Nativa, Sinop, v. 10, n. 4, p. 495-505, 2022.
Pesquisas Agrárias e Ambientais
DOI: https://doi.org/10.31413/nativa.v10i4.14083 ISSN: 2318-7670
Brocas marinhas e a biodeterioração da madeira no Brasil: uma revisão sistemática
Tarcila Rosa da Silva LINS1*, Thiago Cardoso SILVA1,
Emmanoella Costa Guaraná ARAUJO2, Márcio Pereira da ROCHA1
1Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.
2Universidade Federal de Rondônia, Rolim de Moura, RO, Brasil.
*E-mail: lins.tarcila@gmail.com
(ORCID: 0000-0002-5809-6741; 0000-0001-6553-4204; 0000-0002-4493-904X; 0000-0002-5420-8478)
Submetido em 27/06/2022; Aceito em 27/10/2022; Publicado em 01/11/2022.
RESUMO: Esse artigo objetivou realizar a compilação das publicações relacionadas a bioderetioração da
madeira em ambiente marinho no Brasil até 2019, apresentando uma revisão bibliométrica e o estado da arte
sobre este tema. A pesquisa foi realizada utilizando três bases de dados: Scielo, Web of Science e Scopus. Os artigos
passaram por uma triagem resultando em 17 documentos. Os principais parâmetros de avaliação foram as
instituições que contribuíram para a pesquisa; distribuição das publicações ao longo dos anos; objetivo da
pesquisa; e se o tema tecnologia da madeira foi abordado. O primeiro registro de publicações com brocas
marinhas no Brasil foi na década de 1980, mas não houve um aumento de produção científica ao longo dos
anos. Além disso, nenhum dos estudos avaliados teve a biodeterioração e preservação da madeira como foco,
sendo mais direcionados para tópicos como ecologia, fisiologia e taxonomia dos xilófagos marinhos. Existe a
necessidade estimular pesquisas voltadas para a biodeterioração e preservação da madeira relacionadas a brocas
marinhas, tendo em vista a lacuna de estudos com esse tema, bem como a importância desses organismos no
âmbito ambiental e econômico.
Palavras-chave: xilófagos marinhos; preservação da madeira; moluscos; crustáceos.
Marine borers and wood biodeterioration in Brazil: a systematic review
ABSTRACT: This paper aims to carry out a compilation of publications on wood biodeterioration by marine
borers in Brazil until 2019. It presents a bibliometric review and offers the state of the art on the subject. The
research was carried out in three databases: Scielo, Web of Science and Scopus. The articles were screened
resulting in 17 documents. The main evaluation parameters were the institutions that contributed to the
research; distribution of publications over the years; aims; and if the subject wood technology was addressed.
The analysis suggests that the first record on the subject dates from the 1980s, but there is no increase of studies
published over the years. In addition, none of the studies focus on wood biodeterioration and preservation,
being more directed towards topics such as ecology, physiology, and taxonomy of marine xylophages. There is
a need to encourage research focused on wood biodeterioration and preservation related to marine borers,
given the lack of studies on this topic, as well as the importance of these organisms in the environmental and
economic sphere.
Keywords: marine xylophages; wood preservation; molluscs; crustaceans.
1. INTRODUÇÃO
Por ser um material biológico, a madeira está sujeita ao
processo de biodeterioração. Isto pode acontecer tanto em
ambiente terrestre quanto em ambiente marinho, porém cada
organismo tem sua forma de ação. Em ambiente marinho, a
madeira é deteriorada por indivíduos popularmente
conhecidos como brocas marinhas, que têm como
representantes espécies de moluscos e crustáceos
(WALKER, 2006).
Os danos causados pelas brocas marinhas estão
relacionados ao apodrecimento e perda de área em madeira
que a estrutura sofre. Os moluscos penetram na madeira e
abrem túneis no interior dela, o que em casos mais
avançados, compromete o bom funcionamento do material,
levando ao colapso ou quebra (LINS et al., 2021). Por outro
lado, os crustáceos causam danos de uma maneira diferente,
mas que também levam ao apodrecimento e perda de área em
madeira, a ponto de enfraquecer a estrutura. Sua forma de
ação se em conjunto, no sentido de fora para dentro da
madeira, ocasionando a erosão da porção deteriorada
(CLAUSEN, 2010).
Os moluscos xilófagos são de grande interesse para
estudos devido à algumas características como a sua
capacidade de degradar materiais lignocelulósicos, a
importante função no ciclo de carbono marinho (DISTEL et
al., 2011). Apesar desta influência ecológica fundamental para
a ciclagem de nutrientes no ambiente marinho, estão
constantemente relacionados a prejuízos financeiros devido
aos danos causados em estruturas de madeira (VAROTTO;
BARRETO, 1998; BORGES, 2014).
Segundo Distel et al. (2011), os prejuízos associados aos
moluscos somam mais de um bilhão de dólares quando se
consideram os danos em estruturas fixas, navios e
equipamentos de pesca, sendo os principais degradadores de
Brocas marinhas e a biodeterioração da madeira no Brasil: uma revisão sistemática
Nativa, Sinop, v. 10, n. 4, p. 495-505, 2022.
496
madeira em águas rasas, sejam elas tropicais ou temperadas.
Em relação aos crustáceos, a família Limnoriidae é a mais
associada ao impacto econômico. Os autores Borges et al.
(2014) mencionam esta família e destacam as espécies
Limnoria lignorum (Rathke), L. quadripunctata Holthuis e L.
tripunctata Menzies como as mais expressivas. Não foram
encontradas informações que mencionem o levantamento
dos danos causados por esses xilófagos no Brasil.
Em países da Europa (como Alemanha e Portugal),
Reino Unido e nos Estados Unidos, existe uma maior
quantidade de estudos voltados para a proteção da madeira
em ambiente marinho com enfoque na resistência da madeira
contra a ação das brocas marinhas (ERIKSEN et al., 2014;
CHARLES et al., 2016), bem como em testar a eficácia de
produtos preservativos (BORGES, 2014; KLÜPPEL et al.,
2015). Por outro lado, no Brasil, as pesquisas desenvolvidas
com xilófagos marinhos têm um foco maior no viés
ecológico destes organismos (JUNQUEIRA et al., 1989;
LOPES; NARCHI, 1997). Nestes trabalhos, a madeira é
utilizada apenas como substrato para a captura destes
animais, seja na sua forma sólida (SANTOS FILHO et al.,
2008; ANDRADE et al., 2013) ou como painéis
reconstituídos (BARRETO et al., 2000; MALDONADO;
SKINNER, 2016).
