Nativa, Sinop, v. 9, n. 3, p. 240-246, mai./jun. 2021.
Pesquisas Agrárias e Ambientais
DOI: https://doi.org/10.31413/nativa.v9i3.9686 ISSN: 2318-7670
Déficit hídrico e a germinação de sementes de híbridos de milho
Ivanildo Guilherme HENRIQUE1, Rafael Orlandini BOSQUEIRO1,
Rafael Massaru KOTSUBO1, Silvia de Carvalho Campos BOTELHO2
1Pós-Graduação em Agronomia, Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil.
2Embrapa Agrossilvipastoril, Sinop, MT, Brasil.
*E-mail: Ivanildo.guilhermee@gmail.com
(Orcid: 0000-0002-1585-3669; 0000-0001-5772-215X; 0000-0001-8943-9957; 0000-0002-2689-5303)
Recebido em 14/01/2020; Aceito em 24/06/2021; Publicado em 12/07/2021.
RESUMO: Considerando a importância da água no processo de germinação de sementes, as condições
adversas de umidade afetam diretamente o processo germinativo. Para tanto, objetivou-se avaliar a influência
do deficit hídrico na germinação e vigor de sementes de dois genótipos comerciais de milho, induzido por
diferentes potenciais osmóticos. Utilizou-se delineamento experimental inteiramente casualizados (DIC),
arranjado em esquema fatorial duplo 2x5, com quatro repetições, avaliando híbridos de milho (DKB255PRO3
e DKB390PRO2), submetidos a germinação sob condições de déficit hídrico, em cinco veis de potencial
osmótico (0, -0,6, -1,2, -1,8 e -2,4 MPa). Cada unidade experimental constituiu-se por um rolo de papel germitest
contendo 50 sementes. Utilizou-se NaCl como agente osmótico indutor de deficiência hídrica as sementes.
Avaliou-se a germinação, vigor de sementes e o desenvolvimento inicial das plântulas, em termos de
comprimento e biomassa. O déficit hídrico, simulado com solução de cloreto de sódio, provoca redução no
desempenho de sementes de híbridos de milho. Os genótipos de milho respondem diferentemente quanto a
tolerância a condições de estresse provocado por indisponibilidade de água durante a germinação. O híbrido
DKB390PRO2 apresenta germinação e crescimento de plântulas superior quando submetido a diferentes níveis
de potencial osmótico de NaCl.
Palavras-chave: viabilidade de sementes; restrição hídrica; Zea mays.
Effect of water deficit on the maize seed germination
ABSTRACT: Considering the importance of water in the seed germination process and knowing that
conditions will not always be the most adequate to the germination process, the objective was to evaluate the
influence of water deficit on germination and vigor in seeds of different commercial corn genotypes induced
by different osmotic potentials. A completely randomized experimental design (D.I.C) was used, arranged in a
2x5 double factorial scheme, with four replications. Each experimental unit was constituted by a roll containing
50 seeds, made in germitest paper. Two maize seed hybrids (DKB255PRO3 and DKB390PRO2) were
evaluated, submitted to germination under water deficit conditions, with levels 0; -0,6. -1,2; -1,8 and -2,4 MPa
of osmotic potential. NaCl was used as osmotic agent inducing water deficiency in seeds. Germination, seed
vigor and initial seedling development were evaluated in terms of length and biomass. The water deficit
simulated with sodium chloride solution, causes a reduction in the performance of maize hybrids seeds. Corn
genotypes respond differently to tolerance to stress conditions caused by unavailability of water during
germination. The hybrid DKB390PRO2 presents superior germination and seedling growth when submitted
to different levels of osmotic NaCl potential.
Keywords: viability; water restriction; Zea mays.
1. INTRODUÇÃO
O estresse hídrico é uma restrição ambiental severa à
produtividade agrícola, atuando como fator determinante no
cultivo das mais variadas espécies de interesse econômico.
