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5, n. 2, Maio-Agosto/2021 This work is licensed under a Creative
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EDUCAÇÃO FINANCEIRA: Influência dos
fatores demográficos e socioeconômicos na atitude e comportamento financeiro de
estudantes do ensino médio
Beatriz
Ribeiro Xavier
beatriz.rx@hotmail.com
https://orcid.org/0000-0002-1793-7161
http://lattes.cnpq.br/1551328890191261
Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul, Campus de Três Lagoas
Andradina, São Paulo, Brasil
Tamires
Sousa Araújo
tamires.sousa@ufms.br
https://orcid.org/0000-0002-0926-151X
http://lattes.cnpq.br/7499540310685652
Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul, Campus de Três Lagoas
Três
Lagoas, Mato Grosso do Sul, Brasil
Sirlei
Tonello Tisott
sirlei.tisott@ufms.br
http://orcid.org/0000-0001-9432-234X
http://lattes.cnpq.br/1604397401494604
Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul, Campus de Três Lagoas
Três
Lagoas, Mato Grosso do Sul, Brasil
Cleston
Alexandre dos Santos
cleston.alexandre@hotmail.com
https://orcid.org/0000-0001-7014-6644
http://lattes.cnpq.br/7454296010892827
Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul, Campus de Três Lagoas
Três
Lagoas, Mato Grosso do Sul, Brasil
Resumo
Este artigo procurou analisar a influência dos
fatores demográficos e socioeconômicos na atitude e comportamento financeiro de
estudantes do ensino médio nas regiões do interior de Mato Grosso do Sul e São
Paulo, onde até então não havia estudos desta natureza. A amostra desta
pesquisa foi composta por discentes de instituições de ensino públicas do
interior dos estados de São Paulo e de Mato Grosso do Sul. A metodologia
utilizada foi a de pesquisa descritiva, com abordagem quantitativa feita por
meio de um levantamento. Para isso, aplicou-se um questionário adaptado de
Potrich, Vieira e Ceretta (2013) e Potrich, Vieira e Kirch (2015). Diante dos
resultados, constatou-se que a educação financeira é pouco expressiva no
cotidiano desses estudantes. Foi possível identificar pelos fatores demográficos e socioeconômicos analisados que gênero e renda não exercem
influência sobre a educação financeira dos estudantes, mas que a escolaridade
dos pais exerce uma influência significativa. Os achados revelam uma educação financeira que não pode ser
considerada boa, sendo a atitude financeira razoável e o comportamento
financeiro insuficiente. Na Atitude Financeira os respondentes têm ciência de
que precisam estabelecer metas e que isso impactará nos investimentos futuros,
mas quanto ao Comportamento Financeiro, na prática, não utilizam um orçamento
para estabelecer metas e controlar os gastos. Com este artigo, pretende-se
estimular instituições públicas e privadas a elaborar programas que contribuam
com a educação financeira de seus alunos, formando, assim, cidadãos capacitados para
gerenciar suas finanças pessoais de forma satisfatória, evitando o
endividamento precoce.
Palavras-chave: Alfabetização financeira. Comportamento
financeiro. Finanças.
FINANCIAL EDUCATION:
influence of demographic and socioeconomic factors on the attitude and
financial behavior of high school students
Abstract
This paper seeked to analyze the influence of
demographic and socioeconomic factors in the attitude and financial behavior of
high school students in the countryside of the States of Mato Grosso do Sul and
São Paulo, places in which there weren’t studies of this nature. The sample of
this research was composed of students from public institutions from the
countryside of the states of São Paulo and Mato Grosso do Sul. The descriptive
research was used as methodology with a quantitative approach. The data were
collected using a version of the questionnaire by Potrich, Vieira and Ceretta
(2013) and Potrich, Vieira and Kirch (2015). The results indicate that the
financial education is not very expressive in the daily lives of these
students. It was possible to identify that demographic and socioeconomic
factors of observed students demonstrate that gender and income don’t influence on their financial
education, however the parental education does. The findings reveal that their
financial education isn’t good, their financial attitude is reasonable and
financial behavior is insufficient. Considering Financial Attitude, the
respondents are aware they need to set goals which will impact their future
investments, but in practice, they don’t observe their budgets to set the goals
and control their spending. This paper intends to encourage public and private
institutions to elaborate programs to contribute to their students’ financial
education, thus, forming capable citizens to manage their own personal finances
in a satisfactory way, avoiding early indebtedness.
Keywords: Financial Literacy. Financial behavior.
finances.
Submetido:
04/01/2021
Revisões
Requeridas: 03/04/2021
Aceito:
24/07/2021
Publicado:
31/08/2021
INTRODUÇÃO
O comportamento atual do
brasileiro em relação ao consumo é reflexo da forma como as gerações anteriores
lidavam com as finanças, período no qual “a economia brasileira antes do plano
real era instável e não se sabia nem qual o valor do salário do próximo mês
devido às altas inflações” (OLIVEIRA et al., 2016, p. 3).
Consequentemente, a população era impulsionada a consumir devido à incerteza da
modificação frequente dos preços. Vieira, Bataglia e Sereia (2011, p. 62)
afirmam que “neste ambiente econômico, o indivíduo é levado às decisões de
curto prazo e à falta de planejamento”.
Após este período, com a estabilização da moeda e a diminuição da
inflação, tornou-se possível um maior poder aquisitivo por meio da oferta de
créditos e financiamentos mais extensos (VIEIRA; BATAGLIA; SEREIA, 2011).
