Nativa, Sinop, v. 10, n. 2, p. 237-243, 2022.
Pesquisas Agrárias e Ambientais
DOI: https://doi.org/10.31413/nativa.v10i2.13622 ISSN: 2318-7670
Conservação e qualidade pós-colheita de melão ‘Cantaloupe’ tratados
com indutores de resistência
Rommel dos Santos Siqueira GOMES
1*
, Juliana Pereira da SILVA
1
,
Janailson Pereira de FIGUEIREDO
1
, Andrezza Klyvia Oliveira de ARAUJO
1
1 Programa de Pós-Graduação em Agronomia,
Universidade Federal da Paraíba, Areia, PB, Brasil.
*
E-mail: rommelssgomes@gmail.com
(ORCID: 0000-0001-7596-3221; 0000-0002-8868-4253; 0000-0003-4757-0003; 0000-0001-7110-0066)
Recebido em 01/04/2022; Aceito em 25/05/2022; Publicado em 09/06/2022.
RESUMO: Assim como a maioria das frutas, o melão (Cucumis melo L.) enfrenta diversos problemas de
conservação pós-colheita, por se tratar de um alimento perecível e possuir alta atividade de água, além das
perdas nas etapas de transporte, distribuição, armazenamento e comercialização. O objetivo do estudo foi
avaliar a interferência de indutores de resistência na conservação e qualidade pós-colheita de Cucumis melo var.
Cantalupensis. Os frutos foram submetidos aos tratamentos com Bion®, Ecolife®, AgroSilício® e como
testemunha apenas água destilada. As análises foram realizadas aos 0, 3, 6, 9 e 12 dias de armazenamento, sob
temperatura de 25 ±2ºC. Ao final de cada período de armazenamento foram realizadas as seguintes análises:
perda de massa fresca, firmeza e cor da casca e da polpa, pH, sólidos solúveis (SS), acidez titulável (AT), relação
SS/AT e ácido ascórbico. Os tratamentos não interferiram significativamente sobre as variáveis de pH,
parâmetros (a* e b*) da casca, luminosidade (L*) da polpa e sólidos solúveis totais nos frutos de melão (Cucumis
melo var. Cantaloupensis), no período de 0 a 12 dias de armazenamento. O AgroSilício proporcionou uma
menor perda de massa fresca, acidez e da razão entre sólidos solúveis e acidez titulável (SS/AT). Os maiores
teores de vitamina C foram obtidos de frutos de melão tratados com Ecolife, ao final do período de
armazenamento.
Palavras-chave: Acibenzolar-S-metil; armazenamento; extrato cítrico; físico-química; silício.
Conservation and postharvest quality of 'cantaloupe' melon
treated with resistance inducer
ABSTRACT: Like most fruits, melon (Cucumis melo L.) faces several post-harvest conservation problems,
because it is a perishable food and has a high water activity, in addition to losses in the stages of transport,
distribution, storage and commercialization. The objective of the study was to evaluate the interference of
resistance inducers on the conservation and postharvest quality of Cucumis melo var. Cantalupensis.
Cantalupensis. The fruits were submitted to treatments with Bion®, Ecolife®, AgroSilício® and as a control only
distilled water. Analyzes were performed at 0, 3, 6, 9 and 12 days of storage, at a temperature of 25 ±2ºC. At
the end of each storage period, the following analyzes were performed: loss of fresh mass, skin and pulp
firmness and color, pH, soluble solids (SS), titratable acidity (AT), SS/AT ratio and ascorbic acid. The
treatments did not significantly affect the variables of pH, parameters (a* and b*) of the skin, luminosity (L*)
of the pulp and total soluble solids in the fruits of melon (Cucumis melo var. Cantaloupensis), in the period from
0 to 12 storage days. AgroSilicon provided a lower loss of fresh mass, acidity and the ratio between soluble
solids and titratable acidity (SS/AT). The highest levels of vitamin C were obtained from melon fruits treated
with Ecolife, at the end of the storage period.
