Nativa, Sinop, v. 9, n. 2, p. 142-146, mar./abr. 2021.
Pesquisas Agrárias e Ambientais
DOI: https://doi.org/10.31413/nativa.v9i2.9121 ISSN: 2318-7670
Produção de repolho sob influência de boro
Adriana Ursulino ALVES
1
, José Gil dos ANJOS NETO
1
, Edson de Almeida CARDOSO
2
,
Maristela Caetano GOMES
1
1
Departamento de Engenharias, Universidade Federal do Piauí, Bom Jesus, PI, Brasil.
2
Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal da Paraíba, Areia, PB, Brasil.
*E-mail: adrianaursulino35@gmail.com
(Orcid: 0000-0002-3074-6079; 0000-0001-8440-5280; 0000-0002-9343-7425; 0000-0002-1958-6449)
Recebido em 24/09/2019; Aceito em 05/03/2021; Publicado em 23/04/2021.
RESUMO: As brássicas possuem alta exigência em boro. O suprimento inadequado deste micronutriente pode
limitar a sua produção, principalmente devido à baixa disponibilidade do elemento em determinados tipos de
solos. Isso porque este elemento contribui na incorporação de cálcio na parede celular e diretamente no
processo de expansão celular, tendo atuação também direta no crescimento e desenvolvimento dessas
hortaliças. Assim, objetivou-se nesse trabalho, avaliar a produção de repolho em condições semiáridas no Sul
do Piauí, utilizando diferentes doses de ácido bórico. O experimento foi conduzido no Setor de Horticultura
do Campus Professora Cinobelina Elvas, da Universidade Federal do Piauí, no Município de Bom Jesus PI
no período de fevereiro a junho de 2012. O delineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados,
cujos tratamentos foram compostos por cinco doses de boro (0, 2, 4, 6 e 8 kg ha
-1
) e quatro repetições. Foram
avaliadas as seguintes variáveis: altura de planta, circunferência da cabeça, área foliar, massa média da cabeça,
produtividade, concentração de boro no solo e teores de boro na cabeça e folhas. As doses de boro aplicadas
foram significativas para a circunferência da cabeça, massa média da cabeça, teor de boro nas folhas e
produtividade. E não apresentaram efeito significativos nas variáveis altura da planta, área foliar, concentração
de boro no solo e teor de boro na cabeça. Para incrementar a qualidade das cabeças é necessário uma maior
demanda de boro, pois foi obtido máximos valores para circunferência da cabeça (54,65 cm) e da massa média
da cabeça (1,41 kg) com a aplicação de 4,39 e 4,35 kg ha
-1
de boro. Enquanto a produtividade máxima de 68,
56 t ha
-1
de repolho foi obtida com 3,89 kg ha
-1
de boro. Nas condições semiáridas do Sul do Piauí, a
produtividade e a qualidade do repolho, é alcançada com aplicação de 4,0 a 4,5 kg ha
-1
de boro no solo.
Palavras-chave: Brassica oleracea var. capitata; ácido bórico; nutrição mineral; rendimento.
Production of cabbage under the influence of boron
ABSTRACT: Brassica has a high demand for boron. The inadequate supply of this micronutrient can limit its
production, mainly due to the low availability of the element in certain types of soils. This is because this
element contributes to the incorporation of calcium in the cell wall and directly in the cell expansion process,
having a direct role in the growth and development of these vegetables. Thus, the objective of this work was
to evaluate the production of cabbage in semi-arid conditions in southern Piauí, using different doses of boric
acid. The experiment was carried out in the Horticulture Sector of the Professora Cinobelina Elvas Campus, at
the Federal University of Piauí, in the municipality of Bom Jesus - PI from February to June 2012. The
experimental design used was in randomized blocks, whose treatments were composed by five doses of boron
(0, 2, 4, 6 and 8 kg ha
-1
) and four repetitions. The following variables were evaluated: plant height, head
circumference, leaf area, average head mass, productivity, boron concentration in the soil and boron levels in
the head and leaves. The applied boron doses were significant for the head circumference, average head mass,
boron content in the leaves and productivity. And they have no significant effect on the variables plant height,
leaf area, boron concentration in the soil and boron content on the head. To increase the quality of the heads,
a greater demand for boron is necessary, as maximum values for head circumference (54.65 cm) and average
head mass (1.41 kg) were obtained with the application of 4.39 and 4.35 kg ha
-1
of boron. While the maximum
productivity of 68.56 t ha
-1
of cabbage was obtained with 3.89 kg ha
-1
of boron. In the semi-arid conditions of
southern Piauí, the productivity and quality of the cabbage is achieved with the application of 4.0 to 4.5 kg ha
-
1
of boron in the soil.