Todavia, sem a devida administração destes recursos, há um fomento direto ao
consumismo. Carvalho e Scholz (2018, p. 106) afirmam que por conta dessa oferta
de crédito e financiamentos mais extensos “as pessoas têm dificuldades de
enxergar as taxas e juros embutidos nos produtos pelas empresas, pois estes
juros muitas vezes se encontram de forma oculta para justamente camuflar o real
valor dos produtos ou serviços ofertados, principalmente daqueles oferecidos a
prazo”.
Gerações mais atuais ainda podem possuir um comportamento similar ao da
geração anterior. Isso é causado por fatores adversos, como o da constante
competição entre organizações para obterem a atenção e fidelidade dos
consumidores. Muitas empresas utilizam aplicativos e websites que projetam técnicas de marketing como
ambientação, promoções e cupons para equiparar-se as influências que engajam o
consumo em lojas físicas (COSTA; LARN, 2003), o que aumenta a aquisição de
celulares, televisões, carros, computadores e viagens aéreas.
Wisniewski (2011) afirmam que hábitos de consumo são constantemente
associados com bem-estar pela mídia, direcionando ao endividamento. Em uma
pesquisa feita pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC, 2020), um total de 66,6%
dos brasileiros estão endividados e cerca de 10,6% não terá condições de pagar
suas dívidas. Dentre os diversos tipos de dívidas, o principal (76,7%) é o
cartão de crédito (CNC, 2020).
Nesse cenário, o consumidor se torna vulnerável por dificilmente possuir
o hábito de poupar dinheiro para casos de emergências ou eventuais crises
financeiras. Notoriamente, a crise brasileira de 2014 mostrou ser a segunda
pior recessão desde 1990, com um encolhimento de 3,8% do Produto Interno Bruto
(PIB) em 2015 e 3,6% em 2016 em proporção a 2015 (PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA
DE DOMICÍLIOS - PNAD, 2017). Somado ao encolhimento, o desemprego atingiu seu
auge no primeiro trimestre de 2015 com uma taxa de 13,7%, relativos a 14,176
milhões de brasileiros (PNAD, 2017). Nesse ano, os índices de inadimplência,
que haviam reduzido em anos anteriores, sofreram um aumento de registro na
variação, estimando-se um total de 60 milhões de devedores segundo o Serviço de
Proteção ao Crédito (SPC) e a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas
(CNDL) (SPC; CNDL, 2015).
Em muitas famílias brasileiras, o impacto das crises encorajou a
população a repensar seu padrão de vida na tentativa de se manter. De acordo
com uma pesquisa feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI, 2016), em
todas as faixas de renda, as estratégias mais utilizadas foram fazer uso de
meios públicos, como transporte, saúde e educação, e reduzir o nível de
consumo, comprando produtos mais baratos e em liquidações, enquanto que em
rendas menores ocorreram medidas extremas, como mudar de casa ou vender
mobílias para pagar dívidas.
Em momentos como esses, fica claro que o brasileiro é pouco estimulado a
possuir uma economia para emergências ou a poupar com um fim de investimento, e
sim a gastar em liquidações ou utilizar-se de créditos e parcelamentos. Sendo a
família a principal fonte de conhecimento financeiro do jovem, a forma como os
pais lidam com as finanças é repassado para os filhos que administrarão o seu
próprio dinheiro no futuro.
Diante do contexto explorado, surge a seguinte questão de pesquisa: qual a influência dos fatores demográficos
e socioeconômicos na atitude e comportamento financeiro de estudantes do ensino
médio? Assim, o objetivo dessa pesquisa consiste em analisar a influência
dos fatores demográficos e socioeconômicos na atitude e comportamento
financeiro de estudantes do ensino médio nas regiões do interior de Mato Grosso
do Sul e São Paulo, locais que, até então, não havia estudos desta natureza.
A pesquisa é relevante pois, para Wisniewski (2011), os problemas
financeiros das famílias afetam negativamente o desenvolvimento da economia de
um país em longo prazo. Tais problemas podem ser evitados com educação financeira
básica.
FUNDAMENTAÇÃO
TEÓRICA
Relevância
O estudo da educação financeira se tornou essencial para a economia de
diversos países, majoritariamente, os de primeiro mundo como Canadá, Alemanha,
Reino Unido e Estados Unidos (S&P GLOBAL FINLIT SURVEY, 2015). Isto
acontece especialmente pelo fato de que a educação financeira pode ser
considerada uma ferramenta de prevenção, permitindo que os indivíduos tenham
condições de entender problemas financeiros e gerenciar suas finanças pessoais
de forma satisfatória, evitando o endividamento (ANDERLONI; VANDONE, 2010) e
planejando melhor seu consumo (SILVA; LEAL; ARAÚJO, 2018).
Hissa (2009) ressalta que a saúde financeira possui um impacto direto na
qualidade de vida, na qual o endividamento pode ser a causa de baixa
produtividade, estresse, insônia, depressão e outros distúrbios sociais. Logo,
“a melhoria da educação financeira propicia aos cidadãos uma melhor proteção
contra infortúnios, pois ficam em uma melhor posição para se protegerem”
(ARAÚJO; SOUZA, 2012, p. 19). Ademais, “a falta de controle financeiro e o
endividamento das famílias em decorrência dos padrões elevados de consumo,
afeta não só a saúde financeira pessoal, mas o desenvolvimento das economias e
sua sustentabilidade no longo prazo” (WISNIEWSKI, 2011, p. 160).
Denegri et al. (1999) asseveram que seria interessante se a
educação financeira tivesse sua inserção na educação básica, uma vez que é nesse
o período que ocorre a transmissão de valores, atitudes, informações e
habilidades que levarão a condutas corretas ou hábitos negativos. Outrossim,
“muitas das competências e dos conhecimentos matemático financeiro necessários
para promover a educação financeira passam a ter, como principal meio de
disseminação, a escola” (HOFMANN; MORO, 2013, p. 49). Ante o exposto, a escola
se estabelece como apoio à esta educação iniciada pela família, responsável por
instruir os jovens cotidianamente (D’AQUINO, 2008).
