Nativa, Sinop, v. 10, n. 4, p. 472-476, 2022.
Pesquisas Agrárias e Ambientais
DOI: https://doi.org/10.31413/nativa.v10i4.13915 ISSN: 2318-7670
Fitossociologia e potencial madeireiro no Sudeste da
Floresta Nacional do Tapajós, estado do Pa
João Ricardo Vasconcellos GAMA1, Diego dos Santos VIEIRA2*, Lia Oliveira MELO1,
Renato Bezerra da Silva RIBEIRO1, Marcio Leles Romarco OLIVEIRA2,
Bruno Oliveira LAFE3
1Instituto de Biodiversidade e Florestas, Universidade Federal do Oeste do Pará, Santarém, PA, Brasil.
2Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Diamantina, MG, Brasil.
3Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais, São João Evangelista, MG, Brasil.
*E-mail: diegovier4@gmail.com
(ORCID: 0000-0002-3629-3437; 0000-0003-3780-1189; 0000-0002-5354-7742;
0000-0001-6385-9224; 0000-0002-8097-1135; 0000-0003-2913-6617)
Submetido em 31/05/2022; Aceito em 17/10/2022; Publicado em 01/11/2022.
RESUMO: O objetivo desse estudo foi avaliar a fitossociologia e o potencial madeireiro no sudeste da Flona
Tapajós, estado do Pará. Adotou-se o processo de amostragem em conglomerado com 36 unidades primárias
distribuídas sistematicamente. Essas unidades foram compostas por quatro unidades secundárias de 20 x 250
m. Todas as árvores com DAP 10 cm foram medidas, considerando diferentes classes de tamanho e
subamostragens. Foram calculados os parâmetros fitossociológicos e realizada a valoração monetária da
floresta, acatando as instruções normativas dos órgãos ambientais. O metro cúbico da tora posta no pátio foi
valorado tendo em vista o preço de R$ 380,0 m3, sendo descontados desse valor 60% referente aos custos de
operação, produzindo um preço líquido de R$ 152,00 m3. A espécie mais importante foi Pouteria cladantha, mas
Apuleia leiocarpa, Virola melinonii, Protium paraense, Alexa grandiflora e Manilkara huberi também se destacaram,
principalmente pelo estoque de árvores, ótimo aproveitamento na indústria madeireira e boa comercialização.
A área apresentou 126 m3 ha-1 e 13,61 m2 ha-1, dos quais 54,8 e 41,8%, respectivamente, situaram-se acima do
diâmetro mínimo de colheita. O lucro líquido estimado foi de R$ 4.047,27 ha-1, demonstrando que a área
apresenta aptidão para o manejo florestal madeireiro.
Palavras-chave: Amazônia; valoração de florestas; manejo florestal madeireiro.
Phytosociology and timber potential in the Southeast of the
Tapajós National Forest, Pará state
ABSTRACT: The objective of this study was to evaluate the phytosociology and timber potential in the
southeast of Flona Tapajós, state of Pará. The cluster sampling process was adopted with 36 primary units
systematically distributed. These units were composed of four secondary units measuring 20 x 250 m. All trees
with DBH ≥ 10 cm were measured, considering different size classes and subsamplings. The phytosociological
parameters were calculated and the monetary valuation of the forest was carried out, following the normative
instructions of Organs environmental agencies. The cubic meter of the log placed in the yard was valued
considering the price of R$ 380.0 m3, with 60% being deducted from this value referring to operating costs,
producing a net price of R$ 152.00 m3. The most important species was Pouteria cladantha, but Apuleia leiocarpa,
Virola melinonii, Protium paraense, Alexa grandiflora and Manilkara huberi also stood out, mainly due to their tree
stock, excellent use in the timber industry and good commercialization. The area presented 126 m3 ha-1 and
13.61 m2 ha-1, of which 54.8 and 41.8%, respectively, were above the minimum harvest diameter. The estimated
net profit was R$ 4,047.27 ha-1, demonstrating that the area is suitable for timber forest management.
Keywords: Amazon; forest valuation; timber forest management.
1. INTRODUÇÃO
O bioma Amazônia concentra a maioria das florestas
públicas federais passíveis de concessão, nas quais são
necessárias ações para se identificar áreas que justifiquem
investimentos e garantam retornos a curto, médio e longo
prazo. Contudo, a grande lacuna de informações precisas e
atuais dessas florestas impede o mapeamento acurado da
distribuição, estoque e diversidade de espécies arbóreas
(CONDÉ; TONINI, 2013) e dificulta a valoração da floresta
e o conhecimento das potencialidades dessas áreas e,
consequentemente, a consolidação de propostas sustentáveis
para o desenvolvimento da região (PINHEIRO et al., 2019).
O déficit de informações em áreas inexploradas é ocasionado,
entre outros fatores, pela grande extensão do bioma
Amazônia, falta de acessos e mais variados graus de
complexidade na estrutura da vegetação quando se trata da
execução de inventários florestais.
Análises fitossociológicas e de valoração monetária da
floresta são consideradas ferramentas importantes e viáveis
na obtenção de informações sobre a potencialidade
madeireira de florestas públicas (ANDRADE et al., 2015;
PINHEIRO et al., 2019). Além disso, são essenciais para a
construção de propostas de manejo florestal sustentável que
assegurarem a sustentabilidade da atividade madeireira
Gama et al.
Nativa, Sinop, v. 10, n. 4, p. 472-476, 2022.
