
Silva et al.
Nativa, Sinop, v. 10, n. 3, p. 387-390, 2022.
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Figura 2. Notas de avaliação das iscas de peroba rosa, submetidas a
diferentes tratamentos e expostas ao ataque de cupins subterrâneos,
durante doze meses. Nota: 1 - Sem sinal de ataque, nem presença de
cupim; 2 - Ataque superficial sem cupins; 3 - Ataque superficial com
cupins; 4 - Ataque e formação de galerias e 5 - Ataque, formação de
galerias e diminuição do tamanho da estaca.
Figure 2. Evaluation notes of baits of peroba rosa, submitted to
different treatments and exposed to the attack of subterranean
termites, during twelve months. Note: 1 - No sign of attack, nor
presence of termite; 2 - Surface attack without termites; 3 - Surface
attack with termites; 4 - Attack and formation of galleries and 5 -
Attack, formation of galleries and decrease in the size of the pile.
4. DISCUSSÃO
O ataque de cupins se mostrou mais intenso nos últimos
meses do experimento. Santos et al. (2010) observou em seu
trabalho que o ataque de cupins subterrâneos às estacas
começou logo no primeiro mês e se intensificou após o
quarto mês de exposição das estacas, atingindo o pico de
ataque entre 10 e 12 meses. De acordo com o autor o tempo
de exposição das estacas pode ser prolongado em lugares que
apresentem condições de baixa luminosidade e alta
disponibilidade matéria orgânica sobre o solo. Condições
estas evidenciadas neste trabalho, uma vez que o experimento
se deu em ambiente de floresta amazônica, local com grande
concentração de serrapilheira.
As diferenças entre os tratamentos foram
estatisticamente significativas (p= 0.003 F = 8.96). O ataque
às estacas de madeira de peroba rosa pelos cupins
subterrâneos diferiu entre o tratamento controle e o
tratamento com imersão em água destilada (p< 0.01) e
tratamento com licor pirolenhoso (p< 0.01), assim como
também entre o tratamento com licor e o tratamento com
água destilada (p< 0.002). Deste modo pode-se constatar que
o tratamento com o licor pirolenhoso diferiu
significativamente dos outros dois tratamentos, inferindo-se
assim o seu efeito biocida retardante para o ataque de cupins
subterrâneos.
Outros estudos mostram o licor pirolenhoso sendo
estudado em diversas áreas e para diferentes aplicações.
Salvato et al. (2007) demonstraram efeito biocida do licor
pirolenhoso, sendo eficaz no controle biológico do caramujo
da espécie Lamellaxis gracilis. Em outros estudos, foram
demonstrados efeitos do licor na redução da população do
Bicho Mineiro (Perileucoptera coffeella) e o comportamento do
fungo da ferrugem (Hemileia vastatrix).
Já, o estudo de Souza-Silva et al. (2005) mostrou que
baixas concentrações de licor pirolenhoso não provocaram
inibição clara do forrageamento de Atta sexdens rubropilosa em
mudas de eucalipto, tratadas via pulverização e imersão.
Bogorni et al. (2008) concluíram que o ácido pirolenhoso
proveniente das três espécies arbóreas por eles avaliadas, não
afeta o desenvolvimento, a alimentação e a oviposição da
Traça-do-tomateiro (Tuta absoluta).
A separação dos extratos pode concentrar frações mais
tóxicas do licor, o que justificaria os resultados obtidos no
controle de bactérias. Já, a pesquisa realizada por Almeida et
al. (2017) detectou propriedades conservantes de uma
composição obtida a partir do processamento do extrato
pirolenhoso da madeira de eucalipto para uso na indústria de
cosméticos.
Segundo o anuário da Indústria Brasileira de Árvores
(2021), o Brasil se destaca economicamente na produção de
carvão vegetal para cadeia produtiva do setor siderúrgico. No
entanto, quando se trata de produção de carvão com espécies
nativas existe pouco investimento em tecnologias de
produção, o que tem trazido impactos ecológicos e sociais.
Com a exploração de outros produtos, o Brasil, um dos
maiores produtores de carvão vegetal do mundo, pode
aumentar seu potencial e otimizar a produção mediante o
aproveitamento dos gases do processo na forma de
coprodutos. A utilização de um produto natural não
poluente, obtido pela condensação da fumaça da queima da
madeira, é uma alternativa renovável e ambientalmente
correta para o controle de agentes biológicos no manejo da
agricultura, trazendo para o produtor diminuição dos custos
e ganho de produtividade.
5. CONCLUSÕES
Os dados obtidos permitem indicar o efeito repelente do
licor pirolenhoso para retardar o ataque de cupins à madeira
de peroba rosa. Entretanto, um período de avaliação maior,
superior a 12 meses, é necessário para a determinação da
eficácia do licor como conservador da madeira de peroba
rosa.
6. REFERENCIAS
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