Segundo Gorla et al.
(2016), o assunto finanças é muito pouco abordado na família e o conhecimento
fornecido pelas escolas é raso, tornando-os suscetíveis ao endividamento. A
mesma percepção foi notada por Sousa (2012, p. 14), que afirma “esse tema não
era discutido em família e que, de fato, havia uma lacuna/carência na escola
com relação ao tratamento desses assuntos”. Esta ausência acaba por gerar
consequências futuras, como constatado por Messias, Silva e Silva (2015) em um
estudo com 50 jovens entre 20 e 25 anos. Os autores encontram que o despreparo
junto a facilidade de crédito introduz o jovem ao endividamento precoce
(MESSIAS; SILVA; SILVA, 2015).
Visto a necessidade da aplicação da educação financeira como essencial
para formação de cidadãos conscientes, não apenas para o controle de finanças,
mas para a manutenção de uma vivência próspera e equilibrada, o próximo tópico
apresenta a sua definição.
Educação financeira e alfabetização financeira
Além de a educação financeira ser uma habilidade escassa no cotidiano do
brasileiro, como mencionado anteriormente, existe também carência quanto a
alfabetização financeira. Ambos os termos são equivocadamente tratados como
sinônimos. Huston (2010) identificou em 71 estudos individuais que 47% usam os
termos alfabetização financeira e conhecimento financeiro como sinônimos. Robb,
Babiarz e Woodyard (2012) explicam que alfabetização financeira trata da tomada
de decisão eficaz com base na interpretação de uma informação financeira,
enquanto educação financeira se limita ao conhecimento da informação.
Os autores Atkinson e Messy (2012, p. 14) definem alfabetização
financeira como “uma combinação de consciência, conhecimento, habilidades,
atitudes e comportamentos necessários para fazer decisões financeiras
conscientes e atingir o bem-estar financeiro individual”. Similarmente, para
Noctor, Stoney e Stradling (1992) a alfabetização financeira é a capacidade do
indivíduo de manejar e usar o dinheiro por meio de julgamentos e decisões
eficazes.
Sobre educação financeira, Teixeira et al. (2010, p. 26) definem que é “a arte de aplicar os
princípios e conceitos de finanças em auxílio à tomada de decisões financeiras
pessoais”. Claudino, Nunes e Silva (2009, p. 2) explicam que “a educação
financeira compreende a inteligência de ler e interpretar números e assim
transformá-los em informação para elaborar um planejamento financeiro que
garanta um consumo saudável e o futuro equilibrado nas finanças pessoais”.
Costa (2018, p. 26) sintetiza que o objetivo da educação financeira se
refere “a possibilidade de formar pessoas com consciência sobre o uso e
atribuição do dinheiro e seus gastos”. De forma complementar, Faveri, Kroetz e
Valentim (2012, p. 3) afirmam que a educação financeira“tem como principal
objetivo informar as pessoas sobre os conceitos e produtos financeiros de forma
que possam gerir suas receitas de forma consciente, diminuindo riscos e
aproveitando oportunidades de poupança e investimentos que possam surgir”.
Portanto, alfabetização financeira trata da fusão de habilidades que
possibilitam a aplicação da educação financeira ativamente no cotidiano, já a
educação financeira se refere ao conhecimento que se tem na administração dos
recursos.
Estudos correlatos
No meio acadêmico não há um consenso quanto aos fatores que determinam
ou podem determinar a educação financeira de um indivíduo. Todavia,
frequentemente autores utilizam-se de fatores semelhantes como renda,
escolaridade, idade, família e gênero.
No que tange à influência familiar, Sales (2018) notou que cerca de 32%
dos 110 alunos pesquisados obtiveram a educação financeira por meio da família,
na qual destaca ser a primeira introdução aos temas: poupar e investir.
Similarmente, Silva (2019, p. 45) constatou que “a maioria dos jovens adotam os mesmos padrões financeiros semelhantes
aos da família e que a família exerce grande influência na postura dos jovens
em relação ao comportamento de consumo”.
Quanto ao fator renda, estudos mais recentes que cruzaram os dados entre
o Indicador do Analfabetismo Funcional (INAF) do Instituto Paulo Montenegro e o
Indicador de Educação Financeira (INEF) da Serasa Experian (2019) indicaram que
o comportamento financeiro não possui relação proporcional à renda, visto que “o
comportamento financeiro dos brasileiros com renda acima de cinco salários
mínimos não é melhor do que os dos demais brasileiros”. Na verdade, a
experiência prática ao lidar com situações do cotidiano mostrou possuir um
maior peso em relação as finanças pessoais e que o nível de letramento se
mostrou irrelevante.
Potrich, Vieira e Ceretta (2013), em seu estudo, verificaram se os
estudantes universitários são alfabetizados financeiramente e se a
alfabetização é afetada por variáveis socioeconômicas e demográficas.
Aplicou-se questionários para 534 estudantes de graduação de universidades do
Rio Grande do Sul. Os achados da pesquisa apontam que os estudantes apresentam
um comportamento financeiro positivo, mas não satisfatório. Ainda foi possível
identificar que a alfabetização financeira é influenciada positivamente
pelas variáveis: formação, ocupação, gênero e renda.
