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CONHECIMENTOS E PRÁTICAS EM SAÚDE BUCAL NA ESCOLA: RELATO DE EXPERIÊNCIAS
KNOWLEDGE AND PRACTICES IN ORAL HEALTH AT SCHOOL: EXPERIENCE REPORT
Carlos Alailson Licar Rodrigues 1 carlos_licar@hotmail.com
Universidade Estadual do Maranhão, Brasil
Jackson Ronie Sá-Silva 2 prof.jacksonronie.uema@gmail.com
Universidade Estadual do Maranhão, Brasil
Alanna Hevelyn da Silva Gomes da Rocha 3 alannahevelyn22@hotmail.com
Secretaria Municipal de Educação de Santa Luzia, Brasil
Recepção: 16 Janeiro 2020
Aprovação: 13 Março 2020
Resumo: O relato de experiências se propôs a identificar os conhecimentos prévios, as percepções e as práticas voltadas à saúde bucal de alunos de uma escola pública do município de Santa Luzia - Maranhão. Um questionário com roteiro estruturado foi utilizado para a apreensão dos dados. Verificou-se que os participantes demonstraram pouco conhecimento sobre saúde bucal. Nesse sentido, sugere-se a discussão do tema na escola de educação básica a partir da implantação de ações preventivas no currículo, além da necessidade de problematizar e contextualizar, envolvendo práticas pedagógicas integradoras nas quais os alunos possam estabelecer a cultura do cuidado com a saúde.
Palavras-chave: Educação em saúde, Cárie dentária, Saúde escolar, Higiene bucal.
Abstract: The experiences report proposed to identify the previous knowledge, perceptions and practices related to the oral health of students from a public school in the municipality of Santa Luzia - Maranhão. A questionnaire with a structured script was used to apprehend the data. It was found that the participants demonstrated little knowledge about oral health. In this sense, it is suggested to discuss the topic in the basic education school from the implementation of preventive actions in the curriculum, in addition to the need to problematize and contextualize, involving integrative pedagogical practices in which students can establish the culture of health care.
Keywords: Health education, Dental cavity, School health, Oral hygiene.
1 INTRODUÇÃO
O Ministério da Saúde (2012) define promoção da saúde como uma importante estratégia de intervenção sobre a qualidade de vida da população, articulando-se à medida que contribuam para o bem-estar e para as necessidades sociais. Isso representa um processo sócio-político não somente por incluir ações direcionadas ao fortalecimento das capacidades e habilidades individuais, mas também para atividades inerentes às mudanças nas condições social, ambiental e econômica, minimizando os impactos na saúde da população brasileira. Segundo Narvai et al. (2018), promover a articulação de práticas pedagógicas na escola pode gerar consequências positivas, uma vez que são estratégias efetivas que favorecem a mudança de paradigmas em saúde bucal coletiva.
De acordo com Segura e Kalhil (2015), embora os estudantes entendam a importância do conhecimento em educação em saúde, a aplicação de estratégias no ensino de ciências no âmbito escolar é necessária, uma vez que permite a aprendizagem integral do educando, possibilitando a desenvolução de aspectos metodológicos e atitudinais essenciais para o fortalecimento do conhecimento e postura social. Nesse contexto, os (as) docentes precisam estar preparados (as) e capacitados (as) para discutirem a temática da educação em saúde em sala de aula, pois são agentes multiplicadores do conhecimento, assim como a família e a escola, que são corresponsáveis pela formação cidadã dos educandos. Ainda que existam ações de promoção de saúde no Brasil, essas práticas ainda são pouco difundidas. As que existem, em sua grande maioria, não são acessadas pela população em consequência de vários aspectos, entre os quais a carência de infraestrutura, fiscalização deficiente e, sobretudo, de profissionais preocupados com as necessidades populacionais (MANFREDINE; NARVAI, 2018).
Os programas em saúde bucal desenvolvidos no Brasil ainda são tradicionais, apresentando fragilidades, limitações e ausência de parâmetros inovadores por meio de ações educativas em saúde, carecendo de intervenção eficaz de modo a monitorar os impactos na saúde dos escolares ( SITYÁ et al., 2014; SOUSA, ESPERIDIÃO, MEDINA, 2017). Portanto, esses desafios estão voltados para a inclusão dessa prática ao alcance dos alunos. Torna-se evidente que as dificuldades precisam ser superadas por meio da formação continuada dos docentes, permitindo uma abordagem integradora em sala de aula (COSTA et al., 2014).