Keywords: Brassica oleracea var. capitata; boric acid; mineral nutrition; yield.
1. INTRODUÇÃO
As Brássicas, especialmente o repolho, devido à facilidade
de produção e conservação pós-colheita tem contribuído
muito com a segurança alimentar do ser humano ao longo
dos séculos. No Brasil, o repolho é a espécie de maior
importância no grupo das brássicas. Sua produção está
concentrada nas regiões Sul e Sudeste, com produtividade
média de 40 t ha
-1
(FONTES; NICK, 2019).
A adubação constitui uma das práticas agrícolas mais
caras e de maior retorno econômico, resultando em maiores
Alves et al.
Nativa, Sinop, v. 9, n. 2, p. 142-146, mar./abr. 2021.
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rendimentos e em produtos mais uniformes e de maior valor
comercial (PRIMAVESI, 2002; SEDIYAMA et al, 2009). O
boro é o micronutriente que mais limita a produção das
culturas, desempenhando diversas funções nas plantas, como
a formação da parede celular, a divisão celular e o aumento
no tamanho das células (MALAVOLTA, 2006), o que o torna
de grande importância para a produção de hortaliças.
A deficiência em boro afeta os pontos de crescimento das
plantas, diminuindo consequentemente a qualidade do
produto e reduzindo a produção. Esta também provoca o
rápido endurecimento da parede celular, porque mesmo
formando complexos com carboidratos, a disposição das
micelas de celulose fica prejudicada, impedindo o aumento
normal do volume da célula (MALAVOLTA, 1980).
A deficiência de boro em repolho provoca problemas
nutricionais, como o aparecimento de talos ocos, coloração
escura na parte central do caule, produção de cabeças
pequenas e pouco compactas. Essa deficiência nutricional
provoca perdas tanto na qualidade como na produtividade
dessa hortaliça, ocasionando-se prejuízos econômicos
(FILGUEIRA, 2008).
O repolho originalmente é uma hortaliça de clima
temperado e a temperatura é o fator que mais limita o
desenvolvimento da planta (SILVA JÚNIOR, 1987;
FILGUEIRA, 2008). No entanto, devido a disponibilidade
de cultivares adaptadas a temperaturas elevadas, ampliou-se
os períodos de plantio e de colheita. Deste modo, pela
escolha criteriosa da cultivar, a época de plantio é possível a
sua produção ao longo do ano (FILGUEIRA, 2008).
A Região Sul do Piauí apresenta condições semiáridas e a
produção de hortaliças é bastante limitada. Esta é realizada
principalmente por produtores familiares e limita-se as
hortaliças de manejo mais simples como alface, coentro,
cebolinha e couve. Mediante esta realidade, viu-se a
necessidade de fazer pesquisas com outras culturas olerícolas.
Em virtude de o repolho ser uma brássica de alto valor
econômico e alta aceitação pelos consumidores, foi visto a
possibilidade de a cultura se adaptar as condições da região e
abrir portas para a produção de novas hortaliças. Assim,
dando outras opções aos produtores da região, bem como,
despertar o interesse de outros produtores a desenvolver a
produção de Hortaliças nesta região. Diante do exposto, as
hipóteses desse trabalho são: 1) a cultura se adaptará as
condições climáticas da região; 2) as doses de boro serão
suficientes para atingir ou superar a produtividade média de
40 t ha
-1
; 3) o boro aplicado garantirá qualidade aos repolhos
produzidos; 4) haverá uma dose ou doses a serem
recomendadas para a produção de repolho em condições
semiáridas no Sul do Piauí. Assim, objetivou-se nesse
trabalho, avaliar a produção de repolho em condições
semiáridas no Sul do Piauí, utilizando diferentes doses de
ácido bórico.
2. MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em campo aberto, no
período de fevereiro a junho de 2012, no Setor de
Horticultura do Campus Professora Cinobelina Elvas, da
Universidade Federal do Piauí. O município integra a região
do Semiárido Piauiense, possuindo clima quente e úmido,
classificado por Köppen como Awa (Tropical chuvoso com
estação seca no inverno e temperatura média do mês mais
quente superior a 22 °C). Localizado nas coordenadas
geográficas 09
o
04’28” S, 44
o
21’31” W, e altitude média de 277
m, com precipitação média entre 900 a 1200 mm ano
-1
e
temperatura média de 26,2 °C (INMET, 2021).
O solo da área é classificado como Latossolo Amarelo
(EMBRAPA, 2018), antes da realização do experimento foi
extraída amostras do solo na camada de 0,0 a 0,20 m para
caracterização química sendo os resultados apresentados na
Tabela 1.
O delineamento experimental adotado foi o de blocos
casualizados, com cinco tratamentos e quatro repetições. Os
tratamentos foram compostos por cinco doses de boro (0, 2,
4, 6 e 8 kg ha
-1
). Cuja fonte utilizada foi o ácido bórico com
17% de B. As doses foram aplicadas oito dias antes do
transplante. As quantidades de boro, de cada tratamento e
repetição foram diluídas em dois litros de água fervente e
acondicionadas em garrafas pet. As soluções foram colocadas
em regador manual e acrescentaram-se três litros de água para
completar a capacidade máxima do regador e foram aplicadas
aos canteiros, sendo utilizado um regador para cada dose para
evitar contaminação e comprometimento da pesquisa.
Tabela 1. Caracterização do Latossolo Amarelo, Bom Jesus-PI.
Table 1. Characterization of the Yellow Latosol, Bom Jesus-PI.
Atributos* Latossolo Amarelo
pH em CaCl
2
5,9
P resina (mg dm
-3
) 11
K (cmolc dm
-3
) 2,8
Ca (cmolc dm
-3
) 75
Mg (cmolc dm
-3
) 15
H + Al (cmolc dm
-3
) 18
B (mg dm
-3
) 0,21
Soma de Bases (cmolc dm
-3
) 92,8
CTC (cmolc dm
-3
) 110,8
Saturação por Bases (%) 83
Matéria Orgânica (g dm
-3
) 18
*Todos os atributos foram analisados conforme a metodologia do Boletim
Técnico do IAC, 106 (CAMARGO et al., 2009), com exceção do Boro,
que se utilizou o método da azometina (TEDESCO, 1995); *All attributes
were analyzed according to the methodology of the Technical Bulletin of the
IAC, No. 106 (CAMARGO et al., 2009), with the exception of Boron, which
used the azomethine method (TEDESCO, 1995).
A correção do solo não foi necessária, uma vez que a
Saturação por Bases se encontrava em 83%. O preparo do
solo foi por meio de aração e gradagem. O levantamento dos
canteiros realizado manualmente a uma altura de 0,30 m, cuja
as dimensões de cada parcela foi de 3,10 x 2,50 m, com uma
área total de 7,75 m
2
. Sendo quatro linhas de cinco plantas
por canteiro espaçadas de 0,80 x 0,50 m, e considerou-se
como área útil da parcela as seis plantas das linhas centrais,
sendo excluídas uma planta de cada extremidade que
formaram a bordadura.
A adubação e a semeadura ocorreram de forma manual.
A semeadura foi realizada em bandejas de polipropileno de
128 células com o híbrido Astrus Plus, as quais foram
preenchidas com substrato comercial Bioplant® e as mudas
transplantas para os canteiros aos 34 dias após a semeadura
(DAS), quando estavam com quatro folhas definitivas. Na
adubação de plantio aplicou-se em todos os tratamentos
como fonte de potássio o KCl (60 % de K
2
O), na dose de
100 kg ha
-1
e como fonte de fósforo o superfosfato simples
(18% de P
2
O
5
), na dose de 240 kg ha
-1
. Aos 15, 30 e 45 dias
após o transplante (DAT) foram realizadas as adubações de
cobertura com ureia (45 % de N) na dose de 300 kg ha
-1
de
N e com cloreto de potássio na dose de 220 kg ha
-1
(UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, 1993).
