Nativa, Sinop, v. 10, n. 3, p. 327-332, 2022.
Pesquisas Agrárias e Ambientais
DOI: https://doi.org/10.31413/nativa.v10i3.13669 ISSN: 2318-7670
Heterotermes tenuis
(Hagen) (Blattodea: Rhinotermitidae): principal térmita
associado a espécies florestais, em campo de apodrecimento de madeiras,
em Rio Branco, Acre, Brasil
Rodrigo Souza SANTOS1*
1Embrapa Acre, Rio Branco, AC, Brasil.
E-mail: rodrigo.s.santos@embrapa.br
ORCID: (0000-0002-0879-0049)
Submetido em 11/04/2022; Aceito em 13/07/2022; Publicado em 19/08/2022.
RESUMO: O objetivo deste trabalho é reportar a principal espécie de térmita associadas à deterioração de
espécies madeireiras, nas condições edafoclimáticas de Rio Branco, AC. Foi instalado um campo de
apodrecimento no campo experimental da Embrapa Acre (10º01’30,7” S; 67º42’23,6” O) onde foram dispostos
463 corpos de prova (estacas de 5 x 5 x 50 cm) sem tratamento químico, de 36 espécies florestais amazônicas.
Os corpos de prova foram dispostos em linhas, com espaçamento de 2,5 x e 1,0 m e enterrados no solo a 25
cm de profundidade. O estudo foi conduzido no período de agosto de 2015 a novembro de 2017, com
avaliações trimestrais. A partir da visualização de cupins nos corpos de prova (parte aérea e subterrânea), os
mesmos eram coletados, conservados em álcool etílico (80%) e identificados ao menor nível taxonômico
possível. Esse trabalho enfoca dados relacionados a Heterotermes tenuis (Hagen), a principal espécie de cupim,
encontrada em 91,6% das espécies presentes no campo de apodrecimento. Apenas os corpos de prova de
canelão (Aniba canelilla), freijó (Cordia trichotoma) e imbiridiba-amarela (Terminalia amazonica) não foram infestadas
por H. tenuis. Proporcionalmente à quantidade de estacas, o cedro-rosa (Cedrela odorata) e o angelim-da-mata
(Hymenolobium petraeum) foram as espécies madeireiras mais e menos atacadas por H. tenuis, respectivamente.
Palavras-chave: Amazônia; biodeterioração; Isoptera; inseto xilófago.
Heterotermes tenuis
(HAGEN) (BLATTODEA: RHINOTERMITIDAE):
main termite associated with forest species, in decay field in Rio Branco,
Acre state, Brazil
ABSTRACT: The aim of this work is to report the main termite species associated with the deterioration of
wood species, in the edaphoclimatic conditions of Rio Branco, Acre state, Brazil. A rotting field was installed
in the experimental field of Embrapa Acre (10º01'30.7S; 67º42'23.6” W) where 463 specimens were placed (5
x 5 x 50 cm piles) without chemical treatment, of 36 Amazonian forest species. The specimens were arranged
in lines, with a spacing of 2.5 x and 1.0 m and buried in the ground at a depth of 25 cm. The study was carried
out from August 2015 to November 2017, with quarterly evaluations. From the visualization of termites in the
specimens (aerial and underground), they were collected, preserved in ethyl alcohol (80%) and identified at the
lowest possible taxonomic level. This work focuses on data related to Heterotermes tenuis (Hagen), the main
termite species, found in 91.6% of the species present in the decay field. Only canelão (Aniba canelilla), freijó
(Cordia trichotoma), and imbiridiba-amarela (Terminalia amazonica) specimens were not infested by H. tenuis. In
proportion to the number of cuttings, cedro-rosa (Cedrela odorata), and angelim-da-mata (Hymenolobium petraeum)
were the wood species most and least attacked by H. tenuis, respectively.
Keywords: Amazon; biodeterioration; Isoptera; xylophagous insect.
1. INTRODUÇÃO
A Floresta Amazônica apresenta elevada importância
econômica, sendo uma grande fonte de renda para os
habitantes da Região Norte, especialmente pelo extrativismo
de produtos florestais madeireiros e não-madeireiros (RIST
et al., 2012; PARÁ, 2015). Nos estados da Amazônia, a
extração e o processamento industrial de madeira estão entre
as principais atividades econômicas, ao lado da mineração
industrial e da agropecuária (LENTINI et al., 2011). No
entanto, a superexploração de determinadas espécies
madeireiras pode resultar em uma brusca queda na
abundância ou até na extinção de espécies (REIS et al., 2019).