A inclusão e a discussão de políticas públicas têm sido amplamente discutidas no mundo, sobretudo em países da América Latina, como Cuba, Chile, México, Argentina, Brasil, Colômbia, Honduras, Peru e Venezuela (PIERRO, 2008). As ações exigem grandes investimentos e planejamentos eficazes através de uma visão coordenada e interdisciplinar, que são essenciais para que haja soluções viáveis para a melhoria da saúde, educação e qualidade de vida da população (CASEMIRO, FONSECA, SECCO, 2014).
Nesse sentido, a inclusão do lúdico e o uso de recursos didáticos, como cartazes, vídeos, materiais informativos e utilização de fantoches, são ferramentas pedagógicas imprescindíveis, capazes de despertar o interesse e a participação dos alunos durante os processos de ensino e aprendizagem (PIANTINO et al., 2016). Logo, tal estratégia vem ao encontro do desenvolvimento dos conhecimentos dos alunos sobre educação em saúde. As orientações sobre escovação dos dentes são válidas, uma vez que os escolares passam a inserir hábitos saudáveis de higiene bucal no cotidiano, além da ampliação de seus conhecimentos (CRUZ et al., 2015).
Nesse contexto, os objetivos deste estudo foram: identificar os conhecimentos prévios, percepções e práticas voltadas para a saúde bucal de alunos de uma escola de Ensino Fundamental do município de Santa Luzia ? Maranhão; e propor estratégias didáticas para a promoção da cultura dos cuidados com a saúde bucal dos escolares, de modo a contribuir para o bem-estar e o exercício de práticas saudáveis voltadas à qualidade de vida numa perspectiva cidadã.
2 METODOLOGIA
A proposta foi desenvolvida por acadêmicas do curso de Ciências, com habilitação em Biologia, do Programa de Formação de Professores Darcy Ribeiro (PDR), da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), entre os meses de agosto e novembro de 2016.
Este estudo consistiu em uma pesquisa quantitativa de cunho transversal que buscou compreender os conhecimentos prévios e o entendimento/compreensão de adolescentes sobre higiene bucal, bem como aspectos relacionados à educação em saúde na escola por meio da prática docente em sala de aula. Segundo Silva e Menezes (2001), a pesquisa quantitativa é capaz de traduzir em números as opiniões e informações para, posteriormente, classificá-las e analisá-las. É quantificável e requer o uso de métodos estatísticos e recursos que auxiliem na análise, interpretação e transcrição dos dados, transformando-os em informações úteis à sociedade.
O público-alvo foi composto por alunos matriculados no 6º ano do Ensino Fundamental da Unidade Integrada Acadêmico José Sarney, da rede municipal de ensino da cidade de Santa Luzia, estado do Maranhão. Os pais e/ou responsáveis dos alunos também foram envolvidos na pesquisa. A escola foi selecionada através do método não probabilístico por conveniência, o qual atende alunos dos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental, nos turnos matutino e vespertino.
Para a coleta de dados, questionários estruturados foram aplicados contendo variáveis quantitativas com questões padronizadas, objetivas, abertas e/ou fechadas de fácil pontuação que garantiram a uniformidade, qualidade e confidencialidade nas respostas dos sujeitos. O público-alvo foi constituído por 76 alunos de ambos os sexos, com idades entre 12 e 15 anos, e com 150 pais e/ou responsáveis. As ações didáticas foram realizadas da seguinte forma:
· Pesquisas bibliográficas independentes foram realizadas baseadas em bancos de dados especializados, como Scielo e Google Acadêmico. A partir disso, as informações coletadas foram organizadas levando-se em consideração as características e o foco do estudo. Considerando os critérios de inclusão, o título e os resumos dos artigos foram averiguados para posterior análise integral dos textos. Os dados compilados serviram para o embasamento teórico desse estudo;
· As palestras foram organizadas com conteúdo educativo e conduzidas por especialistas das áreas de odontologia e atenção primária à saúde do município. Os conteúdos abordados foram definidos considerando as dificuldades e necessidades levantadas pelos pesquisadores. Os temas abordados foram: métodos dinâmicos e alternativos em saúde bucal. a importância dos cuidados com a saúde bucal. fatores que desencadeiam a má qualidade dos dentes. cuidados e importância da escovação para a saúde dental, dentre outros temas correlatos. Para o desenvolvimento dos conteúdos, foram utilizadas várias estratégias didáticas, tais como: demonstrações e simulação do processo de escovação a partir de modelos didáticos disponíveis. e aplicação de flúor nos dentes dos alunos com a utilização do .odontomóvel?, tendo a participação da equipe multidisciplinar de saúde - com a presença de odontólogos, enfermeiros e assistente de saúde, além do uso de cartazes contendo informações relacionadas aos temas propostos. Essas metodologias tiveram o intuito de sensibilizar os escolares sobre as práticas de saúde bucal na escola;
