nosso foco é observar seus gestos de interpretação, a partir da mobilização de saberes que
determinam seu olhar em relação à figura da primeira-dama, Marcela Temer.
A AD considera que o sentido das palavras e de expressões, tal como menciona
Pêcheux (1997), não existe ‘em si mesmo’. Em outros termos, isso significa que o sentido não
está ligado ao significante, como propôs Saussure, mas, sim, ao que é determinado pelas
posições ideológicas que estão em jogo nos processos sócio-históricos em que são produzidas
as palavras, expressões e proposições. É a ideologia, segundo Pêcheux (1997, p. 160), que
cumpre o papel de determinar os sentidos: “as palavras, expressões, proposições... mudam de
sentido segundo as posições sustentadas por aqueles que as empregam, o quer dizer que elas
adquirem seu sentido em referência a essas posições, isto é, em relação às formações
ideológicas”. Logo, para esse autor:
Todo enunciado é intrinsecamente suscetível de tornar-se outro, diferente de
si mesmo, se deslocar discursivamente de sentido para derivar por um outro
(a não ser que a proibição da interpretação própria ao logicamente estável se
exerça sobre ele explicitamente). Todo enunciado, toda sequência de
enunciados é, pois, linguisticamente descritível como uma série
(lexicosintaticamente determinada) de pontos de deriva possíveis,
oferecendo lugar à interpretação (PÊCHEUX, 1997, p. 53).
Pelo fato de o discurso se constituir na incompletude, a questão do sentido torna-se
aberta, tendo em vista sua dependência da Formação Discursiva (FD) a que pertencem os
sujeitos. Esse é o motivo, pois, pelo qual o sentido, conforme mencionamos anteriormente,
sempre pode ser outro, justamente por ser determinado pelas formações discursivas.
Considerando, então, a base teórica da AD, o sentido não possui origem nos interlocutores ou
na língua usada por estes, mas corresponde a um efeito do processo de interlocução.
Cabe-nos, aqui, fazer menção ao conceito de formação discursiva, a qual, conforme
Pêcheux, “é aquilo que, numa formação ideológica dada, isto é, a partir de uma posição dada
numa conjuntura dada, determinada pelo estado da luta de classes, determina ‘o que pode e
deve ser dito’” (PÊCHEUX, 1997, p. 147). Esse conceito é complementado por Orlandi, para
quem diz que tal noção “permite compreender o processo de produção dos sentidos, a sua
relação com a ideologia e também dá ao analista a possibilidade de estabelecer regularidades
no funcionamento do discurso” (ORLANDI, 1999, p. 43). Portanto, são as FDs que, em um
dado momento histórico, determinam, no discurso do sujeito, o sentido do seu dizer. Como
refere essa autora, por meio do processo de identificação, o sujeito se inscreve em uma FD