Pesquisas no setor florestal devem contribuir na
indicação de madeiras comerciais, evitando o uso
indiscriminado de espécies que são raras na natureza. Esta
prática reduz o perigo de extinção das espécies que são
atualmente mais procuradas na Floresta Amazônica, além de
favorecer o manejo florestal (ADEODATO et al., 2011).
Uma alternativa economicamente viável para este problema
tem sido a utilização de madeiras de rápido crescimento
oriundas de reflorestamentos, as quais devidamente tratadas,
podem apresentar vida útil em serviço igual ou superior às
madeiras de lei (madeiras com alta durabilidade, resistência e
de alto valor comercial) (GERALDO, 2002).
Heterotermes tenuis (Hagen) (Blattodea: Rhinotermitidae): principal térmita associado a espécies florestais ...
Nativa, Sinop, v. 10, n. 3, p. 327-332, 2022.
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Segundo Trevisan et al. (2007), os estudos que pretendem
avaliar a degradação da madeira devem envolver áreas
multidisciplinares, de forma que o processo de degradação
seja compreendido de forma holística, gerando uma base de
dados sobre o comportamento dos agentes degradadores
envolvidos, as interações ecológicas entre eles e com a
espécie madeireira estudada. A elucidação desses processos
pode nortear o uso desse material, no sentido da escolha de
madeiras apropriadas a cada ambiente, evitando o
desperdício ocasionado pelo colapso de estruturas
construídas com madeiras inadequadas (TREVISAN et al.,
2008), especialmente pelo aumento considerável do uso de
madeiras em ambientes com contato ao solo, tais como
casas, galpões e cercas (ŽLAHTIČ; HUMAR, 2017).
A baixa durabilidade natural é o principal fator que limita
o uso de espécies madeireiras em vários segmentos. A
resistência das madeiras às condições bióticas e abióticas (e.g.
umidade, temperatura, baixa resistência natural e ocorrência
de organismos xilófagos) determinará seu uso, em função de
sua aplicação (ARAUJO et al., 2012). Os agentes bióticos são
os mais expressivos, agressivos e de maior importância
econômica no processo de biodeterioração da madeira
(RODRIGUES; BRITO, 2011). Dentre os organismos
xilófagos (bactérias, fungos e insetos) comumente associados
às madeiras e causadores de sua degradação, destacam-se os
insetos das ordens Hymenoptera, Coleoptera e subordem
Isoptera, além de fungos do filo Basidiomycota (CORASSA
et al., 2014). Considerando ainda os agentes bióticos, os
cupins ou térmitas são os principais insetos deterioradores da
madeira (PAES; VITAL, 2000).
Os ensaios de deterioração em campo expõem a madeira
ao solo, às intempéries climáticas e aos organismos xilófagos,
reproduzindo a situação real de uso da madeira, sendo
possível compreender o desempenho das espécies em
diferentes ambientes (PAES et al., 2013).
Nesse contexto, o objetivo deste trabalho foi reportar a
principal espécie de cupim associada a espécies madeireiras
amazônicas, nas condições edafoclimáticas de Rio Branco,
AC.
2. MATERIAL E MÉTODOS
O ensaio foi realizado em um campo de apodrecimento
de madeiras (Figura 1A), localizado na Embrapa Acre
(10º01’30,7” S; 67º42’23,6” O), município de Rio Branco,
AC, conduzido no período de agosto de 2015 a novembro de
2017, totalizando 1,5 ano desde a sua implantação em junho
de 2015. A área total do campo de apodrecimento
correspondeu a 1.157 m2.
O clima da região é do tipo Aw (Köppen), tipicamente
tropical, quente e úmido, composto de estações de seca
(junho a setembro) e de chuva (dezembro a abril) bem
definidas. As temperaturas médias mínimas e máximas
variam de 23,8 ºC a 26,4 ºC, respectivamente. A pluviosidade
média anual situa-se na faixa de 2.022 mm, com umidade
entre 80,7% (estação seca) a 87,4% (estação chuvosa). A
incidência de luz solar é abundante e a vegetação existente é
basicamente constituída por gramíneas forrageiras e a
cobertura original, a floresta tropical primária densa
semiperenifólia amazônica (DUARTE, 2006; SOUZA,
2020).
