v. 4, n. 3, Setembro-Dezembro/2020 This work is licensed under a Creative
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4.0 International License
Mulheres no comando: Uma revisão na literatura sobre liderança
feminina no campo do trabalho no Brasil
Mara Rosalia Ribeiro Silva
mararosalia87@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-9878-694X
http://lattes.cnpq.br/9678190707754479
Universidade Federal do Paraná
Curitiba, Paraná, Brasil
RESUMO
Os períodos de crises mundiais – como a que o
mundo vive por conta da pandemia do Covid-19 – são relevantes encorajadores da
ciência da Administração para conhecer, analisar e identificar novas
possibilidades de lideranças. Destacou-se, neste artigo, a liderança feminina.
Além disso, o fenômeno da liderança feminina demonstrou crescimento
significativo em empresas privadas brasileiras e em trabalhos científicos.
Assim, o objetivo da presente investigação é apresentar os resultados de uma
revisão sistemática da literatura sobre liderança feminina no Brasil no campo
do trabalho. Para tanto, este estudo foi realizado sob abordagem qualitativa,
busca bibliográfica sistemática e análise de conteúdo. Foram selecionados 20
artigos publicados entre 2016 e 2020. Dentre os principais resultados,
identificou-se que: a liderança
feminina foi particularmente estudada no nível da média liderança (supervisoras
e gerentes), no contexto das organizações privadas e com ênfase nas empresas do
setor de serviços; dentre as abordagens teóricas, destacaram-se os estilos de
liderança, glass ceiling, pink collar work, queen bee. Foram levantados problemas de pesquisa para orientar
futuras investigações sobre a temática, seccionadas em níveis de análise
(individual, grupal e organizacional). A maior contribuição deste artigo foi
expandir conhecimento sobre o estado da arte da liderança
feminina no âmbito do trabalho no Brasil.
Palavras-chaves:
Liderança feminina. Mulheres no mercado de
trabalho. Revisão da literatura.
Women in charge: A
literature review on female leadership in the field of work in Brazil
ABSTRACT
Periods of global crises – such as the one the world
is experiencing due to the Covid-19 pandemic – are relevant incentives for the
science of Administration to know, analyze and identify new possibilities for
leadership. In this article, female leadership stood out. In addition, the
phenomenon of female leadership has shown significant growth in Brazilian
private companies and in scientific work. Thus, the objective of this
investigation is to present the results of a systematic literature review on
female leadership in Brazil in the field of work. This study is qualitative,
with systematic bibliographic search and content analysis. Twenty articles
published between 2016 and 2020 were selected. Among the main results, stood
out: female leadership was particularly studied at the level of middle
leadership (supervisors and managers), into the context of private
organizations and emphasizing services sector companies; among the theoretical
approaches, leadership styles, glass ceiling, pink collar work and queen bee
stood out. Research problems were raised to guide future investigations on the
theme, divided into levels of analysis (individual, group and organizational).
The greatest contribution of this article was to expand knowledge about the
state of the art of female leadership in the field of work in Brazil.
Keywords: Female leadership. Women in the labor market. Literature review.
Submetido: 03/08/2020
Nova Submissão - Correções: 03/09/2020
Aceito: 13/09/2020
Publicado: 30/09/2020
1. INTRODUÇÃO
O Covid-19 (Corona
Virus Desease-2019) foi caracterizado como uma pandemia pela Organização
Mundial da Saúde em 11 de março de 2020 (OMS, 2020). Embora o Covid-19 tenha
gerado um cenário crítico de mortes e desemprego, seus impactos chamaram a
atenção para a relevância da ação feminina no combate à doença. As mulheres
estão na vanguarda do cuidado com os pacientes, uma vez que cerca de 70% dos
profissionais de saúde e serviços sociais no mundo são mulheres (BONIOL et al.,
2019). No campo da liderança política, a maioria dos países que alcançaram os
resultados mais eficazes no controle da pandemia até junho de 2020 é presidida
por mulheres, por exemplo: Alemanha, Taiwan, Nova Zelândia, Islândia,
Finlândia, Noruega e Dinamarca (WITTENBERG-COX, 2020), que figuram como algumas
das nações mais igualitárias em termos de gênero no mundo (WEF, 2020).
No que tange ao Brasil, este país está posicionado
no 92º lugar no Relatório “Global Gender
Gap Report 2020” do Fórum Econômico Mundial, documento que classifica 153
países em termos de acesso de homens e mulheres a política, participação e
oportunidade econômica, educação e saúde (WEF, 2020). Esse ranking reflete a
desigualdade de gênero que o país enfrenta, mesmo tendo a maior parte da
população formada por mulheres e também a força de trabalho constituída na sua
maioria por mulheres. Ademais, quando se trata de mulheres em cargos de
liderança, o percentual da representatividade é, em geral, baixo em comparação
ao número de líderes homens. Como exemplo de pouca representatividade da
liderança feminina no Brasil, durante o contexto da pandemia de Covid-19, o
Ministério da Saúde do Brasil é amplamente dominado por homens. O ministro da
saúde é homem, e a maioria de homens forma a diretoria executiva do ministério:
8 dos 21 trabalhadores são mulheres (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020a). Além disso,
entre as 27 secretarias estaduais de saúde, havia apenas duas mulheres líderes
- até junho de 2020 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020b).
A temática da liderança feminina é ampla e
complexa, sendo necessário definir dois pontos principais para avançar nesta
pesquisa: o que é aqui considerado como “liderança” e o escopo de liderança
feminina que se pretende alcançar. Em primeiro lugar, entre múltiplos de conceitos de liderança (SPICKER, 2012), para os
propósitos deste artigo, liderança significa o processo em que o líder
influencia e motiva as pessoas para que as metas individuais e de grupo sejam
alcançadas (LEROY et al., 2018; MILTERSTEINER et al., 2020; YUKL, 2010). Esse
conceito tem raízes na ideia de liderança transformacional, que é a teoria mais
pesquisada na literatura sobre liderança (JENSEN et al., 2019). Burns (1978) é
o criador desse estilo de gestão de pessoas. O autor assumiu que a liderança é
um relacionamento em que os líderes distribuem tarefas entre os subordinados e,
ao mesmo tempo, lhes dão apoio, reconhecimento e possibilidade de crescimento
ao realizar essas tarefas (BURNS, 1978).
Em
segundo lugar, a temática de liderança feminina abrange a performance e o
desenvolvimento das mulheres em posições de liderança nos mais variados setores
da sociedade, como na política, nos setores econômicos de base (agricultura,
indústria, comércio e serviços), no campo religioso, nas artes, dentre outros.
Diante dessa gama de possiblidades, este artigo dará ênfase na liderança
feminina no campo do trabalho, sejam em organizações públicas ou privadas no
Brasil.
Nesse
sentido, considera-se que, embora o contexto histórico e a representação social das mulheres não
tenham trazido equidade de direitos entre homens e mulheres no Brasil (MELO;
THOMÉ, 2018), o fenômeno da liderança feminina mostrou um crescimento
significativo nas empresas privadas brasileiras (EMELIANOVA; MILHOMEM, 2019 ;
GPTW, 2019; TALENSES; INSPER, 2019) bem como em trabalhos científicos (MILTERSTEINER
et al., 2020; MOLETTA et al., 2020), indicando que ainda há mais a explorar
sobre o fenômeno da liderança feminina, especialmente no desenvolvimento de
modelos de gestão de pessoas focado em eficiência e eficácia, atendendo às
necessidades do mercado e às demandas dos funcionários internos (LEROY et al.,
2018; ULRICH; DULEBOHN, 2015).