Já Potrich, Vieira e Kirch (2015) foram além, tiveram o objetivo de desenvolver um modelo que explique o nível de alfabetização financeira dos
indivíduos a partir de variáveis socioeconômicas e demográficas, com amostra de
1400 respondentes do Rio Grande do Sul. Utilizaram como indicador do nível de
alfabetização financeira as variáveis: atitude financeira, comportamento
financeiro e conhecimento financeiro. Foram estimados modelos logit e probit com as seguintes variáveis explicativas: gênero, estado
civil, dependentes, ocupação, idade, escolaridade, escolaridade do pai,
escolaridade da mãe, renda própria e renda familiar. Os achados indicaram que o
gênero masculino que não possue dependentes, que possui maior nível de
escolaridade e que possue fontes de renda própria, apresenta maior nível de
alfabetização financeira. Também constataram que a maioria dos pesquisados
(67,1%) foram classificados com baixo nível de alfabetização financeira.
Potrich (2014), por sua vez, constatou que a idade não é um fator com
diferença significativa em nenhum aspecto do conhecimento financeiro (básico,
avançado e total) nos grupos analisados na sua pesquisa com 1.576 habitantes
das 7 mesorregiões do Rio Grande do Sul, que possuíam entre 18 e 30 anos.
Em uma pesquisa com estudantes de graduação de universidades públicas e
privadas do estado do Rio Grande do Sul, Vieira et al. (2016) evidenciaram que apesar do gênero não possuir
relevância no aspecto de gestão financeira, há notoriedade nos aspectos:
consumo, poupança e crédito. Os dados indicam que os homens se mostraram mais
conscientes em poupar dinheiro, na responsabilidade do uso do crédito e nas
compras por impulso. Divergindo deste estudo, a pesquisa de Nascimento et
al. (2017), cuja amostra era composta em sua maioria por mulheres,
demonstrou que elas possuíam educação financeira ao criarem um planejamento das
próprias finanças e possuíam também controle financeiro.
PROCEDIMENTOS
METODOLÓGICOS
A presente pesquisa possui característica descritiva. Segundo Michel
(2009, p. 44) “a pesquisa descritiva se propõe a verificar e explicar
problemas, fatos ou fenômenos da vida real, com a precisão possível, observando
e fazendo relações, conexões, à luz da influência que o ambiente exerce sobre
eles”.
A abordagem foi feita de forma quantitativa por meio de um levantamento.
Santos e Parra Filho (2011, p.11) afirmam que “a quantificação dos resultados
do trabalho de pesquisa é um instrumento de grande importância na constatação
dos resultados”.
A coleta de dados foi feita por meio da aplicação presencial de um
questionário com questões fechadas adaptado do instrumento de coleta de dados
de Potrich, Vieira e Kirch (2015) e do questionário de Potrich, Vieira e Ceretta (2013) em visitas nas escolas. A variável atitude
financeira tem como base a escala da OECD (2013), com dez questões do tipo
Likert de cinco pontos, que aponta como uma pessoa avalia sua gestão
financeira. Já a variável comportamento financeiro os autores do instrumento
utilizaram as escalas de Shockey (2002), O’Neill e Xiao (2012) e pela OECD
(2013), com o objetivo de avaliar o comportamento financeira dos indivíduos, em
27 questões do tipo Likert de cinco pontos.
A amostra da pesquisa foi
composta por 427 alunos matriculados no último ano do ensino médio de
instituições públicas de cidades do interior dos estados de Mato Grosso do Sul
e São Paulo no ano de 2019. A escolha dos estados foi pela proximidade das
cidades investigadas, em que os pesquisadores foram pessoalmente nas
instituições coletar os dados. Vale ressaltar que apenas os alunos presentes no
dia da coleta responderam à pesquisa.
Os questionários foram
organizados em planilhas de Excel para posteriormente serem filtrados em dados
e tratados utilizando o software @Stata com as técnicas ladder e glander
para todas as variáveis investigadas. O comando ladder foi utilizado com
a finalidade de realizar várias transformações e testar a normalidade das
distribuições após as referidas transformações. Já o comando glander foi
utilizado para gerar os histogramas com as variáveis já transformadas.
Inicialmente, como análise
descritiva dos dados, utilizou-se como método os testes de diferença de médias
a fim de conhecer melhor as variáveis estudadas. Na sequência, na análise da
influência do gênero na atitude e comportamento financeiro, aplicou-se o Teste
t de Student com o propósito de
testar se duas amostras independentes foram retiradas de populações com médias
iguais. Esse teste consiste em um tipo de método paramétrico que verifica
suposições acerca do parâmetro populacional, chamado média, quando há
normalidade dos dados analisados (MAROCO, 2014. Por fim, na análise da
influência da renda familiar e dos pais na atitude e comportamento financeiro,
utilizou-se o Teste de análise de variância ANOVA, que tem como objetivo
determinar se as médias de três ou mais grupos são diferentes (MAROCO, 2014).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na primeira parte da análise
foram abordados os dados do perfil dos respondentes. Conforme Tabela 1, a
maioria são estudantes do sexo feminino (54,1%) entre 15 a 17 anos (66,5%) e
pertencentes ao estado de São Paulo (54,6%).
Quando questionados quanto a intenção
de ingressar no ensino superior, apenas uma quantidade mínima de estudantes não
possui intenção (14,1%). Verificando o contexto familiar no qual os estudantes
estão inseridos, para a maioria, a renda familiar é de dois a quatro
salários-mínimos (31,4%). De acordo com os resultados apresentados na Tabela 1,
ao observar que a maioria dos respondentes tem renda familiar de até quatro salários-mínimos
e muitos têm a intenção fazer um curso superior, ter uma boa gestão dos
recursos financeiros será primordial para alcançar os objetivos pretendidos e
honrar com as dívidas. Ao ingressa em curso superior, independente se for
instituição pública ou privada, o acadêmico terá pelo menos gastos com
material, alimentação e deslocamento.
