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5, n. 2, Maio-Agosto/2021 This work is licensed under a Creative
Commons
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4.0 International License
ANÁLISE SOBRE A SÍNDROME DE BURNOUT EM POLICIAIS MILITARES DO
MUNICÍPIO DE MARABÁ-PA
David
Nogueira Silva Marzzoni
davidmarzzoni@gmail.com
Orcid:
https://orcid.org/0000-0002-0004-8739
Lattes:
http://lattes.cnpq.br/9114643539866010
Universidade
Federal de Santa Maria
Santa
Maria, Rio Grande do Sul, Brasil
Laize
Almeida de Oliveira
laizealmeida@discente.ufg.br
Orcid:
https://orcid.org/0000-0003-0790-8612
Lattes:
http://lattes.cnpq.br/9947215970449895
Universidade
Federal de Goiás - UFG
Goiânia,
Goiás, Brasil
Antônio
Wairan da Silva Ferreira
wairanferreira@gmail.com
Orcid:
https://orcid.org/0000-0001-7206-1564
Lattes:
http://lattes.cnpq.br/1297371570267324
Universidade
Estadual do Tocantins
Augustinópolis,
Tocantins, Brasil
Resumo
O serviço policial militar (PM) é
identificado pelo forte contato com situações adversas, fazendo com que os
policiais se tornem muito vulneráveis aos efeitos psicológicos. A presente
pesquisa teve por interesse investigar a Síndrome de Burnout em policiais
militares do município de Marabá-PA. A população alvo do estudo compreendeu
homens e mulheres do serviço ativo que estão lotados no 4ºBPM/CPRII, foram
avaliados 140 profissionais. Para a coleta de dados foi utilizado o
questionário Maslach Burnout Inventory (MBI) uma versão brasileira
proposta por Tamayo (2003), que consiste em 22 questões com características
psicofísicas em relação ao trabalho. Ao avaliar os resultados da pesquisa
observou-se que 65,7% da amostra é do sexo masculino, 34,2% feminino. A faixa
estaria preponderante foi entre 31 e 40 anos de idade, em relação ao estado
civil a pesquisa mostra que 27,8% estão solteiros e 36,4% casados, a respeito
da jornada de trabalho, a maioria (47,9%) cumpre uma rotina de tarefas superior
a 40 horas semanais. A pesquisa revelou ainda muita exaustão emocional, que
somados perfazem 67,6% dos entrevistados, a análise dos resultados permite
concluir que a síndrome de Burnout está presente nos policiais militares. Para
a dimensão Baixa Realização Profissional o sexo feminino apresenta indicadores
de menor realização profissional do que o masculino. A vista disso, pode-se
concluir que os homens apresentam percepção de menor desconforto relacionado ao
trabalho do que as mulheres.
Palavras-chave: Síndrome de Burnout, Polícia, Exaustão Emocional.
ANALYSIS ABOUT BURNOUT
SYNDROME IN MILITARY POLICE OFFICERS IN THE MUNICIPALITY OF MARABÁ-PA
Abstract
The military police service (PM) is identified by its strong contact
with adverse situations, making police officers very vulnerable to
psychological effects. This research aims to investigate the Burnout Syndrome
in military police in the municipality of Marabá-PA. The target population of
the study comprises men and women from the active service who are assigned to
the 4th BPM / CPRII, 140 professionals were evaluated. For data collection, the
Maslach Burnout Inventory (MBI) questionnaire was used, a Brazilian version
proposed by Tamayo (2003), which consists of 22 questions with psychophysical
characteristics in relation to work. When evaluating the research results, it
was observed that 65.7% of the sample is male, 34.2% female. The predominant
age was between 31 and 40 years, in relation to marital status, the research
shows that 27.8% are single and 36.4% are married, regarding working hours, the
majority (47.9%) fulfills a task routine of more than 40 hours per week. The
survey also revealed a lot of emotional exhaustion, which together make up
67.6% of the interviewees, the analysis of the results allows to conclude that
the Burnout syndrome is present in the military police. For the dimension Low
Professional Achievement, the female gender presents indicators of less
professional achievement than the male. In view of this, it can be concluded
that men have less perception of discomfort related to work than women.
Keywords: Burnout Syndrome, Police,
Emotional Exhaustion.