Assim, a fim de aprofundar a compreensão sobre o
que foi publicado na ciência sobre as características da liderança feminina e
particularidades gerenciais ligadas a esse fenômeno, torna-se pertinente o
engajamento da presente investigação científica, que tem como objetivo
apresentar os resultados de uma revisão sistemática da literatura sobre
liderança feminina no Brasil no campo do trabalho. Para tanto, este estudo foi
realizado sob uma abordagem qualitativa (CRESWELL, 2010), e os resultados foram
analisados pelos parâmetros da análise de conteúdo (BARDIN, 2011). A maior
contribuição deste artigo é conhecer sobre o estado da arte da liderança
feminina no âmbito do trabalho no Brasil e levantar possíveis problemas de
pesquisa para orientar futuras investigações sobre esse tópico.
Este artigo está dividido nas seguintes seções:
após a presente introdução, há o fundamento teórico, que aborda os tópicos da
liderança feminina no Brasil. Depois, há a seção dos procedimentos
metodológicos, seguida pela apresentação dos resultados e discussão.
Finalmente, as considerações finais são sobre o alcance do objetivo da
pesquisa, bem como as limitações e sugestões para pesquisas futuras.
LIDERANÇA FEMININA NO
BRASIL: Uma contextualização histórica
É
possível contextualizar o cenário atual da liderança feminina no Brasil ao
analisar a história brasileira ao longo do século XX e início do XXI. Neste
artigo, considera-se que o fenômeno da liderança feminina no Brasil está
relacionado às conquistas dos movimentos feministas – que geralmente questionam
a disparidade de oportunidades e o papel naturalmente inferior atribuído às
mulheres em relação aos homens –, bem como às representações sociais do papel
das mulheres na sociedade e no mercado de trabalho (MELO; THOMÉ, 2018;
SIQUEIRA; BUSSINGUER, 2020). Além disso, como a vida da mulher foi vista e
interpretada sob a perspectiva masculina (FOLLADOR, 2009), talvez existam
mulheres líderes ao longo da história brasileira que não tiveram seu devido
reconhecimento e, portanto, seu trabalho não foi amplamente divulgado.
Na
primeira metade do século XX, o papel social das mulheres era principalmente
manter a união da família e a moral cristã em casa, ou seja, enquanto o espaço
público era dominado por homens, as mulheres eram mantidas (e se mantinham)
como “rainhas” nos ambientes domésticos (ALMEIDA, 2013). Além disso, as
mulheres eram vistas como indivíduos dotados das características católicas de
“virgem-mãe-mulher”, como pureza, bondade, generosidade, submissão às regras
sociais e falta de liberdade sexual (já que eram consideradas apenas
preservadoras raça humana e, portanto, responsáveis pela reprodução da espécie)
(ALMEIDA, 2013). Dessa forma, as conquistas mais importantes das mulheres eram
geralmente o casamento e a maternidade, as quais, por sua vez, eram as também
exigidas pela sociedade.
Além da
representação social das mulheres, o estabelecimento da ditadura militar no
Brasil (de 1º de abril de 1964 a 15 de março de 1985) representou um obstáculo
relevante para o alcance de maiores conquistas sociais para as mulheres, uma
vez que o regime militar autoritário não era permissivo a quaisquer
reivindicações ou protestos em geral, muito menos para as lutas das mulheres.
Na década de 1970, no entanto, diferentes grupos de movimentos feministas se
tornaram mais ativos no país e estavam organizados em dois ramos principais: ou
buscavam o direito à liberdade individual e à igualdade de gênero, ou lutavam
por problemas gerais de toda a população, como a desigualdade social (LOBO,
2019).
Na mesma
década, identificou-se um aumento considerável da participação das mulheres no
mercado de trabalho, embora ainda fosse considerado bastante tímido: apenas
aproximadamente um quinto das mulheres brasileiras estavam engajadas em
atividades remuneradas (MAGALHÃES, 1980). Além disso, até a década de 1970, a
força de trabalho feminina era composta principalmente por jovens solteiras,
sem filhos, com pouca escolaridade, focadas em empregos informais, precários e
com salários mais baixos que os homens (BRUSCHINI; LOMBARDI, 2001). Quando
chegavam a desenvolver uma profissão, as mulheres geralmente acabavam se
envolvendo principalmente em atividades relacionadas ao ensino (professora) e à
saúde (enfermagem), funções associadas à chamada natureza delicada da mulher
(LOURO, 2004). Mas esse cenário começou a ganhar novos contornos no final da
década de 1970, com a inserção de mulheres mais velhas, com responsabilidades familiares
e com maior escolaridade no mercado de trabalho (BRUSCHINI; LOMBARDI, 2001).
No final
dos anos 80 e início dos anos 90, juntamente com o crescimento econômico e o
período de redemocratização do país (devido ao fim da ditadura militar), as
mudanças no posicionamento das mulheres na sociedade e no mercado de trabalho
se tornaram ainda mais visíveis. Tais mudanças refletiram-se principalmente no
aumento substancial da força de trabalho feminina e nas leis promulgadas em
favor dos direitos da mulher, principalmente por meio da promulgação da
Constituição Federal do Brasil, em 1988 (LOPES, 2002).
Esta
Constituição Federal é a primeira a estabelecer plena igualdade jurídica entre
homens e mulheres no Brasil, expressa em seu 5º artigo: "Homens e mulheres
são iguais em direitos e obrigações" (BRASIL, 1988). Essa afirmação
removeu legalmente a posição de inferioridade e submissão das mulheres em
relação aos homens e, consequentemente, poderia influenciar o aumento de
possibilidades e oportunidades para as mulheres no âmbito do trabalho. Vale
mencionar a intensa participação dos movimentos feministas nos meses anteriores
às Assembleias Constituintes em 1987 e 1988, além do trabalho das mulheres
deputadas federais durante as próprias Assembleias, apesar da baixa
representação feminina no Congresso Nacional: havia apenas 26 mulheres líderes
(≅5% do total de parlamentares) (COSTA, 2018).
As
mulheres brasileiras certamente adquiriram importantes direitos trabalhistas
por meio de emendas à Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), tais como:
aposentadoria após 30 anos de serviço (5 anos a menos que os homens); licença
de maternidade de 120 dias (a partir do 8º mês de gravidez), sem prejuízo do
emprego nem do salário; e remuneração igual (em relação aos homens) (BRASIL,
1943). Simultaneamente, tem havido um aumento contínuo da participação feminina
no mercado de trabalho: as mulheres representavam cerca de 52,6% da força de
trabalho brasileira no primeiro trimestre de 2020 (IBGE, 2020), em comparação
com a proporção de cerca de 20% na década de 1970.
