Nativa, Sinop, v. 10, n. 3, p. 356-365, 2022.
Pesquisas Agrárias e Ambientais
DOI: https://doi.org/10.31413/nativa.v10i3.13659 ISSN: 2318-7670
Avaliação do sucesso da restauração florestal de matas ciliares
na transição Amazônia-Cerrado em Mato Grosso
Rafaella Moura de OLIVEIRA1*, Gabriel Melzer AQUINO2,
Guilherme Henrique Pompiano do CARMO3, Juliano de Paulo dos SANTOS1
1Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais, Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop, MT, Brasil.
2Amarillo Mineração do Brasil Ltda, Mara Rosa, GO, Brasil.
3Instituto Socioambiental, Brasília, DF, Brasil.
E-mail: rafaellam670@gmail.com
ORCID: (0000-0003-0811-8209; 0000-0003-3477-2415; 0000-0002-5159-0958; 0000-0001-8347-0240)
Submetido em 14/04/2022; Aceito em 15/08/2022; Publicado em 26/08/2022.
RESUMO: Este estudo avaliou o sucesso da restauração florestal de três áreas de mata ciliar, na transição entre
os biomas Amazônia e Cerrado em Mato Grosso. Onze parcelas de 12 x 30 m foram instaladas nas áreas 1 (A1)
e 3 (A3) e doze parcelas na área 2 (A2). Foram avaliados o plantio e a regeneração natural através de análise
fitossociológica, índices de diversidade e similaridade e cobertura das áreas por gramíneas. Um total de 1107
indivíduos plantados, 30 espécies e 18 famílias foram avaliadas, com destaque para Fabaceae, Bignoniaceae e
Anacardiaceae. A densidade variou entre 752 e 981 ind./ha e a área basal entre 7,58 e 12,64 m²/ha. Senegalia
tenuifolia (L.) Britton & Rose, Hymenaea courbaril L. e Inga vera Willd. destacaram-se como espécies mais
representativas no plantio segundo o IVI, com ênfase para S. tenuifolia na A2, com uma superpopulação
regenerante (8.425,93 ind./ha). A cobertura de copa média foi de 27,8% e a incidência de gramíneas foi
expressiva em duas das três áreas. Após sete anos, as áreas não podem ser consideradas totalmente restauradas
e práticas de manejo adaptativo facilitariam o direcionamento à trajetória ecológica desejável, entretanto, são
necessárias novas avaliações da dinâmica e trajetória sucessional desses ecossistemas.
Palavras-chave: monitoramento; florestas tropicais; recuperação de áreas degradadas.
Evaluation of the success of forest restoration of riparian forests in the Amazon-
Cerrado transition in Mato Grosso
ABSTRACT: This study evaluated the success of forest restoration in three areas of riparian forest, in the
transition between the Amazon and Cerrado biomes in Mato Grosso. Eleven 12 x 30 m plots were installed in
areas 1 (A1) and 3 (A3) and twelve plots in area 2 (A2). The evaluation was made and the natural sociological
coverage through the evaluation, diversity and similarity indices and coverage of grassy areas. A total of 1107
planted individuals, 30 species and 18 families were evaluated, with emphasis on Fabaceae, Bignoniaceae and
Anacardiaceae. The density varied between 752 and 981 ind./ha and the basal area between 7.58 and 12.64
m²/ha. Senegalia tenuifolia (L.) Britton & Rose, Hymenaea courbaril L. and Inga vera Willd. they stood out as the
most representative species in planting according to the IVI, with emphasis on S. tenuifolia in A2, with a
regenerating overpopulation (8,425.93 ind./ha). The average canopy cover was 27.8% and the incidence of
grasses was significant in two of the three areas. After seven years, the areas cannot be considered fully restored
and adaptive management practices would facilitate the direction to the desirable ecological trajectory, however,
new assessments of the dynamics and successional trajectory of these ecosystems are needed.
Keywords: monitoring; tropical forests; recovery of degraded areas.
1. INTRODUÇÃO
A Lei de Proteção da Vegetação Nativa (LPVN),
12.651, aprovada em maio de 2012, foi o instrumento legal
que proporcionou a entrada definitiva da restauração florestal
na pauta dos projetos de regularização ambiental de
propriedades rurais que exercem atividades produtivas no
Brasil. As normas gerais quanto à proteção e recuperação da
vegetação nativa foram estabelecidas e readequadas, com
destaque para a orientação e obrigação de que produtores
rurais protejam e restaurem partes da vegetação nativa
existente em suas propriedades, como as Áreas de
Preservação Permanente e as de Reserva Legal (GUERIN;
ISERNHAGEN, 2013).
Mundialmente, a restauração florestal também ganhou
importância, principalmente enquanto alternativa para
mitigar as mudanças climáticas. Em 2019 a Assembleia Geral
da Organização das Nações Unidas (ONU) declarou o
período de 2021-2030 como a “Década da Restauração de
Ecossistemas”. A declaração corrobora com as ambiciosas
metas estabelecidas em acordos internacionais para o
enfrentamento às mudanças climáticas como o Acordo de
Paris, o Bonn Challenge e a Iniciativa 20x20. Esses
compromissos somam metas de restauração de até 350
milhões de hectares como meio de reduzir o aumento da
temperatura global e suas consequências através do sequestro
de dióxido de carbono (GUERRA et al., 2020).
Além disso, o esforço conjunto tem como escopo atingir
os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS),
assumidos pelo Brasil através de alguns indicadores de ão
contra a mudança global do clima e o consumo e a produção
Oliveira et al.
Nativa, Sinop, v. 10, n. 3, p. 356-365, 2022.
357
sustentáveis (ODS, 2021). Esses objetivos coadunam com a
finalidade da restauração florestal, estratégia fundamental
para fornecer serviços ecossistêmicos como água e qualidade
do ar, melhorar a qualidade de vida da população com saúde
e segurança alimentar e consequentemente enfrentar as
mudanças climáticas (CECCON, 2019).
Nesse sentido, a aplicação da restauração florestal exige
necessidades quanto ao aprimoramento cnico visando a
qualidade dos resultados dos projetos, a fim de mitigar
insucessos ao longo de todo o processo (DURIGAN;
ENGEL, 2012). O monitoramento é uma ferramenta
primordial para a obtenção de informações a respeito dos
fatores que influenciam na trajetória da restauração
(BRANCALION et al., 2012). Muitas vezes negligenciado,
devido ao aumento dos custos na implantação de um projeto,
o monitoramento é frequentemente encarado como uma
meta a ser cumprida para uma futura licença ambiental junto
aos órgãos públicos competentes e/ou para fins de
certificação no intuito de aumentar a competitividade no
mercado.
Todavia, um consenso entre especialistas de que o
monitoramento é imprescindível para adoção correta de
práticas de restauração. Esse permite identificar a necessidade
de mudanças na trajetória do processo quanto aos métodos
que foram utilizados, como a aplicação do manejo adaptativo
para superar condições específicas do ambiente que estejam
dificultando ou impedindo o sucesso do projeto
(DURIGAN; RAMOS, 2013).
