Nativa, Sinop, v. 10, n. 3, p. 356-365, 2022.
Pesquisas Agrárias e Ambientais
DOI: https://doi.org/10.31413/nativa.v10i3.13659 ISSN: 2318-7670
Avaliação do sucesso da restauração florestal de matas ciliares
na transição Amazônia-Cerrado em Mato Grosso
Rafaella Moura de OLIVEIRA1*, Gabriel Melzer AQUINO2,
Guilherme Henrique Pompiano do CARMO3, Juliano de Paulo dos SANTOS1
1Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais, Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil.
2Amarillo Mineração do Brasil Ltda, Mara Rosa, GO, Brasil.
3Instituto Socioambiental, Brasília, DF, Brasil.
E-mail: rafaellam670@gmail.com
ORCID: (0000-0003-0811-8209; 0000-0003-3477-2415; 0000-0002-5159-0958; 0000-0001-8347-0240)
Submetido em 14/04/2022; Aceito em 15/08/2022; Publicado em 26/08/2022.
RESUMO: Este estudo avaliou o sucesso da restauração florestal de três áreas de mata ciliar, na transição entre
os biomas Amazônia e Cerrado em Mato Grosso. Onze parcelas de 12 x 30 m foram instaladas nas áreas 1 (A1)
e 3 (A3) e doze parcelas na área 2 (A2). Foram avaliados o plantio e a regeneração natural através de análise
fitossociológica, índices de diversidade e similaridade e cobertura das áreas por gramíneas. Um total de 1107
indivíduos plantados, 30 espécies e 18 famílias foram avaliadas, com destaque para Fabaceae, Bignoniaceae e
Anacardiaceae. A densidade variou entre 752 e 981 ind./ha e a área basal entre 7,58 e 12,64 m²/ha. Senegalia
tenuifolia (L.) Britton & Rose, Hymenaea courbaril L. e Inga vera Willd. destacaram-se como espécies mais
representativas no plantio segundo o IVI, com ênfase para S. tenuifolia na A2, com uma superpopulação
regenerante (8.425,93 ind./ha). A cobertura de copa média foi de 27,8% e a incidência de gramíneas foi
expressiva em duas das três áreas. Após sete anos, as áreas não podem ser consideradas totalmente restauradas
e práticas de manejo adaptativo facilitariam o direcionamento à trajetória ecológica desejável, entretanto, são
necessárias novas avaliações da dinâmica e trajetória sucessional desses ecossistemas.
Palavras-chave: monitoramento; florestas tropicais; recuperação de áreas degradadas.
Evaluation of the success of forest restoration of riparian forests in the Amazon-
Cerrado transition in Mato Grosso
ABSTRACT: This study evaluated the success of forest restoration in three areas of riparian forest, in the
transition between the Amazon and Cerrado biomes in Mato Grosso. Eleven 12 x 30 m plots were installed in
areas 1 (A1) and 3 (A3) and twelve plots in area 2 (A2). The evaluation was made and the natural sociological
coverage through the evaluation, diversity and similarity indices and coverage of grassy areas. A total of 1107
planted individuals, 30 species and 18 families were evaluated, with emphasis on Fabaceae, Bignoniaceae and
Anacardiaceae. The density varied between 752 and 981 ind./ha and the basal area between 7.58 and 12.64
m²/ha. Senegalia tenuifolia (L.) Britton & Rose, Hymenaea courbaril L. and Inga vera Willd. they stood out as the
most representative species in planting according to the IVI, with emphasis on S. tenuifolia in A2, with a
regenerating overpopulation (8,425.93 ind./ha). The average canopy cover was 27.8% and the incidence of
grasses was significant in two of the three areas. After seven years, the areas cannot be considered fully restored
and adaptive management practices would facilitate the direction to the desirable ecological trajectory, however,
new assessments of the dynamics and successional trajectory of these ecosystems are needed.
Keywords: monitoring; tropical forests; recovery of degraded areas.