Indiscutivelmente a água tem importância fundamental nos
mais diversos processos biológicos existentes, inclusive
aqueles relacionados a produção vegetal. A disponibilidade
hídrica e o movimento da água para as sementes são
importantes para a germinação e emergência das plântulas, e
desse modo, são fatores influenciados pelo potencial hídrico
do solo (KAPPES et al., 2009).
Nem sempre o solo oferece um ambiente ótimo para a
germinação das sementes e uma das condições por vezes
encontrada é a pouca disponibilidade de água logo após a
semeadura (Coelho et al., 2010). Nessa condição, o solo
apresenta potenciais hídricos que dificultam a absorção da
água necessária para a germinação das sementes
(MACHADO NETO et al., 2006), o que configura o estresse
hídrico logo após o plantio como um dos fatores abióticos
que mais influência no processo germinativo, interferindo na
atividade enzimática da planta (GARCIA et al., 2012).
Desse modo, potenciais hídricos muito negativos,
especialmente no início da embebição, influenciam a
absorção de água pelas sementes, podendo inviabilizar a
sequência de eventos do processo germinativo
(MIKUSINSKI, 1987).
Dadas essas circunstâncias e considerando a importância
da água para a germinação de sementes a campo,
compreender as respostas fisiológicas das plantas em função
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da variação de disponibilidade hídrica torna-se de extrema
importância.
Assim, o objetivo deste trabalho foi simular condições de
déficit hídrico, induzido por soluções de cloreto de sódio, e
avaliar se a germinação e o vigor de sementes de genótipos
comerciais de milho são influenciados pela menor
disponibilidade de água.
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1. Localização e Delineamento experimental
O experimento foi conduzido no Laboratório de
Sementes e Mudas da EMBRAPA - Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária, unidade de Sinop/MT (Embrapa
Agrossilvipastoril), entre os meses de maio e junho de 2019.
Foram avaliados dez tratamentos, resultantes da
combinação entre dois genótipos de milho e cinco diferentes
níveis de potencial osmótico aos quais estes materiais foram
submetidos, utilizando para isso solução de cloreto de sódio.
O delineamento experimental adotado para o ensaio foi o
inteiramente casualizado (DIC), arranjado em esquema
fatorial duplo 2x5 (genótipos de milho x níveis de potencial
osmótico, respectivamente), em quatro repetições. Cada
unidade experimental constituiu-se por um rolo de papel
germitest contendo 50 sementes.
2.2. Implantação e condução do experimento
Foram utilizadas sementes comerciais dos híbridos de
milho DKB255PRO3 e DKB390PRO2, padronizadas
quanto ao tamanho e forma, para cada material, visando
reduzir efeito do tamanho no vigor das sementes. As
sementes foram submetidas à germinação sob condições de
deficit hídrico, com os níveis 0; -0,6. -1,2; -1,8 e -2,4 MPa de
potencial osmótico (Tabela 1). Considerou-se o nível zero de
potencial osmótico como testemunha, utilizando-se apenas
água destilada para hidratação do substrato.
Tabela 1. Concentração de NaCl na solução e os respectivos níveis
de potenciais osmóticos induzidos.
Table 1. NaCl concentration in the solution and its levels of induced
osmotic potentials
Níveis de Potencial
Osmótico (MPa) NaCl (g L-1)
0,0
0
-
0,6
8,40
-
1,2
-
1,8
-
2,4
Para obtenção do potencial osmótico desejado, utilizou-
se soluções de cloreto de sódio (NaCl), em diferentes
concentrações (Tabela 01). Para o cálculo das concentrações,
a fórmula de Van’t Hoff foi utilizada, conforme a equação a
seguir: Yos = - RTC, onde Yos: potencial osmótico (MPa);
R: constante geral dos gases perfeitos (0,082 Mpa dm-3 mol-1
k-1); T: temperatura (ºC); e C: concentração (mol dm-3)
(SALISBURY; ROSS, 1991).