Portanto, o presente trabalho teve como objetivo
monitorar através de indicadores três áreas de mata ciliar em
processo de restauração, localizadas no município de Sorriso,
Mato Grosso. Além disso, buscou-se definir a necessidade de
estratégias de manejo adaptativo, a fim de atingir o escopo do
projeto, visando aproximar as características das áreas a de
uma vegetação nativa, e principalmente restabelecer um
ecossistema funcional e autônomo.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.1. Caracterização da área
O estudo foi desenvolvido no ano de 2014, sete anos após
a implantação do projeto, na Fazenda Santa Anastácia, no
município de Sorriso, Mato Grosso (12°30’36.42” S e
55°41’29.21” W). A região está situada em uma área de
transição entre os biomas Amazônia e Cerrado (IBGE, 2019),
com formações transacionais do tipo floresta estacional
sempre-verde, florestas de terras baixas e Cerradão (IBGE,
2012). O clima da região é tipo Aw - tropical quente e úmido,
pela classificação climática Köppen, com precipitação média
anual em torno de 1974,47 mm e temperatura média anual de
24,70 °C (SOUZA et al., 2013).
A área total da propriedade é de 7.150 hectares, com
5.362 hectares de área total explorada e 1.768 hectares de
Reserva Legal (RL) e Área de Preservação Permanente
(APP). O Plano de Recuperação de Área Degradada (PRAD)
da fazenda possui um total de 36 hectares, no entanto, as
áreas objeto de estudo possuem as seguintes dimensões: Área
1 (A1) 5,0 ha; Área 2 (A2) - 11,38 ha; Área 3 (A3) – 10,28
ha (Figura 1).
A A1 é próxima à uma lagoa da propriedade, adjunta à
BR-163 e vizinha a uma área de pastagem da fazenda, com
criação de bovinos e ovinos. A A2, também próxima à BR-
163, é uma faixa estreita de restauração que circunda um
fragmento de vegetação nativa, e é margeada por cultivo
agrícola. A A3 é a extremidade de um fragmento de vegetação
nativa, possui uma nascente, e faz fronteira com cultivo
agrícola, porém é distante da BR-163. A A1 era destinada a
pastagem e a A2 e A3 foram utilizadas para atividade agrícola
até 2006, quando entraram no processo de regularização
ambiental.
Figura 1. Localização das áreas de estudo.
Figure 1. Location of study areas.
2.2. Histórico das atividades realizadas nas áreas
As informações do relatório do PRAD protocolado junto
a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SEMA), indicaram
que o projeto foi iniciado em dezembro de 2006, abrangendo
as Áreas de Preservação Permanente (APP) e as de Reserva
Legal (RL). Segundo o relatório, o preparo das áreas foi feito
com limpeza e adubação com 150 g de NPK (10- 20-5) e
calagem em doses de 150 g por cova. A manutenção pós-
plantio foi realizada, que consistiu no coroamento, combate
de plantas competidoras e o controle de formigas cortadeiras.
Atividades nas áreas de plantio como entrada de
máquinas, pisoteio de animais e pessoas e cultivo de
monocultura agrícola (soja e milho), foram eliminadas, além
disso, foram realizadas roçadas e construção de aceiros. Cerca
de 24.200 mudas nativas da região em espaçamento 3 x 3 m
foram utilizadas, dando preferência a proporção de 45% de
espécies pioneiras, 35% de espécies secundárias e 20% de
espécies clímax.
2.3. Definição das unidades amostrais
As unidades amostrais foram determinadas de acordo
com o recomendado por Rodrigues et al. (2009), e adaptadas
para o estudo, de forma que cada parcela permanente
amostrasse 40 indivíduos, com sub-parcelas sistemáticas
dentro de cada uma para a avaliação da regeneração natural.
A localização das áreas com dados georreferenciados foi feita
para a instalação das parcelas, em seguida, dividiu-se cada área
de estudo em linhas de grade, e foram selecionadas apenas
unidades que estivessem dentro da área restaurada. Essas
unidades foram codificadas e realizou-se o sorteio aleatório
com auxílio de planilha de cálculo.
A intensidade amostral variou em função do tamanho das
áreas reflorestadas. Seguindo a metodologia estabelecida por
Reis et al. (2014), áreas com 5,0 hectares ou mais devem ter
8% da sua área amostrada e áreas com 10 hectares ou mais,
4% da área amostrada. Dessa forma, foi estabelecido onze
parcelas para A1 e A2 com 5,0 e 9,46 hectares,
respetivamente, e doze parcelas na A3, com 10,28 hectares.
A Figura 2 ilustra as áreas de estudo, a quantidade e a
localização das unidades amostrais.
Avaliação do sucesso da restauração florestal de matas ciliares na transição Amazônia-Cerrado em Mato Grosso
Nativa, Sinop, v. 10, n. 3, p. 356-365, 2022.
358
Em campo, as unidades amostrais foram aleatoriamente
sorteadas e alocadas com dimensão de 12 x 30 m. Cada
parcela abrangeu quatro linhas do plantio com espaçamento
3 x 3 m. As sub-parcelas foram estabelecidas entre linhas com
dimensões de 3 x 3 m, totalizando 6 sub-parcelas por unidade
amostral, alocadas esquematicamente de maneira que
representassem a parcela por toda sua extensão (Figura 3).
Figura 2. Representação da Área 1 (A1), Área 2 (A2) e Área 3 (A3) e suas unidades amostrais.
Figure 2. Representation of Area 1 (A1), Area 2 (A2) and Area 3 (A3) and their sampling units.
Figura 3. Ilustração das sub-parcelas amostrais com as coordenadas
cartesianas (x,y) do vértice superior esquerdo.
Figure 3. Illustration of the sample subplots with the cartesian
coordinates (x,y) of the upper left vertex.
2.4. Indicadores de avaliação e monitoramento.
O monitoramento foi realizado quando os plantios
estavam com 7 anos de idade, assim, foram considerados
indicadores para avaliar o sucesso do projeto, como
preconizado por Rodrigues et al. (2009) e Rodrigues et al.
(2013). Os indicadores avaliados foram os seguintes:
Avaliação do plantio: marcação dos indivíduos
plantados, mensuração de Circunferência a Altura do Peito
(CAP), altura total e diâmetro de copa. A cobertura de copa
foi calculada através do diâmetro de copa que foi obtido
medindo a projeção vertical das copas de cada indivíduo na
linha de plantio, e o valor percentual obtido conforme
recomendam Brancalion et al. (2012). A mortalidade foi
estimada em função do registro de falhas, vestígios de árvores
mortas, número de indivíduos levantados, espaçamento
utilizado e consequente densidade de plantio esperada.
