Nativa, Sinop, v. 10, n. 4, p. 449-457, 2022.
Pesquisas Agrárias e Ambientais
DOI: https://doi.org/10.31413/nativa.v10i4.14216 ISSN: 2318-7670
Percepções sobre castanhais nativos no Baixo Rio Tapajós, estado do Pa
Diego dos Santos VIEIRA1*, Marcio Leles Romarco OLIVEIRA1,
João Ricardo Vasconcellos GAMA2, Bruno Oliveira LAFETÁ3
1Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Diamantina, MG, Brasil.
2Instituto de Biodiversidade e Florestas, Universidade Federal do Oeste do Pará, Santarém, PA, Brasil (In Memorian).
3Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais,o João Evangelista, MG, Brasil.
*E-mail: diegovier4@gmail.com
(ORCID: 0000-0003-3780-1189; 0000-0002-8097-1135; 0000-0002-3629-3437; 0000-0003-2913-6617)
Submetido em 02/08/2022; Aceito em 13/10/2022; Publicado em 01/11/2022.
RESUMO: O objetivo dessa pesquisa foi avaliar a estrutura populacional e do potencial econômico de
castanhais nativos no Baixo Rio Tapajós, estado do Pará. Foram usados dados de três censos florestais (A, B e
C), os quais registraram apenas árvores com DAP ≥ 30 cm. A estrutura diamétrica e o padrão espacial foram
avaliados por meio de histogramas e da função K de Ripley, respectivamente. O potencial econômico foi
estimado pela diferença entre o custo de produção e o produto do número de árvores aptas à colheita,
produtividade média e preço da castanha em Santarém, Óbidos e Oriximiná. A abundância de árvores foi
moderada e variou entre os castanhais. As estruturas diamétricas exibiram tendência normal, enquanto o padrão
espacial foi completamente agregado. Os castanhais possuem potencial econômico para manejo florestal de
castanha. As maiores receitas e margens de lucro foram obtidas quando a simulação de venda foi realizada para
Santarém. Mas, se o mercado de Santarém não absorver toda a produção, Óbidos e Oriximiná são alternativas
viáveis. A considerar todos os castanhais seria possível obter receitas líquidas anuais de R$ 72.829,2. Além disso,
sugere-se que a comercialização seja feita por meio de cooperativas, pois minimizam o impacto do atravessador
nos lucros.
Palavras-chave: estrutura diamétrica; padrão espacial; potencial econômico; castanha-do-Brasil,
Perceptions about native Brazil nut groves in the baixo rio Tapajós,
state of Pará
ABSTRACT: In our study, we evaluated the population structure and economic potential of native Brazil nut
groves in the Lower Rio Tapajós, Pará state. We used data from three forest censuses (A, B, and C), which
registered only trees with DBH 30 cm. Diametric structure and spatial pattern were evaluated using
histograms and Ripley's K function, respectively. We have estimated the economic potential through the
difference between the production cost and the product of the number of trees suitable for harvest, average
productivity and price of Brazil nuts in Santarém, Óbidos and Oriximiná. The abundance of trees was moderate
and ranged among the chestnut groves. Diametric structures exhibited a normal trend, while the spatial pattern
was completely aggregated. The chestnut groves have economic potential for forest management nuts. The
highest revenues and profit margins were obtained when the sales simulation was performed for Santarém.
However, if the Santarém market does not absorb all the production, the cities of Óbidos and Oriximiná are
viable alternatives. Considering all Brazil nut groves, it would be possible to obtain annual net income of R$
72,829.2. In addition, we suggest that commercialization be done, preferably, through cooperatives, as they
minimize the impact of the middleman on profits.
Keywords: diametric structure; spatial pattern; economic potential; Brazil nuts.
1. INTRODUÇÃO
O bioma Amazônia é formado por diversas espécies
arbóreas. Algumas possuem múltiplos usos, os quais vão
desde o alimentício ao medicinal. A castanha-do-brasil
(Bertholletia excelsa Bonpl.) é uma das espécies mais
importantes na Amazônia, pois é o elemento da identidade
cultural e social de populações tradicionais da Amazônia
(SOUSA et al., 2014). É uma árvore cuja a semente possui
alto valor alimentar e que apresenta mercado nacional e
internacional consolidados, constituindo a única coleta de
sementes realizada quase que exclusivamente em vegetações
nativas (VIEIRA et al., 2017). Além disso, sua cadeia
produtiva é uma realidade e emprega milhares de pessoas,
desde catadores de ouriços, passando pela subcadeia de
comercialização, indústria de transformação e exportação
(SOUSA et al., 2014). A madeira é considerada de alta
qualidade, porém sua exploração em vegetações nativas é
proibida por lei (Decreto Federal n° 5.975, de 30/11/2006),
pois trata-se de uma espécie ameaçada de extinção.
Mesmo assim, a colheita extrativista das sementes de
castanha-do-brasil é cada vez mais promissora e inevitável,
podendo ser futuramente intensificada. Assim, se realizada de
maneira predatória, pode, a longo prazo, comprometer a
dinâmica populacional dessa espécie. A história e a
Percepções sobre castanhais nativos no baixo rio Tapajós, estado do Pará
Nativa, Sinop, v. 10, n. 4, p. 449-457, 2022.