473
(BENTES-GAMA et al., 2002). O uso conjunto dessas
análises facilita a seleção de novas áreas com melhores
possibilidades de exploração por empresas madeireiras,
atraindo investimentos e emprego para os municípios e
comunidades locais (PINHEIRO et al., 2019). A valoração
do estoque de colheita permite ainda uma previsão dos lucros
possíveis de serem obtidos com o corte de árvores de
interesse comercial madeireiro e não madeireiro, além de
sugerir que a inclusão de espécies destinadas apenas ao
mercado local incrementará a receita das empresas florestais
(BENTES-GAMA et al., 2002).
O conhecimento da potencialidade volumétrica e
monetária de florestas públicas auxilia na definição do valor
cobrado durante a concessão dessas florestas e identificação
dos incentivos econômicos que interferem na decisão dos
agentes, em relação ao uso dos recursos naturais (SILVA et
al., 2021). O estado do Pará possui diversas florestas públicas
com diferentes potenciais madeireiros e não madeireiros, mas
pouco se sabe sobre esses potenciais, principalmente
daquelas localizadas às margens de rios, como a Floresta
Nacional do Tapajós (FNT). Assim, o objetivo dessa
pesquisa foi avaliar a fitossociologia e o potencial madeireiro
na região sudeste da FNT, com o intuito de se obter
informações sobre a viabilidade da execução de um Plano de
Manejo Florestal Sustentável.
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1. Área de estudo
O estudo foi realizado na Área de Manejo Florestal
(AMF) Aveiro, na Floresta Nacional do Tapajós. Trata-se de
um trecho de Floresta Ombrófila Densa de Terra Firme com
35.639,0 ha, pertencente aos municípios de Aveiro e
Rurópolis, estado do Pará. O clima da região, conforme a
classificação de Köppen, é Ami, ou seja, tropical úmido com
variação térmica anual inferior a 5ºC. A temperatura,
precipitação pluviométrica e umidade relativa do ar média
anual é de 25,5ºC, 1.820 mm e 88%, respectivamente (Alvares
et al., 2013). O relevo acidentado apresenta topografia
variando de suavemente ondulada a ondulada, com
predomínio de Latossolo Amarelo Distrófico (Santos et al.,
2017). A vegetação é classificada como Floresta Ombrófila
Densa, caracterizando-se pela dominância de árvores de
grande porte (Manilkara huberi (Ducke) A. Chev. e Alexa
grandiflora Ducke), e pela abundância de lianas lenhosas,
palmeiras e epífitas (Andrade et al., 2015).
2.2. Coleta de dados
Os dados foram coletados de uma amostragem em
conglomerados (Figura 1). A alocação dos conglomerados na
AMF considerou uma distribuição sistemática e um Modelo
Digital de Elevação (MDE), construído a partir da técnica de
interferometria de radar e uma imagem com características
altimétricas do tipo Shuttle Radar Topography Mission
(SRTM), correspondente à carta topográfica SB-21-X-D na
escala de 1:250.000 (Andrade et al., 2015). O MDE serviu
para identificar áreas inacessíveis para a colheita,
considerando a tecnologia utilizada pela Cooperativa Mista
da Floresta Nacional do Tapajós, e para instalação de quatro
linhas de inventário florestal, dispostas longitudinalmente,
equidistantes 4.000 m e referenciadas ao Meridiano Central
correspondente à Zona 21M, no sistema de quadrículas
Universal Transversa de Mercator (UTM) e datum horizontal
WGS 84.
Figura 1. Amostragem realizada na AMF Aveiro, na Floresta
Nacional do Tapajós, estado do Pará.
Figure 1. Sampling carried out at FMA Aveiro, in the Tapajós
National Forest, state Pará.
As classes de declividade (C1 = 0% - 10%, C2 = 10,1% -
15%, C3 = 15,1% - 20% e C4: > 20,1%) foram determinadas
por meio do software ArcMapTM 10.5, onde foram obtidas as
curvas de nível de 20 em 20 metros, e, posteriormente, por
meio da ferramenta Create TIN, o MDE com as classes C1,
C2, C3 e C4. Após a disposição das faixas sobre o MDE, elas
foram exportadas para um GPS Garmin 60 Cxs, para
posterior identificação na AMF (Andrade et al., 2015). Foram
instalados 36 conglomerados, equidistantes 2.000 m,
constituídos por quatro unidades secundárias de 20 x 250 m
dispostas em forma de cruz de malta. A amostra e a
intensidade amostral foram de 72 ha e 0,2% da AMF,
respectivamente. Em cada unidade secundária, foram
medidas a seguintes classes de tamanho (CT): CT1: árvores
com 10 cm DAP < 25 cm em subunidades de 20 x 50 m;
CT2: árvores com 25 cm ≤ DAP < 50 cm em subunidades de
20 x 100 m; e CT3: árvores com DAP ≥ 50 cm na unidade de
20 x 250 m.
Os dados coletados durante o inventário florestal foram:
nome científico, circunferência do tronco à altura de 1,30 m
do solo (CAP), altura comercial (Hc), e qualidade de fuste
(QF). A QF apresentou três classes, a saber: QF1 = fustes
com aproveitamento de 80-100%; QF2 = fustes com
aproveitamento de 50-79%; e QF3 = fustes com
aproveitamento abaixo de 50%. Todas as espécies foram
classificadas quanto aos usos, a saber: C - espécies
comercializadas no mercado regional, nacional e
internacional; e NC - espécies ainda não aceitas no mercado
regional, nacional e internacional. Além disso, todas as
árvores foram previamente identificadas em campo, em nível
de espécie, e aquelas que suscitaram dúvidas tiveram sua
Fitossocilogia e potencial madeireiro no Sudeste da Floresta Nacional do Tapajós, estado do Pará
Nativa, Sinop, v. 10, n. 4, p. 472-476, 2022.