Identificação botânica: identificação das espécies em
campo e, quando insuficientes as características
dendrológicas, coleta de ramos das espécies,
acondicionamento em prensas, secagem em estufa e
identificação no Laboratório de Dendrologia da
Universidade de Mato Grosso, campus de Sinop. Após a
definição da lista florística, foi determinada, com base em
literatura, a riqueza de espécies e a classificação destas em
grupos funcionais relacionados a dispersão e sucessão.
Avaliação da regeneração natural: levantamento dos
indivíduos regenerantes em cada sub-parcela, com
mensuração de altura e identificação de acordo com a mesma
metodologia descrita no item “Identificação botânica”.
Avaliação da cobertura de gramíneas exóticas: foram
definidos os seguintes parâmetros de classificação com base
nos intervalos diagnósticos que recomendam Rodrigues et al.
(2009): “ausência de gramíneas”, “baixa incidência de
gramíneas”, “média incidência de gramíneas”, e “alta
incidência de gramíneas”. Essa avaliação foi realizada para
cada parcela nas três áreas.
Manipulação e análise de dados: com base nos dados
obtidos, foi realizada uma análise fitossociológica para o
plantio em planilhas de cálculo, estimando a área basal (g),
densidade absoluta (DA) e relativa (DR), dominância
absoluta (DoA) e relativa (DoR), frequência absoluta (FA) e
relativa (FR), índice de valor de cobertura (IVC), e índice de
valor de importância (IVI). A diversidade das espécies foi
estimada pelo índice de Shannon-Wiener (H’) e Equabilidade
de Pielou (J). Para os indivíduos regenerantes foram
calculados os parâmetros fitossociológicos de densidade,
frequência e índice de diversidade. Além disso, foi verificada
a similaridade entre a diversidade de espécies da regeneração
natural e do plantio através do índice de Jaccard.
3. RESULTADOS
3.1. Avaliação do plantio
Nas três áreas amostradas, foi possível observar aspectos
de floresta jovem em desenvolvimento, com árvores finas e
de baixa estatura. Um total de 1.107 indivíduos vivos do
estrato arbóreo plantado foram registrados. A mortalidade
média foi de 19,5%, com maior e menor percentual na A1 e
A2, respectivamente (Tabela 1). A porcentagem média de
cobertura de copa foi de 27,8%, sendo a A1 com 4,3%, a A2
apresentou 35%, e A3 teve 44%. Uma tendência entre os
valores de mortalidade e cobertura de copa foi observada,
pois quanto maior a mortalidade, menor a cobertura da área
e vice-versa (Tabela 1).
Oliveira et al.
Nativa, Sinop, v. 10, n. 3, p. 356-365, 2022.
359
Tabela 1. Mortalidade e cobertura de copa para as áreas 1, 2 e 3. Ind./hectare: estimativa do número de indivíduos plantados por hectare;
Mortalidade (ind./ha): estimativa de mortalidade por hectare; Mortalidade (%): percentual de mortalidade; Cobertura de copa (%): percentual
de área coberta pela copa dos indivíduos plantados.
Table 1. Mortality and canopy coverage for areas 1, 2 and 3. Ind./hectare: estimate of the number of individuals planted per hectare;
Mortality (ind./ha): estimated mortality per hectare; Mortality (%): percentage of mortality; Canopy coverage (%): percentage of area covered
by the canopy of planted individuals.
Quantidade A1 A2 A3 Média
Ind./hectare 1.038 1.248 1.076 1.220
Mortalidade (ind./ha) 285 266 103 218
Mortalidade (%) 27,49 21,34 9,62 19,5
Cobertura de copa (%) 4,3 35 44 27,8
3.2. Identificação botânica
Dezoito famílias e 30 espécies foram registradas e
identificadas no plantio, das 46 espécies mencionadas como
implantadas, que foram identificadas com base nas linhas de
plantio e no relatório do PRAD. Foram identificadas 3
espécies dentre as plantadas que não constam na lista de
espécies utilizadas no projeto, como apresentado na Tabela
02. Dentre as 30 espécies do plantio, 20 estavam presentes na
A1, 20 na A2 e 21 na A3. Dez espécies foram coincidentes
entre as três áreas e 1, 4 e 3 espécies foram exclusivas da A1,
A2 e A3, respectivamente. As famílias Fabaceae,
Bignoniaceae e Anacardiaceae representaram a maioria da
população dos indivíduos com 7, 4 e 3 espécies
respectivamente.
No que diz respeito à síndrome de dispersão, 71,43% das
espécies monitoradas foram zoocóricas, 25% anemocóricas,
e 3,57% autocóricas. Não foram registradas espécies
barocóricas. Quanto ao grupo funcional na sucessão, A1 e
A3, apresentaram mais espécies pioneiras, seguida das
secundárias e clímax. na A2, a maior porcentagem foi de
espécies secundárias, seguido das pioneiras e clímax (Figura
4).
3.3. Avaliação da regeneração natural
No levantamento dos indivíduos regenerantes foram
identificadas 21 espécies pertencentes a 15 famílias botânicas
(Tabela 2). A3 apresentou maior riqueza (12 spp.), seguida da
A2 (11 spp.) e A1 (10 spp.). Dentre as espécies encontradas,
5 não estavam presentes no projeto de implantação. O índice
de Jaccard foi de 22,22% (A1), 16% (A2) e 50% (A3). Isso
significa que a similaridade de espécies entre o estrato
regenerante e o plantio foi maior na A3, seguido da A1 e da
A2.
3.4. Análise fitossociológica
A riqueza de espécies do plantio foi semelhante em todas
as áreas, com 20 na A1 e A2, e 21 espécies na A3. Dentre os
valores de densidade absoluta encontrados para as três áreas,
a A2 foi a com maior número de indivíduos por hectare,
seguido da A3 e A1. Já a área basal foi maior na A3, seguido
da A2 e A1, respectivamente (Tabela 3).
Tabela 3. Características gerais da A1, A2 e A3.
Table 3. General characteristics of the A1, A2 and A3.
Parâmetro A1 A2 A3 Média
Riqueza 20 20 21 20
Densidade (ind./ha) 752 981 972 902
Área Basal (m²/ha) 7,58 11,32 12,64 10,51
Em relação ao Índice de Valor de Importância (IVI) na
A1, as espécies H. courbaril e S. tenuifolia da família Fabaceae,
juntamente com T. roseoalba, Bignoniaceae, foram as mais
representativas. Na A2, S. tenuifolia, E. contortisiliquum e H.
courbaril, ambas da família Fabaceae, apresentaram o maior
IVI. na A3, as espécies mais representativas, também
pertencentes à família Fabaceae, foram H. courbaril, S.
tenuifolia e I. vera (Tabela 4).
Os valores estimados do índice de Shannon-Wiener para
o plantio foram de 2,15 nats ind./hectare (A1), 2,56 nats
ind./hectare (A2), 2,29 nats ind./hectare (A3). O índice de
equabilidade de Pielou para as três áreas foi de 0,71, 0,84 e
0,75 para A1, A2 e A3 respectivamente.
Figura 4. Porcentagem de espécies pertencentes a cada grupo
ecológico na A1, A2 e A3.
