Oliveira et al.
Nativa, Sinop, v. 10, n. 3, p. 356-365, 2022.
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sustentáveis (ODS, 2021). Esses objetivos coadunam com a
finalidade da restauração florestal, estratégia fundamental
para fornecer serviços ecossistêmicos como água e qualidade
do ar, melhorar a qualidade de vida da população com saúde
e segurança alimentar e consequentemente enfrentar as
mudanças climáticas (CECCON, 2019).
Nesse sentido, a aplicação da restauração florestal exige
necessidades quanto ao aprimoramento técnico visando a
qualidade dos resultados dos projetos, a fim de mitigar
insucessos ao longo de todo o processo (DURIGAN;
ENGEL, 2012). O monitoramento é uma ferramenta
primordial para a obtenção de informações a respeito dos
fatores que influenciam na trajetória da restauração
(BRANCALION et al., 2012). Muitas vezes negligenciado,
devido ao aumento dos custos na implantação de um projeto,
o monitoramento é frequentemente encarado como uma
meta a ser cumprida para uma futura licença ambiental junto
aos órgãos públicos competentes e/ou para fins de
certificação no intuito de aumentar a competitividade no
mercado.
Todavia, há um consenso entre especialistas de que o
monitoramento é imprescindível para adoção correta de
práticas de restauração. Esse permite identificar a necessidade
de mudanças na trajetória do processo quanto aos métodos
que foram utilizados, como a aplicação do manejo adaptativo
para superar condições específicas do ambiente que estejam
dificultando ou impedindo o sucesso do projeto
(DURIGAN; RAMOS, 2013).
Portanto, o presente trabalho teve como objetivo
monitorar através de indicadores três áreas de mata ciliar em
processo de restauração, localizadas no município de Sorriso,
Mato Grosso. Além disso, buscou-se definir a necessidade de
estratégias de manejo adaptativo, a fim de atingir o escopo do
projeto, visando aproximar as características das áreas a de
uma vegetação nativa, e principalmente restabelecer um
ecossistema funcional e autônomo.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.1. Caracterização da área
O estudo foi desenvolvido no ano de 2014, sete anos após
a implantação do projeto, na Fazenda Santa Anastácia, no
município de Sorriso, Mato Grosso (12°30’36.42” S e
55°41’29.21” W). A região está situada em uma área de
transição entre os biomas Amazônia e Cerrado (IBGE, 2019),
com formações transacionais do tipo floresta estacional
sempre-verde, florestas de terras baixas e Cerradão (IBGE,
2012). O clima da região é tipo Aw - tropical quente e úmido,
pela classificação climática Köppen, com precipitação média
anual em torno de 1974,47 mm e temperatura média anual de
24,70 °C (SOUZA et al., 2013).
A área total da propriedade é de 7.150 hectares, com
5.362 hectares de área total explorada e 1.768 hectares de
Reserva Legal (RL) e Área de Preservação Permanente
(APP). O Plano de Recuperação de Área Degradada (PRAD)
da fazenda possui um total de 36 hectares, no entanto, as
áreas objeto de estudo possuem as seguintes dimensões: Área
1 (A1) – 5,0 ha; Área 2 (A2) - 11,38 ha; Área 3 (A3) – 10,28
ha (Figura 1).
A A1 é próxima à uma lagoa da propriedade, adjunta à
BR-163 e vizinha a uma área de pastagem da fazenda, com
criação de bovinos e ovinos. A A2, também próxima à BR-
163, é uma faixa estreita de restauração que circunda um
fragmento de vegetação nativa, e é margeada por cultivo
agrícola. A A3 é a extremidade de um fragmento de vegetação
nativa, possui uma nascente, e faz fronteira com cultivo
agrícola, porém é distante da BR-163. A A1 era destinada a
pastagem e a A2 e A3 foram utilizadas para atividade agrícola
até 2006, quando entraram no processo de regularização
ambiental.
Figura 1. Localização das áreas de estudo.
Figure 1. Location of study areas.
2.2. Histórico das atividades realizadas nas áreas
As informações do relatório do PRAD protocolado junto
a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SEMA), indicaram
que o projeto foi iniciado em dezembro de 2006, abrangendo
as Áreas de Preservação Permanente (APP) e as de Reserva
Legal (RL). Segundo o relatório, o preparo das áreas foi feito
com limpeza e adubação com 150 g de NPK (10- 20-5) e
calagem em doses de 150 g por cova. A manutenção pós-
plantio foi realizada, que consistiu no coroamento, combate
de plantas competidoras e o controle de formigas cortadeiras.
Atividades nas áreas de plantio como entrada de
máquinas, pisoteio de animais e pessoas e cultivo de
monocultura agrícola (soja e milho), foram eliminadas, além
disso, foram realizadas roçadas e construção de aceiros. Cerca
de 24.200 mudas nativas da região em espaçamento 3 x 3 m
foram utilizadas, dando preferência a proporção de 45% de
espécies pioneiras, 35% de espécies secundárias e 20% de
espécies clímax.
2.3. Definição das unidades amostrais
As unidades amostrais foram determinadas de acordo
com o recomendado por Rodrigues et al. (2009), e adaptadas
para o estudo, de forma que cada parcela permanente
amostrasse 40 indivíduos, com sub-parcelas sistemáticas
dentro de cada uma para a avaliação da regeneração natural.
A localização das áreas com dados georreferenciados foi feita
para a instalação das parcelas, em seguida, dividiu-se cada área
de estudo em linhas de grade, e foram selecionadas apenas
unidades que estivessem dentro da área restaurada. Essas
unidades foram codificadas e realizou-se o sorteio aleatório
com auxílio de planilha de cálculo.
A intensidade amostral variou em função do tamanho das
áreas reflorestadas. Seguindo a metodologia estabelecida por
Reis et al. (2014), áreas com 5,0 hectares ou mais devem ter
8% da sua área amostrada e áreas com 10 hectares ou mais,
4% da área amostrada. Dessa forma, foi estabelecido onze
parcelas para A1 e A2 com 5,0 e 9,46 hectares,
respetivamente, e doze parcelas na A3, com 10,28 hectares.
A Figura 2 ilustra as áreas de estudo, a quantidade e a
localização das unidades amostrais.