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intensidade de coleta de sementes de castanha-do-brasil são
os principais determinantes do tamanho da população, além
de que populações sujeitas a níveis persistentes de colheita
não têm árvores juvenis com diâmetros à 1,30 m do solo
(DAP) menores que 60 centímetros (PERES et al., 2003). Os
níveis de colheita intensiva ao longo do século passado foram
tais que o recrutamento de árvores jovens de castanha-do-
brasil é insuficiente para manter populações a longo prazo
(PERES et al., 2003). Assim, sem o uso adequado,
populações intensamente colhidas sucumbirão a um
processo de senescência e colapso demográfico, ameaçando
a espécie e esse produto não madeireiro angular da
econômica extrativista da Amazônia (PERES et al., 2003).
A perpetuidade de populações de castanha-do-brasil e,
por conseguinte, da produção de castanha (amêndoas), em
áreas que serão ou estão sendo colhidas, somente é possível
com a aplicação de técnicas de manejo florestal sustentável
(MFS). Essas técnicas baseiam-se na premissa de que o uso
de recursos florestais, mesmo a longo prazo, não deve causar
danos significativas na reprodução, densidade de árvores e
estrutura da população (VIEIRA et al., 2017). O primeiro
passo para o bom MFS de um produto não madeireiro é
verificar a densidade populacional, estrutura diamétrica e
padrão espacial da espécie. Esses parâmetros fornecem bases
reais para colheitas sustentáveis de amêndoas e são
fundamentais para a realização de ões silviculturais ou
conservação. A densidade das árvores é um fator básico para
o MFS, pois fornece a quantificação do recurso, permitindo
a avaliação da viabilidade do MFS e definição de propósitos
econômicos e financeiros (NEVES et al., 2016).
A estrutura diamétrica auxilia nas tomadas de decisões
sobre a necessidade de reposição de árvores na comunidade.
Ela permite ainda a realização de inferências sobre histórico
de desenvolvimento da espécie, além da criação de estratégias
de manutenção, recuperação e conservação, de maneira que
a população o sofra grandes distúrbios ecológicos
(NEVES et al., 2016). Por outro lado, o padrão espacial
auxilia na determinação de árvores matrizes e no
planejamento de atividades de inventário florestal e colheita
de castanha (amêndoas), minimizando custos de locomoção
de equipamentos e da frente de trabalho e influenciando
diretamente os custos operacionais (VIEIRA et al., 2017).
Assim, o que se supõem a partir desses parâmetros é
fundamental para que a colheita de produtos madeireiros e
não madeireiros seja realizada com base em um sólido
entendimento da dinâmica populacional da espécie. Além
disso, em meio à busca pelo bom MFS e aproveitamento dos
recursos florestais surge a ideia de valoração dos produtos
não madeireiros da floresta, que permite identificar os
incentivos econômicos que intervêm nas decisões
operacionais (SILVA et al., 2021).
A valoração dos produtos florestais permite ainda a
previsão dos lucros possíveis de serem obtidos com a
utilização de espécies madeireiras e não madeireiras de
interesse comercial (PINHEIRO et al., 2019). As hipóteses
dessa pesquisa foram: hipótese nula, os castanhais
apresentam baixo número de árvores, distribuições
diamétricas em exponenciais negativas e padrão espaciais
aleatórios; hipótese alternativa, assume-se alto número de
árvores, distribuição diamétrica desbalanceadas e padrões
espaciais agregados. Assim, a partir da importância cultural,
econômica e social da castanha-do-brasil, da necessidade de
estudos que auxiliem o MFS e, sobretudo, da preocupação
com o processo de senescência e colapso demográfico que
castanhais nativos na região oeste do Pará possam vir a
passar, objetivou-se avaliar a estrutura populacional e o
padrão espacial de três castanhais nativos localizados na
Floresta Nacional do Tapajós, oeste do estado do Pará. Além
disso, realizou-se a valoração monetária dos frutos da
castanha-do-brasil, a castanha.
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1. Área de estudo
O estudo foi realizado em três castanhais nativos
localizados na Floresta Nacional de Tapajós, nos domínios
do município de Belterra, estado de Pará (Figura 1). Os
castanhais A, B e C possuem área de 2.000, 1.486,1 e 1.063
hectares. As áreas B e C são mais próximas do que A das
demais. O clima da região é do tipo Ami (Köppen). A
temperatura e a precipitação anuais são de 25,5 °C e 1820
mm, respectivamente (ALVARES et al., 2013). O relevo é
ligeiramente acidentado e apresenta uma topografia variando
de amena a ondulada. O solo predominante é o Latossolo
Amarelo (SANTOS et al., 2017). A vegetação dominante é a
Floresta Ombrófila Densa, caracterizada pelo domínio de
árvores de grande porte e pela abundância de cipós lenhosos,
palmeiras e epífitas.
Figura 1. Localização dos castanhais, estado do Pará, Brasil.
Figure 1. Location of Brazil nut groves, state of Pará, Brazil.
2.2. Coleta de dados
A coleta de dados foi realizada por meio de um inventário
100%, com mapeamento, em coordenadas cartesianas
(sistema X-Y), de todas as árvores de castanha-do-brasil com
diâmetro a 1,30 m do solo igual ou superior a 30 cm (DAP ≥
30 cm). As áreas dos castanhais foram divididas em subáreas
quadradas, nas quais foram abertas picadas paralelas na
direção N-S, distantes 50 m entre elas. Em cada picada foram
instaladas balizas a cada 25 m, com a respectiva metragem em
relação à origem, para posterior registro da coordenada Y das
árvores. A coordenada X das árvores foi obtida por meio da
distância entre a árvore e a respectiva linha da picada. Ao final
Vieira et al.