· Atividades lúdicas foram utilizadas como estratégia para a promoção da saúde bucal dos alunos. As atividades foram: jogos educativos e exposição de macromodelos, de modo a abordar os temas relacionados à saúde bucal, como, por exemplo, a escovação dentária;
· Realização de microaulas pelas acadêmicas do curso de Ciências, com habilitação em Biologia, envolvendo a temática como tema transversal nos componentes curriculares da escola em estudo. As microaulas foram organizadas durante as aulas de ciências, envolvendo os conteúdos programáticos do livro didático utilizado na escola. Os temas considerados foram: higiene e saúde, hábitos de higiene, alimentação, entre outros. Nessa ação, foi possível demonstrar a importância e a necessidade de uma boa higiene bucal, de modo a instruir os alunos sobre prevenção de possíveis consequências geradas a partir de maus hábitos de limpeza, além de sugerir aos docentes a inclusão da temática sob um viés transversal nas disciplinas escolares;
· Por fim, diagnóstico inicial e final foram feitos a partir da coleta de dados dos questionários, tendo em vista a avaliação da efetividade e o impacto das ações na aprendizagem. As questões iniciais foram as seguintes: (1) Você já recebeu informações de como cuidar de seus dentes? (2) Quantas vezes você escova os dentes por dia? (3) Na escola, você já teve orientações sobre saúde bucal? (4) O que você entende por saúde bucal? (5) Quais as consequências geradas a partir do mau hábito de higiene bucal?No diagnóstico final, as questões apontadas foram: (1) Você aprendeu algo que não sabia nas palestras e nas atividades lúdicas? (2) Mudou algum hábito de alimentação? (3) Como você vê o profissional dentista? (4) Você acha que melhorou a sua saúde bucal? (5) Como você avalia o projeto?
Esses questionamentos serviram como parâmetros para a comparação dos resultados acerca dos conhecimentos dos alunos, antes e depois da intervenção pedagógica.
2.1 Análise estatística
A análise estatística e o tratamento dos dados foram feitos através de cálculos de porcentagens referentes à prática de higiene bucal e ao percentual de uso dos produtos de higiene bucal pelos estudantes. Para tanto, o programa utilizado para a geração, tanto de dados numéricos em porcentagem quanto de gráficos, foi o Microsoft Excel 2010 ? Pacote Office 2010. A análise das respostas dos entrevistados aos questionários foi feita centrando-se em informações aprofundadas e ilustrativas, promovendo a compreensão e explicação da dinâmica de respostas do público-alvo.
2.2 Aspectos éticos da pesquisa
As informações obtidas na pesquisa obedeceram a todos os padrões éticos em pesquisa realizada com seres humanos, conforme Resolução nº 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), e nenhuma fase dos procedimentos realizados ofereceu riscos à integridade física ou à dignidade dos estudantes. Para isso, foram utilizados os Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ? TCLE e Termo de Assentimento Livre e Esclarecido ? TALE, conforme Resolução 196/1996. Utilizou-se também modelos disponibilizados pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) (https://www.ppg.uema.br), nos quais constam a autorização dos estudantes, sendo os mesmos informados sobre os procedimentos adotados, riscos, desconfortos, benefícios e direitos envolvidos.
3 ANÁLISES E RESULTADOS
Após as ações metodológicas realizadas nesse estudo, foi possível observar o envolvimento e a participação ativa de pais e estudantes. A mobilização dos alunos vai ao encontro das informações de Silva, Mello e Carlos (2010), que colocam a questão de como envolvê-los em atividades de educação em saúde na escola, inserindo os adolescentes como sujeitos protagonistas, partícipes das ações nas quais possam encontrar o prazer em aprender e participar, sendo agentes multiplicadores e de transformações sociais a partir de uma perspectiva protagonista.