No
entanto, a atual situação social das mulheres brasileiras ainda é caracterizada
pela vulnerabilidade e desigualdade de gênero. Essa situação é refletida em
dados censitários recentes. Por exemplo, em 2016, as mulheres passaram mais
horas por semana cuidando de pessoas (idosos ou crianças) e realizando tarefas
domésticas (≅ 18,1 horas) em comparação com os homens (≅
10,5 horas) (IBGE, 2018). Em 2019, a renda mensal dos homens era de R$ 2.010
reais, enquanto as mulheres ganhavam uma média de apenas R$ 1.985 reais (IBGE,
2019). Além disso, entre os trabalhadores desempregados brasileiros no primeiro
trimestre de 2020, 53,4% eram mulheres, enquanto 46,6% eram homens (IBGE,
2020). Em 2019, uma pesquisa sobre violência doméstica revelou que 82% das
mulheres entrevistadas identificaram o aumento da agressão física contra elas,
além do aumento da percepção de violência moral, psicológica, sexual e
patrimonial (SENADO FEDERAL, 2019). À propósito, nos dois primeiros meses da
pandemia de Covid-19 (março e abril de 2020), os feminicídios aumentaram em 22%
no Brasil (FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2020).
Assim, o
contexto histórico e a representação social das mulheres brasileiras no escopo
do trabalho tiveram, de fato, implicações diretas na quantidade e qualidade das
mulheres líderes em diferentes organizações brasileiras, uma vez que as
mulheres enfrentam desafios no campo do trabalho e no estabelecimento de sua
própria dignidade na sociedade (MELO; THOMÉ, 2018). Como resultado, a liderança
feminina geralmente está sub-representada atualmente (em comparação com a
liderança masculina).
No
entanto, mais e mais mulheres têm trabalhado em posições de liderança no
Brasil, uma vez que elas passaram a assumir vários papéis na sociedade
brasileira contemporânea ao mesmo tempo (como trabalhadora, mãe, estudante e
esposa) e também se tornaram mais experientes e escolarizadas, duas
qualificações relevantes esperadas para profissionais que aspiram posições de
liderança. Em termos de educação, as mulheres também se tornaram mais
instruídas. Em 2017, 73,5% das mulheres (≅ 18 anos) se formaram no ensino médio,
enquanto 63,2% dos homens com a mesma idade realizaram o mesmo (IBGE, 2018).
Entre a população de 25 anos ou mais, 23,5% das mulheres brancas e 10,4% das
negras ou pardas possuem nível superior, enquanto a porcentagem para os homens
é de 20,7% e 7,0%, respectivamente (IBGE, 2018).
Em uma
pesquisa com 52 empresas brasileiras, o percentual do total de assentos de
diretoria ocupados por mulheres aumentou de 5,8% em 2016 para 11,9% em 2019
(EMELIANOVA; MILHOMEM, 2019). Outra pesquisa demonstrou que, em 2017, entre as
melhores empresas para as mulheres trabalharem no Brasil, a média liderança
(supervisores e gerentes) era composta por 49% de gestoras e apenas 5 mulheres
estavam no cargo de CEO (GPTW, 2019). No entanto, em 2018, a participação
feminina aumentou: a liderança intermediária permaneceu semelhante (49%), mas
10 mulheres se tornaram CEO e 26% das mulheres compuseram a liderança sênior (diretores
e vice-presidentes) (GPTW, 2019). Além disso, a participação feminina de
mulheres no conselho de administração de empresas de capital aberto demonstrou
um aumento de 12% em 2018 para 16% em 2019 (TALENSES; INSPER, 2019).
Complementando, as empresas de capital fechado têm 20% mais mulheres líderes do
que as empresas de capital aberto, e as empresas de gestão familiar detêm 60%
mais líderes do que as empresas de gestão profissional (TALENSES; INSPER,
2019).
Quando
se trata de estilos de liderança entre gêneros, investir em pesquisas que
destacam as diferenças masculinas e femininas na liderança parece impedir mais
do que contribuir para mitigar a lacuna existente entre as mulheres em posições
de liderança, tampouco auxilia as organizações a explorar o desenvolvimento das
habilidades de liderança das mulheres (GIPSON et al., 2017; KIRSCH, 2018).
Assim, em vez de aumentar a competição entre homens e mulheres em posições de
liderança, o conhecimento gerado neste artigo visa aumentar a compreensão sobre
o fenômeno da liderança feminina no Brasil, à luz de artigos publicados em
revistas científicas brasileiras. Os aspectos metodológicos que orientaram esta
pesquisa serão apresentados na seção a seguir.
PROCEDIMENTOS
METODOLÓGICOS
Este estudo foi construído sob a abordagem
qualitativa (CRESWELL, 2010). Para atingir o objetivo deste artigo, adotou-se
como estratégia de pesquisa uma revisão sistemática da literatura, onde foram
elencadas pesquisas passadas sobre a temática em estudo e apresentadas as suas
características, no intuito de aumentar o conhecimento sobre a liderança
feminina no campo do trabalho no Brasil, bem como indicar possibilidades de
pesquisas futuras nessa área (BOTELHO; CUNHA; MACEDO, 2011; SOARES, PICOLLI, CASAGRANDE, 2018).
Foram definidos um conjunto de etapas para a
realização da coleta de dados secundária (CRESWELL, 2010), descritas a seguir:
1. Quatro bases de dados foram escolhidas para a
realização da pesquisa: Periódicos CAPES, SPELL, SCIELO e Google Acadêmico;
2. Com base na literatura já existente acerca da
liderança feminina no Brasil, julgou-se pertinente utilizar como descritores de
buscas alguns termos que representam as mulheres no contexto do trabalho e em
cargos de gestão. Assim, foram utilizadas as palavras-chave “liderança
feminina”, “mulheres líderes”, “mulheres em cargos de gerência” e “mulheres
executivas”. Essas palavras-chaves deveriam estar presentes nos títulos,
resumos e palavras-chave dos trabalhos. Também foram incluídos os anos de publicação
dos artigos: entre 2016 e 2020, no intuito de captar as constatações mais
recentes sobre a temática investigada. Como resultado dessa primeira pesquisa,
127 trabalhos foram encontrados.
3. Os artigos foram lidos na íntegra e houve um
processo de exclusão de acordo com os seguintes critérios: duplicidade; não
publicado em revistas científicas (mas eram trabalhos finais de graduação, além
de teses ou dissertações); não estavam relacionados diretamente à liderança
feminina no campo do trabalho (mas estavam no escopo da religião, política,
dentre outros); e artigos não diretamente relacionados ao fenômeno da liderança
feminina. Como resultado dessa segunda pesquisa, 20 artigos foram selecionados.
Em seguida, a análise dos dados foi realizada por
meio da análise de conteúdo (BARDIN, 2011), conforme está descrito:
1. Pré-análise: as ideias iniciais foram
sistematizadas pela leitura e releitura dos 20 artigos encontrados na busca
bibliográfica, e foram confirmados 20 artigos para compor a amostra final,
expressa no Quadro 1.
2. Exploração do material: o conteúdo foi
codificado, classificado e categorizado. Foram estabelecidas 8 unidades de
registro, que se acreditava representarem o conteúdo central desta revisão de
literatura:
a) ano
de publicação: entre 2016 e 2020;
b) campo
de estudos do periódico;
c)
natureza de organização: pública ou privada;
d) setor
de negócios estudado;
e) nível
da liderança feminina estudada, considerando tipologia do Great Place to Work (GPTW, 2019): alta liderança (CEOs); liderança
sênior (diretores e vice-presidentes); liderança média (supervisores e
gerentes);
f)
natureza da pesquisa: qualitativa, quantitativa ou mista (CRESWELL, 2010);
g) bases
ou abordagens teóricas que embasaram os trabalhos; e
h)
principais resultados encontrados.