474
determinação taxonômica feita por especialistas, por meio de
comparações, no herbário da Universidade Federal do Oeste
do Pará. O sistema de classificação das espécies utilizado foi
o Angiosperm Phylogeny Group IV (Angiosperm Phylogeny
Group, 2016) e a confirmação dos autores e nomes
científicos foi realizada por meio da Lista de Espécies da
Flora do Brasil.
2.3. Análise do inventário florestal
As estatísticas do inventário florestal foram calculadas
para as variáveis volume e área basal por hectare, de acordo
com as Instruções Normativas nº 03, de 13/05/2011, e 05,
de 10/09/2015, da Secretaria de Meio Ambiente e
Sustentabilidade (SEMAs) do Pará. Os volumes das árvores
foram estimados por meio do fator de forma 0,7, enquanto
as áreas basais foram calculadas conforme a Instrução
Normativa nº 08 de 03/11/2015 da SEMAs do Pará. Foram
avaliados dois níveis, a saber: comunidade (DAP ≥ 10 cm) e
estoque de colheita (DAP 50 cm). A média, variância da
média, erro padrão e erros de amostragem foram calculados
conforme descrito em Péllico-Netto and Brena (1997) e
Queiroz (2012). O intervalo de confiança foi calculado para
um erro máximo admissível de 10 e 20%, para a comunidade
e o estoque de colheita, respectivamente.
2.4. Fitossociologia
A composição florística foi analisada com base no
número de espécies e famílias botânicas da comunidade
(Corrêa et al., 2015). A suficiência da amostra para
caracterizar a composição florística foi calculada por meio da
curva de acumulação de espécies, construída pelo método de
aleatorização e com 1.000 permutações (Higuchi et al., 2016).
Os valores de riqueza estimados para os conglomerados, por
meio das permutações, foram distribuídos e inseridos na
curva de acumulação de espécies usando gráficos do tipo
boxplot (Higuchi et al., 2016). Ademais, foram calculados os
índices de diversidade de Shannon-Weaver, equabilidade de
Pielou e coeficiente de Mistura de Jentsch (Freitas &
Magalhães, 2012; Magurran, 2013). O padrão espacial das
espécies foi determinado por meio do índice de Payandeh. A
estrutura horizontal foi calculada por meio dos valores
absolutos e relativos da frequência, densidade e dominância,
a partir dos quais calculou-se o valor de importância (Freitas
& Magalhães, 2012). As estruturas diamétricas e volumétricas
da comunidade e das espécies comerciais que foram
valoradas foram calculadas pelo cômputo das árvores nas
classes diamétricas a que pertencem, cujo a amplitude foi de
10 cm (Andrade et al., 2015).
2.5. Valor monetário da madeira
A valoração da madeira foi realizada apenas para o
estoque de colheita (DAP 50 cm) das 25 espécies
comerciais com maior importância ecológica. A seleção das
árvores para corte e remanescente considerou as
recomendações dos órgãos ambientais federais e estaduais, a
saber: Instrução Normativa 05 de 11/12/ 2016 do
Ministério do Meio Ambiente, Instrução Normativa nº 07 de
27/09/2006 da Secretaria do Estado de Ciência, Tecnologia
e Meio Ambiente do estado do Pará e Norma de Execução
01 de 24/04/2007 do Instituto Brasileiro de Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Logo, foram
selecionadas apenas as árvores com DAP 50 cm e QF1 e
QF2. Mas, das árvores aptas para colheita, foram mantidas
10%, além de respeitar a ocorrência mínima de 3 árvores por
espécie por 100 ha e a intensidade máxima de corte (IMC) de
30 m2 ha-1.
O metro cúbico da tora posta no pátio foi valorado
considerando-se o valor de R$ 380,00, descontando 60% do
custo de operação e utilizando o preço líquido de produção
da madeira de R$ 152,00 m3 para valoração da produção
florestal. Todos esses valores foram obtidos a partir de um
estudo de viabilidade econômica realizado em uma área
próxima à AMF (Santos, 2016). O cenário descrito foi
analisado para uma Unidade de Produção Anual (UPA) de
1.000 hectares. A expressão (1) foi empregada para o cálculo
do valor monetário de fuste das espécies comerciais (VMFEC).
VMFEC=
VFi∙PFi
S
i=1
(01)
em que: VMFEC = valor monetário de fuste das espécies comerciais,
em R$ 1.000 ha-1; VFi = volume do fuste da i-ésima espécie
comercial selecionada para colheita, em m3 1.000 ha-1; PFi = preço
do fuste, líquido de produção, no pátio principal da AMF da i-ésima
espécie comercial, em R$ m-3 e S = número de espécies.
2.6. Hipóteses de pesquisa
As hipóteses que nortearam essa pesquisa foram: nula, a
área apresenta alta riqueza e diversidade de espécies e
potencial madeireiro para a realização de extração madeireira
sustentável e economicamente viável; alternativa, rejeita-se a
hipótese a nula.
3. RESULTADOS
Foram registradas 203,2 árvores ha-1 na AMF que, juntas,
totalizaram área basal e volume de 13,6 m² ha-1 e 126,0 m3 ha-
1, respectivamente. O estoque de colheita (DAP 50 cm)
teve 12,9 árvores ha-1, 5,7 m² ha-1 e 69,1 m3 ha-1. Esses valores
representam 6,3, 41,9 e 54,8% do número de árvores, área
basal e volume por hectare da comunidade (DAP 10 cm),
respectivamente. O inventário florestal apresentou boa
precisão para as variáveis área basal e volume, com erros
amostrais relativos menores que o máximo admissível para a
comunidade e o estoque de colheita (Tabela 1).