Figure 4. Percentage of species belonging to each ecological group
in A1, A2 and A3.
61,9%28,6%
9,5%
A1
40,0%
45,0%
15,0%
A2
Pioneira Secundária Clímax
59,1%
27,3%
13,6%
A3
Avaliação do sucesso da restauração florestal de matas ciliares na transição Amazônia-Cerrado em Mato Grosso
Nativa, Sinop, v. 10, n. 3, p. 356-365, 2022.
360
Tabela 2. Relação de espécies implantadas (Imp.) de acordo com o Projeto de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) elaborado no
início do projeto, e das espécies registradas na avaliação quanto à origem, ou seja, se do plantio ou da regeneração natural nas áreas A1, A2
e A3, aos 7 anos de idade.
Table 2. List of implanted species (Imp.) according to the Degraded Areas Recovery Project (PRAD) prepared at the beginning of the
project, and of species recorded in the assessment as to origin, that is, whether from planting or natural regeneration in the areas A1, A2
and A3, at 7 years old.
Família Nome científico Imp. Registradas
Plantio Regeneração
A1
A2 A3 A1 A2
A3
Anacardiaceae
Anacardium occidentale L. X X X X X
Tapirira guianensis Aubl. X
Myracrodruon urundeuva Fr. All. X X X X
Spondias mombin L. X X X
Astronium fraxinifolium Schott X
Annonaceae Xylopia aromatica (Lam.) Mart. X X X
Arecaceae Mauritia flexuosa L. X X
Bignoniaceae
Tabebuia aurea Benth. & Hook.f. ex S. Moore X
Handroanthus heptaphyllus (Vell.) Mattos X X X
Tabebuia roseoalba (Ridl.) Sandwith X X X
Tabebuia impetiginosa (Mart.) Standley X
Tabebuia ochracea (Cham.) Standl. X X X
Jacaranda macrantha Cham. X X X
Bixaceae Bixa orellana L. X X X X
Burseraceae Protium heptaphyllum (Aubl.) March. X X X X X
Protium almecega March. X
Calophyllaceae Calophyllum brasiliensis Camb. X X X X X X
Caryocaraceae Caryocar brasiliense Camb. X X
Combretaceae Buchenavia tomentosa Eichler X X
Clusiaceae Garcinia gardneriana (Planch. & Triana) Zappi X X
Euphorbiaceae Croton urucurana Baill X X X X
Fabaceae
Clitoria fairchildiana R.A.Howard X X X X X
Copaifera langsdorffii Desf. X
Bauhinia forficata Link. X
Dipteryx odorata (Aubl.) Willd. X X X
Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong X X X X
Hymenaea courbaril L. X X X X X
Hymenaea stigonocarpa X
Inga fagifolia Willd. X
Inga luschnathiana Benth. X
Inga marginata Willd. X
Inga uruguensis Hook. et Arn. X X
Inga vera Willd. X X X X X X X
Senegalia polyphylla (DC.) Britton & Rose X X X
Senegalia tenuifolia (L.) Britton & Rose X X X
Tachigali vulgaris L. G. Silva & H. C.Lima X
Tamarindus indica L. X
Hypericaceae Vismia guianensis X
Lamiaceae Vitex montevidensis Cham. X X X X
Nectandra oppositifolia Nees. X X
Lauraceae
Nectandra lanceolata Nees & Mart. ex Nees X
Tapirira guianensis Aubl. X X
Lythraceae Physocalymma scaberrimum Pohl X
Malvaceae
Chorisia speciosa A. St.-Hil. X X X
Pseudobombax grandiflorum (Cav.) A. Rob. X
Meliaceae Cedrela fissilis X
Myristicaceae Virola sebifera X X
Myrtaceae Psidium guajava L. X X X X X
Psidium cattleianum Sabine X
Rubiaceae
Alibertia sessilis (Vell.) K. Schum. X X X X X
Genipa americana L. X X X X X
Siparunaceae Siparuna guianensis Aublet X
Urticaceae
Cecropia glaziovi Snethl. X X X
Cecropia Hololeuca Miq. X X X X
Oliveira et al.
Nativa, Sinop, v. 10, n. 3, p. 356-365, 2022.
361
Quanto à regeneração natural, as espécies com maior
representatividade na regeneração na A1, de acordo com a
Tabela 5, foram Inga vera Willd e Nectandra cuspidata Nees.
Dentre essas espécies, a Nectandra cuspidata foi a mais
frequente, presente em 7 de um total de 11 parcelas. O índice
de diversidade de Shannon-Wiener para a regeneração foi de
2,01 nats ind./hectare. Na A2, a espécie mais presente foi
Senegalia tenuifolia com valores expressivos de densidade e
frequência, seguido de Inga vera Willd (Tabela 5). O índice de
diversidade de Shannon-Wiener resultou em 0,094 nats
ind./hectare. Na A3, de acordo com o levantamento
fitossociológico, as espécies com maior representatividade
foram Inga vera Willd, Calophyllum brasiliensis Camb., Alibertia
sessilis (Vell.) K. Schum. O valor estimado do índice de
Shannon-Wiener foi de 1,77 nats ind./hectare.
3.5. Cobertura de gramíneas
A classificação da cobertura de gramíneas apresentou os
seguintes resultados: na A1, a maioria das parcelas (42,65%)
apresentou Alta Incidência, na A2, a Ausência de gramíneas
foi a classificação predominante (55,56%), e na A3, o maior
percentual foi de Média Incidência (58,62%).
Tabela 4. Avaliação fitossociológica das 3 espécies mais importantes do plantio nas áreas 1, 2 e 3. DA – Densidade absoluta (Ind./hectare);
DR – Densidade Relativa (%); DoA- Dominância Absoluta (m²/hectare); DoR - Dominância Relativa (%); FA – Frequência absoluta; FR
– Frequência relativa (%); IVC – Índice de valor de cobertura; IVI – Índice de valor de Importância.
Table 4. Phytosociological assessment of the 3 most important species of planting in areas 1, 2 and 3. DA – Absolute density (Ind./hectare);
DR Relative Density (%); DoA- Absolute Dominance (m²/hectare); DoR - Relative Dominance (%); FA Absolute frequency; FR
Relative frequency (%); IVC – Coverage Value Index; IVI – Importance Value Index.