3. Tratamento, inferência e interpretação:
realizado através de uma análise crítica e reflexiva das informações coletadas
e sistematizadas.
Quadro 1. Artigos selecionados na busca bibliográfica
AUTORES
E ANO |
PERIÓDICO
|
OBJETIVO
DO ARTIGO |
Biasoli (2016) |
Revista Indicadores Econômicos (Online) |
Apresentar a melhora do mercado para as
mulheres, em especial para as que ocupam cargos de gestão intermediária
através dos dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), realizada na
Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA). |
Bueno, Domingues e Bueno (2016) |
Revista Alcance (Online) |
Analisar a sensibilidade e a sensualidade
femininas na percepção de gestoras em uma instituição financeira. |
Carvalho e Azevedo (2018) |
Ciência da Informação em Revista |
Demonstrar a liderança feminina nas
bibliotecas setoriais da Universidade Federal de Pernambuco e sua influência
na motivação dos funcionários aplicada à gestão da biblioteca. |
Ceribeli, Rocha e Pereira (2017) |
Revista Diálogo (Canoas) |
Analisar os desafios que as mulheres que
ocupam cargos de chefia nas organizações brasileiras enfrentaram e ainda
enfrentam em suas carreiras, assim como suas percepções individuais sobre a
questão do gênero. |
Cordeiro, Pereira, Durso e Cunha (2018) |
Revista Contemporânea de Contabilidade |
Identificar as diferenças em termos de
complexidade organizacional das empresas auditadas por homens, quando
comparadas com aquelas auditadas por, pelo menos, uma mulher. |
Ferreira, Silva, Silva e Sousa (2018) |
Revista Turismo & Desenvolvimento |
Compreender os desafios enfrentados por
mulheres ocupantes de cargos de média/alta gerência em hotéis de São Luís,
Maranhão-Brasil, para conciliar vida pessoal e profissional. |
Iotte e Lamoglia (2016) |
Revista Episteme Transversalis |
Analisar a trajetória feminina no mercado de
trabalho nos espaços públicos e privados. |
Miltersteiner, Oliveira, Hryniewicz,
Sant’anna, e Moura, (2020). |
Cadernos EBAPE |
Objetiva-se melhor compreender desafios
enfrentados na ocupação de posições de liderança por mulheres na administração
pública do executivo brasileiro, tendo por base barreiras comumente descritas
na literatura internacional e nacional sobre o tema do alcance de postos de
liderança – “teto de vidro”, “labirintos de liderança” e “abelha rainha”. |
Moletta, Roberto, Silva Neto, Moro e
Oliveira (2020) |
Brazilian Journal of Development |
Analisar o Guia Exame de Mulheres na
Liderança sobre a ascensão das mulheres em cargos de chefia e liderança. |
Prado e Augusto (2018) |
Revista de Ciências Gerenciais |
Buscou-se identificar o estilo de liderança
adotado pelas entrevistadas, se as entrevistadas possuem dificuldades em se
inserir no mercado de trabalho e identificar se as características típicas da
geração Y influenciam as ações das entrevistadas. |
Rodrigues e Dewes (2019) |
Revista de Administração de Empresas
Eletrônica |
Identificar e analisar as percepções de 15
gestores e/ou proprietários de empresas, do sexo masculino, no que se refere
a mulheres no exercício de liderança. |
Santos e Diógenes (2019) |
Revista RENEFARA |
Analisar as dificuldades enfrentadas por
mulheres em alcançar cargos de liderança. |
Schiavani, Dias e Oliveira (2017) |
Revista Combad |
Analisar a percepção de colaboradores sobre
a liderança exercida por mulheres em lojas de departamento no município de
Maringá (PR). |
Silva, Carvalho e Silva (2017) |
Revista Educação, Gestão e Sociedade |
Estudar a evolução da presença feminina no
mercado de trabalho, mais especificamente, o papel da mulher na liderança de
grandes organizações brasileiras, apontando suas características, seu estilo
e habilidades de comando. |
Silva, Militão e Grangeiro (2019) |
Revista Conhecimento Interativo |
Examinar características comportamentais e
sacrifícios pessoais de mulheres que ocupam altos cargos em organizações de
trabalho. |
Siqueira e Lazaretti (2017) |
Revista Juris Poiesis |
Analisar o referido problema através de uma
perspectiva histórica das construções sociais enraizadas na sociedade, da
inserção da mulher no mercado de trabalho e da grande contribuição dos
movimentos feministas para este acontecimento. |
Siqueira, Miranda e Cappelle (2019) |
Revista Gual |
Compreender a percepção de docentes gestoras
sobre as mulheres na gestão em universidades federais mineiras. |
Travisan e Augusto (2018) |
Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação |
Compreender como as mulheres lidam com as
barreiras encontradas ao longo de suas carreiras na busca por cargos de
liderança em hospitais privados na cidade de Maringá. |
Versiani, Caeiro, Martins e Carvalho Neto
(2019) |
Revista de Administração da UNIMEP |
Analisar a auto percepção de mulheres
empreendedoras acerca de seu estilo de liderança, com o intuito de verificar
se é possível referir-se um estilo de liderança dominante neste grupo, à luz das principais abordagens de liderança do mainstream norte americano. |
Weymer, Schuber, Eskenazi e Martins (2018) |
Revista Gestão Organizacional |
Verificar a contribuição de mulheres líderes
no nível de comprometimento organizacional, bem como identificar qual é o
estilo predominante na liderança feminina a partir da percepção dos
liderados. |
Fonte: Elaborado pela Autora (2020)
Por último, ressalta-se que o uso dessa técnica de
análise foi considerado pertinente, pois facilitou a sistematização do volume
de dados apresentados em todos os 20 artigos coletados. A análise e discussão
dos artigos serão apresentadas na próxima seção.
DESCRIÇÃO E ANÁLISE
DOS RESULTADOS
Inicialmente,
quanto aos anos publicação dos artigos encontrados, foram identificados 3
artigos em 2016, 5 em 2017, 6 em 2018, 4 em 2019 e 2 em 2020. Dentre os
periódicos nos quais estes trabalhos foram publicados, identifica-se que a
maioria é pertencente ao campo de estudos da Administração, Contabilidade e
Turismo, totalizando 18 periódicos diferentes dessa área.
Outros 2
periódicos que publicaram sobre a liderança feminina nos parâmetros desta
investigação são do campo do Direito e o outro é interdisciplinar, sendo
possível inferir que a liderança feminina no escopo do trabalho é um assunto
mais diretamente ligado ao campo de estudos da Administração (e áreas afins),
apesar de buscar referências de outras ciências, como a psicologia, a
sociologia e o direito.
Uma
característica que se ressalta sobre os 20 artigos investigados é que 2 artigos
foram publicados em periódicos A2 (Revista Contemporânea de Contabilidade e
Cadernos EBAPE), entretanto os outros 18 artigos estão presentes em periódicos
do estrato B da classificação “Qualis/CAPES”, distribuídos da seguinte forma:
B1 (2), B2 (4), B3 (2), B4 (6) e B5 (4).