Tabela 1. Estatísticas do inventário florestal para a comunidade
(DAP 10 cm) e estoque de colheita (DAP 50 cm) da AMF
Aveiro, Floresta Nacional do Tapajós, oeste do Pará.
Table 1. Forest inventory statistics for the community (DBH 10
cm) and harvest stock (DBH 50 cm) for FMA Aveiro, Tapajós
National Forest, western Pará.
Estatísticas
DAP
≥ 10 cm
DAP
≥ 50 cm
G
G
Média
13,6
126,0
5,7
69,1
Erro padrão da média
0,5
5,5
0,3
4,4
Coef de variação
37,13
44,5
59,7
63,97
Coef. intraconglomerado
0,12
0,12
0,08
0,12
Erro amostral
Absoluto
0,99
10,97
0,64
8,64
Relativo
7,3
8,7
11,2
12,5
Intervalo de confiança
Limite inferior
14,6
137,0
6,3
77,7
Limite superior
12,6
115,0
5,1
60,4
em que: DAP = diâmetro do tronco à altura de 1,30 m do solo; Coef. =
coeficiente, G = área basal, em m² ha-1; e V = volume, em m3 ha-1.
O coeficiente de correlação intraconglomerado, que
avalia o grau de similaridade entre as subunidades do
conglomerado, variou de 0,08 a 0,12. Esses valores estão
Gama et al.
Nativa, Sinop, v. 10, n. 4, p. 472-476, 2022.
475
dentro do limite determinado para o modelo “cruz de malta”
(> 0,4), mostrando que os trinta e seis conglomerados
alocados na AMF foram suficientes para representar a área e
para garantir precisão e eficiência do processo de amostragem
adotado.
3.1. Fitossociologia
Foram registradas 4.230 árvores, pertencentes a 134
gêneros, 47 famílias botânicas e 187 espécies, das quais 135
contabilizaram menos de uma árvore por hectare. Os gêneros
com maior mero de espécies foram Brosimum (6), Inga (5),
Pouteria (5), Swartzia (5), Eschweilera (4), Lecythis (4), Guarea (3),
Mezilaurus (3) e Ormosia (3) que, juntos, representam 20,3%
de todas as espécies. As famílias botânicas mais ricas foram
Fabaceae (45), Sapotaceae (11), Lecythidaceae (10), Moraceae
(10), Euphorbiaceae (8), Lauraceae (8), Apocynaceae (6),
Burseraceae (6) e Malvaceae (6) que, juntas, totalizaram
58,8% das espécies. A curva espécie-área mostrou uma
tendência à estabilização, pois com o acréscimo do último
conglomerado ocorreu um aumento de 0,5% no número de
espécie (Figura 2).
Figura 2. Curva de acumulação de espécies para a AMF Aveiro,
Floresta Nacional do Tapajós, estado do Pará.
Figure 2. Species accumulation curve for FMA Aveiro, Tapajós
National Forest, Pará state.
A amostragem foi adequada para caracterização
composição florística da AMF Aveiro. Os índices de
Shannon-Weaver e equabilidade de Pielou foram de 4,43 nats
ind-1 e 0,847, respectivamente, mostrando que se obteve
84,7% diversidade máxima esperada para AMF. O quociente
de mistura de Jentsch foi de 1:23, evidenciando que cada
espécie foi representada, em média, por 23 árvores. Ademais,
o índice de Payandeh mostrou que 38% das espécies
apresentaram tendência à agregação, enquanto 28 e 25%
encontram-se distribuídas de forma aleatória e agregada na
AMF, respectivamente. Apenas 9% das espécies tiveram os
padrões espaciais indeterminados. A frequência absoluta
dessas espécies foram 0,72, mostrando que elas ocorreram
em apenas um dos conglomerados.
As espécies de maior densidade (≥ 3,0 árvores ha-1), em
ordem decrescente, foram Pouteria cladantha, Eschweilera
grandiflora, Brosimum guianensis, Inga alba, Neea floribunda, Virola
melinonii, Protium paraense, Protium decandrum, Ocotea baturitensis,
Cecropia distachya, Chamaecrista scleroxylon, Tetragastris altissima,
Guarea subsessiliflora, Rinorea guianensis, Carapa guianensis,
Maquira sclerophylla e Guatteria poeppigiana, que, juntas,
representam 49,1% da densidade de árvores (Tabela 2). As
espécies mais dominantes (≥ 0,22 m2 ha-1) foram Protium
decandrum, Pouteria cladantha, Bertholletia excelsa, Carapa
guianensis, Apuleia leiocarpa, Inga alba, Alexa grandiflora, Virola
melinonii, Eschweilera grandiflora, Brosimum guianensis, Hymenaea
courbaril, Cecropia distachya, Chamaecrista scleroxylon, Neea
floribunda, Geissospermum sericeum, Manilkara huberi e Parkia sp.,
que, juntas, representam 40,3% da dominância absoluta.