Submetido:
06/04/2021
Revisões
Requeridas: 23/07/2021
Aceito:
24/07/2021
Publicado:
31/08/2021
INTRODUÇÃO
Ao longo
dos anos o ambiente de trabalho veio sofrendo diversas modificações, tanto no
contexto do espaço organizacional bem como nas funções e/ou cobranças aos
profissionais. Essas cobranças e pressões, muitas vezes, exacerbadas na vida de
grande parte desses trabalhadores, podem ter consequências alarmantes, pois o
ambiente de trabalho se torna um espaço acelerado e como consequência desse processo,
pode ocorrer o surgimento de diversos problemas de saúde, principalmente devido
ao esgotamento desses profissionais (LIMA et al., 2018).
Assim
sendo, esses problemas começaram a fazer parte da rotina de milhares de
trabalhadores, que envolvem aspectos como: problemas físicos, problemas
digestivos, falta de ar, excesso de cansaço, ansiedade, entre outros sintomas
de tipos diversos (CORRÊA et al., 2019).
Em
detrimento disso, esse contexto envolvendo os trabalhadores, começou a
preocupar pesquisadores ao longo de décadas, de tal forma que no final dos anos
60, a terminologia, “Burnout” foi utilizada para definir o esgotamento e
desgaste apresentado por profissionais que cuidavam de outras pessoas (LIMA et al., 2018).
Dessa
maneira, a Síndrome de Burnout pode ocorrer a qualquer tipo de profissional, já
que alguns casos são mais comuns em pessoas motivadas, onde a “fuga” para o seu
estresse encontram-se no trabalho excessivo, até entrarem em colapso, porém,
existem algumas definições sobre a doença onde sua relação decorre
especialmente, à discrepância entre a “doação” do indivíduo muitas das vezes em
suas atividades e ao mesmo tempo, a ausência do reconhecimento de seu trabalho
por seus superiores e de colegas (CORRÊA et
al., 2019).
Quando a
Síndrome de Burnout tem relação com os profissionais de segurança pública, como
o policial militar, por exemplo, nota-se o quanto é preocupante o ambiente de
trabalho desses profissionais em seu cotidiano, uma vez que, a sua rotina de
trabalho é marcada principalmente por risco iminente e estresse oriundo do
mesmo (MACHADO; TRAESEL; MERLO, 2015).
Vale
ressaltar, que o policial militar, por estar cotidianamente exposto a situações
de perigo em virtude de sua profissão, acabam ficando doente, pois a
preocupação dos mesmos se redobra, inclusive ao ponto de não conseguirem
abstrair fatos e/ou momentos de tensão, vivenciados no trabalho, em seus
momentos de folga (MACHADO; TRAESEL; MERLO, 2015).
Diante
disso, o trabalho em questão tem como objetivo descrever e identificar a
Síndrome de Burnout em Profissionais de Segurança Pública, mais especificamente
no 4º Batalhão de Polícia Militar (BPM) do Estado do Pará, buscando compreender
suas principais causas e implicações na vida desses profissionais.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
ORIGEM
DA SÍNDROME DE BURNOUT
Segundo descreveram
Corrêa et al. (2019), os autores Maslash e Jackson na década de 1980,
conceituaram o termo “Burnout” como sendo uma síndrome de cansaço emocional,
apresentando relação direta com a baixa realização pessoal, onde para esses
profissionais o início do sintoma refere-se para este tipo de cansaço,
posterior a esse processo, surgi o esgotamento mental e físico, onde não existe
a motivação e “energia” para a realização de suas tarefas diárias.
Após os
primeiros sintomas referentes ao cansaço, os profissionais começam a apresentar
um distanciamento tanto perante os seus colegas de serviços, como no
atendimento ao público, onde o contato é marcado por sentimentos de antipatia,
frieza e ausência de comunicação efetiva. Além disso, outro aspecto marcante da
síndrome é a baixa realização pessoal relacionada com a baixa eficiência e
ausência de motivação com a sua rotina de trabalho (CARNEIRO et al., 2013).
Para
alguns autores essa síndrome pode ser considerada como a doença do século XXI,
já que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo, visto que está patologia
está voltado às mudanças do comportamento dos indivíduos, no qual a cada dia
que passa, encontram-se mais pressionados na execução de suas atividades
laborais diariamente, fazendo com que não tenha cuidado com a sua própria saúde
(TSCHIEDEL; MONTEIRO, 2013).
Em
relação aos profissionais de segurança pública a síndrome de Burnout está
ligada principalmente à tensão, sobrecarga de jornada de trabalho, atividades
que cada vez mais são exigidos por esses profissionais, haja vista, uma grande
preocupação em relação a esse ambiente, já que ele é apresentado como um fator
relevante devido a sua responsabilidade frente à proteção e a defesa da
sociedade (WELTMAN et al., 2014).