Sendo assim, apesar da importância dessas pesquisas
direcionadas para a biodeterioração e preservação da
madeira, essas informações ainda são insuficientes no Brasil.
Até o presente momento no Brasil, apenas duas dissertações
foram feitas com enfoque na tecnologia da madeira. Serpa
(1978) verificou a resistência natural de madeiras de
diferentes espécies de madeira contra a ação de brocas
marinhas em Recife (PE) e sugeriu que a presença da sílica
pode fornecer maior resistência à madeira. Lins (2020) testou
diferentes tratamentos alternativos no litoral paranaense e os
que apresentaram melhores desempenhos foram os de
borracha impermeabilizante com e sem a adição de sílica.
Além destes, outras pesquisas foram desenvolvidas para
estudo da preservação da madeira (SERPA, 1980) e para o
desenvolvimento de uma metodologia de quantificação da
perda de área causada por brocas marinhas (LINS et al. 2021).
Considerando a escassez de material bibliográfico sobre a
ação das brocas marinhas na madeira, o presente trabalho
teve como objetivo realizar uma pesquisa bibliográfica sobre
biodeterioração da madeira causadas por brocas marinhas no
Brasil, com dados obtidos a o ano de 2019. A pesquisa
também buscou apresentar uma revisão bibliométrica e o
estado da arte do tema.
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1. Revisão bibliométrica
Para realizar a revisão bibliométrica sobre
biodeterioração por organismos xilófagos marinhos no
Brasil, foram analisadas as publicações realizadas sobre o
tema, indexadas nas bases de dados Scopus, Scielo e Web of
Science. Para tanto, foram utilizados os termos brocas
marinhas”, "marine borer", "shipworm", "marine drills",
"Teredinidae", "Liminoriidae", "Teredo", "Pholadidae”,
seguidos dos estados do Brasil, bem como o termo Brazil”,
em títulos, resumos e palavras-chave.
A sequência de termos utilizada na pesquisa foi: TITLE-
ABS-KEY( brocas marinhas” OR "marine borer" OR
"shipworm" OR "marine drills" OR "Teredinidae" OR
"Liminoriidae" OR "Teredo" OR "Pholadidae" ) AND
TITLE-ABS-KEY ( acre OR alagoas OR amapá OR
amapa OR amazonas OR bahia OR ceará OR ceara OR
"Distrito Federal" OR "Espírito Santo" OR "Espirito
Santo" OR goiás OR goias OR maranhão OR maranhao
OR "Mato Grosso" OR "Mato Grosso do Sul" OR "Minas
Gerais" OR pará OR para OR paraná OR parana OR
paraíba OR paraiba OR pernambuco OR piauí OR piaui
OR "Rio de Janeiro" OR "Rio Grande do Norte" OR "Rio
Grande do sul" OR Rondônia OR Rondonia OR Roraima
OR "Santa Catarina" OR "São Paulo" OR "Sao Paulo"
OR Sergipe OR Tocantins OR Brasil OR Brazil ). Com
o objetivo de realizar caracterização por décadas, foram
avaliados todos os trabalhos com publicação até o ano de
2019.
Todos os trabalhos foram acessados pelo respectivo
portal de indexação e lidos integralmente, com o intuito de
identificar os textos que de fato estavam relacionados com o
tema. Além disso, esta revisão busca a realização de uma
amostragem das pesquisas publicadas, não um senso de todos
os trabalhos publicados do princípio até os dias atuais, visto
que pode haver periódicos sem indexação ou que façam parte
de outras bases de dados. Am disso, no Brasil os periódicos
selecionados para esta revisão fazem parte do sistema de
classificação de agências de pesquisas, principalmente dos
Programas de Pós-Graduação.
Os critérios de seleção foram: (1) trabalhos realizados em
território brasileiro; (2) pesquisas relacionadas aos
organismos xilófagos. Apenas os trabalhos que atenderam
aos critérios foram selecionados para as análises seguintes.
Após classificação foram identificados os seguintes pontos:
(a) ano de publicação; (b) instituição de afiliação e
nacionalidade dos autores; (c) agências e instituições de
fomento dos trabalhos; (d) periódicos das publicações; (e)
tipo de publicação por documento. Estes dados foram
tabulados para confecção dos gráficos referentes a cada
parâmetro.
2.2. Estado da arte
Após a seleção dos documentos, foi realizada uma revisão
sistemática para confecção do estado da arte, gerando um
banco de dados sobre o foco do estudo, tipo de coleta,
espécies mais estudadas, profundidade da coleta, salinidade e
temperatura da água. Para tanto foi realizada uma análise
bibliométrica para julgamento quantitativo das informações.
Os dados foram agrupados por indicadores bibliométricos, e
apresentados em forma de gráficos e Tabelas.
3. RESULTADOS
3.1. Revisão bibliométrica
A partir da pesquisa realizada utilizando os termos
escolhidos, o Scopus retornou como resultado 18 publicações,
a plataforma Scielo retornou 15 trabalhos e Web of Science com
17 publicações. Depois de classificadas a partir dos critérios
utilizados nesta revisão, a quantidade de publicações que
passaram a ser o objeto de estudo foram de 12 para a
plataforma Scopus, 11 na Scielo e 14 na Web of Science.
Considerando que alguns trabalhos apareceram em mais de
uma plataforma, foram selecionadas 17 publicações sem
repetições (Tabela 1).
Lins et al.
Nativa, Sinop, v. 10, n. 4, p. 495-505, 2022.
497
Tabela 1. Lista de publicações relacionadas ao tema “brocas marinhas no Brasil” nas bases de dados Scopus, Scielo e Web of Science, até 2019.
Table 1. List of publications related to the theme “marine borers in Brazil” in Scopus, Scielo and Web of Science databases, until 2019.