Produção de repolho sob influência de boro
Nativa, Sinop, v. 9, n. 2, p. 142-146, mar./abr. 2021.
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As irrigações foram efetuadas por microaspersão com
fitas perfuradas, com turno de rega diário parcelado em duas
aplicações (manhã e tarde), trabalhando com vazão de 1,7 Lh
-
1
. O monitoramento e o controle de plantas daninhas, insetos
pragas e doenças foram feitos semanalmente. Para as plantas
daninhas o controle foi através da capina manual
periodicamente até o fim do experimento. As pragas
encontradas foram à Traça das brássicas (Plutella xylostella) e
pulgão da couve (Brevicoryne brassicae). Sendo feito o controle
com pulverizações com o inseticida malatol® 500 CE na
dosagem de 1,5 mL do produto comercial para um litro de
água quando da ocorrência das pragas.
As avaliações ocorreram na fase de colheita. Esta foi
realizada aos 90 dias após o transplante quando mais de 80%
das plantas da parcela estavam com a cabeça compacta e com
a borda da folha externa iniciando seu desprendimento da
cabeça do repolho. Sendo avaliadas as seguintes variáveis:
Variáveis Fitotécnicas: altura da planta e circunferência da
cabeça, com o auxílio de uma fita métrica, sendo determinada
a partir da zona do colo até o ápice da planta e em volta da
cabeça, respectivamente, expresso em cm; área foliar: foi
determinada com o medidor de área foliar da marca LICOR,
modelo LI 3000, expresso em cm
2
planta
-1
; massa média da
cabeça e produtividade: determinadas pelo peso médio da
cabeça e soma da massa da cabeça, em balança digital da
marca Filizola
®
com capacidade máxima de 5 kg,
respectivamente, sendo os valores expresso em kg e t ha
-1
.
Variáveis Nutricionais: A concentração de boro no solo e
teores de boro na cabeça e folhas foram determinadas de
acordo com metodologia proposta por Tedesco (1995). Para
o boro no solo após a colheita foram coletadas amostras em
cada parcela experimental, secas a temperatura ambiente e
acondicionadas em sacos de papel Kraft, enquanto que o
material vegetal (cabeça e folhas) foram lavados em água
corrente e água destilada e acondicionadas em sacos de papel
Kraft, sendo estes secos em estufa com circulação forçada de
ar a 65°C. Após o período de secagem o material vegetal foi
moído e juntamente com as amostras de solo enviados ao
Laboratório de Análise de Solo e Planta da Universidade
Estadual Paulista, Campus de Jaboticabal, para análises.
Os dados foram submetidos à análise de variância, pelo
teste “F”, com um nível de significância de 0,05 e aquelas
variáveis que apresentaram efeito significativo foram
submetidas à análise quantitativa de regressão polinomial,
sendo escolhido o modelo com maior coeficiente de
determinação.
3. RESULTADOS
Houve efeito significativo da aplicação de boro nas
seguintes variáveis: circunferência da cabeça, massa média da
cabeça, teor de boro nas folhas e produtividade. A altura da
planta, área foliar, concentração de boro no solo e teor de
boro na cabeça não foram influenciados significativamente
pelas doses de boro aplicadas no solo, sendo seus valores
médios de 27,71 cm; 8166,84 cm
2
; 0,26 mg dm
-3
e 36,75 mg
kg
-1
, respectivamente.
A resposta do teor de boro nas folhas de repolho a
diferentes doses de boro pode ser observada na Figura 1. A
variação nos teores de boro nas folhas de repolho foi de 27
(controle) a 49 mg kg
-1
(dose máxima estimada de 6 kg ha
-1
),
estando dentro da faixa adequada indicada por Trani e Raij
(1996) que é de 25 a 75 mg kg
-1
. E com a dose máxima
aplicada de 8 kg ha
-1
, há uma redução de 4 % no teor de boro
nas folhas.