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de cada picada, movia-se para a picada seguinte e executava-
se a mesma rotina de trabalho, e assim sucessivamente, até
completar a última picada. As informações coletadas foram o
DAP e a altura comercial, além das coordenadas X e Y.
2.3. Análise de dados
O número de árvores (N) e área basal (G) por hectare e
média aritmética do DAP (D
) foram calculados para cada
área. A normalidade de resíduo e homogeneidade de
variância dessas variáveis foram analisadas por meio das
provas de Shapiro-Wilk e Levene’s. Em seguida, elas foram
submetidas à análise de variância (teste F), com médias
agrupadas pela prova de Scott-Knott. As áreas foram os
tratamentos e as subáreas as repetições. O nível de
significância para essa e as demais provas foi de 0,05. A
hipótese nula considerada foi que as médias de N, G e D
são
significativamente iguais, enquanto a hipótese alternativa
considerou a existência de diferenças significativas.
A estrutura diamétrica foi avaliada por meio de
histogramas, os quais foram construídos para intervalos de
10 cm. O teste F de Graybill foi usado para compará-las.
Além disso, foram ajustadas duas funções de densidade
probabilística (FDPs), a saber: Normal e Exponencial. Essas
funções foram selecionadas para avaliar se os castanhais
apresentam (H1), ou não (H0), estrutura diamétrica
exponencial. As mesmas hipóteses foram aplicadas à função
Normal. A aderência dessas FDPs à distribuição de diâmetros
foi avaliada por meio do teste de Kolmogorov-Smirnov. Os
parâmetros das funções foram obtidos pelo método da
máxima verossimilhança. O método de otimização usado foi
o Nelder-Mead.
O padrão espacial da castanha-do-brasil foi determinado
pela função K de Ripley (RIPLEY, 1977). Essa função foi
calculada para um círculo com raio s de 25 m centrado em
cada árvore, em que o número de vizinhos presentes na área
desse círculo foi contado. Variando o raio s a uma distância
máxima, detectou-se o padrão espacial da espécie em
diferentes escalas de distância. A distância máxima foi a
metade do maior eixo da área dos castanhais A, B e C. Alguns
casos particulares ocorreram quando as árvores estavam nas
bordas das áreas, uma vez que, por ser a função K
acumulativa e computar todas as distâncias entre todos os
eventos, as árvores próximas à borda de raio s maior que o
limite do mapa não poderiam ser interpretados como se não
houvesse vizinhos. Os vizinhos existiam, mas por estarem
fora dos limites da área não foram computados.
Consequentemente, o número de árvores vizinhas a árvores
próximas aos limites do mapa seria mais baixo do que para as
demais, ocasionando um viés no cálculo do estimador da
função K de Ripley. À vista disso, utilizou-se o estimador da
função K(s) com correção isotrópica de bordadura (1)
(RIPLEY, 1977).
K(s)= 1
λ
n 1
WI
n
i=1
n
i=1 xi, xjIxi-xj<s (01)
em que: n = número de árvores na área; Xi e Xj são as coordenadas
dos pontos; ||Xi - Xj|| = distância euclidiana entre a localização Xi
e Xj; s = vetor arbitrário de distância; WI I(Xi, Xj) = função de
correção para efeito de borda, que representa a proporção da
circunferência com centro em Xi e com raio ||Xi - Xj|| que está
fora da área; λ
=n/|A| = número de árvores dividido pela área do
castanhal, sendo um estimador não viciado da intensidade do
processo; e I(U) = função indicadora que assume valor 1 sempre
que a condição U for verdadeira e zero quando for falsa.
Além disso, foram construídos envelopes de confiança
através de 1.000 simulações Monte Carlo, sob a hipótese de
completa aleatoriedade espacial (CAE). Em seguida, foi
calculada a função K para os resultados das simulações,
armazenando-se os valores mínimos e máximos da estimativa
de K, utilizados para gerar intervalos de confiança, a 99% de
probabilidade. A fim de facilitar a visualização dos envelopes
de confiança, os valores de K foram transformados para L,
de acordo com a expressão (2) e distribuídos em função das
distancias s acumuladas (RIPLEY, 1977). O envelope de
confiança é formado por duas linhas limites pontilhadas, uma
positiva e outra negativa. A região entre essas linhas é a de
aleatoriedade espacial. Assim, se os valores observados de L,
identificados por uma linha contínua azul, estiverem dentro
do envelope construído, a aleatoriedade é confirmada, caso
contrário rejeita-se a hipótese nula de aleatoriedade espacial e
assume-se a agregação, quando passar do limite superior do
envelope, e regularidade, quando passar do limite inferior
(RIPLEY, 1977).
L(s) = K(s)
π-s (02)
em que: K(s) = vetor dos valores da função K de Ripley; e s = vetor
arbitrário de distâncias.
O potencial econômico da castanha in natura foi calculado
com base na metodologia adaptada e descrita na Instrução
Normativa 8/GABIN/ICMBIO, de 28 de setembro de
2021. Apenas árvores com DAP 50 cm foram
consideradas. O número de árvores aptas para colheita de
castanha foi calculado a partir dos percentuais de árvores
reprodutivas por classe de diâmetro estimados por Tonini et
al. (2008), a saber: 71,6% para árvores com 50 ≤ DAP < 100
cm; 82,1% para árvores com 100 DAP < 150 cm; e 80%
para árvores DAP 150 cm. Além disso, das árvores
destinadas para colheita foram mantidas 10% nas áreas dos
castanhais, respeitando o limite mínimo de manutenção de 3
árvore por 100 ha. Assim, o número de árvores aptas à
colheita por área foi calculado por meio da expressão (3).