Tabela 1. Relação de perfil dos estudantes
|
Frequência |
% |
% válida |
% acumulativa |
Idade |
||||
De 15 a 17 anos |
284 |
66,5 |
66,5 |
66,5 |
De 18 a 20 anos |
106 |
24,8 |
24,8 |
91,3 |
Mais de 20 anos |
37 |
8,7 |
8,7 |
100 |
Total |
427 |
100 |
100 |
|
Sexo |
||||
Masculino |
196 |
45,9 |
45,9 |
45,9 |
Feminino |
231 |
54,1 |
54,1 |
100 |
Total |
427 |
100 |
100 |
|
Estado |
||||
SP |
233 |
54,6 |
54,6 |
54,6 |
MS |
194 |
45,4 |
45,4 |
100 |
Total |
427 |
100 |
100 |
|
Pretende ingressar no curso superior? |
||||
Sim |
367 |
85,9 |
85,9 |
85,9 |
Não |
60 |
14,1 |
14,1 |
100 |
Total |
427 |
100 |
100 |
|
Renda familiar |
||||
Até 1 Salário-mínimo |
55 |
12,9 |
12,9 |
12,9 |
de 1 a 2 Salários-mínimos |
122 |
28,6 |
28,6 |
41,5 |
de 2 a 4 Salários-mínimos |
134 |
31,4 |
31,4 |
72,8 |
de 4 a 6 Salários-mínimos |
54 |
12,6 |
12,6 |
85,5 |
de 6 a 8 Salários-mínimos |
28 |
6,6 |
6,6 |
92 |
Acima de 8 Salários-mínimos |
34 |
8 |
8 |
100 |
Total |
427 |
100 |
100 |
|
Fonte. Dados da
pesquisa.
Os resultados da Tabela 2 mostram
que os pais são os que mais possuem ensino superior completo (32,3%), enquanto
um percentual relevante das mães possui o ensino médio completo (33,3%). Diante
desses resultados, o fato do pai e da mãe já ter um grau de instrução maior,
como o ensino superior completo, pode ser um fator que impacte em um melhor
comportamento financeiro de seus filhos.
Tabela 2. Escolaridade dos pais
|
Escolaridade do pai |
Escolaridade da mãe |
||||||
|
Freq. |
% |
% válida |
% acum. |
Freq. |
% |
% válida |
% acum. |
Superior completo |
138 |
32,3 |
32,3 |
57,1 |
101 |
23,7 |
23,7 |
23,7 |
Superior incompleto |
25 |
5,9 |
5,9 |
24,8 |
35 |
8,2 |
8,2 |
31,9 |
Ensino médio completo |
81 |
19 |
19 |
19 |
142 |
33,3 |
33,3 |
65,1 |
Ensino médio incompleto |
66 |
15,5 |
15,5 |
72,6 |
59 |
13,8 |
13,8 |
78,9 |
Fundamental completo |
23 |
5,4 |
5,4 |
78 |
25 |
5,9 |
5,9 |
84,8 |
Fundamental incompleto |
83 |
19,4 |
19,4 |
97,4 |
58 |
13,6 |
13,6 |
98,4 |
Analfabeto |
11 |
2,6 |
2,6 |
100 |
7 |
1,6 |
1,6 |
100 |
Total |
427 |
100 |
100 |
|
427 |
100 |
100 |
|
Fonte. Dados da
pesquisa
Mediante as questões propostas no
questionário, para uma análise mais consistente e robusta, buscou-se relacionar
se as características mencionadas possuem alguma influência na educação
financeira destes estudantes. A Tabela 3 apresenta as médias conforme as respostas dos estudantes
quanto a atitude financeira (AF) e comportamento financeiro (CF). A AF foi
medida por afirmações de grau de concordância, que variavam entre: discordo
plenamente, discordo parcialmente, indiferente, concordo parcialmente e
concordo plenamente. Já o CF foi avaliado pelo grau de concordância baseado em
hábitos: nunca, quase, às vezes, quase sempre e sempre.
Tabela 3. Índice geral de dados
Estatística Descritiva |
|||||
Variáveis |
N |
Mínimo |
Máximo |
Média |
Erro Desvio |
AF1 |
427 |
1 |
5 |
4,663 |
0,8099 |
AF2 |
427 |
1 |
5 |
1,892 |
1,2074 |
AF3 |
427 |
1 |
5 |
2,529 |
1,2895 |
AF4 |
427 |
1 |
5 |
3,681 |
1,2012 |
AF5 |
427 |
1 |
5 |
3,304 |
1,329 |
AF6 |
427 |
1 |
5 |
2,902 |
1,3548 |
AF7 |
427 |
1 |
5 |
3,923 |
1,23 |
AF8 |
427 |
1 |
5 |
3,593 |
1,4447 |
AF9 |
427 |
1 |
5 |
2,157 |
1,3361 |
AF10 |
427 |
1 |
5 |
3,136 |
1,379 |
CF11 |
427 |
1 |
5 |
2,663 |
1,3647 |
CF12 |
427 |
1 |
5 |
3,988 |
1,0866 |
CF13 |
427 |
1 |
5 |
3,138 |
1,3521 |
CF14 |
427 |
1 |
5 |
2,904 |
1,3471 |
CF15 |
427 |
1 |
5 |
2,953 |
1,3747 |
CF16 |
427 |
1 |
5 |
3,522 |
1,2108 |
CF17 |
427 |
1 |
5 |
3,459 |
1,0899 |
CF18 |
427 |
1 |
5 |
2,801 |
1,452 |
CF19 |
427 |
1 |
5 |
4,152 |
1,1659 |
CF20 |
427 |
1 |
5 |
2,979 |
1,3864 |
CF21 |
427 |
1 |
5 |
2,009 |
1,1867 |
CF22 |
427 |
1 |
5 |
1,813 |
1,1435 |
CF23 |
427 |
1 |
5 |
4,035 |
1,2786 |
CF24 |
427 |
1 |
5 |
3,246 |
1,4801 |
CF25 |
427 |
1 |
5 |
3,213 |
1,3786 |
CF26 |
427 |
1 |
5 |
3,415 |
1,2961 |
CF27 |
427 |
1 |
5 |
3,698 |
1,3251 |
CF28 |
427 |
1 |
5 |
3,232 |
1,3908 |
CF29 |
427 |
1 |
5 |
3,105 |
1,374 |
CF30 |
427 |
1 |
5 |
2,258 |
1,307 |
CF31 |
427 |
1 |
5 |
4,145 |
1,1858 |
CF32 |
427 |
1 |
5 |
2,696 |
1,3378 |
CF33 |
427 |
1 |
5 |
2,81 |
1,3248 |
CF34 |
427 |
1 |
5 |
2,998 |
1,4233 |
CF35 |
427 |
1 |
5 |
2,81 |
1,5211 |
AF2I |
427 |
1 |
5 |
4,1077 |
1,20741 |
CF32I |
427 |
1 |
5 |
3,3044 |
1,3378 |
Fonte. Dados da
pesquisa. Nota. AF = Alfabetização