Alguns
sinais e sintomas são claramente perceptíveis, quando os indivíduos se
encontram na síndrome de Burnout, dessa forma, quando mais cedo o profissional
procurar ajudar e tratar a doença, logo poderá ter a sua recuperação e o
retorno as suas atividades de maneira mais rápida. Assim cada um dos sintomas
que são apresentados por profissionais, é relacionado diretamente à forte
tensão que no caso esses indivíduos sofrem durante as suas atividades o que
ainda é agravado pela jornada de trabalho que se apresenta como uma das
principais queixas dos profissionais no caso da segurança pública (GUIMARÃES et
al., 2014).
A
síndrome de Burnout é uma doença que pode ser diagnosticada em diferentes
profissionais, e vem sendo apresentado como um fator preocupante, principalmente
no setor de segurança pública pelo grande número de profissionais já
identificados com estresse (WELTMAN et
al., 2014).
A
qualidade de vida dos profissionais dos ambientes de trabalho é essencial para
a redução e até mesmo para a eliminação das taxas de estreses dentre esses
profissionais, pois é preciso que o indivíduo consiga realizar suas funções com
eficiência e competência (GUIMARÃES et
al., 2014).
No setor
de segurança pública um dos mais agravantes fatores de estresse, configura-se a
tensão exercida pela rapidez que é exigida nas atividades desenvolvidas pelos
policiais, onde a qualquer momento o risco de momento é iminente, aumentando
assim, o desgaste físico e emocional dos profissionais que lidam diariamente
com determinado ambiente de trabalho (LIMA et al., 2014).
Entende-se
que os profissionais da área da segurança pública necessitam de condições
satisfatórias para que possam realizar os procedimentos necessários tendo como
objetivo maior, o amparo às necessidades da sociedade como todo (ALMEIDA,
2015). Assim, o funcionamento, o processo e a estrutura organizacional podem
ser considerados de fato como agentes estressores, visto que refletem num
processo de trabalho estressante pautado pela burocracia e dependência de
outros setores pelo suporte organizacional insuficiente (TSCHIEDEL; MONTEIRO,
2013).
A
estrutura organizacional estressora está baseada em uma organização da
atividade laboral de enfermagem estressora no qual podem ser considerado que a
diretoria estabelece objetivos difíceis de levar a cabo, gerando conflito entre
o que é exigido e o que é possível fazer o profissional precisa executar as
tarefas com o menor tempo possível, ou seja, em um tempo considerado
insuficiente, o profissional convive em um ambiente de pressão e cobranças e de
exigências impostas pelo trabalho prescrito (LIMA et al., 2014).
Portanto,
observa-se que a síndrome de Burnout é uma doença ocupacional que precisa e
necessita de determinados cuidados, de manutenção das condições satisfatórias
de desenvolvimento das atividades dos profissionais, e, o reconhecimento das
limitações dos profissionais enquanto seres humanos, para que assim, se possa
reduzir o quadro de índices de profissionais do setor de segurança pública que
se encontram afastados de suas atribuições devido ao elevado grau de estresse
que apresentam.
ATIVIDADE POLICIAL
Ao se
fazer uma análise especificamente da atividade do policial militar, nota-se que
esse profissional enquanto trabalhador deve ser considerado como um indivíduo
que desenvolve um processo de trabalho peculiar, por isso, que o exercício de
sua atividade deve ser caracterizado como uma profissão (GUIMARÃES, 2014).
Segundo
Fraga (2005, p. 13), que estuda a construção da identidade profissional do
policial militar, o autor defende que ela é uma profissão, pois é exercida por
um grupo social específico, em que é compartilhado sentimento, tendo como de
pertencimento bem como de identificação com sua atividade, partilhando ideias,
valores e crenças comuns baseados numa concepção do que é ser policial.
Segundo
Guimarães (2014), a terminologia da palavra “polícia” é utilizada para designar
a instituição, corporação ou órgão incumbido de manter o cumprimento da lei, da
ordem e da segurança pública. Neste tocante a polícia se revela na sua ação
cotidiana, por meio de sua cultura organizacional, seus valores, a sua formação
ao longo da academia, por isso, é de suma importância a relevância do exercício
do trabalho da polícia militar, bem como os seus parâmetros (BONEZ; DAL MORO;
SEHNEM, 2013).