Figura 1. Campo de apodrecimento de madeiras em Rio Branco,
Acre (A) e estaca identificada em detalhe (B).
Figure 1. Decay field in Rio Branco, Acre state, Brazil (A), and
identified stake in detail (B).
Foram avaliados 463 corpos de prova identificados
(estacas de 5 x 5 x 50 cm) de 36 espécies florestais
amazônicas, dispostos aleatoriamente em linhas com
espaçamento de 2,5 m entre linhas e 1,0 m entre as estacas.
As mesmas foram enterradas a 25 cm de profundidade no
solo (Figura 1B). Os corpos de prova foram obtidos a partir
do cerne da madeira, sem partes de alburno e não passaram
por nenhum tipo de tratamento químico preventivo ao
ataque de organismos xilófagos. As espécies florestais, bem
como suas respectivas quantidades de estacadas, podem ser
visualizadas na Tabela 1.
As avaliações foram trimestrais, totalizando 10 avaliações
durante o período do estudo. Dois dias antes de cada
avaliação era realizada limpeza no campo de apodrecimento,
com uso de roçadeira manual.
A maior parte das madeiras utilizadas no experimento foi
obtida na área de Reserva Legal da Embrapa Acre, por meio
de aproveitamento (autorizado pelo órgão ambiental local) de
árvores caídas e desvitalizadas. Outra parte foi obtida por
doação de uma empresa madeireira local do seu pátio de
estocagem de toras. A quantidade de estacas por espécie
madeireira não foi uniforme, pois dependeu dessa
disponibilidade.
Para certificar a identificação botânica taxonômica das
espécies do estudo foram enviadas amostras para
laboratórios especializados (Laboratório de Produtos
Florestais LPF/SFB/MMA, Brasília, DF; Laboratório de
Anatomia e Identificação de Madeiras INPA/MCTIC,
Manaus, AM e Laboratório da Fundação de Tecnologia do
Acre FUNTAC, Rio Branco, AC), os quais emitiram os
respectivos laudos de identificação.
Em cada avaliação os corpos de prova eram
desenterrados, sendo avaliada a presença de organismos
xilófagos nas partes subterrânea e aérea de cada um deles. A
partir da constatação de cupins nos corpos de prova, esses
eram coletados com pinça e/ou aspirador entomológico e
conservados em frascos de vidro contendo álcool etílico a
80%. O material foi transportado até o Laboratório de
Entomologia da Embrapa Acre, onde era triado.
Posteriormente, todos os cupins coletados foram enviados ao
taxonomista Dr. Reginaldo Constantino (Universidade de
Brasília, UnB, Brasília, DF), a fim de serem identificados ao
menor nível taxonômico possível, com utilização de literatura
especializada e sob microscópio estereoscópio.
Santos
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Tabela 1. Espécies florestais madeireiras componentes do campo de apodrecimento implantado em junho de 2015 em Rio Branco, Acre.
Table 1. Timber forest species components of the decay field implemented in June 2015 in Rio Branco, Acre state, Brazil.
Nome vernacular
Nome científico
Quantidade de estacas
Andiroba
guianensis
Aubl.
21
Abiurana
-
preta
Planchonella oblanceolata
Pires
08
Amarelão
Aspidosperma vargasii
A. DC.
18
Angelim
-
da
-
mata
Hymenolobium petraeum
Ducke
08
Aroeira
Astronium lecointei
Ducke
23
Bálsamo
Myroxylon balsamum
(L.) Harms
31
Breu
-
vermelho
Tetragastris panamensis
(Engl.) O. Kuntze.
21
Castanheira
Bertholletia excelsa
Bonpl.
04
Cedro
-
rosa
Cedrela odorata
L.
20
Cerejeira
Amburana acreana
(Ducke) A. C. Sm.
24
Canelão
Aniba canelilla
(Kunth) Mez.
04
Copaíba I
Copaifera duckei
Dwyer
04
Copaíba II
Copaifera multijuga
Hayne
04
Copaíba III
Copaifera reticulata
Ducke
04
Cumaru
-
ferro
Dipteryx odorata
(Aubl.) Willd.