Cinquenta sementes de cada genótipo foram dispostas
para germinar em folhas de papel (germitest), umedecidas
com 2,5 vezes a sua massa, com soluções osmóticas de
cloreto de dio para proporcionar diferentes níveis de
potencial osmótico. Inicialmente, as sementes foram alocadas
sobre duas folhas e recobertas com uma terceira folha de
papel, em seguida, enroladas e presas por uma liga de náilon,
postas em sacos plásticos e alocadas em uma câmara de
germinação (B.O.D.), com umidade de 92% e temperatura de
25°C, permanecendo nesta condição por um período de sete
dias.
2.3. Variáveis analisadas
A avaliação da primeira contagem de germinação foi
realizada no quarto dia após a instalação do teste. A contagem
final de germinação (segunda contagem), obtida pela
somatória com a primeira contagem de germinação, foi
realizada no sétimo dia após a instalação do teste (Brasil,
2009). Para a análise do teste de geminação, utilizou-se o
critério de emissão de radícula, e para o desenvolvimento a
medição da radícula e do coleóptilo das plântulas normais
desenvolvidas. Posteriormente, os dados foram convertidos
para porcentagem de plântulas normais (Brasil, 2009).
A velocidade de germinação foi calculada pela fórmula de
Edmond e Drapala (1958): V.G.= [(D1 x P1) + (D2 x P2)] /
(P1 + P2), onde: V.G. é a velocidade de germinação, expressa
em número de dias médios para a germinação; D1 e D2
correspondem aos números de dias da semeadura a primeira
e segunda contagem, respectivamente; P1 e P2 correspondem
aos números de plântulas normais na primeira e segunda
contagem de germinação, respectivamente.
Assim, a primeira contagem e velocidade de germinação
foram empregadas como indicativo do vigor e a contagem
final, da viabilidade das sementes.
A avaliação do crescimento das plântulas foi realizada
apenas nas plântulas normais, eliminando-se as anormais e as
sementes mortas, por meio da medição do comprimento da
raiz primária, comprimento da parte aérea e biomassa fresca
de plântula. A avaliação foi realizada no sétimo dia após a
instalação do teste, com auxílio de régua milimetrada,
utilizando-se cinco plântulas aleatórias de cada unidade
experimental e os resultados dios expressos em
centímetros e gramas por plântula.
A determinação da biomassa fresca de plântula (raízes e
parte aérea) foi realizada após a avaliação do comprimento da
raiz e da parte aérea. Nesta avaliação, também se considerou
as plântulas normais originadas nos respectivos tratamentos,
as quais foram submetidas à pesagem em balança de precisão.
A massa total obtida, em cada amostra, foi dividida pelo
número de plântulas normais utilizadas, obtendo-se a
biomassa fresca média de plântula (g plântula-1).
2.4. Análise estatística dos dados
Os dados foram submetidos à análise de variância,
verificando-se a significância ao nível de 5% de probabilidade
pelo teste F. Detectando-se diferenças significativas entre os
tratamentos, as médias foram comparadas entre si pelo teste
de Tukey, e, então, realizadas as análises de regressão para os
diferentes potenciais osmóticos.
3. RESULTADOS
O resumo da análise de variância e valores médios
observados para as variáveis mensuradas é apresentado na
Tabela 2. Efeitos significativos (P<0,05) foram observados
para os híbridos de milho e níveis de potencial osmótico
avaliados, assim como para a interação entre os fatores, na
maioria das variáveis. Isso indica que os híbridos se
comportaram de maneira distinta em relação ao nível de
potencial osmótico, aos quais as sementes foram submetidas
durante a germinação.
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Houve efeito significativo do estresse hídrico, induzido
com a solução de NaCl, sobre as variáveis analisadas,
indicando influência de diferentes níveis de deficit hídrico
sobre a germinação e vigor de sementes de milho. De maneira
geral, o percentual de germinação na primeira contagem e aos
7 dias após instalação do ensaio, assim como crescimento e
biomassa das plântulas (Tabela 2), apresentou redução da
germinação em função da redução do potencial osmótico.