Área Nome Científico DA DR DoA DoR FA FR IVC IVI
A1 Hymenaea courbaril 265 35,24 2,48 32,68 100 12,64 67,92 80,56
Tabebuia roseoalba 139 18,46 0,66 8,76 100 12,64 27,21 39,86
Senegalia tenuifolia 101 13,42 2,12 28,04 100 12,64 41,46 54,10
A2 Senegalia tenuifolia 187 19,10 3,26 28,83 83,3 8,85 47,94 56,79
Hymenaea courbaril 95 9,67 0,58 5,121 100 10,62 14,79 25,41
Enterolobium contortisiliquum 78,70 8,02 2,75 24,25 66,7 7,08 32,27 39,35
A3 Hymenaea courbaril 290,40 29,87 2,45 19,40 91,67 12,09 49,27 61,36
Senegalia tenuifolia 131,31 13,51 3,95 31,21 91,67 12,09 44,71 56,80
Inga vera 128,79 13,25 3,10 24,52 83,33 10,99 37,77 48,76
Tabela 5. Avaliação fitossociológica das espécies de maior densidade da regeneração nas áreas 1, 2 e 3. DA - Densidade absoluta
(ind./hectare); DR - Densidade relativa (%); FA - Frequência absoluta; FR - Frequência relativa (%).
Table 5. Phytosociological evaluation of the species with the highest regeneration density in areas 1, 2 and 3. DA - Absolute density
(ind./hectare); DR - Relative density (%); FA - Absolute frequency; FR - Relative frequency (%).
Área Família Nome científico DA DR FA FR
A1 Fabaceae Inga vera 86 36,96 27,27 10,00
Lauraceae Nectandra cuspidata 38 16,30 63,64 23,33
A2 Fabaceae Senegalia tenuifolia 8.426 98,56 100 42,86
Fabaceae Inga vera 86 1,00 41,70 17,86
A3
Fabaceae Inga vera 257 46,58 81,82 25,71
Calophyllaceae Calophyllum brasiliensis 73 13,24 54,55 17,14
Rubiaceae Alibertia sessilis 58 10,50 36,36 11,43
4. DISCUSSÃO
4.1. Avaliação do plantio
Apesar de ser um monitoramento em área de restauração
na transição Amazônia/Cerrado e da diferença de idade
grande com o presente estudo, a mortalidade estimada foi
semelhante à encontrada por Silva et al. (2016), em um
plantio após mineração com 18 anos idade em floresta
tropical estacional semidecidual. Entretanto, está abaixo da
encontrada por Salomão et al. (2014), em área em restauração
após mineração com 13 anos na Amazônia. Brancalion et al.
(2012) consideram alta uma taxa de mortalidade acima de
10% e Rodrigues et al. (2009) indicam que uma área com
percentual acima desse valor demanda por ões imediatas de
manutenção com replantio. Dessa forma, apenas a A3 não
apresentou valor superior à taxa limite em relação às demais,
que apresentaram o dobro. Quanto à cobertura de copa, a A1
foi a que apresentou menor percentual, o que pode estar
relacionado à maior taxa de mortalidade e menor densidade
de plantas na área, pois A2 e A3, com menor percentual de
mortalidade e maior número de indivíduos por área,
apresentaram maior cobertura de copa.
4.2. Identidade botânica, síndromes de dispersão e
grupos ecológicos na sucessão
Para Duboc (2004), pelo menos 30 a 40 espécies são
suficientes para auxiliar no processo de sucessão ecológica,
desde que a escolha seja diversificada e determinada em
função da composição florística presente na região, a fim de
auxiliar no processo de restabelecimento do ecossistema
degradado. Assim, a riqueza encontrada para as áreas de
estudo está abaixo do recomendado. A baixa riqueza pode ser
explicada pela mortalidade de espécies implantadas, tendo em
vista que pelo menos 18 espécies que constavam no PRAD
não foram registradas na avaliação do plantio, ou mesmo pela
possibilidade de algumas espécies que constam no projeto
não terem sido implantadas (Tabela 2).
O estabelecimento e regeneração de espécies de Fabaceae
se destacaram nas áreas avaliadas e esse não é um fato isolado,
Avaliação do sucesso da restauração florestal de matas ciliares na transição Amazônia-Cerrado em Mato Grosso
Nativa, Sinop, v. 10, n. 3, p. 356-365, 2022.
362
pois, essa importante família também se desponta em outros
estudos. Em Nova Xavantina, Mato Grosso, a família
Fabaceae também foi a mais presente dentre as 37
encontradas, com 15 espécies de um total de 84 identificadas
(SILVA et al., 2011). De acordo com Araújo et al. (2009), a
família Fabaceae possui expressividade e é marcante em
estudos onde a condição de fertilidade natural dos solos é
baixa, principalmente devido à capacidade de fixação de
nitrogênio apresentada por algumas espécies desta família.
Dentre as espécies identificadas, houve predominância da
síndrome de dispersão zoocórica, assim como encontrado
por Oliveira et al. (2020) em uma vegetação nativa na
Amazônia Meridional. A presença de espécies zoocóricas é
um bom indicativo, pois para Resende; Carvalho (2013), o
plantio dessas espécies constitui uma importante medida em
um processo de restauração, considerando que em ambientes
tropicais, como o Brasil, a zoocoria prevalece sobre as outras
síndromes de dispersão.
Na avaliação dos grupos ecológicos, foi possível observar
que apenas A2 não apresentou uma ordem decrescente
iniciando pelas pioneiras, secundárias e clímax, segundo a
recomendação de Botelho e Davide (2002). No entanto, a
grande maioria das espécies são do grupo de diversidade.
Esse fato explica, por exemplo, a alta incidência de gramíneas
na A1, visto que espécies do grupo de preenchimento
possuem uma capacidade maior de sombreamento frente às
espécies de diversidade, que em grande maioria facilitam o
desenvolvimento de matocompetição (NAVE;
RODRIGUES, 2007).
4.3. Avaliação da regeneração natural
A análise da regeneração, similaridade, expressa pelo
índice de Jaccard, e identificação de espécies que não foram
implantadas no início do projeto, sugere que existe interação
das áreas em restauração com os remanescentes de vegetação
nativa presente no entorno ou próximo das áreas em
restauração.
A regeneração natural é responsável pela manutenção
futura do ambiente florestal por meio da substituição gradual
das espécies que entram em senescência (BRANCALION et
al., 2012), por isso, é essencial que haja fluxo de dispersão nas
áreas em restauração para manutenção da dinâmica
sucessional da vegetação.
Entretanto, Fonseca et al. (2017), em uma área em
restauração com 10 anos de idade, também em floresta
tropical ciliar, inserida em uma paisagem de mosaicos campo-
floresta, encontraram um número de espécies regenerantes
que não foram utilizadas no plantio 10 vezes maior, o que
pode indicar que, apesar da existir, o fluxo de dispersão das
áreas de vegetação nativa adjacentes para as áreas de estudo
é baixo.
4.4. Análise fitossociológica
Na análise dos indicadores fitossociológicos realizada
para o plantio, os valores de densidade encontrados para as
três áreas são considerados baixos quando comparados com
estudos realizados em vegetação nativa. De acordo com
Kunz et al. (2009), em uma área com vegetação do tipo
cerradão no município de Canarana, Mato Grosso, a
densidade total na área amostrada foi de 2.496 indivíduos/ha.