Constatou-se, a partir de avaliações realizadas pelo odontólogo e das respostas aos questionários, que 68% dos alunos apresentavam cárie dental, com maior ocorrência entre os meninos (72%). Para estes resultados, não foi calculado o Índice de Ataque de Cárie (CPO), que é referência para o diagnóstico das condições dentais e para formulação e avaliação de programa de saúde. Esses dados ilustram apenas a ocorrência de cárie nos estudantes a partir de inferências do profissional odontólogo.
Cárie dental é muito comum em adolescentes em idade escolar. Neste estudo, por meio das entrevistas, ficou evidente que o hábito alimentar pode ser um fator determinante para ocorrência de diversos problemas bucais, entre eles a cárie, mau hálito e infecções bacterianas. Esses resultados são semelhantes aos expostos por Cangussu e Castellanos (2004), que mostraram que a ocorrência de cárie dentária é comum em indivíduos na faixa etária dos 12 aos 15 anos. Por isso, faz-se necessária a inserção de programas de educação em saúde nas escolas, visto que estes geram melhorias na qualidade de vida e na saúde da população, estimulando o hábito da higiene bucal. Assim sendo, a escola possui um desafio quanto às práticas permanentes de educação em saúde em seus espaços.
Os entrevistados, em sua maioria, apresentavam baixa condição socioeconômica, pois parte deles reside na zona rural, que é uma região com pouca ou nenhuma assistência à saúde. Esse fato direciona consequentemente para a falta dos cuidados com a saúde bucal, principalmente na fase escolar. Entende-se que é indispensável o envolvimento dos pais na orientação e cuidados aos adolescentes, sobretudo aos pertencentes a um núcleo familiar carente e desestruturado, pois vê-se a família como agente promotor e socializador do desenvolvimento contínuo dos educandos.
Sobre as entrevistas realizadas com os pais/responsáveis, percebeu-se que a maioria deles apresentava baixa instrução escolar, sendo, pois, uma maioria composta por analfabetos ou analfabetos funcionais, implicando, portanto, uma ineficiência nas orientações educativas e de saúde aos filhos. O conhecimento escolar desses pais é imprescindível para minimizar os problemas gerados pela falta de conhecimento, logo, faz-se necessária a realização de ações educativas nas escolas, assim como em outros espaços sociais, de modo a melhor orientar os adolescentes (MASSONI et al., 2010).
Estudos têm demonstrado, através de experiências pedagógicas nas escolas, que atividades de orientação e sensibilização possuem grandes reflexos em práticas desenvolvidas no âmbito desses espaços, principalmente porque promovem a interação entre os grupos, possibilitando a participação interativa entre os escolares e seus pais. Além disso, não somente disseminam a informação, mas promovem mudanças nos comportamentos, tornando-se uma prática reflexiva para a promoção de hábitos saudáveis ( ALVES et al., 2004; FIGUEIRA; LEITE, 2008).
Em meio à carência de cuidados dos alunos em relação à higienização bucal, viu-se a necessidade de aplicação de questionários aos pais/responsáveis para verificação do nível de conhecimentos deles sobre a saúde dos alunos. Com isso, mesmo com o baixo grau de escolaridade, os entrevistados foram categóricos ao responder que possuem algum tipo de informação sobre os cuidados com a saúde bucal de seus filhos, e os mesmos ressaltaram a importância dessa prática. Todos os responsáveis entrevistados afirmaram possuir algum tipo de conhecimento sobre a temática, além de compreenderem que a escola não aborda continuamente esse tipo de conteúdo em sala de aula.
Os dados acima despertam a atenção da comunidade escolar para a promoção de ações educativas em seus espaços, reforçando o papel da escola como mediadora do processo educativo dos alunos. Nesse sentido, o desenvolvimento de projetos é importante, principalmente por promover a articulação de diversos públicos através de práticas lúdicas (MACIEL et al., 2010).
Os educadores reconhecem a importância desses direcionamentos e afirmam que precisam deles para que seus planejamentos pedagógicos se tornem eficazes. Dessa forma, docentes e alunos possuem grande apreço pelo tema e por ações como as desenvolvidas nesse estudo. Sugere-se que essas atividades sejam desenvolvidas continuamente nas escolas com o intuito de promover o conhecimento e incorporá-los à formação dos educadores. A partir disso, é possível estabelecer metas e orientar os alunos em sala de aula, abordando de forma transversal a temática no currículo escolar, assim como integrá-los às práticas a partir da metodologia de projetos (VASCONCELOS et al., 2001).