No que se refere aos materiais genéticos avaliados, notou-se
superioridade do híbrido DKB390PRO2, o qual apresentou
maiores percentuais de germinação, acúmulo de biomassa e
crescimento das plântulas. Este lote de sementes apresentou
ainda menor número de plântulas anormais.
Tabela 2. Percentual de germinação na primeira contagem (PC), germinação (G), velocidade de germinação (VG), plântulas anormais (PA),
comprimento da radícula (CR), comprimento do coleóptilo (CC), massa verde de raízes (MVR), massa verde do coleóptilo (MVC) de
sementes de milho.
Table1. First count germination percentage (PC), germination (G), germination speed (VG), abnormal seedlings (PA), root length (CR),
coleoptile length (CC), green root mass (MVR), coleoptile green mass (MVC) of corn seeds.
Tratamentos PC (%) G (%)
VG
(dias)
PA
(%)
CR
(cm)
CC
(cm)
MVR
(g)
MVC
(g)
Híbrido (Fator A)
DKB255PRO3 52,90b 71,60b 5,99b 24,10a 4,15b 3,71b 0,07a 0,12b
DKB390PRO2 63,90a 85,30a 5,93a 16,90b 5,81a 4,81a 0,08a 0,14a
F (A) 46,1** 73,8** 4,9* 16,4** 106,8** 14,2** 3,13ns 10,4*
Pr>Fc <0,001 <0,001 <0,05 <0,001 <0,001 <0,001 <0,08 <0,05
dms 3,323 3,271 0,048 3,643 0,329 0,601 0,007 0,012
Potencial osmótico (Fator B)
0,0 MPa 95,75a 97,50a 5,51c 2,25d 15,33a 13,56a 0,17a 0,44a
-0,6 MPa 90,00a 97,50a 5,56c 2,50d 5,64b 5,80b 0,13b 0,16b
-1,2 MPa 74,75b 86,25b 5,61c 16,00c 2,56c 1,50c 0,05c 0,04c
-1,8 MPa 31,50c 75,75c 6,12b 46,50b 1,05d 0,44cd 0,02d 0,01d
-2,4 MPa 0,00d 35,25d 7,00a 35,50a 0,30e 0,00d 0,01d 0,001d
F (B) 517,9** 209,3** 571,7** 99,6** 1166** 300,6** 341,3** 768,7**
Pr>Fc <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001
dms 7,482 7,364 0,108 8,203 0,742 1,354 0,015 0,027
F (A x B) 7,1* 12,2** 0,6ns 16,3** 38,4** 7,6* 15,4** 24,7**
Pr>Fc <0,05 <0,001 <0,638 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001
CV (%) 8,77 6,43 1,25 27,4 10,20 21,75 13,48 14,23
* P< 0.05; ** P< 0.001; ns não significativo pelo teste F. Médias seguidas de letra distintas na coluna diferem entre si pelo teste de Tukey (P<0,05).CV =
coeficiente de variação; dms = diferença mínima significativa.
Figura 1. Primeira contagem (A), germinação (B), velocidade de germinação (C) e percentual de plântulas anormais (D), de sementes de
milho sob a influência de diferentes níveis de potencial osmótico, em soluções de cloreto de sódio.
Figure 1. First count (A), germination (B), germination speed (C) and percentage of abnormal seedlings (D) of maize seeds under the
influence of different osmotic potential levels in sodium chloride solutions.
Henrique et al.
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A velocidade de germinação também foi afetada pelos
fatores avaliados nesse ensaio. O lote de sementes oriundo
do híbrido DKB255PRO3 apresentou velocidade de
germinação inferior, levando em média 5,99 dias para
germinar após hidratação das sementes.
O potencial osmótico, obtido com solução de cloreto de
sódio adicionado ao substrato de germinação, foi eficiente e
proporcionou efeitos significativos sobre a germinação das
sementes e desenvolvimento das plântulas. Verificou-se
redução acentuada na velocidade de germinação, assim como
no crescimento da radícula e da parte aérea das plântulas, de
maneira que na maior concentração de sais pouco
crescimento foi detectado nas sementes que emitiram
radícula (Tabela 2).