Araújo et al. (2009) obtiveram DA de 1.555 ind./hectare em
uma área de vegetação nativa no município de Sinop. A
menor densidade se deve em função do maior espaçamento
(3 x 3 m), considerado amplo, tendo em vista que o
espaçamento comumente utilizado é de 3 x 2 m, a fim de
diminuir a luminosidade no sub-bosque, consequentemente
reduzindo a incidência de gramíneas na área (RODRIGUES
et al., 2009).
Quanto à área basal, os valores encontrados são inferiores
aos encontrados por Marimon Junior; Haridasan (2005,) que
constataram valores de 21,4 m²/ha. Enquanto Melo e
Durigan (2007), encontraram, no vale do Paranapanema, para
plantios de 13 e 7 anos, valores de 23,32 m²/ha e 17,25
m²/ha, respectivamente. A menor área basal pode ser
explicada pelo espaçamento utilizado, que, por influenciar a
densidade do plantio, também interfere na ocupação da área
pelos indivíduos arbóreos. As espécies com maior IVI foram,
em maioria, da família Fabaceae, com exceção de T. roseoalba
(Bignoniaceae) na A1. Essas espécies são as mais importantes
dentro da estrutura das áreas de estudo, isso porque o IVI
considera a densidade, frequência, e dominância dessas
espécies, logo, quanto maior o índice, maior a
representatividade da espécie.
Os resultados obtidos para a diversidade de Shannon-
Wiener, também estão aquém dos encontrados por outros
autores. Marimon-Junior; Haridasan (2005) e Kunz et al.
(2009) obtiveram 3,67 e 3,85 nats ind/ha, respectivamente,
para vegetação do tipo Cerradão. Além de Gomes et al.
(2018), que obtiveram 3,93 para uma floresta de transição
Amazônia/Cerrado.
Quanto ao índice de equabilidade de Pielou, que reflete o
quanto em termos de riqueza de espécies do estrato arbóreo
ocupam o estrato regenerante, apenas o resultado encontrado
para A2 se assemelha com outros estudos. Em Nova
Xavantina, Mato Grosso, Franczak (2009) encontrou valores
de equabilidade de 0,82 e 0,86 em uma área de Cerradão. Em
Canarana, Mato Grosso, Kunz et al. (2009) encontraram 0,84,
e no mesmo estado no município de Itaúba, Gomes et al.
(2018) encontraram um índice de 0,85, ambos os trabalhos
em vegetação de transição com formações do tipo Cerradão.
Nesse sentido, A1 e A3 obtiveram valores inferiores, ao
contrário da A2 que apresentou valores parecidos aos
comparados, indicando uma abundância equitativa melhor
do que as outras duas áreas. Portanto, as áreas de estudo
possuem, além de baixa diversidade florística, pouca
uniformidade e riqueza de espécies. Isso possivelmente se
deve à distribuição desequilibrada das espécies no plantio.
Na análise fitossociológica da regeneração natural, o
maior destaque foi para o recrutamento de S. tenuifolia na A2
(Tabela 4). Os resultados mostram um visível desbalanço no
recrutamento e distribuição da espécie, pois os valores de
densidade, dominância e frequência demonstram a
monodominância dessa espécie no sub-bosque da área. A
monodominância pode ser explicada pela proporção de
indivíduos plantados da espécie em relação às outras, à
dinâmica populacional acelerada da planta que é pioneira,
heliófita e de copa paucifoliada, e à síndrome de dispersão,
caracterizada pela autocoria e grande produção de sementes
(CARVALHO et al., 2010).
Essas características de S. tenuifolia ocasionaram um
aumento da luminosidade no sub-bosque e favoreceram a
expressão desses regenerantes, principalmente por ser o
indivíduo mais abundante no plantio da área (Tabela 4). Em
consequência disso, o índice de diversidade de Shannon-
Wiener foi baixo, pois a grande quantidade de indivíduos de
S. tenuifolia configurou um ambiente com baixa riqueza de
espécies. Com a diminuição do número de indivíduos da
espécie, possivelmente o valor tende a aumentar, visto que o
Oliveira et al.
Nativa, Sinop, v. 10, n. 3, p. 356-365, 2022.
363
índice acompanha equitativamente o número de indivíduos
em relação à quantidade de espécies.
4.5. Cobertura de gramíneas
Os resultados da avaliação da cobertura por gramíneas na
A1 demonstraram que a incidência de luminosidade é grande,
pois a incidência da matocompetição foi elevada. O uso
passado e a proximidade de pastagem com a área influenciam,
certamente, na forte presença das invasoras, visto que o
banco de sementes de gramíneas é bem persistente
(PEREIRA et al, 2010).
Na A2, a baixa expressão de invasoras deve estar
relacionada ao percentual de cobertura de copa, que indica
um sombreamento razoável da área e consequente inibição
do desenvolvimento de gramíneas. Já na A3, a classificação
que prevaleceu foi a de Média Incidência, neste caso, apesar
do valor de cobertura de copa ter sido alto (44%), a não
sistematização na ordenação das espécies no momento da
implantação pode ter sido um fator que contribuiu para esse
resultado.
O espaçamento foi uma característica comum que
influenciou diretamente na cobertura de área, intimamente
relacionada com a incidência de gramíneas, o que contribui
para o baixo recrutamento e diversidade de espécies
regenerantes, já que as gramíneas constituem filtro ecológico
para a regeneração natural (RESENDE; LELES, 2017). Se
considerarmos as recomendações de Rodrigues et al. (2009),
a A1 demandaria ações imediatas de correção e a A3
apresenta situação preocupante.
4.6. Manejo adaptativo
De acordo com o Decreto Estadual 1.491 (MATO
GROSSO, 2018), que dispõe sobre a adoção de indicadores
ambientais para o monitoramento da recomposição da
vegetação nativa, em formações florestais são considerados
três indicadores para avaliar se uma área está ou não
restaurada. São eles: Cobertura do solo (≥ 80% nativa; ≤ 20%
exótica), Densidade de regenerantes nativos (3000 ind./ha)
Riqueza de regenerantes nativos (20 para polígono ≤ 5ha; 30
para polígono > 5ha). Observando os indicadores avaliados
e os valores de referência para o estado de Mato Grosso, as
áreas de estudo não podem ser consideradas restauradas.
Nesse sentido, podem ser consideradas ações de manejo
adaptativo, que segundo Aronson et al. (2011) são
“intervenções deliberadas no ecossistema durante sua
trajetória, visando superar filtros ou barreiras que dificultem
sua evolução rumo ao estado desejado”. Essas práticas
podem melhorar a estrutura das áreas e contribuir para o
restabelecimento de serviços ecossistêmicos, estoque de
carbono e consequente prestação de serviços ambientais das
áreas.
Assim, possibilidade de emprego de ações de manejo
adaptativo como adensamento em locais onde
mortalidade e altos índices de invasão por gramíneas e
enriquecimento onde houver baixa diversidade de espécies.
Na A2, por exemplo, onde monodominância de
regenerantes de S. tenuifolia, uma das alternativas de manejo
poderia se constituir da limpeza mediante roçada manual e
abertura de berços para o plantio de espécies perenifólias do
grupo de preenchimento, com vistas a inibir e dificultar o
desenvolvimento do banco de plântulas desta espécie.