Título
Referência
Tipo
Distribuição vertical de Teredinidae (Mollusca, Bivalvia) em Portogallo, Angra dos
Reis, Rio de Janeiro, Brasil
Silva et al. (1988)
Artigo científico
-
Bivalvia) ao longo
da costa do estado do Rio de Janeiro, Brasil
Junqueira et al. (1989)
Artigo científico
A comparative study of the methods used to evaluate the activity of Teredinidae
molluscs
Junqueira et al. (1991)
Artigo científico
Ascomycetous yeast communities of marine invertebrates in a Southeast Brazilian
mangrove ecosystem
Araujo et al.
(1995)
Artigo científico
Recrutamento larval e crescimento de Teredinidae (mollusca
-
bivalvia) em região
entremarés de manguezais
Lopes e Narchi (1997)
Artigo científico
Colonization of artificial substrata by teredinid larvae released from a
previously
infested focus at Ilha Grande Bay, RJ
Varotto; Barreto, (1998)
Artigo científico
The effect of low salinity on teredinids
Barreto et al. (2000)
Artigo científico
Distribution of wood
-
boring bivalves in the Mamanguape River estuary, Paraíba,
Brazil
Leonel et al. (2002)
Artigo científico
Taxonomic implications of molecular studies on Northern Brazilian Teredinidae
(Mollusca: Bivalvia) specimens
Santos et al. (2005)
Revisão de
literatura
The interference of methods in the collection of
teredinids (Mollusca, Bivalvia) in
mangrove habitats
Leonel et al. (2006)
Artigo científico
Seasonal abundance of the shipworm Neoteredo reynei (Bivalvia, Teredinidae) in
mangrove driftwood from a northern Brazilian beach
Santos Filho et al. (2008)
Artigo
científico
Functional anatomy of
Bankia fimbriatula
Moll & Roch, 1931 (Bivalvia: Teredinidae)
Martins
-
Silva; Narchi, (2008)
Artigo científico
Physiological traits of the symbiotic bacterium
Teredinibacter turnerae
isolated from
the mangrove shipworm Neoteredo reynei
Trindade
-
Silva et al. (2009)
Artigo científico
A comparative study of the Bivalvia (Mollusca) from the continental shelves of
Antarctica and Brazil
Passos; Magalhães, (2011)
Revisão de
literatura
Spatial and temporal variation in the abundance and taxonomic composition of
estuarine and terrestrial macrofauna associated with mangrove logs
Andrade et al. (2013)
Artigo científico
Ocorrência e recrutamento larval de Teredinidae (Mollusca,
Bivalvia) na região do
Sistema Costeiro Cananéia-Iguape, São Paulo, Brasil
Moraes et al. (2015)
Artigo científico
Differences in the distribution and abundance of Teredinidae (Mollusca: Bivalvia)
along the coast of Rio de Janeiro state, Brazil
Maldonado;
Skinner, (2016)
Artigo científico
De acordo com as informações presentes na Tabela 1 em
relação ao tipo de publicação sobre o tema, a maior parte é
composta por artigos científicos (94,11%), sendo também
registrada a ocorrência de publicações do tipo revisão de
literatura (5,88%). Os primeiros registros de publicações que
constam nas bases de dados são dos anos 1988, 1989 e 1991,
todos produzidos por pesquisadores vinculados ao
Departamento de Biologia Marinha da Universidade Federal
do Rio de Janeiro.
Foi observado que não houve continuidade entre os anos
de publicação, com intervalos irregulares entre os trabalhos
(Figura 1A). Considerando a distribuição destas publicações
por décadas (Figura 1B), observa-se um crescimento entre os
registros na década de 1990, que apresentou o dobro da
quantidade das publicações dos anos 1980; entre 2000 e
2010, foi observado o maior mero de publicações dentre
as quatro décadas analisadas. Na década seguinte, a
quantidade de publicações reduziu mais de 40%.
Foram identificadas 10 instituições as quais os autores
estão vinculados (Figura 2), sendo todas elas nacionais e
distribuídas nas cinco regiões do Brasil. Entretanto, a maior
concentração está situada na região Sudeste, mais
precisamente no eixo Rio-São Paulo, com quatro
representantes. Nestas publicações foi registrada a
participação de 36 autores (Figura 3), sendo seis deles os que
mais contribuíram com mais de três manuscritos.
Figura 1. Número de publicações sobre organismos xilófagos marinhos no Brasil até 2019; A: por ano; B: por década.
Figure 1. Number of publications on marine xylophagous organisms in Brazil until 2019; A: per year; B: per decade.
0
1
2
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
Número de publicações
Anos
11,8%
23,5%
41,2%
23,5%
1980 1990 2000 2010
A
B
Brocas marinhas e a biodeterioração da madeira no Brasil: uma revisão sistemática
Nativa, Sinop, v. 10, n. 4, p. 495-505, 2022.
498
Figura 2. Instituições de afiliação dos autores das publicações sobre organismos xilófagos marinhos no Brasil até 2019.
Figure 2. Institutions of affiliation of authors of publications on marine xylophagous organisms in Brazil until 2019.
Figura 3. Autores das publicações sobre organismos xilófagos marinhos no Brasil até 2019.
Figure 3. Authors of publications on marine xylophagous organisms in Brazil until 2019.
Ao todo, foram identificadas oito instituições e agências
financiadoras das publicações avaliadas, contribuindo 22
vezes com o fomento dessas pesquisas (Figura 4). Destas,
87,5% são brasileiras e apenas 12,5% internacionais. Vale
ressaltar que cinco publicações não mencionaram se houve
algum auxílio financeiro para o desenvolvimento da pesquisa.
A partir do escopo dos periódicos, observou-se o
enfoque geral em Biologia, sendo alguns mais específicos
para subáreas como Oceanografia, Biologia Marinha e
Zoologia. Na figura 5 estão listados todos os periódicos
presentes nesta revisão, destacando a revista Iheringia com
maior quantidade de pesquisas publicadas (3).
Figura 4. Agências e instituições que fomentaram pesquisas sobre organismos xilófagos marinhos no Brasil até 2019.
Figure 4. Funding sponsor agencies and institutions of research on marine xylophagous organisms in Brazil until 2019.