A concentração da solução utilizada para umedecimento
do substrato causou influência, ainda, no número de
plântulas anormais observadas em cada tratamento.
Verificou-se incremento no percentual médio de plântulas
anormais em função da elevação na restrição hídrica a qual as
sementes foram submetidas (Tabela 2).
Na análise de regressão (Figura 1, A e B), o modelo
quadrático foi o que melhor se ajustou aos dados de primeira
contagem de germinação e germinação final em função dos
níveis de potencial osmótico. Observou-se decréscimo no
vigor das sementes dos dois híbridos avaliados à medida que
o potencial osmótico da solução foi diminuído. Constatou-se
que a redução na disponibilidade de água contribuiu
negativamente para o percentual e velocidade de germinação,
assim como aumentou consideravelmente o número de
plântulas anormais (Figura 1, C e D), apresentando para esta
última variável, uma resposta linear em função do potencial
osmótico.
A redução no potencial hídrico afetou negativamente o
crescimento da parte aérea e raízes das plântulas, que
demonstraram ter seu desenvolvimento prejudicado quando
submetidos à ambientes com deficit hídrico (Figura 2, A e B).
De maneira semelhante, a massa fresca da parte aérea e de
raízes foi prejudicada pela imposição do deficit hídrico
durante a germinação (Figura 2, C e D), inibindo
completamente o desenvolvimento nos níveis de maior
restrição.
Figura 2. Comprimento da radícula (A), comprimento do coleóptilo (B), massa verde de raízes (C) e massa verde do coleóptilo (D), de
sementes de milho sob a influência de diferentes níveis de potencial osmótico, em soluções de cloreto de sódio.
Figure 2. Root length (A), coleoptile length (B), root green mass (C) and coleoptile green mass (D) of maize seeds under the influence of
different osmotic potential levels in solutions of sodium chloride.
Em relação ao comprimento da parte aérea (Figura 2B),
as plântulas apresentaram os maiores valores no tratamento
controle e no nível de potencial osmótico de -0,6 MPa de
NaCl. Nas concentrações mais elevadas (-1,2, -1,8 e -2,4
MPa) não houve diferença no comprimento da parte aérea
das plântulas entre os materiais de milho avaliados, sendo os
valores apresentados nesses potenciais cerca de 14 vezes
menores aos obtidos a 0,0MPa.
As sementes do híbrido DKB390PRO2 apresentaram
maior porcentagem de germinação e de plântulas normais na
primeira contagem do teste de germinação, em praticamente
todos os níveis de potencial osmótico de NaCl avaliados. Em
comparação ao híbrido DKB255PRO3, exceto em 0,0 MPa,
no qual o houve diferença significativa entre os materiais,
e em -2,4 MPa, onde o valor de porcentagem de plântulas
normais foi zero para ambos materiais, na primeira
contagem, nos demais níveis de potencial osmótico o
material DKB390PRO2 mostrou-se mais tolerante a
restrição hídrica na germinação (Figura 3, A).
Quanto ao número de plântulas normais, como
mencionado, este foi reduzido em função da restrição hídrica
induzida, independente do híbrido de milho. Porém,
verificou-se que os materiais genéticos responderam de
maneira diferente a tais níveis de potencial osmótico. Em
geral, o híbrido DKB255PRO3 foi mais prejudicado pela
restrição hídrica na germinação, exceto a 0,0 MPa, no qual
não houve diferença entre os dois materiais.
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Quanto à avaliação dos caracteres de crescimento,
comprimento da parte aérea e de radícula das plântulas
(Figura 4, A e B), os resultados foram condizentes com
aqueles observados na porcentagem de germinação e na
primeira contagem de germinação, em que as sementes do
híbrido DKB390PRO2 apresentaram superioridade em
relação ao DKB255PRO3, na maioria das diferentes
concentrações do sal.
