
Avaliação do sucesso da restauração florestal de matas ciliares na transição Amazônia-Cerrado em Mato Grosso
Nativa, Sinop, v. 10, n. 3, p. 356-365, 2022.
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pois, essa importante família também se desponta em outros
estudos. Em Nova Xavantina, Mato Grosso, a família
Fabaceae também foi a mais presente dentre as 37
encontradas, com 15 espécies de um total de 84 identificadas
(SILVA et al., 2011). De acordo com Araújo et al. (2009), a
família Fabaceae possui expressividade e é marcante em
estudos onde a condição de fertilidade natural dos solos é
baixa, principalmente devido à capacidade de fixação de
nitrogênio apresentada por algumas espécies desta família.
Dentre as espécies identificadas, houve predominância da
síndrome de dispersão zoocórica, assim como encontrado
por Oliveira et al. (2020) em uma vegetação nativa na
Amazônia Meridional. A presença de espécies zoocóricas é
um bom indicativo, pois para Resende; Carvalho (2013), o
plantio dessas espécies constitui uma importante medida em
um processo de restauração, considerando que em ambientes
tropicais, como o Brasil, a zoocoria prevalece sobre as outras
síndromes de dispersão.
Na avaliação dos grupos ecológicos, foi possível observar
que apenas A2 não apresentou uma ordem decrescente
iniciando pelas pioneiras, secundárias e clímax, segundo a
recomendação de Botelho e Davide (2002). No entanto, a
grande maioria das espécies são do grupo de diversidade.
Esse fato explica, por exemplo, a alta incidência de gramíneas
na A1, visto que espécies do grupo de preenchimento
possuem uma capacidade maior de sombreamento frente às
espécies de diversidade, que em grande maioria facilitam o
desenvolvimento de matocompetição (NAVE;
RODRIGUES, 2007).
4.3. Avaliação da regeneração natural
A análise da regeneração, similaridade, expressa pelo
índice de Jaccard, e identificação de espécies que não foram
implantadas no início do projeto, sugere que existe interação
das áreas em restauração com os remanescentes de vegetação
nativa presente no entorno ou próximo das áreas em
restauração.
A regeneração natural é responsável pela manutenção
futura do ambiente florestal por meio da substituição gradual
das espécies que entram em senescência (BRANCALION et
al., 2012), por isso, é essencial que haja fluxo de dispersão nas
áreas em restauração para manutenção da dinâmica
sucessional da vegetação.
Entretanto, Fonseca et al. (2017), em uma área em
restauração com 10 anos de idade, também em floresta
tropical ciliar, inserida em uma paisagem de mosaicos campo-
floresta, encontraram um número de espécies regenerantes
que não foram utilizadas no plantio 10 vezes maior, o que
pode indicar que, apesar da existir, o fluxo de dispersão das
áreas de vegetação nativa adjacentes para as áreas de estudo
é baixo.
4.4. Análise fitossociológica
Na análise dos indicadores fitossociológicos realizada
para o plantio, os valores de densidade encontrados para as
três áreas são considerados baixos quando comparados com
estudos realizados em vegetação nativa. De acordo com
Kunz et al. (2009), em uma área com vegetação do tipo
cerradão no município de Canarana, Mato Grosso, a
densidade total na área amostrada foi de 2.496 indivíduos/ha.
Araújo et al. (2009) obtiveram DA de 1.555 ind./hectare em
uma área de vegetação nativa no município de Sinop. A
menor densidade se deve em função do maior espaçamento
(3 x 3 m), considerado amplo, tendo em vista que o
espaçamento comumente utilizado é de 3 x 2 m, a fim de
diminuir a luminosidade no sub-bosque, consequentemente
reduzindo a incidência de gramíneas na área (RODRIGUES
et al., 2009).
Quanto à área basal, os valores encontrados são inferiores
aos encontrados por Marimon Junior; Haridasan (2005,) que
constataram valores de 21,4 m²/ha. Enquanto Melo e
Durigan (2007), encontraram, no vale do Paranapanema, para
plantios de 13 e 7 anos, valores de 23,32 m²/ha e 17,25
m²/ha, respectivamente. A menor área basal pode ser
explicada pelo espaçamento utilizado, que, por influenciar a
densidade do plantio, também interfere na ocupação da área
pelos indivíduos arbóreos. As espécies com maior IVI foram,
em maioria, da família Fabaceae, com exceção de T. roseoalba
(Bignoniaceae) na A1. Essas espécies são as mais importantes
dentro da estrutura das áreas de estudo, isso porque o IVI
considera a densidade, frequência, e dominância dessas
espécies, logo, quanto maior o índice, maior a
representatividade da espécie.
Os resultados obtidos para a diversidade de Shannon-
Wiener, também estão aquém dos encontrados por outros
autores. Marimon-Junior; Haridasan (2005) e Kunz et al.
(2009) obtiveram 3,67 e 3,85 nats ind/ha, respectivamente,
para vegetação do tipo Cerradão. Além de Gomes et al.
(2018), que obtiveram 3,93 para uma floresta de transição
Amazônia/Cerrado.
Quanto ao índice de equabilidade de Pielou, que reflete o
quanto em termos de riqueza de espécies do estrato arbóreo
ocupam o estrato regenerante, apenas o resultado encontrado
para A2 se assemelha com outros estudos. Em Nova
Xavantina, Mato Grosso, Franczak (2009) encontrou valores
de equabilidade de 0,82 e 0,86 em uma área de Cerradão. Em
Canarana, Mato Grosso, Kunz et al. (2009) encontraram 0,84,
e no mesmo estado no município de Itaúba, Gomes et al.
(2018) encontraram um índice de 0,85, ambos os trabalhos
em vegetação de transição com formações do tipo Cerradão.
Nesse sentido, A1 e A3 obtiveram valores inferiores, ao
contrário da A2 que apresentou valores parecidos aos
comparados, indicando uma abundância equitativa melhor
do que as outras duas áreas. Portanto, as áreas de estudo
possuem, além de baixa diversidade florística, pouca
uniformidade e riqueza de espécies. Isso possivelmente se
deve à distribuição desequilibrada das espécies no plantio.
Na análise fitossociológica da regeneração natural, o
maior destaque foi para o recrutamento de S. tenuifolia na A2
(Tabela 4). Os resultados mostram um visível desbalanço no
recrutamento e distribuição da espécie, pois os valores de
densidade, dominância e frequência demonstram a
monodominância dessa espécie no sub-bosque da área. A
monodominância pode ser explicada pela proporção de
indivíduos plantados da espécie em relação às outras, à
dinâmica populacional acelerada da planta que é pioneira,
heliófita e de copa paucifoliada, e à síndrome de dispersão,
caracterizada pela autocoria e grande produção de sementes
(CARVALHO et al., 2010).
Essas características de S. tenuifolia ocasionaram um
aumento da luminosidade no sub-bosque e favoreceram a
expressão desses regenerantes, principalmente por ser o
indivíduo mais abundante no plantio da área (Tabela 4). Em
consequência disso, o índice de diversidade de Shannon-
Wiener foi baixo, pois a grande quantidade de indivíduos de
S. tenuifolia configurou um ambiente com baixa riqueza de
espécies. Com a diminuição do número de indivíduos da
espécie, possivelmente o valor tende a aumentar, visto que o