1. INTRODUÇÃO
A Lei de Proteção da Vegetação Nativa (LPVN),
12.651, aprovada em maio de 2012, foi o instrumento legal
que proporcionou a entrada definitiva da restauração florestal
na pauta dos projetos de regularização ambiental de
propriedades rurais que exercem atividades produtivas no
Brasil. As normas gerais quanto à proteção e recuperação da
vegetação nativa foram estabelecidas e readequadas, com
destaque para a orientação e obrigação de que produtores
rurais protejam e restaurem partes da vegetação nativa
existente em suas propriedades, como as Áreas de
Preservação Permanente e as de Reserva Legal (GUERIN;
ISERNHAGEN, 2013).
Mundialmente, a restauração florestal também ganhou
importância, principalmente enquanto alternativa para
mitigar as mudanças climáticas. Em 2019 a Assembleia Geral
da Organização das Nações Unidas (ONU) declarou o
período de 2021-2030 como a “Década da Restauração de
Ecossistemas”. A declaração corrobora com as ambiciosas
metas estabelecidas em acordos internacionais para o
enfrentamento às mudanças climáticas como o Acordo de
Paris, o Bonn Challenge e a Iniciativa 20x20. Esses
compromissos somam metas de restauração de até 350
milhões de hectares como meio de reduzir o aumento da
temperatura global e suas consequências através do sequestro
de dióxido de carbono (GUERRA et al., 2020).
Além disso, o esforço conjunto tem como escopo atingir
os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS),
assumidos pelo Brasil através de alguns indicadores de ão
contra a mudança global do clima e o consumo e a produção
Oliveira et al.
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sustentáveis (ODS, 2021). Esses objetivos coadunam com a
finalidade da restauração florestal, estratégia fundamental
para fornecer serviços ecossistêmicos como água e qualidade
do ar, melhorar a qualidade de vida da população com saúde
e segurança alimentar e consequentemente enfrentar as
mudanças climáticas (CECCON, 2019).
Nesse sentido, a aplicação da restauração florestal exige
necessidades quanto ao aprimoramento cnico visando a
qualidade dos resultados dos projetos, a fim de mitigar
insucessos ao longo de todo o processo (DURIGAN;
ENGEL, 2012). O monitoramento é uma ferramenta
primordial para a obtenção de informações a respeito dos
fatores que influenciam na trajetória da restauração
(BRANCALION et al., 2012). Muitas vezes negligenciado,
devido ao aumento dos custos na implantação de um projeto,
o monitoramento é frequentemente encarado como uma
meta a ser cumprida para uma futura licença ambiental junto
aos órgãos públicos competentes e/ou para fins de
certificação no intuito de aumentar a competitividade no
mercado.
Todavia, um consenso entre especialistas de que o
monitoramento é imprescindível para adoção correta de
práticas de restauração. Esse permite identificar a necessidade
de mudanças na trajetória do processo quanto aos métodos
que foram utilizados, como a aplicação do manejo adaptativo
para superar condições específicas do ambiente que estejam
dificultando ou impedindo o sucesso do projeto
(DURIGAN; RAMOS, 2013).
Portanto, o presente trabalho teve como objetivo
monitorar através de indicadores três áreas de mata ciliar em
processo de restauração, localizadas no município de Sorriso,
Mato Grosso. Além disso, buscou-se definir a necessidade de
estratégias de manejo adaptativo, a fim de atingir o escopo do
projeto, visando aproximar as características das áreas a de
uma vegetação nativa, e principalmente restabelecer um
ecossistema funcional e autônomo.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.1. Caracterização da área
O estudo foi desenvolvido no ano de 2014, sete anos após
a implantação do projeto, na Fazenda Santa Anastácia, no
município de Sorriso, Mato Grosso (12°30’36.42” S e
55°41’29.21” W). A região está situada em uma área de
transição entre os biomas Amazônia e Cerrado (IBGE, 2019),
com formações transacionais do tipo floresta estacional
sempre-verde, florestas de terras baixas e Cerradão (IBGE,
2012). O clima da região é tipo Aw - tropical quente e úmido,
pela classificação climática Köppen, com precipitação média
anual em torno de 1974,47 mm e temperatura média anual de
24,70 °C (SOUZA et al., 2013).