NAC=6444 × NI + 7389 × NII + 7200 × NIII
10.000 (03)
em que: NAC = número de árvores aptas para colheita de castanha
in natura; NI = número de árvores aptas com 50 ≤ DAP < 100 cm;
NII = número de árvores aptas com 100 ≤ DAP < 150 cm; NIII =
número de árvores aptas com DAP ≥ 150 cm.
O custo de produção e a produtividade média da castanha
in natura usados foram R$ 1,28 kg-1 (Companhia Nacional de
Abastecimento - CONAF (2021) e 11,5 kg árvore-1,
respectivamente (WADT et al., 2005; KAINER et al., 2007;
TONINI; PEDROZO, 2014). O preço de comercialização
para a data dessa pesquisa (06/2022) foi obtido no centro de
informações da Companhia Nacional de Abastecimento -
CONAF (2022). Foram considerados os preços de três
municípios, por serem próximos aos castanhais nativos da
Flona Tapajós, a saber: Santarém (R$ 6,42 kg-1), Óbidos (R$
6,22 kg-1) e Oriximiná (R$ 6,00 kg-1) (Companhia Nacional
de Abastecimento - CONAF (2022). A produção potencial
de castanha in natura (P), receita líquida (RL) e margem de
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lucro (ML) foram calculados por meio das expressões [4], [5]
e [6], respectivamente.
PP = NAC × P
(04)
RL = (PP × PC) - CP (05)
ML = RL
CP × 100 (06)
em que: PP = produção potencial de castanha in natura, em kg; NAC
= número de árvores aptas para colheita de castanha; P
=
produtividade média por árvore, kg árvore-1; RL = receita liquida,
em reais; PC = preço de comercialização da castanha, em R$ kg-1;
CP = custo de produção, em R$ kg-1; ML = margem de lucro, em
percentagem.
3. RESULTADOS
A densidade de árvores obtida para os castanhais A, B e
C foi de 0,46, 0,58 e 0,27 árvores ha-1, respectivamente
(Tabela 1). A maior e menor área basal foi registrada para os
castanhais B e C, os quais apresentaram 36,5 e 19,8 m2 ha-1,
respectivamente. A área C apresentou a maior média
aritmética do DAP e a árvore com maior diâmetro (i.e., 234,9
cm). As diferenças entre as médias de densidade de árvores
(N), área basal (G) e média de DAP (D
) foram significativas
(p < 0,05). As áreas mais próximas geograficamente (i.e., B e
C) foram iguais somente em relação à D
, enquanto a mais
distante (A) foi semelhante à B e C em relação à N e G,
respectivamente.
As estruturas diamétricas apresentaram tendência à
normalidade, apontando baixo número de árvores nas classes
de diâmetro menores (DAP 60 cm) e elevada densidade
nas classes intermediárias (60 cm DAP < 120 cm), com
redução acentuada no sentido das maiores classes (DAP
120 cm) (Figura 2). Essa tendência foi corroborada pela
aderência da FDP Normal, pois os valores de DCALC foram
menores que os de DTAB. A função Exponencial não aderiu
a nenhum dos castanhais (DCALC > DTAB), mostrando a
distribuição de diâmetros desses castanhais não são possuem
comportamento exponencial, principalmente pelo alto
número de árvores nas classes próximas à 90 cm de DAP.
Ainda que as tendências tenham sido semelhantes, apenas os
castanhais A e B apresentaram distribuições diamétricas
significativamente iguais (p > 0,05). As áreas B e C, que são
próximas geograficamente, e A e C apresentaram
distribuições diamétricas diferentes (p < 0,05).
O padrão espacial das árvores nos castanhais A, B e C foi
agregado (Figura 3). A hipótese CAE foi rejeitada, pois os
valores de K mantiveram-se acima da região de aleatoriedade
espacial. Os valores da função K para o castanhal A foram
crescentes até ± 375 m, indicando que o tamanho dos
agrupamentos dentro desse castanhal varia até ± 375 m. Em
seguida, a ausência relativa de árvores produz uma queda dos
valores K até ± 1.000 m, a partir da qual K volta a aumentar,
sugerindo o reaparecimento de novas árvores para escalas de
distâncias superiores a 1.000 m. Os castanhais B e C
apresentaram comportamento similar, porém em outras
escalas e intensidades de agregação. A área C, por exemplo,
possuem agrupamentos com tamanhos de aproximadamente
1.050 m. Após essa distância eles tornam-se menos nítidos,
pois os valores de K caem continuamente até 2.000 m.
Os castanhais A, B e C apresentaram, respectivamente,
539, 531 e 162 árvores aptas para colheita de castanha in
natura. A produção potencial estimada a partir dessas árvores
foi de 6.198,5, 6.106,5 e 1.863 kg, respectivamente. O custo
de produção estimado para os castanhais A, B e C foi de R$
7.931,0, R$ 7,831,9 e R$ 2.383,9, respectivamente. O valor
monetário dos castanhais entre municípios teve pouca
variação (Tabela 2). A maior diferença foi observada para o
castanhal A, entre os municípios de Santarém e Oriximiná.
As maiores receitas líquidas foram obtidas quando o preço
de comercialização considerado foi o de Santarém,
totalizando R$ 31.862,7, R$ 31.389,85 e R$ 9.576,57 para os
castanhais A, B e C, respectivamente. Juntos, eles totalizam
uma receita líquida anual e margem de lucro de R$ 72.829,2
e 401,7%, respectivamente. Os demais municípios
apresentaram margens de lucro positivas, porém menores
que a obtida para Santarém.