Almeida
(2015) defende a ideia da profissão do policial, pois, segundo o autor, explica
que o policial é um sujeito que desenvolve um processo de trabalho, isto é, o
trabalho desenvolvendo perante a sociedade produz um valor de uso, como, por
exemplo, o serviço de segurança pública oferecido à população. Autores como
Fraga (2005) descrevem os elementos constitutivos do processo de trabalho do
policial militar, que são de são relevância para compreender melhor as
atividades que esses profissionais realizam em dia a dia.
Assim,
uma das primeiras características está no fato do trabalho propriamente dito do
policial, já que a atividade policial desenvolvida tem como uma de suas
finalidades de executar a política de segurança pública para que possam estar
voltadas para as ações da polícia, como desde o policiamento ostensivo até
controle de tumulto em determinadas situações (FRAGA, 2005).
O
segundo item a ser mencionado, refere-se para a matéria-prima do trabalho
policial, ou seja, a segurança pública na sociedade é prioridade, seja por meio
do polícia ostensiva, ou a defesa pública, logo, pode-se dizer que o seu objeto
de trabalho é a segurança pública, onde a prestação de serviço se faz presente,
tanto no aspecto formal, como variáveis do policiamento, como informal, que são
inerentes as medidas cujo objetivo visam é segurança de um respectivo local
(FRAGA, 2005).
A
terceira característica a ser descrita baseia-se em tudo aquilo de que o
policial militar se utiliza na realização de seu trabalho, onde o conhecimento
técnico operativo se faz presente, além da parte instrumental imprescindível
também para a realização de suas funções, já que são os equipamentos utilizados
e os aprestos, ou seja, são as ferramentas que dão suporte ao trabalho do
policial militar (FRAGA, 2005).
Diante
dessas especificações do trabalho realizado pelo polícia militar, Bonez, Dal
Moro, Sehnem (2013) entendem que o papel do policial militar é muito mais do
que simplesmente garantir a ordem pública, mas sim, está baseada em tratar de
problemas humanos, onde o emprego da força possa vir a ser utilizado somente em
casos necessários ao seu uso. Portanto, acredita-se que para que esse
profissional consiga realizar suas atividades com eficácia, é essencial que ele
possa aprender a intervir nos mais distintos locais, ao mesmo tempo em que
exerça sua autoridade como profissional dentro das prerrogativas no âmbito do
poder de polícia, isto é, sem abusar nenhum momento desse poder, sendo
arbitrário ou autoritário frente à população.
GESTÃO DE PESSOAS
Os
estudos acerca das organizações, desde os seus primórdios, buscavam um maior
entendimento técnico a respeito das práticas administrativas, como a economia,
as finanças, e até o marketing, mas pouco se pesquisava ou se investia nas
pessoas (MARZZONI; PEREIRA, 2020). Ainda de acordo os autores, surgi então a
gestão de pessoas, cujo campo de pesquisa engloba os comportamentos e
habilidades dos trabalhadores e envolvidos no ambiente do trabalho.
O
ambiente de trabalho pode ser impactado por diversos fatores. Segundo Newstrom
(2008, p. 323), “As mudanças no ambiente de trabalho pode ser descrita como
qualquer alteração que afete as maneiras como os funcionários devem agir [...].
Independentemente de sua fonte, origem, velocidade ou intensidade, as mudanças
podem ter efeitos profundos nos seus receptores”.
Para
Gillen (2001), em uma organização, os tipos de comportamento do indivíduo são
quatro: Passivo, o indivíduo que procura evitar o conflito, voz hesitante,
atitude defensiva, pessoa quieta; Agressivo: é o indivíduo que aspira
fervorosamente vencer, mesmo a custas de outras pessoas, possui tendência
individualista, focado em seus interesses, apresenta voz alta e máximo contato;
Passivo/Agressivo: comportamento misto deseja firmar, não possui estrutura,
irritação, postura fechada; Assertivo: Aspira a defender seus direitos, aceita que
outras pessoas também os tenham, tom voz moderado, possui postura de prudência
e segurança.
De
acordo com Demo et al. (2011),
a gestão de pessoas está relacionada à criação de ações para desenvolver
vínculos afetivos com os trabalhadores, contribuindo com o bem-estar dos
indivíduos no sentido de garantir reconhecimento, relacionamento estável,
participação nas atividades e fluxo livre de comunicação.