0 2 4 6 8
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO…
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS (UNICAMP)
INST. PARANAENSE DESENVOLV. ECON. E SOCIAL…
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UNB)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO (UFPE)
INST. NAC. DE METROLOGIA, QUALIDADE E TEC.…
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA (UFPB)
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA)
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP)
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (UFRJ)
Número de publicações
Instituições
Região Sudeste Região Norte Região Nordeste Região Centro-Oeste Região Sul Nacional
0
1
2
3
4
Andrea de Oliveira…
Sérgio Henrique…
Sônia Godoy Bueno…
Colin Robert Beasley
Claudia Helena Tagliaro
Maria Júlia Martins da…
Carlos Augusto…
Cristine Costa Barreto
Carlos Santos Filho
Rosa Maria Veiga Leonel
Marcos Aversari
Daniela T. de Moraes
Walter Narchi
Jennifer T.M. Andrade
Natália Barros Palhano
Allen Norton Hagler
Leda Mendonça Hagler
Fabio Vieira de Araujo
Eliane Pessoa Omena
Gustavo Carvalho…
Luis Felipe Skinner
Clemente Coelho Junior
Rafael C.G. da Cruz
Flávio Dias Passos
Frederico Thomaisino…
Sonia Maria Lima Santos
Horacio Schneider
Iracilda Sampaio
Ana Cláudia de Paula…
Amaro E. Trindade-Silva
Erik Machado-Ferreira
Marcus V.X. Senra
Vinicius F. Vizzoni
Luciana A. Yparraguirre
Orilio Leoncini
Ricardo Silva Varotto
Número de publicações
Autores
0246810
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO (UFRJ)
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS (UNICAMP)
COMMISSION OF THE EUROPEAN COMMUNITIES
COORD. DE APERF. DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR (CAPES)
FUND. DE AMP. À PESQ. DO ESTADO DE SÃO PAULO (FAPESP)
FUND. DE AMP. À PESQ. DO EST. DO RIO DE JANEIRO (FAPERJ)
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA)
CONSELHO NAC. DE DESENV. CIENT. E TECNOLÓGICO (CNPq)
Número de publicações
Agências e instituições de
fomento
Lins et al.
Nativa, Sinop, v. 10, n. 4, p. 495-505, 2022.
499
Figura 5. Periódicos de publicações e áreas de pesquisa sobre organismos xilófagos marinhos no Brasil até 2019.
Figure 5. Journals of publications and search areas on marine xylophagous organisms in Brazil until 2019.
Foi identificado que estes documentos foram publicados
em 11 periódicos distintos, observando-se que apesar de
poucos trabalhos encontrados, a distribuição da informação
não se encontra concentrada em um único periódico. Em
relação à nacionalidade das revistas onde os trabalhos foram
publicados, 63,4% são brasileiras (Figura 6), apesar disso, a
maior parte das produções (76,47%) foram publicadas na
língua inglesa.
Figura 6. Nacionalidades dos periódicos de publicações sobre
organismos xilófagos marinhos no Brasil até 2019.
Figure 6. Nationalities of journals of publications on marine
xylophagous organisms in Brazil until 2019.
3.2. Estado da arte
Foi observado que todos os periódicos estão dentro das
grandes áreas da Biologia e Oceanografia, com relação direta
às subáreas como da Biologia Marinha e Ecologia Marinha.
A Figura 7 apresenta de forma detalhada quais foram os
principais focos dos estudos, observando-se que a maior
parte dos periódicos analisados abordam temas relacionados
à Ecologia Marinha.
Em relação à ocorrência dos xilófagos, a maior
quantidade de espécies encontradas pertence à família
Terediniidae (16), cuja espécie mais citada em publicações foi
Bankia fimbriatula (Tabela 1). As outras famílias que aparecem
nos trabalhos são as Pholadidae e Limnoriidae, porém com
pouca expressão.
Figura 7. Temas abordados nas publicações sobre xilófagos
marinhos no Brasil até 2019.
Figure 7. Topics covered on publications on marine xylophagous
organisms in Brazil until 2019.
Tabela 2. Espécies de xilófagos marinhos encontradas nos trabalhos
analisados sobre brocas marinhas no Brasil até 2019.
Table 2. Species of marine xylophages found in the analyzed works
on marine borers in Brazil until 2019.
Família
Espécies
N.
Terediniidae
Bankia fimbriatula
10
Lyrodus floridanus
7
Bankia gouldi
7
Neoteredo reynei
7
Teredo furcífera
6
Teredo bartschi
5
Nausitora fusticula
5
Nototeredo knoxi
4
Lyrodus massa
3
Bankia carinata
3
Teredo navalis
3
Bankia destructa
2
Psiloteredo healdi
2
Bankia campanellata
2
Lyrodus affinis
1
Bankia rochi
1
Pholadidae
Martesia striata
1
Limnoriidae
Limnoria tripunctata
1
N. – Número de publicações em que a espécie foi citada.
01234
Biota Neotropica
Antonie van Leeuwenhoek
Journal of Experimental Marine Biology and Ecology
Memórias do Instituto Oswaldo Cruz
Revista Brasileira de Zoologia
The Veliger
Brazilian Journal of Oceanography
Journal of the Marine Biological Association of the UK
Genetics and Molecular Biology
Brazilian Archives of Biology and Technology
Iheringia
Número de publicações
Periódicos
Ciências Biológicas Ciências Exatas e da Terra Microbiologia
Multidisciplinar Malacologia
Biologia Marinha Biologia Marinha e Ecologia
63,4%
18,2%
9,1%
9,1%
Brasil
Holanda
Reino Unido
EUA
16,7%
16,7%
16,7%
11,1%
11,1%
11,1%
11,1% 5,6% Diversidade de espécies
Distribuição de espécies
Influência de fatores ambientais
Relações simbióticas de moluscos com outros
organismos
Avaliação de métodos de coleta
Taxonomia
Colonização larval/recrutamento e crescimento
Comparação de espécies de outras localidades
Brocas marinhas e a biodeterioração da madeira no Brasil: uma revisão sistemática
Nativa, Sinop, v. 10, n. 4, p. 495-505, 2022.