As 20 espécies de maior importância ecológica (≥ 1,5%),
em ordem decrescente, foram Pouteria cladantha, Inga alba,
Brosimum guianensis, Protium paraense, Eschweilera grandiflora,
Virola melinonii, Neea floribunda, Cecropia distachya, Carapa
guianensis, Protium decandrum, Ocotea baturitensis, Chamaecrista
scleroxylon, Tetragastris altissima, Guarea subsessiliflora, Bertholletia
excelsa, Geissospermum sericeum, Alexa grandiflora, Apuleia
leiocarpa, Guatteria poeppigiana e Maquira sclerophylla, que, juntas,
totalizaram 43,4% do valor de importância. Entre essas
espécies, apenas seis apresentaram uso madeireiro regional,
nacional ou internacional (Tabela 2). Além disso, embora a
espécie Bertholletia excelsa esteja entre as mais importantes, ela
não possui uso madeireiro. Mas, pode ser utilizada para
comercialização de produtos florestais não madeireiros,
assim como a Carapa guianensis e Tetragastris altissima.
A estrutura diamétrica apresentou o padrão típico de
florestas tropicais inequiâneas, a saber: distribuição
exponencial na forma de J-invertido (Figura 3). As quatro
primeiras classes diamétricas (DAP > 50 cm) apresentaram
93% das árvores por hectare, enquanto as demais (DAP ≥ 50
cm) totalizaram 7%. A mesma tendência exponencial foi
constatada na estrutura volumétrica, mas com aumento
considerável nas classes de 80-90 e 90-100 cm, com posterior
redução no sentido das maiores classes. Além disso,
observou-se ainda que as classes do estoque de colheita
abrangeram aproximadamente 55% da área basal e volume
da AMF, respectivamente. Essas características são desejáveis
para AMFs com potencial de extração madeireira.
Figura 3. Estrutura diamétrica e volumétrica da AMF Aveiro,
Floresta Nacional do Tapajós, estado do Pará.
Figure 3. Diametric and volumetric structure of FMA Aveiro,
Tapajós National Forest, Pará state.
Fitossocilogia e potencial madeireiro no Sudeste da Floresta Nacional do Tapajós, estado do Pará
Nativa, Sinop, v. 10, n. 4, p. 472-476, 2022.
472
Tabela 2. Relação das 25 espécies de maior importância na AMF Aveiro, Floresta Nacional do Tapajós, estado do Pará.
Table 2. List of the 25 most important species in FMA Aveiro, Tapajós National Forest, state of Pará.
Nome científico
Uso
P
DA
DoA
VI
Pouteria
cladantha
Sandwith
NC
AG
10,22
0,4706
3,85
Inga alba
(Sw.) Willd.
NC
AG
8,35
0,3343
3,13
Brosimum guianense
(Aubl.) Huber
NC
TAG
8,67
0,2797
3,09
Protium paraense
Cuatrec.
NC
AG
6,00
0,4868
3,02
Eschweilera grandiflora
(Aubl.) Sandwith
NC
AG
8,91
0,2970
2,96
Virola melinonii
(Benoist) A.C.Sm.
C
AG
6,20
0,3007
2,51
Neea floribunda
Poepp. & Endl.
NC
TAG
6,62
0,2416
2,49
Cecropia distachya
Huber.
NC
AG
5,11
0,2597
2,09
Carapa guianensis
Aubl.
C
AG
3,59
0,4421
2,05
Protium decandrum
(Aubl.) Marchand
C
AG
5,51
0,1782
2,03
Ocotea baturitensis
Vattimo
-
Gil
C
TAG
5,38
0,1799
1,98
Chamaecrista scleroxylon
(Ducke) H.S.Irwin & Barneby
NC
AG
4,91
0,2432
1,82
Tetragastris altissima
(Aubl.) Swart
NC
TAG
4,91
0,1415
1,73
Guarea
subsessiliflora
C.DC.
NC
TAG
4,87
0,1247
1,68
Bertholletia excelsa
Bonpl.
NC
TAG
0,90
0,4467
1,62
Geissospermum sericeum
Benth. & Hook.f. ex Miers
NC
AG
2,96
0,2406
1,61
Alexa grandiflora
Ducke
C
AG
2,14
0,3098
1,49
Apuleia leiocarpa
(Vogel)
J.F.Macbr.
C
TAG
0,68
0,4008
1,43
Guatteria poeppigiana
Mart.
NC
AG
3,38
0,1545
1,42
Maquira sclerophylla
(Ducke) C.C.Berg
NC
TAG
3,41
0,1195
1,35
Parkia multijuga
Benth.
C
TAG
1,70
0,2289
1,30
Tachigali paniculata
Aubl.
NC
TAG
2,80
0,1569
1,28
Rinorea guianensis
Aubl.
NC
AG
3,70
0,0884
1,22
Pterocarpus officinalis
Jacq.
NC
AG
1,96
0,2167
1,21
Manilkara huberi
(Ducke) A.Chev.
C
AG
1,71
0,2325
1,20
Subtotal
-
-
114,6
6,6
49,6
Outras
-
-
88,7
7,0
50,4
Total
-
-
203,2
13,6
100
em: P = índice de agregação Payandeh; DA = densidade absoluta; DoA = dominância absoluta; VI = índice de valor de importância; NC = não comercial;
C = comercial; AG = agregado; e TAG = tendência à agregação.