financeira; CF = Comportamento Financeiro
Ante as questões de atitude financeira,
de acordo com a Tabela 3, quando questionados quanto ao futuro, a maioria
considera importante definir metas (AF1-4,663) e acredita que o modo como
administram o dinheiro os afetará futuramente (AF8-3,593), além de não achar
mais satisfatório gastar do que poupar. Porém, ao mesmo tempo, não possuem
preocupações com o futuro, apenas com o presente (AF2-1,892), provavelmente por
ser impossível para a família poupar, conforme a média de AF3-2,529 e a
dificuldade em construir um planejamento de gastos familiar (AF6-2,902). Há uma
preocupação razoável dos entrevistados com as decisões tomadas quanto ao
dinheiro (AF4-3,681), porém gastam pela sensação de bem-estar proporcionado
pela compra (AF5-3,304) e concordam que o dinheiro é feito para gastar
(AF10-3,136), dispondo a gastá-lo em coisas importantes para si (AF7-3,923).
Esses resultados
permitem inferir que os estudantes estão cientes que precisam estabelecer
metas, já que a forma como fazem a gestão dos recursos financeiros impactará
nos investimentos futuros. Apesar de apontarem que estão mais preocupados com o
presente do que com o futuro, o fato de terem metas estabelecidas, mesmo que de
curto prazo, pode ajudá-los a ter um controle financeiro satisfatório. Pelo
fato de os respondentes considerarem que é difícil poupar, é importante que
eles refletam sobre criar uma reserva, mesmo que de início seja um valor
considerado baixo, mas que na sequência esse valor possa ser aumentado aos
poucos. Esse tipo de comportamento tende a criar uma cultura que possibilitará
a pessoa a trabalhar com um planejamento de investimento de médio e longo
prazo.
No que concerne o comportamento financeiro, de acordo com a Tabela 3, as
médias demonstraram que o controle de gastos pessoais (CF11-2,663) se mostra
escasso, sendo quase nunca feito. Da mesma forma, os estudantes quase nunca
fazem um plano de gastos ou orçamento (CF14-2,904) e registros financeiros
organizados (CF25-3,213) são mantidos apenas às vezes. Além de quase nunca
identificarem os custos na compra de um produto no crédito (CF15-2,953), não
guardar parte da renda todo mês (CF20-2,979) e não terem conseguido poupar
dinheiro nos últimos 12 meses (CF33-2,81). Comportamentos relacionados com
economias são feitos apenas às vezes, como reservas de dinheiro para
necessidades futuras (CF13-3,138), sendo que reservas iguais ou maiores às despesas
mensais quase nunca são feitas (CF30-2,258). Os entrevistados não hesitam em
compras por impulso (CF26-3,415), não guardam dinheiro para atingir objetivos
de longo prazo (CF28-3,232), não poupam ao receber um aumento salarial ou
mesada (CF29-3,105).
Observando os objetivos, esses são traçados apenas às vezes como
orientação para as decisões financeiras (CF16-3,522) e da mesma forma
alcançados (CF17-3,459). Contudo, as contas são quase sempre pagas em dia
(CF19-4,152), há uma análise antes de fazer uma compra grande (CF23-4,035),
comparação de preços (CF12-3,988) e verificam se possuem condições de pagar ao
efetuar uma compra (CF31-4,145). Além de nunca pedirem dinheiro emprestado para
família ou amigos para pagar as contas (CF22-1,813) e quase nunca gastarem
antes de obter o dinheiro (CF21-2,009).
Esses achados permitem inferir que, no comportamento financeiro, os
respondentes praticamente não têm um controle efetivo dos gastos, como um
orçamento. Além disso, na prática, não procuram poupar dinheiro e acabam
fazendo compras por impulso. Caso a situação financeira da família não seja
boa, o fato de não ter um bom orçamento e controle dos gastos, tende a agravar
uma situação ruim, o que aumenta a dificuldade de encontrar alternativas para
contornar o problema.
Em suma, percebe-se uma educação financeira que não pode ser considerada
boa, sendo a atitude financeira razoável e o comportamento financeiro
preocupante, mesmo levando em consideração questões positivas como pagamento
das contas em dia, análises ao fazer uma compra grande, comparar preços e
verificar a própria condição ao efetuar uma compra. Os resultados até mostram
que, na atitude financeira, os respondentes têm ciência de que precisam
estabelecer metas e que a forma de controle dos recursos impactará nos
investimentos futuros, mesmo que apontam estar mais preocupados com o presente.