Figura 3. Desdobramento da interação genótipos de milho vs níveis de potencial osmótico para primeira contagem (A), germinação (B),
velocidade de germinação (C) e percentual de plântulas anormais (D), de dois genótipos de milho (DKB390PRO2 e DKB255PRO3) em
função de diferentes níveis de potencial osmótico. As setas indicam diferença significativa entre os genótipos pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade.
Figure 3. First count (A), germination (B), germination speed (C) and percentage of abnormal seedlings (D) of two maize genotypes
(DKB390PRO2 and DKB255PRO3) as a function of different levels of osmotic potential. Arrows indicate significant difference between genotypes
by Tukey test at 5% probability.
Figura 4. Comprimento da radícula (A), comprimento do coleóptilo (B), massa verde de raízes (C) e massa verde do coleóptilo (D), de dois
genótipos de milho (DKB390PRO2 e DKB255PRO3) em função de diferentes níveis de potencial osmótico. As setas indicam diferença
significativa entre os genótipos pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade.
Figure 4. Root length (A), Coleoptera length (B), Root green mass (C) and Coleoptera green mass (D) of two maize genotypes
(DKB390PRO2 and DKB255PRO3) as a function of different potential levels osmotic. Arrows indicate significant difference between
genotypes by Tukey test at 5% probability.
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Figura 5. Desenvolvimento inicial de plântulas de milho (DKB390PRO2), em função de diferentes níveis de potencial osmótico.
Figure 5. Initial development of corn seedlings (DKB390PRO2) as a function of different osmotic potential levels.
No que se refere a biomassa fresca do coleóptilo, também
se verificou resultados superiores para o híbrido
DKB390PRO2, nos tratamentos com potencial osmótico de
0,0 e -0,6 MPa, sendo as respostas nos demais tratamentos
estatisticamente semelhantes e inferiores (Figura 4D).
Grande variabilidade nos resultados foi observada entre as
sementes dos diferentes híbridos com a redução no potencial
osmótico da solução para a massa verde de raízes. Entretanto,
com potencial osmótico de 0,0 MPa, maior biomassa de
raízes foi constatada nas plântulas provenientes do lote de
sementes do híbrido DKB390PRO2 (Figura 4C).
4. DISCUSSÃO
Assim como verificado no presente estudo, Moterle et al.
(2006) e Kappes et al. (2010) avaliando germinação de
sementes e crescimento de plântulas de milho sob estresse
hídrico simulado, verificaram interação significativa entre
diferentes materiais genéticos e níveis de potencial osmótico
para germinação, primeira contagem de germinação,
comprimento da raiz primária e parte aérea de plântula.
A redução no potencial hídrico afetou negativamente
todos os parâmetros avaliados durante a germinação das
sementes de milho. Foi constatada redução no crescimento
das raízes e parte aérea das plântulas, assim como observado
por Viçosi et al. (2017), demonstrando que o
desenvolvimento das plântulas de milho é prejudicado
quando submetidas à ambientes em deficit hídrico. De
maneira semelhante, a germinação e velocidade de
germinação também foram afetadas negativamente.
Isso indica o efeito negativo do estresse hídrico e salino
sobre o desenvolvimento inicial das plântulas. Resultados
semelhantes também foram relatados por Tonin et al. (2000),
com sementes de milho, sob concentrações de Polietileno
Glicol.
O movimento e a disponibilidade de água para as
sementes são de grande importância para a germinação,
crescimento inicial do sistema radicular e emergência das
plântulas (ÁVILA et al., 2007). Desse modo, a diminuição da
germinação de sementes submetidas a estresse hídrico é
atribuída à redução da atividade enzimática, resultando em
menor desenvolvimento meristemático (POPINIGIS, 1985).
Confirmando tal afirmação, Soares et al. (2015)
concluíram que a germinação das sementes pode ser
severamente afetada pela baixa disponibilidade de água e
consequente baixo potencial hídrico, principalmente em
solos que exibem maiores teores de sais. Nesse sentido,
potenciais hídricos muito negativos, especialmente no início
da embebição, influenciam a absorção de água pelas
sementes, podendo inviabilizar a sequência de eventos do
processo germinativo (MIKUSINSKI, 1987).