Após as ações, os educadores permitiram a continuidade do projeto, desenvolvendo atividades sobre educação em saúde bucal e incorporando-as ao contexto escolar. O envolvimento da escola com a família tornou-se uma prática constante, e isso foi válido para aproximar e integrar ações em saúde para toda a comunidade de forma contextualizada e problematizadora.
Os dados indicaram a falta de hábitos de higiene bucal dos alunos, bem como a irregularidade na escovação dos dentes. 55% relataram que a prática de higiene bucal era realizada apenas uma vez por dia; 11% relataram que realizavam esses cuidados quatro vezes ao dia ( Figura 1). Percebe-se ainda que há falta de valorização do ato de escovação pelos alunos. Isso nos leva a repensar formas de incentivo a esses cuidados, buscando a promoção da saúde através de ações educativas e estimulando hábitos higiênicos saudáveis. Esses dados vêm ao encontro dos resultados apontados por Antunes et al. (2006), que reconhecem a falta do conhecimento dos adolescentes, refletido na ineficácia de orientação pelos educadores, além do desconhecimento por parte da escola sobre os cuidados para a manutenção da saúde bucal de seus alunos, não desenvolvendo ações educativas de cunho orientador.
Segundo Barros (2001), as ações apontadas são essenciais, pois ajudam na prevenção de doenças bucais, preconizando o uso de métodos preventivos que tenham alcances coletivos e grandes impactos sociais, como o uso da escovação, por exemplo. Logo, a prevenção é a melhor solução para a manutenção da saúde bucal. Devido à baixa condição socioeconômica dos alunos, essas medidas tornam-se mais práticas e mais acessíveis, exigindo menos gastos.
Os conhecimentos dos alunos sobre os hábitos e o uso de produtos de higiene bucal também foram verificados. Constatou-se que 63% possuem os cuidados, alegando usarem apenas a escova e o creme dental como instrumentos de limpeza ( Figura 2). Isso se reflete nos dados negativos e na ocorrência de problemas de saúde bucal, como a cárie.
Os alunos relataram também o eventual uso dos produtos de higiene bucal. Reafirmaram que os seus costumes, os comportamentos diários, os hábitos alimentares e as condições financeiras são fatores preponderantes para o estabelecimento dessa prática. Esses argumentos dialogam com a prática formadora em sala de aula, uma vez que aproximam o conhecimento científico do educando e seu cotidiano, e ajudam a compreender a educação em saúde numa perspectiva contextualizada e problematizadora (OLIVEIRA et al., 2019).
Os dados demonstraram a importância do uso de produtos que são eficazes na eliminação de micro-organismos e remoção de placas bacterianas e/ou restos alimentares nos dentes dos alunos. Isso permite a eliminação parcial ou total desses resíduos, e, nesse sentido, o enxaguante bucal funciona necessariamente como complemento da higienização, assim como a escova e o fio dental, sempre após as refeições.
Medidas preventivas como essas são fundamentais para que se tenham resultados positivos sobre os cuidados dentários. Logo, a inclusão de um profissional odontólogo nas escolas, tanto para realizar atividades relacionadas à saúde dos escolares quanto para orientar os educadores, é necessária, pois visa o desenvolvimento da aprendizagem e saúde dos mesmos.
Diante de dados que mostram a carência de conhecimento dos alunos, orientar os educadores é uma medida eficaz, pois os mesmos são mediadores de conhecimento e agentes multiplicadores das práticas educativas em sala de aula ( PAULETO, PEREIRA, CYRINO, 2004; FRANCHIN et al., 2006). Incorporar essas discussões se configura como uma estratégia educativa fundamental para diminuir lacunas no conhecimento dos educandos.
Cabe ressaltar a necessidade de que as medidas, sejam elas de orientação ou sensibilização da comunidade escolar, possam ser contínuas, visando reduzir as distâncias entre escola e família, integrando ações importantes de educação em saúde. Trabalhos como os de Figueira e Leite (2008) atentam para o estabelecimento de parcerias entre esses públicos, em que são considerados meios importantes que promovam ampla discussão e estabeleçam a mediação entre práticas educativas que contribuam para o incentivo a boas ações educativas. Isso se dá através do uso de recursos e/ou atividades que atraiam a atenção dos alunos acerca dos cuidados em saúde. Visando isso, o uso de recursos didáticos, como o audiovisual e materiais auxiliares utilizados por professores e pelo odontólogo, foram importantes, pois contribuíram para a efetivação da proposta e dos objetivos pretendidos, integrando toda a equipe, pais e alunos, durante as atividades desenvolvidas.