Keywords: Acibenzolar-S-methyl; storage; citrus extract; physicochemical; silicon.
1. INTRODUÇÃO
O melão (Cucumis melo L.) é uma hortaliça pertencente à
família da Cucurbitaceae, muito apreciada e possui elevada
expressão econômica no mundo, é cultivada em várias
regiões do Brasil, com adaptação a diversos tipos de solo e
clima, com centro de origem nos quentes vales do Irã e
noroeste da Índia (FILGUEIRA, 2003; MEDEIROS et al.,
2020).
Essa espécie é considerada uma planta mais polimórfica
do gênero, sendo com isso responsável pelas diferentes
características dos frutos que variam quanto à atividade
metabólica, capacidade de conservação pós-colheita,
sensibilidade ao frio, estrutura da casca e da polpa, formato e
tamanho do fruto (PITRAT et al., 2000).
Os frutos são ricos em vitaminas A, B, B2, B5 e C e sais
minerais como potássio, sódio e fósforo, além do ácido
cítrico e málico em pequenas quantidades. Possui valor
energético entre 20 a 62 kcal 100-1 g de polpa, em que o
principal açúcar é a sacarose, mas também contém frutose,
glicose e rafinose em menores quantidades, podendo ser
consumida in natura ou na forma de suco (FILGUEIRA,
2003; HORTIBRASIL, 2012).
A China é o maior produtor mundial de melão, sendo o
Brasil um dos maiores produtores de frutas e hortaliças do
Conservação e qualidade pós-colheita de melão ‘Cantaloupe’ tratados com indutores de resistência
Nativa, Sinop, v. 10, n. 2, p. 237-243, 2022.
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mundo e o maior produtor de melão da América do Sul
(FAO, 2021), compreendendo o meloeiro como a hortaliça
de maior expressão econômica comercial na região Nordeste
(IBGE, 2020).
O agronegócio do melão caracteriza-se pela enorme
importância socioeconômica para a região Nordeste, pois
absorve grande quantidade de mão-de-obra, gerando
empregos diretos e indiretos. É um exemplo de progresso no
aprimoramento tecnológico e de geração de renda no
semiárido brasileiro (CRISÓSTOMO et al., 2008). Apesar do
cultivo de melão ser possível em praticamente todo o
território brasileiro, a região Nordeste destaca-se com mais
de 83,8% de sua produção, concentrada nos estados do Rio
Grande do Norte, Ceará e Bahia (IBGE, 2020).
Dentre os meloeiros cultivados, um crescente interesse
pela produção de frutos tidos como nobres”, conhecidos
popularmente como melão japonês ou Cantaloupe, os quais
são pertencentes aos melões rendilhados (Cucumis melo var.
reticulatus Naud.) do grupo Cantalupensis. Estes melões
possuem qualidades superiores quanto ao aroma, polpa com
coloração diferenciada, maior teor de sólidos solúveis em
comparação aos melões tradicionais (MEDEIROS et al.,
2007).
A busca por produtos advindos de cultivos menos
impactantes ao meio ambiente também vem aumentando à
medida que há possibilidade de disponibilizar informações de
procedência aos consumidores. Estes optam por frutos
produzidos com menor necessidade do uso de agrotóxicos e
em sistema com maior eficiência na utilização da água e
nutrientes (VENDRUSCOLO et al., 2018).
Diante da magnitude das perdas físicas ocorridas durante
as etapas pós-colheita do melão, existe a necessidade de se
desenvolverem novos processos que permitam a redução das
perdas, sendo a utilização de indutores na forma
recobrimento um excelente promissor na manutenção da
qualidade de frutos de melão, fazendo com que prolongue o
seu período de vida útil.
Sendo assim, foi objetivado avaliar a interferência de
indutores de resistência na conservação e qualidade pós-
colheita de Cucumis melo var. Cantalupensis.