No que
tange à natureza das organizações estudadas nos artigos selecionados, 10
investigaram sobre liderança feminina em empresas privadas, 2 em empresas
públicas, 1 artigo tratou de empresas públicas e privadas e 7 não
especificaram. Os setores de negócios também foram ora variados (lojas de departamento,
hospital, lojas de varejo, universidades, setor bancário, empresa de moda,
setor hoteleiro e bibliotecas), ora não especificados por autores de 11
artigos.
No que
diz respeito nível da liderança feminina estudada, 11 artigos tratam da
liderança feminina no nível intermediário de gestão, colhendo informações de
mulheres supervisores e/ou gerentes das organizações, enquanto que 1 artigo
estuda mulheres da alta liderança, 2 artigos consideram a alta (CEOs) e média
liderança (supervisores e gerentes) e 6 artigos não especificam níveis de
liderança.
Sobre a natureza das pesquisas sobre liderança
feminina, identificou-se que os artigos foram construídos prioritariamente sob
a perspectiva qualitativa: 15 artigos. Dentre as técnicas de coleta de dados utilizadas,
usou-se majoritariamente a técnica de entrevistas semiestruturadas. Ademais, 3
artigos são quantitativos e 2 usam abordagem mista.
Em
relação às abordagens teóricas que embasaram os trabalhos, notou-se que como a
liderança feminina é um assunto que envolve o recurso a referências históricas,
alguns autores fundamentam teoricamente seu trabalho unicamente com informações
históricas e dados estatísticos sobre a situação das mulheres na sociedade
brasileira. São assuntos que giram em torno principalmente de questões de
gênero, dificuldades das mulheres na ascensão na carreira, cenário estatístico
sobre as mulheres no mercado de trabalho; feminilidade nas organizações e sobre
o histórico do movimento feminista no Brasil.
Dentre
os relatórios e estatísticas utilizadas para trazer os dados necessários para a
sua argumentação, os autores referenciaram principalmente fontes do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (IPEA), da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS),
Organização Internacional do Trabalho (OIT) e Great Place to Work (GPTW).
Outros
pesquisadores, por sua vez, além de abordar o contexto histórico, basearam seus
trabalhos em diferentes lentes teóricas para analisar a questão da liderança
feminina. Cordeiro et al. (2018) utilizaram os conceitos de glass ceiling (ou "teto de
vidro") e pink collar work (ou
"trabalho do colarinho rosa"). O glass
ceiling é um fenômeno que representa uma barreira invisível diferente que
impede as mulheres de progredir profissionalmente ou de obter posições de
liderança no trabalho (DAVISON; COOPER, 1992). Enquanto o pink colar work se refere a campos que historicamente foram
ocupados por mulheres, os chamados “guetos femininos”, nos quais os
estereótipos de gênero não representam uma grande limitação para alcançar
posições de liderança. “Trabalhadores de colarinho rosa” geralmente se envolvem
em carreiras geralmente ligadas ao cuidado de pessoas ou à educação de pessoas,
como enfermagem, assistência social, ensino ou creche (ENGLAND, 1993).
Travisan
e Augusto (2018), Versiani et al. (2019) e Weymer et al. (2018) utilizaram as
teorias de liderança. Os autores exploraram os conceitos de liderança
transacional e transformacional, os quais foram concebidos por James MacGregor
Burns (BASS; AVOLIO, 2004), explicando que na liderança transformacional há um
relacionamento recíproco com os trabalhadores, e o líder inspira seus
seguidores a superar os padrões de desempenho esperados, enquanto que a
liderança transacional é baseada em recompensas dadas pelos líderes aos
liderados em troca do seu bom desempenho. Schiavani, Dias e Oiveira (2017),
usaram como referência os estilos clássicos de liderança autocrática, liberal e
democrática idealizados por Kurt Lewin (MANOW, 1969)
Weymer
et al. (2018) também trataram sobre comprometimento organizacional. Segundo
Meyer e Allen (1991), existem três dimensões de comprometimento: afetivo é
quando existe a identificação afetiva do funcionário com a organização;
normativo é quando existe um sentimento de dever ou obrigação para com a
organização; instrumental é quando o trabalhador avalia os custos sociais,
psicológicos e financeiros envolvidos na possível saída da organização.
Miltersteiner
et al. (2020) fundamentaram suas pesquisas nos conceitos de glass ceiling (ou “teto de vidro”), leadership labyrinths (ou “labirintos de
liderança”) e queen bee (ou “abelha
rainha”). A metáfora do "labirinto" para o contexto da liderança
significa que as mulheres enfrentam uma série de complexidades para alcançar
cargos de gerência sênior em suas carreiras, como se estivessem andando dentro
de um labirinto real, encontrando dificuldades como discriminação sexual,
responsabilidades domésticas e inseguranças pessoais (EAGLY; CARLI, 2007). Por
“abelha rainha”, foi explicado que esse fenômeno ocorre quando uma mulher obtém
sucesso profissional em um ambiente dominado por homens e, quando alcança uma
posição de liderança, prefere ficar sozinha com seus outros colegas do sexo
masculino e passa a adotar um comportamento distante e sem apoio às outras
mulheres que aspiram serem líderes também (ARVATE; GALILEA; TODESCAT, 2018;
DERKS; LAAR; ELLEMERS, 2016).
O Quadro
2 apresenta os principais aspectos tratados como aportes histórico e teórico
dos 20 artigos analisados.
Quadro 2. Aportes histórico e teórico dos artigos
analisados
APORTE
HISTÓRICO |
APORTE
TEÓRICO |
*Questões
de gênero no âmbito do trabalho; *Dificuldades
das mulheres na ascensão na carreira; *Cenário
estatístico sobre as mulheres no mercado de trabalho; *Feminilidade
nas organizações; *Movimento
feminista no Brasil. |
*Estilos
de liderança: transformacional e transacional; autocrática, liberal e
democrática; *Glass ceiling; *Pink collar work; *Queen bee; *Comprometimento
organizacional. |
Fonte: Elaborado pela
Autora (2020)
Dentre
os principais resultados encontrados, foi possível enquadrar esses achados em 4
diferentes dimensões, como está expresso no Quadro 3, a seguir. Primeiramente,
alguns autores deram ênfase ao comportamento e às características da liderança
feminina em si, identificando as mulheres como líderes democráticas (SCHIAVANI;
DIAS; OIVEIRA, 2017), transformacionais (VERSIANI et al., 2019; WEYMER et al.,
2018), assertivas e objetivas (RODRIGUES; DEWES, 2019). No entanto, foram citadas
e analisadas diferentes barreiras que impedem as mulheres a subir na sua
carreira e obterem êxito como líderes, dentre esses obstáculos, destacam-se:
diferentes pressões para mostrarem suas competências, assédios, salários
desiguais em relação aos homens, maternidade e dupla (e até tripla) jornada de
trabalho (trabalho regular, trabalhos domésticos e trabalhos estudantis)
(CERIBELI; ROCHA; PEREIRA, 2017; TRAVISAN; AUGUSTO, 2018; SANTOS; DIÓGENES,
2019).