Figura 1. Teor de boro nas folhas de repolho em diferentes doses
de boro.
Figure 1. Boron content in cabbage leaves at different doses of
boron.
A resposta da qualidade de cabeças de repolho a
diferentes doses de boro pode ser observada nas Figuras 2 e
3. Nota-se que à medida que se aumentaram as doses de boro,
até próximo a 4,5 kg ha
-1
, houve um aumento da
circunferência e da massa média da cabeça. Observa-se que
os máximos valores para circunferência da cabeça (54,65 cm)
e da massa média da cabeça (1,41 kg) foram atingidos com a
aplicação de 4,39 e 4,35 kg ha
-1
de boro, respectivamente.
Sendo constatado incrementos de 10,45 e 28,92% sobre a
circunferência e massa média da cabeça em relação a dose
zero (controle) e as doses máximas estimadas. Contudo,
observou-se redução de 6,40 e 16,25 % nessas variáveis com
aplicação de 8 kg ha
-1
de boro (dose máxima aplicada).
Figura 2. Circunferência da cabeça de repolho em diferentes doses
de boro.
Figure 2. Circumference of cabbage head in different doses of
boron.
Figura 3. Massa média da cabeça de repolho em diferentes doses de
boro.
Figure 3. Average mass of cabbage head in different doses of boron.
ŷ = 26,943 + 7,3571x - 0,6071x2 R² = 0,96
25
35
45
55
0 2 4 6 8
Teor de boro nas folhas (mg/kg)
Doses de boro (kg/ha)
ŷ = 49,479 + 2,3566x -0,2684x2 R² = 0,82
49
51
53
55
02468
Circunferência da cabeça (cm)
Doses de boro (kg/ha)
ŷ = 1,0937 + 0,1453x - 0,0168x2 R² = 0,52
1,00
1,20
1,40
1,60
02468
Massa média da cabeça (kg)
Doses de boro (kg/ha)
Alves et al.
Nativa, Sinop, v. 9, n. 2, p. 142-146, mar./abr. 2021.
145
Os dados referentes à produtividade são apresentados na
Figura 4. Pode-se observar que a produtividade máxima de
repolho (68,56 t ha
-1
) foi obtida com a dose de 3,89 kg ha
-1
boro. Em relação ao tratamento controle (0,0 kg ha
-1
boro)
houve um incremento de 33% (17 t ha
-1
) na produtividade
com aplicação de 3,89 (dose máxima estimada) kg ha
-1
de
boro. E utilizando-se a dose máxima aplicada de 8 kg ha
-1
ocorreria uma redução de 27% (18,8 t ha
-1
) na produtividade
de cabeças.
Figura 1. Produtividade de repolho em diferentes doses de boro.
Figure 4. Productivity of cabbage in different doses of boron.
4. DISCUSSÃO
O teor de boro foliar em virtude da aplicação de boro no
solo é muito variável na cultura do repolho. Esta prerrogativa
foi constatada por vários autores, como: Silva et al. (2012),
com as cultivares ‘Chato de Quintal’ e ’60 Dias’, cuja variação
foi de 33 a 81 mg kg
-1
, ao aplicarem 0 a 10 kg ha
-1
de boro,
respectivamente; Silva et al. 2014, com a cultivar Astrus Plus
obtiveram teor foliar máximo de 49 mg kg
-1
; Pizetta et al.
(2005), com híbrido Kenzan observaram teor foliar entre 33
a 81 mg kg
-1
; Bergamin et al., 2005 também com o híbrido
Kenzan obteve teor boro foliar variando de 23 a 44 mg kg
-1
;
e Trani; Raij (1996), afirmaram que o teor de boro foliar
devem estar situados na faixa de 25-75 mg kg
-1
).