Entretanto, são necessárias novas avaliações dos mesmos
indicadores para compor um monitoramento das áreas ao
longo dos anos, especialmente para obtenção de informações
a respeito da regeneração natural, a fim de descrever com
mais propriedade a o recrutamento de espécies e dinâmica
desses ecossistemas para subsidiar um delineamento das
estratégias de manejo e alcançar os resultados esperados.
5. CONCLUSÕES
As áreas avaliadas aos 7 anos de idade ainda estão em
processo de restauração. Dentre os fatores que contribuíram
para esse cenário foram a seleção de espécies, a proporção de
indivíduos e o arranjo de plantio. A riqueza foi baixa, o
espaçamento amplo e a elevada proporção de indivíduos
regenerantes de Senegalia tenuifolia na A2 resultou em uma
simplificação das condições estruturais e funcionais.
Essas condições influenciaram a ocupação e o
estabelecimento das espécies nas áreas e consequentemente
o sucesso da restauração florestal, pois, resultaram em menor
densidade, área basal, e cobertura de copa, o que corroborou
para expressão significativa de gramíneas em grande parte das
áreas.
Existe a possibilidade da adoção de ações de manejo
adaptativo, como enriquecimento e adensamento, todavia,
são necessárias novas avaliações de monitoramento para
construção de bases mais sólidas visando intervenções para a
adequação da trajetória dos ecossistemas estudados.
6. AGRADECIMENTOS
A Universidade Federal de Mato Grosso pelo incentivo
financeiro por meio do Programa de Iniciação Científica. A
Fazenda Santa Anastácia pela permissão para a realização do
estudo.
7. REFERÊNCIAS
ARAUJO, R. A.; COSTA, B. R.; FELFILI, J. M.;
GONÇALVEZ, I. K.; SOUSA, R. A. T. e M. e.;
DORVAL, A. Florística e estrutura de fragmento
florestal em área de transição na Amazônia
Matogrossense no município de Sinop. Acta
Amazonica, v. 39, n. 4, p. 865-878, 2009.
ARONSON, J.; DURIGAN, G.; BRANCALION, P.H.S.
Conceitos e definições correlatas à ciência e à prática da
restauração ecológica. IF Série Registros, v. 44, p. 1-38,
2011.
BOTELHO, S. A.; DAVIDE, A. C. Métodos silviculturais
para recuperação de nascentes e recomposição de matas
ciliares. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE
RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS.
Anais... Lavras: UFLA, 2002. v. 1, p. 123-145. Disponível
em: https://www.researchgate.net/profile/Soraya-
Botelho/publication/242672925_METODOS_SILVIC
ULTURAIS_PARA_RECUPERACAO_DE_NASCEN
TES_E_RECOMPOSICAO_DE_MATAS_CILIARES
/links/55ba18fb08aed621de0ab2a6/METODOS-
SILVICULTURAIS-PARA-RECUPERACAO-DE-
NASCENTES-E-RECOMPOSICAO-DE-MATAS-
CILIARES.pdf
BRANCALION, P. H. S.; VIANI, R. A. G.; RODRIGUES,
R. R.; GANDOLFI, S. Avaliação e monitoramento de
áreas em processo de restauração. In: MARTINS, S. V.
Restauração ecológica de ecossistemas degradados.
Viçosa: Editora UFV, 2012. p. 262-291.
CARVALHO, F. A.; FAGG, C. W.; FELFILI, J. M.
Dinâmica populacional de Acacia Tenuifolia (l.) Willd. em
uma Foresta Decidual sobre aforamentos calcários no
Avaliação do sucesso da restauração florestal de matas ciliares na transição Amazônia-Cerrado em Mato Grosso
Nativa, Sinop, v. 10, n. 3, p. 356-365, 2022.
364
Brasil central. Scientia Forestalis, v. 38, n. 86, p. 297-
306, 2010.
CECCON, E. Desafios da restauração ecológica no mundo
e no Brasil. Simpósio de Restauração Ecológica: desafio
do processo frente à crise ambiental, VI. Anais... p. 61-
66, 2019. Disponível em:
https://www.researchgate.net/profile/Luiz-Barbosa-
4/publication/338513848_GOVERNO_DO_ESTAD
O_DE_SAO_PAULO_SECRETARIA_DE_INFRAE
STRUTURA_E_MEIO_AMBIENTE_Restauracao_Ec
ologica_Desafio_do_processo_frente_a_crise_ambiental
_Coordenacao_geral_Luiz_Mauro_Barbosa/links/5e18
825192851c8364c08ddf/GOVERNO-DO-ESTADO-
DE-SAO-PAULO-SECRETARIA-DE-
INFRAESTRUTURA-E-MEIO-AMBIENTE-
Restauracao-Ecologica-Desafio-do-processo-frente-a-
crise-ambiental-Coordenacao-geral-Luiz-Mauro-
Barbosa.pdf#page=62
DUBOC, E. Cultivo de Espécies Nativas do Bioma
Cerrado. Planaltina: Embrapa Cerrados, 2004. 10p.
(Comunicado Técnico, 110)
DURIGAN, G.; ENGEL, V. L. Restauração de ecossistemas
no Brasil: onde estamos e para onde podemos ir? IN:
MARTINS, S. V. (Ed). Restauração ecológica de
ecossistemas degradados. Viçosa: Editora UFV, 2012.
p. 41-68.
DURIGAN, G.; RAMOS, V. S. Manejo adaptativo:
primeiras experiências na Restauração de
Ecossistemas. São Paulo: Páginas & Letras Editora e
Gráfica, 2013. 50p.
FONSECA, D. A. D.; BAKES, A. R.; ROSENFIELD, M.
F.; OVERBECK, G. E.; MULLER, S. C. Avaliação da
regeneração natural em área de restauração ecológica e
mata ciliar de referência. Ciência Florestal, v. 27, n. 2, p.
521-534, 2017.
FRANCAZAK, D. D. Mudança na Comunidade
Lenhosa de um Cerradão e um Cerrado Stricto Sensu
no Parque do Bacaba, Nova Xavantina. 96f.
Dissertação [Dissertação Mestrado em Ciências
Florestais e Ambientais] - Universidade Federal de Mato
Grosso, Cuiabá, 2009.
GOMES, F. F. C.; PIVA, J. H.; ROCHA FILHO, J. A.;
OLIVEIRA, J. C.; SOUZA, S. S.; SILVA, I. R.;
CARVALHO, M. A. C. Dissimilaridade florística de um
Cerrado e Floresta de Transição Cerrado-Amazônia no
norte de Mato Grosso. Revista Brasileira de Ecologia,
v. 1516, p. 67, 2018.
GUERIN, N.; ISERNHAGEN, I. Plantar, criar e
conservar: unindo produtividade e meio ambiente.