Em
segundo lugar, foram encontrados resultados que estão ligados à relação entre
as mulheres líderes e seus colegas de trabalho. Foi percebido que, ao mesmo
tempo que são percebidas como boas líderes, os colegas de trabalho dessas
mulheres (pertencentes a cargos superiores ou inferiores aos delas) persistem
em tendências a estereotipias da liderança feminina, identificando as mulheres
como mais minuciosas, detalhistas, delicadas e sensíveis (RODRIGUES; DEWES,
2019). Além disso, a liderança feminina não ocorre sozinha, ou seja, por êxito
apenas da líder, mas está ligada a fatores extrínsecos à equipe (como os
resultados) e a fatores intrínsecos (como as emoções de cada membro da equipe)
(PRADO; AUGUSTO, 2018).
Em
terceiro lugar, há resultados que concernem ao nível organizacional das
empresas onde há mulheres líderes. Notou-se que se faz relevante que as
empresas, em geral, passem a incentivar o estabelecimento de uma cultura plural
e diversa, necessitando assim romper com as perspectivas machistas,
preconceituosas e patriarcais da cultura organizacional que refletem o status
quo da sociedade (SILVA; CARVALHO; SILVA, 2017). Essa necessidade é reforçada
com a constatação de que quanto maior a empresa, menor se torna a participação
de mulheres em cargos da alta liderança (estratégicos) e que quando a empresa é
de capital aberto, a proporção de mulheres na alta liderança é menor ainda
(MOLETTA et al., 2020).
A quarta
dimensão dos resultados encontrados nos artigos analisados é relativa à própria
sociedade brasileira, na qual se percebe que há papéis sociais construídos para
o homem e para a mulher e estes papeis se relacionam às questões do âmbito do
trabalho, muitas vezes desprivilegiando as mulheres aos cargos e posições de
liderança. As mulheres acabam concentradas nos próprios guetos femininos, onde
a desigualdade de gênero não é amplamente percebida pelas mulheres (SIQUEIRA;
MIRANDA; CAPPELLE, 2019). Como resultado desses papeis sociais, ainda que tenha
havido uma expansão da presença feminina em cargos de liderança no mercado de
trabalho, não foi possível alcançar a equidade entre gêneros – assim como
ocorre na sociedade em geral, onde as mulheres têm tido menos privilégios
quanto à saúde, segurança e qualidade de vida (BIASOLI, 2016).
Quadro 3. Síntese dos resultados encontrados nos
artigos analisados
RESULTADOS
RELACIONADOS |
DESCRIÇÃO |
1) ... às mulheres líderes |
*Apresentam características de liderança
democrática e ímpeto empreendedor em relação aos homens líderes e, como
resultado, os liderados se mostraram mais satisfeitos e motivados no trabalho
(SCHIAVANI; DIAS; OIVEIRA, 2017). *Além disso, o estilo de liderança feminina
mais percebido foi a liderança transformacional e que o comprometimento das
mulheres líderes está significativamente relacionado às dimensões afetiva e
normativa (WEYMER et al., 2018). *Algumas mulheres que alcançam cargos
seniores nas organizações exibem um conjunto de comportamentos que as
aproximam do estereótipo masculino (perfil de liderança mais agressivo)
(SILVA; MILITÃO; GRANGEIRO, 2019). *Dificuldades para ascensão na carreira:
pressão para mostrarem suas competências, avaliação constante, aceitação dos
colegas quanto à sua posição de liderança, assédios, salários desiguais em
relação aos homens, teto de vidro, maternidade, agressão física (no ambiente
doméstico) e machismo e dupla jornada de trabalho (trabalho regular e
trabalhos domésticos) (CERIBELI; ROCHA; PEREIRA, 2017; TRAVISAN; AUGUSTO,
2018; SANTOS; DIÓGENES, 2019), ou ainda a tripla jornada (papeis de
trabalhadora, mãe e estudante) (FERREIRA et al., 2018). *Apresentaram características
comportamentais: assertividade, objetividade, firmeza no falar e
competividade (RODRIGUES; DEWES, 2019), além de postura inspiradora,
transformadora, motivadora e aberta ao diálogo (VERSIANI et al., 2019). *Há aspectos negativos sobre os atributos da
sensibilidade e da sensualidade das líderes femininas no ambiente
organizacional, principalmente a possibilidade de indução ao erro operacional
(por parte dos líderes homens) e descrédito ao trabalho da mulher (BUENO;
DOMINGUES; BUENO, 2016). *A liderança feminina no Brasil está
relacionada à conquista atual de independência financeira das mulheres por
meio do trabalho, com base em sua autoestima e auto realização (IOTTE;
LAMOGLIA, 2016). *As mulheres líderes no serviço público ainda
sofrem preconceitos validados pelos códigos masculinos, porém a realização
pessoal das mulheres está cada vez mais ligada à esfera do trabalho e à
independência financeira - enfatiza-se que essas características não afastam
o desejo das mulheres de constituir família. (MILTERSTEINER et al., 2020). |
2) ... à interação entre mulheres líderes e seus colegas de trabalho |
*Ao mesmo tempo que são percebidas como boas
líderes, os colegas de trabalho persistem em tendências a estereotipias da
liderança feminina, identificando as mulheres como mais minuciosas,
detalhistas, delicadas e sensíveis (RODRIGUES; DEWES, 2019). *A liderança feminina também está ligada a
fatores extrínsecos à equipe (como os resultados) e fatores intrínsecos (como
as emoções de cada membro da equipe) (PRADO; AUGUSTO, 2018). |
3) ... às organizações lideradas por mulheres |
*As empresas devem incentivar o
estabelecimento de uma cultura plural e diversa, necessitando assim romper
com as perspectivas machistas, preconceituosas e patriarcais da cultura
organizacional que refletem o status
quo da sociedade (SILVA; CARVALHO; SILVA, 2017). *Quando a organização é mais complexa,
diminui as chances de as auditoras serem responsáveis pela equipe de
auditoria externa, provavelmente devido ao fenômeno do "teto de
vidro". Além disso, de acordo com o fenômeno "trabalho de colarinho
rosa", as auditoras podem estar realizando atividades em setores
específicos e menos complexos, devido à discriminação ligada ao estereótipo
de gênero (CORDEIRO et al., 2018). *Quanto maior a empresa, menor se torna a
participação de mulheres em cargos da alta liderança (estratégicos). Quando a
empresa é de capital aberto, a proporção de mulheres na alta liderança é
menor ainda (MOLETTA et al., 2020). |
4) ... à sociedade |
*Há papéis construídos para o homem e para a
mulher na sociedade e estes se relacionam às relações de trabalho, muitas
vezes desprivilegiando as mulheres aos cargos e posições de liderança. As
mulheres acabam concentradas nos próprios guetos femininos, onde a desigualdade
de gênero não é amplamente percebida pelas mulheres (SIQUEIRA; MIRANDA;
CAPPELLE, 2019). *Ainda que tenha havido uma expansão da
presença feminina em cargos de liderança no mercado de trabalho, ainda assim
não foi possível alcançar a equidade entre gêneros, assim como ocorre na
sociedade em geral, onde as mulheres têm tido menos privilégios quanto à
saúde, segurança e qualidade de vida (BIASOLI, 2016). |
Fonte: Elaborado pela
Autora (2020)
O panorama científico até aqui analisado oferece
sustentação para afirmar que ainda há mais características e nuances do
fenômeno da liderança feminina a serem estudadas. A seguir, serão apresentadas
possibilidades de pesquisas acerca da liderança feminina no Brasil,
especificamente no âmbito do trabalho, levando-se em conta o contexto da crise
econômica e social causada por conta do Covid-19.