A adequação dos valores do teor de boro nas folhas
quando submetidas a todas as doses demonstra que a cultura
do repolho, mesmo em teores acima do que é indicado,
suporta uma larga faixa de boro foliar sem demonstrar
sintomas visíveis de toxicidade. Isso porque o máximo teor
(49 mg kg
-1
) foi obtido com a dose de 6 kg ha
-1
e Silva et al.
(2014) com o híbrido Astrus aplicando 10 kg ha
-1
de boro ao
solo obtendo-se teor foliar de 49 mg kg
-1
também não
verificaram sintomas visíveis de toxicidade nas folhas.
Contudo, Trani et al. (1996) recomendam para o estado de
São Paulo 3 a 4 kg ha
-1
de B para brócolis, couve-flor e
repolho, sem levar em consideração as características do solo,
ou três aplicações foliares durante o ciclo com solução
contendo 1 g L
-1
de ácido bórico.
A redução observada na circunferência e massa média da
cabeça em doses acima de 4 kg ha
-1
de boro indica que níveis
excessivos de boro provocam redução na qualidade de
cabeças de repolho. Contudo, as reduções não foram tão
expressivas, com percentuais de 6 e 16% na circunferência e
massa média da cabeça. A massa média da cabeça atingiu 1,4
kg com 4,35 kg ha
-1
de boro aos 90 dias após o transplante.
Demonstrando boa adaptação as condições semiáridas do Sul
Piauiense, isso porque de acordo com Luz et al. (2002) o
híbrido Astrus produz cabeças com peso entre 1,5 e 2,0 kg,
ciclo variando entre 80 a 90 dias), além de ser tolerante ao
calor.
A produtividade de repolho é bastante variável. No
presente trabalho atingiu-se 68,56 t ha
-1
com a dose de 3,89
kg ha
-1
; Bergamin et al. (2005) obtiveram produtividade
máxima de 65,95 t ha
-1
ao utilizarem 8 kg ha
-1
de ‘boro’; Silva
et al. (2012) com 28,8 t ha
-1
aplicando 7,2 kg ha
-1
de boro;
Silva et al. (2014) obtiveram 31,2 t ha
-1
com a dose de 6,8 kg
ha
-1
de ‘boro’.
O resultado de produtividade obtido neste experimento
está acima da faixa citada por Trani e Raij (1996), que é de 30
a 60 t ha
-1
. Esta diferença de comportamento, em parte, deve-
se a cultivares mais produtivas desenvolvidas nos últimos
anos. Além de melhorias na adubação e nutrição das plantas
que são adotados pelos produtores. Pizetta et al. (2005), em
trabalhos com brócolis, repolho e couve-flor obteve
respostas positivas com o aumento das doses de B nas
culturas. Demonstrando assim, a forte relação existente da
aplicação de B com o aumento da produtividade na cultura
das brássicas.
O incremento máximo na produtividade do híbrido Astrus,
em relação à testemunha (0,21 mg dm
-3
de boro no solo), de
33% com a dose 3,89 kg.ha
-1
superou os de Pizetta et al.
(2005) que apresentaram, em relação à testemunha (0,15 mg
dm
-3
de boro no solo) um incremento de 13% na
produtividade do híbrido Kenzan com aplicação de 8 kg ha
-1
de boro.
5. CONCLUSÕES
Nas condições semiáridas do Sul do Piauí, a
produtividade e a qualidade do repolho, é alcançada com
aplicação de 4,0 a 4,5 kg ha
-1
de boro no solo.
6. AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a Universidade Federal do Piauí
(UFPI), Campus Universitário Professora Cinobelina Elvas
(CPCE) pelo apoio técnico e de infraestrutura e ao Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) pelo auxílio financeiro (bolsa) a pesquisa
desenvolvida.
7. REFERÊNCIAS
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J. M.; FREIRE, J. M.; CRISÓSTOMO, L. A.; COSTA, R.
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agrotecnologia moderna na produção e
ŷ = 51,511 + 8,2734x - 1,0614x2 R² = 0,66
45
55
65
75
0 2 4 6 8
Produtividade (t/ha)
Doses de boro (kg/ha)
Produção de repolho sob influência de boro
Nativa, Sinop, v. 9, n. 2, p. 142-146, mar./abr. 2021.
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