2. MATERIAL E METODOS
O experimento foi conduzido no Laboratório de Biologia
e Tecnologia Pós-colheita (LBTPC) do Departamento de
Fitotecnia e Ciências Ambientais do Centro de Ciências
Agrárias da Universidade Federal da Paraíba, Campus de
Areia.
Os frutos de melão ‘Cantaloupe’ (Cucumes melo var.
cantaloupensis Naud.), foram provenientes de plantio
comercial, localizado no município de São José de
Espinharas, Estado da Paraíba. Colhidos no período da
manhã, apresentando maturidade comercial, conforme
tamanho, peso e coloração da casca, de acordo com as
características da variedade, em seguida foram transportados
diretos para o laboratório em caixas de polietileno.
2.1. Tratamentos
Os frutos foram desinfestados em solução de hipoclorito
de sódio a 200 ppm durante cinco minutos e, após secagem,
acondicionados em temperatura ambiente a 25 ±2ºC.
Obtendo-se um total de 60 frutos, selecionados de acordo
com a ausência de injúrias e podridões, uniformidade de cor,
peso e tamanho e, distribuídos entre os tratamentos tendo 12
frutos cada.
Os frutos foram imersos nos tratamentos: Bion® (0,05 g
i.a L-1); Ecolife® (0,5 mL i.a L-1); AgroSilício® (2 g i.a L-1) e
como testemunha apenas água destilada, adicionando-se 2
mL do Tween 20® em todos os tratamentos, permanecendo
os frutos imersos por um período de 3 min em cada
tratamento. Após secagem a temperatura 25 ±2ºC, os frutos
tratados foram dispostos individualmente em bandejas de
isopor identificadas com códigos referentes aos tratamentos,
mantidos sobre condições de armazenamento a temperatura
de 25 ±2ºC, por um período de 12 dias, realizando-se
avaliações a cada três dias quanto a qualidade pós-colheita.
2.2. Análises físicas
Foram avaliados os parâmetros físicos: perda de massa
fresca, utilizando-se uma balança semi-analítica Commerce
Brasil Eletronic Kitchen Scale - São Caetano do Sul SP,
Brasil, firmeza, espessura e cor da casca e da polpa,
determinada na região mediana dos frutos, com auxílio de um
penetrômetro digital Food Technology Corporation -
Magness Taylor Pressure Tester West Sussex Reino Unido,
foi medido a firmeza e espessura com auxílio de paquímetro
digital, Mundo das Ferramentas do Brasil Ltda - 150 Mm Mtx
São Paulo Brasil, e a cor da casca e da polpa, realizada
através dos parâmetros L*, a* e b* medidos em colorímetro
digital Minolta.
2.3. Análises físico-químicas
Os parâmetros fisico-químicos analisados foram: pH
(potencial hidrogeniônico), utilizando-se um potenciômetro
digital, de acordo com metodologia da Association of Official
Analytical Chemists - AOAC (1984); sólidos solúveis (SS)
utilizando refratômetro digital segundo AOAC (1984); acidez
titulável (AT) por titulometria com NaOH 0,1N, conforme
metodologia do Instituto Adolfo Lutz - IAL (2005). relação
SS/AT obtida pela divisão entre os SS e AT; Ácido ascórbico
(AA), dosado por titulometria utilizando-se solução de DFI
(2,6 diclo-fenol-indofenol 0,02%) até a obtenção de
coloração róseo claro permanente (STROHECKER;
HENNING, 1967).
2.4. Estatística
O delineamento experimental foi o inteiramente
casualizados em esquema fatorial 4×5 (tratamentos x
períodos de armazenamento), com três repetições por
tratamento. Os dados foram analisados para homogeneidade
de variância (Levene) e normalidade (Kolmogorov-Smirnov),
e nenhuma transformação de dados foi necessária.