Caminhos e questionamentos para futuras pesquisas sobre liderança
feminina no Brasil
Neste artigo, argumenta-se que os cenários de
crises mundiais – como a que o mundo vive atualmente por conta da pandemia do
Covid-19 – representam relevantes encorajadores da ciência da Administração no
sentido de conhecer, analisar e identificar novas possibilidades de lideranças
e, por conseguinte, podem despertar o interesse para a realização de novas
pesquisas. No campo do trabalho, as lideranças organizacionais têm tido papel
essencial na condução de conflitos de interesses, na busca por soluções equilibradas
para os seus mais variados grupos de stakeholders,
como funcionários, clientes, fornecedores e investidores – principalmente
levando-se em consideração o grande aumento do desemprego em todo o mundo, a
maior parte em setores predominantemente femininos, como o turismo, serviços de
alimentação, bebidas e varejo (ILO, 2020).
Assim, ainda que o contexto brasileiro atual seja
de turbulências sociais e nas relações de trabalho, ocasionado principalmente
pela crise sanitária do Covid-19, compreende-se que é na diversidade das
lideranças – e aqui é destacada a liderança feminina – que se pode alcançar uma
gestão mais assertiva para as organizações brasileiras, ou seja, que tenha
comunicação eficiente, tomada rápida de decisões e demonstrações de empatia (CHERNESKI,
2020; STEINMETZ, 2020). Nesse contexto, pesquisas futuras acerca da liderança
feminina podem percorrer por três níveis de análise (SOBRAL; MANSUR, 2013).
No nível
organizacional, a ênfase está na organização como um todo, na integração das
diferentes atividades e esforços de todos os departamentos para o alcance de
objetivos comuns, abrangendo questões principalmente de cultura, clima,
mudança, estrutura e aprendizagem organizacionais. O estudo da ascensão das
lideranças femininas nas organizações no contexto de crises econômicas e
sociais certamente contribuirá para a compreensão desse processo em nível
organizacional, revelando especialmente como as organizações criam e
implementam práticas que permitem a oportunidade e o acesso de mulheres aos cargos
de gestão, bem como possibilitam o desenvolvimento da carreira de mulheres em
posições de liderança, avançando pelos níveis gerenciais operacionais, táticos
e estratégicos.
Além
disso, períodos de crises econômicas, que geralmente vêm acompanhados por
demissões de funcionários e acúmulo de tarefas para os trabalhadores
remanescentes, também chamam a atenção para o posicionamento das lideranças
femininas nas funções de Recursos Humanos, já que o perfil gerencial das
mulheres tem sido historicamente mais voltado para práticas democráticas e
empáticas para com suas equipes de trabalho, tornando-se pertinente o
engajamento de investigações que buscam entender o impacto da liderança feminina na gestão de
pessoas e os efeitos dessa gestão no cenário estratégico da organização.
Por sua
vez, no nível grupal a análise é baseada nas relações existentes nos grupos
formais existentes nas organizações, isto é, a maneira como a mulher líder
interage no comando da sua equipe, como delega tarefas, motiva e lidera pessoas
e alcança resultados em grupo. As variadas instabilidades trazidas pelas crises
mundiais podem afetar diretamente o desempenho das equipes, tanto por questões
internas (diminuição de recursos, redefinição de metas e estratégias, mudança
organizacional) quanto externas às organizações (dificuldades de negociação com
clientes, fornecedores e credores, problemas de logística, riscos de contrair
doenças). Nesse contexto, torna-se oportuno explorar como líderes mulheres
desenvolvem seu trabalho com efetividade no âmbito das suas equipes em
circunstâncias de tensões e mudança, investigando, por exemplo, como essas
mulheres gerenciam recursos e ideias em grupos majoritariamente masculinos, ou
de setores predominantemente dominados por homens.
O nível
individual, engloba as características, necessidades, desejos, habilidades e
comportamentos do próprio indivíduo, ou seja, da mulher enquanto sujeito
organizacional que ocupa (ou deseja ocupar) uma posição de liderança. Nesse
nível, futuras pesquisas devem enfatizar os aspectos psicossociais das mulheres
na dinâmica organizacional. Investigadores podem buscar identificar, observar,
refletir e discutir o fenômeno das mulheres líderes no cenário de riscos e
incertezas ambientais quanto aos aspectos de sua socialização profissional
(especialmente em ambientes que não são comumente dominados por mulheres, como
nos setores de tecnologia), do desenvolvimento de suas competências gerenciais,
dos seus estilos de liderança e do impacto da sua liderança no despertamento de
outras líderes mulheres nas organizações.
Ressalta-se
que se torna válido estudar as cognições gerenciais das líderes femininas em
períodos de crises no contexto de organizações públicas e privadas no Brasil.
Isto porque, embora inseridas em um mesmo contexto social, essas organizações
são constituídas por objetivos distintos, ora buscando o bem-estar social
(instituições públicas), ora orientando seus esforços para a obtenção de
rendimentos e lucros (instituições privadas). Esse conhecimento pode auxiliar gestores
públicos e empresariais a desenhar práticas de gestão de pessoas e de gestão da
diversidade com foco na inclusão e desenvolvimento de lideranças femininas
aplicadas aos diferentes contextos organizacionais, especialmente em situações
de intensas crises econômicas e sociais.
O Quadro 4
apresenta os níveis de análise e os problemas de pesquisa propostos. Destaca-se
que as perguntas sugeridas no Quadro 4 apenas servem como guias para futuras
pesquisas na temática da liderança feminina, que tem se mostrado um promissor
campo de pesquisa, principalmente se levado em conta o número de
questionamentos aqui levantados.
Quadro
4. Possibilidades de problemas de pesquisa sobre a temática da liderança
feminina
NÍVEL
DE ANÁLISE |
PROBLEMAS
DE PESQUISA |
Organizacional |
*Como a organização pode promover uma
cultura que permite o desenvolvimento da carreira de mulheres? *Como escolas e universidades podem fomentar
a formação de líderes mulheres para o campo do trabalho? *Qual o impacto da liderança feminina na
gestão de pessoas da organização? E nas práticas de responsabilidade social? |
Grupal |
*Como lideranças femininas podem estimular o
desenvolvimento e o estabelecimento de outras mulheres líderes? *Como se dá o fenômeno da “abelha rainha” em
grupos de trabalho que não são comumente dominadas por mulheres? (Esse
fenômeno se aplica em grupos de organizações brasileiras?) *Como líderes mulheres gerenciam suas
equipes em períodos de mudança organizacional? E em períodos de crises
sociais? (Como atualmente, durante a pandemia do Covid-19) |
Individual |
*Como ocorre a socialização profissional de
mulheres líderes em ambientes que não são comumente dominadas por mulheres?