500
Quanto às metodologias utilizadas pelos autores, foram
observadas nesta revisão características como os tipos dos
coletores (iscas), as espécies florestais utilizadas para produzi-
los; o tempo de duração de cada experimento e a
profundidade determinada para a avaliação. A partir dessas
informações, foi possível entender a finalidade da madeira
nos estudos realizados.
Os tipos de coletores mais utilizados foram os de painéis
reconstruídos, estando presentes em 29,41% das
metodologias. Nenhum dos autores relatou a presença de
adesivos ou qualquer outro tipo de substância na montagem
desses painéis, sendo majoritariamente formado apenas pelas
lâminas de madeira, fixadas por braçadeiras (SILVA et al.,
1988; JUNQUEIRA et al., 1989; JUNQUEIRA et al., 1991;
LOPES; NARCHI, 1997; BARRETO et al., 2000), parafusos
(VAROTTO; BARRETO, 1988) ou pressionadas entre
placas de acrílico (MORAES et al., 2015) ou plástico
(MALDONADO; SKINNER, 2016). Os experimentos
utilizando madeira sólida e a sua combinação com o uso de
painéis, tiveram o mesmo percentual de ocorrência nos
trabalhos, sendo 17,65% em ambos os casos. As madeiras
mais utilizadas como coletores foram as próprias espécies do
mangue (Avicennia schaueriana, Rhizophora mangle e Laguncularia
racemosa) presentes na área de coleta (35,29%), seguido por
Araucaria sp. (29,41%). Em relação ao tempo de exposição,
houve uma variação nos períodos utilizados, sendo os mais
recorrentes: 12 meses (23,53%), 24 meses (11,76%) e 3 meses
(11,76%).
4. DISCUSSÃO
4.1. Revisão bibliométrica
Observa-se a predominância de autores vinculados a
Universidades públicas de ensino, pesquisa e extensão
estaduais e federais. Além disso, foram identificados que
parte desses autores também estão vinculados a institutos de
pesquisas pertencentes às Universidades públicas, o que
ressalta a importância destas na contribuição científica, sendo
eles: Instituto de Estudos Costeiros (UFPA), Instituto de
Microbiologia (UFRJ), Instituto de Biologia (UFRJ), Instituto
de Biociências (USP), Instituto de Ciências Biológicas
(UFPE) e Instituto de Biologia (UNICAMP). Como
discutido anteriormente, a maior parte destes institutos
pertence ao Eixo Rio-São Paulo, contribuindo com a maior
quantidade de publicações. A presença destes centros de
pesquisa colabora com o estudo dos ecossistemas marinhos,
cujos trabalhos avaliados têm como objetivos observar o
comportamento, a fisiologia, a ecologia, a distribuição e a
taxonomia do xilófagos marinhos.
A maior concentração de manuscritos veio da região
Sudeste, mais precisamente do Polo Rio-São Paulo, o que
pode estar associado ao maior número de institutos de
pesquisa localizados nessa região. Esse maior número de
publicações também pode estar relacionado aos autores que
mais publicaram (Figura 3), uma vez que três daqueles com
maior mero de publicações estão vinculados às instituições
UFRJ e USP, ambas localizadas na região Sudeste do Brasil.
Vale ressaltar ainda que o estímulo financeiro também teve
destaque na região Sudeste, tendo a Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) como uma
das que mais contribuiu para custear pesquisas entre os
manuscritos analisados neste trabalho, além do CNPq que
atua a nível nacional, consequentemente, contemplando a
região Sudeste.
A princípio, a produção de moluscos no Brasil era
predominante principalmente nas regiões Sul e Sudeste, o que
pode ter sido um dos principais motivos para a quantidade
de pesquisas desenvolvidas na região Sudeste e contribuído
para a concentração maior de publicações vinculadas a essa
região. O cultivo de moluscos como atividade econômica
teve início na década de 1990, mas mesmo após todos esses
anos, a região Sul apresenta o maior percentual da produção
nacional, seguida pela região Sudeste (CAVALLI;
FERREIRA, 2010).
Como essa atividade teve início na cada de 1990, o
efeito do impacto surgiu nos anos seguintes, pois por se tratar
de algo novo, ainda não havia diretrizes para gerir esse setor
produtivo. Segundo Galvão et al. (2009), muitos
pesquisadores estiveram envolvidos em atividades de
monitoramento, principalmente para avaliar a qualidade da
água e dos peixes. Assim, foi necessário realizar estudos para
avaliar esses impactos, o que pode explicar o aumento
significativo de publicações relacionadas ao tema na década
de 2000.
A criação de legislação adequada para direcionar a
produção de moluscos é outro marco importante, que pode
ter estimulado ainda mais a produção científica nesse campo
de pesquisa. No período compreendido entre as décadas de
1990 e 2000, foi sancionada a Portaria do Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA) nº 1.747 para regulamentar a coleta de sementes de
moluscos bivalves (BRASIL, 1996); Resolução Conselho
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) 237/97 sobre
licenciamento ambiental (BRASIL, 1997b); Lei 9.433, que
institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e cria o
Sistema Nacional de Gestão de Recursos Hídricos (BRASIL,
1997a); Portaria IBAMA 136 que estabelece as diretrizes
para a regulamentação da aquicultura (BRASIL, 1998b) e Lei
9.605/98 que dispõe sobre sanções penais e
administrativas para crimes ambientais (BRASIL, 1998a).
Além dessas, também foram sancionadas diretrizes
específicas para a gestão de corpos d'água, como o Decreto
4.895, que determina o que é necessário para a autorização
do uso de corpos d'água (BRASIL, 2003) e a Norma
Interministerial 06, que complementa o Decreto nº 4.895
(BRASIL, 2003).
Quanto ao apoio financeiro, o maior percentual de
investimento veio de agências nacionais, reafirmando a
importância da contribuição para o desenvolvimento de
trabalhos científico no território brasileiro. As três agências
que mais contribuíram com os trabalhos foram o Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio
de Janeiro (FAPERJ) e a Universidade Federal do Pará
(UFPA). Estas agências são de grande importância para a
pesquisa nacional, uma vez que financiam projetos de ensino,
pesquisa e extensão para alunos de graduação, bem como a
concessão de bolsas de estudos para a realização de projetos
de pós-graduação, nos níveis de mestrado, doutorado e pós-
doutorado. Apesar disso, o CNPq apresentou uma
quantidade consideravelmente maior de contribuições em
publicações quando comparada às outras duas,
possivelmente por estar vinculado ao Ministério da Ciência,
Tecnologia, Inovações e Comunicações em nível nacional,
enquanto as demais atuam em seus respectivos estados.