Posteriormente, esses dados foram submetidos à análise de
variância pelo teste F a 5% de probabilidade, utilizando o
software SISVAR (FERREIRA, 2019). Os tratamentos com
médias significativas foram avaliados pelo teste de Tukey a
5% de probabilidade e os períodos de armazenamento por
análise de regressão a partir do teste F a 10% de
probabilidade.
3. RESULTADOS
Considerando ser mais importante discutir o efeito
significativo para tratamentos (T) ou dias (D), quando
significativo, constata-se nos resultados da análise de
variância (Tabela 1). Para o efeito da interação tratamentos
Gomes et al.
Nativa, Sinop, v. 10, n. 2, p. 237-243, 2022.
239
(T) x dias (D) sobre a acidez titulável (AT), relação sólidos
solúveis/AT e ácido ascórbico.
A perda de massa dos frutos foi influenciada pelo tempo
de armazenamento, com tendência de aumento no percentual
de perda ao longo do período de armazenamento (Figura 1a).
Ao final do período de armazenamento, constatou-se que os
frutos perderam em média 7,4% de massa fresca após 12 dias
de armazenamento (Figura 1a).
Tabela 1. Perda de massa fresca, firmeza de casca e polpa, cor de a*, b* casca e L* polpa, acidez titulável (AT), relação sólidos solúveis/AT
e ácido ascórbito de frutos de melão ‘Cantaloupe’ (Cucumis melo var. cantaloupensis), tratados com indutores de resistência sobre condições
de armazenamento à temperatura de 25 ±2 ºC.
Table 1. Fresh mass loss, shell and pulp firmness, color of a*, b* shell and L* pulp, titratable acidity (a), soluble solids/ titratable acidity ratio
and ascorbic acid of 'Cantaloupe' melon fruits (Cucumis melo var. cantaloupensis), treated with resistance inducers under storage conditions
at temperature 25 ±2°C.
Fonte de variação
Quadrados
médios
GL
Perda de
Firmeza da casca
Firmeza da polpa
Tratamentos
(T)
3
2363,184
ns
236,718
ns
58,080
ns
Dias
(D)
4
13424,940
**
13718,154
**
514,536
**
T
x
D
12
104,927
ns
1367,703
ns
47,233
ns
Resíduo 40 366,131 1991,807 96,133
CV
(%)
-
18,88
65,61
91,3
a
*
casca
b
*
casca
L
*
polpa
Tratamentos
(T)
3
12,185
ns
70,567
**
16,509
ns
Dias
(D)
4
89,242
**
141,001
**
69,762
**
T x D
12
10,085ns 20,792ns 12,847ns
Resíduo 40 9,046 15,03 16,335
CV
(%)
-
48,32
3,93
9,18
Acidez titulável (AT)
Relação
Sólidos Solúveis/AT
Ácido ascórbico
Tratamentos
(T)
3
0,057
ns
3,000
ns
8,726
ns
Dias (D)
4
1,145** 27,632** 122,414**
T
x
D
12
2,360
**
8,638
*
11,773
**
Resíduo 40 0,089 4,860 10,913
CV
(%)
-
24,6
29,10
53,43
CV- coeficiente de variação; GL- graus de liberdade; ns - não significativo; ** e * significativo a 1 e 10% de probabilidade pelo teste F.
CV- coefficient of variation; GL- degrees of freedom; ns - not significant; ** and * significant at 1 and 10% probability by the F test.
Quanto à firmeza de casca, sem que houvesse influência
dos tratamentos, foi observada tendência de queda ao longo
dos 12 dias de armazenamento. A queda entre os valores
médios do dia inicial e do final dos 12 dias foi equivalente a
74,83% (Figura 1b). Em relação a firmeza da polpa, não
foram percebidas influências dos tratamentos aplicados,
apenas no tempo de armazenamento. Não houve ajuste para
o modelo estatístico desta variável (Figura 1c).