Tabela1. Estatísticas descritiva dos castanhais nativos.
Table1. Descriptive statistics of native Brazil nut groves.
Castanhal
N (ha-1) G (ha-1) D
(cm)
A
0,47
*
± 0,15 a
26,4 ± 9,9 a
81,3 ± 5,4 a
B
0,58 ± 0,24 a
36,5 ± 15,1 b
86,1 ± 3,4 b
C
0,27 ± 0,15 b
19,8 ± 10 a
89,7 ± 12,4 b
p
-
valor
0,004
0,001
0,011
em que: N = número de árvores, em hectare; G = área basal, em hectare; D
= média aritmética dos diâmetros à 1,30 m do solo. * médias seguidas da
mesma letra, em cada coluna, não diferem estatisticamente (Scott-Knott, p
> 0,05).
Figura 2. Estrutura diamétrica de castanhais nativos na Floresta Nacional do Tapajós, estado do Pará, Brasil.
Figure 2. Diametric structure of Brazil nut groves in the Tapajós National Forest, state of Pará, Brazil.
Vieira et al.
Nativa, Sinop, v. 10, n. 4, p. 449-457, 2022.
453
Figura 3. Função K de Ripley e distribuição de árvores dos castanhais nativos A, B e C, oeste do estado do Pará, Brasil.
Figure 3. Ripley's K function and distribution of trees from Brazil nut groves A, B and C, state of Pará, Brazil.
Tabela 2. Valor monetário dos castanhais para os municípios de Santarém, Óbidos e Oriximiná, estado do Pará, Brasil.
Table 2. Monetary value of Brazil nut groves for the municipalities of Santarém, Óbidos and Oriximiná, state of Pará, Brazil.
Municípios
Área
N
N
AC
P (kg)
RB (R$)
CP (R$/kg)
RL (R$)
ML (%)
Santarém
A
810
539
6.198,5
39.794,37
7.931,60
31.862,77
401,7%
B
790
531
6.106,5
39.203,73
7.813,88
31.389,85
401,7%
C
239
162
1.863
11.960,46
2.383,89
9.576,57
401,7%
Óbidos
A
810
539
6.198,5
38.554,67
7.931,60
30.623,07
386,1%
B
790
531
6.106,5
37.982,43
7.813,88
30.168,55
386,1%
C
239
162
1.863
11.587,86
2.383,89
9.203,97
386,1%
Oriximiná
A
810
539
6.198,5
37.191,00
7.931,60
29.259,40
368,9%
B
790
531
6.106,5
36.639,00
7.813,88
28.825,12
368,9%
C
239
162
1.863
11.178,00
2.383,89
8.794,11
368,9%
em que: N = número total de árvores com DAP ≥ 50 cm; NAC = número de árvores produtoras aptas para colheita de castanhas; P = produção de castanha
com casca, em kg; RB = receita bruta, em reais; CP = custo de produção, em reais; RL = receita líquida, em reais; ML = margem de lucro, em percentagem.
4. DISCUSSÃO
O número de árvores dos castanhais foi considerado
médio, pois pesquisas realizadas em outras áreas da
Amazônia registraram valores próximos, mesmo
considerando níveis de inclusão iguais ou maiores que o
usado na Flona do Tapajós (Tabela 3). Espera-se que quanto
maior os níveis de inclusão, menor a quantidade de árvores.
Foi observado ainda uma variabilidade local do número de
árvores dos castanhais. Isso porque os castanhais mais
próximos geograficamente apresentaram abundâncias
diferentes, enquanto aqueles mais distantes foram
significativamente iguais. Essa variabilidade também foi
observada em outros censos florestais realizados em áreas
vizinhas na Flona de Saracá-Taquera BR (SALOMÃO,
2009) e em Madre de Dios - Perú (ROCKWELL et al., 2017).
A variabilidade pode ser minimamente atribuída às diferenças
no tamanho das áreas amostradas (WADT et al., 2005). A
estrutura do dossel, a fitofisionomia e a história de ocupação
por populações ameríndias das áreas de castanhais
provavelmente contribuem mais para essas diferenças
(MYERS et al., 2000; WADT et al., 2005; SCOLES;
GRIBEL, 2011; ROCKWELL et al., 2017; ANDRADE et
al., 2019).
Tabela 3. Número de árvores por hectare registrado em outras regiões da Amazônia.
Table 3. Number of trees per hectare recorded in other regions of the Amazon.