Mas quanto ao comportamento financeiro, na prática, não utilizam um orçamento
para estabelecer metas e controlar os gastos.
A Tabela 4 apresenta a análise da influência do gênero na atitude
financeira e comportamento financeiro.
Tabela 4. Teste t – Gênero e Atitude
Financeira/Comportamento Financeiro
n |
x e σ Masculino |
n |
x e σ Feminino |
da
diferença |
t(df) |
p-valor |
|
AF |
96 |
1,83 (0,09) |
231 |
1,83 (0,09) |
-0,002 |
-0,1235 (425) |
0,902 |
CF |
96 |
3,19 (0,04) |
231 |
1,83 (0,04) |
-0,096 |
-1,6078 (425) |
0,108 |
Fonte. Dados da pesquisa (2020). Nota. Significante ao nível 5%. representa a média e σ representa o desvio padrão. Foi
considerado um intervalo de confiança de 95%. Questionários não respondidos
foram considerados como inválidos e excluídos das análises.
Assim, conforme Tabela 4, similarmente ao que foi demonstrado por Vieira
et al. (2016) e contrariando Nascimento et al. (2017), estudantes do gênero
masculino e feminino demonstraram as mesmas médias de escores para atitudes
financeiras e comportamento financeiro. Esses resultados mostram que não há
diferença significativa na análise do Teste t, ou seja, não é possível afirmar
que o gênero influência na atitude financeira e comportamento financeiro dos
respondentes desta pesquisa.
A Tabela 5 apresenta a análise da influência da renda familiar na
atitude financeira e comportamento financeiro.
Tabela 5. Anova – Renda e Atitude Financeira/Comportamento Financeiro
Soma dos quadrados |
Grau de liberdade |
Quadro Médio |
F |
Sig |
|
AF |
8,18 |
426 |
0,019 |
0,41 |
0,843 |
CF |
161,53 |
426 |
0,379 |
1,26 |
0,279 |
Fonte. Dados da pesquisa (2020). Nota. Significante ao nível 5%. representa a média e σ representa o desvio padrão. Foi
considerado um intervalo de confiança de 95%. Questionários não respondidos
foram considerados como inválidos e excluídos das análises.
Com base na Tabela 5, feita a comparação entre renda e atitudes e
comportamentos financeiros, não foi constatado que a renda exerce influência, o
que também foi identificado nos dados do INAF do
Instituto Paulo Montenegro e o INEF da Serasa Experian (2019). O presente
achado permite inferir que mesmo a família tendo uma renda alta, o que pode
gerar maior movimentação dos recursos com gastos/investimentos, a atitude
financeira e comportamento financeiro tende a não ter diferença significativa
diante de famílias com rendas menores.
As Tabelas 6 e 7 apresentam análises sobre as influências das escolaridades
da mãe e do pai na atitude financeira e comportamento financeiro. Considerando os
dados dessas Tabelascomo influências obtidas da mãe e do pai, nota-se uma
diferença perceptível nas respostas dos estudantes quanto às atitudes
financeiras pela variação da escolaridade de ambos. Sendo assim, os resultados
encontrados refletem o que foi demonstrado por Sales (2018) e Silva (2019) em suas
pesquisas, nas quais a educação financeira dos estudantes avaliados advém da
família.
Os resultados das Tabelas 6 e 7 permitem inferir que o nível de
escolaridade da mãe e do pai impacta na atitude financeira e comportamento
financeiro do estudante de ensino médio que fez parte da presente pesquisa. Com
isso, espera-se que o nível de escolaridade da mãe e do pai influencie o
estudante quanto a consciência da necessidade de planejamento, de estabelecer
metas, de que a forma de controle dos recursos impactará nos investimentos
futuros, bem como na prática da operacionalização desses controles, como na
utilização e acompanhamento do orçamento.
Tabela 6. Anova – Escolaridade Mãe e Atitude Financeira/Comportamento
Financeiro
Soma dos quadrados |
Grau de liberdade |
Quadro Médio |
F |
Sig |
|
AF |
8,18 |
426 |
0,019 |
2,16 |
0,046 |
CF |
161,53 |
426 |
0,379 |
1,73 |
0,113* |
Fonte. Dados da pesquisa (2020). Nota.Significante ao nível 5% e
*10%. Foi considerado um intervalo de
confiança de 95% e *90%. Questionários não respondidos foram considerados como
inválidos e excluídos das análises.
Tabela 7. Anova – Escolaridade Pai e
Atitude Financeira/Comportamento Financeiro
Soma dos quadrados |
Grau de liberdade |
Quadro Médio |
F |
Sig |
|
AF |
8,18 |
426 |
0,019 |
2,37 |
0,029 |
CF |
161,53 |
426 |
0,379 |
1,7 |
0,119* |
Fonte. Dados da pesquisa (2020). Nota.Significante ao nível 5% e
*10%. Foi considerado um intervalo de
confiança de 95% e *90%. Questionários não respondidos foram considerados como
inválidos e excluídos das análises.
Na sequência, a Tabela 8 apresenta a análise da influência da idade dos
estudantes de ensino médio na atitude financeira e comportamento financeiro.
Tabela 8. Anova – Idade e Atitude Financeira/Comportamento
Financeiro
Soma dos quadrados |
Grau de liberdade |
Quadro Médio |
F |
Sig |
|
AF |
8,18 |
426 |
0,019 |
0,04 |
0,965 |
CF |
161,53 |
426 |
0,379 |
2,73 |
0,067* |
Fonte. Dados da pesquisa (2020). Nota.Significante ao nível 5% e
*10%. Foi considerado um intervalo de
confiança de 95% e *90%. Questionários não respondidos foram considerados como
inválidos e excluídos das análises.
