comportamento do consumidor infantil por meio da Regressão
Logística Binária, a qual apontou que são determinantes: o nível de
concordância em relação à desconfiança da propaganda de alimentos na televisão,
o nível de concordância em relação ao entretenimento da propaganda de alimentos
na televisão, e o desejo evidente de compra pós-exposição às propagandas.
O modelo gerado pela
Regressão Logística Binária possibilitou mensurar a probabilidade de a
propaganda de alimentos na televisão influenciar o comportamento do consumidor
infantil. Foram apresentados os casos de maior probabilidade de influência e os
de menores probabilidade de influência, sendo que quanto mais alto os níveis de
concordância e mais forte o desejo evidente de compra, mais a criança pode ser
influência pela propaganda.
Neste sentido, a
presente pesquisa contribui com a área acadêmica à medida analisa
quantitativamente e testa estatisticamente variáveis já abordadas de forma
qualitativa em outras pesquisas. Ainda, a pesquisa proporcionou a geração de um
modelo matemático que explica a influência da propaganda de alimentos na
televisão no comportamento do consumidor infantil, e fornece dados empíricos
sobre essa relação de influência.
A pesquisa também traz
contribuições às estratégias empresariais, principalmente para o setor de
alimentos, pois fornece dados empíricos de segmentação do mercado infantil e
mostra as variáveis determinantes da influência da propaganda de alimentos na
televisão no comportamento do consumidor infantil, assim, é possível
desenvolver propagandas mais eficazes, que envolvam a criança e as conduzam
para compras diretas ou estimulem para que façam pedidos de compra. Para o
universo corporativo, a pesquisa ainda contribui pelo fato de apresentar dados
socioeconômicos e comportamentais que caracterizam o perfil do consumidor
infantil e descrevem seu comportamento. Além disso, sob o ponto de vista social
amplo, os dados da pesquisa podem servir para subsídio à criação de políticas
públicas que favoreçam ao bem-estar do consumidor infantil.
Este estudo apresenta
algumas limitações: a forma de seleção da amostra, por conveniência, o que pode
propiciar menor variabilidade dos dados, principalmente na composição
socioeconômica da amostra; a amostra ser formada por crianças, as quais nem
sempre respondem um questionário com o devido entendimento e/ou atenção
necessária, o que pode fazer algumas respostas serem dadas aleatoriamente; além
disso, as escalas de respostas das questões do questionário tiveram de ser
simplificadas numa adaptação para que as crianças pudessem compreendê-las, o
que pode restringir a quantidade de informações coletadas em cada questão.
A presente pesquisa teve
como foco de suas análises a propaganda televisiva e sua influência sobre o
comportamento de consumo infantil. Abre-se, nesse sentido, uma lacuna sobre
estudos que englobem, em seu desenvolvimento, outras formas de mídia, como
jornais, revistas e, principalmente, a internet (com destaque para as mídias
sociais). Embora o objeto de estudo deste trabalho ainda esteja presente, de
maneira significativa, no cotidiano da população, é inegável o impacto e
mudanças causadas pela internet na maneira como as pessoas consumem propagandas
de produtos e serviços. Dessa forma, a sugestão é para que trabalhos
posteriores considerem outros meios de comunicação para o entendimento daquilo
que inlfuencia o comportamento do consumidor infantil.
Como direcionamento para
o método de pesquisas futuras sugere-se realizar estudos com amostras
probabilísticas; utilizar questionários com escalas de respostas mais complexas
que possam ser aplicados com a ajuda simultânea de um aplicador; estudar a
influência das propagandas de alimentos veiculadas por outras mídias que não a
televisiva e pesquisar a existência de novos segmentos no mercado infantil com
as mudanças psicossociais que ocorrem ao longo do tempo.
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