Em
consonância com essa ideia, Santos (2004) explica que a gestão de pessoas nas
instituições públicas, especialmente nas instituições militares ou segurança
pública, remete a um conjunto de práticas de reconhecimento, relacionamento,
participação e comunicação executadas pelo comando da unidade, a fim de
proporcionar melhor qualidade dos relacionamentos entre a organização e os
trabalhadores, bem como auxiliar no processo de integração dos indivíduos da
organização para que eles sejam participativos.
Para
alguns pesquisadores a síndrome de Burnout é vista como uma falha na gestão de
pessoas. Soares (2019) entende a Síndrome de Burnout como um fenômeno
ocupacional decorrente de um estresse crônico no local de trabalho que não foi
gerenciado com sucesso, de maneira isolada. O autor questiona ainda, como o
ambiente de trabalho, que deveria ser um local de constante evolução tanto para
as pessoas quanto para as organizações, pode ser nocivo se não tiver políticas
eficazes de gestão de pessoas.
PROCEDIMENTOS
METODOLÓGICOS
A investigação
foi realizada no 4º Batalhão de Polícia Militar – 4ºBPM do Estado do Pará no município
de Marabá. A população alvo da pesquisa compreende homens e mulheres que
trabalham na 11ª CIPM. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa
com Seres Humanos (CEP) da Universidade Federal de Santa Maria, os
procedimentos éticos foram realizados, conforme a legislação do Ministério da
Saúde (1997), resolução 196 do Conselho Nacional de Saúde (CNS).
A coleta
de dados ocorreu durante os meses de maio e junho de 2020, o questionário foi
compartilhado por e-mail e redes sociais exclusivas de policiais militares, a
amostra é composta por um total de 140 participantes (92 homens e 48 mulheres).
Depois do prazo de recebimento das respostas, o conteúdo foi transferido para
uma planilha Excel, na qual, os dados foram submetidos ao processamento do
software estatístico SPSS versão IBM 22®.
O
instrumento de pesquisa utilizado foi questionário Maslach Burnout Inventory
(MBI) criado por Maslach e Jackson (1986). Uma de suas versões brasileiras foi
realizada por Tamayo (2003), modelo usado para esta pesquisa. Trata-se de um
questionário de 22 afirmativas e 5 opções de respostas (escala de Likert de 1 a
5) que avalia os sentimentos e atitudes dos policiais no seu trabalho, conforme
Quadro 1.
Quadro
1. Variáveis por fator da Síndrome de Burnout
COD. |
VARIÁVEIS |
EE1 |
Sinto-me esgotado/a ao final de um dia de trabalho |
EE2 |
Sinto-me como se estivesse no meu limite |
EE3 |
Sinto-me emocionalmente exausto/a com o meu trabalho |
EE4 |
Sinto-me frustrado/a com o meu trabalho |
EE5 |
Sinto-me esgotado/a com o meu trabalho |
EE6 |
Sinto que estou trabalhando demais para Polícia
Militar |
EE7 |
Trabalhar
diariamente com pessoas me deixa muito estressado/a |
EE8 |
Trabalhar com pessoas o dia todo me exige um grande
esforço |
EE9 |
Sinto-me
cansado/a quando levanto de manhã e tenho que encarar outro dia de trabalho |
RP1 |
Sinto-me cheio/a de energia |
RP2 |
Sinto-me
estimulado/a de trabalhar em contato com outras pessoas |
RP3 |
Sinto-me
que posso criar um ambiente tranquilo para os meus colegas |
RP4 |
Sinto
que influencio positivamente a vida dos outros através do meu trabalho |
RP5 |
Lido de forma adequada com os problemas dos meus
colegas de serviço |
RP6 |
Posso entender com facilidade o que sentem os meus
colegas de serviço |
RP7 |
Sinto
que sei tratar de forma tranquila os problemas emocionais do meu trabalho |
RP8 |
Tenho que conseguir muitas realizações em minha
profissão |
DE1 |
Sinto
que os colegas de serviço me culpam por alguns dos seus problemas |
DE2 |
Sinto que trato alguns colegas como se fossem
objetos |
DE3 |
Tenho
me tornado mais insensível com as pessoas desde que exerço esse trabalho |
DE4 |
Não
me preocupo realmente com o que ocorre com alguns dos meus colegas de serviço |
DE5 |
Preocupo-me
o fato de que este trabalho esteja me endurecendo emocionalmente |
Fonte. Adaptado Tamayo (2003)
Em
seguida foram realizados os seguintes procedimentos estatísticos: classificação
das respostas médias da Síndrome Burnout, divisão da amostra em grupos segundo
o sexo; faixas etárias; nível hierárquico posto/graduação (Coronel, Major,
Capitão, Tenente, Subtenente, Sargento, Cabo e Soldado), Teste das médias
desses grupos para verificar se há diferenças utilizando do teste t de Student
para sexo, e Análise de Variância das demais variáveis. Posteriormente, foi
testada a independência entre sexo e classificação das respostas utilizando do
teste qui-quadrado. Por fim, uma análise de correlação entre as 3 dimensões de
Burnout, para identificar se há alguma correlação entre elas.