Localização
Área (ha)
Nível de
inclusão
N (ha
-1
)
Fonte
Flona Tapajós, Pará, Brasil
900
DAP
≥ 20 cm
0,44
Vieira et al. (2017)
Flota Antimary, Acre, Brasil
1.900
DAP
≥ 30 cm
0,31
Ciarnoschi et al. (2019)
Flona Saracá
-
Taquera, Pará, Brasil
763
DAP
≥ 30 cm
1,50
Salomão (2009)
Flona
Saracá
-
Taquera, Pará, Brasil
1.365
DAP
≥ 30 cm
0,01
Salomão (2009)
Tambopata, Madre de Dios, Perú
290
DAP
≥ 40 cm
0,95
Rockwell et al. (2017)
Tambopata, Madre de Dios, Perú
547
DAP
≥ 40 cm
0,63
Rockwell et al. (2017)
Tambopata, Madre de Dios, Perú
576
DAP
≥ 40 cm
0,58
Rockwell et al. (2017)
Resex Chico Mendes, Acre, Brasil
420
DAP
≥ 50 cm
1,00
Wadt et al. (2005)
Rio Trombetas, Pará, Brasil
125
DAP
≥ 40 cm
6,30
Scoles and Gribel (2011)
Rio Amazonas, Amazonas, Brasil
49
DAP
≥ 40 cm
9,20
Scoles and Gribel (2011)
Flona Jamari, Rondônia, Brasil
1.586,8
DAP
≥ 35 cm
0,55
Santos Júnior et al. (2020)
Flona Jamari, Rondônia, Brasil
1.946,1
DAP
≥ 35 cm
0,54
Santos Júnior et al. (2020)
Flona Jamari, Rondônia, Brasil
1.943,6
DAP
≥ 35 cm
0,53
Santos Júnior et al. (2020)
Flona Jamari, Rondônia, Brasil
1.780,5
DAP
≥ 35 cm
0,60
Santos Júnior et al. (2020)
Flona Jamari, Rondônia, Brasil
1.926,7
DAP
≥ 35 cm
0,47
Santos Júnior et al. (2020)
Flona Jamari, Rondônia, Brasil
1.827,5
DAP
≥ 35 cm
0,60
Santos Júnior et al. (2020)
em que: N (ha-1) = número de árvores por hectare; e DAP = diâmetro à 1,30 m do solo.
Percepções sobre castanhais nativos no baixo rio Tapajós, estado do Pará
Nativa, Sinop, v. 10, n. 4, p. 449-457, 2022.
454
Teoricamente, florestas ombrófilas abertas, áreas com
dosséis mais abertos e que possuem histórico de ocupação de
populações ameríndias tendem a apresentar mais castanha-
do-brasil que aquelas com dosséis fechados, sem intervenção
antrópica ou classificadas como florestas ombrófilas densas
(MYERS et al., 2000; SCOLES; GRIBEL, 2011;
ANDRADE et al., 2019). A condição preponderante é a
incidência de luz, pois a castanha-do-brasil é uma espécie
heliófila, longeva e dominante (ZUIDEMA; BOOT, 2002;
VIEIRA et al., 2017). Isso esclarece as diferenças entre as
abundâncias registradas nos castanhais A, B e C e as
encontradas por Wadt et al. (2005), em uma floresta
ombrófila aberta na Resex Chico Mendes, e Rockwell et al.
(2017), em florestas ombrófilas densas de Madre de Dios que
sofrem constantes aberturas no dossel devido aos ventos
fortes e carregamento em massa de colmos de bambu (Tabela
3). Além disso, tais resultados elucidam a proximidade com
as abundâncias registradas por Santos Júnior et al. (2020) na
Flona de Jamari, cuja vegetação é tipicamente ombrófila
densa, de dossel fechado e sem histórico de intervenção
antrópica.
A disponibilidade de luz é igualmente um fator
preponderante na determinação da estrutura diamétrica de
castanhais na Amazônia. Muitas pesquisas mostram duas
formas estruturais características da castanha-do-brasil, a
saber: exponencial (ZUIDEMA; BOOT, 2002; WADT et al.,
2005; SCOLES; GRIBEL, 2011) e em forma de sino
(SALOMÃO, 2009; NEVES et al., 2016; VIEIRA et al.,
2017; CIARNOSCHI et al., 2019; TONINI; BALDONI,
2019; SANTOS JÚNIOR et al., 2020; TONINI et al., 2020).
A primeira, menos frequente e contrária a encontrada nos
castanhais A, B e C, é associada a áreas que sofreram
distúrbios de baixa intensidade e longo prazo por populações
ameríndias.
A antropização de castanhais e/ou áreas vizinhas por
períodos prolongados provavelmente explicam a estrutura
diamétrica dominada por árvores jovens na Amazônia
(SCOLES; GRIBEL, 2011). Isso mostra que se têm uma
regeneração natural mais frequente e com árvores em estágio
inicial e médio de sucessão. Além disso, o período de
antropização e a abundância de árvores adultas são as
variáveis que melhor se correlacionam com a abundância de
castanha-do-brasil juvenis (SCOLES; GRIBEL, 2011).
A segunda forma é comumente encontrada na Amazônia
e semelhante a registrada nos castanhais A, B e C. É
característica de populações em estágio clímax de sucessão,
situadas em regiões com pouco ou nenhum registro de
intervenção antrópica (SCOLES; GRIBEL, 2011; TONINI;
BALDONI, 2019). Isso limita a disponibilidade de luz, pois
os dosséis dessas florestas são mais fechados, tornando o
recrutamento descontínuo e associado a ocorrência de
eventos regulares para a promoção da regeneração natural
(TONINI; BALDONI, 2019). A regeneração natural é
presente, mas o tão frequente quanto à estrutura diamétrica
exponencial. A forma de sino é a estrutura diamétrica natural
da castanha-do-brasil na Amazônia. A baixa frequência de
árvores nas primeiras classes diamétricas (i.e., 30-40 cm, 40-
50 cm e 50-60 cm) é provavelmente ocasionada pelo pido
crescimento dessas árvores, fazendo que o tempo de
passagem para classes subsequentes seja menor. Essa
hipótese é corroborada por Myers et al. (2000) , que
concluíram que a redução nas taxas de crescimento
diamétricos em castanha-do-brasil com diâmetros maiores
que 50 cm ocasiona o incremento gradual na abundância de
árvores adultas e baixa abundância de indivíduos jovens.
