apenas ao modo semiótico verbal ou linguístico e seus recursos (Kress, 2003). Soares
também afirma que a pessoa letrada é aquela que “aprende a ler e a escrever [ ... ] e que
passa a fazer uso da leitura e da escrita” e a envolver-se nas práticas sociais de leitura e
de escrita” (p.30). Embora referindo-se a letramento no singular, presentes estão, em sua
posição, as noções de criticidade e de transformação social, pois o estado ou condição
de ser crítico impulsiona múltiplos olhares e um agir consciente, tendo em vista o
exercício da cidadania. Paulo Freire (1975), por sua vez, defende uma pedagogia crítica
que traz em seu bojo as noções de educação transformadora, criticidade, emancipação
do aprendiz e o agir cidadão agentes sociais de mudança. Embora nunca tenha utilizado
a palavra letramento, esse grande pesquisador brasileiro pode ser considerado o mentor
das atuais perspectivas teórico-pedagógicas relacionadas à educação crítica de fomento
à agência do aprendiz e à sua formação para a cidadania. Há um grupo de pesquisadores
com trabalhos consolidados que se dedica ao conceito de letramento crítico e seus
desdobramentos, sendo as Professoras Walkyria Monte-Mor, Cláudia Rocha e o
Professor Roberval Maciel alguns dos pesquisadores brasileiros mais proeminentes
nessa área. Sugiro, inclusive, que leiam o artigo de Rocha, Maciel e Morgan (2017),
onde discutem os conceitos básicos das perspectivas críticas em educação e linguagem.
Para esses autores, tanto a pedagogia crítica quanto o letramento crítico apropriam-se de
uma perspectiva social em seus trabalhos, enfatizando a agência dos aprendizes e seu
papel de agentes sociais críticos. Em relação aos multiletramentos, adoto a perspectiva
de Kalantzis e Cope (2012), advinda dos trabalhos do New London Group (1996), tendo
em vista os preceitos freidianos, especialmente a ênfase na formação dos aprendizes
para a cidadania. O livro, Literacies, de sua autoria, nos fornece uma discussão
aprofundada sobre a “pedagogia dos multiletramentos”, tendo em vista a era digital e
seu impacto nos textos contemporâneos e no processo de comunicação entre nós. Essa
pedagogia enfatiza não só a leitura e a escrita, mas outros modos de interação, como,
por exemplo, o oral, o visual, o sonoro, o gestual e o espacial. Ademais, leva em conta
que os textos contemporâneos variam muito, dependendo do contexto social onde são
produzidos. Para esses pesquisadores, como mostrado na Figura 1, os dois “multi” em
uma “pedagogia dos multiletramentos” referem-se a dois aspectos essenciais de uma
educação crítica: a diversidade linguística, social, cultural e étnica à qual estamos todos
envolvidos e à multimodalidade dos textos da era atual (p. 2-3). Nas palavras desses