A área total da propriedade é de 7.150 hectares, com
5.362 hectares de área total explorada e 1.768 hectares de
Reserva Legal (RL) e Área de Preservação Permanente
(APP). O Plano de Recuperação de Área Degradada (PRAD)
da fazenda possui um total de 36 hectares, no entanto, as
áreas objeto de estudo possuem as seguintes dimensões: Área
1 (A1) 5,0 ha; Área 2 (A2) - 11,38 ha; Área 3 (A3) – 10,28
ha (Figura 1).
A A1 é próxima à uma lagoa da propriedade, adjunta à
BR-163 e vizinha a uma área de pastagem da fazenda, com
criação de bovinos e ovinos. A A2, também próxima à BR-
163, é uma faixa estreita de restauração que circunda um
fragmento de vegetação nativa, e é margeada por cultivo
agrícola. A A3 é a extremidade de um fragmento de vegetação
nativa, possui uma nascente, e faz fronteira com cultivo
agrícola, porém é distante da BR-163. A A1 era destinada a
pastagem e a A2 e A3 foram utilizadas para atividade agrícola
até 2006, quando entraram no processo de regularização
ambiental.
Figura 1. Localização das áreas de estudo.
Figure 1. Location of study areas.
2.2. Histórico das atividades realizadas nas áreas
As informações do relatório do PRAD protocolado junto
a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SEMA), indicaram
que o projeto foi iniciado em dezembro de 2006, abrangendo
as Áreas de Preservação Permanente (APP) e as de Reserva
Legal (RL). Segundo o relatório, o preparo das áreas foi feito
com limpeza e adubação com 150 g de NPK (10- 20-5) e
calagem em doses de 150 g por cova. A manutenção pós-
plantio foi realizada, que consistiu no coroamento, combate
de plantas competidoras e o controle de formigas cortadeiras.
Atividades nas áreas de plantio como entrada de
máquinas, pisoteio de animais e pessoas e cultivo de
monocultura agrícola (soja e milho), foram eliminadas, além
disso, foram realizadas roçadas e construção de aceiros. Cerca
de 24.200 mudas nativas da região em espaçamento 3 x 3 m
foram utilizadas, dando preferência a proporção de 45% de
espécies pioneiras, 35% de espécies secundárias e 20% de
espécies clímax.
2.3. Definição das unidades amostrais
As unidades amostrais foram determinadas de acordo
com o recomendado por Rodrigues et al. (2009), e adaptadas
para o estudo, de forma que cada parcela permanente
amostrasse 40 indivíduos, com sub-parcelas sistemáticas
dentro de cada uma para a avaliação da regeneração natural.
A localização das áreas com dados georreferenciados foi feita
para a instalação das parcelas, em seguida, dividiu-se cada área
de estudo em linhas de grade, e foram selecionadas apenas
unidades que estivessem dentro da área restaurada. Essas
unidades foram codificadas e realizou-se o sorteio aleatório
com auxílio de planilha de cálculo.
A intensidade amostral variou em função do tamanho das
áreas reflorestadas. Seguindo a metodologia estabelecida por
Reis et al. (2014), áreas com 5,0 hectares ou mais devem ter
8% da sua área amostrada e áreas com 10 hectares ou mais,
4% da área amostrada. Dessa forma, foi estabelecido onze
parcelas para A1 e A2 com 5,0 e 9,46 hectares,
respetivamente, e doze parcelas na A3, com 10,28 hectares.
A Figura 2 ilustra as áreas de estudo, a quantidade e a
localização das unidades amostrais.