Desse modo, o decréscimo no vigor das sementes dos
híbridos avaliados com a redução no potencial osmótico da
solução, segundo Bruni; Leopold (1992), pode ser atribuído
pelo deficit de água durante a germinação, o que provoca a
perda progressiva da turgescência protoplasmática e um
aumento na concentração de solutos. Complementarmente,
Larcher (1986) relatou que o excesso de íons no solo, como
o Cl-, tende a causar intumescência protoplasmática, afetando
a atividade enzimática e resultando na produção inadequada
de energia e distúrbios na assimilação de nitrogênio. Essa
afirmativa pode explicar os resultados encontrados no
presente estudo em relação ao decréscimo da germinação das
sementes.
A redução na germinação de sementes, com o aumento
das concentrações de cloreto de sódio, pode ser atribuída
ainda, como indicam Kappes et al. (2010) e Pelegrini et al.
(2013), à redução da velocidade e quantidade de água
absorvida pelas sementes, uma vez que o deficit hídrico
durante a germinação inibe a absorção de água pelos tecidos,
dificultando assim o início da germinação das sementes.
Respostas diferentes foram observadas entre os materiais
genéticos avaliados, no que se refere à germinação e
desenvolvimento de plântulas sob condições de restrição
hídrica, imposta por redução no potencial osmótico da
solução. Tal fato indica que a germinação de sementes de
milho em condições de campo, nestes respectivos potenciais
osmóticos torna-se, segundo Kappes et al. (2010),
dependente do material genético (híbrido de milho), ou seja,
o fator genótipo será determinante quanto à tolerância ou não
ao deficit hídrico presente no solo. Vale ressaltar que outros
fatores também podem atuar de forma conjunta ao deficit
hídrico, potencializando os danos e interferindo no processo
germinativo das sementes, como a temperatura do solo e do
ar.
Embora tenha ocorrido redução na porcentagem de
plântulas normais dos dois híbridos avaliados nos potenciais
de -1,8 e -2,4 MPa, as sementes do híbrido DKB390PRO2
apresentaram maior capacidade germinativa (44%) a -2,4
MPa de potencial osmótico, indicando menor interferência
na viabilidade das sementes e maior capacidade de superar
condições restritas de disponibilidade de água. De acordo
com Ávila et al. (2007), o estresse hídrico contribui para a
diminuição da velocidade e percentagem de germinação das
sementes, sendo que para cada espécie existe um valor de
potencial hídrico no solo, abaixo do qual a germinação não
ocorre.
O número de sementes mortas, ou que não apresentaram
emissão de radícula (dados não apresentados), sofreu
incremento com a redução do potencial osmótico ao qual as
sementes formam submetidas. Do mesmo modo, Santos et
al. (1992) observaram que a porcentagem de sementes não
Déficit hídrico e a germinação de sementes de híbridos de milho
Nativa, Sinop, v. 9, n. 3, p. 240-246, mai./jun. 2021.
246
germinadas, nos tratamentos sob condições de estresse
salino, foi muito elevada nos menores valores de potenciais
osmóticos, sugerindo que os efeitos tóxicos dos sais
provocaram inibição da germinação.
5. CONCLUSÕES
O déficit hídrico, simulado com solução de cloreto de
sódio, provoca redução no desempenho de sementes de
híbridos de milho.
A redução no potencial osmótico do substrato promove
redução significativa na germinação e vigor das sementes,
assim como no crescimento das plântulas de milho.
Os genótipos de milho respondem diferentemente
quanto à tolerância a condições de estresse provocado por
indisponibilidade de água durante a germinação.
O híbrido DKB390PRO2 apresenta germinação e
crescimento de plântulas superior quando submetido a
diferentes níveis de potencial osmótico de NaCl.
6. AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a EMBRAPA - Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária, unidade de Sinop/MT (Embrapa
Agrossilvipastoril), pelos recursos disponibilizados e
ambiente laboratorial para o desenvolvimento da pesquisa.
7. REFERÊNCIAS
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