As primeiras iniciativas nacionais e internacionais com
interesse na proteção do meio ambiente e da zona costeira no
Brasil surgiram na década de 1970, com a instituição da
Lins et al.
Nativa, Sinop, v. 10, n. 4, p. 495-505, 2022.
501
Comissão Interministerial para os Recursos do Mar - CIRM
(SCHERER et al., 2010). Os mesmos autores ressaltam que
essa comissão foi composta por representantes de oito
ministérios, além da Secretaria de Planejamento e do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq). Assim, esse vínculo entre o CNPq e a
Comissão também pode ter influenciado o CNPq a ter
contribuído para um maior número de publicações em
relação aos demais presentes na Figura 4 apresentada nos
resultados.
Além disso, também foi observado que a maior parte dos
periódicos onde os artigos desta revisão foram publicados
eram brasileiros, o que pode ser um reflexo da especificidade
geográfica dos resultados obtidos, uma vez que muitos desses
estudos descrevem o comportamento das espécies ao longo
da costa brasileira. Apesar disso, a 76,47% dessas produções
foram divulgadas em inglês, o que pode contribuir para
alcançar uma quantidade maior de leitores, principalmente de
países estrangeiros, uma vez que o idioma português o é
predominante em tantos países como o inglês.
4.2. Estado da arte
Considerando os artigos encontrados nas plataformas
utilizadas por este estudo, foi observado que nenhum deles
se encaixava diretamente na linha de pesquisa de Tecnologia
de Produtos Florestais com enfoque na biodeterioração
madeira, sendo todos voltados para o estudo da Ecologia.
Embora sejam poucos, existem estudos que abordam a
temática no Brasil relacionando-a com a tecnologia da
madeira, como o de Serpa (1980), indexado em outra base de
dados. Por ser um trabalho com mais de 40 anos, fica
explícita a necessidade de realização de novas pesquisas que
avaliem os danos causados por brocas marinhas, bem como
métodos de preservação das madeiras.
uma razão que pode explicar por que os estudos
voltados à ecologia marinha são mais expressivos,
principalmente na região Sudeste. Essa região se destaca na
produção pesqueira marinha, mas também sofre com a
grande carga de efluentes tóxicos da atividade industrial,
como na Baía de Guanabara (RJ), onde estão localizadas mais
de 6.000 indústrias (SCHERER et al., 2010). Ainda segundo
Scherer et al. (2010), em janeiro de 2000 a Baía de Guanabara
sofreu grande impacto devido a um derramamento de mais
de 1,34 milhão de litros de óleo em sua extensão. Além disso,
como os moluscos são agentes filtrantes no ambiente
marinho, estão diretamente relacionados ao monitoramento
da qualidade da água (GALVÃO et al., 2009).
Quando se compara com a quantidade de informação
obtida sobre outros organismos xilófagos, percebe-se o
quanto o nicho das brocas marinhas dentro da
biodeterioração da madeira esdesatualizado. Atualmente os
pesquisadores possuem as informações necessárias para
realizar testes em condições de laboratório sobre fungos e
insetos, principalmente fungos apodrecedores e cupins
(FREITAS et al., 2020; WIEJAK; FRANCKE, 2021; HADI
et al., 2022). Essas informações podem facilita no
desenvolvimento de produtos preservativos e na
comprovação de sua eficácia. No entanto, o foram
encontrados registros de estudos semelhantes com brocas
marinhas no Brasil, mas esses testes são realizados em
outros países (BORGES et al., 2009; SIVRIKAYA et al.,
2009).
Pesquisas relacionadas à resistência natural da madeira e
o uso de produtos conservantes e técnicas construtivas para
aumentar sua durabilidade são de grande importância, pois
contribuem para avanços tecnológicos na preservação da
madeira. A obtenção dessas informações ajuda a aumentar a
vida útil do material em serviço, evitando acidentes súbitos
por deterioração da estrutura, bem como as perdas
financeiras associadas. Além disso, a melhoria da qualidade
da madeira por meio de métodos e produtos preservativos
pode incentivar o uso do material para construções
marítimas, que muitas vezes acaba sendo rejeitado devido à
sua baixa resistência à ão de xilófagos em relação a
materiais como aço e concreto (BORGES, 2014).
Até o momento, não existe nenhuma norma nacional que
determine as direções para desenvolver pesquisas com brocas
marinhas no Brasil, sendo a EN 275 (1992) a única fonte de
informações deste tipo. A necessidade de uma norma
brasileira é de grande importância, uma vez que boa parte das
pesquisas o realizadas em condições de campo, com grande
influência das condições do local. Por este motivo, não é
possível seguir completamente a norma europeia, uma vez
que os dois continentes apresentam condições ambientais
completamente diferentes no que diz respeito à temperatura
da água. Que é um fator determinante para a atividade e
ocorrência dos xilófagos marinhos (BASTIDA; TORTI,
1972; STEINMAYER; TURFA, 1996).
A escassez de trabalhos se mostra mais evidente quando
o Brasil é comparado com o resto do mundo. Quando os
termos que remetem ao Brasil são removidos, a quantidade
de trabalhos aumenta em 56 vezes na plataforma Scopus, sem
a realização da triagem. Estes dados podem ser justificados
pelos avanços das pesquisas em outros países, como os
pertencentes ao continente Europeu. Neste continente,
destacam-se os pesquisadores da Alemanha (KLÜPPEL et
al., 2015; EMMERICH et al., 2020), da França (CHARLES
et al., 2016), do Reino Unido e de Portugal (BORGES et al.,
2009; BORGES, 2014).