ANÁLISE E DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS
A
amostra da pesquisa foi composta por 140 policiais militares, elaborou-se a
Tabela 1 a fim de melhor conhecer o perfil dos participantes, sendo 65,7% do
sexo masculino, 34,2% feminino. Esses resultados são compatíveis com a
distribuição por sexo neste tipo de atividade profissional, na qual tradicionalmente
o número de homens é predominante segundo dados da literatura (MORAES et al.,
2013), na PMPA especificamente essa diferença se dá em razão do próprio
concurso público da polícia militar do Estado reserva apenas 10% das vagas para
mulheres. A faixa estaria preponderante foi entre 31 e 40 anos de idade, em
relação ao estado civil a pesquisa mostra que 27,8% estão solteiros, 36,4%
casados, 16,4% com união estável, e uma minoria (13,5%) divorciado (a), a maior
parte da amostra (70%) possui filhos, compatível com o esperado para a faixa
etária e nível socioeconômico da população geral (IBGE, 2010). O estudo mostra
ainda que 50,7% dos policiais possuem nível superior completo, 34,2% superior
incompleto e apenas 15% com ensino médio.
Tabela
1. Perfil da Amostra (dados pessoais) frequências e porcentagens.
Variáveis |
Categoria |
F |
% |
Sexo |
Masculino |
92 |
65,71 |
Feminino |
48 |
34,28 |
|
Total |
140 |
100,00 |
|
Faixa Etária |
Até 25
anos |
13 |
9,28 |
26-30
anos |
24 |
17,14 |
|
31-35
anos |
39 |
27,85 |
|
36-40
anos |
38 |
27,14 |
|
41-45
anos |
16 |
11,42 |
|
46-50
anos |
8 |
5,71 |
|
51-55
anos |
2 |
1,42 |
|
Total |
140 |
100,00 |
|
Número de Filhos |
0 |
41 |
29,28 |
1 |
39 |
27,85 |
|
2 |
28 |
20,00 |
|
3 |
23 |
16,42 |
|
4 ou
mais |
9 |
6,42 |
|
Total |
140 |
100,00 |
|
Escolaridade |
Ensino médio Completo |
21 |
15,00 |
Superior
Incompleto |
48 |
34,28 |
|
Ensino
Superior Completo |
52 |
37,14 |
|
Pós-Graduado |
19 |
13,57 |
|
Total |
140 |
100,00 |
|
Estado civil |
Solteiro |
39 |
27,85 |
Casado |
51 |
36,42 |
|
União
Estável |
23 |
16,42 |
|
Divorciado |
19 |
13,57 |
|
Outros |
8 |
5,71 |
|
Total |
140 |
100,00 |
Fonte. Dados da pesquisa (2020)
A Tabela 2 mostra a classificação das
dimensões da Síndrome de Burnout, por sexo. Apresentando a quantidade de respostas ordenadas como “alto”, “moderado” e “baixo”
por sexo e o respectivo p-valor obtido pelo teste Qui-Quadrado. Nota-se que a
dimensão “Baixa Realização Profissional” demostrou dependência entre o sexo do
entrevistado e sua classificação com significância menor que 1%.
Tabela 2. Ordenação das dimensões da Síndrome de
Burnout por sexo
Dimensões |
Sexo |
Classificação
(%) |
P-Valor |
||
Alto |
Moderado |
Baixa |
|||
Exaustão Emocional (EE) |
Feminino |
14,2 |
10,7 |
11,1 |
0,32 |
Masculino |
18,1 |
22,4 |
21,4 |
||
Despersonalização (DE) |
Feminino |
7,9 |
16,1 |
13,1 |
0,09 |
Masculino |
7,6 |
33,6 |
21,9 |
||
Baixa Realização Profissional (RP) |
Feminino |
19,2 |
9,6 |
7,6 |
0,01 |
Masculino |
15,6 |
22,9 |
32,3 |
Fonte. Dados da pesquisa (2020)
A partir do Gráfico 1 é possível visualizar os resultados obtidos para
Síndrome de Burnout considerando a variável sexo (Tabela 2). As dimensões
“Exaustão” e “Despersonalização” tiveram respostas próximas para ambos os
sexos, não constou diferença significativas entre os resultados. Em relação à
“Baixa realização profissional” os resultados revelaram significativamente
diferentes, o sexo feminino apresenta indicadores de menor “RP” do que o
masculino. Logo, as mulheres apresentam maior grau de Baixa realização
profissional.
