gramaticais. O texto estaria, então, de ponta a ponta nas práticas de linguagem segundo a
concepção de produção de textos aqui discutida.
Nesse sentido, o aluno que ocupa os bancos escolares começa a ter um papel
destacado em seu próprio aprendizado, a linguagem é uma atividade constitutiva, da qual ele
se vale para valorar o mundo. O professor de português tem a missão de ensinar o aluno a
manusear os textos com competência, de modo que se torne um leitor/produtor de textos
capaz de enfrentar os desafios impostos pela sociedade. Osakabe (2011) discute que as
relações que o sujeito mantém com o meio o tornam sujeito do seu discurso, “Ser sujeito do
discurso seria conferir a cada enunciado produzido a relevância identificadora que lhe dá tanto
um papel substantivo no contexto em que é produzido quanto confere uma identidade
específica ao seu enunciador” (OSAKABE, 2011, p.26).
A reflexão desse autor dialoga, em muito, com o que vínhamos discorrendo sobre que
tipo de sujeito se estava delineando: um sujeito singular, irrepetível, inconcluso, imperfeito,
que produz textos singulares, enunciados irrepetíveis. O autor afirma que “compete a ele
[sujeito], uma função continuamente impertinente de constituir-se a cada momento num ser
pertinente” (OSAKABE, 2011, p. 26-27). Completa dizendo que o sujeito sofre uma “crise
permanente, [...] que se faz no embate contínuo contra sua própria estereotipização” (osakabe,
2011, p.27). Esse sujeito que está produzindo enunciações é incompleto por definição, ele
necessita de um “outro” para se tornar pleno, mesmo que o interlocutor seja virtual, há um
interlocutor, relembrando o conceito bakhtiniano de alteridade.
Bakhtin (2009) difere unidades da língua das unidades da comunicação verbal,
afirmando que:
A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de
formas linguísticas nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato
psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal,
realizada através da enunciação ou das enunciações. A interação verbal constitui
assim a realidade fundamental da língua. (destaques do autor) (BAKHTIN, 2009, p.
125).
Sendo a interação verbal o que constitui a realidade fundamental da língua, suas
unidades menores (fonemas, morfemas, palavras, frases...) não constituem enunciações. Se o
enunciado é a real forma de manifestação linguística, ele é irrepetível, do mesmo modo como
o sujeito que o profere, contrapondo-se às unidades da língua que se repetem, os enunciados
são únicos, pois dependem de uma situação de comunicação, de uma relação de interlocução,
de possíveis contrapalavras.