Nessa perspectiva, procurou-se desenvolver atividades diferenciadas referentes à higiene bucal, como microaulas, palestras e aula prática com os escolares. Dessa forma, os alunos puderam descrever através de cartazes e figuras alguns cuidados no que diz respeito a uma boa higiene bucal, entre os quais é possível mencionar: escova adequada, os movimentos circulares nos dentes, uso diário do fio dental, enxaguante e principalmente uma visita ao odontólogo pelo menos a cada seis meses. Orientações essas que são fundamentais, pois os alunos puderam demonstrar, na prática, os conhecimentos adquiridos ao longo deste estudo e tornaram-se conhecedores da importância da relação entre o odontólogo e a comunidade escolar. Constatou-se que 100% do público entrevistado tinham ciência da importância da higiene bucal através de outros meios de informação.
Os alunos também foram questionados sobre os meios de obtenção das informações, e relataram que as obtiveram através de propagandas e comerciais na televisão. Assim, apontar fatores midiáticos como meio promotor de informação para a população é fundamental para o estreitamento de laços e o estabelecimento de elos entre os atores envolvidos no processo educativo. Neste sentido, o desenvolvimento de métodos e práticas sobre educação em saúde, sobretudo os cuidados com os dentes, propicia grandes impactos na população, contribuindo para um bom acompanhamento e qualidade de vida da sociedade.
As respostas aos questionários apontaram para a ampla necessidade de as escolas reverem suas práticas pedagógicas direcionadas, não somente aos seus alunos, mas também aos pais e professores, pois todos são multiplicadores de conhecimentos e contribuem para o desenvolvimento social. Além disso, verificou-se a importância da inclusão de ações educativas nas escolas, promovendo a interação e participação conjunta da sociedade, mediando conhecimentos e informações que constituem as práticas professorais essenciais ao processo de ensino/aprendizagem.
4 CONSIDERAÇÕES
As práticas de educação em saúde na escola são necessárias, uma vez que permitem à população, orientações e cuidados essenciais à manutenção da boa saúde sob diversos aspectos. Tal prática faz parte dos documentos pedagógicos legais e precisam ser incorporadas de forma transversal nos componentes curriculares das escolas. A articulação entre conteúdos teóricos e a prática educativa constitui-se em um papel da escola e necessita do envolvimento de toda a comunidade escolar com vistas à efetivação de sua prática e missão.
Dessa forma, a pesquisa educacional realizada permitiu compreender que pais e alunos conhecem pouco sobre o tema da saúde bucal. A referida investigação expôs a necessidade social de discutir esse tema na escola de educação básica.
A investigação realizada por acadêmicas de uma licenciatura em Biologia do estado do Maranhão sugere a problematização e contextualização da temática junto à comunidade escolar, principalmente no que se refere ao envolvimento desse público, de modo a estreitar as relações educativas com vistas à melhoria contínua do processo de ensino/aprendizagem.
Tornar a presença do profissional odontólogo no espaço escolar através de projetos integradores e políticas públicas direcionadas aos estabelecimentos de ensino são estratégias necessárias para mitigar os problemas decorrentes da falta de cultura dos cuidados inerentes à higiene bucal em escolares.
Práticas pedagógicas, por meio de metodologias ativas e de projetos integradores, podem ser importantes estratégias para que os alunos despertem o interesse para melhores cuidados com a saúde, e estabeleçam mudanças de hábitos em diferentes espaços de convívio social, sobretudo nas escolas. Sabe-se que a prática de saúde nesses ambientes ainda é um desafio e carece de uma articulação mútua entre família e escola. Nesse sentido, o público envolvido nessa prática conseguiu incorporar saberes adquiridos aos já existentes, de modo a somar os conhecimentos a partir das ações desenvolvidas durante o estudo.
Portanto, o estabelecimento dessas ações educativas no espaço escolar, bem como planejamento e a articulação entre família, escola e sociedade, podem levar à práticas pedagógicas efetivas para além da escola, permitindo, dessa forma, uma política integradora que promova mudanças na forma de pensar e agir dos educadores e educandos.
REFERÊNCIAS
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