Ao longo do período de armazenamento foi observado
que os tratamentos não afetaram a luminosidade (L*) da
casca dos frutos, tendo sido a média geral para esta
característica igual a 39,84. Tal média, foi superada pelos
tratamentos com silício (42,30) e controle (40,62). Em relação
ao parâmetro a* da casca, foi observada influência somente
no período de armazenamento de modo que a tendência
deste valor foi de aumento, partindo de 2,5 no tempo 0 a 10,0
aos 12 dias (Figura 1d).
Para o parâmetro b* da casca também foi observada
influência apenas do período de armazenamento, com
tendência de aumento ao longo dos 12 dias (Figura 1e). A
luminosidade (L*) da polpa foi influenciada pelo período de
armazenamento, tendo apresentado tendência a aumento até
certo ponto, atingindo um pico próximo ao quarto dia,
seguido de queda. A diferença entre o valor inicial e o
apresentado ao final de 12 dias foi equivalente a 7,93%
(Figura 1f).
Os parâmetros a* e b* da polpa não foram influenciados
pela aplicação dos indutores de resistência nem pelo período
de armazenamento. As médias gerais para esses parâmetros,
foram 15,06 e 38,142, respectivamente. Os frutos controle
superaram a média geral para o parâmetro a* da polpa em
9,77 % enquanto os demais tratamentos localizaram-se
abaixo da média 2,75% (Bion), 4,19% (Ecolife) e 3,88%
(Silício). Em relação ao parâmetro b*, os valores médios dos
frutos tratados com silício foram 2,38% inferiores à média
geral enquanto os demais tratamentos superaram-na em
0,94% (Bion), 0,42% (Ecolife) e 1,01% (controle).
Para o pH, não se verificou interferência significativa do
tempo, nem dos tratamentos. No entanto, nos frutos
controle foi observada uma média maior (6,7), acima,
inclusive, da média geral (6,5).
Não foi observada influência do tempo nem dos
tratamentos no teor de lidos solúveis acumulados pelos
frutos deste experimento. No entanto, em comparação com
a média geral os frutos do tratamento controle apresentaram
um teor 7,2% mais elevado. Os frutos tratados com Ecolife
foram os que demonstraram menor conteúdo de sólidos
solúveis com média 6,5% menor que a média geral de 8,35
Brix.
Foi verificada interferência da interação entre o período
de armazenamento e os tratamentos aplicados na acidez
titulável dos melões aqui analisados. Os frutos tratados com
Bion chegaram ao final do experimento com o maior
resultado para esta variável, seguidos dos frutos tratados com
Silício. Os melões tratados com o Ecolife foram os a que
atingiram menor acidez ao final dos 12 dias. De maneira
geral, a acidez titulável dos frutos tendeu à queda até
aproximadamente o nono dia de armazenamento e, a partir
dali os valores tenderam a subir sendo o aumento observado
para os frutos tratados com Bion, o mais acentuado, 44,28%
do nono ao décimo segundo dia (Figura 2a).
Conservação e qualidade pós-colheita de melão ‘Cantaloupe’ tratados com indutores de resistência
Nativa, Sinop, v. 10, n. 2, p. 237-243, 2022.
240
Figura 1. Perda de massa fresca (a), firmeza de casca (b) e polpa (c), cor de a*, b* casca (d, e) e L* polpa (f) de frutos de melão ‘Cantaloupe’
(Cucumis melo var. Cantaloupensis), tratados com indutores de resistência sobre condições de armazenamento à temperatura de 25 ±2 ºC.
Figure 1. Fresh mass loss, shell and pulp firmness, color of a*, b* shell (d, e) and L* pulp (f) of 'Cantaloupe' melon fruits (Cucumis melo var.
Cantaloupensis), treated with resistance inducers under storage conditions at temperature 25 ±2°C.