Além da falta de pesquisas para aumentar a durabilidade
da madeira, percebe-se também que não são produzidos
artigos que quantifiquem financeiramente as perdas ligadas à
ação das brocas marinhas na costa brasileira. Muito dinheiro
é gasto tentando evitar o ataque desses organismos, através
do uso de métodos de preservação, mas também para realizar
reparos nas estruturas (FODERARO, 2011; HU, 2019). Em
outros países, ocasionalmente são divulgadas informações ao
longo dos anos, o que ajuda a dar uma ideia da magnitude
dos gastos gerados. Um exemplo disso são situações que
ocorreram nos EUA, Milwee Jr; Aichele, (1985)
categorizaram a deterioração como um dos principais tipos
de danos às estruturas marinhas, além de citar as brocas
marinhas como o principal problema relacionado às
estruturas de madeira. Os autores também mencionaram que,
no período em que seu estudo foi realizado, os danos às
estruturas de madeira geravam um prejuízo de cerca de US$
500 milhões anuais e sugeriram investir na preservação da
madeira para tentar melhorar esse cenário.
Atualmente, os casos relatados sobre o assunto nos EUA
ocorreram mais precisamente nas cidades de Nova York e
Nova Jersey, nas quais o jornal The New York Times
noticiou os gastos nos anos de 2011 e 2019. As reportagens
destacaram o custo de US$ 65 milhões para substituir 14.000
estacas de madeira localizadas no East River Park, mais de
US$ 200 milhões para cobrir 12.000 estacas no Brooklin
Bridge Park e US$ 6,2 milhões para o revestimento de 300
estacas localizadas em portos (FODERARO, 2011; HU,
2019).
Brocas marinhas e a biodeterioração da madeira no Brasil: uma revisão sistemática
Nativa, Sinop, v. 10, n. 4, p. 495-505, 2022.
502
No Reino Unido, na década de 2000, os autores Williams
et al. (2005) afirmam que os gastos com proteção contra
inundações na região costeira da Inglaterra e País de Gales
chegam a cerca de £ 500 milhões por ano, com £ 10 milhões
por ano destinados apenas a estruturas de madeira. Williams
et al. (2005) ainda afirmam que se o setor portuário e
marítimo for considerado, estimasse que os gastos com
estruturas de madeira na engenharia naval possam ultrapassar
£20 milhões por ano.
De forma geral, nos estudos que foram avaliados nesta
revisão, a madeira funciona apenas como uma isca para
coletar os organismos xilófagos de interesse. Foi observado
que o tipo de coletor varia entre painéis de madeira
(MALDONATO; SKINNER, 2016; SILVA et al., 1988;
BARRETO et al., 2000) e corpos de prova de madeira sólida
(LEONEL et al., 2006; ANDRADE et al., 2013). Entretanto,
quanto à madeira sólida, foi mais comum o aproveitamento
de troncos pré-existentes de espécies do mangue (MORAES
et al., 2015; TRINDADE-SILVA et al., 2009; SANTOS
FILHO et al., 2008; ARAUJO et al., 1995; JUNQUEIRA et
al., 1989). Em alguns casos, os autores utilizaram mais de um
tipo de coletor, utilizando como iscas madeira sólida e painéis
(JUNQUEIRA et al., 1991; LOPES; NARCHI, 1997;
VAROTTO; BARRETO, 1998; LEONEL et al., 2002).
Apenas no trabalho de Martins-Silva; Narchi, (2008) não foi
informado o tipo de coletor para captura dos xilófagos, bem
como nos trabalhos que abordaram o tema por meio de
revisão bibliográfica (PASSOS; MAGALHÃES, 2011;
SANTOS et al., 2005).
Como citado anteriormente, as espécies florestais mais
utilizadas como iscas foram as espécies pré-existentes do
mangue (Avicennia schaueriana, Rhizophora mangle e Laguncularia
racemosa) e Araucaria sp. e os tipos de coletores mais
frequentes foram os painéis de madeira e os troncos
apodrecidos das espécies pré-existentes do mangue. Para
espécies de ocorrência em área de mangue, Lopes; Narchi,
(1997) justificaram o uso das espécies do mangue baseados
em outros autores e ressaltaram a escolha da L. racemosa para
a produção de painéis, por ser a mais abundante dentre as
espécies existentes no local. Santos Filho et al. (2008)
também justificaram a escolha baseados em outros trabalhos
consultados pelos autores.
Quanto à escolha de Araucaria sp., os autores Silva et al.
(1988) justificaram seu uso pelo baixo custo e por
classificarem a espécie como facilmente atacável. Leonel et al.
(2002), justificaram o uso de madeira do gênero com base na
literatura consultada pelos autores. Apesar de não utilizarem
esse gênero na metodologia, Lopes; Narchi, (1997)
mencionaram que muitos trabalhos consultados por eles
também utilizaram coletores produzidos a partir de Araucaria
sp.
As espécies do gênero Pinus têm sido as mais indicadas
para esta finalidade, sendo amplamente utilizadas em estudos
com o interesse em avaliar a deterioração por fungos, insetos
ou fatores ambientais (PAES et al., 2009). Para estudos com
brocas marinhas, a norma EN 275 (1992) indica as madeiras
desse nero por serem de baixa durabilidade. Apesar disso,
nenhuma das pesquisas utilizou a norma como base,
possivelmente por se tratarem de trabalhos voltados para o
campo das Ciências Biológicas, e não Tecnologia de Produtos
Florestais com ênfase em madeiras.
Dentre os trabalhos avaliados nesta revisão, apenas
Maldonado; Skinner, (2016) afirmaram fazer uso da espécie
Pinus elliotti, o que pode ser justificado por se tratar de uma
publicação mais atual. Percebe-se que todos os experimentos
utilizando A. angustifolia foram das décadas de 1980 e 1990,
quando ainda não existia uma legislação para controlar o
corte e exploração de espécies nativas da Mata Atlântica,
bioma o qual a espécie pertence. Porém na década seguinte,
a lei n. 11.428 (BRASIL, 2006) foi sancionada, determinando
o regime de uso e proteção do bioma, sem contar com as
legislações específicas para cada estado, como a lei n.
20.223/2020 do estado do Paraná (PARANÁ, 2020).
Embora exista a possibilidade de obtenção de madeira de
araucária a partir de florestas plantadas, esta espécie vem
sendo substituída por outras do nero Pinus, comumente
plantadas em larga escala no Brasil para fins comerciais.