Schöngart et al. (2015), no oeste do estado do Pará,
observaram incrementos diamétricos maiores em árvores
com DAPs próximos a 40,5 cm, com valores decrescentes a
partir desse DAP.
As classes diamétricas que perdem árvores para as classes
subsequentes provavelmente tem a reposição baixa. Embora
não se tenha avaliado plântulas, varas e árvores com DAP <
30 cm, acredita-se que isso ocorre devido as altas taxas de
mortalidade (65%; Zuidema e Boot (2002) entre fases de
muda e vara ocasionadas pelas condições climáticas ou
predação do endosperma por mamíferos terrestres
(ZUIDEMA; BOOT, 2002; SCOLES; GRIBEL, 2011;).
Acredita-se ainda que existe uma alta abundância de plântulas
nos castanhais A, B e C. Porém, devido as condições citadas
ocorre uma diminuição contínua quando se tornam varas e,
posteriormente, árvores com DAP 10 cm. Esse
comportamento tornar-se-ia crescente a partir de árvores
com DAP 20 cm. Assim, se avaliássemos todo o ciclo de
vida da espécie teríamos uma distribuição bimodal, com
modas no início e meia idade da distribuição diamétrica. Isso
é mostrado por Tonini e Baldoni (2019), em três castanhais
nativos de Roraima e Mato Grosso, e em Scoles; Gribel
(2011) e Neves et al. (2016), considerando árvores com DAP
≥ 10 cm.
A concentração de árvores nas classes diamétricas de 50
cm DAP < 150 cm sugere alto potencial para manejo
florestal de castanha-do-brasil, pois são nelas que estão as
árvores com maior potencial produtivo (NEVES et al., 2016;
WADT et al., 2005). Normalmente, árvores com DAP < 50
cm são imaturas e com poucos indivíduos iniciando a fase
produtiva, enquanto aquelas entre 50 cm DAP < 100 cm
estão em processo de consolidação da produção (WADT et
al., 2005). Ademais, dificilmente haverá árvores com DAP ≥
100 cm que não sejam adultas e estejam em período
reprodutivo (NEVES et al., 2016). Em termos de
abundância, a ocorrência de castanha-do-brasil em grandes
áreas e com abundâncias moderadas facilita a coleta para fins
comerciais e a polinização. Aumentando a polinização tem-
se uma maior produção de frutos. Altas abundâncias em
determinadas áreas pode ser uma vantagem competitiva em
termos de produção de frutos por hectare e menor custo de
colheita para o extrativista, mas a produção por árvore pode
diminuir pela competição intraespecífica (NEVES et al.,
2016).
A castanha-do-brasil apresentou padrão espacial
agregado. Esse foi o mesmo padrão encontrado por Sousa et
al. (2014), Rockwell et al. (2017) e Vieira et al. (2017) em
outras regiões na Amazônia. Entretanto, padrões espaciais
aleatórios foram registrados em castanhais nos estados Acre
(WADT et al., 2005) e Roraima (TONINI et al., 2008). A
agregação da castanha-do-brasil é ocasionada por suas
síndromes de dispersão barocórica e zoocórica, pois as
sementes ficam próximas às árvores mães. Maiores distâncias
podem ser alcançadas, por meio de agentes dispersores como
a cutia, mas sempre serão menores que os aglomerados
observados nos castanhais da Flona Tapajós (PERES;
BAIDER, 1997). Logo, espera-se que castanhais nativos da
Amazônia tenham suas árvores distribuídas de forma
agregada. Mas, isso não é regra. A depender da estrutura de
dossel da floresta, heterogeneidade do habitat e grau de
antropização o padrão espacial pode tornar-se aleatório ou
Vieira et al.
Nativa, Sinop, v. 10, n. 4, p. 449-457, 2022.
455
regular (PERES et al., 2003; TONINI et al., 2008; SOUSA et
al., 2014).
Florestas com dosséis abertos, antrópica ou
naturalmente, fornecem condições favoráveis mais
consistentes e homogêneas para regeneração natural da
castanha-do-brasil, resultando em padrões espaciais
aleatórios e estabelecimento de mudas mais constante ao
longo do tempo. Em contrapartida, aquelas com dosséis
fechados e contínuos dificultam o estabelecimento de
plântulas, pois haverá pouca incidência de luz (WADT et al.,
2005). O estabelecimento de plântulas seria dependente da
ocorrência de clareiras ou outros eventos, que promoveriam
maior luminosidade e um boom na germinação local. Embora
a mortalidade dependente da densidade ocorra, espera-se que
muitas plântulas alcancem a fase adulta, caracterizando
distribuições mais agregadas espacial e temporalmente.
Ademais, tem-se a heterogeneidade do habitat, pois áreas
com condições edáficas propicias mais homogêneas
permitem que o estabelecimento de plântulas seja mais
regular ou aleatório. A heterogeneidade edáfica promoveria
distribuições agregadas.