Para todos os tratamentos, de maneira geral, foi
observada para a relação entre sólidos solúveis e acidez
titulável (SS/AT) a tendência de aumento até o sexto dia de
armazenamento. A partir de então, a razão entre esses dois
parâmetros diminuiu (Figura 2b).
O conteúdo de vitamina C dos frutos não sofreu
influência dos tratamentos aplicados, porém, sofreu em
relação ao tempo de armazenamento. A tendência geral foi
de queda até o nono dia, em seguida, ocorreu um incremento
no teor desse composto de modo que, ao final do
experimento, os melões apresentavam em média 10,92
mg100g-1 de vitamina C, 44,8% a mais que no período inicial
(Figura 2c).
4. DISCUSSÃO
Muito se discute a importância das características pós-
colheita estudadas nas culturas. A firmeza é uma das
características de qualidade que condiciona o grau de
resistência a danos mecânicos e determina o tempo de
conservação e vida útil de prateleira dos vegetais (REIS et al.,
2017). Estudando esta variável, Chaves et al. (2014),
observaram que a qualidade pós-colheita de melões
cantaloupe ‘Caribbean Goldcultivados em diferentes doses
de nitrogênio e potássio, ocorreu um decréscimo significativo
nos valores de firmeza de polpa durante armazenamento à 5
ºC aos 21, 25 e 29 dias seguido de exposição à temperatura
de 20 ºC.
Gomes et al.
Nativa, Sinop, v. 10, n. 2, p. 237-243, 2022.
241
Figura 2. Acidez tituável (a), relação sólidos solúveis/acidez titulável (b) e ácido ascórbico (c) de frutos de melão ‘Cantaloupe’
(Cucumis melo var. cantaloupensis), tratados com indutores de resistência sobre condições de armazenamento à temperatura de
25 ±2 ºC.
Figure 2. Titratable acidity (a), soluble solids/titratable acidity ratio (b) and ascorbic acid (c) of 'Cantaloupe' melon fruits
(Cucumis melo var. cantaloupensis), treated with resistance inducers under storage conditions at temperature of 25 ±2 ºC.
Trabalho realizado por Pereira et al. (2008) verificaram
que melões ‘Goldex’ tratados na pré-colheita com
acibenzolar-S-metil apresentaram menores valores de
firmeza de polpa do que os frutos controle após a colheita.
No entanto, melões ‘Golden Mine’ tratados com o mesmo
elicitor na pré-colheita não diferiram dos frutos controle da
mesma cultivar.
Vale ressaltar que a redução da firmeza está diretamente
relacionada com ao aumento da atividade enzimatica e com
isso a degradação da protopectina, um composto péctico
presente na parede celular, responsável por manter a firmeza
dos frutos (MEDEIROS et al., 2011; SILVA et al., 2015).
Maior firmeza, mais resistentes a injurias mecânicas e a
fitopatógenos, e por isso, a firmeza da polpa é considerada
uma característica essencial relacionada ao manuseio pós-
colheita (SÁ et al., 2008).
Para a variável sólidos solúveis, Pereira et al. (2008), em
avaliação da qualidade de frutos de meloeiro tipo Amarelo
(Gold Mine e Goldex) pulverizado na pré-colheita com
Bion® (acibenzolar-S-mtetil), observaram que o produto não
influenciou o teor de sólidos solúveis e apontaram para o fato
de que isto foi extremamente importante no que se refere à
qualidade dos melões, uma vez que esta é determinada,
principalmente, pelo conteúdo de sólidos solúveis.
As médias de 8,35% Brix corroboraram com os
encontrados por Silva et al. (2003), que obtiveram valores
médios de 8 a 10,2 ºBrix, avaliando em três porções do fruto
(ventral, lateral e dorsal) cultivares de meloeiro amarelo.