04
Cumaru
-
cetim
Apuleia leiocarpa
(Vogel) J. J. Macbr.
12
Freijó
Cordia trichotoma
(Vell.) Arrab.
ex
Steud.
04
Fava orelhinha
Enterolobium schomburgkii
(Benth.) Benth.
04
Guariúba
Clarisia racemosa
Ruiz & Pav.
10
Guaribeiro
Barnebydendron riedelii
(Tul.) J. H. Kirkbr.
16
Ibiridiba
-
amarela
Terminalia amazonica
(J. F. Gmel.) Exell
04
Ipê
-
roxo
Handroanthus serratifolius
(Vahl) S. Grose
20
Jutaí
Hymenaea courbaril
L.
13
Louro
-
itaúba
Nectandra
sp.
10
Manitê
Brosimum alicastrum
Sw.
16
Maçaranduba I
Manikara huberi
(Ducke) A. Chev.
29
Maçaranduba II
Manikara bidentata
(A. DC.) A. Chev.
04
Matamatá
Allantoma
sp.
16
Marupá
-
preto
Jacandra copaia
(Aubl.) D. Don.
04
Mulateiro
Calycophyllum spruceanum
(Benth.) K. Schum.
05
Mulungu duro
Erythrina poeppigiana
(Walp.) O. F. Cook.
14
Pororoca
Dialium guianense
(Aubl.)
Sandwith
22
Samaúma
Ceiba pentrana
(L.) Gaertn.
08
Sucupira
-
preta
Diplotropis purpurea
(Rich.) Amshoff
04
Tauarí
Couratari pulchra
Sandwith
20
Violeta
Martiodendron elatum
(Ducke) Gleason
25
Total
463
3. RESULTADOS
Foram identificadas 11 espécies de cupins nas
amostragens realizadas. No entanto, este trabalho enfatiza
Heterotermes tenuis (Hagen) (Blattodea: Rhinotermitidae:
Heterotermitinae), a qual foi a espécie mais prevalente no
campo de apodrecimento, ocorrendo em 91,6% das espécies
madeireiras presentes nessa área e, ocorrente em 90% das
avaliações realizadas.
No campo de apodrecimento, H. tenuis ocorreu desde a
primeira avaliação (agosto de 2015) até a penúltima (agosto
de 2017), somente não sendo encontrado na última
(novembro de 2017) (Tabela 2). Durante o período de
estudo, H. tenuis foi constatada na parte exposta (60%) e
subterrânea (90%) dos corpos de prova.
Com exceção do canelão, freijó e imbiridiba-amarela, as
demais espécies madeireiras foram atacadas por H. tenuis
(Tabela 2). Embora cada uma dessas espécies não infestadas
tivesse apenas quatro corpos de prova no campo de
apodrecimento, outras madeiras com a mesma quantidade de
amostras (copaíba I, copaíba II, copaíba III, cumaru-ferro,
fava orelhinha, maçaranduba II, marupá-preto e sucupira-
preta) foram infestadas por H. tenuis.
Nas espécies madeireiras infestadas por H. tenuis no
campo de apodrecimento, a ocorrência desse cupim variou
de: sem ocorrência (10ª avaliação novembro de 2017) a 25
ocorrências (7ª avaliação fevereiro de 2017), o que
correspondeu a 69,4% do total das espécies na área, nessa
avaliação (Tabela 2). Quanto à prevalência desse térmita por
espécie madeireira, houve variação de apenas uma ocorrência
(cedro-rosa, copaíba I, cumaru-ferro e samaúma) a oito
ocorrências (amarelão, angelim-da-mata, jutaí e violeta).
Proporcionalmente à quantidade de estacas, o cedro-rosa (20
estacas) e o angelim-da-mata (8), foram as espécies
madeireiras com menor e maior ocorrência de H. tenuis.
A concentração da infestação de H. tenuis nas espécies
madeireiras na área experimental ocorreu entre a terceira
(fevereiro de 2016 - 19 ocorrências) e quarta avaliação (maio
de 2016 - 23 ocorrências), indicando que a maioria dessas
espécies foram susceptíveis ao ataque do inseto e
apresentaram elevado grau de deterioração, logo após os 10
primeiros meses a partir da implantação do campo de
apodrecimento.