Além disso, das 25 espécies madeireiras mais importante
e valoradas na AMF, apenas dez apresentaram a forma J-
invertido, a saber: Aspidosperma desmanthum, Trattinnickia
glaziovii, Pseudopiptadenia suaveolens, Parkia multijuga, Mezilaurus
itauba, Manilkara huberi, Alexa grandiflora, Astronium lecointei,
Dialium guianense e Virola melinonii (Figura 4). As demais,
apresentaram estruturas diamétricas irregulares e baixo
número de árvores, especialmente Enterolobium schomburgkii,
Terminalia dichotoma, Goupia glabra, Hymenaea courbaril, Peltogyne
paraensis e Lecythis pisonis que não possuem árvores nas
maiores e menores classes diamétricas. As menores classes
diamétricas representam as árvores remanescentes e de futura
colheita, enquanto a maiores representam aquelas aptas a
colheita. Apesar disso, das 25 espécies valoradas apenas
Virola melinonii e Aspidosperma desmanthum não tiveram mais da
metade do volume nas classes de DAP ≥ 50 cm.
3.2. Valor monetário da madeira
O número de espécies comerciais e não comerciais foi de
56 e 131 espécies, respectivamente. Mas, restaram apenas 44
espécies após o uso dos critérios legais dos órgãos ambientais
estaduais e federais. Após isso, o número de árvores, área
basal e volume foram de 5,81 árvores ha-1, 2,765 m2 ha-1 e
36,6 m3 ha-1, respectivamente. As espécies que apresentaram
o maior número de árvores aptas à colheita, em ordem
decrescente, foram: A. leiocarpa, M. huberi, H. courbaril, Parkia
multijuga Benth., A. grandiflora, H. serratifolius, Astronium lecointei
Ducke, Hymenaea parvifolia Huber, C. guianensis, V. melinonii e
Dialium guianense (Aubl.) Sandwith, que somam 73,8 % da
receita e volume apto para colheita madeireira (Tabela 3). O
percentual médio de árvores comerciais do estoque de
colheita remanescente após a simulação da colheita foi de
20,3 ± 0,29%, ou seja, o dobro do mínimo exigido pelos
órgãos ambientais. A valoração da floresta produziu uma
receita líquida de R$ 4.047,27 ha-1, para um volume colhido
de 26,6 m3 ha-1.
4. DISCUSSÃO
O inventário florestal apresentou alta precisão,
assegurando que as médias amostrais de volume e área basal
para a comunidade (DAP 10 cm) e estoque de colheita
(DAP 50 cm) foram representativas e próximas à média
paramétrica, pois os erros amostrais estiveram abaixo do
máximo admissível pelos órgãos ambientais, para ambas as
ocasiões. Os 126,0 m3 ha-1 notados para a comunidade está
acima do intervalo de confiança de 114,3 ± 5,8 m3 ha-1
calculado para a sub-região de Baixos Platôs da Amazônia,
mas abaixo do estimado para a sub-região de Altos Platôs dos
Rios Tapajós e Xingu, de 219,9 ± 35,6 m3 ha-1 (Radambrasil,
1976), mostrando que se trata de uma área com média
volumétrica moderadamente alta para o bioma Amazônia. O
volume das árvores com DAP 50 cm (i.e., estoque de
colheita) foi de 69,1 m3 ha-1, aproximadamente 55% do
volume da AMF, evidenciando elevada capacidade produtiva.
Em áreas de colheita madeireira no sudeste da Flona Tapajós,
Andrade et al. (2015) e Silva et al. (2021) encontraram volume
de 80 m3 ha-1 para árvores com DAP ≥ 50 cm.
4.1. Fitossociologia
A AMF mostrou alta riqueza de espécies, registrando, em
média, 30 espécies a mais que outras pesquisas realizadas no
entorno da Flona Tapajós (CORRÊA et al., 2015;
PINHEIRO et al., 2019; RIBEIRO et al., 2013; VIEIRA et
al., 2015). Mas, pesquisas realizadas na Flona Tapajós
registraram riquezas maiores, porém próximas à da AMF
(ANDRADE et al., 2015; SILVA et al., 2021). O elevado
Gama et al.
Nativa, Sinop, v. 10, n. 4, p. 472-476, 2022.
473
número de espécies é provavelmente ocasionado pela alta
ocorrência de espécies raras, ou seja, aquelas com densidade
igual ou menor que uma árvore por hectare. Na área, 72%
das espécies foram consideradas raras. Mas, a raridade de
algumas espécies é apenas local, pois em outras regiões elas
podem ser mais abundantes, conforme verificado para as
espécies Couratari guianensis Aubl., Mezilaurus itauba (Meisn.)
Taub. ex Mez e Lecythis jarana (Huber & Ducke) A. C. Smith,
consideradas localmente raras, mas abundantes no sudeste da
Flona Tapajós (ANDRADE et al., 2015). As discrepâncias na
abundância das espécies entre locais de uma mesma região
são ocasionadas por diversos fatores ambientais, como o
relevo, precipitação, disponibilidade de nutrientes no solo,
entre outros (ANDRADE et al., 2015).
A diversidade está dentro do intervalo de 3,83 a 5,85 nats
ind-1 determinado para florestas tropicais altamente
diversificadas. Esse valor foi provavelmente ocasionado pela
alta heterogeneidade de ambientes inventariados, uma vez
que os conglomerados foram distribuídos sistematicamente
ao longo de quase 36.000 hectares, divididos naturalmente
por condições topográficas e que, possivelmente, apresenta
uma diversidade de estágios sucessionais (ESPÍRITO-
SANTO et al., 2005). Além disso, a alta diversidade está
diretamente relacionada à inexistência de um grupo de
espécies dominantes (i.e., homogeneidade de espécies) e a alta
ocorrência de espécies localmente raras, as quais aumentam a
uniformidade nas proporções de árvores por espécie dentro
da comunidade. O índice de Pielou corrobora essa relação de
uniformidade e diversidade, pois a equabilidade é diretamente
proporcional à diversidade e antagônica à dominância. Os
índices de Shannon-Weaver e Pielou foram compatíveis com
os descritos em outros levantamentos realizados na Flona
Tapajós e entornos (ANDRADE et al., 2015; CORRÊA et
al., 2015; ESPÍRITO-SANTO et al., 2005; PINHEIRO et al.,
2019; RIBEIRO et al., 2013; VIEIRA et al., 2015).
