Kochenborger et al.
Nativa, Sinop, v. 11, n. 1, p. 82-89, 2023.
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principalmente em fase reprodutiva, evidenciando assim a
necessidade da adubação suplementar.
Segundo Boote et al. (1978), a aplicação foliar de
nutrientes na soja aumenta os teores foliares destes,
aumentando a taxa fotossintética, principalmente na fase de
senescência. Entretanto, os resultados na produtividade não
são consistentes. Estudos envolvendo doses e épocas de
aplicação de N via foliar são importantes, pois pode haver
benefício, mas essa prática também pode trazer problemas ao
desenvolvimento da planta em caso de fitotoxidez causada
pelo fertilizante nitrogenado, ocasionada por seu acúmulo
nos tecidos foliares.
Segundo Rosolem; Boaretto (1989), a ocorrência de
fitotoxidez devido à aplicação de N foliar poder ser
minimizada com a escolha da fonte do nutriente, da ponta de
pulverização e do volume de calda, assim como o horário de
aplicação. Quanto à fonte, a ureia desperta grande interesse,
pois apresenta alta concentração de N e baixo custo por
quilograma deste nutriente quando comparada aos demais
fertilizantes nitrogenados.
A ureia nas plantas pode ser proveniente de diversas
fontes, como a absorção direta ou gerada como subproduto
da síntese de poliaminas (KUSANO et al., 2007) ou, ainda,
pode ser sintetizada durante a degradação de aminoácidos
(TODD et al., 2006), sendo o N um dos nutrientes que
primeiramente é redistribuído para os grãos a fim de suportar
seu desenvolvimento (MARSCHNER, 2012). A eficiência do
fornecimento de N está relacionada à alta assimilação desse
nutriente pelas plantas, como também está relacionada à
hidrólise da ureia na planta, a qual é mediada pela presença
do Ni.
O Ni teve sua essencialidade comprovada por Dixon et
al. (1975), Eskew et al. (1983, 1984) e Brown et al. (1987).
Esse elemento faz parte da urease, uma enzima que catalisa a
hidrólise das moléculas de ureia em NH3 e CO2, o que afeta
diretamente a eficiência da utilização do N foliar. Segundo
Gerendás; Sattelmacher (1997) e Fernández et al. (2015), a
deficiência desse nutriente em plantas pode causar um
acúmulo de ureia em tecidos foliares devido à baixa atividade
da urease, acarretando sintomas de necrose nas folhas, o que
pode ser evitado em função do fornecimento de Ni.
Recentemente, Ávila (2016) observou que, mesmo em doses
mais baixas, o Ni pode apresentar caráter tóxico às plantas, o
que restringe seu uso a pequenas quantidades.
Volk; Mcaulife (1954) citaram a sacarose como uma
substância que pode diminuir, até certo ponto, injúrias
foliares causadas por altas concentrações de ureia, isso por
conta da diminuição da taxa de absorção desse nutriente,
efeito esse análogo ao obtido por Alecrim (2016), onde a
aplicação de sacarose em plantas de café atingidas pela deriva
de Glyphosate apresentaram melhor taxa fotossintética em
relação as que não receberam o tratamento.
A aplicação de ureia foliar pode trazer efeitos benéficos
para soja, entretanto, esse fornecimento em altas
concentrações pode prejudicar o crescimento da cultura.
Dessa forma, a aplicação de Ni em conjunto com a sacarose
pode mitigar os efeitos fitotóxicos da aplicação, o que
permitiria o fornecimento de maiores doses de N foliar por
meio da ureia.
Assim, o objetivo do trabalho foi avaliar a viabilidade
técnica da aplicação foliar de ureia em estádio reprodutivo da
soja, na presença e ausência de Ni e sacarose e, caso seja
viável, definir a concentração de ureia a ser adotada para essa
finalidade.
2. MATERIAL E MÉTODOS
O Experimento foi conduzido em condições de campo
no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Triângulo Mineiro – Campus Uberaba a 19º39’42’’ Sul e
47º57’48’’ Oeste, 790 metros de altitude, com clima local,
segundo classificação de Köppen do tipo tropical quente e
úmido, com inverno frio e seco (Aw), com precipitação e
temperatura média anual de 1500 mm e 21ºC,
respectivamente. O solo do local é classificado com
Latossolo Vermelho distrófico de textura média e o
experimento foi conduzido de novembro de 2019 até abril de
2020 em área cultivada com soja sob plantio direto há três
anos.
2.1. Delineamento experimental
O delineamento experimental adotado foi em blocos
casualizados (DBC) em esquema fatorial 4x2x2, com quatro
repetições. Os tratamentos consistiram na associação da
aplicação, via foliar, de solução com diferentes concentrações
de ureia (0, 5, 10 e 15% m/v), com e sem aplicação de níquel
(30 g ha-1) e com e sem a aplicação de sacarose (1 mol L-1).
Cada unidade experimental foi composta por oito linhas
de cinco metros de comprimento espaçadas por 0,5 metros
entre si, totalizado quatro metros de largura e uma área de 20
m².
2.2. Preparo da área experimental
Previamente foi realizada a caracterização dos atributos
químicos do solo por meio de amostragem e análise química
de solo nas camadas 0-0,20 m e 0,20-0,40 m para
norteamento da correção do solo, adubação de semeadura e
cobertura (Tabela 1).
A semeadura foi realizada mecanicamente e a cultivar
utilizada foi a RK6719, adotando-se o espaçamento
entrelinhas de 0,50 m, com 20 sementes por metro,
procurando-se obter uma população de 400.000 plantas ha-1.
Neste momento, foram aplicados 60 kg ha-1 de P2O5 e 60 kg
ha-1 de K2O no sulco, tendo-se como fonte o fertilizante 0-
20-20.
Tabela 1. Atributos químicos do solo nas camadas de 0 a 0,20 m e 0,20 a 0,40 m.
Table 1. Soil chemical attributes in the 0 to 0.20 m and 0.20 to 0.40 m layers.
Profundidade pH(CaCl2) P(resina) K Ca Mg Al H+Al MO V
m
mg dm-3 mmolc dm-3 g dm-3 %
0-0,20 5,1 17,6 2,52 23 4,8 0 24 23,8 55,8
0,20-0,40 5,0 9,7 1,06 8,9 2,2 0 29 20,4 29,5
2.3. Aplicação dos tratamentos
A aplicação dos tratamentos foi realizada quando,
aproximadamente, 50% das plantas atingiram o estádio R5.1
da cultura, caracterizado pelo início de formação dos grãos,
com grãos perceptíveis ao tato, o equivalente a 10% da
granação (FEHR; CAVINESS, 1977). Como fontes foram