4. DISCUSSÃO
Heterotermes tenuis é a espécie de cupim mais amplamente
distribuída na região Tropical, ocorrendo desde o sul do
México até o norte da Argentina, além das Antilhas e
Bahamas (CONSTANTINO, 1998).
Em estudo de durabilidade de madeiras realizado por
Corassa et al. (2014), em Sinop - MT, H. tenuis foi a espécie
de cupim de maior ocorrência, registrado em quatro, das
cinco espécies de madeiras presentes no campo de
Heterotermes tenuis (Hagen) (Blattodea: Rhinotermitidae): principal térmita associado a espécies florestais ...
Nativa, Sinop, v. 10, n. 3, p. 327-332, 2022.
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apodrecimento. Em estudo realizado por Abreu e Jesus
(2004) em ambiente florestal, H. tenuis estava entre as espécies
pioneiras de térmitas a infestar e deteriorar discos retirados
do estipe de pupunheira (Bactris gasipaes Kunth, Arecaceae).
Tabela 2. Ocorrência de Heterotermes tenuis em corpos de prova de 36 espécies madeireiras, em campo de apodrecimento, no período de
agosto de 2015 a novembro de 2017. Rio Branco, AC.
Table 2. Occurrence of Heterotermes tenuis in specimens of 36 wood species, in a decay field, from August 2015 to November 2017. Rio
Branco, Acre state, Brazil.
Espécie madeireira (nome
vernacular)
Avaliações no campo de apodrecimento
ago.
2015
nov.
2015
fev.
2016
mai.
2016
ago.
2016
nov.
2016
fev.
2017
mai.
2017
ago.
2017
10ª
nov.
2017
Amarelão
Angelim
-
da
-
mata
Jutaí
Violeta
Cerejeira
Guaribeiro
Matamatá
Andiroba
Maçaranduba I
Mulungu duro
Aroeira
Louro itaúba
Abiurana
-
preta
Bálsamo
Copaíba III
Manitê
Copaíba II
Guariúba
Ipê
-
roxo
Maçaranduba II
Marupá
-
preto
Mulateiro
Sucupira
-
preta
Tauarí
Breu
-
vermelho
Castanheira
Cumaru
-
cetim
Fava orelhinha
Pororoca
Cedro
-
rosa
Copaíba I
Cumaru
-
ferro
Samaúma
Canelão
Freijó
Imbiridiba
-
amarela
Essa espécie é frequentemente encontrada nos solos da
Amazônia (ACIOLI, 2018). Trata-se de um cupim nativo, de
pequeno porte (3 a 6 mm de comprimento) de hábito
subterrâneo (críptico) e que apresenta soldados dimórficos
(CAMARGO-DIETRICH; COSTA-LEONARDO, 2000;
COSTA-LEONARDO, 2002; PEROZO; ISSA, 2006). Essa
espécie foi relatada associada a castanheira (Bertholletia
excelsa Bonpl., Lecythidaceae), eucalipto (Eucalyptus spp.,
Myrtaceae), teca (Tectona grandis L. f., Lamiaceae), dendezeiro
(Elaeis guineensis Jacq., Arecaceae), mandioca (Manihot esculenta
Crantz, Euphorbiaceae), milho (Zea mays L., Poaceae), cana-
de-açúcar (Saccharum spp., Poaceae), pupunheira e também
consumindo jornais e livros em ambientes urbanos
(ARAÚJO, 1958; BANDEIRA, 1981; PIZANO; FONTES,
1986; MILL, 1991; CAMARGO-DIETRICH; COSTA-
LEONARDO, 2000; ABREU; JESUS, 2004; PERES-
FILHO et al., 2006; ACIOLI, 2018; SILVA et al., 2020). Esse
cupim o constrói ninhos claramente visíveis e
individualizados, mas pode ser encontrado em ninhos
abandonados de outras espécies (BANDEIRA, 1985).
Quanto à distribuição geográfica de H. tenuis no Brasil,
essa espécie foi registrada nos estados do Amapá, Acre,
Amazonas, Rondônia, Maranhão, Bahia, Pará, Goiás, Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo e
Distrito Federal, ocorrendo tanto em ambientes agrícolas
quanto urbanos e, em madeiras com certo grau de
decomposição (BERTI FILHO, 1993; CHAVES, 2013;
CONSTANTINO, 2014).