A maioria das espécies apresentaram padrão espacial
agregado ou tendência à agregação, corroborando outras
pesquisas realizadas na Amazônia (Almeida et al., 2012;
Corrêa et al., 2015; Vieira et al., 2015) e a teoria de que as
espécies tropicais preferencialmente distribuem-se de forma
agregada (GUARINO et al., 2014). O alto número de
espécies localmente raras associado à agregação sugere
cautela durante o planejamento e execução de atividades de
colheita, pois a seleção de árvores para cortes muito próximas
umas das outras resultará em maiores impactos na vegetação
remanescente, sobretudo naquelas de maior importância
ecológica e com potenciais madeireiros e não madeireiros
desconhecidos ou pouco explorados como, por exemplo,
Pouteria cladantha Sandwith. Agregações alertam ainda sobre
os possíveis efeitos da seleção aleatória de espécies para a
colheita, pois os padrões espaciais naturais das espécies
devem ser mantidos. Isso porque mudanças de um padrão
agregado para aleatório pode aumentar a distância entre as
árvores e afetar o processo de polinização (MIRON et al.,
2021). A longo prazo, isso poderia afetar a regeneração
natural dessas espécies.
Figura 4. Estrutura diamétrica das 25 espécies madeireiras que foram valoradas na AMF Aveiro, estado do Para.
Figure 4. Diametric structure of the 25 timber species that were valued in FMA Aveiro, Para state.
Tabela 3. Estimativas de colheita e receita líquida considerando as 25 espécies comerciais de maior importância na AMF e uma UPA de
1.000 ha.
Fitossocilogia e potencial madeireiro no Sudeste da Floresta Nacional do Tapajós, estado do Pará
Nativa, Sinop, v. 10, n. 4, p. 472-476, 2022.
474
Table 3. Harvest and net income estimates considering the 25 most important commercial species in the FMA and a APU of 1,000 ha.
Nome científico
NA
VT (m³)
NR
NAC
VC (m³)
Receita (R$)
Apuleia leiocarpa
(Vogel) J.F.Macbr.
536
5164,86
108
428
4131,89
R$ 628.047,27
Manilkara huberi
(Ducke) A.Chev.
406
2174,27
82
324
1739,41
R$ 264.390,70
Hymenaea courbaril
L.
391
4540,00
79
312
3632,00
R$ 552.064,58
Parkia multijuga
Benth.
391
2106,62
79
312
1685,29
R$ 256.164,46
Alexa grandiflora
Ducke
362
2066,96
73
289
1653,57
R$ 251.341,88
Handroanthus serratifolius
(Vahl) S.Grose
319
2631,53
64
255
2105,22
R$ 319.993,93
Astronium lecointei
Ducke
304
1585,11
61
243
1268,09
R$
192.749,16
Hymenaea parvifolia
Huber
246
988,57
50
196
790,86
R$ 120.210,33
Couratari guianensis
Aubl.
188
1938,93
38
150
1551,15
R$ 235.774,22
Virola melinonii
(Benoist) A.C.Sm.
188
899,65
38
150
719,72
R$ 109.398,05
Dialium guianense
(Aubl.) Sandwith
188
465,61
38
150
372,49
R$ 56.618,30
Trattinnickia glaziovii
Swart
174
1002,94
35
139
802,35
R$ 121.957,09
Parkia paraensis
Benth.
159
740,28
32
127
592,22
R$ 90.017,75
Pseudopiptadenia suaveolens
(Miq.) J.W.Grimes
159
713,38
32
127
570,70
R$ 86.747,04
Vataireopsis speciosa
Ducke
145
913,69
29
116
730,95
R$ 111.104,25
Cedrela odorata
L.
145
799,12
29
116
639,30
R$ 97.173,26
Buchenavia capitata
(Vahl) Eichler
116
558,88
24
92
447,11
R$ 67.960,07
Lecythis pisonis
Cambess.
101
735,34
21
80
588,27
R$ 89.417,08
Lecythis jarana
(Huber ex Ducke) A.C.Sm.
101
689,91
21
80
551,93
R$ 83.893,39
Goupia glabra
Aubl.
101
451,41
21
80
361,13
R$ 54.891,50
Aspidosperma desmanthum
Benth. ex Müll.Arg.
101
385,82
21
80
308,66
R$
46.915,64
Mezilaurus itauba
(Meisn.) Taub. ex Mez
87
636,56
18
69
509,25
R$ 77.405,83
Terminalia dichotoma
G.Mey.
87
515,46
18
69
412,37
R$ 62.679,86
Enterolobium schomburgkii
(Benth.) Benth.
72
324,32
15
57
259,45
R$ 39.436,83
Peltogyne
paraensis
Huber
58
254,28
12
46
203,42
R$ 30.919,92
Total
5130
33283,49
1038
4092
26626,79
R$ 4.047.272,38
em que: NA = número total de árvores aptas para a colheita; VT = volume total, em m3; NR = número de árvores remanescentes; NC = número de árvores
selecionadas para colheita; e VC = volume colhido, em m3.