(Por exemplo, nos setores de tecnologia) *Quais competências precisam ser
desenvolvidas nas mulheres líderes em ambientes que não são comumente
dominadas por mulheres? *Como se caracteriza a liderança feminina
nas organizações públicas e privadas no Brasil? (Existem diferenças e
semelhanças de acordo com a natureza da organização?) *Quais características pessoais influenciam
no estilo de liderança feminina no Brasil? (Idade? Número de filhos? Formação
acadêmica? Dentre outros). |
Fonte: Elaborado pela Autora (2020).
Por fim,
longe de se adotar um posicionamento pessimista com relação às crises de ordem
mundial, reconhece-se que a pandemia do Covid-19 não será a única situação
crítica na história a afetar diretamente os contextos econômico e
organizacional no Brasil. No entanto, o êxito dos exemplos das lideranças
políticas femininas demonstrados até agora por meio dos resultados obtidos em
seus países, bem como o avanço no crescimento de mulheres em cargos de gestão
no Brasil, lança luz para o investimento de ações de inclusão e desenvolvimento
na carreira de líderes femininas e, por conseguinte, para o engajamento em
pesquisas científicas que investigam o fenômeno da liderança feminina no
Brasil. A seguir, serão apresentadas as considerações finais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste artigo foi apresentar os
resultados de uma revisão sistemática da literatura sobre liderança feminina no
Brasil no campo do trabalho. Para tanto, partiu-se da ascensão da figura
feminina no contexto da pandemia da Covid-19, que assola o mundo em 2020,
provocando um cenário de mortes e desempregos. As mulheres têm se destacado
como relevante mão-de-obra ativa (na área da saúde) e como líderes políticas de
sucesso no controle da pandemia. Quando se volta o olhar para o Brasil, apesar
da desigualdade de gêneros, a liderança feminina tem demonstrado maior
crescimento na última década, bem como o interesse na publicação de artigos
científicos, ambos motivos que justificaram a pertinência da realização desta
pesquisa. Assim, por conta dos resultados aqui apresentados, julga-se que o
objetivo deste artigo foi alcançado.
Em suma, foram selecionados 20 artigos mediante uma
busca bibliográfica sistemática e criteriosa. Os artigos, publicados entre os
anos de 2016 a 2020, estão presentes em periódicos dos estratos A e B da
classificação “Qualis/Capes”. Os periódicos pertencem majoritariamente ao campo
da Administração, Contabilidade e Turismo: foram 18 diferentes periódicos,
indicando que não á necessariamente uma revista científica que esteja interessada
especialmente sobre o fenômeno da liderança feminina dentre as opções
nacionais. Este cenário é encorajador para que periódicos e pesquisadores se
engajem mais em pesquisas voltadas para liderança feminina, contribuindo com o
maior conhecimento desse fenômeno no Brasil. A comunidade científica
interessada nesse tema pode desenvolver ações como: lançamento de edição
especial em periódicos sobre liderança feminina, bem como a abertura de fóruns
científicos compostos por pesquisadores, estudantes e profissionais, voltados
para discussões abertas sobre a temática e para a aproximação entre os campos
acadêmico e gerencial.
Verificou-se ainda que os autores deram ênfase à
liderança feminina nas organizações privadas, o que desde já sinaliza que a
liderança de mulheres em organizações públicas pode ser alvo de investigações
futuras. Quanto aos setores de negócios estudados, houve uma variedade de
empresas do setor de serviços, mas não foram investigados os setores da
agricultura nem da indústria, levantando o questionamento sobre se há e quais
são as características da liderança feminina nesses setores da economia. É
relevante ressaltar que os ramos de moda, educação e saúde são os mais
familiarizados pelas mulheres. Mas como se dá a liderança de mulheres na agricultura
e na indústria? Como ocorre a ascensão das suas carreiras? Quais as barreiras
que elas enfrentam? Investigações futuras também podem seguir por esse
caminho. Ademais, a liderança feminina
foi particularmente estudada no nível da média liderança (supervisoras e
gerentes), implicando na possibilidade de focar em pesquisas que estudem o
fenômeno da liderança feminina nos níveis mais altos estratégicos, como no
nível aa alta liderança (CEOs) e no nível sênior (diretores e
vice-presidentes).
Dentre as abordagens teóricas que embasaram os
trabalhos, destacaram-se os estilos de liderança (transformacional,
transacional, autocrática, liberal e democrática), o glass ceiling, o pink collar
work, a queen bee e o
comprometimento organizacional. A compreensão do fenômeno da liderança feminina
no Brasil, no entanto, pode avançar com a utilização de outras lentes teóricas,
como institucionalismo, responsabilidade social corporativa, teoria dos stakeholders, estratégia como prática e
capacidades dinâmicas. O aprofundamento teórico, nesse caso, se torna um
elemento essencial em dois aspectos. Primeiramente porque o avanço teórico
contribuirá para que os trabalhos sobre a liderança feminina saiam do “lugar
comum” teórico (e agora conhecido, como expresso no Quadro 2) para dar um salto
analítico, composto de argumentações teóricas cada vez mais consistentes no
campo científico. Em segundo lugar, as claras contribuições teóricas expressas
nos futuros artigos, podem auxiliar no avanço dessas pesquisas para periódicos
de maior extrato na classificação “Qualis/Capes” e, consequentemente, valorizar
ainda mais esses trabalhos e o próprio interesse para que mais pesquisas sejam
realizadas na área.
Com relação aos principais resultados encontrados,
foi possível agrupá-los entre questões relacionadas às mulheres líderes, à
interação entre as mulheres líderes e seus colegas de trabalho, às organizações
lideradas por mulheres e ao fenômeno da liderança feminina e na própria
sociedade. A partir desses resultados, foram estabelecidas perguntas de
pesquisa como sugestões para investigações futuras. Sem a intenção de esgotar
os questionamentos, os problemas de pesquisa foram separados em 3 níveis de
análise: individual, grupal e organizacional, agrupadas no Quadro 4. Buscou-se,
assim, não apenas apresentar um retrato puro do que tem sido publicado nos
últimos 5 anos sobre a liderança feminina, mas expor uma gama de possibilidades
de investigações para pesquisadores que se interessam pelo tema.
A relevância deste artigo está em fornecer informações
sobre o estado da arte da liderança feminina no âmbito do trabalho no Brasil,
abrindo caminhos para futuras investigações nesse assunto. Os períodos de
crises mundiais – como a que o mundo vive por conta da pandemia do
Covid-19 – são relevantes encorajadores da ciência da
Administração para conhecer, analisar, identificar, verificar e classificar
novas possibilidades de lideranças, dentre as quais se destacou aqui a
liderança feminina. Além disso, acredita-se que o próprio esforço do campo
científico em se engajar em pesquisas com profundidade teórica e metodológica
podem contribuir com o avanço da liderança feminina no Brasil, trazendo
conhecimentos substanciais para a prática equitativa de gêneros nas
organizações.
Reconhece-se, que este artigo se limitou a
investigar a liderança feminina somente campo do trabalho e em artigos
publicados em periódicos. Como última sugestão, propõe-se que a liderança
feminina seja estudada de maneira mais ampla, tanto em diferentes setores da
sociedade (como nos campos religioso, político e artístico), como também em
outras fontes publicadas (livros, dissertações e teses), além de diferentes
métodos de pesquisa (como pesquisa narrativa e grounded theory).
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