No campo de apodrecimento, a diminuição da ocorrência
do inseto na área, de agosto a novembro de 2017,
provavelmente seja devido às madeiras não estarem propícias
como alimento ao inseto, por apresentarem acentuado grau
de deterioração (Figura 2) nas duas últimas avaliações.
Ademais, houve uma diminuição na quantidade de estacas
presentes no campo de apodrecimento pois, durante o
período, algumas foram totalmente consumidas.
A constatação de espécies madeireiras não infestadas por
H. tenuis (canelão, freijó e imbiridiba-amarela) pode indicar
graus de resistência (química e/ou física) ao ataque do inseto.
Dentre os fatores envolvidos no ataque de cupins às espécies
Santos
Nativa, Sinop, v. 10, n. 3, p. 327-332, 2022.
331
madeireiras, a diferença da massa específica e o teor de
extrativos tóxicos presentes no lenho das árvores são fatores
determinantes para a colonização dos organismos xilófagos
(ABREU; SILVA, 2000; PAES et al., 2016). A diferença na
quantidade de corpos de prova e a sua localização no campo
de apodrecimento (área de escape), também são outros
fatores que podem estar envolvidos na diferença do ataque
de H. tenuis entre as espécies madeireiras.
Figura 2. Aspecto de corpo de prova com elevado grau de
deterioração causado por Heterotermes tenuis.
Figure 2. Aspect of a specimen with a high degree of deterioration
caused by Heterotermes tenuis.
O fato de as madeiras apresentarem acelerado grau de
deterioração após 10 meses da implantação do campo de
apodrecimento, reitera a necessidade da realização de
tratamento preventivo contra agentes bióticos e abióticos aos
quais essas madeiras estarão submetidas em condições de
campo.
Com relação a métodos de controle de H. tenuis, o estudo
conduzido por Almeida et al. (1998) em Rio Claro, SP,
demonstrou que iscas Termitrap® impregnadas com
Imidacloprid associado ao fungo Beauveria bassiana (Balsamo)
Vuillemim foram eficientes no controle desse cupim em
cana-de-açúcar. No entanto, no caso de madeiras
provenientes de árvores recém-abatidas, que ficarão em
contato com o solo e sob a ação de organismos xilófagos, um
método eficiente e comumente empregado para a proteção,
é a substituição da seiva (transpiração radial), com o uso de
Borato de Cobre Cromatado (CCB) (OLIVEIRA; PINTO,
2010; ARAUJO et al., 2012).
Com base nos resultados obtidos neste trabalho,
especialmente pela alta susceptibilidade da maioria das
espécies madeireiras estudadas ao ataque de H. tenuis, novos
estudos são recomendados, principalmente àqueles
referentes aos extrativos tóxicos e à massa específica das
espécies estudadas, a fim de que haja indicação,
recomendação e manejo sustentável daquelas que apresentem
maior durabilidade, as quais possam ser recomendadas para
usos na Região Amazônica.
5. CONCLUSÕES
A principal espécie de cupim, ocorrente em 91,6% das
espécies madeireiras no campo de apodrecimento, foi
Heterotermes tenuis.
Proporcionalmente à quantidade de estacas, o cedro-rosa
(Cedrela odorata) e o angelim-da-mata (Hymenolobium petraeum)
foram as espécies madeireiras mais e menos atacadas por H.
tenuis, respectivamente.
O canelão (Aniba canelilla), o freijó (Cordia trichotoma) e a
imbiridiba-amarela (Terminalia amazonica) não foram
infestadas por H. tenuis, sendo as madeiras indicadas para
utilização em condições de campo.
A maioria das espécies madeireiras estudadas foram
susceptíveis ao ataque de H. tenuis, não sendo recomendadas
para uso em condições de campo sem tratamento preventivo
adequado.
6. AGRADECIMENTOS
Aos laboratórios que realizaram a identificação botânica
das espécies madeireiras utilizadas nesse trabalho. Aos
funcionários do campo experimental da Embrapa Acre pelo
apoio logístico. Às bolsistas PIBIC-CNPq da Embrapa Acre,
Adriana da Silva Vasconcelos e Tatyane da Silva Azevedo
pelo auxílio na coleta de dados em campo.
7. REFERÊNCIAS
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estipe de pupunha (Bactris gasipaes Kunth, Arecaceae) II:
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