Sinop: Embrapa Agrossilvipastoril, 2013. 143p. (Livro
técnico, INFOTECA-E)
GUERRA, A.; REIS, L. K.; BORGES, F. L. G.; OJEDA, P.
T. A.; PINEDA, D. A. M.; MIRANDA, C. O.; GARCIA,
L. C. Ecological restoration in Brazilian biomes:
Identifying advances and gaps. Forest Ecology and
Management, v. 458, e117802, 2020. DOI:
https://doi.org/10.1016/j.foreco.2019.117802
IBGE_Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Cidades: Sorriso. Rio de Janeiro; IBGE, 2019.
Disponível em:
<https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mt/sorriso/panora
ma>. Acesso em: 15 de mar. 2022.
IBGE_Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Manual técnico da vegetação brasileira. rie:
Manuais técnicos em geociências, 2 ed. Rio de Janeiro:
IBGE, 2012. 271p.
KÖPPEN, W. Grundriss der Klimakunde: Outline of climate
science. Berlin: Walter de Gruyter, 1931. 388 p.
KUNZ, S. H.; IVANAUSKAS, M. N.; MARTINS, S. V;
Estrutura fitossociológica de uma área de cerradão em
Canarana, Mato Grosso. Acta Scientiarum. Biological
Sciences, v. 31, n. 3, p. 255-261, 2009.
MARIMON-JÚNIOR, B. H.; HARIDASAN, M.
Comparação da vegetação arbórea e características
edáficas de um cerradão e um cerrado sensu stricto em
áreas adjacentes sobre solo distrófico no leste de Mato
Grosso, Brasil. Acta Botânica Brasílica, v. 19, n. 4, p.
913-926, 2005.
MELO, A. C. G.; DURIGAN, G. Evolução estrutural de
reflorestamento de restauração de matas ciliares no médio
Vale do Paranapanema. Scientia Forestalis, n. 73, p.
101-111, 2007.
NAVE, A. G.; RODRIGUES, R. R. combination of species
into filling and diversity groups as forest restoration
methodology. In: RODRIGUES, R. R.; MARTINS, S.
V.; GANDOLFI, S. (Orgs.). High Diversity Forest
Restoration in Degraded Areas: Methods and
Projects in Brazil. 1 ed. New York: Nova Science
Publishers, 2007. p. 103-126.
ODS_OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL. 2015. Indicadores Brasileiros para
os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Disponível em
<https://odsbrasil.gov.br/home/agenda> Acesso em:
03 mar. 2021.
OLIVEIRA, A. T. M.; CANALE, G. R.; NOGUEIRA, L. A.
S.; FRANÇA, A. L. SANTOS, J. D. P.; CÓRDOVA, M.
O. Estrutura e síndromes de dispersão da vegetação
arbórea em floresta nativa e agrofloresta, na Amazônia
Meridional. Revista de Ciências Agrárias, v. 43, n. 3, p.
352-362, 2020. https://doi.org/10.19084/rca.19602
PEREIRA, I. M.; ALVARENGA, A. P.; BOTELHO, S. A.
Banco de sementes do solo, como subsídio à
recomposição de mata ciliar. Floresta, v. 40, n. 4, p. 721-
730, 2010. http://dx.doi.org/10.5380/rf.v40i4.20324
REIS, D. N. Desenvolvimento de um índice para
avaliação da recuperação de ecossistemas ciliares.
2008. 179p. [Tese Doutorado em Engenharia Florestal]
- Universidade Federal de Lavras, Lavras, 2008.
REIS, D. N.; DAVIDE, A. C.; FERREIRA, D. F.
Indicadores preliminares para avaliação da restauração
em reflorestamentos de ambientes ciliares. Pesquisa
Florestal Brasileira, v. 34, n. 80, p. 375-389, 2014.
REENDE, S. R.; CARVALHO, M. G. Uso de espécies
zoocóricas nativas na recuperação de áreas degradadas: a
fauna como catalisadora no processo de recuperação. In:
CONGRESSO NACIONAL DE BOTÂNICA. Anais...
Belo Horizonte, 2013. v. 64, p. 1. Disponível em:
https://dtihost.sfo2.digitaloceanspaces.com/sbotanicab
/64CNBot/resumo-ins20319-id3243.pdf
RESENDE, A. S.; LELES, P. S. S. Controle de plantas
daninhas em restauração florestal. Brasília: Embrapa,
2017. 107p.
RODRIGUES, R. R.; ISERNHAGEM, I.; BRANCALION,
P. H. S. Pacto pela restauração da Mata Atlântica:
referencial dos conceitos e ações de restauração
florestal. 2. ed. São Paulo: LERF/ESALQ, 260 p., 2009.
Disponível em
Oliveira et al.
Nativa, Sinop, v. 10, n. 3, p. 356-365, 2022.
365
<http://www.lerf.esalq.usp.br/divulgacao/produzidos/
livros/pacto2009.pdf >. Acesso em: 15 de mar. de 2022.
RODRIGUES R. R.; PADOVEZI A.; FARAH F. T;
GARCIA L. C.; SANGLADE L. D.; BRANCALION P.
H.; CHAVES, R. A. B.; VIANI R. G.; BARRETO T. B.;
STRASSBURG B. B.; SCARAMUZZA C. A. M.
Protocolo de Monitoramento para Programas e
Projetos de Restauração Florestal. São Paulo:
LERF/ESALQ; Instituto BioAtlântica, 2013. 59p.
SALOMÃO, R. P.; BRIENZA JÚNIOR, S.; ROSA, N. A.
Dinâmica de reflorestamento em áreas de restauração
após mineração em unidade de conservação na
Amazônia. Revista Árvore, v. 38, p. 1-24, 2014.
SILVA, K. A.; MARTINS S. V.; MIRANDA NETO, A.;
DEMOLINARI, R. D. A.; LOPES, A. T. Restauração
florestal de uma mina de bauxita: avaliação do
desenvolvimento das espécies arbóreas plantadas.
Floresta e Ambiente, v. 23, p. 309-319, 2016.
SILVA, F. E.; FORSTHOFER, M.; ABREU, M. F.;
MARIMON-JUNIOR, B. H. Estrutura e composição
florística de um cerradão no Parque Municipal do Bacaba,
Nova Xavantina-MT. In: CONGRESSO DE
INICIAÇÃO CIENTÍFICA. Anais... Universidade do
Estado de Mato Grosso, Cáceres, MT, 2011. v. 7.
Disponível em:
http://siec.unemat.br/anais/!default/impressao-
pdf.php?y=Mg==&r=OTY2&i=NTM0Ng==&p=0&v
=MA==&d=SQ==&cache=1660829675
SOUZA, A. P.; MOTA, L. L.; ZAMADEI, T.; MARTIN, C.
C.; ALMEIDA, F. T.; PAUNLINO, J. Classificação
climática e balanço hídrico climatológico no estado de
Mato Grosso. Nativa, v. 1, n. 1, p. 34-43, 2013. DOI:
10.31413/nativa.v1i1.1334