À poucos quilômetros do castanhal A, ainda na Flona
Tapajós, foram registradas áreas com maiores valores de silte
e argila e menores valores de macro porosidade, pH, fosforo,
zinco e cobre apresentam maiores adensamentos de
castanha-do-brasil (GUERREIRO et al., 2017). Isso mostra
que essa espécie se desenvolve melhor em solos argilosos,
enquanto solos arenosos são pouco adequados para seu
desenvolvimento. Logo, a agregação pode ser resultado
conjuntos das síndromes de dispersão e fatores
edafoclimáticos. Além disso, outros pesquisadores acreditam
que a agregação da castanheira teria influência antropogênica,
pois populações ameríndias enriqueciam seus roçados com
castanheiras e conduziam a regeneração natural da espécie
(PERES et al., 2003; SOUSA et al., 2014). Assim, nesses
roçados o número de árvores seria maior que o esperado para
padrões espaciais aleatórios. A agregação das árvores
facilitaria a polinização, localização, coleta, transporte dos
frutos para comercialização das castanhas, pois essas
atividades seriam concentradas nos aglomerados. A
aleatoriedade, por outro lado, tornaria essas atividades
dispersas, dificultando a logística e maximizando os custos
operacionais.
Os castanhais possuem potencial para comercialização de
castanha-do-brasil nos municípios próximos à Flona Tapajós,
pois geram receitas líquidas significativas com margens de
lucro altas e positivas. A considerar todos os castanhais é
possível obter receitas líquidas anuais de R$ 72.829,2, R$
69.995,6 e R$ 66.878,6, se as castanhas forem vendidas para
Santarém, Óbidos e Oriximiná, respectivamente (Tabela 2).
Essa previsão de lucro é um incentivo aos investimentos em
pesquisas e tecnologias e às populações tradicionais, as quais
terão uma complementação na renda mensal. Mas, para que
esses valores sejam alcançados é importante que os
extrativistas se organizem em cooperativas ou associações,
pois elas facilitam o ciclo de produção e mitigam o papel do
atravessador na comercialização, garantindo maiores
retornos e escoamento da produção para o extrativista
(SILVA et al., 2013). Além disso, cooperativas funcionam
como centrais de armazenamento, beneficiamento e
comercialização, permitindo a promoção de preços mais
atraentes também para o consumidor.
O armazenamento pela cooperativa permite ainda
maiores lucros, por meio da comercialização de parte da
produção na entressafra. Nesse período, os valores são mais
atrativos (SILVA et al., 2013). Mas, não existem motivos que
impeçam a comercialização individualmente, porém o
atravessador é mais ativo e os lucros menores. Em Oriximiná
e Óbidos, estado do Pará, extrativistas o cooperados
vendiam a castanha in natura por R$ 1,10 kg-1 enquanto
empresas beneficiadoras pagavam R$ 2,50 kg-1 (KRAG;
SANTANA, 2017). O atravessador comercializava a mesma
castanha com essas empresas por R$ 1,75 kg-1, tendo um
ganho de R$ 0,65 kg-1 (KRAG; SANTANA, 2017). Todavia,
ao passo que a atuação de atravessadores representa a perda
de oportunidades de comercialização direta e barganha de
preço pelos extrativistas, em alguns casos surge como única
alternativa para determinados extrativistas que não tem como
arcar com os custos de transporte para o beneficiamento, sem
a possibilidade de autonomia nas transações comerciais
(KRAG; SANTANA, 2017). Nesse caso, se o valor de venda
da castanha in natura for menor que o preço mínimo
determinado pela Companhia Nacional de Abastecimento
(R$ 1,23 kg-1), ela complementa a receita do extrativista por
meio de subvenção econômica. Isso diminui a perda de lucro
do extrativista.
A comercialização por meio de cooperativas permitiria
ainda a colheita de múltiplos de produtos não madeireiros
(SILVA et al., 2013), como o óleo de andiroba e copaíba. Isso
resolveria a perda de lucro anual com oscilações significativas
na produção anual de castanha entre anos - devido sua
autoecologia. As receitas e margens de lucro estimadas
sugerem que a melhor opção de comercialização de castanha
in natura oriunda da Flona Tapajós é o município de
Santarém. Esse município é o mais próximo geograficamente
dos castanhais, assim mesmo que os custos de transporte não
tenham sido considerados ele continuará sendo a melhor
opção. Mas, se o mercado de Santarém não absorver toda a
produção ao preço de R$ 6,42 kg-1, parte da produção pode
ser comercializada para Óbidos e Oriximiná que mostraram
margens de lucro maiores que 368% e preços de R$ 6,22 kg-
1 e R$ 6,00 kg-1, respectivamente. Ainda que a distância em
relação aos castanhais seja maior nesses municípios, os lucros
provavelmente continuariam altos e positivos.
5. CONCLUSÕES
O número de árvores de castanha-do-brasil foi
considerado dio. A estrutura diamétrica apresenta
tendência normal, com maior número de árvores nas classes
intermediárias e redução acentuada para as menores e
maiores classes de diâmetro. O padrão espacial da castanha-
do-brasil é completamente agregado, com aglomerados de
árvores claramente definidos.
A disponibilidade de luz, dependente da estrutura do
dossel, fitofisionomia e do grau de antropização, é o que
provavelmente elucida as características estruturais dos
castanhais nativos da Flona do Tapajós. Assim, rejeita-se a
hipótese nula de alto número de árvores, distribuições
diamétrica em J-invertido e padrões espaciais aleatórios.
Os castanhais possuem potencial para manejo florestal de
castanha in natura. As maiores receitas liquidas e margens de
lucro foram obtidas quando a simulação de venda foi
realizada para Santarém. Além disso, sugere-se que a
comercialização seja feita, preferencialmente, por meio de
cooperativas. Isso porque minimizam o impacto do
atravessador no preço e lucros, além de facilitar o transporte
e armazenamento da castanha in natura.
Percepções sobre castanhais nativos no baixo rio Tapajós, estado do Pará
Nativa, Sinop, v. 10, n. 4, p. 449-457, 2022.
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