Com base na Tabela 8, nota-se que conforme a idade do estudante, o comportamento
financeiro tende a variar. Tal achado contradiz Potrich (2014) ao demonstrar
que a idade possui, de certa forma, influência no comportamento financeiro do
estudante da amostra. De acordo com os resultados, mesmo não sendo constatado
diferença estatística significativa entre os respondentes na atitude financeira,
na análise do comportamento financeiro, ao nível de 10%, pode-se inferir que a
idade influência no comportamento financeiro entre os estudantes. Vale
ressaltar que a idade afeta o comportamento financeiro dos estudantes, mesmo a
maioria tendo idade entre 15 e 17 anos e poucos acima de 20 anos.
Em suma, os estudantes demonstram uma atitude financeira razoável e um
conhecimento financeiro insatisfatório. Ainda que haja consciência da importância
de metas e a administração do dinheiro para o futuro, tal pensamento não é
refletido no comportamento. Os resultados demonstram que gênero e renda não
exercem influência na educação financeira dos estudantes, mas o grau de
instrução dos pais interfere.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa buscou verificar a influência dos fatores demográficos e
socioeconômicos na atitude e comportamento financeiro de estudantes que estavam
cursando o terceiro ano do ensino médio. Para tal, foram utilizados
questionários adaptados de Potrich, Vieira e
Kirch (2015) e Potrich, Vieira e Ceretta (2013). Assim, foi possível
identificar que a educação financeira se encontra escassa no cotidiano destes
estudantes, sendo a atitude financeira mínima e o comportamento financeiro
insuficiente. Os fatores demográficos e socioeconômicos analisados demostram que gênero e
renda não exercem influência sobre a educação financeira do estudante da
amostra.
Os achados do presente estudo mostram que os estudantes pesquisados até
concordam que é preciso estabelecer metas diante dos recursos que detém e que
isso afetará seus planos futuros, porém, revelam estar mais preocupados com o
presente do que com o futuro e, ainda, a maioria afirma que tem dificuldade
para poupar dinheiro. Apesar da maioria evidenciar que é preciso ter metas e
que essas decisões impactam no futuro, os estudantes não utilizam um orçamento
para planejamento e controle dos recursos. Esses resultados são preocupantes,
pois além de não terem um controle efetivo dos recursos e gastos realizados,
uma situação de dificuldade financeira tende a ser agravada quando compras são
feitas por impulso, o que foi constatado na maioria dos respondentes.
Na análise da influência dos fatores demográficos e socioeconômicos na
atitude e comportamento financeiro de estudantes pesquisados, os resultados do
estudo permitem afirmar que o nível de escolaridade da mãe e do pai impactam na
atitude e comportamento financeiro do estudante. Diante desse achado, famílias
com maior nível de formação, tendem a possuir mais informação e conhecimento, o
que afetará a atitude e comportamento financeiro dos filhos no papel de
estudantes.
Um outro achado relevante é quanto a influência da idade na atitude e
comportamento financeiro. Os resultados apontam que apesar da maioria dos estudantes
terem idades entre 15 e 17 anos e a minoria acima de 20 anos, a idade
influência no comportamento financeiro entre os estudantes analisados. Para se
ter um nível desejado de atitude e comportamento financeiro, a escola pode ser
determinante, com maior investimento no desenvolvimento de atividades nas
disciplinas e projetos complementares, contemplando discussões teóricas e
dinâmicas com situações próximas da realidade dos estudantes.
A contribuição aos municípios e escolas estudadas evidencia-se no
esclarecimento dos fatores que influenciam os estudantes em suas decisões
financeiras. Logo, pode então servir como justificativa para a criação de
iniciativas para a propagação da educação financeira para que os jovens
brasileiros venham a se tornar adultos prudentes em relação as suas economias,
tornando-se a base para que possam administrar suas finanças na vida adulta
(D’AQUINO, 2009). Com esta pesquisa, possibilitou-se ampliar o estudo para
identificar a educação financeira na região do interior do estado de São Paulo
e Mato Grosso do Sul, onde, até então, não havia estudos desta natureza.
As cidades cujos alunos foram pesquisados apresentam características
semelhantes, são próximas, fazem parte da região de divisa entre os estados de
São Paulo e Mato Grosso do Sul. A região tem apresentado um ritmo acelerado de
crescimento econômico e, como consequência, demográfico, influenciado por
investimentos industriais. Influenciado também por incentivos fiscais, grandes
empresas foram construídas, o que afetou na instalação de empresas de porte
médio e aqueceu o mercado das pequenas empresas, como às diversas necessidades
da população em crescimento, como investimento em saneamento, saúde, educação e
infraestrutura. Em região que estão em processo de evolução, investir em
educação financeira torna-se essencial, tendo em vista que as famílias podem
ter um controle mais consistente dos recursos disponíveis.
As limitações durante a execução deste trabalho ocorreram pela falta de
acesso aos estudantes do ensino médio de escolas particulares. Além de que a
quantidade de estudantes nas escolas particulares mostrou-se ser
consideravelmente inferior quando comparado com a quantidade de alunos nas
escolas públicas. O estudo também se limita as regiões analisadas, cidades que
fazem parte da divisa entre os estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul.
Sugere-se que em futuras pesquisas seja realizado um comparativo entre
escolas públicas e particulares com o objetivo de evidenciar os fatores
sociodemográficos presentes em cada ambiente e influenciáveis na educação
financeira, servindo também com o propósito de apontar possíveis desigualdades
sociais presentes.
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O presente trabalho foi realizado
com apoio da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS/MEC –
Brasil