Observa-se que estes valores estão abaixo dos exigidos pelo
mercado externo, onde os teores mínimos de sólidos solúveis
para a cultura do meloeiro é de 9 ºBrix, porém se tratando do
mercado externo, o teor mínimo exigido varia dependendo
da cultivar. Para as cultivares de melão do tipo cantaloupe,
por exemplo, o teor mínimo é de 10 ºBrix (SILVA et al.,
2003). Já para melões do tipo gália a faixa ideal é entre 12 a
14 ºBrix enquanto para melões Orange Flesh é entre 10 a 13
ºBrix (COSTA, 2017). Sendo este um dos padrões mais
importantes na aceitação do produto pelo consumidor final,
quanto maior a faixa do ºBrix maior aceitação do produto
(SOUZA et al., 2014).
Efeito significativo para a interação entre o tratamento
(armazenamento refrigerado) e o tempo de armazenamento
sob acidez titulável, bem como, leve incremento deste
conteúdo em melões cantaloupe híbrido ‘Glamour’ foram
reportados por Oliveira et al. (2011) em avaliação da
qualidade pós-colheita desses frutos durante armazenamento
refrigerado.
De acordo com Morais et al. (2009), a acidez representa
um dos principais componentes do flavor da maioria dos
frutos, pois sua aceitação depende do balanço entre ácidos e
açúcares, sendo que a preferência incide sobre altos teores
desses constituintes.
De maneira geral, foi obtida uma relação entre sólidos
solúveis e acidez titulável (SS/AT) a tendência de aumento
até o sexto dia de armazenamento, após isso a razão entre
esses dois parâmetros diminuiu
Conservação e qualidade pós-colheita de melão ‘Cantaloupe’ tratados com indutores de resistência
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242
Uma maior razão entre sólidos solúveis e acidez titulável
é uma característica desejável no mercado consumidor de
frutas frescas, pois essa alta razão é um indicador de uma
ótima combinação entre açúcares e ácidos que se
correlacionam com um sabor suave (CHITARRA;
CHITARRA, 2005).
Para a variável vitamina C, Medeiros et al. (2012), atribui
que este teor é uma qualidade interessante, devido a sua
função antioxidante, embora, o melão não chegue a ser fonte
expressiva de vitamina C. O conteúdo de vitamina C dos
frutos, encontrado neste trabalho, não sofreu influência dos
tratamentos aplicados, porém, sofreu em relação ao tempo
de armazenamento apresentando em média 10,92 mg 100g-1
de vitamina C, 44,8% a mais que no período inicial. Esses
valores corroboram com Aroucha et al. (2007) verificaram
que um acréscimo no conteúdo de vitamina C com o
desenvolvimento dos frutos de meloeiro e, entre as quatros
cultivares caracterizadas em seu trabalho, encontraram para
os melões ‘Hy-Mark’ e ‘Caipira’ os maiores valores (19,47 e
19,63 mg 100 mL-1, respectivamente).
Em relação ao pH, Franco; Landgraf (2005) relatam que
o baixo valor de pH encontrado é importante no controle
microbiológico por ser um fator limitante para o crescimento
de bactérias patogênicas e deteriorantes, além de favorecer a
estabilidade de ácido ascórbico, uma vez que esta vitamina
tem maior estabilidade em pH ácido. De acordo com
Schmidt (2014), o pH fornece uma indicação de grau de
deterioração sendo importante para a conservação de um
alimento.
5. CONCLUSÕES
Com este trabalho podemos concluir a viabilidade de
utilização dos indutores de resistência AgroSilício e Ecolife
na conservação e qualidade pós-colheita de Cucumis melo var.
Cantalupensis, onde foi observado uma menor perda de
massa fresca, acidez e SS/AT com a utilização do AgroSilício,
bem como maiores teores de vitamina C quando utilizado o
Ecolife.
6. REFERÊNCIAS
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Fruticultura, Jaboticabal, v. 29, n. 2, p. 296-301, 2007.
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NUNES, G. H. S. Conservação de melão Cantaloupe
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