Despersonalização Baixa R. Profissional realização pessoal Exaustão 25,0 20,0 15,0 10,0 5,0 0,0 Masculino Feminino 30,0
Gráfico 1. Distribuição das
três dimensões da Síndrome de Burnout por sexo
Fonte.
Dados da pesquisa (2020)
A Tabela 3 revela a distribuição das médias para as dimensões “Exaustão Emocional”,
“Despersonalização” e “Baixa da realização profissional”. As quantidades de
respostas foram classificadas em “Baixo”, “Moderado” e “Alto”. Para a dimensão
“Despersonalização” as respostas ficaram maior na classificação “moderado”
(49%), a “Exaustão Emocional” revelou alto grau 34% e um grau moderado de 33%,
perfazendo um total de 67%. A Baixa Realização profissional revelou em alto
grau 34% e em grau moderado 35%, perfazendo um total de 69% dos entrevistados.
Tabela 3. Distribuição das médias das dimensões da
Síndrome de Burnout
Dimensões |
Média |
Classificação
(%) |
||
Alto |
Moderado |
Baixa |
||
Exaustão Emocional (EE) |
16,8 |
34 |
33 |
34 |
Despersonalização (DE) |
13,4 |
34 |
49 |
17 |
Baixa Realização Profissional (RP) |
28,2 |
31 |
35 |
34 |
Fonte. Dados da pesquisa (2020)
A Tabela 4 demostra o teste das diferenças entre as médias das respostas,
por faixa etária. Observa-se que não houve diferenças estatística significativa
entre as respostas da amostra (p > 0,05).
Tabela
4. Distribuição das diferenças das médias por faixa etária.
Dimensão |
Faixa Etária |
p-valor |
||||||
Até 25 |
26-30 |
31-35 |
36-40 |
41-45 |
46-50 |
51-55 |
||
Exaustão
Emocional |
14,0 |
13,2 |
14,8 |
15,7 |
15,2 |
16,9 |
13,1 |
0,21 |
Despersonalização |
13,4 |
12,1 |
12,4 |
12,6 |
11,7 |
13,2 |
9,8 |
0,54 |
Baixa
realização profissional |
26,3 |
28,2 |
26,9 |
27,1 |
26,6 |
28,5 |
29,4 |
0,57 |
Fonte. Dados da pesquisa (2020)
A Tabela 5 permite visualizar a existência de médias distintas entre os
diferentes níveis hierárquicos militares (posto/graduação) para as três dimensões:
“Exaustão Emocional”, “Despersonalização” e “Baixa realização profissional”,
entretanto não ocorreu diferenças estatísticas significativas (p > 0,05).
Tabela 5. Distribuição das diferenças das
médias por posto/graduação.
Dimensão |
Posto/Graduação |
p-valor |
|||
Soldado |
Graduados |
Oficiais
subalterno |
Oficiais
superiores |
||
Exaustão |
2,0 |
2,3 |
2,2 |
2,1 |
0,91 |
Despersonalização |
2,1 |
2,2 |
2,4 |
2,0 |
0,48 |
Baixa
realização profissional |
3,8 |
3,9 |
3,7 |
3,5 |
0,55 |
Fonte. Dados da pesquisa (2020)
A Tabela 6 demostra o teste de
diferenças entre as médias das questões, por tempo de serviço. Entretanto em
nenhuma das dimensões as médias revelaram diferenças estatísticas
significativas entre os grupos. (p > 0,05). Logo, não foram obtidas, considerando
a variável de tempo de serviço, diferenças na ocorrência e níveis de Síndrome
de Burnout.
A
maioria dos policiais que participou da investigação (48,6%) trabalha há até 5
anos na profissão e 21,6%, de 6 a 10 anos. Esses resultados são semelhantes aos
dados obtidos por Moraes et al. (2000) em que 75,1% da amostra atua na Polícia
Militar de Minas Gerais, pelo menos há sete anos.