Estruturalmente, a AMF é formada principalmente por
espécies que não possuem valor de mercado. Entre as 25
espécies mais importantes, apenas oito apresentaram
mercado regional, nacional e/ou internacional. As cinco mais
importante, Pouteria cladantha, Inga alba, Brosimum guianense,
Protium paraense e Eschweilera grandiflora não possuem valor de
mercado, mas são frequentemente citadas entre as mais
importantes em outras pesquisas na Flona Tapajós e
entornos (ANDRADE et al., 2015; CORRÊA et al., 2015;
RIBEIRO et al., 2013; SILVA et al., 2021; VIEIRA et al.,
2015). Mas, ressalta-se que, embora essas espécies não
possuam valor de mercado, elas desempenham papéis
fundamentais do ponto de vista da conservação, pois as
primeiras posições sugerem que essas espécies exercem
funções-chave dentro do ecossistema (Pinheiro et al., 2007),
além do que a médio e longo prazo os estudos tecnológicos
e consequentes mudanças no mercado podem considerá-las
comercializáveis nacional e/ou internacionalmente
(ALMEIDA et al., 2012).
A área apresentou ainda uma estrutura diamétrica típica
de florestas tropicais inequiâneas, J-invertido, indicando um
balanço entre o recrutamento e mortalidade das árvores
(Vieira et al., 2015). Mas, esse comportamento não foi
presente nas 25 espécies madeireiras comercializáveis (Figura
4). Isso mostra que algumas espécies possuem menor
capacidade de estabelecimento que outras, provavelmente
ocasionados por fatores naturais (e.g., competição e
condições edafoclimáticas). Logo, a inclusão dessas espécies
na lista de espécies aptas à comercialização na AMF deve ser
realizada com cautela, para evitar seu colapso demográfico
localmente. Couratari guianensis, Cedrela odorata, Goupia glabra,
Lecythis pisonis, Peltogyne paraensis e Terminalia dichotoma são as
principais espécies que se enquadram nessa ocasião, pois
possuem poucas ou nenhuma árvore nas classes diamétricas
menores e maiores.
4.2. Valor monetário
Apesar da maioria das espécies mais importantes
ecologicamente não possuírem valor de mercado comerciais
(Tabela 2), foi possível obter uma receita líquida de R$
4.047,27 ha-1 a partir das 25 espécies de maior importância e
com valor comercial (Tabela 3). Esse valor é duas vezes maior
que os encontrados em sítios no planalto do Baixo Tapajós
(Silva et al., 2021) e em áreas de várzea no norte do estado do
Pará (Bentes-Gama et al., 2002) que realizaram colheitas
madeireiras. A receita pode ser maior se levado em
consideração as outras espécies que não se situaram entre as
25 espécies comerciais de maior importância, mas que
apresentam quantidade de árvores que justifiquem sua
colheita (e.g. Hymenolobium petraeum Ducke, Dipteryx odorata
(Aubl.) Willd. e Pouteria bilocularis (H.K.A.Winkl.) Baehni).
O aproveitamento de resíduos florestais madeireiros e,
principalmente, a coleta de produtos florestais não
madeireiros (PFNM) seriam formas de aumentar a receita e
viabilizar mais ainda as ações de manejo florestal na AMF
Aveiro. Isso porque espécies não madeireiras como Carapa
guianensis e Bertholletia excelsa estão entre as quinze mais
importantes na estrutura da floresta e possuem mercados
regional, nacional e internacional consolidados (Tabela 2). Os
ganhos com PFNM seriam anuais e dependeriam da
produção anual, que normalmente oscila em função da
espécie e condições edafoclimáticas. A combinação de
PFNM com produtos madeireiros no sistema econômico
permitiria a silvicultores, comunidades locais e aos gestores
políticos escolher a alternativas de manejo que permitissem
melhor aproveitamento de madeira, PFNM e benefícios
ambientais (SILVA et al., 2021).
Diante do cenário avaliado, a área possui potencial para
colheita madeireira, tornando-se um estímulo ao
investimento na atividade madeireira, principalmente por
parte das grandes e médias empresas. Mas, é importante que
Gama et al.
Nativa, Sinop, v. 10, n. 4, p. 472-476, 2022.
475
durante a execução do manejo florestal sejam tomados alguns
cuidados, principalmente no que se refere à distribuição
espacial e estrutura diamétrica de espécies de interesse
comercial, a saber: Enterolobium schomburgkii, Terminalia
dichotoma, Goupia glabra, Hymenaea courbaril, Peltogyne paraensis e
Lecythis pisonis. Alterar demasiadamente o comportamento
espacial e diamétrico dessas e outras espécies pode, a médio
e longo prazo, afetar o estabelecimento dessas espécies na
comunidade. Naturalmente, essas espécies apresentaram
poucas árvores nas classes diamétricas menores, mostrando
que provavelmente possuem dificuldades para o
estabelecimento de novas árvores. É importante que a
seleção de árvores para colheita também considere essas
características.
5. CONCLUSÕES
A área apresenta aptidão para atividades de exploração
madeireira. Os indicativos dessa aptidão foram o grande
estoque volumétrico de espécies comerciais acima do
diâmetro mínimo de colheita, elevada riqueza e diversidade
florística, alta abundância de espécies comerciais com ótima
qualidade de fuste e, principalmente, a receita líquida
potencial de R$ 4.047,27 ha-1.
6. AGRADECIMENTOS
À Cooperativa Mista da Floresta Nacional do Tapajós
pelo financiamento do inventário amostral. À Universidade
Federal do Oeste do Pará pela cessão de técnicos e
pesquisadores para apoiar a realização do inventário
amostral. Ao Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade pela autorização para a realização de
pesquisas científicas.
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