Em relação aos tipos de coletores mais utilizados,
percebe-se uma maior preferência pelo uso de painéis de
madeira. Isto é coerente com o enfoque dos trabalhos, uma
vez que a maior parte dos artigos analisados tem interesse em
estudar os xilófagos presentes nesse material. Sendo assim, a
escolha desses métodos pode ser devido à facilidade de
coletar os organismos que possuem corpos muito frágeis
(MALDONADO; SKINNER, 2016). Desta forma, o coletor
oferecerá menos resistência, diminuindo as chances de
danificar o material biológico.
Por outro lado, em algumas situações quando se tem o
interesse de realizar um experimento com maior tempo de
duração, os pesquisadores tendem a escolher corpos de prova
de madeira sólida como isca. Santos Filho et al. (2008)
optaram pelo uso de troncos de espécies pré-existentes do
mangue para produzir os seus coletores para um experimento
com 11 meses de duração. Os autores afirmam que, segundo
a sua revisão bibliográfica, existem trabalhos que indicam a
maior durabilidade deste tipo de iscas em comparação aos
painéis, que tendem a serem destruídos em cerca de seis
meses.
Além desses tipos de direcionamento, também foram
encontrados trabalhos que utilizassem os dois tipos de
coletor. Essa característica normalmente ocorre em trabalhos
com o interesse em analisar metodologias, como o de
Junqueira et al. (1991), que tinham como objetivo verificar a
influência do método de coleta para estudos focados em
diversidade, densidade e composição das espécies,
ressaltando a falta de padronização nos métodos utilizados
pelos trabalhos consultados.
O estudo desenvolvido por Leonel et al. (2006), observou
a interferência do método de coleta para a ocorrência dos
organismos, identificando o mais adequado dentre eles.
Apesar do direcionamento ser focado para a coleta de
organismos, é possível obter informações sobre a preferência
alimentar dos indivíduos observados. Os autores utilizaram
amostras de três espécies do mangue (Avicennia schaueriana,
Rhizophora mangle e Laguncularia racemosa) e constataram que
houve diferença na aceitação das espécies de moluscos ao
tipo de substrato fornecido. A espécie Bankia fimbriatula, por
exemplo, é conhecida pela sua abundância no local estudado,
porém não mostrou preferência a nenhum dos substratos; a
espécie Nausitora fusticula demonstrou preferência pelas
amostras de A. schaueriana, uma vez que a espécie esteve
presente em todas as amostras, independente da salinidade e
profundidade em que esteve fixada (LEONEL et al., 2006).
Leonel et al. (2006) destacam ainda a importância de
conhecer a preferência alimentar das espécies, para escolher
os coletores que poderão apresentar melhor desempenho.
Apesar do objetivo ser o inverso do que interessa à tecnologia
da madeira, fornece informações que podem ajudar a
Lins et al.
Nativa, Sinop, v. 10, n. 4, p. 495-505, 2022.
503
entender o que pode ser atrativo na madeira para estes
organismos. Desta forma, podem ser propostos trabalhos
que avaliem quais componentes são menos atrativos aos
organismos, de forma que possam desenvolver produtos
preservativos com os componentes, e assim testar a sua
eficácia para a proteção da madeira em ambiente marinho.
Em relação às espécies de brocas marinhas encontradas
nos estudos, observa-se que teve representação de ambos os
grupos de moluscos e crustáceos, apesar de que a maior
diversidade de espécies pertence aos moluscos. A espécie B.
fimbriatula foi a espécie presente em um maior número de
publicações, o que pode ser explicado por ser uma espécie de
ampla ocorrência no litoral brasileiro (MÜLLER; LANA,
2004). Entretanto, L. floridanus, B. gouldi e N. reynei também se
destacaram entre as demais. A espécie B. fimbriatula
juntamente com L. floridanus foram identificadas como as
mais dominantes nas Baías de Sepetiba e Ilha Grande
(JUNQUEIRA et al., 1989). Em um estudo realizado em São
Paulo, as espécies de maior destaque foram B. fimbriatula, L.
floridanus e B. gouldi (MORAES et al., 2015). Quanto a N.
reynei, foi a espécie de maior abundância encontrada por
Beasley et al. (2005) em Ajuruteua (PA), além de ser a única
encontrada por Santos Filho et al. (2008) em um estudo
realizado no mesmo local.
O estudo de Santos Filho et al. (2008) avaliou a
abundância sazonal de Teredinidae nos manguezais,
relacionando a sua ocorrência e desenvolvimento com as
estações secas ou chuvosas no Pará. Porém, o seu estudo
pode ainda ser relacionado com a biodeterioração da madeira
em ambiente marinho, uma vez que os mesmos autores
estudaram também a efetividade destes organismos para
atacar a madeira à deriva e a sua contribuição para exportar
nutrientes do manguezal para as áreas costeiras adjacentes.
É importante salientar que, apesar destes organismos
serem muito associados a danos em estruturas e prejuízos
financeiros, sem eles o processo de deterioração da madeira
nestes ambientes seria muito mais demorado e dependeria
apenas da degradação física. Estes organismos são capazes de
acelerar o processo de reciclagem da matéria orgânica, por
meio da fragmentação e digestão das partículas de madeira
(MÜLLER; LANA, 2004). Desta forma, as brocas marinhas
contribuem para reduzir a quantidade de rejeitos de madeira
presentes nestes ambientes, sendo muitas vezes mais efetivos
para a ciclagem de nutrientes quando comparados aos
organismos de ambiente terrestre (LOPES; NARCHI, 1997).
5. CONCLUSÕES
Diante do exposto, verifica-se a importância de
desenvolver estudos na área de tecnologia dos produtos
florestais, com ênfase em biodeterioração e proteção da
madeira, para melhor compreensão da relação entre madeira
e as brocas marinhas. Observou-se ainda a importância da
existência de pesquisas que realizem os experimentos em
locais de clima tropical, uma vez que boa parte do material
disponível foi desenvolvido em países de clima temperado,
com condições completamente distintas do Brasil. Fomentar
estas pesquisas é essencial para a construção do
conhecimento sobre o tema e atualização das informações.
6. AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com apoio do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
Brasil (CNPq); e Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior Brasil (CAPES) Código de
Financiamento 001.
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