Tabela
6. Distribuição das médias das respostas para Síndrome de Burnout por
tempo
Dimensões |
Tempo de Serviço (anos) |
p-valor |
|||||
0-5 |
6-10 |
11-15 |
16-20 |
21-25 |
T 26 |
||
Exaustão
Emocional (EE) |
14,2 |
14,6 |
15,4 |
16,1 |
13,8 |
17,0 |
0,30 |
Despersonalização
(DE) |
12,2 |
12,9 |
12,6 |
12,7 |
10,5 |
13,0 |
0,54 |
Baixa
realização profissional (RP) |
27,2 |
27,0 |
27,6 |
26,4 |
27,5 |
27,6 |
0,93 |
Fonte. Dados da pesquisa (2020)
Esses achados se evidenciam em
razão da estabilidade existente em instituições públicas. Destaca-se que a
rotina de trabalho desses policiais é mais comum em turnos alternados em escala
de plantão (56,7%); período integral (23,0%) e período matutino (20,3%). Em
relação à jornada de trabalho semanal, a maioria (47,9%) cumpre uma rotina de
tarefas superior a 40 horas semanais.
SOBRE A
SÍNDROME DE BURNOUT
Os resultados
da pesquisa revelaram muita exaustão emocional, que somados perfazem 67,6% dos
entrevistados, informação relevante que remete à necessidade de medidas
organizacionais para promoção de ações preventivas e interventivas na
corporação. A “EE” é compreendida com uma resposta ao estresse ocupacional
crônico, caracterizada por sentimentos de desgaste físico e emocional.
(MASLACH; JACKSON, 1986; MASLACH, 1993 apud GUIMARÃES; CARDOSO, 2004). Para
Zohar (2001) a EE é, primordialmente, uma resposta às demandas dos estressores
que os empregados devem enfrentar, tais como a sobrecarga de trabalho, os
contatos interpessoais, o papel conflituoso e os altos níveis de expectativas
do indivíduo com relação a si próprio e a sua organização.
Para dimensão
“Despersonalização” 52,8% dos policiais estudados apresentam grau moderado de
“DE", enquanto 34,6% revelam grau Moderado de Envolvimento Pessoal (EP) e
32,1% um alto grau. Pode-se deduzir que, os resultados alcançados na presente
pesquisa confirmam parcialmente aqueles contidos no manual do MBI (MASLACH;
JACKSON, 1996) que defini o profissional com Síndrome de Burnout com alto grau
em EE e DE e baixo grau em EP (para última dimensão se pontua de forma inversa:
um valor baixo é indicativo de maior desgaste).
Considerando os
resultados da pesquisa, recomenda-se alguns mecanismos que podem amenizar os
efeitos da síndrome de Burnout nos policiais militares, sendo classificados em
dois grupos, a saber: 1) o apoio social – atividades esportivas, bate papo com
familiares e amigos, passeios matinais, explorar outros ambientes fora do
trabalho e 2) planejamento do trabalho – programar dentro do possível as
atividades do serviço (MORENO et al., 2011). É indicado utilizar os dois
mecanismos, uma vez que eles não são mutuamente excludentes. Bem como outras
medidas de identificação dos eventos estressores, presentes no dia a dia dos
policiais, através de check-up médico e psicológico anual.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A
análise dos resultados permitiu concluir que a síndrome de Burnout está
presente na amostragem dos policiais militares da cidade de Marabá, e que alguns
aspectos sobre a qualidade de vida no trabalho podem ter contribuído para a
ocorrência da síndrome. Quanto à escolaridade, 50,7% dos policiais possue nível
superior completo, sendo que o ensino médio completo é nível mínimo exigido
para ingresso na instituição. Vale ressaltar que a formação escolar pode
influenciar a percepção dos indivíduos quanto às satisfações contextuais,
tornando-os mais ou menos exigentes em relação ao tratamento despendido pela
organização para com o profissional (ALMEIDA, 2015).
O estudo
apontou que os homens apresentaram percepção de menor desconforto relacionado
ao trabalho, do que as mulheres. Sugere-se a realização de outras pesquisas com
a mesma amostra comparando as variáveis sexo, posto/graduação, tempo de serviço
com outras variáveis. Visto que poderão trazer mais dados sobre a ocorrência da
síndrome de Burnout nos policiais militares que trabalham em Marabá. Sugere-se
ainda medidas concretas, tal qual, a criação de ambientes de escuta dos
problemas vivenciados na rotina policial e em situações de grandes tensões,
promovendo assim o melhor desempenho profissional e a maior qualidade de vida
para eles e seus familiares.
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